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Conselho Editorial Life Editora

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Academic year: 2022

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O papel utilizado neste livro é biodegradável e renovável. Provém de florestas plantadas que dão emprego a milhares de brasileiros e combatem o efeito estufa, pois absorvem gás carbônico durante o seu crescimento! A tinta utilizada na impressão das páginas é à base de soja, cujo componente é renovável e atóxico que não degrada o meio ambiente.

Prof. Dr. Amilcar Araujo Pereira

UFRJ/ Faculdade de Educação

Prof. Dr. Edgar César Nolasco

UFMS/ Campo Grande-MS

Prof. Dr. Gilberto José de Arruda

UEMS/ Unidade de Dourados

Prof. Dr. Matheus Wemerson G. Pereira

UFMS/Campo Grande-MS

Prof. Dr. Giovani José da Silva

UFMS/Campus de Nova Andradina

Profª. Dra. Helena H. Nagamine Brandão

Universidade de São Paulo - USP-SP

Profª. Dra. Joana Aparecida Fernandes Silva

UFG/Goiás

Prof. Dr. João Wanderley Geraldi

Universidade do Porto, Portugal/ INEDD/Universidade Siegen/Alemanha e Unicamp

Profª. Dra. Léia Teixeira Lacerda

UEMS/ Unidade de Campo Grande

Profª. Dra. Maria Cecília Christiano Cortez de Souza

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

Profª. Dra. Maria Leda Pinto

UEMS/ Unidade de Campo Grande

Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues

UEMS/ Unidade de Campo Grande

Roosiley dos Santos Souza

UFMS-MS

Conselho Editorial Life Editora

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1ª Edição Campo Grande/MS

2016

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Coordenação Editorial Valter Jeronymo Ilustrações

Kelton Henrique Miranda da Silva Projeto Gráfico

Diagramação e Capa Life Editora Revisão

Ana Carla Gomes Rosa Impressão e Acabamento Life Digital

Proibida a reprodução total ou parcial, sejam quais forem Direitos Autorais reservados de acordo com a Lei 9.610/98

Copyright © by César Christian Ferreira dos Santos

Life Editora

Rua Américo Vespúcio, 255 - Santo Antonio CEP: 79.100-470 - Campo Grande - MS Fones: (67) 3362-5545 - Cel.: (67) 9297-4890 life.editora@gmail.com • www.lifeeditora.com.br

Histórias ou estórias? Contos de uma Família Aquidauanense,

César Christian Ferreira dos Santos - Campo Grande, MS, Life Editora, 2016.

112p.

ISBN 978-85-8150-325-7

1. Contos de Terror 2. Aquidauana I. Título

CDD - 390 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Dos Santos, César Christian Ferreira

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A todos os meus familiares que direta ou indiretamente contribuíram para que o sonho deste livro se realizasse!

Dedicatoria ´

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Agradecimentos

Agradeço a Deus Pai e ao Divino Mestre, que me concederam a benção da saúde perfeita até os dias de hoje, colocaram-me em um lar cristão com pai, mãe e irmão maravilhosos e como se não bastasse tanta bondade brindaram-me com uma esposa que é a encarnação da candura e duas filhas que me fize-

ram o homem mais rico do mundo.

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Prefacio

Cesar Christian, conheci ainda na primeira infância, foi crescendo e muito jovem já demonstrava pendor par ao conhecimento literário e teatral. Gostava de ouvir os vovôs e as vovós, quaisquer que fossem, seus ou não. Ouvia atenta- mente, histórias ou estórias, lorotas, mentiras do zé da esqui- na, relatos sobre Pedro Malazarte, João Curutu (Corujão do Pantanal), e também do curiango ou coriango. Enfim, não importava se as narrativas eram de suspense, fantasmagóri- cas ou mesmo macabras. O que era importante sempre foi o aprendizado, o conhecimento, saber mais, aprender mais, tudo pelo saber.

Creio que nessa época começou o seu despertar tam- bém para ser um contador de estórias e atuar representan- do os personagens que faziam parte das estórias que o povo conta.

Ainda na adolescência iniciou o período em que gostava de se caracterizar como personagens de sua região, peão pan- taneiro, caipira da roça, caboclo do sertão, almofadinha da cidade, etc. Vestia trajes naturais dos personagens e acompa- nhado de um primo, também caracterizado, formando uma dupla, fazendo teatro. Apresentavam-se para a família como visitantes desconhecidos com vocabulários e gestos naturais de seus respectivos personagens. Uma incipiente apresenta- ção teatral, mas era muito divertida e agradava a todos que assistiam.

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Trinta anos depois, temos agora um Cesar Christian, narrando neste pequeno livro, todas as estórias ou histórias que o povo contava e continua contando. Registrando assim todo seu conhecimento adquirido na adolescência. Com vocabulário claro e simples, para facilitar o entendimento de todos, indepen- dentemente de seu nível intelectual.

Quer saber mais? Comece lendo a primeira estória. Será muito agradável, garanto...

Alcides Ferreira

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Sumario

Introdução...13

Primeira Parte...15

A bruxa do ocaso...17

O preco de um olho...19

O Lobisomen do Guanandy...23

O Sumico da Pequena...25

O Rondante Fantasma...31

O Saci...35

O Andante...41

O Enterro...43

O Cão do Inferno...47

Asfixia...51

Guris Malfeitores...55

O Encontro...57

Segunda Parte...59

A Besta...61

A Praga das Serpentes...73

A Maldição dos Porcos...81

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Introducao

Já me preparava para dormir, na verdade já estava dei- tado quando me veio à mente esta estranha inspiração. Lem- brei-me de uma estória de bruxas que a minha querida e fina- da avó contava aos netos. A referida estória fez-me lembrar de outra e ainda de mais outras estórias de terror que acontece- ram em minha família. Então pensei, porque não colocar no papel? Por que não escrever essas estórias todas? Não tenho grandes pretensões literárias ao produzir este singelo traba- lho, a preocupação maior é preservar as referidas estórias e que desta maneira elas se perpetuem juntamente com nossa família. A oralidade esteve presente até o momento em que resolvi escrever nossas estórias para que estas não se percam com o passar das gerações. Esta é a maior preocupação, que não percamos nossas origens.

Citei anteriormente a minha avó materna, a qual foi a grande matrona da família e grande mãe de todos os netos, e nessas poucas linhas gostaria de fazer-lhe singela homenagem dizendo em nome de todos os filhos, netos e bisnetos o quan- to somos gratos a Deus por nos ter dado a oportunidade de conviver com a nossa amada “Vó Delmira”.

Os nomes que serão citados no decorrer do livro fo- ram trocados e cada um dos familiares que se envolveram nas estórias irão se reconhecer durante a leitura dos contos. A maioria das estórias se passam em Aquidauana, que é nosso berço gerador, de Aquidauana partimos para vários rincões

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do Brasil e alguns de nós chegaram a se aventurar por esse mundão de meu Deus.

Esta obra se divide em duas partes, a Primeira Parte é de estórias que aconteceram com pessoas da família, dire- tamente, é mais ou menos aquela estória que sabemos com quem aconteceu, tipo assim: aconteceu com o vovô Fulano, aconteceu com a tia Beltrana. Tive ainda o cuidado de alterar os nomes, para que ninguém, por um motivo ou outro se sen- tisse ofendido.

A Segunda Parte é composta por lendas que crescemos ouvindo e se tornaram famosas no nosso seio familiar, foram contadas várias e várias vezes, mas não aconteceu com nin- guém da nossa família, e relembrando TODOS OS NOMES SÃO FICTÍCIOS.

Quanto a veracidade dos “causos” aqui narrados, parti- cularmente, talvez por formação familiar acredito que essas estórias são histórias que foram vivenciadas por meus amigos e familiares e não simplesmente estorinhas da vovó, é claro, que ao colocá-las no papel elas foram “floreadas”. No tocante a acreditar ou não, respeito as convicções de cada um, assim como, tenho certeza de que o leitor amigo respeitará a minha.

A nossa ciência ainda não tem a capacidade de explicar mui- tos acontecimentos, então chamamos coisas inexplicáveis de sobrenaturais. É com base nesta ideia que convido a todos os amigos, os que acreditam no sobrenatural e os que não acre- ditam a conhecer algumas “Estórias ou Histórias de Terror da Família: Contos de uma família aquidauananense”.

Boa leitura.

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Primeira Parte

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Dona Viviane estava já cansada ao final do dia. As lides domésticas e a grande prole consumiam muito de suas energias.

Filha de negros e índios, casara-se aos 13 anos com o Sr Miamu- ra, esforçado imigrante japonês que se rendeu aos encantos da moça nativa.

Era o ocaso e o dia estava sumindo, a noite engolia o dia provocando um lusco-fusco que fez Josefa, uma das filhas do ca- sal, querer dormir. A menina de 8 ou 9 anos adormecia encosta- da na mesa da cozinha quando Dona Viviane “ralhou” com ela ferozmente.

- Josefa, acorda! Você não sabe que é a hora das bruxas?

A menina não se atreveu a responder pra mãe, simplesmen- te saiu da cozinha e se dirigiu até o pomar e sentou-se embaixo de um vistoso, mas àquela hora já sombrio pé de manga. E olvi- dando os avisos da mãe, adormeceu calmamente. O sol estava quase sumindo no horizonte quando a menina acorda desespe- rada, querendo gritar, mas não podia, querendo mexer-se, mas também não podia. Algo a imobilizara e ninguém estava lá para socorrê-la. A pobre garota, não tinha coragem de abrir os olhos e ver o que a segurava. Ela sentiu que a coisa a estava levando, en- tão ela tomou coragem de abrir os olhos só para deparar-se com uma coisa horrível e abjeta.

O grande nariz com verrugas, o hálito horrível, vermes en- trando e saindo de todas as cavidades de seu rosto e ela olhava a menina com aqueles olhos opacos de morte enquanto tenta- va levar a garota, que como que paralisada resistia apenas com o pensamento. A bruxa já estava quase conseguindo seu inten-

A bruxa do ocaso

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to, quando a menina lembrou-se de fazer uma oração, uma Ave Maria, que como que por magia fez com que a bruxa a largasse.

Josefa acordou assustada já com a noite fechada e sentiu-se mais calma ao perceber que foi só um sonho. Mas foi um sonho que se materializou em uma rizada muito alta e sinistra, às suas costas estava ela, a bruxa, que a olhou e foi embora, rindo enquanto voava montada na vassoura.

Tal acontecimento traumatizou Josefa de tal forma que ela

não deixava seus filhos e netos dormirem ou mesmo cochilarem

por ocasião do ocaso e se desobedecessem, apanhavam. Afinal o

ocaso é a “Hora das bruxas”.

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Joaquim era um homem enérgico, piauiense, por vezes vio- lento e sempre destemido, até mesmo quando não deveria ser.

Era dono de uma pequena propriedade e vivia da terra com a sua esposa a senhora Juliana e seus filhos. Nos sertões, o homem por ter mais contato com a natureza observa coisas que o homem da cidade deixaria passar batido. Inclusive as sobrenaturais.

O senhor Joaquim, talvez, pela sua personalidade forte e intransigente, formou a sua volta um campo energético que não

O preco de um olho ´

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era dos melhores e seus filhos acreditavam que isso começou a atrair coisas ruins e estranhas para a propriedade. Um fato muito estranho se deu com as galinhas da propriedade e durante vários dias uma galinha amanhecia morta e sem uma gota de sangue. O estranho fato, foi acontecendo noite após noite durante uma se- mana. A ira de Joaquim foi aumentando, assim como, o número de galinhas mortas.

Ele sabia que não era algo deste mundo que tomava o san- gue de suas galinhas, então ele pensou com seus botões:

- Essa coisa vai é matar as galinhas do capeta, pois é para o inferno que vou mandá-la.

Temente a Deus e com alguns conhecimentos herdados sabe-se lá de quem, derreteu o único objeto de prata que tinha em casa, um crucifixo, e fez duas balas para sua pistola tipo garrucha, com dois canos e dois gatilhos. Com a garrucha na cintura, espe- rou todos da casa irem deitar-se e foi para uma árvore perto do galinheiro. Era por volta de vinte e duas horas e a hora não passava.

Estava frio, mas não ventava. A ansiedade de Joaquim aumentava, assim como o seu medo, que ele amenizava fazendo o sinal da cruz.

Vinte e três horas e nada acontecia, a todo momento ele au- mentava a luz do lampião para olhar as horas que não passavam.

Decidiu apagar de vez o lampião, para não ficar toda hora tirando o relógio do bolso para olhar as malditas horas. Ele estava tenso, mas o peso dos serviços braçais fizeram-no dormir. Ele não sabe por quanto tempo dormiu, um minuto, meia hora ou uma inteira.

O fato é que quando acordou, estava tudo um breu que era acom- panhado de um silêncio sepulcral. A impressão que ele tinha era que uma presença sinistra e ímpia imperava em sua propriedade.

Essa presença medonha fê-lo sentir-se pequeno e com medo. Sen- timento este dificilmente experimentado pelo valente Joaquim.

Um barulho de asas tirou-o daquele torpor e ele “viu” a

presença depravada e horrenda no escuro. As galinhas gritavam e

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se debatiam. De súbito, como que por instinto Joaquim pegou a garrucha e antes de atirar disse consigo mesmo:

- Vou matar esse demônio, nem que custe um olho da mi- nha cara. E atirou...

No mesmo momento a coisa profana segurou-o pela gar- ganta e disse:

- Que assim seja homenzinho. E vazou-lhe um olho, en- quanto a criatura soltava um grito horrível de agonia e morte, dando a entender que era arrastada para o inferno.

Joaquim acordou no outro dia, cego de um olho e mor- reu depois já bem velho cego dos dois. Ele defendeu sua família, sua propriedade e suas galinhas, mas pagou o preço de um olho.

Muitos anos depois da morte de Joaquim e também da morte de

seu filho Antônio João, um bisneto de Joaquim, o garoto Antô-

nio, achou em meio aos pertences de sua avó Josefa uma garru-

cha, com dois canos, dois gatilhos e uma cruz em baixo relevo na

mira da arma. Será a mesma garrucha? O neto acredita que sim,

pois com a mesma efetuou um disparo quase acidental em seu

primo Mário, em outra ocasião que atirou com a mesma arma a

bala ricocheteou em direção as suas filhas e ainda uma terceira

coisa ruim aconteceu quando Antônio estava com ela na guaia-

ca, o cavalo quase pisoteou sua filha Ianael, que escapou apenas

com escoriações, graças a Deus. Então a família decidiu deixar

a arma guardada para que mais ninguém se machuque, parece

que ela não quer ser incomodada, pois seu maior feito foi matar

ou atingir uma criatura profana dos infernos e isso ninguém irá

fazer de novo, se Deus quiser. Agora se Ele não quiser...

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O jovem casal namorava sentado em um banco, próximo à barranca do Rio Aquidauana no bairro Guanandy. Já estava es- curo, mas o amor tem esse poder de parar o tempo para os que amam e tudo passa desapercebido à volta dos amantes.

Sem dúvida, o amor é algo bom e bonito nesse mundo, mas nesse mesmo mundo existem coisas horríveis e que estão bem longe da limitada compreensão humana. E infelizmente neste dia, o amor e o sobrenatural se cruzaram.

Um ruído ao longe, fez Josefa distrair-se das carícias de seu amado. Ela disse a si mesma que não era nada. Só que agora o ruí- do não era mais um ruído, era um grunhido horroroso de agonia e dor, que distraiu a atenção dos dois. Então o horror pousou sobre seus olhos...

Um homem ou uma coisa se debatia, convulsionava, grita- va e depois rosnava. Os olhos dele eram como se fossem um bra- seiro de cigarro, vermelhos e seu rosto entre a escuridão e o luar expressava horror e morte. Inicialmente, ficaram os dois parali- sados e chegaram a pensar que o homem estava tendo um ataque epilético, passado o susto inicial Antônio João disse:

- Fique aqui que eu vou tentar ajudar o homem e ver o que está acontecendo. E foi. Foi percorrendo lentamente a distância que os separava, que era de mais ou menos trinta metros. O ho- mem se debatia e rolava no chão, caindo por várias vezes dentro da água barrenta do rio. Quando a distância diminuiu, um arre- pio de medo percorreu o corpo todo de Antônio João, pois ele viu com seus próprios olhos o horror encarnado no corpo e nos olhos de uma besta. Menos de dez metros os separavam agora. A

O Lobisomen do Guanandy

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besta estava em uma forma, meio homem meio cachorro. Quan- do a lua os iluminava podia-se ver suas presas. De seus cotovelos surgiram patas com garras afiadas e suas mãos coladas à cabeça, tornaram-se orelhas, grandes e negras, mas em sua cara sinistra ainda se via a feição de um homem.

A besta ainda não estava totalmente transformada, logo não estava plena de seus poderes e de sua força, mas sua aparência bizarra foi o suficiente para fazer Antônio João sacar sua arma e com esta em punho, foi andando para trás. Sua namorada o cha- mava e então, passo a passo recuou de arma em punho, sem reti- rar os olhos da besta, que também o olhava. Ambos perceberam que se fossem cada um para um canto não haveria um desneces- sário confronto. Assim, ele chegou até onde estava sua namorada e agarrando-a pela cintura, já longe da fera saíram correndo.

- O que foi isso Antônio? Perguntou Josefa.

- Não sei, acho que era um lobisomem, vamos embora da- qui. Respondeu o moço.

Saíram, e aquela noite perturbadora atrapalhou o namoro deles, mas de alguma forma apertou os laços de amor entre eles.

Ela sentiu que ele seria o homem que a protegeria durante toda a

vida e ele sabia que sempre que saísse para trabalhar, ela lá estaria

fazendo a segurança de seu lar e cuidando de sua futura prole. E

assim foi a vida deles.

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O acontecido a ser narrado deu-se na cidade de Lins-SP, mais ou menos no ano de 1954. Como era de costume antiga- mente, Antônio João e Josefa foram visitar, na verdade passar um domingo inteiro na casa de um casal de compadres. Suas crianças eram pequenas, Luzia a mais velha era pequena com cerca de cin- co anos, Luciano o segundo mais velho tinha cerca de dois anos e Lúcia era um bebê de colo.

Após passar agradável domingo de descanso, voltaram para casa já no final do dia. A casa dos compadres ficava a uma

O Sumico da Pequena ´

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distância de cerca de 4 ou 5 quilômetros da residência da família de “seu” Antônio João. Assim partiram para casa. A escuridão pegou-os no meio do caminho, na verdade, foi uma escuridão repentina, com o tempo fechando-se bruscamente, o céu era cor- tado por raios e o vento passou repentinamente de brisa suave a cruel e impiedoso. Supersticiosa, dona Josefa achou aquilo um mau presságio e grudou com força nas mãozinhas de seu filhinho e abraçou o marido comentando:

- Que tempo esquisito, parece que foi a gente chegar perto deste cafezal e ficou tudo negro. Antônio João respondeu ten- tando acalmar sua esposa:

- Calma “Zefa” já, já, chegaremos em casa. Ao falar isso, uma fria rajada de vento e uma sinistra neblina os cercaram, como se fosse uma resposta negativa à tentativa do marido de acalmar a esposa. Ele procurou a lanterna dentro de uma bolsa que carregava à tiracolo e a ligou. Até ele achou estra- nho aquela manifestação sinistra do tempo. Ventos frios, ne- blina e escuridão, tão repentinamente. Ele ficou com medo também, mas ainda assim passou segurança para sua família.

Ele se lembrou da antiga estória de seu pai que atirou em um demônio bebedor de sangue de galinha. Aquela macabra lem- brança o fez arrepiar os pelos da nuca e ele apertou o bebê em seu colo como que querendo protegê-lo de todos os males do mundo, afinal é isso que os bons pais fazem. Quando ia co- locar a menininha mais velha também no colo, percebeu que ela não estava mais lá.

E veio o desespero. Pareceu por um momento que todo

aquele tempo fechado, a neblina, os raios e os trovões foram

apenas distrações para algo muito maligno roubar sua filhinha.

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Onde estava a menina? Já se tinha passado meia hora depois das dezoito. Estava escuro, por segundos eles não sabiam o que fazer.

A mãe desesperada agarrou os outros dois filhinhos enquanto es- perava a reação do marido e instintivamente começou a rezar um pai nosso e pedir à Nossa Senhora de Aparecida que trouxesse sua filha de volta. Antônio João resolveu então ir correndo para casa levando a mulher e os outros dois filhos.

O restante do trajeto para casa, foi como se estivessem dentro de um pesadelo, tudo estava confuso e nublado, eles não acreditavam que aquilo estava acontecendo. Depois de deixar a família em casa em segurança, ele voltou para dentro do cafezal e procurou a criança, procurou e nada. Decidiu ir à casa do com- padre, chegou lá ofegante e disse ao compadre:

- A Luzia sumiu, minha filha sumiu compadre!!!

- Calma Antônio, vamos achá-la. Respondeu o compadre.

Assim os dois partiram para refazer o caminho. Chega- ram ambos, ofegantes no exato local onde a menina sumiu.

Ao chegarem lá, ambos sentiram uma presença sinistra, esta intimidou os dois homens. Quando de repente, viram algo se mover rapidamente dentro do cafezal. E para surpresa dos dois compadres, escutou-se clangores de luta, pragas que eram ditas, ofensas indizíveis eram proferidas. Foram os dois arrebatados, hipnotizados ao ver tão sinistra batalha. Na verdade, não viam, mas ouviam os maus dizeres, a movimentação no cafezal e o tilintar violento de armas brancas, adagas, espadas, facas, nin- guém saberia dizer ao certo.

Além do barulho das armas e dos gritos eles também ou-

viram ao longe um chorinho de criança, perto do barulho da

luta e decidiram entrar no cafezal, onde a demoníaca luta acon-

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tecia. Após ouvir o chorinho da criança, venceram o medo e bravamente entraram no cafezal. Ao se aproximarem do local da luta, viram ao longe dois vultos vestidos de negro cada um com adaga na mão, um segurava a criança e a colocava atrás de si e lutava com a outra entidade desesperadamente. Falavam uma língua horrível e profana, trocavam imprecações de ódios, cujos significados eram desconhecidos dos ouvidos humanos, entre os dois, via-se um ódio antigo, secular. Ao chegar mais perto, Antônio João reconhece em um dos dois espectros a fi- gura de seu genitor, que o olha por um instante, leva um golpe no ante braço e cai.

No mesmo espaço de tempo que homens estava hipnotiza- dos assistindo à sinistra luta, as mulheres, cada uma em sua casa rezavam, rezavam fervorosamente. Josefa, em sua casa colocou as crianças para dormir e acendeu uma vela para Nossa Senhora Imaculada Conceição, pedindo proteção da Santa a sua filha. No instante que acendeu a vela e elevou o pensamento à Poderosa Intercessora, uma luz cegou a todos os presentes no campo de batalha. Cegou os vivos e os mortos. E então alguma coisa saiu correndo pelo cafezal e novamente os homens estavam sozinhos.

Um silêncio sepulcral caiu sobre eles. Eles seguiram correndo em direção ao barulho e a coisa saiu correndo no meio do cafezal. A coisa, embora fosse ao que tudo indicava do outro mundo, dei- xou marcas físicas de sua trajetória na plantação. Os compadres seguiram a pista.

A luta, o clarão e a fuga da coisa foram fatos muito estra-

nhos, parece que eles ficaram parados no tempo, como se estives-

sem congelados, mas na verdade as horas passaram. E já era alta

madrugada. Os compadres não sabiam o que fazer, procuravam,

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seguiam a pista e nada. Continuaram, quando ao longe avista- ram uma luz, andaram mais um pouco e viram uma casa. Logo, Antônio João reconheceu que era sua própria casa e desacorçoa- do, resolveu voltar para dar a triste notícia de que foi incapaz de pegar sua filha de volta. Não sabia o que dizer e como dizer e uma tristeza profunda tomou conta do seu ser. O compadre o acom- panhou e quando abriram o portão da casa, Josefa veio correndo com sua primogênita no colo e o abraçou, os dois choraram, mas eram lágrimas de alegria por terem sua filhinha de volta sem ne- nhum arranhão.

Enquanto rezava com muita fé, dona “Zefa” escutou a sua porta e reconheceu o chorinho de sua filha. A menina estava na porta de sua casa e enquanto ela chorava, balbuciava “o velho, o velho”. O marido contou a sua esposa sobre a luta horrível, o clarão e a fuga pelo cafezal. Os dois e o compadre, somaram as histórias e chegaram à conclusão que foi passada aos filhos e ne- tos de Josefa e Antônio João, de que o outro espectro era uma entidade trevosa que roubava crianças, talvez, algum antigo de- safeto do avô Joaquim, que por vingança tentou roubar sua neta.

O velho Joaquim veio em defesa da mesma, e com a oração da mãe à Nossa Senhora Imaculada Conceição conseguiu trazer sua neta de volta aos braços maternos.

A sinistra história ou estória tem um final feliz, sabemos

que para lutar contra os maus temos que ser também um pouco

maus (como dizem do avô Joaquim), mas sabemos também que

existe o poder da fé em um Ser Superior e acredita-se que foi essa

fé em Deus e em Nossa Senhora que impediu o Sumiço da Tia

Luzia.

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Os jovens soldados estavam no alojamento da guarda do quartel do 9º Batalhão de Engenharia de Combate. Ao contrá- rio do que acontece na maioria dos invernos de Mato Grosso do Sul, o dia foi chuvoso, e durante o dia inteiro uma garoa castigou os soldados de serviço. O frio e a garoa fina tornou o serviço de escala um martírio e os soldados passaram o dia todo molhados e tiritando de frio.

O dia passou devagar, o sargento que comandava a guarda não deixou os soldados dormirem durante o dia, e o cabo man- dou-os fazerem faxina na guarda o dia inteiro, assim, molhados e cansados entraram na noite que veio trazer mais frio, mas pelo menos a chuva havia dado uma trégua. Um soldado em particu- lar, o de número 916 Antônio Moura, estava em seu posto, já era mais de meia noite e sua farda já estava quase seca com o calor do corpo e ele estava até confortável de certa forma embaixo da capa de chuva.

As pessoas que já serviram o exército ou que passaram por um motivo ou outro por privação de sono, sabem que é possível dormir em pé, parado ou andando. E esse era o medo de Antônio Moura, dormir e ser pego pelo rondante. Se isso acontecesse seu final de semana já era, iria ficar punido. Assim, lutando contra o sono entre dormindo e acordado o nosso soldado estava em um estado meio “numb”. E tudo parecia nublado a sua volta.

De repente, ele viu um vulto que vinha ao longe, mas a pri- meira coisa que ele estranhou é que normalmente os rondantes faziam a ronda de bicicleta e este vinha a pé e parecia ao mesmo tempo que ele não andava, ele parecia deslizar. Outra coisa que

O Rondante Fantasma

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Antônio Moura achou estranho é que normalmente o soldado acorda, fica esperto quando o rondante vem. No entanto ele não conseguia sair daquele estado de torpor e a figura chegou e sim- plesmente disse a ele, sem pedir senha nem nada:

- Tudo tranquilo ai guerreiro?

- Sim senhor! Respondeu o soldado.

Assim o ronda foi embora, e logo em seguida chegou outro soldado que iria rendê-lo e continuar o rodízio pelas guaritas da guarda. Antônio Moura perguntou ao outro:

- E aí Gonçalves, encontrou o rondante?

- Não, não encontrei ninguém. Ele passou por aqui? Repli- cou o outro.

- Passou... Um quê de dúvida batia no íntimo de Antônio Moura.

- E quem era o ronda, alguns dos sargentos de dia ou o oficial de dia? Perguntou Gonçalves. Ai sim, a coisa ficou mais estranha ainda para Antônio Moura, que não sabia quem era o rondante, ele simplesmente não conhecia e um medo passou a lhe apertar o coração e seu instinto passou a dizer-lhe que estava diante de uma coisa sobrenatural. Ficou quieto por Alguns ins- tantes, não respondeu a Gonçalves e saiu andando meio perdido, pelo menos o sono tinha passado e ele tentou falar para si mesmo que era o oficial de dia que tinha passado por ele.

Seguiu para a outra guarita para lá ficar por mais vinte minutos e então seguir para a guarda, para descansar e dormir ainda meio molhado. No meio desse trajeto, viu que vinha al- guém ao longe, de bicicleta. Fez a abordagem padrão, se escon- deu atrás de uma árvore e gritou bem alto:

- Alto lá!! Identifique-se!!

- Rondante, respondeu o outro.

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- Lance a Senha, disse o Antônio.

- Pinheiro!!

- Ramada!! Respondeu o Soldado prontamente. Aproxi- maram-se e como de praxe o soldado Antônio Moura apresen- tou-se ao sargento que fez perguntas de rotina. Porém uma coisa o intrigava, quem era o outro rondante? Tal curiosidade levou-o a perguntar ao sargento:

- Sargento J. Fernandes, tem mais outro sargento ou o ofi- cial de dia fazendo ronda junto com o senhor?

- Não que eu saiba guerreiro, porque eu acabei de receber a ronda do oficial de dia e ele foi descansar e os outros sargentos estão todos nas suas respectivas companhias, mas o porquê da pergunta? Tá pensando em dormir durante o quarto de hora?

- Não senhor, sargento. É que acho que estou tendo aluci- nações, não sei se estou bem da cabeça. Porque eu tenho certeza que há menos de dez minutos um rondante me abordou e falou comigo.

- Acho que você estava era dormindo soldado, dê um jeito de ficar atento e acorda pra vida, vou terminar minha ronda. Ah sim, claro, talvez eu te participe por estar desatento em seu quar- to de hora.

Antônio depois da “mijada” resolveu esquecer o episódio

e constatou que ser lacônico era a melhor coisa no Exército. Se-

guiu para a próxima guarita. Ficou lá por mais vinte minutos e

novamente foi rendido pelo seu companheiro e se dirigiu para a

guarda. Ao chegar na guarda, como ele tinha outra farda, pediu

ao comandante da guarda para ir até a sua companhia para trocar

de roupa e de coturno. Quando ele estava trocando de roupa,

já com aquela sensação de dever cumprido escutou um grito de

horror e saiu pra ver o que era e encontrou o sargento J. Fernan-

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des gritando assim enquanto descia as escadas:

- Tá bom, tá bom, eu acredito, eu acreditoooo!

O sargento J Fernandes desceu horrorizado e nem viu An- tônio ao passar. Os gritos do sargento aguçaram a curiosidade de Antônio que foi até ao alojamento do sargento de dia e para a sua surpresa lá estava o mesmo rondante que o rendeu lá no fundo do quartel. Foram segundos em que ambos ficaram se olhando e então o soldado percebeu que estava diante de um espectro, pôde olhar bem seu rosto que mostrava uma ausência de vida e os olhos que lhe revelavam a morte. Foi a aparição que quebrou o silêncio dizendo:

- O sargento ia te participar porque achou que você estava dormindo, mas você não estava, tanto que viu até eu que já sou do outro mundo. Eu...Ainda estou por aqui, não consigo largar isso, e somos muitos. Em nossa legião estão alguns mortos da Lagu- na, alguns mortos da Itália, alguns suicidas e outros acidentados.

Alguns partiram, não sabemos pra onde, mas nós estamos aqui.

Milico...não tem paz nem na morte. Fazer o que né. Dizendo isso, olhou tristemente para o soldado e sua imagem devanesceu.

Antônio Moura decidiu nunca contar isso a ninguém, pois

não queria se passar por louco ou soldado “torador”, quanto ao

sargento J Fernandes, também fez um pacto de silêncio sobre o

episódio e mais nunca se esqueceu que as rondas no fundo do

9º Batalhão de Engenharia de Combate e os serviços de escala,

nunca são tirados sozinhos, sempre eles estarão acompanhados

pelo rondante fantasma e seus demais amigos do além.

(35)

Era uma noite como outra qualquer e Carlos estava na casa de sua namoradinha de adolescência. O casalzinho estava sen- tado no meio fio da calçada na casa da moça que ficava ao lado de um atelier a céu aberto de um ilustre desconhecido escultor aquidauanense. Carlos sempre com inquieto espírito investigati- vo, para não usar de outro adjetivo (fuçador, por exemplo), en- controu dentro de um saquinho, um pouco de fumo em corda, já bem picadinho, pronto pra fazer um “paieiro”.

Ele começou a mexer no fumo, o que provocou imedia-

O Saci

(36)

to mal estar na namorada. Ele percebeu que ela ficou estranha e perguntou:

- O que foi? Você ficou estranha de repente.

- É que você está mexendo no fumo do saci. Respondeu medrosamente a garota, que tinha medo da entidade e da zom- baria que viria do namorado. A resposta deste foi o sorriso irô- nico que lhe é peculiar e continuou a mexer e disse que saci não existe e continuou a zombar falando várias coisas entre elas:

- Só não vou fumar esse fumo porque eu não fumo mesmo.

Namoraram até dar a hora de Carlos voltar para casa. Ele pegou sua bicicleta e no caminho quebrou o pedal, normal até então, afinal as coisas quebram ou estragam. A noite passou e Carlos teve sonhos agitados e desconexos, mas não lembrando de manhã cedo do que se tratavam os sonhos. Acordou e foi pra escola normalmente, assistiu às aulas e voltou pra casa. No des- locamento da escola para casa, encontrou a namoradinha e ela parecia estar assustada. Ela foi logo dizendo:

- O saci está bravo com você, eu sonhei com ele esta noite.

Carlos, peça desculpas a ele. Na verdade, ele ficou assustado, mas novamente reagiu com ironia.

- Tá bom então, você quer dizer que eu devo desculpas ao saci? Tá bom, mas antes vou falar com o Pedrinho, com a Narizi- nho e com a Emília, então, todos nós vamos juntos falar com ele.

- De quem você tá falando? Perguntou a menina.

- Ah, deixa pra lá, à noite eu vou na sua casa pra gente se ver. Deu um beijinho na garota e chegou em casa para almoçar.

O almoço da família foi rápido, todos tinham que trabalhar ou

algum afazer na parte da tarde. Carlos dormiu um pouco e no-

vamente teve os sonhos desconexos, ainda sonolento lembrou-se

que tinha um trabalho da escola para fazer, tomou um banho

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rápido e saiu em direção à casa de um amigo.

Em casa desse amigo passou a tarde. E quando voltou pra casa, coincidiu de ele chegar junto com sua mãe que chegava da escola onde lecionava. Foram os dois até a janela para pegar a chave que ficava lá “escondida”. A chave não estava no lugar. Ao constarem o fato de a chave estar fora, um estranho arrepio per- correu o corpo da mãe e o filho imediatamente percebeu que es- tava lidando com algo que desconhecia, na verdade ele conhecia mas não queria acreditar.

Arrodearam a casa e acharam a chave no chão em frente à porta dos fundos. Abriram a porta da frente e entraram na casa, cujo o ar estava pesado e sentiram que algo de ruim pairava na casa. Ao entrarem na casa começaram a ver que pelo chão da sala estavam um monte de chaves esparramadas pelo chão e como que seguindo uma trilha de chaves pelo chão chegaram até o ba- nheiro, onde um rolo inteiro de papel higiênico estava esparra- mado pelo chão. Aquilo foi assustador, quem teria feito tal coisa?

A pergunta ficou sem resposta.

Quando o senhor Miguel, o pai, chegou em casa dona Lú-

cia foi logo contando a ele o estranho episódio. Para tranquilizar

a esposa e o filho ele disse que não era nada. E a noite transcor-

reu mais ou menos dentro de uma normalidade que foi quebrada

durante a madrugada, quando dona Lúcia, sem saber se estava

dormindo ou acordada avistou no corredor de seu quarto dois

vultos que espionavam o quarto de seu filho, como que esperan-

do uma oportunidade para entrar, ou esperando ele sair. Os vul-

tos estavam envolvidos em uma aura negra, e ao firmar a vista, ela

percebeu que se tratava de negro com uma perna só e fumando

um cachimbo, não teve dúvidas de que era o saci. O outro era um

corcunda com aspecto gosmento e com a cara deformada pelos

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anos que se dedicara a fazer maldades para as pessoas, este insti- gava o outro, que a cada cochicho do companheiro ficava mais agressivo e impaciente. A comunicação entre eles se dava como que por telepatia, não mexiam a boca, apenas pensavam e se en- tendiam. A entidade dizia em pensamento:

- Esse guri tem que pagar a ofensa que fez a mim. Onde já se viu um moleque me ofender dessa maneira, juro com todo o ódio que tenho em meu negro coração que ele vai pagar.

- Ele pode até ter te ofendido e eu peço desculpas por ele, mas ele é filho de Deus e aos filhos de Deus, batizados em nome de Jesus, você nada pode. Respondeu a mãe com fé em Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo. O saci respondeu:

- Até os filhos de Deus tem seus momentos de descuido e nessa hora minha vingança se concretizará. A cena era grotesca e amedrontadora, mas estribada em sua fé dona Lúcia continuou:

- Vou chamar o meu filho e pessoalmente ele lhe pedirá desculpas e você vai deixar nossa casa, pois ele ainda é um meni- no e não sabia que estava mexendo com poderosa entidade das trevas. Mas só te lembrando, você sabe que quem pode mais é Deus. A mãe chamou o filho, também por pensamento e este apareceu na porta do quarto e ao ver as duas entidades tentou voltar, mas a mãe o repreendeu, dizendo:

- Volte aqui e peça desculpas, e nunca mais mexa ou invo- que coisas com que você não possa lidar. O jovem voltou e sem olhar nos olhos dos espectros se desculpou, nesta hora a cena horrível se acabou e as entidades sumiram, devanesceram no ar.

O filho abraçou a mãe e chorou copiosamente, nesse momento uma luz branca iluminou mãe e filho e eles sentiram que estive- ram amparados o tempo todo por amigos invisíveis.

Dona Lúcia acordou de repente, banhada em suor, lem-

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brava algumas coisas e partes fracionadas do sonho, como não conseguia dormir, foi ver o filho que dormia sossegadamente.

Depois de ver o rebento em segurança, a boa senhora voltou pra cama e adormeceu até o outro dia. Era uma sexta-feira, e todos da casa levantaram-se para enfrentar o dia. Ao ver o Carlos che- gar na cozinha, disse a ele:

- Carlos, o que você andou aprontando com o saci? Ele está bravo com você.

- Mãe, como a senhora sabe que eu fiz alguma coisa com o

saci? Dito isso, a mãe contou a ele o horrível sonho. Carlos ficou

muito assustado e logo depois do café, foi fazer uma oração na

qual pediu proteção a Deus e mais uma vez pediu desculpas à

entidade. Ficou provado para o garoto que existem coisas nes-

se mundo que não devemos mexer ou ficar falando sobre, sob

pena de ser alvo de horrível vingança, mas sempre lembrando

que quem pode mais é nosso Deus Todo Poderoso.

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O jovem Antônio estava em companhia de sua genitora, dona Lúcia, e ambos passaram agradável tarde juntos. Conversa- vam mãe e filho sobre amenidades. Em um dado momento eles começaram a falar de coisas sobrenaturais e ela falou sobre um espírito que fazia as pessoas se perderem de suas famílias e saírem a perambular pelo mundo. O nome dessa suposta entidade seria

“andarilho ou andante”, a mãe falava bem séria e no entanto o garoto riu muito do tipo de entidade que a mãe contava a ele. E fez várias chacotas sobre a tal entidade. A irreverência da adoles- cência.

Anoiteceu e a noite estava muito quente em Aquidauana, o jovem preparou-se para levar sua namorada para a faculdade.

Isabel era o nome de sua amada. Os jovens enamorados saíram da casa da moça e durante o deslocamento até o campus do CEUA foram conversando e matando a saudade da semana. Era uma sexta-feira e ele deixou-a na “facul” quase às dezenove horas.

Após deixá-la, dirigiu-se até o trevo da ponte velha e nesse mo- mento, perdeu parcialmente a consciência de suas atitudes e co- meçou a andarilhar com sua moto, primeiramente se dirigiu até o final da cidade de Anastácio. Andou de trevo a trevo em Anas- tácio e dirigiu-se à Ponte Boiadeira e por lá voltou para Aqui- dauana. A partir da referida ponte foi até o Campus da UEMS, que fica a 12 quilômetros da cidade, então retornou à cidade pelo bairro Vila Quarenta, percorreu toda a Santa Terezinha, foi até o antigo aeroporto da cidade que já fica na saída para Cipolândia.

Do trevo de Cipolândia voltou para o centro da cidade e então na frente dos correios recobrou sua plena consciência.

O Andante

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Antônio estava atordoado, não sabia o que tinha acon- tecido e então olhou para o relógio que já marcava quase vinte e uma horas, ou seja, estava na hora de pegar a namorada. Ele a pegou no CEUA e contou a ela sumariamente a estória. Ele estava assustado, nem namorou direito essa noite. Deixou Isabel em casa e foi embora para a sua. Lá chegando acordou o pai e a mãe que já estavam dormindo e contou o estranho ocorrido, os pais ficaram preocupados e começaram a perguntar mil e uma coisas. A mãe logo se lembrou da conversa da tarde e lembrou da zombaria que o jovem tinha feito com a referida entidade.

A família, muito religiosa, acendeu uma vela para Nossa

Senhora de Aparecida e pediu proteção ao incauto jovem. Antô-

nio em seus pensamentos e seguindo suas intuições retratou-se

com seu possível perseguidor espiritual, “o Andarilho”. Desde

então ele aprendeu a lição de que não devemos zombar daquilo

que não conhecemos ou até mesmo daquilo que não vimos, mas

que pode existir e influenciar em nossas vidas mais do que imagi-

namos.

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Era nos idos antigos, muito comum as lendas sobre os enterros. Segundo contava-se, as famílias abastadas enterravam suas posses mais valiosas em potes de barro. Aqui nessa região as pessoas se referem a esses tesouros simplesmente como enterros, enquanto que em outras regiões é conhecido como butija. Não importa a definição a estória é basicamente a mesma. Durante a Guerra do Paraguai, ou usando o politicamente correto Guerra da Tríplice Aliança, os ricos enterravam seus tesouros, que iam

O Enterro

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desde as joias de família, pepitas de ouro em estado bruto, moe- das de oro y plata e até mesmo bombas em prata e cuias de chi- marrão ornamentadas com metais preciosos.

Normalmente o dono do tesouro enterrava em segredo e segundo algumas estórias, levava alguns escravos ou empregados para cavarem e enterrava-os juntos com o tesouro. A ganância e o apego dos homens ao vil metal levam a este tipo de comporta- mento e que segundo alguns não muda após a morte, ou seja, o

“dono” permanece lá, junto com seu tesouro. Tal apego torna-se um martírio com o passar do tempo e ele (o espírito do dono) quer desapegar de seu tesouro e escolhe alguma pessoa que ele acha digna para passar o seu tão precioso tesouro. Outros dizem que a guarda do tesouro pode ser feita pelos escravos ou empre- gados mortos e enterrados junto como a butija e pelo mesmo motivo do dono eles também procuram uma pessoa para passar o tesouro que para ele se tornou um fardo.

Existem várias maneiras de esses “donos” mostrarem onde estão os seus tesouros. Uns dizem que o espírito aparece pesso- almente, outros dizem que tem sonhos e ainda existe a possibili- dade do dono mostrar seu tesouro através de uma luz de origem desconhecida e que se move.

Sem nada planejar a cerca de tesouros, dois concunhados caçavam uma especiaria dos pantanais: rãs. Andavam durante a noite pelos brejos perseguindo suas presas batráquias. Às vezes conseguiam pegar uma ou outra, mas normalmente esses bichi- nhos eram mais espertos que os dois. Numa noite dessas, eles já estavam indo embora, se dirigiram para o carro e foram acomo- dar no porta malas as suas presas. Foi uma caçada de sucesso, quatro rãs foram abatidas e os caçadores iam alimentar sua prole.

Aquela excitação natural que acompanha os homens desde as ca-

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vernas havia tomado conta deles, estavam eufóricos e queriam logo chegar em casa para desfrutar do sucesso da caçada, só que diferentemente dos homens das cavernas eles iram acompanhar a carne das rãs com cervejas bem geladas, é claro.

Já dentro do carro começaram a trilhar o caminho de volta.

A estrada era toda esburacada e o corcel ia batendo e os bravos caçadores sacolejando dentro dele. Toda hora tinha uma porteira para abrir. Miguel, percebeu que uma luz, do tamanho de uma lua cheia os acompanhava, mas não falou nada. Continuaram e a luz os seguia, na verdade Armando também já tinha percebido a luz e também não tinha falado nada. E assim eles foram até a próxima porteira e então viveram um impasse. Quem ia abrir a porteira? Foram obrigado a admitir um para o outro a existência da luz e o que é pior que estavam morrendo de medo.

Decidiram no par ou ímpar, Armando perdeu e teve que ir abrir a porteira, a luz parou junto com eles, e parece que fi- cou vigiando-os. Tocaram o carro novamente e a luz continuou a acompanhá-los quando eles chegaram na estrada principal, que também não era asfaltada formou-se um trevo em “T” e a luz deslocou-se para a “trave do T” e parou como se estivesse obser- vando-os. Para a surpresa dos dois a luz baixou e simplesmente sumiu.

Os bravos caçadores voltaram para casa a toda a velocidade

que o corcel permitia e no caminho conversavam sobre o que

poderia ser aquela luz, seria um OVNI, seria uma ilusão coletiva

e após muita conversa chegaram à conclusão que só poderia ser

um enterro, que foi procurado mas nunca achado pelos deste-

midos caçadores. Tiveram que trabalhar duro na vida para criar

seus rebentos, mas no fim, que graças a Deus não chegou ainda

para eles, são homens de sucesso e de paz.

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Era o entardecer na cidade de Miranda. Dona Rute e a jo- vem senhora Dona Lúcia, sua nora de coração, desciam da esta- ção de trem. Vinham de Aquidauana para após o fim de semana iniciarem suas atividades rotineiras. Dona Rute estava visitando a casa do neto Miguel, esposo de Lúcia, que se encontrava viajan- do a trabalho. As duas senhoras pegaram um taxi para chegar em casa. A viajem de trem foi um pouco longa e desconfortável e fez no final da mesma o pequeno Antônio pegar no sono, porém ao chegarem ao destino ele acordou com a corda toda. E começou com suas perguntas e peraltices que lhe eram peculiares.

Pegaram um taxi para chegar em casa e assim foi feito. Ao chegar na casa, Antônio começou a incomodar a mãe dizendo que estava com fome, Lúcia tentava pagar o taxi e o guri incomo- dando, até que ela deu um safanão nele e ele parou, mas só por um momento. Após pagar o taxi, a jovem senhora sentiu uma súbita irritação. Achou que era por causa das chatices do garoto.

Ao entrarem no portão, ela sentiu uma opressão no peito, ficou angustiada e sentiu uma presença ruim. A irritação continuou e foi acentuada porque ela não achava a chave da casa.

A criança começou a chorar, e isso aumentou a agonia de Lúcia que agora sentia-se extremamente incomodada e tinha a sensação de estar sendo vigiada por uma coisa incrivelmente má e trevosa. Ela pensou tentando se acalmar, “ainda bem que a Dona Rute está comigo”, e disse à velha senhora:

- Dona Rute eu vou arrodear para ver se consigo abrir a porta dos fundos ou alguma janela, daí eu mando o Antônio pu- lar e abrir a casa para nós entrarmos.

O Cao do Inferno ~

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- Não faça isso de jeito nenhum minha filha. Disse energi- camente a velhinha. Temos que ficar nós três juntos, não saía da- qui. Estou com um sentimento ruim, algo horrível nos espreita e não é desse mundo e nem de Deus.

- Credo dona Rute, assim a senhora me assusta, mas eu também sinto uma coisa ruim no peito. Será que, Deus nos livre, aconteceu alguma coisa com Miguel?

- Não, mas poderá acontecer conosco, firme seu pensa- mento em Deus e em Jesus, nosso Salvador. Eu me lembrei agora, tenho uma chave que você me deu há algum tempo. Vou abrir a casa.

Quando dona Rute colocou a chave na fechadura seu cor- po se arrepiou e ela teve medo, porém foi em frente pois sua fé em Deus era inabalável e em pensamento fez uma oração, pe- dindo proteção ao Criador. Evangélica devota, dona Rute era possuidora de uma superioridade moral que poucos possuem, a bondade e a humildade dela a faziam assim.

Girou a fechadura e abriu a casa, deparou-se com um enor- me cachorro, todo preto, que ao vê-la afastou adentrando mais na casa, enquanto rosnava e babava mostrando os enormes cani- nos. A velhinha percebeu que não se tratava de uma coisa desse mundo, era um espírito maléfico com intenções igualmente ma- léficas que ali estava para perturbar o sossego e a paz da família.

Ele só não contava com a intervenção divina feita por meio de dona Rute e teve que se materializar, que o repreendeu energica- mente em nome de Jesus e disse:

- Vá embora dessa casa e deixe essa família na paz de Deus,

eu te esconjuro criatura do mal! Ao escutar essas palavras o ca-

chorro soltou um uivo horroroso, um lamento e uma ameaça e

partiu para cima de Dona Rute, não para atacá-la mas para sair

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pela porta que estava aberta, e assim o fez assustando mãe e fi-

lho que estavam um pouco mais atrás da avozinha. Foi o tempo

dele passar por eles e quando olharam de novo o cachorro havia

sumido diante de seus olhos. Ficaram assustados, mas também

gratos a Deus. Terminaram de entrar na casa e as duas senhoras,

uma espírita outra evangélica tinham uma certeza, que Deus as

guardou daquela presença horrenda. E cada uma a seu modo fo-

ram agradecer a proteção divina sobre suas vidas, apesar de terem

se livrado do mal maior, elas nunca iriam esquecer que toparam

frente a frente com um cão do inferno.

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Em uma fazenda no pantanal, na região de Porto Murti- nho, viviam o Sr. Medina e sua esposa Dona Raquel, casados há pouco tempo viviam nessa fazenda sem filhos ainda. Ocuparam na propriedade uma boa casa, pois Medina era o gerente. Mas havia um fato porém que eles não sabiam e que ninguém havia comentado, na casa aconteciam coisas estranhas. Os moradores tinham pesadelos, objetos caiam do nada e outras esquisitices aconteciam na casa.

Ignorando essas coisas o casal mudou-se e logo nos primei- ros dias eles notaram que uma irritação crescia entre eles, provo- cando discussões bobas a todo momento. Certa feita a mulher reclamava que não tinha um lugar coberto para lavar roupa e que estava lavando roupa ao sol quente. Nesse mesmo dia o mari- do prometeu fazer um puxado para a esposa não ficar no sol en- quanto lavava roupa.

Durante a noite, Raquel viu um vulto de uma criança de doze ou treze anos e foi ver quem era, não era ninguém. Ela aca- bou ficando meio “cabreira” mas decidiu deixar pra lá e nem con- tar para o marido que certamente não acreditaria e iria rir dela.

Jantaram e foram dormir. Durante o sono Raquel começou a se agitar, quando de repente deparou-se com o garoto que antes era só um vulto, mas que agora estava bem a sua frente. Ele tentava falar e não conseguia, parecia asfixiado, estendeu os braços e com as mãos apertou fortemente o pescoço de Raquel, que se debatia em agonia e acordou com aquela sensação de que aquilo não fora simplesmente um sonho.

Não conseguiu mais dormir e o dia veio. Ela não se aguen-

Asfixia

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tava mais, e, enquanto preparava o café e o “quebra-torto” para o marido comentou com este sobre o sonho, ele disse simplesmen- te a ela: “vai rezá”. Foi o que ela fez, acendeu uma vela para pedir a Nossa Senhora Imaculada Conceição uma solução para tudo aquilo que eles estavam vivendo, pediu pela alma do rapazinho, que parecia ser muitíssimo atormentada. A oração fez bem a ela e aliviou seu coração, então ela prosseguiu normalmente as ati- vidades do lar.

O marido conforme o prometido mandou fazer o puxado pra ela lavar as roupas, determinou a um peão que sabia fazer algum serviço de pedreiro cavar para fazer um alicerce básico para sustentar a pequena construção. Durante a escavação o peão-pedreiro deparou-se com algo estranho, que simplesmente quebrou ao contato com a ferramenta, o objeto fez um “crec”, o que fez o pedreiro pensar que era um pedaço de madeira. Ele resolveu tirar a madeira que estava atrapalhando o andamento do serviço e puxou com a mão. Para a surpresa dele não se tratava de uma madeira, mas de um osso de costela, que parecia ser de...

gente. O pedreiro chamou Medina que logo apareceu juntamen- te com a esposa. Os dois homens começaram a cavar em volta, e em poucos minutos acharam uma ossada humana inteirinha.

Pelo tamanho da ossada, chegaram à conclusão de que se tratava de uma criança, de doze ou treze anos, quando Dona Ra- quel olhou de perto, como que em transe e de repente a ossada ganhou carne e osso. Era o rapaz do sonho, que entre o revoltado e o triste, ainda com dificuldade para respirar disse:

- Dona, eu vi que a senhora é uma boa mulher, de todos

os que por aqui passaram foi a única que não abandonou a casa

e teve a ideia de fazer uma oração, que me fez muito bem. Não

entendo porque morri, porque ninguém cuidou de mim e tam-

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bém não entendo porque fui enterrado igual a um bicho, sim- plesmente me jogaram em um buraco e jogaram terra em cima.

- Fique tranquilo agora, vamos providenciar um enterro cristão pra você e eu vou pedir pro padre quando eu for na cida- de pra rezar uma missa pela sua alma.

- Eu agradeço muito Dona, minha família era muito po- bre, da época que essa fazenda foi aberta, meus pais eram cer- queiros. Só me lembro que fiquei doente, com muita tosse e o patrão expulsou toda a minha família daqui, com medo de que nós contaminássemos todos os outros. Porém, antes de irmos embora, desmaiei e acho que morri. Só porque era bugre, pobre e doente, me enterraram igual a um cachorro.

- Raquel, Raquel! Com quem diabos você está falando?

Disse Medina, a mulher estava meio atordoada, mas acordou da- quele torpor. Amparada pelo marido, ela disse:

- Vamos enterrar o garoto, peça pra alguém na marcenaria fazer um caixão pra ele. O garoto só quer um enterro cristão.

- Como assim? Como você sabe o que ele quer? Perguntou desconfiadamente Medina.

A essa altura dos acontecimentos, todos já tinham para- do de trabalhar para ver a ossada, e começaram mil especulações sobre o porquê a ossada estava lá, sobre qual a causa mortis do menino, etc. Nesse ínterim, chegou um velho bugre, remanes- cente da época da abertura da fazenda, ele já tinha idade avan- çada, andava muito devagar e falava mais devagar ainda, mas era totalmente lúcido. Todos na fazenda tinham grande respeito por ele, e então Medina convidou-o para entrar e sentar-se. Honório Lipu, esse era o nome do velho bugre que começou a tecer a se- guinte narrativa:

- Inda me lembra desse família que moro aqui no fazenda.

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Eis pegaram tudo esse tuberculose e o patrão mando tudo eis im- bora daqui do fazenda. Só que esse kalivôno ivókovone

1

, como que fala mesmo? Só que esse menino morreu, antes deis imbo- ra. O patrão mando interra esse kalivôno no meio do invernada, onde é esse casa agora.

Após o relato do “Seu” Lipu, tudo se encaixou, as irritações na casa, os vultos, os pesadelos e lógico a asfixia, mas tudo o que o indiozinho queria era ser tratado como gente, mesmo após sua morte.

A história comoveu a todos na fazenda, e logo após o cai- xão ficar pronto, colocaram a ossada do menino dentro, e um cortejo fúnebre seguiu até o pequeno cemitério da fazenda, e, onde todos tornam-se iguais, ou seja na morte. O em vida des- prezado e sofrido indiozinho foi enterrado de maneira decente.

Não se conhece suas divindades, não se sabe se era cristão, mas

espera-se que depois da comoção e do enterro digno que lhe foi

dado, ele tenha encontrado a paz, seja lá qual forem as suas di-

vindades.

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Era um dia de sol muito quente, mas do alto do Morro de Camisão soprava uma leve brisa que aliviava o árduo trabalho na roça. Estavam carpindo um eito de terra o Sr. Aníbal e seus três filhos mais velhos, Israel, Miguel e Rafael. Ainda eram crianças, com idade entre seis e dez anos. Levavam o serviço meio que na brincadeira. A hora do almoço estava próxima e Aníbal decidiu mandar Israel e Rafael irem embora para casa, enquanto ele ter- minava o eito com Miguel. Assim foi feito.

Os dois guris ficaram muito satisfeitos por terem sido libe- rados, pegaram cada um seus estilingues e foram embora corren- do. No meio do caminho tiveram a malfazeja ideia de matar pas- sarinhos, mas matavam só por matar, nem era sequer pra comer.

E assim fizeram, como não há limites pra maldade e pra arte do

Guris Malfeitores

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tal do guri, eles começaram a destruir os ninhos, matavam os pas- sarinhos pequenos nos ninhos ou ainda quebravam os ovinhos.

A natureza e a mata têm seus segredos, e seus guardiães, estes ficaram olhando a atitude malfazeja dos dois e sem que se misturassem os dois mundos fizeram os malfeitores sentirem sua presença. Eles ficaram com medo, mas não pararam e foram para o próximo ninho. Porém os guardadores da mata, conseguiram ver do que os dois tinham mais medo e utilizaram isso para im- pedir mais uma chacina das pequenas aves. Com um medo re- pentino Rafael falou para Israel:

- Mano, vamos parar de matar os passarinhos, vai aconte- cer alguma coisa. Israel, embora com medo também, mas para manter sua posição de irmão mais velho disse:

- Deixe de ser medroso, o que vai acontecer é que eu vou dar um tapa na sua “oreia” seu medroso.

Estavam subindo em uma árvore quando escutaram um galope e avistaram uma mula-sem-cabeça vindo a toda brida na direção deles. A mula era horrível, tinha o pescoço sangrando e dava pra ver a carne sendo comida pelos vermes, o sangue era de um vermelho muito escuro e exalava um cheiro extremamente desagradável.

Ao verem tão horrível criatura correram, fizeram o caminho

de volta, assustados e gritando por socorro. Como eles optaram

por voltar, inevitavelmente eles voltavam às cenas dos crimes, e

para a surpresa dos dois, debaixo de cada ninho ou perto de cada

passarinho morto tinha uma cobra venenosa, que também os ame-

açava. Fugiram e de maldosos destemidos passaram a assustados

covardes. Não se sabe ao certo o que eles viram, se era na verdade

uma entidade protetora das matas ou apenas fruto de uma consci-

ência culpada. Histórias ou estórias de terror da família?

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Mário preparava-se para mais uma de suas escapulidas noturnas, arrumou-se todo, tinha pretensões de beleza. Havia naquela noite uma festa junina na escola Marechal Deodoro da Fonseca. A família toda tinha ido à festa e tinham voltado cedo, por volta de vinte duas horas e recolheram-se. Mário estava mo- rando sozinho com sua irmã Mariana, pois seus pais Luciano e Maria estavam fora do país a trabalho. O garoto de treze ou quatorze anos quando se viu sozinho ficou deslumbrado com a liberdade, sendo que as únicas que lhe perturbavam o sossego eram as tias Lúcia e Maroca.

O Encontro

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Nessa noite em particular ele queria voltar à festa, que esta- va cheia de meninas esperando por ele. Arrumou-se novamente, penteou o cabelo com gel, passou de novo desodorante e quando finalmente estava “repreparado” abriu cautelosamente a janela.

Ele esperou dar meia noite, para ter certeza que as tias e a irmã já estavam dormindo. Passo a passo chegou até o muro da casa e pulou-o. Ganhou a rua, sua casa ficava no meio da quadra e caminhou um pouco pela rua quando escutou a cachorrada la- tindo, o barulho ficou mais perto e de repente avistou os cachor- ros brigando com um enorme cão, que lembrava um homem, as lendas sobre o lobisomem eram muitas e na hora ele constatou o que era a horrenda criatura.

A coisa ficou olhando para Mário e por instantes seus olha- res se cruzaram, o garoto achou que estava ficando louco, mas ele tinha percebido um certo medo no olhar de fogo do lobisomem quando seus olhares se cruzaram, assim como o lobisomem deve ter percebido o seu olhar de medo, mas isso foi por instantes, pois rapidamente Mário recobrou seus instintos, voltou-se para o rumo da casa e pulando com muita destreza e rapidez o muro, entrou ruidosamente na casa, fechando a janela rapidamente en- quanto a peleia entre os cachorros e o lobisomem continuava em direção ao Córrego João Dias, no final do Bairro Alto.

Esse acontecimento assustou bastante Mário, que no ou-

tro dia contou ao primo Antônio sua experiência sobrenatural e

terrivelmente assustadora. Esse fato marcou um pouco Mário e

restringiu por um tempo suas escapulidas noturnas, mas só por

um tempo.

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Segunda Parte

Esta parte da obra não são necessariamente estórias

da família, mas são lendas que crescemos ouvindo e tive a

liberdade de transformá-las em contos. A praga das serpen-

tes, o lobisomem do Guanandy e a lenda de que os porcos

comem o dono da fazenda na sexta-feira santa são lendas

conhecidas no nosso meio familiar e para ficar mais inte-

ressante resolvi fazer algumas interfaces com as estórias (ou

histórias) da primeira parte. Convido o leitor amigo a in-

gressar em mais algumas misteriosas narrativas

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Sou um monstro, um ser abjeto, e, é claro, um assassino, sendo que a primeira vítima de minha monstruosidade foi mi- nha própria mãe que morreu sangrando desmedidamente ao trazer-me a este mundo que assim como eu é monstruoso. Claro que uma criatura como eu, fruto da luxúria e do incesto de dois irmãos não poderia ser feliz e assim nasci, monstro e assassino ao primeiro choro. Meu aspecto é repugnante, sou corcunda e te- nho o rosto deformado. Os anos e as chacotas que sofri ao longo da minha triste vida me fizeram amargo e carrancudo.

O mundo é violento e cruel e violência sempre gera violên- cia, e assim eu fui criado, pois meu pai, que também é meu tio, não me matou para se vingar de mim todos os dias pelo meu pri- meiro assassinato. Os dois irmão se amavam e mataram os pais (deles) que queriam separá-los e eu sou o castigo que a eles foi dado, mas, como diz o ditado de Gengis Khan “se não tivesse cometido os pecados que cometeu, Deus não te daria um castigo como eu”.

Sangue exige sangue, eles mataram os pais e eu os matei, mi- nha mãe no parto e meu pai aos doze anos de idade, por coinci- dência a mesma idade que o tal Jesus de Nazaré fugiu para pregar no templo junto com os sacerdotes. Ele mostrou aos doze anos a que viera, e eu também. Como um monstro conhece a Bíblia?

Meu odiado pai me ensinou a ler e escrever, e como na fazenda onde fui criado apenas por ele, tinha uma biblioteca, enveredei-me pelo mundo da literatura, por meio desta cheguei à conclusão que o tal Deus é o ser mais injusto do mundo, pois se você achou que minha desgraça já estava toda relatada, se enganou.

A Besta

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Aos doze anos sofri uma metamorfose. Numa noite, come- cei logo que surgiu a lua, a ter espasmos, me debatia e sentia to- dos os meus ossos se quebrarem e os músculos se rasgarem. Pelos cresceram em todo o meu corpo. Dobrei instintivamente meus braços e coloquei a mão na minha cabeça. Minha mão tornou-se uma orelha e dos meus cotovelos saíram garras e minhas pernas viraram pernas de cachorro e eu não mais ficava em pé direito.

Tudo isso não foi rápido, levei horas neste sofrimento infernal.

Meu pai estava fora, estava caçando. Às vezes ele passava dias na mata para não ter que conviver comigo. Nesse maldito ou bendito dia ele voltou, não sei que horas eram. Quando me transformo perco a noção do tempo. Quando ele voltou e viu- -me não se surpreendeu nem mostrou medo. Ele sabia que aque- la besta horrorosa e maldita era seu filho e então ele cometeu um erro fatal, tentou me matar. Apontou a espingarda e atirou.

Para minha surpresa, foi como se eu tivesse levado apenas uma pedrada, como eu estava acostumado com pedradas de meu pai eu fiquei indiferente à dor, mas um ódio mortal cresceu dentro de mim porque o maldito atentou contra a minha maldita vida.

Como o tiro não fez efeito percebi nesse momento que nem com uma arma de fogo ele podia comigo, na verdade comecei a perce- ber que ninguém podia comigo.

A transformação estava completa, dei um salto sobre ele,

tomei a espingarda de sua mão e joguei longe. Ele estava apavo-

rado agora, pois percebeu que tudo tinha mudado. Eu estava em

cima dele com todo o horror que minha presença impõem, então

ele pediu misericórdia, lembrou de Deus e eu ri, ri e estava feliz

como nunca estive em toda a minha maldita vida. Mordi seu ros-

to, metade da cara dele se foi com a mordida, pela primeira vez

me banhei em sangue. Deixei ele gritando e tendo espasmos de

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dor, foram doze anos de maus tratos sendo vingados neste mo- mento.

Não porque tive dó, mas porque os gritos dele estavam me incomodando acabei de estraçalhá-lo, cortei-lhe a garganta e arranquei-lhe os braços e em poucos segundos ele estava morto.

Uivei, uivei de felicidade para aquela lua linda. Finalmente estava livre daquele maldito, eu o culpava por tudo, aliá o culpo ainda.

No outro dia, acordei humano de novo, se é que eu podia assim me classificar. Pois mesmo minha forma humana era re- pugnante. Tive sede, tomei muita água e de repente um grande vazio tomou conta de mim, não sabia o que fazer. Então decidi partir daquele lugar. Arrumei meus poucos pertences e parti. Eu e meu pai morávamos no meio do nada e eu andei o dia inteiro sem ver viva alma. Logo veio a noite de novo e mais uma vez me transformei, o processo foi novamente doloroso, mas muito me- nos que da primeira. Novamente aquela sensação de poder e de ser invencível tomou conta de mim. Andei bastante e de tempos em tempos uivava muito alto, sabia que meu uivo era algo hor- rível e amedrontador. Depois de muito andar percebi pelo meu olfato que estava me aproximando de seres humanos.

Avistei ao longe uma casa simples construída em madeira,

estava tudo escuro e fazia um silêncio sepulcral, ao me aproxi-

mar da morada senti um cheiro muito agradável ao meu olfato

e vi que aves estavam presas dentro de uma grande gaiola, entrei

dentro da gaiola e as galinhas fizeram o maior estardalhaço com

minha chegada, intuitivamente comecei a rolar nas fezes delas

e aquele cheiro começou a me entorpecer e foi uma sensação

muito boa, então resolvi chupar o sangue de umas e outras então

meu êxtase foi completo. O cheiro daquela merda e do sangue

me drogaram e eu fiquei anestesiado, mas não o suficiente para

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