ANÁLISE COMPARATIVA DOS EFEITOS TÓXICOS DA CIPERMETRINA ENTRE PEIXES DAS ESPÉCIES POECILIA RETICULATA E DANIO RERIO

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25 a 28 de novembro de 2014 – Câmpus de Palmas

ANÁLISE COMPARATIVA DOS EFEITOS TÓXICOS DA

CIPERMETRINA ENTRE PEIXES DAS ESPÉCIES POECILIA

RETICULATA E DANIO RERIO

Pedro Alexandre da Silva Alencar1, Alberto Yim Junior2

1_{Aluno do curso de Medicina Veterinária, campus de Araguaína; e-mail:}_{pedro.alexandre.15@hotmail.com.br}

PIVIC/UFT

2_{Orientador do curso de Medicina Veterinária, campus de Araguaína, e-mail:}_{albyi@uol.com.br}

1. RESUMO

O Cerrado caracteriza-se como uma formação do tipo savana tropical, com períodos de estação chuvosa e seca, bem definidos, e com uma vegetação herbácea, arbustiva e arbórea. Em termos de exploração agrícola, predominam as culturas de milho e soja. A cultura de soja vem avançando no Cerrado brasileiro desde a década de 1970, uma vez que este ecossistema oferece clima e relevo propícios para o seu cultivo. Contudo, o cultivo da soja necessita do uso de uma grande quantidade de agrotóxicos, uma vez que ela é altamente suscetível à ação de ervas daninhas e insetos. Estes agrotóxicos, por sua vez, podem, através da chuva, atingir reservatórios de água doce, contaminando-os e prejudicando a fauna residente nestes ecossistemas, como os peixes da espécie Poecilia reticulata, encontrada na Amazônia brasileira. Porém, apesar do Poecilia reticulata ser um peixe encontrado em reservatórios de água doce no Brasil, ele não é usado como um modelo de estudos ecotoxicológicos neste país, uma vez que os pesquisadores da área de toxicologia de ambientes de água doce usam como modelo o Danio rerio, amplamente usado em todo o mundo como modelo de estudos ecotoxicológicos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a DL50 (dose letal 50%) da cipermetrina, um dos agrotóxicos mais utilizados na cultura de soja no estado do Tocantins, para cada espécie e verificar a vulnerabilidade destas espécies de peixe a este agrotóxico averiguando se a Poecilia reticulata pode ser usada nos modelos ecotoxicológico em substituição ao Danio rerio.

Palavras-chave: Danio rerio; Poecilia reticulata; cipermetrina; ecotoxicologia 2. INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (edital Probio 02/2004), o bioma cerrado ocupa uma área de 205,9 milhões de hectares, caracterizando-se por uma formação

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do tipo savana tropical, com períodos chuvosos e secos, bem definidos, e com uma vegetação herbácea, arbustiva e arbórea, ideal para a exploração agrícola, como milho, feijão, algodão, café, cana de açúcar e soja. A cultura de soja vem avançando no Cerrado brasileiro desde a década de 1970, uma vez que este ecossistema oferece clima e relevo propícios para o seu cultivo. No Cerrado, o plantio da soja gerou excelentes resultados em termos de produtividade média por hectare, graças aos investimentos massivos em tecnologia e manejo feitos pela EMBRAPA e pelo próprio setor. O estado do Tocantins ocupa a terceira posição em área coberta pelo bioma Cerrado (sendo que 79% de sua área é ocupada por este bioma), o que favorece o plantio da soja.

Esta cultura, por ser mais vulnerável à ação de ervas daninhas e insetos, utiliza uma grande quantidade de agrotóxicos (BARRIGOSSI, LANNA & FERREIRA, 2004). Em áreas que apresentam declives, as chuvas podem causar erosão e escorrimento superficial de água. Caso o agrotóxico seja aplicado antes da chuva, seus resíduos podem ser transportados pela água corrente e fluírem para rios e lagos, onde contaminam a água, representando uma potencial ameaça para peixes e animais silvestres que vierem a consumi-la (EDWARDS, 1973). Um dos principais grupos de praguicidas usados na cultura da soja são os piretróides, de acordo com VALDES (2007), que em estudo feito nos principais pontos de venda de agrotóxicos no entorno do Parque Nacional das Emas (Goiás), averiguou que a cipermetrina (Cipermetrina®) é um dos principais agrotóxicos usados no cultivo da soja.

A espécie de peixe de água doce Danio rerio (paulistinha), tem sido usada há muito tempo como modelo para estudos toxicológicos, pois possui um ciclo reprodutivo curto, e a maturidade sexual é atingida entre 10 a 12 semanas de vida (TALWAR & JHINGRAN, 1991). Apesar de não ser uma espécie de peixe nativa da fauna brasileira, o Danio rerio é muito usado no Brasil em ensaios de toxicidade, pois ele é altamente sensível aos efeitos tóxicos dos pesticidas. Já a espécie de peixe Poecilia reticulata (lebiste) é um animal teleósteo encontrado no Norte do Brasil, que vive em charcos com águas altamente turvas e com vegetação. O ciclo de vida desta espécie é curto, o que sugere que o lebiste possa ser uma alternativa viável para ensaios ecotoxicológicos envolvendo agrotóxicos, uma vez que é um peixe nativo da Amazônia brasileira. Desta forma, o objetivo deste estudo é determinar a DL50 (dose letal 50%, a dose que mata 50% dos indivíduos expostos a esta dose) da

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cipermetrina, um dos principais pesticidas usados no cultivo da soja, para as espécies

Poecilia reticulata e Danio rerio, e comparar a suscetibilidade destas duas espécies a estes

agrotóxicos.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. MATERIAIS

Utilizou-se um total de 120 peixes, onde 60 animais eram da espécie Poecilia

reticulata e outros 60 da espécie Danio rerio. O tamanho dos animais variavam entre 5 mm

e 15mm, e foram selecionados animais sadios, ativos e visualmente semelhantes.

O agrotóxico utilizado neste estudo foi a cipermetrina (Bio-Ciper 15%® Biovet), que se apresenta vendido comercialmente em frascos de 20 ml.

Fez-se uso de 12 aquários que eram divididos em dois compartimentos suportando o volume de 5 litros cada, para que fossem colocados 5 peixes por compartimento, resultando em 10 peixes por aquário, e com uma densidade de 1 peixe por litro de água.

3.2. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Os 120 animais selecionados foram distribuídos aleatoriamente nos 12 aquários de dois compartimentos, distribuindo 10 peixes por aquário, ou seja, 5 peixes por compartimento. Os peixes foram intoxicados com o agrotóxico cipermetrina (Bio-Ciper 15%® Biovet), fazendo o uso de seis doses (uma dose para 2 aquários, cada aquário um grupo, cada grupo possuía 10 animais, n=10). Os grupos foram submetidos ás doses de 0, 1,0, 2,0, 3,0, 5,0 e 10,0 mg/l de água presente em cada um dos aquários, e foram acompanhados para verificação da mortalidade por 96 horas. A mortalidade dos peixes foi observada a cada 24 horas, assim, a computação da mortalidade foi feita 24, 48, 72 e 96 horas após a administração da cipermetrina. A cada observação, os peixes mortos eram retirados dos aquários.

A análise estatística dos dados foi feita usando o programa Graph Pad Prism. Com este, foram construídas as curvas sigmoidais dose-resposta, onde foi possível calcular a DL50 à cipermetrima das espécies de peixes Poecilia reticulata e Danio rerio.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do presente experimento mostraram que os peixes da espécie D. rerio são altamente sensíveis aos efeitos tóxicos do composto, pois a administração da menor dose do mesmo (1,0 mg/l) provocou uma mortalidade de 100% dos animais nas primeiras 24 horas de exposição. As doses maiores foram igualmente letais, promovendo uma morte de 100% dos peixes nas primeiras 24 horas (com excessão da dose de 3,0 mg/L, que provocou uma mortalidade de 90 % nas primeiras 24 horas). Após 96 horas de exposição, todos os peixes submetidos às diferentes doses deste agrotóxico haviam morrido. A DL50 da cipermetrina, 96 horas, para esta espécie de peixe, calculada pelo programa Graph Pad Prism, foi próxima de 0 mg/l, uma vez que a menor dose utilizada (1,0 mg/kg) já causou uma letalidade de 100% dos peixes. Para determinar com mais precisão o valor da DL50 da cipermetrina para a espécie Danio rerio, é necessário realizar um experimento adicional, com a utilização de doses deste inseticida variando entre 0,0 e 1,0 mg/l.

Os peixes da espécie P. reticulata também foram expostos ás doses de 0,0, 1,0, 2,0, 3,0, 5,0 e 10,0 mg/l de cipermetrina. Nas primeiras 24 horas de exposição, verificou-se que os animais desta espécie foram altamente suscetíveis aos efeitos tóxicos da cipermetrina. Contudo, a mortalidade do grupo de peixes desta espécie expostos à menor dose de do agrotóxico (1,0 mg/l) foi menor do que a verificada nos peixes da espécie Danio rerio submetidos a esta mesma dose (100% na espécie Danio rerio e 70% na espécie Poecilia

reticulata) . Além disso, pode-se verificar que, embora a taxa de mortalidade dos grupos de

peixes submetidos às diferentes doses cipermetrina seja alto, nenhum deles provocou, nas primeiras 24 horas de exposição, letalidade de 100%, nem mesmo os grupos expostos ás doses mais altas deste composto. Já na espécie Danio rerio, a exposição a todas as doses de cipermetrina provocou letalidade de 100%, com exceção do grupo de peixes que foi exposto à dose de 3,0 mg/kg, cuja letalidade foi de 90%. Contudo, após 96 horas de exposição, as doses maiores (3,0, 5,0 e 10,0 mg/l) provocaram letalidade de 100% dos peixes, enquanto que os grupos de animais submetidos ás doses menores, de 1,0 mg/l e 2,0 mg/l, tiveram uma mortalidade de, respectivamente, 80% e 90%. A DL50 24 horas da cipermetrina, para esta espécie de peixe foi 0,73 mg/ml, aproximando-se de 0 mg/ml progressivamente a medida que aumentava o tempo.

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Este estudo mostrou que a cipermetrina, um dos agrotóxicos mais usados na cultura de soja, é extremamente tóxico para peixes de água doce, como o Danio rerio e o P.

reticulata. Mesmo a exposição a baixas doses deste inseticida causou significativas

alterações comportamentais, como perda de coordenação motora e sentidos de profundidade, além de causar uma alta mortalidade durante as primeiras 24 horas de exposição a este inseticida em ambas as espécies estudadas. A DL50 para a espécie D. rerio foi próxima de 0 mg/ml desde as primeiras 24 horas, enquanto para espécie P. reticulata foi de 0,73 mg/ml nas primeiras 24 horas, tendo considerável diferença entre elas, não sendo aconselhável a substituição das espécies em experimentos ecotoxicológicos tomando os dados da primeira espécie como associáveis a segunda. É necessários investigar possíveis alterações de comportamento após exposição prolongada a doses sub-letais de cipermetrina, e averiguar se há recuperação e sequelas no organismo após a retirada dos animais do meio.

5. LITERATURA CITADA

BARRIGOSI, J. A. F; LANNA, A. C.; FERREIRA, E. Agrotóxicos no cultivo de arroz no Brasil: análise de consumo e medidas para reduzir o impacto ambiental negativo. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2004, 8 p. (Embrapa Arroz e feijão. Circular Técnica, 67).

EDWARDS, C. A. Persistent pesticides in the environment. 2th ed. USA: CRC Press, 1973. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Cerrado. Disponível em <htpp://www.ibama.gov.br.

VALDES, S. A. C. Estudo da contaminação por agrotóxicos em aves da família Caprimulgidae

no Parque Nacional das Emaa (GO). 109 f. Dissertação (Doutorado em Química na Agricultura e

no Ambiente), CENA, Universidade de São Paulo, 2007.

TALWAR, P.K.; JHINGRAN, A.G. Inland fishes of India and adjacent countries. v. 1, A.A. Balkema, Rotterdam, 1991.

6. AGRADECIMENTOS