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N/Referência: PROC.: R. P. 70/2014 STJ-CC Data de homologação:

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Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Parque das Nações • Apartado 8295 • 1803-001 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 1 • D at a: 2 2-01 -2 01 4 N.º 10/ CC /2014 N/Referência: PROC.: R. P. 70/2014 STJ-CC Data de homologação: 09-01-2015

Recorrente: José Maria ………, por intermédio de advogada. Recorrido: Conservatória do Registo Predial ……

Assunto: Retificação - penhora – prédios não descritos – verificação da titularidade dos prédios Palavras-chave: Retificação; indeferimento; liminar; penhora; prédio; omisso; trato sucessivo; titularidade.

Relatório

1. José Maria ... veio, por intermédio de advogada, instaurar processo de retificação tendente ao

cancelamento do registo de penhora efetuado a coberto da ap. ..., de 2010/09/30, nas fichas 6340,

6341 e 6342, freguesia de A…., concelho de L….., o qual, segundo alega, padece de nulidade, por ter

sido feito com base em título insuficiente para a prova legal do facto (art. 16.º/b do CRP).

1.1. De acordo com o expendido no requerimento de retificação, os prédios em causa faziam parte da herança de Maria A…., sendo que, à data do pedido do registo da penhora, tais prédios estavam a ser objeto de partilha em inventário, cujo trânsito em julgado só ocorreu em fevereiro de 2013, logo, por não pertencerem ao executado, não podia sobre eles recair a penhora.

1.2. Segundo o requerente, o título que serviu de base ao registo revelava claramente que os prédios faziam parte de herança objeto de inventário ainda a correr termos, donde, ao registo da penhora sobre estes prédios, até então omissos no registo, deveria ter cabido a mesma qualificação (a provisoriedade por natureza prevista no art. 92.º/2/a) do CRP) que versou sobre os demais prédios.

2. O pedido de retificação foi anotado sob a ap. 19..., de 2014/08/01, como “Inscrição não Especificada”, tendo sido objeto de um despacho que, formalmente, surge no SIRP como “Despacho de Qualificação”, mas que, no conteúdo, dá conta do indeferimento liminar do pedido, aduzindo-se, a título de fundamentação, que o registo da penhora não é nulo porque a penhora foi efetuada com base “no documento digitalizado no Sistema o qual constitui título suficiente nos termos do disposto no artigo 48.º do Código do Registo Predial”.

2.1. Em face dos elementos juntos aos autos, este despacho foi notificado à Sra. advogada que subscreveu o pedido e ao interessado que figura como requerente da retificação, mediante carta registada com aviso de

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receção, e deu lugar a “um registo oficioso”, efetuado com a dita ap. 19... e com o seguinte conteúdo: “Indeferido liminarmente o pedido de retificação”.

2.2. A este “registo oficioso” seguem-se, nas fichas de registo e sempre a coberto da mesma ap. 19..., um averbamento de pendência de retificação, que omite o registo retificando ou qualquer referência à ap. ..., de 2010/09/30, correspondente, e a anotação da data da notificação do despacho de indeferimento liminar do pedido de retificação (2014/08/16).

3. Na sequência da aludida notificação, foi apresentado, em 2014/08/29, sob a ap. 34..., o recurso hierárquico em apreço, no qual se alega que o despacho de indeferimento liminar é nulo por falta de fundamentação, posto não estar explicado porque é que se considerou o título como suficiente para o registo da penhora nestes prédios e não nos demais, repetindo-se, no essencial, os argumentos postos no requerimento de retificação. 4. Face aos fundamentos alegados no recurso interposto, a Sra. notária em substituição emitiu no SIRP novo despacho formalmente intitulado de “Despacho de Qualificação” e reportado a uma “Inscrição não Especificada”, anotada sob a ap. 34... de 2014/08/29, onde sustenta o indeferimento liminar, considerando, mais uma vez, a suficiência do título para a feitura do registo.

4.1. Também este despacho deu lugar a um “registo oficioso”, efetuado com a ap. 34... (relativa à interposição do recurso hierárquico) e com a menção única de “Despacho de Sustentação”, a que se junta, em ato contínuo, sob a mesma ap. 34... e com referência à pendência de retificação, a anotação da interposição do presente recurso hierárquico.

4.2. Seguiu-se a notificação dos interessados não requerentes, mediante carta registada com aviso de receção, para, querendo, impugnar os fundamentos do recurso, com a nota de que “pela dedução de oposição é devido o emolumento total de 200, 00€”.

4.3. À referida notificação respondeu a titular inscrita dos prédios 6340 e 6342, em suporte escrito que não assinou, não para impugnar os fundamentos do recurso, mas para reiterar o entendimento do requerente no sentido da nulidade da penhora pelo facto de, ao tempo, os prédios pertencerem à herança de Maria A…...

Questões Processuais

1. Antes de apreciarmos a questão de fundo, convém dar conta das muitas dificuldades e imprecisões formais detetadas quer no processo de retificação quer no âmbito do recurso hierárquico, as quais, embora não sejam de molde a comprometer a substância e o valor do processado, carecem de ser evidenciadas, ao menos de forma a evitar a sua repetição em ulteriores processos.

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A) Da tramitação do processo de retificação

1.1. Começamos, naturalmente, com a produção do despacho de indeferimento liminar no SIRP, sob a designação de “Despacho de Qualificação” e a pretexto de uma “Inscrição não Especificada”, para sublinhar que o processo de retificação, ainda que envolva um pedido de registo (neste caso, de cancelamento do registo da penhora) a efetuar em caso de procedência, não se confunde com o processo de registo, previsto e regulado no Título III do Código do Registo Predial (CRP)1.

1.1.1. O processo de retificação encontra a sua disciplina própria nos artigos 120.º e seguintes do CRP e tem como objeto vícios do registo tipificados nos arts. 16.º e 18.º do mesmo Código e destacados no referido art. 120.º, donde, não há como confundir, ainda que formalmente ou na designação, um despacho de indeferimento liminar, a proferir ao abrigo do disposto no art. 127.º, com um despacho de qualificação, a emitir nos termos do art. 71.º.

1.1.2. Por outro lado, não se justifica a emissão avulsa de despachos em meio informático (através de modelos e funcionalidades privativos de outro tipo de decisão) apenas como forma de garantir o intuito de desmaterialização que recobre a atividade registal, sobretudo quando se sabe que a desmaterialização do processo de retificação se encontra pendente de concretização na área de Processos do SIRP2 e que o

processo de retificação é um todo, composto pelo conjunto de documentos, atos e formalidades legalmente previstos, que não deve ser fragmentado em suportes diversos (suporte papel e suporte eletrónico), ainda que os atos de registo (anotações, averbamentos ou inscrições) nele implicados devam ser necessariamente executados na ficha de registo e, portanto, fora do suporte físico que lhe pertence.

1.2. Também não se compreende a razão por que se utilizou a “Inscrição não Especificada”, quando o que está em causa é um pedido de “retificação” (a efetuar mediante averbamento de cancelamento do registo da penhora), nem se vislumbra em que disposição legal se alicerça o “registo oficioso” do indeferimento liminar do pedido, quando o art. 126.º do CRP é claro ao determinar que, quando a retificação não deva ser feita nos termos dos artigos 124.º ou 125.º, é averbada ao respetivo registo (ou seja, neste caso, ao registo da penhora objeto do pedido de retificação) a pendência da retificação3.

1 As referências legais feitas no texto sem outra indicação reportam-se ao Código do Registo Predial. 2 Cfr. Guia de Referência SIRP disponível na Intranet.

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1.2.1. Aos terceiros que consultam o registo não interessa conhecer as vicissitudes ocorridas no processo respetivo, como seja o facto de ter sido indeferido liminarmente o pedido e de estar a correr o prazo para a impugnação desta decisão, antes interessa saber que se encontra pendente a retificação.

1.2.2. Com efeito, é o averbamento de pendência de retificação que acautela os efeitos substantivos da retificação a que se referem os artigos 122.º e 126.º/3, sendo que é do cancelamento deste averbamento, mediante decisão definitiva que indefira (liminarmente ou não) a retificação, ou da feitura do averbamento de retificação, mediante decisão definitiva que defira o pedido, que depende a estabilização da informação registal. 1.2.3. Assim, a decisão de indeferimento liminar só é pertinente depois de se tornar definitiva e não é, ela mesma, objeto de anotação ou de averbamento na ficha de registo, antes determina o cancelamento do averbamento de pendência da retificação, se não for impugnada ou se a impugnação respetiva for julgada improcedente.

1.3. Da mesma forma, também não interessa refletir na ficha de registo a data da notificação do indeferimento liminar do pedido ao requerente, como se fez no caso em apreço, porquanto, a mais de não haver disposição legal que o imponha, também não existe razão que o justifique, já que a pendência da retificação não caduca com o decurso do prazo para a impugnação, sem que esta seja interposta, antes terá de ser oficiosamente cancelada, nos termos do art. 126.º/4, produzindo, até a esse momento, os efeitos previstos nos aludidos artigos 122.º e 126.º/3.

1.4. Sobre a notificação do despacho de indeferimento liminar (art. 127.º/1), importa ainda notar, por um lado, que o uso de carta registada com aviso de receção não se coaduna com o disposto no art. 154.º4, mas que,

tendo sido esta a via utilizada, não cabe considerar como data da notificação o terceiro dia posterior ao do registo, ou o primeiro dia útil seguinte a esse, quando o não seja, se daquele aviso resultar que a entrega foi feita em data posterior, como aqui aconteceu com a notificação feita à Sra. advogada que subscreveu o pedido, à qual só recebeu a notificação em 2014/08/20, e não em 2014/08/16, com ficou anotado nas fichas de registo. B) Da tramitação do recurso hierárquico

1.5. Sobre o recurso hierárquico, a primeira observação a fazer é, mais uma vez, relacionada com a anotação (indevida) nas fichas de registo, como se de uma impugnação da decisão do conservador prevista e regulada nos artigos 140.º e seguintes se tratasse, quando tal anotação não está prevista no art. 131.º, nem em nenhuma

4 Efetivamente, não se trata de chamar ao processo, pela primeira vez, um interveniente (caso em que o regime da notificação deve ser,

tanto quanto possível, aproximado ao regime da citação), mas de dar conhecimento de um facto (decisão) produzido no processo instaurado pelo próprio notificado.

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outra passagem legal atinente ao processo de retificação, precisamente porque os efeitos da procedência da retificação já se encontram salvaguardados com o averbamento da pendência da retificação5.

1.6. Outra perturbação formal revelada nos autos é a emissão do despacho de sustentação da decisão de indeferimento liminar do pedido de retificação, outra vez sob a designação de “Despacho de Qualificação” e a coberto de uma “Inscrição não Especificada”.

1.6.1. Para além de todos os motivos atrás indicados no sentido de bem se distinguir os despachos proferidos no âmbito do processo especial de retificação dos despachos inseridos no processo normal de registo, acresce aqui a impertinência da elaboração de um despacho que não seja para reparar a decisão e ordenar o prosseguimento do processo (cfr. 127.º/3 a contrario), e o seu “registo oficioso” nas fichas de registo, ainda para mais a figurar antes da anotação (também indevida) da interposição do recurso hierárquico e sem qualquer referência à retificação ou àquele recurso.

1.7. Finalmente, parece útil salientar que o art. 127.º/4 manda notificar os interessados a que se refere o art. 129.º, ou seja, os interessados não requerentes, para, no prazo de 10 dias, impugnarem os fundamentos do recurso. A remissão para o art. 129.º visa, assim, dizer quem deve ser notificado, não o que deve ser notificado. 1.7.1. Considerando o teor da notificação aos interessados não requerentes efetuada na sequência da interposição do presente recurso hierárquico, não se compreende, portanto, a nota de que pela dedução da oposição é devido o emolumento previsto nos pontos 5.2. e 5.3. do art. 21.º do RERN.

1.7.2. Tendo sido liminarmente indeferida a retificação, só poderá haver oposição, nos termos do art. 129.º, se a impugnação prevista no art. 127.º for procedente, mandando-se prosseguir o processo, quando esta decisão de procedência se tornar definitiva e uma vez feita nova notificação aos interessados não requerentes, agora sim, para deduzirem oposição à retificação (art. 129.º/1).

C) Da peça apresentada por interessado não requerente

1.8. Daí que também nos pareça totalmente impróprio o teor da requisição n.º 1340 de 2014/10/10 (talão n.º 588/2014), que trata o requerimento apresentado pela notificada Carla S….., titular inscrita dos prédios 6340 e 6342, como uma dedução de oposição e regista a cobrança de 150,00€ a título de preparo.

5 Com as alterações introduzidas ao CRP pelo Decreto-Lei n.º 125/2013, de 30 de agosto, deixou de figurar a exigência de anotação da

interposição da impugnação das decisões proferidas no processo de retificação no diário, precisamente por não estar em causa um facto sujeito a anotação na ficha de registo. Daí que mesmo a anotação no diário aqui efetuada a coberto da ap. 34..., de 2014/08/29, não se conceba por razões legais, senão pela necessidade de se sinalizar e de se comprovar no SIRP, através de funcionalidade imprópria, a data de entrada do recurso (art.131.º/6) e o preparo respetivo.

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1.8.1. A verdade é que a notificada não apresentou qualquer oposição à retificação, pelo que não era devida a tributação emolumentar prevista nos pontos 5.2. e 5.3. do art. 21.º RERN, e também não impugnou os fundamentos do recurso, como o art.127.º/4 consente.

1.8.2. Realmente, o que a notificada fez foi juntar-se ao requerente na pretensão de ver cancelado o registo da penhora, embora não tenha assinado o suporte escrito apresentado e, com isso, não tenha demonstrado a autoria das declarações nele contidas.

1.8.3. A intervenção processual aqui verificada, não podendo qualificar-se como “impugnação dos fundamentos do recurso” nem como dedução (intempestiva) de oposição à retificação, só poderá valer então como uma intervenção espontânea de terceiro, destinada a associar-se ao requerente no propósito de obter o cancelamento do registo da penhora no âmbito do processo de retificação em curso.

1.8.4. Ora, um incidente de intervenção de terceiro deste tipo não faz parte da estrutura processual simplificada do processo de retificação nem se mostra indispensável à boa decisão do processo, pelo que não caberá aqui admiti-lo ou ponderar o seu conteúdo.

1.8.5. É certo que, na substância, este requerimento representa o consentimento da interessada (titular inscrita dos prédios 6340 e 6342) para a retificação pretendida, todavia, em face das disposições combinadas dos artigos 121.º/2, 123.º, 124.º e 125.º, tal consentimento deve ser processualmente manifestado no pedido de retificação.

1.8.6. Depois disso, o interessado não requerente só deverá intervir no processo a pretexto do disposto no art. 129.º (oposição à retificação) ou em sede de impugnação hierárquica ou judicial da decisão sobre o pedido da retificação, na qualidade de impugnante ou para impugnar os fundamentos do recurso hierárquico ou da impugnação judicial interpostos por outrem.

Pronúncia

1. Postas estas considerações de ordem processual, cumpre agora atentar na questão de fundo, a qual reside em saber se a retificação deve ser liminarmente indeferida, em virtude de o pedido se prefigurar como manifestamente improcedente, ou se, ao invés, o processo deve prosseguir para a fase da notificação dos interessados não requerentes (art. 129.º) e subsequente instrução e decisão, nos termos do art. 130.º do CRP. 2. O que aparece a dividir recorrente e recorrido é o entendimento sobre a suficiência do título que serviu de base ao registo da penhora sobre três prédios omissos, cuja descrição foi aberta a coberto da apresentação daquele registo, no qual figura como executado José Maria ... e como exequente Fernando M…...

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2.1. Embora no recurso se aduza a falta de fundamentação do despacho recorrido, a nosso ver, do conteúdo sucinto que este comporta extrai-se, com razoável clareza, a convicção de que, face ao disposto no art. 48.º do CRP, o título que serviu de base ao registo da penhora é suficiente para a prova legal do facto, pelo que não se verifica o vício (nulidade) do registo que alicerça o pedido de retificação6.

2.2. Com efeito, segundo o disposto no art. 48.º, o registo da penhora é efetuado com base em comunicação eletrónica do agente de execução ou em declaração por ele subscrita, e, no caso em apreço, assim aconteceu, dado que o registo da penhora a que respeita a ap. ..., de 2010/09/30, foi apresentado pela solicitadora Ana M…, agente de execução no processo judicial indicado no extrato da inscrição, com referência a 16 prédios, entre os quais os três prédios em tabela, ao tempo não descritos.

2.3. Acontece que, complementarmente, foi junto o requerimento executivo, contendo a identidade do exequente e do executado, o ora recorrente, a descrição dos bens indicados à penhora associados ao executado José Maria ... e a informação final de que estes bens foram adjudicados ao executado em processo de inventário que corre termos; de que não foram por este pagas ou depositadas as tornas devidas; e de que só o valor que sobrar da venda dos bens para pagamento das tornas pode ser afetado ao pagamento da dívida exequenda. 2.3.1. Ora, é precisamente nestas declarações finais produzidas no requerimento executivo que se alicerça a pretensão de insuficiência do título para o registo da penhora, porquanto, diz o recorrente, das mesmas se retira que, ao tempo, os bens indicados à penhora pertenciam à herança indivisa pendente de partilha judicial.

2.3.2. Porém, ao contrário do que conclui o recorrente, o que no requerimento executivo se informa não é que os bens estão a ser objeto de partilha, em inventário judicial que corre termos, mas antes que esses bens foram licitados e adjudicados ao executado e que este não procedeu ao pagamento ou ao depósito das tornas, sugerindo-se até, com as declarações subsequentes quanto à venda dos bens adjudicados ao devedor das tornas, uma aplicação combinada das disposições contidas dos artigos 1378.º/3, 463.º/3 e 865.º/5 do CPC7.

2.4. De todo o modo, não é no requerimento executivo; é antes na declaração do agente de execução, que se baseia o registo da penhora, pelo que são as declarações produzidas nesta declaração que essencialmente titulam e sustentam o ato de registo em análise.

6 Ainda assim, não podemos deixar notar que o despacho de indeferimento liminar não espelha o labor analítico que, com certeza, o terá

determinado. Embora não haja omissão quanto aos fundamentos de facto e de direito e, portanto, a nosso ver, não se verifique a nulidade suscitada pelo recorrente, pensamos que, num processo desta natureza, não seria de mais esperar um despacho mais desenvolvido quanto à fundamentação factual, lógica e jurídica da decisão.

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2.4.1. O requerimento executivo não tem sequer de ser junto ao pedido de registo e, se ainda assim for apresentado, o seu conteúdo não servirá senão para suprir ou esclarecer elementos omissos ou imprecisos do título (declaração do agente de execução)8.

2.4.2. Tal como resulta do art. 48.º do CRP e do art. 838.º do CPC, o título para o registo da penhora dos prédios é pois a declaração do agente de execução, sendo que o requerimento executivo, quando apresentado, não pode substituir aquela declaração, nem pode o seu conteúdo sobrepor-se à informação claramente prestada pelo agente de execução, designadamente, no que concerne à indicação dos prédios objeto da penhora. 2.4.3. Acresce, aliás, que o agente de execução não está vinculado à indicação dos bens feita pelo exequente (art. 810.º/1/i) do CPC) e que a informação prestada a este respeito no requerimento executivo, em regra, não dispensa as diligências a que se refere o art. 832.º e 833.º-A do CPC, podendo bem acontecer que os bens efetivamente penhorados não sejam nenhum daqueles (ou todos aqueles) que foram indicados no requerimento executivo.

2.4.4. Considerando que, no caso dos autos, a declaração do agente de execução contém os elementos essenciais do pedido e do registo, nomeadamente, a indicação do exequente, do executado9, da quantia

exequenda, da identificação do processo executivo e dos prédios objeto da penhora, entre eles, os que foram então descritos sob os n.ºs 6340, 6341 e 6342, cremos que ao requerimento executivo se terá ido buscar apenas, a título complementar, alguns elementos em falta para a abertura das ditas descrições.

3. Por outro lado, fora o que se passou com o prédio n.º 6338, que, realmente, apresenta um histórico difícil de deslindar, mas que, de todo o modo, não está aqui em tabela, verifica-se que o registo da penhora foi efetuado como definitivo relativamente aos prédios não descritos porque justamente nenhum óbice de ordem tabular existia quanto à titularidade do prédio.

3.1. No plano da titulação, apesar de se tratar da constituição de um encargo sobre imóvel (penhora), a lei não exige que o título (neste caso, a declaração ou comunicação do agente de execução) seja precedido da inscrição definitiva dos bens a favor da pessoa contra a qual se constitui o encargo (art. 9.º/2/a) do CRP). 3.2. No plano do registo, tratando-se de prédios não descritos e de encargo coercivo, também não se exige, para o registo definitivo da penhora, a prévia inscrição dos bens em nome do executado ou, sequer, a apresentação do documento comprovativo do direito penhorado (art. 34.º/1 a 3 a contrario do CRP).

8 Cfr. processos R.P.295/2004 DSJ-CT e RP 242/2010 SJC-CT.

9 Para os efeitos tidos por convenientes, notamos a inclusão do cônjuge do executado como sujeito passivo da penhora, em evidente

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3.3. Obviamente, se a penhora abranger prédios descritos e com registo de aquisição em vigor, presumindo-se que o proprietário desses bens (descritos) é o titular inscrito (art. 7.º do CRP), não pode ser definitivamente inscrita a penhora (sobre os bens descritos) sem a intervenção desse titular (art. 34.º/4 do CRP).

3.3.1. O princípio ínsito no art. 34.º/4 do CRP é o do trato sucessivo na modalidade da continuidade das inscrições, querendo significar que o direito do adquirente deve apoiar-se no do transmitente e o encargo só pode ser constituído por, ou contra, o respetivo titular.

3.3.2. Daí que, normalmente, deva ser inscrito como provisório por dúvidas o registo de facto em que não intervenha o titular definitivamente inscrito (artigos 34.º/4, 68.º e 70.º do CRP), e daí também que se mostre eivada de nulidade a inscrição lavrada em violação destes preceitos legais (artigo 16.º/e) do CRP).

3.3.3. Para os registos de arresto, de penhora e de declaração de insolvência, e quando sobre os bens exista registo de titularidade a favor de pessoa diversa do requerido, do executado ou do insolvente, foi, no entanto, traçado um regime distinto, determinando-se a provisoriedade por natureza (artigo 92.º/2/a) do CRP), em vez da provisoriedade por dúvidas10.

3.3.4. Foi exatamente esta a qualificação (provisoriedade por natureza nos termos do art. 92.º/2/a) do CRP) da penhora dos autos, mas apenas quanto aos prédios descritos e com inscrição de aquisição a favor de pessoa diversa do executado, justamente porque só esta parte quadra com a facti species da norma contida no aludido artigo 92.º.

3.4. Salientamos, contudo, que o trato sucessivo não visa decidir definitivamente qual o melhor direito de entre os que são conflituantes11 e que o seu cumprimento não assenta na prova ou no acertamento jurídico do direito

10Ao mesmo tempo, oferece-se, no artigo 119.º do mesmo Código, um mecanismo de suprimento da falta de trato sucessivo que não

passa já, necessariamente, pela inscrição do bem em nome do executado, mas que se analisa num teste à presunção derivada do registo, suscitando a intervenção do titular inscrito para dizer se o bem ainda lhe pertence.

Como se referiu no Processo R. P. 80/2012 SJC-CT, trata-se de uma solução legal que, arrancando do princípio do trato sucessivo e dos efeitos do registo, procura o justo equilíbrio entre o interesse do exequente na célere recuperação do crédito e a proteção que a presunção legal confere ao titular do registo de que o direito lhe pertence, dispensando aquele de obter a atualização do registo de aquisição como via de alcançar o registo definitivo da penhora, mas outorgando a este (o titular inscrito) um meio de defesa capaz de obstar a tal definitividade antes do acertamento de direito nos meios comuns (artigo 119.º do CRP).

O mecanismo previsto no artigo 119.º do CRP como que concede ao titular inscrito a possibilidade de intervir em processo executivo que não tenha sido movido contra si para dizer que os bens lhe pertencem e, com isso, suspender o ciclo executivo até que, autonomamente, se decida da questão da titularidade do direito (artigo 119.º/4 do CRP), mas, perante a inércia do titular inscrito ou a declaração de que os bens não lhe pertencem, aquele mesmo mecanismo também permite ao credor a obtenção do registo definitivo da penhora, apesar do registo de aquisição a favor de pessoa diversa do executado.

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do transmitente, do onerante ou da pessoa contra quem se constitui o encargo, mas na presunção derivada do registo, de que a pessoa em cujo nome o direito está inscrito é o seu titular.

3.4.1. Por isso, relativamente a prédios não descritos, não cabe aplicar o princípio do trato sucessivo na modalidade da continuidade das inscrições (art. 34.º/4 do CRP) justamente porque inexiste a posição tabular que o determina: não há nenhuma presunção de titularidade derivada do registo, porque não há nenhuma inscrição em vigor, nem a favor do executado, nem a favor de terceiro.

4. No caso dos autos e no que concerne aos prédios não descritos em causa, o registo foi efetuado nos termos requeridos, ou seja, como definitivo, sem aplicação do princípio do trato sucessivo (na modalidade da inscrição prévia ou na modalidade da continuidade das inscrições), por falta de pressuposto, e sem exigência da prova do direito do executado, pela simples razão de que a impenhorabilidade dos prédios não tem de ser sindicada por quem procede ao registo da penhora, antes tem de ser invocada no processo executivo respetivo.

4.1. Assim, se os bens penhorados não pertencem ao executado, mas a terceiro, não é pelo lado do registo, mas no processo judicial competente, que se logrará fazer o acertamento jurídico do direito, desde logo porque, como já vimos, a inscrição da penhora se basta com a comunicação do agente de execução (a qual vale como título e pedido de registo).

4.2. Ao terceiro, titular de um direito incompatível com o propósito da penhora (que é a venda executiva), são-lhe, por exemplo, consentidos os embargos de terceiro para decisão no plano da titularidade do direito de fundo, obtendo-se, com a procedência do pedido, o levantamento da penhora e o consequente cancelamento do registo respetivo (art. 13.º do CRP).

4.3. E ao executado, co-herdeiro, a quem sejam penhorados bens compreendidos no património comum (em contravenção com o disposto no art. 826.º/1 do CPC) parece ser permitido o incidente de oposição à penhora, a deduzir nos termos do art. 863.º-A/1/a) do CPC12-13, seguindo-se então, se for o caso, o reflexo tabular da

decisão judicial alcançada, designadamente, através do cancelamento do registo da penhora que, por causa disso, tenha sido levantada.

4.4. O que já nos parece inviável é procurar no registo, através do processo de retificação, um resultado substantivo (traduzido no acertamento e no reconhecimento do direito de propriedade objeto da penhora a favor de pessoa diversa do executado) que só os tribunais terão competência para outorgar.

12 Continuamos a considerar as disposições legais em vigor à data dos factos em causa neste processo, sem prejuízo de notarmos que

os artigos 743.º e 784.º do novo CPC, aprovado pela Lei n.º 41/2013, de 26 de junho, repetem, a este propósito, o conteúdo dos artigos 826.º/1 e 863.º-A/1/a) do CPC citados no texto.

(11)

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4.5. Donde também nos parece que o pedido de retificação, com fundamento na nulidade do registo da penhora nos termos do art. 16.º/b) do CRP, se prefigura como manifestamente improcedente e deve ser, por isso, liminarmente indeferido.

___________

Pelo exposto, propomos a improcedência do recurso e firmamos as seguintes CONCLUSÕES

I- Em face do art. 48.º do Código do Registo Predial, sem prejuízo do disposto quanto às execuções fiscais, o registo da penhora é efetuado com base em comunicação eletrónica do agente de execução ou em declaração por ele subscrita, pelo que o requerimento executivo junto ao pedido de registo não constitui título para registo e, por isso, não substitui, e apenas pode complementar, aquela comunicação ou declaração.

II- O registo da penhora de prédios não descritos não está sujeito ao princípio do trato sucessivo na modalidade da inscrição prévia (art. 34.º/1 do Código do Registo Predial), nem exige a prova da titularidade do direito a favor do executado.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 09 de janeiro de 2015.

Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Blandina Maria da Silva Soares.

Este parecer foi homologado em 09.01.2015 pelo Senhor Vice-Presidente do Conselho Diretivo, em substituição.

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