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SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA. SOBRE O AUTOR

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CURCEP

PROFª DRª CAMILA PASQUAL DISCIPLINA: LITERATURA

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA. SOBRE O AUTOR

Antônio Vieira é o maior representante da prosa barroca no Brasil e o maior orador sacro do Brasil-Colônia. Nascido em Portugal, veio para o Brasil ainda criança e estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador.

IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Os sermões do Padre Vieira são o melhor exemplo do Barroco Conceptista no Brasil. São textos que usam a retórica, com jogos de ideias e raciocínio lógico, para convencer os leitores pelo raciocínio, mais que pela emoção. No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, além de exaltar a necessidade da pregação, Vieira usa a alegoria1 dos peixes para criticar a exploração do homem pelo homem e, mais especificamente, para condenar a escravidão indígena.

INTRODUÇÃO

O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles colonos.

Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão pretende louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade os vícios dos colonos. Este sermão (alegórico) foi pregado três dias antes do Padre António Vieira embarcar ocultamente para Portugal e interceder em favor dos índios.

Vieira conseguiu atingir os seus objetivos, a contragosto dos colonos que assim perdiam parte da sua mão de obra barata, que eles exploravam impiedosamente.

Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são uma metáfora dos homens. O texto se divide, portanto, em seis partes.

1º Capítulo I (Exórdio - Parte Introdutória) 2º Capítulo II (Louvores em geral)

3º Capítulo III (Louvores em particular) 4º Capítulo IV (Repreensões em geral) 5º Capítulo V (Repreensões em particular) 6º Capítulo VI (Peroração ou conclusão) .

Exórdio - Introdução

Neste primeiro capítulo, mais conhecido por exórdio (a introdução), o Padre António Vieira expõe o tema e as questões centrais que vai defender, bem como o plano estrutural do seu sermão.

Vieira, a partir do conceito predicável “Vós sois o sal da terra”, em analogia com “Santo António [que] foi sal da terra e foi sal do mar”, visa criticar a humanidade que está cada vez mais corrupta. Quando ele sugere que a culpa se encontra no sal refere-se aos pregadores que proferem uma coisa e depois agem de outra forma, ou então, afirma que a culpa se

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Expressão figurada, não real, de um pensamento ou de um sentimento, através da qual um objeto pode significar outro. Filosofia. Modo de interpretação que, usado por pensadores gregos, tinha o intuito de descobrir as ideias que estavam subentendidas, ou expressas de modo figurado, em narrativas mitológicas.. A representação feita por meio de imagens ou ornamentações que explicam o enredo de uma escola de samba. Alegoria da Caverna. Alegoria criada por Platão que afirma ser uma caverna a representação da ignorância humana.

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encontra na terra, referindo-se assim aos ouvintes uma vez que estes não ligam às palavras da verdadeira doutrina.

Visto que o Padre Antônio Vieira não obtinha os efeitos desejados da sua pregação decidiu deixar de pregar aos homens e preferiu antes dirigir-se aos peixes, tal como Santo Antônio já o fizera.

No princípio, Vieira vai realçar e apreciar as virtudes dos peixes, mas em seguida irá apontar-lhes os defeitos para tentar corrigi-los.

Síntese:

Neste capítulo, Vieira critica a humanidade, que está cada vez mais corrupta, e os pregadores que, havendo tantos, não conseguem alcançar os seus objetivos. Utiliza as expressões “sal” para os pregadores e “terra” para os ouvintes. Exceção para Santo Antônio, que Vieira admira bastante e do qual aborda a história ocorrida com este em Arimino2, onde pregava aos hereges3 e foi alvo da tentativa de apedrejamento por parte destes.

Exposição Capítulo II – Louvor das virtudes dos peixes, em geral

Neste capítulo serão criticados os homens por analogia com os peixes, como está expresso nesta passagem irónica: “Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam”. Vieira deixa bem claro que este sermão é uma alegoria, referindo-se frequentemente aos homens. Os peixes ora serão, metaforicamente, os índios ora os colonos.

Neste capítulo, pois, o pregador pretende repreender os vícios dos homens, opostos às virtudes dos peixes.

Louvor das virtudes, em geral :

- “ouvem e não falam”;

- “vós fostes os primeiros que Deus criou”;

- “e nas provisões

[

...] os primeiros nomeados foram os peixes”;

- “entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores”;

- “aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor”;

- “aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo Antônio.

[

...] Os homens perseguindo a Antônio

[

...] e no mesmo tempo os peixes

[

...] acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio

[

...] o que não entendiam."

- “só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam”

Síntese:

Vieira inicia a exposição com uma pergunta retórica: “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?” e de seguida indica a estrutura do sermão: “dividirei, peixes, o vosso Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios”

O resto do capítulo é abordado por Vieira com as virtudes gerais dos peixes.

Capítulo III – Louvor das virtudes dos peixes, em particular

Neste capítulo (considerado por alguns, o 1º momento da confirmação), Vieira continua a elogiar os peixes, mas desta vez os seus louvores aos peixes são individualizados, visam peixes em particular.

Vieira utiliza quatro tipos de peixes para comprovar a relação entre o homem e o divino. O Santo Peixe de Tobias, peixe bíblico, grande em tamanho, possui nas suas entranhas um fel4 que cura da cegueira e um coração que expulsa os demónios («o fel era bom

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Uma cidade da Itália. 3

É o nome dado ao indivíduo que professa uma heresia, ou seja, que questiona certas crenças estabelecidas por uma determinada religião. É a pessoa que é contrária aos dogmas de uma determinada religião ou seita.

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para curar da cegueira», «o coração para lançar fora os demónios» ); representa as virtudes interiores, a bondade, e o poder purificador da palavra de Deus.

A Rémora, peixe tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, quando se prende a um navio tem força razoável para segurar ou determinar o seu rumo («se se pega ao leme de uma nau5 da Índia […] a prende e a amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante.»); expressa a força ou o poder da palavra dos pregadores: a língua de S. António era uma rémora na terra – tinha força para dominar as paixões humanas como a soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade (as quatro naus do sermão).

O Torpedo origina descargas elétricas que acabam por fazer oscilar o braço do pescador («Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a boia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?»); simboliza o poder da palavra de Deus, em converter, em fazer o ser humano arrepender-se.

O Quatro-olhos contém dois pares de olhos, uns para cima e outros para baixo («e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes.»); simbolizam a visão, a iluminação: o cristão tem o dever de tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu, e sem esquecer o inferno.

Síntese

Todos estes elogios que o Padre António Vieira tece aos peixes são o contraponto dos defeitos e os vícios dos homens.

Os quatro peixes, o Santo Peixe de Tobias, a Rémora, o Torpedo e o Quatro-olhos possuem características que na sua totalidade se podem identificar com as principais virtudes de Santo António.

Capítulo IV – Repreensão aos vícios dos peixes, em geral

Neste capítulo, Vieira repreende os peixes em geral. Vieira critica-os por se comerem uns aos outros (sentido denotativo ou literal) e por serem os grandes que comem os pequenos, mas com os homens passa-se um fenómeno semelhante.

Quando morre um homem, logo uma série de pessoas se prepara para o "comer" (sentido denotativo ou figurado), nomeadamente os herdeiros, os testamenteiros, o coveiro, etc. Contudo, os homens não se comem apenas depois de mortos, sendo o mal maior o fato de se comerem em vida. Por exemplo, o homem acusado de crime é "comido" pelo solicitador, pelo advogado, pela testemunha, etc. Entre os homens, além de serem os grandes que "comem" os pequenos, devoram-nos em grande quantidade, não como fazem com qualquer comida, mas como fazem com o pão, que é um alimento de todos os dias.

Padre António Vieira alerta os peixes que Deus os pode castigar, tal como castiga os homens, pois poderão encontrar sempre outros peixes maiores que comerão os pequenos. Vieira aconselha os peixes a não se destruírem uns aos outros, pois já basta a perseguição que lhes movem os homens. Os peixes poderão alegar, como fazem os homens, que não têm outro meio de sobrevivência, mas o mar é tão grande que eles poderão se sustentar só com o que ele deita à praia. Após o dilúvio, se os animais se comessem, não se teriam multiplicado, uma vez que só havia dois de cada espécie. Outro defeito dos peixes consiste em deixarem-se tentar por um bocado de pano atado num anzol. Do mesmo defeito padecem os homens e pelo mesmo motivo guerreiam-se uns aos outros. Vieira faz referência às ordens de Cristo, Santiago, Avis e de Malta, cujos hábitos os homens ambicionam envergar.

Capítulo V – Repreensão aos vícios dos peixes, em particular

Neste capítulo, faz-se repreensões aos peixes em particular, que representam os diversos defeitos humanos:

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Os Roncadores, peixes pequenos e que emitem um som grave, são sempre facilmente pescados e apesar de serem pequenos têm muita língua («É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?»). Representam a soberba, a arrogância e o orgulhoso. Encontramos esse comportamento em personagens como S. Pedro, Golias e Pilatos, em contraste com Santo António que tinha saber e poder, mas não se vangloriava.

Os Pegadores, pequenos e que se fixam a peixes grandes ou ao leme dos navios («Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram.»). Representam o oportunismo, o parasitismo social e ao servilismo. Uma vez que vivem na dependência dos grandes e morrem com eles. Vieira argumenta que os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem sem terem comido. Na humanidade, encontramos os seguidores de Herodes. Santo António «pegou-se» apenas a Cristo e seguiu-o Os Voadores, peixes de grandes barbatanas que saltam para fora de água como se voassem. Representam o defeito da presunção e da ambição desmedida e desse modo, porque não se contentam com o seu elemento, são pescados como peixes e caçados como aves («Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? [...] Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes.») . Simão Mago e Ícaro exemplificam-no entre os homens. Por contraste, Santo António tinha sabedoria e poder, mas não se vangloriou.

O Polvo, detentor de um «capelo»6, tentáculos, um corpo mole e podendo camuflar-se, é considerado um hipócrita e traidor, pois utiliza a capacidade mimética (varia a sua coloração e a sua forma, de acordo com o meio em que se encontra) para atacar os peixes desprevenidos («E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa [...] o dito polvo é o maior traidor do mar.»).Entre os homens, encontramo-lo em Judas. Mais uma vez, por contraste, Santo António foi sincero e verdadeiro - nunca enganou.

O sermão é, pois, todo ele feito de alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil ("peixes grandes que comem os pequenos") em vários peixes: o roncador (o orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais traidor que o próprio Judas).

Peroração – capítulo VI

Neste capítulo, mais conhecido por peroração ou conclusão. o pregador visa um desfecho forte, de modo a impressionar o auditório e levá-lo a pôr em prática os conselhos recebidos.

Padre António Vieira despede-se dos peixes, dizendo que, dos animais que Deus tinha escolhido para lhe serem sacrificados, os peixes tinham sido excluídos, porque os outros animais, ao contrário dos peixes, podiam ir vivos aos sacrifícios. Entre os homens, havia muitos que chegavam ao altar com as suas almas mortas pelo pecado e, por isso, era preferível não ser sacrificado a Deus do que ser sacrificado morto.

Vieira faz um ato de contrição, reconhecendo que os peixes o excedem em tudo. Os peixes não falam, mas não ofendem a Deus com as palavras, não entendem, mas não ofendem a Deus com o entendimento. Os homens, sendo seres dotados de razão, respondem mal pelas suas obrigações, por isso é melhor ser peixe.

Vieira termina com um apelo, pedindo aos peixes para louvarem a Deus. Na última frase, parece que o público real e o ficcional se coincidem, percebendo-se que Vieira se dirige mais aos homens, ao dizer que não pode acabar o sermão em graça, porque os peixes (ou seja, os homens) também não estão em graça.

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Parte superior do hábito de religiosos, que lhes cobria a cabeça, à maneira de capuz. Pequena capa ou murça us. sobre os ombros pelos doutores em cerimônias acadêmicas, solenidades etc.Chapéu de cardeal.

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Recursos estilísticos predominantes

O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida em que os peixes são a personificação dos homens. O Padre Antônio Vieira toma como ponto de partida uma frase bíblica inconstestavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua época. A pessoa gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda, visto que o seu objetivo é persuadir e contar com a aprovação dos ouvintes.

Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência textual graças à utilização de recursos estilísticos, nomeadamente: a antítese, a apóstrofe, a comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação retórica, a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a metáfora, o paradoxo e o trocadilho.

Em suma, o sermão seiscentista obedece à máxima ensinar, deleitar7 e mover, e o Sermão de Santo António aos Peixes, também obedece a esta estrutura.

Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o orador.

QUESTÕES DE VESTIBULAR

1) Leia o seguinte fragmento extraído do Sermão de Santo Antônio, de Pe. Vieira.

"(...) o pão é comer de todos dos dias, que sempre e continuamente se come: isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem (...)"

No trecho, observa-se que Vieira:

I. constrói a argumentação por meio da analogia, o que constitui um traço característico da prosa vieirana.

II. finaliza com uma gradação crescente a fim de dar ênfase à voracidade da exploração sofrida pelos pequenos.

III. afirma, ao estabelecer uma comparação entre os humildes e o pão, alimento de consumo diário, que a exploração dos pequenos é aceitável porque é cotidiana.

Está(ão) correta(s) apenas

a) I. b) I e III. c) III. d) II e III e) I, II e III.

3) O sermão de Santo Antônio ou dos Peixes é um dois mais significativos da arte oratória do Padre Antônio Vieira. O pregador em São Luís do Maranhão, no ano de 1654. Com relação a esse sermão, analise as afirmativas abaixo:

I. O pregador o fez com o objetivo de encontrar solução para o problema dos índios, barbaramente escravizados pelos colonos;

II. O jesuíta finge dirigir-se aos peixes e não aos homens para recriminar a má vida dos espectadores, que se recusavam ao seguir os ensinamentos cristãos;

III. O orador critica os pregadores que distorcem a palavra de Deus, utilizando-a com o simples propósito de agradar aos ouvintes do sermão.

É correto o que se afirma em:

a) II e III b) I e III c) Todas d) I e II e) I

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provocar deleite, satisfação, prazer (em); deliciar. Experimentar deleitação, prazer, contentamento; regozijar-se.

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3) (UFBA)

“Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; ou é porque

o sal não salga, e os Pregadores dizem uma cousa, e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem: ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.”

O autor aponta como causa da corrupção na terra:

a) a doutrina pregada é fraca ou os homens não lhe são receptivos. b) os pregadores pregam uma falsa doutrina ou a doutrina é ineficiente. c) os homens não são receptivos à doutrina, porque ela é verdadeira. d) a ação dos pregadores não testemunha o que eles pregam. e) os homens tentam imitar os pregadores, seguindo-lhes a doutrina

4) Todas as proposições dizem respeito a Padre Antônio Vieira, exceto:

a) As qualidades de Padre Antônio Vieira como orador são incomparáveis. Entre sua vasta produção, destacam-se: “Sermão da sexagésima”, “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, “Sermão de Santo Antônio (aos peixes)” e “Sermão do mandato”.

b) Seus sermões estavam a serviço de causas políticas que abraçava e defendia e, por isso, indispôs-se com muita gente. As ideias que Vieira pregava perturbavam o conforto do pensamento, e quanto mais era odiado pela Inquisição, mais a desafiava.

c) Vieira teve um pouco de sonhador e profeta, chegando a escrever três obras com esse conteúdo, obras baseadas em textos bíblicos e nos textos e profecias do poeta português Bandarra. Vieira acreditava na ressureição do rei D. João IV, seu protetor, morto em 1656. d) Não tendo publicado nenhum livro, produziu, entretanto, inúmeros poemas de caráter religioso, amoroso e satírico. Foi chamado de Boca do Inferno graças à sua irreverente obra satírica.

5) Assinale a alternativa incorreta sobre o Sermão de Santo Antônio aos peixes.

a) Sermão alegórico pregado na cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1654. Seu ponto de partida está na citação do Evangelho de Mateus, na passagem que diz "Vos estis sal terra' (Vós sois o sal da terra), a propósito dos pregadores.

b) Dizendo que a função do sermão é análoga à do sal, isto é, evitar a corrupção, Vieira assim identifica as duas possíveis causas de existência de tanta corrupção na terra: "ou porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar".

c) Explicitando as metáforas contidas na citação da alternativa anterior, Vieira levanta as seguintes hipóteses sobre a corrupção que se verifica na terra: "ou o sal salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber".

d) Vieira recrimina que os peixes devorem-se mutuamente, mas assinala que entre os homens dá-se o mesmo, piorado: "...vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair, sem quietação, nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer".

e) Dirigindo-se aos peixes do mar, Vieira, na verdade, fala aos homens, mostrando-lhes os próprios vícios. Vieira louva nos peixes sua afeição natural pelos humanos, dizendo que o preço desse convívio é a perda da liberdade.

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GABARITO

CURCEP

PROFª DRª CAMILA PASQUAL DISCIPLINA: LITERATURA

SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA. SOBRE O AUTOR

Antônio Vieira é o maior representante da prosa barroca no Brasil e o maior orador sacro do Brasil-Colônia. Nascido em Portugal, veio para o Brasil ainda criança e estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador.

IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Os sermões do Padre Vieira são o melhor exemplo do Barroco Conceptista no Brasil. São textos que usam a retórica, com jogos de ideias e raciocínio lógico, para convencer os leitores pelo raciocínio, mais que pela emoção. No Sermão de Santo Antônio aos Peixes, além de exaltar a necessidade da pregação, Vieira usa a alegoria8 dos peixes para criticar a exploração do homem pelo homem e, mais especificamente, para condenar a escravidão indígena.

INTRODUÇÃO

O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles colonos.

Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão pretende louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade os vícios dos colonos. Este sermão (alegórico) foi pregado três dias antes do Padre António Vieira embarcar ocultamente para Portugal e interceder em favor dos índios.

Vieira conseguiu atingir os seus objetivos, a contragosto dos colonos que assim perdiam parte da sua mão de obra barata, que eles exploravam impiedosamente.

Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são uma metáfora dos homens. O texto se divide, portanto, em seis partes.

1º Capítulo I (Exórdio - Parte Introdutória)

2º Capítulo II (Louvores em geral)

3º Capítulo III (Louvores em particular)

4º Capítulo IV (Repreensões em geral)

5º Capítulo V (Repreensões em particular)

6º Capítulo VI (Peroração ou conclusão)

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Exórdio - Introdução

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Expressão figurada, não real, de um pensamento ou de um sentimento, através da qual um objeto pode significar outro. Filosofia. Modo de interpretação que, usado por pensadores gregos, tinha o intuito de descobrir as ideias que estavam subentendidas, ou expressas de modo figurado, em narrativas mitológicas. Artes. Obra que representa um pensamento abstrato. Brasil. A representação feita por meio de imagens ou ornamentações que explicam o enredo de uma escola de samba. Alegoria da Caverna. Alegoria criada por Platão que afirma ser uma caverna a representação da ignorância humana.

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Neste primeiro capítulo, mais conhecido por exórdio (a introdução), o Padre António Vieira expõe o tema e as questões centrais que vai defender, bem como o plano estrutural do seu sermão.

Vieira, a partir do conceito predicável “Vós sois o sal da terra”, em analogia com “Santo António [que] foi sal da terra e foi sal do mar”, visa criticar a humanidade que está cada vez mais corrupta. Quando ele sugere que a culpa se encontra no sal refere-se aos pregadores que proferem uma coisa e depois agem de outra forma, ou então, afirma que a culpa se encontra na terra, referindo-se assim aos ouvintes uma vez que estes não ligam às palavras da verdadeira doutrina.

Visto que o Padre Antônio Vieira não obtinha os efeitos desejados da sua pregação decidiu deixar de pregar aos homens e preferiu antes dirigir-se aos peixes, tal como Santo Antônio já o fizera.

No princípio, Vieira vai realçar e apreciar as virtudes dos peixes, mas em seguida irá apontar-lhes os defeitos para tentar corrigi-los.

Síntese:

Neste capítulo, Vieira critica a humanidade, que está cada vez mais corrupta, e os pregadores que, havendo tantos, não conseguem alcançar os seus objetivos. Utiliza as expressões “sal” para os pregadores e “terra” para os ouvintes. Exceção para Santo Anônio, que Vieira admira bastante e do qual aborda a história ocorrida com este em Arimino9, onde pregava aos hereges10 e foi alvo da tentativa de apedrejamento por parte destes.

Exposição

Capítulo II – Louvor das virtudes dos peixes, em geral

Neste capítulo serão criticados os homens por analogia com os peixes, como está expresso nesta passagem irónica: “Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam”. Vieira deixa bem claro que este sermão é uma alegoria, referindo-se frequentemente aos homens. Os peixes ora serão, metaforicamente, os índios ora os colonos.

Neste capítulo, pois, o pregador pretende repreender os vícios dos homens, opostos às virtudes dos peixes.

Louvor das virtudes, em geral :

- “ouvem e não falam”;

- “vós fostes os primeiros que Deus criou”;

- “e nas provisões

[

...] os primeiros nomeados foram os peixes”;

- “entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores”;

- “aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor”;

- “aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo Antônio.

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...] Os homens perseguindo a Antônio

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...] e no mesmo tempo os peixes

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...] acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio

[

...] o que não entendiam."

- “só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam”

Síntese:

Vieira inicia a exposição com uma pergunta retórica: “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?” e de seguida indica a estrutura do sermão: “dividirei, peixes, o vosso Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios”

O resto do capítulo é abordado por Vieira com as virtudes gerais dos peixes.

Capítulo III – Louvor das virtudes dos peixes, em particular

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Uma cidade da Itália. 10

É o nome dado ao indivíduo que professa uma heresia, ou seja, que questiona certas crenças estabelecidas por uma determinada religião. É a pessoa que é contrária aos dogmas de uma determinada religião ou seita.

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Neste capítulo (considerado por alguns, o 1º momento da confirmação), Vieira continua a elogiar os peixes, mas desta vez os seus louvores aos peixes são individualizados, visam peixes em particular.

Vieira utiliza quatro tipos de peixes para comprovar a relação entre o homem e o divino. O Santo Peixe de Tobias, peixe bíblico, grande em tamanho, possui nas suas entranhas um fel11 que cura da cegueira e um coração que expulsa os demónios («o fel era bom para curar da cegueira», «o coração para lançar fora os demónios» ); representa as virtudes interiores, a bondade, e o poder purificador da palavra de Deus.

A Rémora, peixe tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, quando se prende a um navio tem força razoável para segurar ou determinar o seu rumo («se se pega ao leme de uma nau12 da Índia […] a prende e a amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante.»); expressa a força ou o poder da palavra dos pregadores: a língua de S. António era uma rémora na terra – tinha força para dominar as paixões humanas como a soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade (as quatro naus do sermão).

O Torpedo origina descargas elétricas que acabam por fazer oscilar o braço do pescador («Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a boia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?»); simboliza o poder da palavra de Deus, em converter, em fazer o ser humano arrepender-se.

O Quatro-olhos contém dois pares de olhos, uns para cima e outros para baixo («e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes.»); simbolizam a visão, a iluminação: o cristão tem o dever de tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu, e sem esquecer o inferno.

Síntese

Todos estes elogios que o Padre António Vieira tece aos peixes são o contraponto dos defeitos e os vícios dos homens.

Os quatro peixes, o Santo Peixe de Tobias, a Rémora, o Torpedo e o Quatro-olhos possuem características que na sua totalidade se podem identificar com as principais virtudes de Santo António.

Capítulo IV – Repreensão aos vícios dos peixes, em geral

Neste capítulo, Vieira repreende os peixes em geral. Vieira critica-os por se comerem uns aos outros (sentido denotativo ou literal) e por serem os grandes que comem os pequenos, mas com os homens passa-se um fenómeno semelhante.

Quando morre um homem, logo uma série de pessoas se prepara para o "comer" (sentido denotativo ou figurado), nomeadamente os herdeiros, os testamenteiros, o coveiro, etc. Contudo, os homens não se comem apenas depois de mortos, sendo o mal maior o fato de se comerem em vida. Por exemplo, o homem acusado de crime é "comido" pelo solicitador, pelo advogado, pela testemunha, etc. Entre os homens, além de serem os grandes que "comem" os pequenos, devoram-nos em grande quantidade, não como fazem com qualquer comida, mas como fazem com o pão, que é um alimento de todos os dias.

Padre António Vieira alerta os peixes que Deus os pode castigar, tal como castiga os homens, pois poderão encontrar sempre outros peixes maiores que comerão os pequenos. Vieira aconselha os peixes a não se destruírem uns aos outros, pois já basta a perseguição que lhes movem os homens. Os peixes poderão alegar, como fazem os homens, que não têm outro meio de sobrevivência, mas o mar é tão grande que eles poderão se sustentar só com o que ele deita à praia. Após o dilúvio, se os animais se comessem, não se teriam multiplicado, uma vez que só havia dois de cada espécie. Outro defeito dos peixes consiste em deixarem-se tentar por um bocado de pano atado num anzol. Do mesmo defeito padecem os homens e pelo mesmo motivo guerreiam-se uns aos outros. Vieira faz referência às ordens de Cristo, Santiago, Avis e de Malta, cujos hábitos os homens ambicionam envergar.

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Amargo, dissabores da vida. 12

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Capítulo V – Repreensão aos vícios dos peixes, em particular

Neste capítulo, faz-se repreensões aos peixes em particular, que representam os diversos defeitos humanos:

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Os Roncadores, peixes pequenos e que emitem um som grave, são sempre facilmente pescados e apesar de serem pequenos têm muita língua («É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?»). Representam a soberba, a arrogância e o orgulhoso. Encontramos esse comportamento em personagens como S. Pedro, Golias e Pilatos, em contraste com Santo António que tinha saber e poder, mas não se vangloriava.

Os Pegadores, pequenos e que se fixam a peixes grandes ou ao leme dos navios («Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram.»). Representam o oportunismo, o parasitismo social e ao servilismo. Uma vez que vivem na dependência dos grandes e morrem com eles. Vieira argumenta que os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem sem terem comido. Na humanidade, encontramos os seguidores de Herodes. Santo António «pegou-se» apenas a Cristo e seguiu-o Os Voadores, peixes de grandes barbatanas que saltam para fora de água como se voassem. Representam o defeito da presunção e da ambição desmedida e desse modo, porque não se contentam com o seu elemento, são pescados como peixes e caçados como aves («Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? [...] Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes.») . Simão Mago e Ícaro exemplificam-no entre os homens. Por contraste, Santo António tinha sabedoria e poder, mas não se vangloriou.

O Polvo, detentor de um «capelo»13, tentáculos, um corpo mole e podendo camuflar-se, é considerado um hipócrita e traidor, pois utiliza a capacidade mimética (varia a sua coloração e a sua forma, de acordo com o meio em que se encontra) para atacar os peixes desprevenidos («E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa [...] o dito polvo é o maior traidor do mar.»).Entre os homens, encontramo-lo em Judas. Mais uma vez, por contraste, Santo António foi sincero e verdadeiro - nunca enganou.

O sermão é, pois, todo ele feito de alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil ("peixes grandes que comem os pequenos") em vários peixes: o roncador (o orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais traidor que o próprio Judas).

Peroração – capítulo VI

Neste capítulo, mais conhecido por peroração ou conclusão. o pregador visa um desfecho forte, de modo a impressionar o auditório e levá-lo a pôr em prática os conselhos recebidos.

Padre António Vieira despede-se dos peixes, dizendo que, dos animais que Deus tinha escolhido para lhe serem sacrificados, os peixes tinham sido excluídos, porque os outros animais, ao contrário dos peixes, podiam ir vivos aos sacrifícios. Entre os homens, havia muitos que chegavam ao altar com as suas almas mortas pelo pecado e, por isso, era preferível não ser sacrificado a Deus do que ser sacrificado morto.

Vieira faz um ato de contrição, reconhecendo que os peixes o excedem em tudo. Os peixes não falam, mas não ofendem a Deus com as palavras, não entendem, mas não ofendem a Deus com o entendimento. Os homens, sendo seres dotados de razão, respondem mal pelas suas obrigações, por isso é melhor ser peixe.

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Parte superior do hábito de religiosos, que lhes cobria a cabeça, à maneira de capuz. Pequena capa ou murça us. sobre os ombros pelos doutores em cerimônias acadêmicas, solenidades etc.Chapéu de cardeal.

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Vieira termina com um apelo, pedindo aos peixes para louvarem a Deus. Na última frase, parece que o público real e o ficcional se coincidem, percebendo-se que Vieira se dirige mais aos homens, ao dizer que não pode acabar o sermão em graça, porque os peixes (ou seja, os homens) também não estão em graça.

Recursos estilísticos predominantes

O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida em que os peixes são a personificação dos homens. O Padre Antônio Vieira toma como ponto de partida uma frase bíblica inconstestavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua época. A pessoa gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda, visto que o seu objetivo é persuadir e contar com a aprovação dos ouvintes.

Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência textual graças à utilização de recursos estilísticos, nomeadamente: a antítese, a apóstrofe, a comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação retórica, a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a metáfora, o paradoxo e o trocadilho.

Em suma, o sermão seiscentista obedece à máxima ensinar, deleitar14 e mover, e o Sermão de Santo António aos Peixes, também obedece a esta estrutura.

Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o orador.

QUESTÕES DE VESTIBULAR

1) Leia o seguinte fragmento extraído do Sermão de Santo Antônio, de Pe. Vieira.

"(...) o pão é comer de todos dos dias, que sempre e continuamente se come: isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem (...)"

No trecho, observa-se que Vieira:

I. constrói a argumentação por meio da analogia, o que constitui um traço característico da prosa vieirana.

II. finaliza com uma gradação crescente a fim de dar ênfase à voracidade da exploração sofrida pelos pequenos.

III. afirma, ao estabelecer uma comparação entre os humildes e o pão, alimento de consumo diário, que a exploração dos pequenos é aceitável porque é cotidiana.

Está(ão) correta(s) apenas

a) I. b) I e III. c) III. d) II e III e) I, II e III.

3) O sermão de Santo Antônio ou dos Peixes é um dois mais significativos da arte oratória do Padre Antônio Vieira. O pregador em São Luís do Maranhão, no ano de 1654. Com relação a esse sermão, analise as afirmativas abaixo:

I. O pregador o fez com o objetivo de encontrar solução para o problema dos índios, barbaramente escravizados pelos colonos;

II. O jesuíta finge dirigir-se aos peixes e não aos homens para recriminar a má vida dos espectadores, que se recusavam ao seguir os ensinamentos cristãos;

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provocar deleite, satisfação, prazer (em); deliciar. Experimentar deleitação, prazer, contentamento; regozijar-se.

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III. O orador critica os pregadores que distorcem a palavra de Deus, utilizando-a com o simples propósito de agradar aos ouvintes do sermão.

É correto o que se afirma em:

a) II e III b) I e III c) Todas d) I e II e) I

3) (UFBA)

“Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela, que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina, que lhes dão, a não querem receber; ou é porque

o sal não salga, e os Pregadores dizem uma cousa, e fazem outra, ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem: ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.”

O autor aponta como causa da corrupção na terra:

a) a doutrina pregada é fraca ou os homens não lhe são receptivos. b) os pregadores pregam uma falsa doutrina ou a doutrina é ineficiente. c) os homens não são receptivos à doutrina, porque ela é verdadeira.

d) a ação dos pregadores não testemunha o que eles pregam.

e) os homens tentam imitar os pregadores, seguindo-lhes a doutrina

4) Todas as proposições dizem respeito a Padre Antônio Vieira, exceto:

a) As qualidades de Padre Antônio Vieira como orador são incomparáveis. Entre sua vasta produção, destacam-se: “Sermão da sexagésima”, “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, “Sermão de Santo Antônio (aos peixes)” e “Sermão do mandato”.

b) Seus sermões estavam a serviço de causas políticas que abraçava e defendia e, por isso, indispôs-se com muita gente. As ideias que Vieira pregava perturbavam o conforto do pensamento, e quanto mais era odiado pela Inquisição, mais a desafiava.

c) Vieira teve um pouco de sonhador e profeta, chegando a escrever três obras com esse conteúdo, obras baseadas em textos bíblicos e nos textos e profecias do poeta português Bandarra. Vieira acreditava na ressureição do rei D. João IV, seu protetor, morto em 1656.

d) Não tendo publicado nenhum livro, produziu, entretanto, inúmeros poemas de caráter religioso, amoroso e satírico. Foi chamado de Boca do Inferno graças à sua irreverente obra satírica.

5) Assinale a alternativa incorreta sobre o Sermão de Santo Antônio aos peixes.

a) Sermão alegórico pregado na cidade de São Luís do Maranhão, no ano de 1654. Seu ponto de partida está na citação do Evangelho de Mateus, na passagem que diz "Vos estis sal terra' (Vós sois o sal da terra), a propósito dos pregadores.

b) Dizendo que a função do sermão é análoga à do sal, isto é, evitar a corrupção, Vieira assim identifica as duas possíveis causas de existência de tanta corrupção na terra: "ou porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar".

c) Explicitando as metáforas contidas na citação da alternativa anterior, Vieira levanta as seguintes hipóteses sobre a corrupção que se verifica na terra: "ou o sal salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber".

d) Vieira recrimina que os peixes devorem-se mutuamente, mas assinala que entre os homens dá-se o mesmo, piorado: "...vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e

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sair, sem quietação, nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer".

e) Dirigindo-se aos peixes do mar, Vieira, na verdade, fala aos homens, mostrando-lhes os próprios vícios. Vieira louva nos peixes sua afeição natural pelos humanos, dizendo que o preço desse convívio é a perda da liberdade.

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