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Clipping SCA. Data de Criação: 26/09/2019. Criado por: Biblioteca. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

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Data de Criação: 26/09/2019

Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido

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Sumário das

Matérias:

Construção civil teme tributação maior com IVA

Valor ––26 de setembro...01

Odebrecht pede concessões a bancos credores

Valor ––26 de setembro...06

Tabela de fretes terá nova consulta pública

Valor ––26 de setembro...09

Sem venda, Eletrobras vai desaparecer, diz ministro

Valor ––26 de setembro...11

Mudança em MP libera Estados para contratar cubanos pelo Mais Médicos

Valor ––26 de setembro...13

Câmara aprova MP que libera prazo para inscrição no CAR Valor ––26 de setembro...14

O novo pregão eletrônico e a administração pública

Valor ––26 de setembro...15

Reforma tributária talvez só em 2021

Valor ––26 de setembro...18

Rabello quer novo tributo, mas sem alíquota única nem transição

Valor ––26 de setembro...24

Movimento Falimentar

Valor ––26 de setembro...26

Servtec expande atividade para geração solar

Valor ––26 de setembro...28

MME quer designar riscos e custos em novo modelo

Valor ––26 de setembro...30

Congresso mantém veto a despacho gratuito de bagagem

(3)

Juízes vão questionar no STF Lei de Abuso de Autoridade

Valor ––26 de setembro...34

Supremo julga divisão de pensão com amante

Valor ––26 de setembro...36

Carf analisa autuação de R$ 1,9 bi do Itaucard

Valor ––26 de setembro...38

Receita Federal e alíquota do IOF câmbio

Valor ––26 de setembro...40

Governo testa em outubro modelo de leilões para exploração mineral no país

Folha ––26 de setembro...43

Câmara de SP aprova anistia que pode beneficiar 750 mil imóveis

Folha ––26 de setembro...45

Brasileiro vai pagar para despachar mala. Veja quanto cobra cada companhia

Globo ––26 de setembro...47

Anac deve forçar saída da concessionária do aeroporto de Viracopos

Globo ––26 de setembro...49

Governo fecha acordo com Congresso para garantir megaleilão do pré-sal

OESP ––26 de setembro...52

Disputa por ampliação de Porto de Manaus volta para a Justiça

OESP ––26 de setembro...54

Juiz critica ambiguidade de Lei de Abuso de Autoridade ao negar penhora

Conjur ––26 de setembro...55

Contrato regular de franquia afasta responsabilidade do Boticário por dívidas de franqueada

|Migalhas ––26 de setembro...57

STF: Fachin nega HC mantendo prazo comum em alegações finais

(4)

União estável pode ser reconhecida por prova exclusivamente testemunhal

Migalhas ––26 de setembro...61

STJ passa a seguir tese do STF sobre importação de carros para uso próprio

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página,

quinta-feira 26 de setembro de 2019.

Construção civil teme

tributação maior com IVA

Atividades de incorporação,

locação e corretagem também serão afetadas

Por Marta Watanabe — De São

Paulo

26/09/2019 05h00 Atualizado há 4 horas

A unificação dos tributos sobre consumo num Imposto sobre Valor

Agregado (IVA), como preveem

projetos no Congresso, deve elevar a carga tributária da construção, segundo entidades do setor. As atividades de incorporação, locação e corretagem também serão afetadas. Dos cinco tributos que devem ser reunidos, a construção recolhe três: PIS/Cofins de 3,65% e ISS de 2% a 5%, conforme o município. No total, paga até 8,65% da receita, ante um IVA estimado de 25%.

Construção teme que IVA gere aumento de carga e insegurança

“A pergunta que não está sendo feita às claras é se o Brasil quer aumento de tributos em setores como saúde, educação e moradia em troca da redução de carga para a indústria e instituições financeiras”, diz o advogado Ricardo Lacaz, que representa a Câmara Brasileira da Construção e o Secovi/SP no debate sobre a reforma tributária.

01

Construção teme que IVA gere

aumento de carga e

insegurança

Imposto sobre consumo

encareceria locação, incorporação e corretagem de imóveis, prevê CBIC

Por Marta Watanabe — De São

Paulo

Ricardo Lacaz Martins: “Precisamos lembrar que a reforma traz um jogo de soma zero. É preciso ver onde há ganho ou perda” — Foto: Leonardo Rodrigues/Valor

A unificação dos tributos sobre consumo num Imposto sobre Valor

Agregado (IVA) deve causar

insegurança jurídica e elevar a carga tributária na construção, segundo entidades que representam o setor. Não somente a atividade da construção seria afetada, mas também a incorporação imobiliária, a locação e a corretagem.

Na incorporação imobiliária, a

unificação dos tributos traria uma elevação de 15% nos custos do setor, diz o advogado Ricardo Lacaz Martins, que representa a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O cálculo considera uma alíquota de IVA

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de 25% calculada por fora. Ele diz ainda que o IVA elevará os valores da corretagem de imóveis e da locação. Nesse cenário, o setor defende que a construção fique sujeita apenas a um IVA reunindo tributos federais.

“Precisamos lembrar que a reforma traz um jogo de soma zero. Então é preciso ver onde há ganho ou perda. A pergunta que não está sendo feita às claras é se o Brasil quer aumento de tributos em setores como saúde, educação, cesta básica e serviços em troca da redução de carga para a indústria e as instituições financeiras”, argumenta o tributarista. Sócio do escritório Lacaz Martins, Pereira Neto, Gurevich & Schoueri Advogados, o advogado representa a CBIC e também o Secovi-SP nas discussões sobre a reforma tributária.

“As pessoas querem pagar uma geladeira ou um crédito bancário mais barato em troca de aumento de preços em serviços essenciais como saúde, educação e moradia?”, questiona. “É preciso lembrar ainda que o aumento de custo é repassado aos preços no dia seguinte, mas a redução, não.”

Uma das principais propostas de reforma tributária em discussão, a PEC 45, que tramita na Câmara dos Deputados, estabelece a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) reunindo os tributos federais IPI, PIS e Cofins ao ICMS estadual e o ISS municipal. Pela proposta, o IBS segue o modelo do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), calculado por fora e

02 não cumulativo. Ou seja, que permite o desconto de todo o IVA pago nos insumos adquiridos pelas empresas. Dos cinco tributos que devem ser reunidos no IVA, a construção civil recolhe três: PIS, Cofins e ISS. São 3,65% de PIS e Cofins e ISS de 2% a 5%. A alíquota e a forma de cálculo do ISS variam conforme o município. O setor paga hoje até 8,65% sobre receita com esses três tributos. PIS e Cofins são calculados de forma cumulativa e, portanto, não dão direito a crédito. O IVA de 25%, alega o setor, aumentaria a carga, mesmo permitindo o crédito do imposto pago nos insumos. Isso porque a mão de obra, um dos maiores insumos do setor, não dá direito a crédito.

No caso da incorporação imobiliária, a situação é mais específica. A atividade

segue um Regime Especial de

Tributação (RET) nos casos em que há patrimônio de afetação, que é a segregação das receitas e despesas por empreendimento. Nesse regime, a incorporação paga 4% sobre receita divididos em 1,26% para o Imposto de Renda; 0,66% de CSLL; 0,37% de PIS; e 1,71% de Cofins. Somados, portanto, PIS e Cofins são cobrados na incorporação à alíquota de 2,08%, numa carga menor ainda que a recolhida na atividade de construção. Rodrigo Dias, sócio do VDB Advogados, tem representado entidades do setor de construção em debates sobre reforma tributária. Em nome do Secovi, da CBIC e de outras entidades do setor, Dias tem destacado que o IVA deverá elevar a carga nominal de tributos indiretos sobre a incorporação imobiliária num segmento em que parte representativa dos insumos não dá direito a crédito. Os grandes custos na incorporação de imóveis, avalia Dias, estão na compra do terreno, sempre adquirido de pessoas físicas, no pagamento de

(7)

direitos de construção à prefeitura, a chamada outorga onerosa, e no

financiamento bancário. “Isso

representa de 40% a 50% dos custos de produção da incorporadora, e não teremos crédito de IBS neles pelas duas PECs principais apresentadas até agora”, diz, referindo-se tanto à PEC 45, que tramita na Câmara, quanto a PEC 110, que tramita no Senado.

Outra preocupação, segundo Dias, é em relação à reforma é de que o cálculo do imposto coloca em risco o patrimônio de afetação e pode trazer insegurança

jurídica para as incorporação

imobiliária.

De acordo com ele, a forma de tributação do IBS pode eliminar o regime do patrimônio de afetação, que segrega as receitas e despesas dos empreendimentos como forma de proteger os consumidores no caso de má saúde financeira da incorporadora. Para Dias, uma proposta alterando a tributação sobre consumo precisa contemplar uma alíquota adequada para o setor imobiliário, juntamente com desoneração de folha.

Na corretagem também haveria

aumento de carga. Considerando que as empresas do segmento comumente estão no regime do lucro presumido, o PIS/Cofins pago é também de 3,65% cumulativos. O serviço de corretagem paga ISS de 2% a 5%. O aumento de carga tributária para os 25%, diz Lacaz Martins, resultará imediatamente no repasse aos preços. “Teremos um aumento de 15% na corretagem, com o agravante de que esse é um valor desembolsado à frente.”

Livre do ISS, a locação de imóveis também paga atualmente 3,65% de PIS e Cofins, sempre considerando as empresas que estão no regime do lucro presumido. Além de impactar preços, diz Lacaz Martins, a tributação do IBS pode comprometer a alocação de capital na atividade imobiliária.

03 A carga tributária atual do setor, afirma ele, é de 14,53%, considerando IR e CSLL pagos nos lucro presumido, somados ao PIS e Cofins. A carga, segundo Lacaz Martins, é similar aos

15% de tributação sobre os

investimentos financeiros. Se houver aumento da carga sobre locação, alega o

tributarista, a atividade perde

competitividade na atração de recursos.

Não há unanimidade entre os

tributaristas sobre o impacto do IVA unificado na construção. Para Eduardo Fleury, sócio do FCR Law, é possível que haja elevação de carga em diversas atividades do setor, mas não no nível alegado. “Há muito ICMS e ISS pagos hoje em insumos na construção e que não dão direito a crédito. Quando esses créditos passarem a ser utilizados, o impacto será bem menor.”

Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, diz que o setor reconhece a importância de uma reforma, mas há receio de que as propostas ainda não tenham atingido o nível de detalhamento necessário. “Defenderemos um reforma que seja boa para o país, justa e equilibrada, com ajustes que permitam que a tributação continue nos níveis de hoje.”

O setor, segundo Lacaz Martins, aponta como melhor caminho o chamado IVA dual, em consonância com o proposta pelo relator Roberto Rocha na PEC 110, que tramita no Senado. Nesse modelo, conviveriam simultaneamente dois IVAs, um reunindo tributos federais e outro IVA de Estados e municípios, que juntaria os atuais ICMS e ISS. Nesse caso, o setor de construção e outros que poderiam ser afetados por um imposto unificado ficariam submetidos apenas ao IVA federal.

Para ele, a unificação da tributação sobre consumo é o melhor caminho, mesmo trazendo algum aumento de carga para determinados serviços. “O setor de construção pode se organizar para garantir uma regulamentação do IVA que leve em consideração as especificidades do setor”, diz ele,

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lembrando que a reforma tributária não

se esgota em uma emenda

constitucional, mas será ainda regulada por lei complementar.

Fleury afirma que a construção muitas vezes tem tratamentos específicos em países que adotam o IVA. Em parte deles, exemplifica, a venda de imóveis residenciais novos e usados é isenta do imposto. Isso porque a venda de moradia gera um recolhimento de IVA que não será usado pelo consumidor se ele for pessoa física.

Essa impossibilidade de se creditar

tiraria a competitividade dessa

modalidade de venda de imóveis residenciais em relação à escolha que o consumidor tem de construir a moradia comprando insumos e contratando mão de obra. Nessa, opção, embora fique sujeito ao IVA pago nos insumos e na contratação de serviços, a pessoa física não pagará o imposto sobre o valor da moradia pronta, cuja base de valor agregado é maior. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/26/constru cao-teme-que-iva-gere-aumento-de-carga-e-inseguranca.ghtml Retorne ao índice 04

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Odebrecht pede concessões a

bancos credores

Bancos estariam dispostos a ceder, dando tempo à Odebrecht, por entenderem que um processo organizado de venda da Braskem, mais à frente, pode ser mais vantajoso

Por Graziella Valenti e Stella Fontes — De São Paulo

Os principais bancos credores da Odebrecht intensificaram as discussões com a companhia para avançar no detalhamento de seu plano de recuperação judicial. Eles têm, em garantia, as ações de controle que a Odebrecht possui na petroquímica Braskem.

Foi dito aos bancos que a Odebrecht pode abrir mão de pedir à Justiça o bloqueio da execução de garantias durante a recuperação - ou seja, do direito de venderem as ações da Braskem -, caso aceitem manter os papéis por pelo menos dez meses. Além disso, cederiam R$ 255 milhões a que teriam direito na forma de dividendos. A empresa precisa desses recursos para manter as atividades. Os bancos estariam dispostos a ceder, dando tempo à Odebrecht, por entenderem que um processo organizado de venda da Braskem, mais à frente, pode ser mais vantajoso.

05

Odebrecht e bancos

intensificam busca de acordo

sobre Braskem

Negociação inclui a execução de

garantias, o pagamento de

dividendos e a venda da

petroquímica

Por Graziella Valenti e Stella Fontes — De São Paulo

A Odebrecht e seus principais bancos credores começam a intensificar as

conversas para avançar no

detalhamento do plano de recuperação judicial. Ao mesmo tempo, tentam definir as questões da execução de garantias das instituições financeiras que detêm as ações de Braskem e ainda a destinação dos dividendos da petroquímica. As negociações devem se intensificar nas próximas semanas. Esses credores decidirão o futuro do plano. Com eles, estão em debate compromissos de R$ 33 bilhões, sendo pouco mais de R$ 17 bilhões dentro da recuperação judicial e R$ 15,5 bilhões fora.

A definição desse grupo garante aval ao processo de recuperação judicial. E é dentro desse conjunto de conversas também que se definirá o futuro da Braskem, monopólio na produção de polipropileno e poliestireno no Brasil, com receita anual superior a R$ 50 bilhões, 8 mil funcionários e avaliada

(10)

em quase R$ 26 bilhões na bolsa. A expectativa é que a companhia seja colocada novamente à venda em 2020. Na prática, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil (BB), BNDES e Santander são os donos do futuro da petroquímica. Eles têm, na forma de alienação fiduciária, as ações de controle que a Odebrecht possui na petroquímica, 38% do capital total. A Petrobras é sócia com acordo de acionistas com cerca de 36%.

A Odebrecht busca definir, com urgência, um acordo sobre o futuro das ações em poder dos bancos e o pagamento de dividendos de 2018. Neste momento, foi colocado sobre a mesa que a Odebrecht pode abrir mão de pedir na Justiça o bloqueio da execução de garantias durante a recuperação - ou seja, do direito dos credores alienarem as ações - se os bancos concordarem em não vender os papéis por no mínimo dez meses. Dentro desse combinado, os bancos também cederiam à Odebrecht R$ 255 milhões que teriam direito em razão da distribuição de dividendos de R$ 667,4 milhões pela petroquímica, sobre o resultado de 2018. As instituições têm não só as ações em garantia como também direito aos dividendos da petroquímica. Mas, diante da grave crise de liquidez, a Odebrecht precisa dos recursos para manter o cotidiano da gestão.

Considerando o compromisso do acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF), a Odebrecht tem R$ 101,5 bilhões em dívidas. Desse

volume, a companhia precisa

reestruturar R$ 65,5 bilhões - dentro e fora da recuperação judicial. A companhia pediu proteção contra credores em 17 de junho.

Do total devido, os compromissos da Odebrecht que formarão a assembleia geral de credores, ainda sem data prevista, somam cerca de R$ 40 bilhões - depois que o administrador judicial,

06 Alvarez & Marsal, decidiu tirar do processo judicial cerca de R$ 11 bilhões. Quando entrou em recuperação, a Odebrecht pediu e obteve com o juiz do caso, João de Oliveira Rodrigues Filho, a proteção da execução de garantias

sobre alienações fiduciárias da

petroquímica Braskem, da companhia de sondas de petróleo Ocyan e da sucroalcooleira Atvos. Pela decisão inicial, os bancos ficaram proibidos de vender os papéis dessas empresas durante o período da recuperação. A questão é mais sensível em Braskem, pois é a única de capital aberto, listada na B3 e com ações líquidas.

O Itaú, seguido pelas demais

instituições, recorreu do entendimento

e obteve uma liminar, do

desembargador Alexandre Lazzarini, liberando as garantias. Porém, falta a análise de mérito pelo tribunal. A expectativa atual é que essa definição não passará do meio de novembro. Esse é o prazo, portanto, que Odebrecht e bancos têm para encontrar um entendimento comum sobre a questão. A companhia não quer correr o risco de perder. Os credores também não e têm ainda uma preocupação extra: não querem dar espaço para formação de jurisprudência desfavorável em caso tão grande.

As negociações não estão fáceis e os bancos não estão dispostos a dissociar esse acordo sobre execução de garantias e dividendos de um detalhamento maior do plano de recuperação. O grupo apresentou em 26 de agosto uma versão genérica. Faltam os detalhes. Os bancos têm cobrado, dentro dessas negociações, que a Odebrecht apresente um plano sobre o futuro do Braskem. A venda da companhia é tratada como inescapável, embora não agrade a todos os participantes da família dona do grupo. As instituições querem que o

conglomerado forneça um

planejamento sobre quando e como fazer a alienação do controle da petroquímica.

(11)

O Lazard, que esteve à frente da tentativa de venda da empresa para a LyondellBasell, está trabalhando em uma proposta para esse processo. Até agora, porém, não há nenhuma definição. O mandato do banco de investimento, que existe desde 2016, vence em dezembro, mas a expectativa é que seja renovado.

A única certeza, por enquanto, é que a venda da Braskem só ocorrerá após aprovação do plano de recuperação judicial em assembleia geral de

credores. Enquanto isso, a

petroquímica tenta resolver problemas que afetam diretamente o sucesso de qualquer transação: a indefinição sobre o passivo em Alagoas referente à exploração de minas de sal-gema e a regularização do principal documento devido à Securities and Exchange Commission (SEC), chamado 20-F, relativo ainda a 2017.

Os bancos credores estão dispostos a ceder dividendos e dar tempo à Odebrecht por entenderem que um processo de venda de controle organizado, e mais à frente, pode extrair mais valor da Braskem. Mas um acordo com os termos para isso não está simples.

As ações cobrem dívidas de R$ 12,6 bilhões desde maio do ano passado. Neste momento, porém, o valor de mercado dos papéis está abaixo de R$ 10 bilhões. Essa situação, produto do atual contexto de Braskem, que também enfrenta um ciclo desfavorável do setor, de um lado é um incentivo para os bancos darem preferência para que a Odebrecht lidere o processo de venda da petroquímica. Contudo, também deixa as instituições ariscas, diante do temor de verem parte relevante dos créditos se perderem ou serem substancialmente reduzidos. Quando o diálogo com a LyondellBasell começou, a companhia valia quase R$ 37 bilhões na B3. Na máxima histórica, no auge do otimismo com uma possível transação, a petroquímica chegou perto

07 de R$ 48 bilhões - e agora está 46% abaixo deste ponto.

O valor a ser obtido com a venda da Braskem afeta principalmente BB e BNDES. Itaú e Bradesco têm prioridade na cobertura da garantia e volume reduzido de crédito sem cobertura. Já para os bancos públicos, é vital que a venda de Braskem resulte em montante superior ao total garantido. Com isso,

haveria valor adicional aos

compromissos cobertos para ser usado nas dívidas sem essa proteção. Enquanto Bradesco, Itaú e Santander têm menos de R$ 1,2 bilhão sem cobertura das ações da petroquímica, BNDES e BB têm dez vezes mais - quase R$ 12 bilhões sem nenhuma proteção. A Caixa e o FI-FGTS têm R$ 5 bilhões em créditos contra Odebrecht - tudo sem garantia - e não estão no grupo das negociações.

No plano da Odebrecht, as dívidas fora da recuperação judicial, garantidas pela

Braskem, serão quitadas. Será

necessária uma revisão de prazos, pois há cerca de R$ 2,9 bilhões que vencem em maio de 2020. Já os R$ 40 bilhões de dentro da recuperação - dos quais pouco mais R$ 17 bilhões pertencem aos bancos nacionais - serão trocados por um título de dívida sem vencimento e com direito a participar de ganhos futuros que virão da venda de Braskem

(após pagamento das dívidas

garantidas) e venda ou dividendos da construtora OEC, da Ocyan, da Atvos e da Santo Antônio Energia.

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Só não sofrerão essa conversão, as dívidas dos bônus internacionais que são cobertos pela construtora - que não está em recuperação judicial - e são alvo de reestruturação privada, num total de R$ 12 bilhões. Mesmo listadas na recuperação da Odebrecht, esses papéis

serão remunerados apenas pelo

desempenho da OEC. https://valor.globo.com/empresas/noticia/2019/09/2 6/odebrecht-e-bancos-intensificam-busca-de-acordo-sobre-braskem.ghtml Retorne ao índice 08

(13)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Tabela de fretes terá nova

consulta pública

Nova consulta pública ocorrerá em outubro, segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas

Por Rodrigo Polito — Do Rio

O governo federal vai lançar em outubro uma nova consulta pública para revisar pontos da tabela de fretes. A afirmação foi feita ontem pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que participou de cerimônia de entrega da obra de reforma da pista do aeroporto Santos Dumont, no Rio.

Freitas disse ainda que o governo federal prevê que os leilões de infraestrutura de 2020 contratem R$ 50 bilhões em investimentos. “O que podemos esperar para 2020? Um ano melhor do que foi 2019, com leilões muito importantes, mais leilões”, afirmou Freitas. “Podemos chegar seguramente ano que vem aos R$ 50 bilhões contratados de investimentos para todos os segmentos”, completou. Segundo o ministro, que voltou recentemente de viagem aos Estados Unidos, onde conversou com potenciais investidores, há no mercado “um apetite enorme por nossos ativos”.

09 Com relação a 2019, Freitas disse que o governo fechará o ano com 27 leilões de infraestrutura. “Neste ano, vamos fechar com R$ 11 bilhões de investimentos contratados só nos

leilões que nós fizemos, de

arrendamento portuário, arrendamento de ferrovias, rodovias e aeroportos. Se somarmos investimentos autorizados no setor portuário, pode chegar a R$ 30 bilhões”.

Para o leilão de concessão da rodovia BR 364/365, que liga Jataí (GO) a

Uberlândia (MG), marcado para

amanhã, o ministro disse esperar concorrência. Segundo ele há três proponentes inscritos. Na área de aeroportos, ele reafirmou que espera que até o fim de 2021 e início de 2022 espera ter concluído o leilão de 41 aeroportos, incluindo os aeroportos de Santos Dumont, no Rio, e Congonhas, em São Paulo.

Freitas disse ainda que o leilão do excedente da cessão onerosa, previsto para o início de novembro, poderá ser realizado mesmo se a proposta de emenda à constituição (PEC) relativa à distribuição dos recursos oriundos da licitação for aprovada antes da data de realização do certame. “[A realização do leilão] não tem nada a ver com a PEC”, afirmou o ministro.

Segundo ele, a não aprovação da PEC antes do leilão não representa

insegurança jurídica para os

investidores no certame. “A PEC diz como o recurso vai ser distribuído entre União, Estados e municípios. O

investidor que ‘bida’ [apresenta

proposta] para a área, ele vai pagar o bônus de assinatura dele. O problema aí é outro, de como vamos dividir o bolo. Mas isso não é problema para o [investidor] privado.”

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O governo prevê arrecadar R$ 106 bilhões com bônus de outorga no leilão. Também presente ao evento de ontem, o presidente da Infraero, Hélio Paes de Barros, contou que o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, passará por obra semelhante na pista em meados de 2020.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/26/tabela-de-fretes-tera-nova-consulta-publica.ghtml

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(15)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Sem venda, Eletrobras vai

desaparecer, diz ministro

Segundo Guedes, estatal não tem

capacidade para fazer os

investimentos necessários para manter fatia no mercado

Por Edna Simão e Lu Aiko Otta —

De Brasília

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, se não for privatizada, a

Eletrobras está condenada a

desaparecer pois não tem capacidade para fazer os investimentos necessários para manter sua fatia no mercado. “[A Eletrobras] está condenada a desaparecer no tempo a não ser que ela seja privatizada. Aí a luz acende de novo”, afirmou o ministro. “Por isso, precisamos privatizar”, disse.

Na semana passada, o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-RJ) disse que os senadores, principalmente te das regiões Norte e Nordeste, resistem à privatização da Eletrobras. Na ocasião, o senador ressaltou que, se o governo continuasse insistindo em iniciar o processo de privatização pela Eletrobras, acabaria atrapalhando a venda de outras estatais. A operação depende do aval do Congresso Nacional.

Em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento (CMO), que foi

11 encerrada de forma abrupta após bate-boca entre ministro e o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), Guedes frisou que a empresa precisa investir R$ 14 bilhões por ano para manter 33% sua participação no mercado de geração e 36% no de distribuição. Porém, consegue investir R$ 3,5 bilhões.

“Se privatizar, vêm R$ 10 bilhões, R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões de investimentos. Aí a luz acende de novo”, explicou aos parlamentares.

O governo ainda conta com a entrada de R$ 16,2 bilhões da privatização da Eletrobras para conseguir fechar suas contas no ano que vem. A proposta de Orçamento de 2020, encaminhada pela

equipe econômica ao Congresso

Nacional no fim do mês passado, prevê, com os recursos da companhia de energia, uma receita de R$ 21,063 bilhões com concessões e permissões. Sem esse dinheiro, a peça orçamentária precisa ser ajustada ou esse valor compensado de uma outra maneira. O ministro admitiu que o processo de privatização, uma de suas prioridades, está em “marcha lenta”. “Vamos acelerar as privatizações neste ano.” Guedes ainda informou os senadores e deputados da CMO que a cessão

onerosa (o leilão dos volumes

excedentes do pré-sal, programado para o começo de novembro) está andando e pode sair a qualquer momento. Ele afirmou que isso foi “desentupimento”, ou seja, algo que está há tempo sendo discutido e que será resolvido agora. De acordo com ele, o governo poderia utilizar os R$ 100 bilhões que pretende receber com a operação para zerar o déficit primário, porém, resolveu compartilhar os recursos com Estados e municípios. “Poderíamos pegar tudo e poderíamos zerar o déficit deste ano, mas estamos apostando em uma solução conjunta”, disse Guedes. “Preferimos investir em compartilhar

(16)

recursos com Estados e municípios”, completou.

O ministro afirmou ainda que a economia brasileira já está se movendo e isso decorre de as receitas estarem vindo acima do esperado. Mas ressaltou mais uma vê que continua o desafio do dinheiro carimbado.

Durante toda a audiência pública, Guedes ressaltou a importância de a classe política discutir, junto com o

governo, algumas indexações e

desvinculação de receitas - uma de suas principais bandeiras nas últimas semanas. O ministro reforçou que o presidente Jair Bolsonaro já disse que o salário mínimo continuaria indexado. O aumento das despesas obrigatórias é que é o grande problema fiscal e isso precisa ser mudado para que o Congresso Nacional assuma o controle orçamentário.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/26/sem-venda-eletrobras-vai-desaparecer-diz-ministro.ghtml

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(17)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Mudança em MP libera Estados

para contratar cubanos pelo

Mais Médicos

Pelo texto, governos poderão fazer sozinhos contratos para executar o serviço por conta própria

Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro — De Brasília

A comissão do Congresso da medida provisória (MP) do Médicos pelo Brasil, programa do governo Bolsonaro para

substituir gradualmente o Mais

Médicos, elaborado na gestão do PT, aprovou ontem o parecer do relator, o senador Confúcio Moura (MDB-RO), que será agora encaminhado para análise da Câmara.

O texto, contudo, teve duas derrotas para o governo. Os parlamentares aprovaram, dentro da MP, artigo para elevar o valor da gratificação paga a médicos em até 70% e a possibilidade que os governos estaduais façam, sozinhos, contratos com organizações estrangeiras para executar o Mais Médicos por conta própria.

Emenda do deputado Alexandre

Padilha (PT-SP), aprovada por 11 votos a 7, permite que os governos estaduais executem diretamente, ou por meio de consórcios, as contratações pelo Mais Médicos para a rede de saúde estadual. Nesse modelo é possível a contratação de médicos estrangeiros, sem a revalidação no diploma no Brasil.

13 O texto permite que os governos estaduais assumam o contrato com Havana, cancelado após o então presidente eleito Jair Bolsonaro dizer que não faria mais os pagamentos para o governo cubano, com o qual tem desavenças, mas diretamente para os médicos. Também será possível firmar

contratos com outros países e

consórcios estaduais.

A outra derrota do governo, por 10 votos a 8, ocorreu em emenda para elevar a Gratificação de Desempenho de Atividades Médicas da Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho (PST). O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR) afirmou que houve reajuste em 2012 apenas para as carreiras de nível superior, deixando os médicos de fora. Com a diferenciação, hoje um médico com jornada de 20 horas recebe gratificação de R$ 30,86, enquanto um profissional das outras carreiras de nível superior que atuam na mesma área tem gratificação de R$ 51,51. Com a emenda, ambos ganharão R$ 51,51.

Não há estimativa de impacto

financeiro, mas o aumento não será retroativo.

Os deputados e senadores também alteraram a MP para tornar semestral, e com possibilidade de ser aplicado por universidades privadas, o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de

Educação Superior Estrangeira

(Revalida), necessário para que

profissionais formados no exterior possam atuar no Brasil.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/26/mudanc a-em-mp-libera-estados-para-contratar-cubanos-pelo-mais-medicos.ghtml

(18)

Valor Econômico

Caderno: Politica, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Câmara aprova MP que libera

prazo para inscrição no CAR

Debate sobre o projeto que trata de posse e portes e armas deve ficar para a próxima semana Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto — De Brasília

A Câmara aprovou ontem duas medidas provisórias - uma que acaba com prazo para inscrição de propriedade na cadastro ambiental rural (CAR) e outra que cria empresa pública de serviços de navegação aérea. Previsto para começar nesta semana, o debate sobre o projeto que trata de posse e portes e armas deve ficar para a próxima semana.

Com a aprovação da MP 884,

parlamentares permitem que

proprietários rurais possam se inscrever no CAR a qualquer momento. Criado em 2012 pelo Código Florestal, o CAR é um registro público eletrônico nacional para propriedades rurais e tem como

objetivo integrar as informações

ambientais das propriedades e posses rurais, formando uma base de dados para controle, monitoramento, combate ao desmatamento e planejamento ambiental e econômico.

Para fazer a inscrição no cadastro, os interessados precisam comprovar a

propriedade da área que será

cadastrada e devem identificar o imóvel por meio de planta ou memorial descritivo.

14 Com a lei, não há mais um prazo específico para que os donos de propriedade rurais se adequem ao Programa de Regularização Ambiental, não correndo risco de serem multados ou de perderem benefícios como linhas de crédito rural.

Os deputados aprovaram ainda a MP que cria a empresa NAV Brasil para assumir as atribuições relacionadas à navegação aérea, que, até então, ficavam sob responsabilidade da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A NAV será vinculada ao Ministério da Defesa. Todos os destaques apresentados para que mudanças fossem estabelecidas no texto foram rejeitados pelo plenário da Casa.

Com a aprovação do texto, a Infraero será responsável por cuidar da

administração da infraestrutura

aeroportuária.

As MPs seguem para análise do Senado.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/09/26/camar a-aprova-mp-que-libera-prazo-para-inscricao-no-car.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

O novo pregão eletrônico e a

administração pública

Decreto remedia uma situação crônica: a preponderância da

contratação analógica nos

municípios

Por C. Heckert e R. Fenili

— Foto: Pixabay

Artigo publicado

neste Valor Econômico em 29 de agosto, intitulado “O novo pregão eletrônico e a administração pública”, visita a problemática do uso dessa modalidade de licitação na busca por bens e serviços de melhor qualidade. Traz como pano de fundo a publicação de um novo decreto que regulamentará

15 a matéria e que foi publicado na segunda-feira.

A discussão repousa na suposta inaplicabilidade do pregão a objetos “técnicos ou especializados”, os quais supostamente seriam, em sua gênese, não caracterizáveis como “comuns”. O referido texto cita, como exemplos da “má aplicação do pregão”, serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, além de serviços de engenharia, lato sensu. Sem desconsiderar que a argumentação possua embasamento fático em alguns casos observados, entende-se que ela merece maior

aprofundamento analítico, como

exposto a seguir.

Decreto remedia uma situação crônica: a preponderância da

contratação analógica nos

municípios

O pregão é aplicado, consoante preconizado pela Lei nº 10.520/02, a bens e serviços comuns, entendidos como “aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado”. Se, por um lado, essa definição dá azo a um indevido subjetivismo na categorização de casos concretos, por outro, traz elemento frequentemente negligenciado aos que se debruçam no estudo do tema: o mercado. O adjetivo “comum” é atribuído - frise-se - pelo mercado, que possui dinâmicas próprias e, por óbvio, evolui com o tempo.

Vejamos um exemplo concreto: o parágrafo 4º do artigo 45 da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) exige que, para a contratação de bens e serviços de informática, o tipo de licitação seja, obrigatoriamente, “técnica e preço”. Em intelecção imediata, não se pode licitar uma impressora, por exemplo, tendo por critério único o “menor preço”. Há um quarto de século, esse comando era mercadologicamente coerente, supõe-se. Um computador, à época, não era

(20)

um bem comum. Ocorre que hoje é. E, frise-se, o gestor que não licitar um computador por pregão estará em flagrante desobediência ao Decreto nº

5.450/05 e à jurisprudência

consolidada dos órgãos de controle, ensejando, inclusive, responsabilização, caso a linha de ação não seja justificada

com robustez nos autos

correspondentes.

Note-se, pois, que o atributo de “comum” não é próprio ao objeto, mas sim ao modo como o mercado vê esse objeto. É, em si, uma condição mutável ao longo do tempo, como regra. Bens e serviços “incomuns” hoje, poderão sê-lo no futuro. A “commoditização das coisas” é vetor ainda em ascensão, que

dialoga com o princípio da

padronização, bem absorvido pelo texto-base do Projeto de Lei nº 1.292/95 (a nova lei de licitações), já aprovado no plenário da Câmara dos Deputados. Mister realçar que, nesse projeto de lei, há, inclusive, a previsão de contratação de obras e serviços de engenharia mediante o sistema de registro de preços (art. 81), quando da “existência de projeto padronizado, sem complexidade técnica e operacional”. Nesses limites, atrai razão o Acórdão nº 1.092/2004 do Plenário do Tribunal de Contas da União (TCU), no qual resta consignado que “classificar ou não um determinado serviço como comum reclama, acima de tudo, um exame predominantemente fático, de natureza técnica”. Eis o papel do gestor público, ao se ver deparado com o caso concreto, de sorte que a proposta mais vantajosa à administração seja mais bem resguardada.

Não menos relevante é aclarar que, quando o critério de julgamento adotado é o menor preço (como no caso do pregão), condição sine qua non à consecução do melhor valor ao interesse público é o delineamento de especificações claras e precisas do objeto. Eis, aqui, o pilar que tem o condão de assegurar a proposta mais vantajosa preconizada por comando legal.

16 É comum atribuir-se importância excessiva ao processo de seleção do fornecedor, partindo do pressuposto, equivocado, de que uma empresa capaz de entregar um bem ou serviço de alta qualidade necessariamente o fará. Na verdade, a realidade mostra que isso só será verdade se as especificações técnicas determinarem o nível de qualidade requerido e a fiscalização do contrato exigir o seu cumprimento. Em outras palavras, realizar uma licitação por “melhor técnica” ou “técnica e preço” não traz garantia alguma de que a administração pública receberá um bem ou serviço de qualidade. Na verdade, o delineamento de aspectos técnicos que não assegurem a efetividade do que se almeja adquirir ou contratar vem, tão somente, fragilizar o certame em si. A qualidade do bem ou serviço a ser adquirido, repisa-se, só será obtida por meio de especificações técnicas robustas e uma fiscalização contratual diligente.

Portanto, as inovações trazidas pelo novo decreto que regulamenta o pregão eletrônico estão em consonância com o grau de maturidade do mercado fornecedor, da administração pública e da jurisprudência dos órgãos de controle. A conjugação entre os melhores bens/serviços públicos e os menores dispêndios ao erário vem a maximizar o atendimento aos anseios por maior eficiência da máquina pública e maior entrega de valor aos cidadãos.

Por derradeiro, não menos importante realçar que o novo decreto vem a instituir a forma eletrônica de pregão como mandatória, sendo a presencial, pois, a exceção, a ser adotada quando de incapacidade tecnológica (por exemplo, a localidade não goza de inclusão digital) ou se motivada nos autos a vantagem dessa forma presencial em detrimento da eletrônica.

(21)

A medida vem remediar situação crônica: o Brasil, em nível municipal, ainda é um país no qual prepondera a forma de contratação analógica. A rastreabilidade de recursos públicos e a transparência são hoje mitigadas

justamente pelas características

inerentes a certames presenciais. O que se fortalece no novo diploma, em ótica macro, é o controle social e a accountability, mecanismos dos mais caros em uma sociedade democrática.

Cristiano Rocha Heckert é

secretário de Gestão do Ministério da Economia.

Renato Ribeiro Fenili é

secretário-adjunto de Gestão do Ministério da Economia https://valor.globo.com/opiniao/coluna/o-novo-pregao-eletronico-e-a-administracao-publica-2.ghtml Retorne ao índice 17

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Reforma tributária talvez só

em 2021

Maioria dos países em que houve mudanças expressivas do sistema tributário atenuou os conflitos com o aumento de impostos

Por Nilson Teixeira

O Brasil precisava aprovar uma reforma da Previdência Social para evitar um colapso nas contas públicas. Até fim de outubro, essa missão terá sido cumprida. Mas isso não é suficiente. O governo tem que avançar em outras frentes para reduzir o risco fiscal, melhorar o ambiente de negócios, elevar o crescimento potencial do país,

ampliar os investimentos e a

produtividade, expandir o mercado de trabalho e criar condições para o país se tornar menos injusto.

A maioria dos participantes de mercado prevê que a reforma tributária será o próximo passo nesse caminho. Uma reforma abrangente precisa corrigir a

regressividade do atual sistema,

aumentando os impostos sobre os mais ricos. O problema é que a maior parte desse grupo não se vê como elite financeira e julga que suas vantagens fiscais são justificáveis. Essa percepção, a elevada carga de impostos e o fato de que os grupos mais privilegiados são também os mais bem organizados e influentes dificultam a eliminação de distorções.

18

Expectativas de que a reforma diminuirá bastante os impostos sobre bens e serviços, são irrealistas

Haverá também uma disputa entre setores. Representantes da indústria buscarão uma diminuição da sua carga tributária em termos relativos, frente à baixa incidência de impostos sobre os serviços e a agropecuária. Todavia, a probabilidade de haver esse reequilíbrio é reduzida, dada a forte influência no Congresso dos representantes desse último segmento.

Em outra frente, os Estados e

municípios demandarão maior

participação na arrecadação. A União, por outro lado, pleiteará que esse eventual aumento seja acompanhado pela transferência de vários gastos, hoje da responsabilidade do governo federal, para os governos regionais. Dispêndios relativos à educação e à saúde são os mais mencionados. Essa transferência faz todo sentido, mas se torna questionável quando um de seus objetivos é o de atenuar restrições impostas pela regra do teto dos gastos sobre o governo federal.

Os conflitos entre os próprios entes da federação não serão menores. A definição da nova partilha de impostos entre os Estados em que ocorre a produção de bens e aqueles em que acontece o seu consumo é controversa. Apesar do acordo recente entre os secretários de Fazenda dos Estados, os investimentos públicos e os benefícios tributários oferecidos em troca da implantação de empresas em suas áreas estimularam a guerra fiscal, cuja reversão exigirá prazos dilatados até o fim de seus efeitos.

Os entes federativos geralmente exigem compensação financeira para o caso de

perda de arrecadação com a

implementação de um novo código tributário. A maioria dos países em que houve mudanças expressivas do sistema tributário atenuou os conflitos com o

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aumento de impostos. Esse tende a ser o resultado também no Brasil. Expectativas de que a reforma diminuirá enormemente os impostos incidentes sobre bens e serviços, e que isso estimulará a atividade, são completamente irrealistas, ainda mais à luz do expressivo déficit primário do setor público.

Uma reforma tributária ampla precisa ser acompanhada da reavaliação de renúncias de impostos e contribuições que superam 4% do PIB. Essa revisão tem que garantir a manutenção apenas dos gastos tributários que comprovem que seus benefícios sejam muito

superiores às perdas financeiras

incorridas. A reforma não pode assumir a manutenção desses privilégios sem um debate profundo.

Seria um erro iniciar uma reforma mantendo renúncias tributárias como, por exemplo, as do Simples (R$ 83 bilhões), as da Zona Franca de Manaus (R$ 23 bilhões) e as dos abatimentos no IRPF para a saúde (R$ 17,2 bilhões) e a educação (R$ 4,7 bilhões). O corte

dessas renúncias reduziria a

regressividade do sistema, pois a maioria delas foi obtida por grupos de

interesse influentes e que não

ofereceram nenhuma quantificação robusta sobre seus benefícios.

A predisposição da população e de seus representantes no Congresso de aceitar a alta de impostos em troca de um sistema tributário mais simples e equânime é reduzida. Assim como a reforma previdenciária, uma profunda reforma tributária também exigirá um amplo debate no parlamento e na sociedade. A reversão dessa rejeição demandará esforço do governo, apesar de o tema já estar sendo debatido desde meados da década passada.

19 O prazo para aprovação de um ajuste dessa magnitude é incerto, ainda mais com o término do período de lua de mel do governo com o Congresso. O declínio da taxa de aprovação do presidente Jair Bolsonaro e as eleições municipais no próximo ano tendem a dificultar ainda mais a evolução das discussões, contribuindo para que a votação nas casas legislativas venha a ocorrer talvez só em 2021.

Apesar de a urgência desse debate ser óbvia, só mais recentemente houve maior direcionamento da discussão. Mesmo assim, não é claro qual será o eixo central das discussões, pois há duas propostas no Congresso: uma em tramitação no Senado - inspirada na proposta do Centro de Cidadania Fiscal - e outra em tramitação na Câmara dos Deputados - iniciada sob a relatoria do ex-deputado Luiz Carlos Hauly. Essas versões tendem a perder relevância com a apresentação do projeto do governo nos próximos meses. A desistência da equipe econômica de reintroduzir a CPMF está exigindo, provavelmente, uma reestruturação da sua proposta, o que tende a postergar sua divulgação. Em suma, a discussão sobre a reforma tributária seguirá um longo trajeto antes de sua votação no Congresso. É muito otimismo assumir sua aprovação neste ano e mesmo no 1º semestre de 2020. Para que isso ocorra em um prazo mais curto, será preciso que o governo agilize a apresentação do seu projeto e que o presidente se envolva diretamente no convencimento da população e de seus representantes. Esse empenho terá que envolver a construção de um grande acordo com

os governadores, prefeitos das

principais cidades e, principalmente, parlamentares.

Sem esse esforço e na ausência de um amplo debate envolvendo toda a

sociedade, a Reforma Tributária

dificilmente terá a magnitude

necessária para pavimentar o caminho na direção de um Brasil melhor.

(24)

Nilson Teixeira é sócio-fundador da Macro Capital Gestão de Recursos, Ph.D. em economia pela Universidade da Pensilvânia e escreve quinzenalmente neste espaço

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/reforma-tributaria-talvez-so-em-2021.ghtml

Retorne ao índice

(25)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Construção teme que IVA gere aumento de carga e insegurança

Imposto sobre consumo

encareceria locação, incorporação e corretagem de imóveis, prevê CBIC

Por Marta Watanabe — De São

Paulo

Ricardo Lacaz Martins: “Precisamos lembrar que a reforma traz um jogo de soma zero. É preciso ver onde há ganho ou perda” — Foto: Leonardo Rodrigues/Valor

A unificação dos tributos sobre consumo num Imposto sobre Valor

Agregado (IVA) deve causar

insegurança jurídica e elevar a carga tributária na construção, segundo

21 entidades que representam o setor. Não somente a atividade da construção seria afetada, mas também a incorporação imobiliária, a locação e a corretagem.

Na incorporação imobiliária, a

unificação dos tributos traria uma elevação de 15% nos custos do setor, diz o advogado Ricardo Lacaz Martins, que representa a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O cálculo considera uma alíquota de IVA de 25% calculada por fora. Ele diz ainda que o IVA elevará os valores da corretagem de imóveis e da locação. Nesse cenário, o setor defende que a construção fique sujeita apenas a um IVA reunindo tributos federais.

“Precisamos lembrar que a reforma traz um jogo de soma zero. Então é preciso ver onde há ganho ou perda. A pergunta que não está sendo feita às claras é se o Brasil quer aumento de tributos em setores como saúde, educação, cesta básica e serviços em troca da redução de carga para a indústria e as instituições financeiras”, argumenta o tributarista. Sócio do escritório Lacaz Martins, Pereira Neto, Gurevich & Schoueri Advogados, o advogado representa a CBIC e também o Secovi-SP nas discussões sobre a reforma tributária.

“As pessoas querem pagar uma geladeira ou um crédito bancário mais barato em troca de aumento de preços em serviços essenciais como saúde,

(26)

educação e moradia?”, questiona. “É preciso lembrar ainda que o aumento de custo é repassado aos preços no dia seguinte, mas a redução, não.”

Uma das principais propostas de reforma tributária em discussão, a PEC 45, que tramita na Câmara dos Deputados, estabelece a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) reunindo os tributos federais IPI, PIS e Cofins ao ICMS estadual e o ISS municipal. Pela proposta, o IBS segue o modelo do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), calculado por fora e não cumulativo. Ou seja, que permite o desconto de todo o IVA pago nos insumos adquiridos pelas empresas. Dos cinco tributos que devem ser reunidos no IVA, a construção civil recolhe três: PIS, Cofins e ISS. São 3,65% de PIS e Cofins e ISS de 2% a 5%. A alíquota e a forma de cálculo do ISS variam conforme o município. O setor paga hoje até 8,65% sobre receita com esses três tributos. PIS e Cofins são calculados de forma cumulativa e, portanto, não dão direito a crédito. O IVA de 25%, alega o setor, aumentaria a carga, mesmo permitindo o crédito do imposto pago nos insumos. Isso porque a mão de obra, um dos maiores insumos do setor, não dá direito a crédito.

No caso da incorporação imobiliária, a situação é mais específica. A atividade

segue um Regime Especial de

Tributação (RET) nos casos em que há patrimônio de afetação, que é a segregação das receitas e despesas por empreendimento. Nesse regime, a incorporação paga 4% sobre receita divididos em 1,26% para o Imposto de Renda; 0,66% de CSLL; 0,37% de PIS; e 1,71% de Cofins. Somados, portanto, PIS e Cofins são cobrados na incorporação à alíquota de 2,08%, numa carga menor ainda que a recolhida na atividade de construção. Rodrigo Dias, sócio do VDB Advogados, tem representado entidades do setor de construção em debates sobre reforma

22 tributária. Em nome do Secovi, da CBIC e de outras entidades do setor, Dias tem destacado que o IVA deverá elevar a carga nominal de tributos indiretos sobre a incorporação imobiliária num segmento em que parte representativa dos insumos não dá direito a crédito. Os grandes custos na incorporação de imóveis, avalia Dias, estão na compra do terreno, sempre adquirido de pessoas físicas, no pagamento de direitos de construção à prefeitura, a chamada outorga onerosa, e no

financiamento bancário. “Isso

representa de 40% a 50% dos custos de produção da incorporadora, e não teremos crédito de IBS neles pelas duas PECs principais apresentadas até agora”, diz, referindo-se tanto à PEC 45, que tramita na Câmara, quanto a PEC 110, que tramita no Senado.

Outra preocupação, segundo Dias, é em relação à reforma é de que o cálculo do imposto coloca em risco o patrimônio de afetação e pode trazer insegurança

jurídica para as incorporação

imobiliária.

De acordo com ele, a forma de tributação do IBS pode eliminar o regime do patrimônio de afetação, que segrega as receitas e despesas dos empreendimentos como forma de proteger os consumidores no caso de má saúde financeira da incorporadora. Para Dias, uma proposta alterando a tributação sobre consumo precisa contemplar uma alíquota adequada para o setor imobiliário, juntamente com desoneração de folha.

Na corretagem também haveria

aumento de carga. Considerando que as empresas do segmento comumente estão no regime do lucro presumido, o PIS/Cofins pago é também de 3,65% cumulativos. O serviço de corretagem paga ISS de 2% a 5%. O aumento de carga tributária para os 25%, diz Lacaz Martins, resultará imediatamente no repasse aos preços. “Teremos um aumento de 15% na corretagem, com o

(27)

agravante de que esse é um valor desembolsado à frente.”

Livre do ISS, a locação de imóveis também paga atualmente 3,65% de PIS e Cofins, sempre considerando as empresas que estão no regime do lucro presumido. Além de impactar preços, diz Lacaz Martins, a tributação do IBS pode comprometer a alocação de capital na atividade imobiliária.

A carga tributária atual do setor, afirma ele, é de 14,53%, considerando IR e CSLL pagos nos lucro presumido, somados ao PIS e Cofins. A carga, segundo Lacaz Martins, é similar aos

15% de tributação sobre os

investimentos financeiros. Se houver aumento da carga sobre locação, alega o

tributarista, a atividade perde

competitividade na atração de recursos.

Não há unanimidade entre os

tributaristas sobre o impacto do IVA unificado na construção. Para Eduardo Fleury, sócio do FCR Law, é possível que haja elevação de carga em diversas atividades do setor, mas não no nível alegado. “Há muito ICMS e ISS pagos hoje em insumos na construção e que não dão direito a crédito. Quando esses créditos passarem a ser utilizados, o impacto será bem menor.”

Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP, diz que o setor reconhece a importância de uma reforma, mas há receio de que as propostas ainda não tenham atingido o nível de detalhamento necessário. “Defenderemos um reforma que seja boa para o país, justa e equilibrada, com ajustes que permitam que a tributação continue nos níveis de hoje.”

O setor, segundo Lacaz Martins, aponta como melhor caminho o chamado IVA dual, em consonância com o proposta pelo relator Roberto Rocha na PEC 110, que tramita no Senado. Nesse modelo, conviveriam simultaneamente dois IVAs, um reunindo tributos federais e outro IVA de Estados e municípios, que juntaria os atuais ICMS e ISS. Nesse caso, o setor de construção e outros que

23 poderiam ser afetados por um imposto unificado ficariam submetidos apenas ao IVA federal.

Para ele, a unificação da tributação sobre consumo é o melhor caminho, mesmo trazendo algum aumento de carga para determinados serviços. “O setor de construção pode se organizar para garantir uma regulamentação do IVA que leve em consideração as especificidades do setor”, diz ele, lembrando que a reforma tributária não

se esgota em uma emenda

constitucional, mas será ainda regulada por lei complementar.

Fleury afirma que a construção muitas vezes tem tratamentos específicos em países que adotam o IVA. Em parte deles, exemplifica, a venda de imóveis residenciais novos e usados é isenta do imposto. Isso porque a venda de moradia gera um recolhimento de IVA que não será usado pelo consumidor se ele for pessoa física.

Essa impossibilidade de se creditar

tiraria a competitividade dessa

modalidade de venda de imóveis residenciais em relação à escolha que o consumidor tem de construir a moradia comprando insumos e contratando mão de obra. Nessa, opção, embora fique sujeito ao IVA pago nos insumos e na contratação de serviços, a pessoa física não pagará o imposto sobre o valor da moradia pronta, cuja base de valor agregado é maior.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/26/constru

cao-teme-que-iva-gere-aumento-de-carga-e-inseguranca.ghtml

(28)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quinta-feira 26 de

setembro de 2019.

Rabello quer novo tributo, mas

sem alíquota única nem

transição

Ex-presidente do BNDES propõe criação do IVA, mas proposta tem diferenças aos projetos que estão na Câmara dos Deputados e no Senado

Por Cristian Klein — Do Rio

Rabello de Castro: redistribuição de recursos seria feita por sistema digitalizado — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Ex-presidente do IBGE e do BNDES, o economista Paulo Rabello de Castro, 70 anos, assiste um tanto descontente à discussão sobre a reforma tributária no Congresso, assunto ao qual se dedica há décadas e tem propostas que considera “fora da caixa”. Diante dos dois projetos que estão sendo analisados pelo Legislativo - e aos quais tem críticas - ele espera influir no debate, de modo mais decisivo, na proposta que deve ser apresentada pela equipe do ministro da

24 Economia, Paulo Guedes - um ex-doutorando, como ele, da Universidade de Chicago, onde se conheceram no início dos anos 1970. Na semana passada, Rabello de Castro encontrou Guedes e lhe apresentou as propostas em nome de seu Instituto Atlântico. É um corpo de ideias que, em sua opinião, daria uma guinada nos rumos da reforma tributária. Há sugestões bastante diferentes tanto em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, que tramita na Câmara, quanto à PEC 110/2019, do Senado. A

simplificação seria semelhante e

unificaria seis tributos - quatro federais (IPI, PIS, Cofins e CSLL); o ICMS, estadual; e o ISS, municipal - num imposto de valor agregado (IVA). Mas Rabello de Castro defende, além da alíquota única, a introdução de duas alíquotas acima, para sobretaxar produtos como bebidas e cigarros - o que dispensaria a criação de um imposto seletivo - e duas abaixo da alíquota-padrão, para desonerar, por exemplo, alimentos e medicamentos. Pela proposta, o novo modelo entraria em vigor de forma imediata, sem a transição de até dez anos, prevista na PEC da Câmara, cujo texto-base é do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), que tem o economista Bernard Appy como um dos diretores, e a do Senado, de autoria do ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly.

Entre as principais ressalvas que faz às propostas, o economista cita o que seria a ausência de um teste sobre os efeitos do novo modelo. Rabello de Castro diz que, de acordo com seu projeto, há uma simulação pela qual é possível garantir a neutralidade da arrecadação, motivo

de preocupação de Estados e

municípios que temem perder receitas. “Nessa simulação, a gente mostra, com prova, que todos podem sair na mesma posição de 2018 como se fossem os tributos antigos. Logo, não precisa de um, cinco ou dez anos de transição para

implementar algo que já teve

(29)

Os entes federativos receberiam a mesma proporção a que tem direito hoje por meio de um coeficiente, uma espécie de URV (unidade real de valor, usada no Plano Real), e da “parte mais inovadora” de sua proposta, a criação da chamada Onda - Operadora

Nacional de Distribuição da

Arrecadação. É um órgão semelhante, diz, ao que a Rússia implementou num sistema digitalizado e em tempo real, pelo qual a autoridade central recebe os recibos fiscais de São Petersburgo a Vladivostok em 90 segundos.

A Onda, como uma máquina

programada previamente, substituiria a proposta de redistribuir os tributos por meio de um comitê gestor nacional, que se reuniria para deliberar e votar. “Isso vai dar dissenso, briga. Precisamos de uma operadora, que nem o sistema elétrico. É um conceito diferente, não é chamar um grupo de pessoas”, diz. Com o órgão, afirma, “cada Estado e cada município receberá às 17h30, na conta bancária da secretaria da Fazenda local, o produto de sua participação” na arrecadação, acabando com o “pires na mão”. Em contraste, aponta, a proposta da Câmara prevê que o comitê gestor

faça a liquidação das posições

mensalmente. “Quem e por que vai reter, por um mês, o produto dessa arrecadação? No futuro poderá haver liquidações até instantâneas, mas agora já seria possível, pelo menos, uma por dia, como acontece com os títulos

públicos. Seria uma revolução

administrativa para todos Estados e municípios, que ficam dependendo de quem manda ou não manda o dinheiro”, diz.

Outro ponto central na crítica de Rabello de Castro é quanto ao gradualismo dos projetos da Câmara e do Senado. Uma das consequências negativas da transição, que chegaria a dez anos, seria a coexistência do novo imposto - denominado nas propostas em tramitação de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) - com aqueles que ele viria a substituir, afirma ele. Pela PEC da Câmara, o IBS unificaria cinco

25 impostos - IPI, PIS, Cofins, além de ICMS e ISS. A proposta no Senado prevê o IVA dual, pelo qual conviveriam um IVA federal, com a fusão dos tributos recolhidos hoje pela União, e o IVA de Estados e municípios, reunindo ICMS e ISS. Para o economista, em vez de promover a simplificação tributária, a reforma, no curto e médio prazos, aumentaria a complexidade, burocracia e custos do sistema, ao introduzir o IBS e o imposto seletivo. E ainda haveria o risco, aponta, de que um presidente trabalhasse, no futuro, para manter o IBS, sem eliminar os antigos - os quais chama de “tributos-zumbis”.

Para Rabello de Castro, o “purismo” da alíquota-padrão, de todo modo, já seria responsável “por mais um viés de aumento de carga tributária”, de resto já esperado com a introdução da reforma. Em sua opinião, sem as faixas de alíquotas superiores e inferiores, os preços relativos vão mudar, e o consumidor pode ver mais vantagem em comprar “um perfume do que um quilo de feijão”.

O expediente de se oferecer cheques de compensação pelo aumento tributário aos mais pobres é criticada pelo economista, que vê dificuldade de se encontrar os reais beneficiários, a não ser por “uma burocracia enlouquecida”. A identificação dos consumidores mais pobres seria arbitrária, diz.

Para ele, todos os estudos mostram que o sistema tributário brasileiro é regressivo - “Jorge Paulo Lemann paga relativamente, muito, muito, muito menos imposto do que seu Manuel que está pendurado ali no andaime” - mas a solução para o problema seria reduzir a alíquota do imposto sobre consumo e aumentar a carga tributária sobre o imposto de renda.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/09/

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