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DETECÇÃO DE ADULTERAÇÃO EM LEITE: ANÁLISES DE ROTINA E ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

DETECÇÃO DE ADULTERAÇÃO EM LEITE: ANÁLISES DE

ROTINA E ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO

Thamara Venâncio de Almeida Orientador: Edmar Soares Nicolau

GOIÂNIA 2013

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THAMARA VENÂNCIO DE ALMEIDA

DETECÇÃO DE ADULTERAÇÃO EM LEITE: ANÁLISES DE

ROTINA E ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO

Seminário apresentado ao Curso de Mestrado em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás

Área de concentração: Higiene e Tecnologia de Alimentos

Linha de Pesquisa: Higiene, ciência, tecnologia e inspeção de alimentos

Orientador: Prof. Dr. Edmar Soares Nicolau

Comitê de Orientação: Prof. Dr. Cíntia Silva Minafra e Rezende Prof. Dr. Antonio Nonato de Oliveira

GOIÂNIA 2013

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ... 3

2.1 Controle diário de qualidade do leite cru refrigerado no estabelecimento industrial ... 4

2.1.1 Avaliação sensorial: aspecto e coloração... 4

2.1.2 Avaliação sensorial: odor ... 5

2.1.3 Temperatura ... 5

2.1.4 Teste do alizarol ... 5

2.1.5 Pesquisa de resíduos de outros agentes inibidores do crescimento microbiano: ... 5

2.1.6 Pesquisa de reconstituinte da crioscopia: ... 6

2.1.7 Pesquisa de reconstituintes da densidade: ... 7

2.1.8 Pesquisa de neutralizantes da acidez: ... 8

2.1.9 Pesquisa de fraude do leite por adição de soro ... 9

2.2 Programa Nacional de Combate à Fraude no Leite (PCFL) ... 9

2.2.1 Espectroscopia de infravermelho ... 11

2.2.2 Aplicação da espectroscopia de infravermelho ... 14

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 19

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O leite é um alimento natural, reconhecido pelo alto valor nutritivo. Ele tem feito parte da alimentação humana desde os primeiros tempos da civilização, contribuindo na saúde, vigor físico e mental de seus consumidores (OLIVEIRA et al., 2004). O leite e seus derivados desempenham um papel nutricional importante para o homem, particularmente nos primeiros anos de vida, uma vez que fornecem proteínas, carboidratos, gorduras e sais minerais necessários ao desenvolvimento do organismo (FRANCO & LANGRAF, 1996).

A produção de leite com qualidade vem se tornando cada vez mais importante, devido aos consumidores estarem cada vez mais exigentes com esta matéria-prima e seus derivados. Por isso, a higiene e o estado sanitário do animal, do ordenhador e das instalações são ações necessárias para atingir este objetivo (GOLLO, et al., 2003; RODRIGUES, et al., 2011).

A demanda por produtos lácteos com maior vida de prateleira e a conservação das características sensoriais, nutritivas e de segurança são requisitos cada vez mais importantes para o consumidor, para a indústria e consequentemente para o produtor, visto que a qualidade do leite tem como ponto de partida o local de produção. O principal conceito de qualidade é que não há como melhorá-la depois que o leite deixa a fazenda (FONSECA & SANTOS, 2007).

No Brasil, a Instrução Normativa nº 62 (IN-62), de 29 de dezembro de 2011, estabelece os requistos de qualidade do leite cru bovino, sendo eles, requisitos microbiológicos, físico-químicos, de contagem de células somáticas e de resíduos químicos (BRASIL, 2011).

Seja devido às exigências estabelecidas pela IN-62 ou devido à remuneração a partir de critérios de qualidade, os produtores de leite têm sido pressionados a melhorarem a qualidade do leite produzido. Para isso muitos têm buscado assistência técnica e realizado investimentos. Outros, por sua vez, tentam mascarar a má qualidade ou aumentar o lucro por meio de adulterações.

Considera-se leite fraudado, adulterado ou falsificado quando este for adicionado de água, tiver sofrido subtração de qualquer dos seus componentes

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ou for adicionado de substâncias conservadoras ou de quaisquer elementos estranhos à sua composição (BRASIL, 1997).

As primeiras adulterações foram por meio da adição de água para aumento do volume e desnate para produção de creme de leite. Ao longo do tempo novos tipos de adulterações foram surgindo, como adição de soro de queijo, de substâncias conservantes (peróxido de hidrogênio), neutralizantes (hidróxido de sódio, bicarbonato de sódio) e reconstituintes da densidade e crioscopia (sal, açúcar, amido). Em 2007, uma operação que ficou conhecida como “Ouro Branco”, investigou duas cooperativas de laticínios no estado de Minas Gerais por adulteração de leite. Segundo as investigações as fraudes ocorriam com a adição de soro de leite, peróxido de hidrogênio e hidróxido de sódio. No início de 2013 foi desencadeada pelo Ministério Público a “Operação Leite Compensado” com o objetivo de coibir a fraude em leite cru que era realizada por um grupo de transportadores do interior do Rio Grande do Sul com adição de água e ureia.

MOORE et al. (2012) criaram um banco de dados sobre fraudes em alimentos entre 1980 e 2010. Dentre as adulterações relatadas em periódicos acadêmicos, a adulteração em leite ocupou a segunda posição, atrás apenas da adulteração em azeite.

A Instrução Normativa n° 68, de 12 de dezembro de 2006, contém os métodos analíticos oficiais físico-químicos para controle de leite e produtos lácteos (BRASIL, 2006). No entanto, à medida que novas técnicas de adulteração foram surgindo novos métodos para detecção de adulterantes foram sendo desenvolvidos, como por exemplo, a metodologia de Infravermelho com Transformada de Fourier (IVTF), que tem demonstrado alto potencial para a determinação da qualidade e/ou autenticidade do leite.

Diante disto, objetivou-se com esta revisão apresentar as análises que devem ser realizadas para o controle diário de qualidade do leite cru refrigerado no estabelecimento industrial, assim como o IVTF como nova técnica para detecção de adulterações.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

O leite cru refrigerado na propriedade rural e transportado a granel, deverá ser analisado pelo estabelecimento industrial beneficiador, no seu próprio laboratório, para cada compartimento de cada tanque móvel utilizado no seu transporte, em relação aos seguintes parâmetros de qualidade:

 Avaliação sensorial: aspecto e coloração  Avaliação sensorial: odor

 Matéria Gorda (g/100g)  Densidade relativa a 15°C

 Acidez titulável (g ácido lático/100 ml)  Extrato seco desengordurado (g/100g)  Extrato seco total (g/100g)

 Temperatura (°C)  Teste do alizarol  Índice crioscópico  Proteína Total (g/100g)

 Pesquisa de resíduos de antibióticos

 Pesquisa de resíduos de outros agentes inibidores do crescimento microbiano

 Peróxido de hidrogênio  Formaldeído

 Sanitizantes (cloro e hipocloritos)  Pesquisa de reconstituintes da crioscopia

 Álcool etílico

 Pesquisa de reconstituintes da densidade  Sacarose

 Cloretos  Amido

 Pesquisa de neutralizantes da acidez  pH

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 Hidróxido de sódio

 Carbonatos e Bicarbonatos

 Pesquisa da fraude do leite por adição de soro

2.1 Controle diário de qualidade do leite cru refrigerado no estabelecimento industrial

Os requisitos físico-químicos estabelecidos pela IN-62 para o leite cru refrigerado estão apresentados no Quadro 1.

QUADRO 1 – Requisitos físico-químicos para o leite cru refrigerado

Requisitos Limites

Matéria gorda (g/100g) Mínimo 3,0

Proteínas (g/100g) Mínimo 2,9

Extrato seco desengordurado (g/100g) Mínimo 8,4 Extrato seco total (g/100g) Mínimo 11,4

Índice Crioscópico - 0,512°C a - 0,531°C Acidez titulável (g ácido lático/100 ml) 0,14 a 0,18

Densidade relativa a 15°C (g/ml) 1,028 a 1,034 Fonte: BRASIL (2011)

2.1.1 Avaliação sensorial: aspecto e coloração

Quanto ao aspecto e coloração o leite é um líquido branco, opalescente e homogêneo. Alguns exemplos de alterações no aspecto do leite são: presença de grumos, leite filamentoso, material estranho em suspensão e depósito de material estranho no fundo do tanque (BRASIL, 2011).

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2.1.2 Avaliação sensorial: odor

O leite cru refrigerado possui odor característico, deve apresentar-se isento de odores estranhos (BRASIL, 2011).

2.1.3 Temperatura

A temperatura máxima de conservação do leite é de 7°C na propriedade rural ou tanque coletivo e 10°C no estabelecimento processador (BRASIL, 2011).

2.1.4 Teste do alizarol

Misturam-se partes iguais de solução de alizarol e de leite em um tubo de ensaio, agita-se e observam-se a coloração e aspecto. O leite normal apresenta coloração vermelho tijolo, sem grumos ou com uma ligeira precipitação, com poucos grumos muito finos na parede do tubo de ensaio. O leite ácido apresenta uma tonalidade entre o marrom claro e amarelo. Na acidez elevada a coloração é amarela, com coagulação forte. O leite alcalino apresenta coloração lilás a violeta (BRASIL, 2006).

2.1.5 Pesquisa de resíduos de outros agentes inibidores do crescimento microbiano:

 Peróxido de hidrogênio

Mistura-se 10 mL da amostra de leite com seis gotas de solução de óxido de vanádio a 1% em solução de ácido sulfúrico a 6% em um tubo de ensaio e agita-se. O resultado é positivo quando forma-se uma coloração rósea ou vermelha, resultado da reação do óxido de vanádio com o peróxido de hidrogênio

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em meio ácido formando o ácido ortoperoxivanádico, de coloração vermelha (BRASIL, 2006).

 Formaldeído

Coloca-se 100 mL de leite homogeneizado, 100 a 150 mL de água e 2 mL de ácido fosfórico em um balão de destilação, recolhendo-se cerca de 50 mL de destilado. Em um tubo de ensaio mistura-se 1 mL do destilado com 5 mL de solução de ácido cromotrópico a 0,5% em solução de ácido sulfúrico a 72% e coloca-se em banho-maria por 15 minutos. O resultado é positivo quando forma-se uma coloração violácea, pois o formaldeído aquecido com ácido cromotrópico em presença de ácido sulfúrico origina um produto de condensação que oxidado posteriormente transforma-se em um composto p-quinoidal de coloração violeta (BRASIL, 2006).

 Sanitizantes (cloro e hipocloritos)

Em um tubo de ensaio mistura-se 5 mL de leite com 0,5 mL de solução de iodeto de potássio a 7,5% e agita-se. O aparecimento de coloração amarela indica a presença de cloro livre. Se não houver mudança na coloração, pesquisa-se a prepesquisa-sença de hipocloritos adicionando ao mesmo tubo 4 mL de solução de ácido acético ou ácido clorídrico, colocando em banho-maria a 80°C por 10 minutos, e posteriormente esfriando em água corrente. O aparecimento de coloração amarela indica a presença de hipocloritos (BRASIL, 2006).

2.1.6 Pesquisa de reconstituinte da crioscopia:

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Coloca-se 100 mL da amostra de leite e 10 mL de antiespumante em um kitazato e 2 mL de solução sulfocrômica em um tubo de ensaio. Mergulha-se nesta solução a extremidade de uma pipeta de Pasteur acoplada ao kitazato por um tubo de silicone ou látex, de modo a formar um sistema fechado. Ferve-se a amostra contida no kitazato por 5 minutos. Tem-se resultado negativo quando a coloração da solução sulfocrômica permanece inalterada ou levemente amarelo-acinzentada. Na presença de álcool etílico, resultado positivo, a solução sulfocrômica adquire coloração verde (BRASIL, 2006).

2.1.7 Pesquisa de reconstituintes da densidade:

 Sacarose

Transfere-se 15 mL de leite para um tubo de ensaio de 50 mL. Adiciona-se 1 mL de ácido clorídrico e 0,1 g de resorcina. Agita-se e aquece-se em banho-maria por 5 minutos. Na preaquece-sença de sacaroaquece-se aparecerá uma coloração avermelhada.

 Cloretos

Em um tubo de ensaio mistura-se 10 mL de leite, 0,5 mL de solução de cromato de potássio a 5% e 4,5 mL de solução de nitrato de prata 0,1 N. Tem-se resultado positivo quando a coloração ficar amarela, o que indica a presença de cloretos em quantidades superiores à faixa normal (0,08 a 0,1%) (BRASIL, 2006).

 Amido

Transfere-se 10 mL de leite para um tubo de ensaio, aquece-se em banho-maria até ebulição por 5 minutos, posteriormente esfria-se em água

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corrente e adiciona-se 2 gotas de solução de Lugol. Tem-se resultado positivo quando produzida uma coloração azul (BRASIL, 2006).

2.1.8 Pesquisa de neutralizantes da acidez:

 Determinação do pH

Coloca-se cerca de 50 mL de leite em um béquer de 100 mL e mede-se o pH da amostra com um pHmetro previamente calibrado com soluções tampão pH 4 e pH 7. O leite normal possui pH entre 6,6 e 6,8 (BRASIL, 2006).

 Alcalinidade das cinzas

A adição de substâncias alcalinas ao leite aumenta a alcalinidade das cinzas (obtidas na metodologia de resíduo mineral fixo). Esta alcalinidade é determinada de forma indireta adicionando-se solução de ácido clorídrico às cinzas e titulando-se o excesso de ácido clorídrico com uma solução de hidróxido de sódio até se obter turvação e coloração rósea persistente. Posteriormente faz-se o cálculo da alcalinidade das cinzas por meio de uma fórmula. Resultados com valores entre 0,015% e 0,030% são normais. Valores superiores, sobretudo acima de 0,040%, caracterizam adição de substâncias alcalinas (BRASIL, 2006).

 Hidróxido de sódio

Transfere-se 5 mL de leite para um tubo de ensaio e adiciona-se 4 gotas de azul de bromotimol Tem-se resultado positivo quando formar-se coloração esverdeada e resultado negativo com coloração amarelada.

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 Carbonato ou Bicarbonato de sódio

Transfere-se 11 mL da amostra de leite para béquer de 150 mL, adiciona-se 5 gotas de solução alcoólica de fenolftaleína a 1% e titula-se com solução de hidróxido de sódio 0,1 N até coloração rósea persistente. Reacidifica-se com 1 mL de solução de ácido sulfúrico 0,025 N, aquece-Reacidifica-se até ebulição, esfria-se rapidamente em banho de gelo e adiciona-se 2 mL de solução alcoólica de fenolftaleína a 1%. Tem-se resultado positivo quando apresentar coloração rósea (BRASIL, 2006).

2.1.9 Pesquisa de fraude do leite por adição de soro

 Índice de caseinomacropeptídeo (CMP)

Este método consiste na detecção e quantificação de CMP por meio de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) com separação em coluna de filtração em gel e detecção em ultravioleta. O CMP é resultante da quebra da molécula de caseína entre os aminoácidos 105 e 106 (fenilalanina e metionima) pela ação de enzimas. Quando o índice de CMP for de até 30 mg/l o leite poderá ser destinado ao abastecimento direto, quando estiver entre 30 mg/l e 75mg/l poderá ser destinado à produção de derivados lácteos e acima de 75 mg/l à alimentação animal ou indústria química em geral (BRASIL, 2006).

2.2 Programa Nacional de Combate à Fraude no Leite (PCFL)

Desde 2003, o Programa Nacional de Combate à Fraude no Leite (PCFL), do Ministério da Agricultura, é responsável pela coleta amostras de leite UAT, pasteurizado e em pó para análises com foco em verificação de indícios de fraude. A quantidade de amostras analisadas e não conformes, entre os anos de 2009 e 2012, estão apresentadas nas Tabelas 1, 2 e 3 (MAPA, 2013).

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No âmbito do PCFL empresas cujos resultados de análises indiquem suspeita de fraudes ou descumprimento do regulamento técnico e empresas que durante as inspeções de rotina, supervisões ou auditorias apresentem não conformidades com referência ao atendimento dos padrões regulamentares são submetidas ao Regime Especial de Fiscalização (REF). A adoção do REF implica em suspensão da expedição de produtos ao comércio, imediato recall dos lotes implicados, plano de medidas de controle e monitoramento da qualidade e conformidade, avaliação do plano e coleta de amostras fiscais (MAPA, 2013)

TABELA 1 – Amostras de leite pasteurizado analisadas de 2009 a 2012

Ano 2009 2010 2011 2012

Amostras analisadas 1.071 1.652 1.453 1.296 Amostras fora dos padrões

regulamentares

213 239 225 162

Percentual de amostras fora dos padrões regulamentares

19,9 14,5 15,5 12,5

Fonte: MAPA (2013)

TABELA 2 – Amostras de leite UAT analisadas de 2009 a 2012

Ano 2009 2010 2011 2012

Amostras analisadas 1.034 1.722 1.994 1.553 Amostras fora dos padrões

regulamentares

129 189 263 175

Percentual de amostras fora dos padrões regulamentares

12,5 11 13,2 11,3

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TABELA 3 – Amostras de leite em pó analisadas de 2009 a 2012

Ano 2009 2010 2011 2012

Amostras analisadas 617 850 582 483

Amostras fora dos padrões regulamentares

87 123 103 38

Percentual de amostras fora dos padrões regulamentares

14 14,5 17,7 7,9

Fonte: MAPA (2013)

2.2.1 Espectroscopia de infravermelho

Quase todos os compostos que tenham ligações covalentes, sejam orgânicos ou inorgânicos, absorvem várias frequências de radiação eletromagnética na região do infravermelho do espectro eletromagnético. A região vibracional do infravermelho inclui radiação com comprimentos de ondas (λ) entre 2,5 μm e 25 μm (1 μm = 10-6

m). A Figura 1 ilustra a relação da região do infravermelho com outras contidas no espectro eletromagnético (PAVIA et al., 2010).

FIGURA 1 - Uma parte do espectro eletromagnético que mostra a relação do infravermelho vibracional com outros tipos de radiação

(15)

A maior parte dos químicos refere-se à radiação na região do infravermelho por meio de uma unidade chamada número de onda, em vez de comprimento de onda. Números de onda são expressos em centímetros recíprocos (cm-1), o infravermelho vibracional vai de 4.000 a 400 cm-1 (PAVIA et al., 2010).

Os padrões de absorção no infravermelho, ou espectros infravermelhos, de duas moléculas diferentes jamais serão idênticos. Assim, o espectro infravermelho pode servir para moléculas da mesma forma que impressões digitais servem para seres humanos. Quando se comparam os espectros infravermelhos de duas substâncias que se acredita serem idênticas, pode-se descobrir se elas são, de fato, idênticas (PAVIA et al., 2010).

O instrumento que obtém o espectro de absorção no infravermelho de um composto é chamado de espectrômetro ou espectrofotômetro de infravermelho, que pode ser de dois tipos, dispersivo ou de transformada de Fourier. Ambos produzem espectros praticamente idênticos, porém espectrômetros de infravermelho de transformada de Fourier têm maior velocidade e maior sensibilidade do que os dispersivos (PAVIA et al., 2010).

A Figura 2 é um diagrama esquemático de um espectrômetro de infravermelho de transformada de Fourier. A energia da fonte atravessa um divisor de feixes, um espelho posicionado em um ângulo de 45° em relação à radiação que entra, separando-a em dois feixes perpendiculares: um segue na direção original e o outro é desviado por um ângulo de 90°. O feixe desviado por 90° vai para um espelho estacionário ou fixo, e é refletido de volta para o divisor de feixes. O feixe que não sofreu desvio vai para um espelho que se move e também é refletido para o divisor de feixes. O movimento do espelho faz variar a trajetória do segundo feixe. Quando os dois feixes se encontram no divisor de feixes, eles se recombinam, mas as diferenças de caminhos (diferentes extensões da onda) dos dois feixes causam interferências tanto construtivas como destrutivas. O feixe combinado contendo esses padrões de interferência dá origem ao interferograma, o qual contém toda a energia radiativa que veio da fonte, além de uma grande faixa de comprimentos de onda (PAVIA et al., 2010).

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O feixe gerado pela combinação dos dois feixes produzidos pelo divisor de feixes atravessa, então, a amostra. Quando faz isso, a amostra absorve de forma simultânea todos os comprimentos de onda (frequências) normalmente encontrados em seu espectro infravermelho. O sinal do interferograma modificado que chega ao detector contém informações sobre a quantidade de energia absorvida em cada comprimento de onda (frequência). O processo matemático chamado transformada de Fourier deve ser realizado pelo computador para extrair as frequências individuais que foram absorvidas e então reconstruir e desenhar o gráfico que reconhecemos como um típico espectro infravermelho (PAVIA et al., 2010).

Um espectrômetro de infravermelho determina as posições e intensidades relativas de todas as absorções, ou picos, na região do infravermelho e os registra graficamente. Esse gráfico de intensidade de absorção versus número de onda é chamado espectro infravermelho do composto (PAVIA et al., 2010). A variabilidade espectral de 100 amostras de leite é ilustrada na Figura 3.

FIGURA 2 – Diagrama esquemático de espectrômetro de infravermelho de transformada de Fourier

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FIGURA 3 – Variabilidade espectral de 100 amostras de leite (linhas cinzas) e o desvio padrão nos diferentes números de onda (linha preta)

Fonte: CASSOLI et al. (2011)

2.2.2 Aplicação da espectroscopia de infravermelho

A metodologia de infravermelho já é utilizada com sucesso em equipamentos automatizados na determinação dos componentes principais do leite, como gordura, proteína e lactose (LEIFIER et al., 1996).

OLIVEIRA (2010) aplicou a espectroscopia de infravermelho próximo para a determinação de CMP em leite UAT (ultra-alta temperatura). Foram utilizadas oito marcas diferentes de leite UAT, todas oriundas de laticínios sob Inspeção Federal, sete destes localizados no estado de Goiás e um em Minas Gerais. Em cada marca de leite foram obtidos oito tratamentos, com base na adição de soro em pó reconstituído nas concentrações de 0%, 1%, 2%, 3%, 4%, 6%, 8% e 10%.

Números de onda

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As amostras de cada marca foram analisadas por CLAE, como análise de referência. Os índices de CMP encontrados nas oito marcas foram: 33,64; 39,52; 65,58; 105,08; 152,22; 182,62; 202,38 e 398,78 mg de CMP por litro de leite (OLIVEIRA, 2010). Portanto, todas as marcas apresentaram um índice de CMP acima do permitido para destinação ao consumo direto (até 30 mg/L). Três marcas deviam ter sido destinadas à produção de derivados lácteos (entre 30 e 75 mg/L). Cinco marcas deviam ter sido destinadas à alimentação animal ou indústria química em geral (acima de 75 mg/L) (BRASIL, 2006b).

O modelo de calibração mais adequado para a determinação de CMP em leite UAT foi desenvolvido com a utilização das seguintes ferramentas quimiométricas: método de seleção de espectros máxima distância, pré-tratamentos 2ª derivada e variável normal padronizada e método de regressão por mínimos quadrados parciais. Foram selecionadas as regiões espectrais mais correlacionadas com os movimentos vibracionais específicos da estrutura dos aminoácidos do CMP (1100-1310; 1400-1430; 1490-1550; 1640-1680; 1780-1970; 2020-2100 e 2310-1350 nm). Este modelo apresentou Coeficiente de Determinação (R2) de 0,8946, que representa a correlação com os valores da reta obtida, como mostrado na Figura 4. Concluiu-se que a espectroscopia de infravermelho próximo pode ser uma alternativa para a determinação de CMP em leite UAT, sendo necessário haver um conjunto de calibração com amostras representativas (OLIVEIRA, 2010).

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FIGURA 4 – Relação entre os valores de referência obtidos por CLAE e os valores determinados por espectroscopia de infravermelho próximo (NIRS) FONTE: OLIVEIRA (2010)

SANTOS et al. (2013) utilizaram a espectroscopia de infravermelho médio e ferramentas quimiométricas para detecção de adulteração de leite. Amostras de leite obtidas nos supermercados da cidade de Columbus, em Ohio, nos Estados Unidos foram adulteradas com soro de leite, peróxido de hidrogênio, urina sintética, ureia e leite sintético em diferentes concentrações. O leite sintético é uma imitação do leite natural preparado pela emulsificação de óleos vegetais com detergentes e ureia. As características dos espectros de absorção das amostras controle (sem adulteração) e das amostras adulteradas com peróxido de hidrogênio, leite sintético, soro e ureia estão ilustradas na Figura 5.

Por meio da espectroscopia de infravermelho médio foi possível discriminar as amostras controle de leite de potenciais adulterantes, permitindo a identificação de adulteração de leite com soro (> 7,5 g/L), leite sintético (>0,1 g/L), urina sintética (>0,78 g/L), ureia (>0,78 g/L) e peróxido de hidrogênio (0,019 g/L), cujos coeficientes de determinação (R2) foram, respectivamente, de 0,96; 0,94; 0,98; 0,98 e 0,90. Os altos valores de correlação demonstraram que as calibrações tiveram desempenhos analíticos precisos e confiáveis (SANTOS et al. (2013).

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FIGURA 5 - Espectros de absorção no infravermelho médio de (a) amostras controle (sem adulteração) e de amostras adulteradas com (b) peróxido de hidrogênio (0,15 g/L), (c) leite sintético (0,8 g/L de ureia), (d) soro (30 g/L) e (e) ureia (12,5 g/L)

Fonte: SANTOS et al. (2013)

Em 2008, repercutiu por todo o mundo a fraude alimentar ocorrida na China pela adição de uma substância química chamada melamina, rica em nitrogênio. A melamina era adicionada ao leite com o objetivo de mascarar a adição de água e elevar falsamente o teor de proteína. O leite em pó infantil contaminado com a substância resultou na morte de seis bebês e cerca de 300 mil crianças doentes (SHARMA & PARADAKAR, 2010).

Segundo BALABIN & SMIRNOV (2011) a espectroscopia de infravermelho é uma ferramenta eficaz para detectar melamina em produtos lácteos, como fórmulas infantis, leite em pó e líquido. Em seu trabalho alcançou-se um limite de detecção de 0,76 ± 0,11 ppm (partes por milhão). Os autores concluíram que a espectroscopia de infravermelho pode ser considerada como um método rápido, sensível e de baixo custo para análises de produtos lácteos.

CASSOLI (2010) utilizou a metodologia de infravermelho com transformada de Fourier (IVTF) na identificação de adulteração em leite cru. As amostras foram adulteradas com bicarbonato de sódio (0,05%, 0,10% e 0,25%),

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citrato de sódio (0,025%, 0,050% e 0,075%) e soro de queijo (5%, 10% e 15%). Foram desenvolvidas calibrações para identificação de adulteração através da comparação do espectro de leite adulterado com um espectro de referência para leite cru. A sensibilidade e especificidade das diferentes calibrações estão apresentadas na Tabela 4.

TABELA 4 – Sensibilidade e especificidade das calibrações

Fonte: CASSOLI (2010)

Também foram desenvolvidas calibrações para determinação da concentração dos adulterantes. As calibrações para bicarbonato de sódio, citrato de sódio e soro de queijo apresentaram coeficientes de determinação (R2) de 0,98; 0,92 e 0,91 e limite de detecção de 0,015%, 0,017% e 3,94%, respectivamente. Portanto, por meio do IVTF pode-se realizar o monitoramento destes adulterantes (CASSOLI, 2010).

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do aumento das descobertas de fraude no leite é importante que os estabelecimentos de laticínios cumpram com sua obrigação de controlar rigorosamente a qualidade da matéria-prima recebida diariamente na sua indústria, nos termos da legislação em vigor, por meio de análises como as apresentadas nesta revisão.

No entanto, muitas vezes as análises oficiais possuem baixo rendimento analítico e necessidade de mão de obra especializada, o que dificulta que estas sejam aplicadas a toda matéria-prima que chega à indústria.

Como uma nova ferramenta de controle da qualidade do leite e garantia de sua autenticidade a metodologia de infravermelho com transformada de Fourier (IVTF) tem apresentado bons resultados. Estudos recentes têm demonstrado que o IVTF pode ser uma opção viável no monitoramento de adulterantes. E por estar associado a equipamentos automatizados, o IVTF tem como vantagens o baixo custo operacional e o alto desempenho analítico.

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REFERÊNCIAS

1 BALABIN, R. M. & SMIRNOV, S. V. Melamine detection by mid- and near-infrared (mir/nir) spectroscopy: a quick and sensitive method for dairy products analysis including liquid milk, infant formula, and milk powder. Talanta, London, v. 85, p. 562-568, 2011.

2 BRASIL. Instrução Normativa nº 62 de 29 de dezembro de 2011. Aprova o Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Refrigerado, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Pasteurizado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União, Brasília, 30 dez. 2011. Seção 1, p.1-24.

3 BRASIL. Instrução Normativa nº 68 de 12 de dezembro de 2006. Oficializa os Métodos Analíticos Oficiais Físico-Químicos, para Controle de Leite e Produtos Lácteos, em conformidade com o anexo desta Instrução Normativa, determinando que sejam utilizados nos Laboratórios Nacionais Agropecuários. Diário Oficial da União, Brasília, 14 dez. 2006. Seção 1, p. 8.

4 BRASIL. Instrução Normativa nº 69 de 13 de dezembro de 2006b. Institui critério de avaliação da qualidade do leite in natura, concentrado e em pó, reconstituídos, com base no método analítico oficial físico-químico denominado Índice CMP. Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez. 2006. Seção 1, p. 1.

5 BRASIL. Ministério da Agricultura. Decreto nº 30.691 de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos nº 1255 de 25 de junho de 1962, nº 1236 de 2 de setembro de 1994, nº 1812 de 8 de fevereiro de 1996 e nº 2.244 de 4

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de junho de 1997. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA. Brasília, DF, 1997.

6 CASSOLI, L. D. Validação da metodologia de infravermelho com transformada de Fourier para identificação de adulteração em leite cru. 2010. 50 f. Tese (Doutorado em Ciências) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo, Piracicaba.

7 CASSOLI, L. D.; SARTORI, B.; MACHADO, P. F. The use of the Fourier

Transform Infrared spectroscopy to determine adulterants in raw milk Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40, n. 11, p. 2591-2596, 2011.

8 FONSECA, L. F. L. & SANTOS, M. V. Estratégias de controle de mastite e melhoria da qualidade do leite. Barueri : Manole, 2007. 314p.

9 FRANCO, B. D. G. M. & LANGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Atheneu, 1996.

10 GOLLO, R.; CANSIAN, R. L.; VALDUGA, E. Identificação de alguns pontos críticos de controle no processamento dos queijos prato e mussarela. Brazilian journal of food technology, Rio Grande do Sul, v. 6, n.1, p. 43 - 51, 2003.

11 LEIFIER, D; GRAPPIN, R; POCHET, S. Determination of fat, protein and lactose in raw milk by Fourier Transform Infrared Spectroscopy and by analysis with conventional filter-based milk analyzer. Journal of AOAC International, Arlington, v. 79, p. 711-717, 1996.

12 MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Programa Nacional de Combate à Fraude no Leite. Brasília, 2013. Disponível em:

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http://www.agricultura.gov.br/animal/noticias/2013/05/ministerio-intensifica-acoes-de-combate-a-irregularidade-no-leite. Acesso em: 18 nov. 2013.

13 MOORE, J. C.; SPINK, J.; LIPP, M. Development and Application of a Database of Food Ingredient Fraud and Economically Motivated Adulteration from 1980 to 2010. Journal of Food Science, Chicago, v. 77, n. 4, p. 118-126, 2012.

14 OLIVEIRA, D. A. A.; TEIXEIRA, L. V.; BASTIANETTO, E. Leite de Búfala na indústria de produtos lácteos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 96 -100, 2004.

15 OLIVEIRA, R. R. Aplicação da espectroscopia de infravermelho próximo para a determinação do caseinomacropeptídeo em leite UAT. 2010. 77 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

16 PAVIA, D. L.; LAMPMAN, G. M.; KRIZ, G. S. Introdução à espectroscopia. 1.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. 716 p.

17 RODRIGUES, J.; FIDELIS DE FARIAS, H. L.; BARBOSA, B. F. F.; GARCIA, T. A.; ISSY, P. N.; O. ORMONDES, M. P. Levantamento das características físico-químicas e microbiológicas de queijo minas frescal e mussarela produzidos no entorno de Goiânia - GO. Revista da Universidade Vale do Rio Doce, Três corações, v. 9, supl.1, p. 30 - 34, 2011.

18 SANTOS, P. M.; PEREIRA-FILHO, E. R.; RODRIGUEZ-SAONA, L. E. Rapid detection and quantification of milk adulteration using infrared microspectroscopy and chemometrics analysis. Food Chemistry, London, v. 138, p. 19-24, 2013.

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19 SHARMA, K. & PARADAKAR, M. The melamine adulteration scandal.

Food Security, v. 2, p. 97-107, 2010.

20 XIN, H.; STONE, R. Tainted milk scandal: Chinese probe unmasks high-tech adulteration with melamine. Science, Washington, v. 322, p. 1310-1311, nov. 2008.

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