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Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos Limites do Processo penal

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Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos

Limites do Processo penal

Autora: Emirene Matos Jurista e Delegada do ISCTAC – Delegação de Maputo. Mestranda em Ciências Jurídicas Público Forense pelo ISCTAC.

O presente artigo tem por objectivo despertar para a importância da produção da prova pericial com rigor técnico e científico por meio de uma cadeia de custódia previamente estabelecida nas organizações de perícia oficial. A cadeia de custódia e constituída por um conjunto de procedimentos que visam à garantia da auten-ticidade, à idoneidade do produto elaborado e à garantia da história cronológica que permite a transparência de todo o processo da produção. As mudanças não permitem que a prova pericial seja produzida nas mesmas condições materiais do antigamente. A falta de percepção dos profissionais envolvidos no processo de produ-ção de prova pericial e as mudanças provocadas pelo mundo globalizado apontam para a necessidade de implantação de um programa de cadeia de custódia que possua directrizes voltadas não apenas para uma educação tecnológica, mas também que desenvolva a racionalidade substantiva. O cidadão cada vez mais consciente do seu papel na exigência de uma boa administração pública, clama por excelência, transparência do Estado nos processos de interesse das sociedades. E prestação de serviços satisfatórios.

1. Introdução

P

or mais que os avanços

tec-nológicos e científicos venham contribuindo com as ciências forenses para melhorar a capacidade de reunir evi-dências utilizadas na solução em pro-cessos criminais ou civis (Access Excellence The National Health Museum, 2006), estes avanços, por si só, não representam garantia que estas evidências serão aceitas como prova pericial pela justiça. Todos os procedimentos relacionados à evi-dência, desde a colecta, o manuseio e análise, sem os devidos cuidados e sem a observação de condições

mínimas de segurança, podem acar-retar na falta de integridade da pro-va, provocando danos irrecuperáveis no material colectado, comprome-tendo a idoneidade do processo e prejudicando a sua rastreabilidade (Sampaio, 2006).

Deste modo, é necessário que se estabeleça um controlo sobre todas as fases deste processo (Portugal, 1998). Assim, tem-se adoptado a Cadeia de Custódia - CC como modelo nas mais variadas áreas do conhecimento em que se inclua, entre as preocupações relacionadas à qualidade, questões de âmbito judicial (Rangel, 2004).

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por objectivo apresentar a Cadeia de Custódia como um processo fun-damental para garantir a idoneidade e a rastreabilidade em análises toxi-cológicas forenses, conceituando-a e caracterizando a sua aplicabilidade e importância nestas análises.

A Cadeia de Custódia é usada para manter e documentar a história cronológica da evidência, para ras-trear a posse e o manuseio da amos-tra a partir do preparo do recipiente colector, da colecta, do transporte, do recebimento, do armazenamento e da análise, portanto, refere-se ao tempo em curso no qual a amostra está sendo manuseada e inclui todas as pessoas que a manuseia. Esta ter-minologia vem sendo legalmente utili-zada para garantir a identidade e integridade da amostra, em todas as

etapas do processo

(Peace-Officers.Com, 2006; Regional Labora-tory For Toxicology, 2006; Smith; Bron-ner Shimomura, et al, 1990; Wikipedia, 2006; USA, 2006). Como a Cadeia de Custódia é usada para registar as informações de campo, de laborató-rio e das pessoas que manusearam a amostra, pressupõe-se um trabalho de equipa que envolve todas as par-tes, internas e externas ao laboratório de análises toxicológicas forenses, englobando os responsáveis pela colecta, recebimento, análise e dis-posição final da amostra que deve-rão desenvolver suas actividades conforme um programa previamente estabelecido e acordado pela insti-tuição, com conscientização e trei-namento sobre as suas respectivas responsabilidades (USA, 2006; United States Government, 1997).

1.1. Referencial Teórico

1.1.1. Aspectos da Cadeia de Custódia

Segundo Machado (2009, p. 18), “cadeia de custódia é procedimento preponderante e de suma importân-cia para a garantia e transparênimportân-cia na apuração criminal quanto à prova material, sendo relato fiel de todas as ocorrências da evidência, vinculan-do os factos e crianvinculan-do um lastro de autenticidade jurídica entre o tipo cri-minal, autor e vítima”. A cadeia de custódia é constituída por uma série de actos interligados, sem deixar lacuna, visando a segurança e con-fiabilidade do processo em que os vestígios estão submetidos, bem como a manutenção da integridade conforme sua natureza. Todos os actos devem ser registados, inclusive os profissionais que preservaram o local e os que manusearam com os vestígios desde a colecta, transporte, recebimento pelos órgãos de perícia oficial e armazenamento.

A cadeia de custódia contribui para manter e documentar a história cronológica da evidência, para ras-trear a posse e o manuseio da amos-tra a partir do preparo do recipiente colector, da colecta, do transporte, do recebimento, da análise e do

armazenamento. Inclui toda a

sequência de posse (Smith. p. 503-516, 1990).

Na área forense, todas as amos-tras são recebidas como evidências. São analisadas e o seu resultado é apresentado na forma de laudo para ser utilizado na persecução penal. As amostras devem ser manuseadas de forma cautelosa, para tentar evitar

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futuras alegações de adulteração ou má conduta que possam comprome-ter as decisões relacionadas ao caso em questão. O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, para tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o laudo técni-co produzido, técni-com teor irrefutável. A sequência dos factos é essencial: quem manuseou, como manuseou, onde o vestígio foi obtido, como armazenou-se, porque se manuseou.

O facto de assegurar a memória de todas as fases do processo consti-tui um protocolo legal que possibilita garantir a idoneidade do caminho que a amostra percorreu. (NÓBREGA. p. 25, 2006).

Segundo Chasin (p. 40-46, 2001), a cadeia de custódia divide-se em externa e interna: a fase externa seria o transporte do local de colecta até à chegada ao laboratório. A interna, refere-se ao procedimento interno no laboratório, até o descarte das amos-tras. Watson (2009) descreve a cadeia de custódia como o processo pelo qual as provas estão sempre sob o cuidado de um indivíduo conheci-do e acompanhaconheci-do de um conheci- docu-mento assinado pelo seu responsável, naquele momento.

Vários elementos são necessários à execução dos procedimentos do fenómeno denominado cadeia de custódia da prova pericial, tais como: recipientes adequados, lacres, tubos de vacutainer com tampa cinza, seringa, luvas, fitas antiviolação, eti-quetas, caixas térmicas, geladeiras, freezers, embalagem plástica com rótulo de descrição e lacres, máquina seladora, anticoagulante, espátula,

presença de histórico, máquina foto-gráfica além do tratamento técnico-científico rigoroso do profissional, peri-to criminal e seu auxiliar no momenperi-to da execução.

A escolha do elemento integrante da cadeia de custódia pode ser con-forme a natureza da amostra a ser preservada: sólida, líquida ou biológi-ca. Atentando para o rigor científico, bem como afastar qualquer suspeita de má-fé e negligência durante todo o procedimento. Todos os actos visam à manutenção da autenticida-de e idoneidaautenticida-de do processo a que a prova está submetida. Os procedi-mentos de cadeia de custódia são executados de forma integrada e documentados para mostrar sua sig-nificância para a organização com a manifestação na consequência da acção.

2. Cadeia de Custódia na Investigação Criminal nos Limites do Processo penal

2.1. O Código do Processo Penal

A cadeia de custódia, na Lei, ini-cia-se logo após o conhecimento do facto criminoso(CPP, art. 176) Logo que tiver conhecimento da prática da infracção penal, a autoridade policial deverá:

Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até à chega-da dos peritos criminais; apreender os objectos que tiverem relação com o facto, após liberados pelos peritos cri-minais; colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do facto e suas circunstâncias.

O CPP cita que a autoridade poli-cial deve garantir a conservação da

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cena do crime, manipular indícios do local do facto, portanto, a garantia da robustez da investigação se inicia neste momento. Espíndula (2009) cita que todos os elementos que darão origem às provas periciais ou docu-mentais requerem cuidados para res-guardar a sua idoneidade ao longo de todo o processo de investigação e trâmite judicial.

O artigo 170° do CPP cita que "nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sem-pre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou

microfotográficas, desenhos ou

esquemas". O facto de a Lei exigir a guarda de amostra do material anali-sado garante ao investigado a possi-bilidade de contestação e defesa.

À luz do artigo 179, do Código de Processo Penal, a figura do assistente técnico se tornou num típico fiscaliza-dor das partes. A função é de acom-panhar a perícia oficial, apresentar sugestões, opinar sobre o laudo do perito nomeado, apresentar as hipó-teses possíveis, desde que técnica e juridicamente plausíveis. Ao elaborar laudo divergente do apresentado pelo perito oficial, o perito assistente analisará primeiramente a cadeia de custódia, pois qualquer falha apre-sentada enfraquecerá o laudo ofi-cial.

Espíndula (2009) explica que a prática de alguns advogados de questionar o manuseio de evidências ganha força com a figura do assis-tente técnico no processo penal e esse procedimento será enormemen-te explorado como argumento de

defesa. Quanto à formulação de quesitos, a presença do assistente técnico é necessária para assessorar o advogado na formulação dos que-sitos aos peritos. É público e notório que os advogados não dominam a área técnica fora de sua área de for-mação e a assessoria do perito assis-tente acrescenta qualidade à defesa do acusado.

Outra demonstração da necessi-dade de se estabelecer a cadeia de custódia na análise de vestígios seria no procedimento de busca e apreensão realizado pela autoridade policial e seus agentes. Da mesma forma, o modo como encontraram-se os objectos, a manipulação e armazenagem são questionamentos a serem utilizados pela defesa, no intuito de enfraquecer as provas pro-duzidas. Percebe-se que a cadeia de custódia não é exclusividade do peri-to criminal, mas sim de peri-todos os envolvidos na localização e produ-ção de provas: delegados, agentes, escrivães, papiloscopistas.

2.2. A Importância Da Colecta De Evidências

A importância do procedimento adequado na cena de crime é a diferença entre o sucesso e o fracas-so de uma condenação. Como exemplo, o famoso julgamento de O.J. Simpson, que ocorrera nos Esta-dos UniEsta-dos, em que a defesa do réu questionou o modo de colecta e pro-dução da prova incriminatória e per-suadiu o júri demonstrando que havia dúvidas sobre a autoria de O.J. Simp-son, apesar de o perfil genético dele

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ter coincidido com o da prova colec-tada no local do crime.

2.2.1. Preservação do Local de Crime e suas evidências

A preservação do local e de suas evidências objectiva a protecção adequada e medidas para evitar a contaminação, e para que as altera-ções do local e das evidências mate-riais sejam reduzidas ao mínimo. A preservação do local inicia-se logo que possível após o incidente ser des-coberto e denunciado às autorida-des competentes. As preocupações quanto à protecção do local encer-ram-se somente quando o processo de exame pericial estiver concluído e o local for liberado.

A delimitação da área a ser pre-servada é uma actividade complexa e os limites do local podem mudar de acordo com o prosseguimento da análise do local. O que parece ser evidente no início pode mudar e pre-cisar ser reavaliado. Uma vez defini-da, a área é explicitamente isolada usando-se qualquer tipo de barreira física. Qualquer pessoa não-essencial que adentrou no local antes do esta-belecimento do cordão de isolamen-to deve ser retirada (e essa informa-ção é registada) e quaisquer pessoas não-essenciais são impedidas de entrar no local de crime durante todo o exame pericial.

2.2.2. O valor da evidência e o conceito de cadeia de custódia

Evidência material pode ser qual-quer elemento, desde objectos

gran-des aos itens microscópicos, produzi-do durante a execução de um crime e colectado no local ou em locais relacionados.

Considerando todas as fontes de informação disponíveis em investiga-ções (como, por exemplo, confissões, testemunhas, videovigilância), a evi-dência material desempenha um papel central e especialmente impor-tante. Exceptuando-se as provas materiais, todas as outras fontes de informação sofrem com problemas de confiabilidade limitada. A evidên-cia material, quando identificada e apropriadamente tratada, oferece a melhor perspectiva para prover infor-mações objectivas e confiáveis envolvendo o incidente sob investiga-ção.

No entanto, o valor da evidência, mesmo cuidadosamente colectada e preservada, pode ser perdido se a cadeia de custódia não for adequa-damente constituída. Cadeia de cus-tódia é geralmente reconhecida como o elo fraco em investigações criminais. Refere-se ao procedimento de documentação cuidadosa e cro-nológica da evidência material para estabelecer a sua ligação à infrac-ção penal. Desde o início até o fim do processo judicial, é fundamental ser capaz de demonstrar cada passo (todas as etapas) para assegurar o “rastreamento” e a “continuidade” da evidência desde o local de crime até a sala do tribunal.

2.3. Cadeira de Custódia e a Toxicologia

Na área de toxicologia forense, todas as amostras são recebidas

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como evidências, as quais serão ana-lisadas e o seu resultado apresentado na forma de laudo que será utilizado no processo judicial. Estas devem ser manuseadas de forma cautelosa, para evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em questão. Nesta situação, a cadeia de custódia permite ao perito garantir e provar a integridade do processo ao qual a amostra foi submetida.

Nesta área, as amostras são, na maioria das vezes, únicas e a perda das mesmas significa um prejuízo, na medida que pode inviabilizar ou pre-judicar a análise toxicológica.

Como consequência, a Cadeia de Custódia permite minimizar a pos-sibilidade de extravio e dano das amostras, desde a sua colecta nos pontos de amostragem até o final da fase analítica. Assim, a Cadeia de Custódia viabiliza o controlo sobre o trâmite da amostra com a identifica-ção nominal das pessoas envolvidas em todas as fases do processo, caracterizando as suas responsabili-dades, as quais são reconhecidas ins-titucionalmente, uma vez que, como já foi citado, as mesmas foram treina-das para estas actividades. Portanto, o facto de assegurar a memória de todas as fases do processo, constitui um protocolo legal que permite garantir a idoneidade do resultado e rebater as possíveis contestações (SHIMOMURA. p. 503-516, 1990).

Neste contexto, a responsabilida-de dos profissionais envolvidos na Cadeia de Custódia não tem apenas uma implicação legal, mas também

moral, na medida em que o destino das vítimas e dos réus dependem do resultado da perícia. Embora a Cadeia de Custódia não se reduza à área de saúde, a percepção sobre a sua importância deve permear, ain-da, todos os profissionais de saúde que, mesmo não sendo da área forense, desenvolvem actividades que possam desencadear em pro-cessos judiciais. Estes profissionais também têm o dever legal e moral de defender os interesses de seus pacientes em disputas judiciais, pre-servando as possíveis evidências nos locais de suas actividades, que tam-bém poderão servir para defende-rem-se judicialmente, em certas situa-ções (Carrigan; Collington; Tyndall, 2000). Deste modo, as actividades destes profissionais devem ser organi-zadas, incluindo a CC na sua rotina, assegurando o controlo e o registo de todas as fases do processo.

2.4. Cadeia de Custódia e a Forense Com-putacional

A evidência digital é complexa, volátil e pode ser modificada

aciden-talmente ou propositadamente

depois de colectada, para que se consiga determinar se essa evidência sofreu modificações, torna-se neces-sário o estabelecimento de uma cadeia de custódia. O U.S National Institute of Justice define cadeia de custódia como um processo usado para manter e documentar cronolo-gicamente a evidência. Os docu-mentos devem incluir nome ou iniciais dos indivíduos que colectaram as evi-dências, cada pessoa ou entidade

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que após a colecta teve acesso à evidência, data que os itens foram colectados ou transferidos, órgão e número do caso, nome das vítimas ou suspeitos, e uma rápida descrição do caso.

Em Moçambique, o tema

“cadeia de custódia” é pouco conhecido ou mal compreendido, em muitas ocasiões os trâmites com-plexos da cadeia são descumpridos ou tratados inadequadamente devi-do ao desinteresse de ser cientifica-mente rigoroso e, outras vezes, por simples ignorância acerca de sua importância.

Não há na legislação brasileira referência específica à cadeia de custódia do material. O Código de Processo Penal Moçambicano (CPP) determina que a autoridade policial deverá providenciar para que não se alterem o estado das coisas e deverá apreender os objectos que tenham relação com o fato, estas condutas compõem a cadeia de custódia. No entanto, não é mencionada directa-mente a necessidade de manter uma cadeia de custódia, nem mes-mo este termes-mo está presente no CPP. Giova (2011) afirma que o ciclo de vida da evidência digital está se tor-nando mais complexo e cada está-gio aumenta a probabilidade de uma brecha violar a cadeia de cus-tódia. O resultado é um cenário de dificuldade crescente para que o judiciário avalie a evidência e a con-sidere genuína e confiável.

2.4.1. Modelos de Cadeia de Custódia em Forense Computacional

Alguns modelos foram propostos para manter uma cadeia de custó-dia (Carrier e Spafford, 2004), (Köhn, 2008) (Cosic e Baca, 2010), softwares especificamente criados para proce-dimentos de forense computacional

podem adicionalmente fornecer

melhor descrição das evidências, auditoria automática e gerar hashes criptográficos para verificação da integridade.

Na aplicação dos modelos para manter uma cadeia de custódia pode haver variação por conta do país, da legislação, da organização da justiça, do tipo do caso, dentre outros factores, o importante é que esses modelos são capazes de conhecer melhor os personagens envolvidos e suas actividades no pro-cesso forense. Procedimentos que permitam ao investigador recuperar dados de computadores envolvidos em actos ilegais e usar estes dados como evidências numa investigação criminal estão se tornando funda-mentais para as agências de aplica-ção da lei. Tais procedimentos devem ser robustos tecnologicamen-te para assegurar que todas as infor-mações probatórias foram recupera-das. Além disso, as evidências digitais devem ser tratadas de forma tal que se possa garantir que nada na evi-dência original foi alterado Noblett, M. G.; L. A. Presley (2000).

Para a área forense, um caso em que os procedimentos e a possível contaminação das provas foram usa-dos para absolver um indivíduo ocor-reu no julgamento do jogador de futebol americano O. J. Simpson. Quando se fala de forense

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computa-cional a falta de boas práticas e pro-cedimentos confiáveis são problemas sérios, é uma ciência nova e que tra-balha com evidências voláteis que existem apenas em circuitos electró-nicos.

2.5. Relevância da acção do cumprimen-to da cadeia de custódia

A acção do sujeito no mundo em comum é como assevera Fraga (2009, p. 5) “...agentes intencionais, conscientes e consequentes...”. A acção deve possuir um sentido espe-cífico da humanidade não apenas para obtenção de resultados, mas reconhecendo como agente dos actos praticados e conscientemente orientado para a direcção do agir ético. O bem comum é o sentido que o sujeito da acção fenomenológico direcciona sua intenção consciente.

O homem é concreto agindo sub-jectivamente e intersubsub-jectivamente no sentido de alcançar significado relevante para o ser humano. A acção surge da vivência do mundo com sua história e cultura na direc-ção de desvelar valores escondidos por cortinas nebulosas para propor-cionar resultados que tragam conse-quências humanas. Segundo Srour (2008, p.23) “O que os agentes pen-sam e fazem espelha a estrutura das relações sociais prevalecentes em cada formação histórica.” O homem concreto e intencional é aquele que para fenomenologia entende o mun-do em sua vivência e é consideramun-do na conformidade do seu sentido de agir, compreendendo a si mesmo e sua co-humanidade.

Seu agir subjectivo não o torna perceptível dos fenómenos, necessi-tando da intersubjectividade para desvelamento do que é mostrado velado. Como assevera Dartigues (1992, p.145) “...é um modo de expe-riência que nos coloca autentica-mente na presença de objectos objectivos...”. O co-humano é modo de agir conscientemente do ser humano, o agir no sentido de desve-lamento, da mostração dos objectos e objectivos para relevância no mun-do de “eu” e Outro.

O desvelamento da cadeia de custódia da prova pericial resultou da acção do homem concreto, inten-cional, na sua singularidade e intera-gindo inter subjectivamente no mun-do vivimun-do, no munmun-do em comum. Na percepção, o fenómeno cadeia de custódia da prova pericial é reduzido na sua essência sem perder o sentido da acção para um resultado que provoque relevância no mundo em comum e distante da abstracção.

Neste diapasão, a actuação do homem concreto no mundo das organizações de perícia oficial ocorre por necessidade, portanto intencio-nal e direccionado a propiciar conse-quências relevantes para o ser huma-no huma-no mundo em comum. A com-preensão do mundo em que ocorre a acção do agente é fundamental para mostrar a significação da corre-lação sujeito-objecto. A vivência do mundo em comum é diferente na percepção de cada sujeito, mas não devendo perder a noção de totalida-de e totalida-de possibilidatotalida-des totalida-de mudança. O homem concreto intencional vive em mundo comum, dinâmico, de

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impermanência, vivido e convivido na busca de condições humanas e sendo o valor dignidade, um dos importantes para materialização das condições humanas, Dartigues (1992, p. 145) diz: “...ele é, como o das essências, um a priori e um a priori material, susceptível de uma apreen-são intuitiva”.

O mundo dos valores é o que dá sentido aos objectivos no mundo da vida. O valor qualidade é o que dá sentido ao objectivo almejado com a cadeia de custódia da prova pericial e que pode ser desvelado pelos pro-fissionais envolvidos com a produção da prova pericial. A prova pericial, por sua vez, tem a sua importância no sentido do desvelamento do valor verdade nas infracções que deixam vestígios. Para a fenomenologia, o mundo dos valores é a priori, material e apreendido intuitivamente no mun-do vivimun-do, adquirinmun-do sua estrutura material e colocando de forma autêntica não apenas o objecto, mas o objectivo da acção intencio-nal do agente direccionado cons-cientemente para o agir ético e para proporcionar relevância para a humanidade. (Fraga, 2009).

Os valores necessários para o cumprimento da cadeia de custódia da prova pericial são percebidos a

priori na correlação sujeito – objecto

– objectivo, cuja acção intencional ganha sentido não apenas em direc-ção ao resultado, mas principalmen-te da consequência para o ser

humano. Como consequências,

outros valores serão desvelados, tais como: a dignidade, idoneidade, transparência, verdade,

confiabilida-de e segurança.

No mundo globalizado a busca pela excelência é constante, o homem concreto intencional em seu estado de impermanência procura andar neste sentido. Como todo pre-sente traz consigo o passado é necessário a implantação de um pro-grama que possa consolidar o cum-primento da cadeia de custódia da prova pericial. O programa é uma expectativa para o futuro e o presen-te de hoje será um passado que tam-bém fará parte deste futuro e que assumirá a posição de presente em uma relação de intimidade do sujeito e tempo, como assevera Fraga:

“O sentido que circula no tem-po e no sujeito é o da perma-nente impermanência, que não é uma imperfeição, mas possi-bilidade de uma formação essencialmente humana, isto é, no sentido da ética e segundo a condição humana.” (Fraga. 2009, p.20).

Nesta formação essencialmente humana o agente actua como homem concreto, intencional em um mundo vivido com seu processo histó-rico-cultural em constante transfor-mação e buscando a legititransfor-mação com o reconhecimento da co-humanidade, do mundo comparti-lhado.

O reconhecimento não surge da dinâmica natural deste mundo, mas com a consequente retomada do ser humano, como co-humano, ou seja, do ser com o outro. Desta forma, a organização de perícia com seus profissionais passam a articular seu conhecimento e voltar a posicionar

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no mundo de possibilidade no qual faz parte.

O produto pode ser elaborado no sentido de sua confiabilidade, segu-rança e que atenda a necessidade do ser humano no sentido de produzir consequências relevantes para o co-humano. Valores como responsabili-dade, compromisso e solidariedade precisam ser desvelados e absorvidos pelos profissionais das organizações de perícia oficial para o cumprimen-to fiel da cadeia de custódia da va pericial, visando elaborar um pro-duto com qualidade, como sugere Fraga:

“Da significância do que é dito no convívio quotidiano com as pessoas no trabalho e da rele-vância discernida de cada situação na gestão, dependerá, em boa parte, a possibilidade de uma formação humana que leve justa gratificação pessoal a todos os envolvidos enquanto buscam resultados produtivos condizentes com seus dignos compromissos laborais e sociais.”

Fraga (2009, p.25) considera que o cumprimento da cadeia de custó-dia da prova pericial traz resultados e consequências relevantes para os profissionais e para a sociedade. Valores tais como: dignidade, trans-parência, segurança, confiança, integridade, idoneidade e verdade são desveladas com o compromisso, responsabilidade e solidariedade de profissionais responsáveis pela preser-vação.

Considerações Finais

O nosso Código de Processo Penal (2014) trata acanhadamente da investigação criminal, prevendo ritos voltados a crimes que eram cometidos na época de sua edição, "crimes comuns". Assim, considerando as actividades forenses, podemos concluir que a Cadeia de Custódia não pode ser uma preocupação que se restrinja aos Laboratórios de Toxi-cologia Forense, mas tem de se estender a todas as demais fases do processo que envolvem a evidência, externa e internamente à instituição a qual pertence o referido Laborató-rio, para poder garantir a manuten-ção da integridade da evidência e da idoneidade do processo.

A Cadeia de Custódia não é pri-mazia das actividades forenses, ela se faz necessária em todas as activi-dades profissionais onde possa ocor-rer situações que resultem em proces-sos judiciais. Os curproces-sos que fazem par-te da área de saúde devem, então, incorporar esta abordagem em seus programas curriculares, na medida em que a Universidade, enquanto educadora, pode desempenhar um papel transformador nas práticas pro-fissionais. Finalizando, podemos con-cluir, também, que a implantação, com sucesso, de um programa de Cadeia de Custódia depende da sua inclusão nas directrizes políticas da instituição, na medida em que isto significa o seu comprometimento e consequente apoio da mesma para com a continuidade do processo.

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Watson, James D, et al. DNA Recombinante:

genes e genomas. Artmed Editora. 3ª Ed. 2009.

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genes e genomas. Artmed Editora. 3a Ed. 2009.

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