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E N S A I O
^fcEC EN S EA R FUNCIONÁRIOS
Im P Ú B L IC O S
Uma N * c * s s i d a d * J o s é C a r lo s D u r a n d R ic a rd o E rn e sto V a s q u e z B e ltr ã o In t r o d u ç ã oconhecim ento de um grupo social qualquer não depende ape nas de um exercício de vontade e da disponibilidade técnica de ins trum entos de pesquisa. Antes, re sulta de um confronto de interes ses difusos ou localizados, consci entes ou inconscientes, que se mo bilizam a favor ou contra a visibili dade d o mesmo grupo pelo con junto da sociedade.
Essa prem issa vem sendo farta m ente confirmada pelas ciências sociais. Em anos recentes, soció logos de países desenvolvidos vêm escrevendo a história da origem e transform ações das próprias no m enclaturas e agregações sociais usadas nos serviços de recensea- m ento. Mostram eles que as ope rações mais elem entares e aparen tem ente mais neutras de previsão d e alternativas de respostas na montagem de questionários, ou de registro e codificação das informa ções que o cidadão presta sobre si e sua família estão repletas de
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onhecer o número dos servidores públicos, seu estatuto fu n cional e previdenciário, sua qualificação, sua qualidade de vida e características demográficas, é uma urgência no Brasil de hoje. Raras têm sido as iniciativas sérias de recense- ar servidores no pais, em qualquer nível de governo. Mesmo estas não têm sido usadas como instrum ento para diagnosticar os recursos h um a nos da m áquina estatal e fu n d a m en tar propostas de reforma adm inistra tiva. Aproveitando a experiência que acumularam ao analisar os resulta dos do Censo dos Servidores Esta duais de São Paulo, realizado em 31/ 10/1991, os autores questionam as razões desse desconhecimento e desinteresse.
ses de percepção, de pressupostos ideológicos e de estereótipos não suficientem ente controlados tan to por quem produz q uanto por quem utiliza tais artefatos estatís ticos. Em conseqüência, ao invés de tom ar as hierarquias sociais e ocupacionais como dados eviden tes por si, aqueles sociólogos as tomam como resultados de cons truções intelectuais e de operações
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José C arlos Durand / Ricardo Ernesto V. Beltrãotécnico-adm inistrativas que p o dem e devem ser m elhor conheci das, um a vez que constituem ma téria-prim a da mais alta im portân cia para a descrição da sociedade e da explicação de suas mudanças.1 Esse exercício de explicitação de pressupostos (e dos interesses que eles possam conter), é requisito para um a análise social pertinente. Ele se apresenta tão mais oportuno e útil quanto menos estudado tenha sido o grupo em questão e quanto mais conseqüências práticas se possam tirar d o conhecim ento sobre ele gerado. É precisamente este o caso dos servidores públicos: categoria social populosa2, que responde por atividades cuja execução afeta ime diatamente a qualidade de vida do povo.
Após haver finalizado, sob enco menda do governo paulista, a aná lise e a preparação editorial dos resultados do Censo do Servidor Público Estadual em 31/10/19913, os autores deste artigo se propõem a refletir sobre sua experiência de trabalho e a sugerir procedim en tos que possam aperfeiçoar inicia tivas similares. No caso, a partici pação dos autores com eçou em fase já adiantada do processo de recenseam ento, quando os dados brutos de um form ulário enviado pela administração a todos os ser vidores (cobrindo adm inistração direta, autarquias e fundações) já estavam recolhidos e arm azenados em arquivos eletrônicos.
1 - Ver, a re sp eito , o e stu d o co n d u zid o p o r dois sociólogos d o In stitu i N a tional de S tatistiq u es e t E tudes E conom iques, d o gov ern o francês: Alam D esro sières c L aurent T h év en o t, Les c a té g o r le s s o c lo -p ro fc s s lo n n e lle s , Paris, Ed. La D écouverte, 1988. 2 - Havia a p ro x im ad am en te 7 m ilhões d e servidores púb lico s n o Brasil, cm 1993. Mais ou m en o s a m etad e, n o nível estadual, e a o u tra m etade, em p ro p o rç õ e s b e m p r ó xim as, d istrib u íd a e n tre o s níveis federal e m unicipal. D ados re tirad o s d e re c e n te p u b li cação da ENAP, c o n te n d o análise feita p elo C en tro d e E studos d e C u ltu ra C o n tem p o rá- nea/CEDEC. Cf. ENAP/ F undação Escola Nacional d e A dm inistração Pública, E s tr u tu r a e O rg a n iz a ç ã o d o P o d e r E x ecu tiv o , [organizado p o r Régis d e C astro A ndrade e Luciana Ja c co u d ]. Brasília: C en tro d e D ocum entação, Inform ação e D ifusão G raciliano Ramos, 1993, vol. 2. E ntende-se ain d a q u e a visibilidade da m áq u in a adm inistrativa assu m a e n o rm e relevância d ian te d a crise e stru tu ra l d o E stado latino-am ericano, q u e a p o n ta p ara a n ecessid ad e d e reform as u rg en te s e pro fu n d as. Ver a re sp eito Kliksberg, B ernardo. C o m o T ra n s fo rm a r o E stad o : Para Além d e Mitos e Dogmas. Brasília: ENAP, 1 9 9 2.
* - C e n so realizado em c u m p rim en to ao D ecreto-lei n ° 34.065, d e 28/10/1991. P lane jad o e c o o rd e n a d o p o r u m a e q u ip e com posta p o r técnicos d a S ecretaria d a A dm inistra ção e M odernização d o Serviço Público/SAM e da C om panhia E stadual d e P ro ce ssam en to d e Dados/PRODESP, com re p re se n ta n te s d e o u tro s órgãos do g o v ern o p aulista. O p lan o d e tab u laçáo , a análise dos dad o s e su a p re p ara çã o editorial foram c o n tra ta d o s com o C e n tro d e E studos d a C u ltu ra e do Consumo/CECC, da Escola d e A dm inistração d e Em p re sas d e São Paulo, da FGV. O s in teg ran te s d o CECC q u e p a rticip a ram d e sse trab a lh o , além dos a u to re s e d e co lab o rad o re s ex tern o s, foram Clóvis B ueno d e Azevedo, Marta Farali, H eito r Kato e Jo sé H en riq u e O sóris Coelho.
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Recensar funcionários públicos: uma necessidade Im p o r t â n c ia d e c o n h e c e r o se fe tiv o s d e f u n c io n á r io s
funcionalismo público é um agreg ad o o cup acion al que, cm princípio, não deveria apresentar m a io r d ific u ld a d e p a ra s e r m ensurado em seus traços básicos. C om o se g m e n to da População Economicamente Ativa, compõe-se d e integrantes de muitas ocupa ções e profissões (regulamentadas ou não), dos mais diversos níveis sociais, de educação e renda, mas que têm em com um o fato de ter (pelo menos) um vínculo de tra balho (tem porário ou perm anen te) com algum órgão de governo. Como os vínculos de trabalho pos síveis para esse segm ento estão previstos em disposições legais (que também regulam jornadas de trabalho, idade, qualificação e ou tros requisitos de ingresso, rem u neração e dem ais recom pensas, prom oção e saída da vida ativa), o dom ínio da legislação funcional é de importância-chave para o estabelecim ento de classificações pertinentes. Ademais, como o p o d er público (nos três níveis de g o v e rn o ) p a re c e r e c r u ta r tendencialm ente mais nos merca dos de trabalho de classe média do que nos de classe pop ular, seu corpo funcional tende a ser mais escolarizado que o conjunto da p o p u la ç ã o tra b a lh a d o ra e, em princípio, mais apto a preencher
formulários inform ando sobre sua vida no trabalho e fora dele. Todavia, a população de servido res públicos, nos três níveis de governo e na m aior parte do Bra sil, está ainda m uito mal conheci da. Nos recenseam entos gerais fei tos pelo IBGE a cada decênio, os servidores públicos aparecem em uma rubrica própria “em pregados no setor público” e na rubrica “ati vidades sociais”, que os m istura com empregados do setor privado. Como “atividades sociais” - educa ção e saúde sobretudo - abrangem contingentes significativos de pes soas dentro e fora da m áquina es tatal, cria-se um a indistinção que p reju d ica irre m e d ia v e lm e n te a delimitação da população de ser vidores públicos a partir dos recen seam entos gerais d o país. Ade m ais, p ara os fins d o s c e n so s demográfico-ocupacionais não in teressa separar os que trabalham p a ra o m u n ic íp io , e s ta d o ou União, o que é de fundam ental re levância q u an d o se trata d e um estudo que aspire a efeitos práti cos sobre condições de trabalho. Assim, mesmo que delimitassem o total de funcionários públicos, jamais se poderia esperar que os recenseam entos gerais cobrissem parte significativa das informações que a administração precisa ter, e que a opinião pública tem o di reito de saber acerca dos quadros do governo. Por isso, recen sea m entos específicos de servidores são necessários, seja para preci
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José C arlos Durand / Ricardo Ernesto V. Beltrãosar quantos são, seja para saberem
q u e m edida o governo vem
cum prindo a legislação que re gula sua ação como empregador, seja principalm ente para estabele cer políticas que m elhorem a condição funcional e, em conse qüência, a qualidade do serviço oferecido. Entram aí as tentativas d e localizar “inchaços” e distor ções4 , avaliando-se alternativas que regulem o “tamanho do Estado” sem sacrifício da qualidade de vida da população. Em anos mais recentes, o crescimento rápido (absoluto e relativo) dos aposentados e demais inativos no conjunto da massa sala rial, reforça a necessidade de conhe cer quantos são e que direitos têm os que já deixaram ou estão em vias de deixar a vida ativa.5 Em suma, rccenseamentos de funcionários são um instrumento fundamental para se atingir a tão desejada e necessá ria transparência do setor público. Em particular, em contextos de dem ocratização do Estado e de tentativas de recuperação de sua capacidade de extração fiscal e de p restação d e serviços.
Q uanto a censos específicos de servidores, o mais notável não é propriam ente o fato de raros te rem sido feitos até o m om ento no Brasil (foram localizados só dois: um feito pelo governo paulista e outro pelo governo federal, este só dos servidores civis, am bos reali zados em 1966),6 mas sim sua qua se n u la re p e rc u s s ã o : o c e n so paulista de 1966 teve seus resulta dos divulgados um a única vez, em uma pequena brochura de 69 pá ginas, com 18 tabelas, difícil de localizar até mesmo em bibliote cas especializadas na própria capi tal paulista; o censo federal foi ob jeto apenas de um a publicação mimeografada (F u n d ação In s ti tu to B rasileiro d e G eografia e E s ta tís tic a , Rio, IBGE, 1967), ig u alm en te m u ito difícil d e se achar. Sintoma mais grave é o fato de que, nos títulos de artigos das principais revistas de adm inistra ção pública do país entre 1966 e 1970, nada se encontra que indi que que os resultados desses le vantamentos tenham servido, ain da que rem otam ente, para alguma
- Saliente-se q u e as conclusõcs de especialistas a re sp e ito do Brasil co n v erg e m no s e n tid o d e re co n h e ce r q u e o p ro b lem a n ão é d e "inchaço", ou d e ex cesso d e fu n cio n ári os p o r h ab ita n te , n u s , antes, d e su a m i alocação - p o r exem plo, c o n ce n tra ç ão c m ativi- d ad es-m eio e n ão em atividades-fim. N o Brasil, os efetivos d o p o d e r c en tral eq ü iv a lem a 3% d a PEA, p o rc en ta g e m q u e é d e 16,1% para a Itália, d e 17,7% p a ra a França c 18,9% p a ra In g laterra . Ver tex to ENAP citado, p. 39.
- O s inativos e p e n sio n ista s d a adm inistração federal em ja n e iro d e 1993 re p re s e n tavam n ad a m enos q u e 29,2% d o total d e p essoal. F onte: G erência d e C ad astro e Lota ção d a DRH/5AF/PR, a p u d ENAP, op.cit.,p. 39. Os servidores federais com 'Í0 a n o s e m ais d e id ad e rep re se n tav a m n o m esm o a n o 55,6% d o total, s e g u n d o d a d o s o b tid o s na m es ma fonte.
6 - C en so dos S ervidores Públicos Estaduais (de S.Paulo) em 30/10/1966, realizad o p e lo a n tig o D e p arta m e n to d e Estatística d o Estado e o C en so d os S ervidores Públicos
Civis F ed erais em 31/5/1966, realizado a p a rtir de u m co nvênio e n tre o D e p a rta m e n to A dm inistrativo d o Serviço Público e o IBGE.
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Recensear funcionários públicos: uma necessidadem edida prática em benefício do servidor ou para se repensar ques tões de reforma administrativa.7 É p o r essa razão q u e se d ecidiu , como estratégia de análise e divul gação d o Censo Estadual de 1991, não só com parar seus resultados com os de 1966, mas também organizar um apêndice o nde o leitor encontrará as principais tabelas de outros recenseamentos, a ssim c o m o e s tim a tiv a s e quantificações de servidores pú blicos, inclusive as que apareceram
em m atérias recentes de im
prensa.
Em anos recentes a situação de desinform ação a respeito dos fun cionários públicos no Brasil, dian te d e te n ta tiv a s ra d ic a is d e “enxugam ento” da burocracia de Estado, tem dado ensejo a situa ç õ e s tra g ic ô m ic a s. S e g u n d o G ileno Marcelino, analisando as
preliminares de um a tentativa de reforma administrativa em p reen dida pelo governo Samey, “...o próprio DASP levou cerca de um ano para descobrir q u e havia na administração Direta e Autarquias 520 mil servidores. A SEST, da SEPLAN, levou tam bém idêntico tem po para chegará conclusão de q u e havia um m ilhão e 300 mil servidores na Administração Indi reta, ou seja, nas entidades esta tais".8 Ao assumir o poder, Collor anunciou um corte abrup to e p ro fu n d o , e atin g iu re su lta d o m uito aquém do anunciado: o governo federal não conseguiu esconder que sim plesm ente não sabia quantos funcionários susten tava, nem tinha com o sabê-lo. Muitos dos que quis cortar em definitivo foi obrigado a m anter em disponibilidade (l°g° receben do pagamento) em razão de direi tos adquiridos.9
- Foram observados os índices de matérias dos seguintes periódicos: Revista d o S ervi ço P ú b lico , Revista d e A d m ln lstraçáo P ública e A d m in istração Paulista. A propósito, e plausível su p o r que esses recenseam entos tenham se pautado m uito mais pela necessidade interna de apropriação e controle da máquina estatal pela cúpula autoritária - militares c tecnocratas, num contexto de claro predom ínio do paradigma da assim cham ada “adm inistra ção para o desenvolvimento", do que propriam ente tendo cm vista um conhecim ento visando a um controle do governo por parte da sociedade.
• Marcelino, Gileno F., Evolução do E stado e R eform a A dm inistrativa. Brasília, Se cretaria dc Administração Pública da Presidéncia da República, 1987, p. 30.
- Conforme o m esm o Gileno Marcelino: “Segundo dados da SAF, o 'desm onte' do apa rato governamental afastou, até janeiro dc 1991, 221.308 servidores e extinguiu vagas no ser viço público; desse total, 55.222 foram colocados ‘em disponibilidade', uma nova solução ad ministrativa criada pela reforma, que significou, na realidade, colocar os servidores em casa, recebendo sem trabalhar, uma vez que o Suprem o Tribunal Federal julgou inconstitucional a redução de seus vencimentos." Marcelino, G., “Em busca do Estado M oderno: o desafio da mudança administrativa", in S e m in á rio s FUNDAP, 1992, p. 15. Consta que, previam ente a estas medidas, o governo Collor baixou um ato determ inando o recadastram cnto dc todos os servidores federais. Mandou formulários para preenchimento c devolução sob pena de colocar o servidor cm disponibilidade. Ao que se sabe, o resultado teria sido jogado fora, inteiramente des perdiçado. O estudo citado da ENAP (p. 37) inicia o capítulo que objetiva caracterizar a administra ção pública federal com as seguintes palavras: “Cabe assinalar dc início que os dados acerca da administração pública federal são precários, fàto agravado pelo desmonte feito pelo governo Collor, no sistema dc informações federais, atingindo ate o IBGE. A ampla discussão, na última semana de março de 1993, em torno do aumento do funcionalismo público, ilustra o estado caótico cm que se encontra o governo federal: O Ministério da Fazenda e a SAF dispunham de dados diferentes acerca do gasto c ate do número dc funcionários públicos existentes...”.
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José Carlos Durand / Ricardo Ernesto V. BeltrãoP
or outro lado, em que pese o avanço d o m ovim ento sindical dos servidores públicos nos três níveis de governo, e sua tentativa de m elhorar um pouco a deprim ente condição de rem uneração dos grandes efetivos da administração direta envolvidos em serviços-fins como educação básica, saúde e segurança, parece certo q ue m uito pouco ou nada se conseguiu como redução dos pri vilégios dos quadros médios e su periores da administração indire ta, do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público.10 E mais, o fosso entre uma administração di reta regida por um estatuto funci onal que exige concursos e abriga enorm es contingentes que reali zam atividades-fins lidando direta m ente com o público e uma admi nistração indireta mais envolvida em atividades-meio e mais “flexí vel” em possibilidades de recruta m ento e rem uneração parece es tar aum entando desde a época do “m ilagre econôm ico”. Foi nessa época que um espetacular cresci
m e n to d e e m p re s a s e s ta ta is alertou os meios acadêmicos e a oposição ao regime a respeito do avanço da tecnocracia no país, e de seu poder não legitim ado nem controlado sobre parcela signifi cativa d o orçam ento público.11 O ocultam ento da tão largam ente disseminada utilização de cargos pú b lico s com o m o eda p o lític a (tanto nos cargos de confiança da administração direta, quanto, de forma geral, na adm inistração in direta), e de toda a sorte de desi gualdades no que se refere às van tagens pecuniárias (gratificações especiais, adicionais de toda o r dem etc.) e funcionais, sejam elas legítimas ou não, entre os diver sos escalões nas diferentes esferas de governo, parecem ser os prin cipais fatores contrários à transpa rência da m áquina administrativa. Conseqüentem ente, ao recensea- m ento cuidadoso de seu pessoal. Nesse terreno, nem tudo p o d e ser visto como expressão de
fisiologis-10 - Na m edida cm q u e o re ce n se am e n to d e 1991 não a b ran g e u o s d em ais p o d e re s, vale aq u i lançar m ão d e dados oficiais publicados p e lo g o v ern o p a u lista e relativos a m aio d e 1994. C o m p aran d o o d esem b o lso líquido com p esso al e o n ú m e ro d e serv id o res em cada área d a adm inistração, nota-se q u e as secretarias d e E stado ab so rv em 82,13% d o s serv id o res pagos p e lo s cofres estaduais, mas p articip am em a p e n a s 67,■18% d a m assa salarial. In v ersam en te, o M inistério Público, c om a p en a s 0,42% d o s serv id o res, p articip a cm 3.48%; o Judiciário, com 5,69% d os servidores, e m 13,27%; as F u n d açõ es, co m 1,55% d o pesso al, em 2,95%; o T ribunal d e C ontas, com 0,26% d os serv id o res, em 0,76%; a A ssem bléia Legislativa, com 0,39% d os servidores, cm 0,82%; e o s inativos das e m p re sa s, q u e c o rre sp o n d e m a 4,07% dos servidores, canalizam 6,16% dos d esem b o lso s. F o n te : "O G overno d o Estado d e São Paulo m ostra com o Investe seu dinheiro". F o lh a d e S .P au lo , 25/6/1994, p. 1-5 (inform e publicitário).
- E ntre 1969 e 1977 só a nível federal foram criadas 94 e m p re sa s estatais, o q u e re p re s e n ta mais q u e as criadas cm to d o s os governos a n te rio re s, e q u e som avam 87 cm
1969. Dados obtidos em M.LGaüelli, Propaganda e legitimação do poder. Brasil: 1970- 1978. T ese d e m estrad o c m com unicações, UnB, 1981.
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Recensear funcionários públicos: uma necessidadeB a s e s p a r a r e c e n s e a r com e ficiê n cia
ara o cxcrcicio de sua ativida d e e o re c e b im e n to d e s e u s proventos, todo funcionário cons titui em princípio um registro num Cadastro Funcional operado pela instância responsável pelo cálcu lo de seus ganhos e vantagens e pela definição dos valores a cons tar de seu contracheque, ou a se rem recolhidos à Previdência e ao fisco. A adm inistração direta ou centralizada (em sua m aior parte composta pelo pessoal dos minis térios, secretarias estaduais ou m u nicipais, conform e o nível de go verno), costuma ser paga por uma só fonte e assim está geralm ente reunida em um único cadastro; já as autarquias, fundações, em pre sas públicas e de econom ia mista costumam m anter cada qual seu
12 - N o caso da adm inistração estadual paulista, é conhecido o cuidado com q u e se silencia a resp eito do n ú m ero e da rem uneração dos funcionários das estatais. A F o lh a d e São P a u lo (ed. d e 9/3/1993) publicou m atéria q u e traz o total em 1992 dos funcionários das 25 estatais paulistas (acrescidas da Fundação Padre Anchieta, todas excluídas do c en so d e 1991): 176.251 contratados, sem contar 38.794 tem porários. Procurada pelos a u to res com o possível acervo com plem entar d e dados, a diretoria d o órgão citado pela Folha com o fonte esclareceu (sem pre oralm ente, p o r telefone) q u e a informação fora na verdade “vasada” p ara a im prensa, p o sto q u e não teria sido autorizada sua publicação. E q u e, d iante desse "m au uso", era obrigada a negar o fornecim ento d e informações a q u em q u e r q u e fosse, m esm o à p ró p ria adm inistração (!). O jornal O F.sUido d e São P au lo noticiou um a investida d o M inistério Público Estadual n o sentido d e a p u rar nom es e rem unerações d e 18 mil con tratados sem concurso público através d e um a estatal ligada ao Banco d o Estado de São Paulo - o Banespa, Serviços Técnicos e Administrativos/Baneser (q u e o referido jornal cham a d e “estatal d o em prego"). R espondendo a um a intim ação da juíza d a 10a Vara da F azenda Pública, interessada em conhecer os nom es, locais de trabalho e rem uneração d aqueles servidores, a direção d o Baneser limitou-se a enviar um a lista com nom es, RGs e CPFs, q u e o jornal considerou inócua. Ver “A arte d o jeito", O E stad o d e S .P aulo, 8/7/1994, p. 3. G ene ralizando p ara c o n ju n to d o país c para u m horizonte de tem po irais am plo, o e stu d o citado d a ENAP salienta, a propósito, q u e "...com as constantes invasões clienlelistas q u e tom aram co n ta d o Estado, tan to n os períodos dem ocráticos com o naqueles autoritários, e tam bém com o desm onte do aparato estatal dos últimos dez anos, o sistema de m érito e impessoalidade não conseguiu afirirar-se p o r com pleto na lógica d e atuação d o serviço público", op.cit., v. 2, pp. 34/35._________________________________________________________________________
mo, clientelismo e ociosidade; mas tam bém não pode, sob pena de ing en u id ad e, ser tom ado como expressão sem mais de “agilidade administrativa” a serviço da efi ciência: as duas ordens de conse qüência estão aí irremediavelmen te confundidas. Fm suma, a cisão da burocracia governamental en tre um se to r mais concursado, mais regulam entado e mal pago (base da administração direta) e um setor mais privilegiado e regi do p o r casuísmos (cúpula da ad ministração indireta, que inclusi ve serve de meio para definir salá rios mais “competitivos” para os assessores da administração dire ta), está na raiz da dificuldade de conhecer o conjunto do pessoal do Estado.12
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José C arlos Durand / Ricardo Enersto V. Beltrãopróprio cadastro, o mesmo acon tecendo com os demais poderes: Legislativo, Judiciário e Ministério Público. Assim, dados os preceitos que regem a autonom ia de pode res e a m aior liberdade de contra tação e pagam ento da adm inistra ção indireta, é certo que um rccen- seam ento com pleto de funcioná rios em um mesmo nível de gover no passa po r um a negociação po lítica prévia. Espera-se que desta resulte, no mínimo, uma unifica ção indispensável dos cadastros de pessoal como fonte de referência. Por sua vez, o recenseam ento será tam bém um a oportun idad e rara para se avaliar as condições de a c e sso e d e u so e o g rau de c o n fia b ilid a d e d esses m esm os acervos, c o n trib u in d o para sua melhoria.
Q u a n to mais os assentam entos dos cadastros estiverem completos e atualizados e as informações con- siste n te m e n te arm azenadas em com putadores, tanto mais fácil e rápido será avaliar as dim ensões e o perfil do universo a recensear, os quesitos q ue precisam ou não constar d o formulário, e fazer um planejam ento preliminar do traba lho de campo (núm ero de agen tes a treinar, envio de impressos, coleta e crítica do material etc.). É
claro que essa situação desejável pressupõe também que a totalida de, ou pelo menos, um a propo r ção significativa dos servidores es teja vinculada de maneira legal ao seu cargo ou função e assim não haja pressões ou resistências d e masiado fortes no sentido de so negar informações para ocultar ou dissimular situações que possam dar margem a questionam entos e denúncias.
Para ampliar os horizontes de um levantam ento que, em bora bem feito, se limite pontualm ente a um único m om ento, é aconselhável, ao se planejar um recenseam ento, avaliar a com parabilidade de seus resultados com levantam entos an teriores da mesma população ou com o repertório de dados dispo nív el p a ra o c o n ju n to m ais abrangente da população ativa a nível d e m u n icíp io , e sta d o ou União. Ou seja, a comparação tem poral é indispensável para a p er cepção das tendências a que ob e dece a morfologia do corpo de ser vidores públicos, com o resultado conju gad o q u e é d e m ud anças mais globais do m ercado de traba lho, da escolarização, da m obilida de social e das políticas de pesso al que exprim em a capacidade de emprego e rem uneração do setor
15 - Assim, e n q u a n to os efetivos d e servidores d o b ro u (304.953 p a ra 608.912 p e s s o as), o p e rc e n tu a l fem inino em 1991 (60,5%) é p raticam en te o inverso d o verificado cm 1966 (39,2%). A p a rte d os q u e não tin h am in stru ção ou p o ssu íam s o m e n te o nível p ri
mário CAiU de 42,8% a 7,3%, enquanto os diplomados p o r ensino su p e rio r p a ssa ra m de
13,8% p a ra 'f8,3%, n o m esm o p erío d o . A p o p u laç ão do e stad o tam b ém d o b ro u , m an ten - do-se p o is a m esm a relação servidor/habitantes._____________________________________
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Recensar funcionários públicos: uma necessidadepúblico. Por exemplo, entre 1966 e 1991 a população de servidores estaduais de São Paulo tom ou-se m uito mais fem inina e escolari zada15, seja p o r força da expansão de serviços sociais, como educação e saúde, seja pela privatização, ou transferência para empresas públi cas, de atividades que ocupavam muita mão-de-obra masculina sem instrução (construção e conserva ção d e rodovias e ferrovias, obras públicas), entre outros fatores. Os principais blocos de informa ção em um censo dc servidores devem cobrir a co n d iç ã o fu n cio n a l e s itu a ç ã o p re v id e n c iá ria (forma e data de ingresso no ser viço público, vínculo de trabalho, cargo atual, rem uneração e van tagens, tem po de serviço, núm ero dc dependentes e respectiva rela ção de parentesco, entre outros) a q u a lific a çã o (escolaridade for mal, habilidades e capacitações específicas), e finalmente a q u a li d a d e d e vida (conforto em maté ria de transporte, moradia, alimen tação e saúde, lazer etc). Os dados de sexo, idade e local de nascimen to, por sua vez, dão os parâm etros básicos para um a caracterização dem o g ráfica. Esse conjunto bási co pode ser enriquecido com in dagações específicas a determ ina do órgão ou secretaria suscitadas p o r seu representante na equipe de planejam ento do censo. Basta que o questionário não fique ex cessivamente longo e que as infor mações solicitadas não existam cm outras fontes. Na hipótese de se
querer incluir no form ulário do censo muita minúcia e particula ridade setorial, talvez seja aconse lhável que se desenvolvam, à par te, pesquisas dirigidas.
Todas essas informações dizem res peito à pessoa do servidor. A auto ridade censitária não está, todavia, obrigada a respeitar este limite. Se forem introduzidas com habilidade e comedimento algumas perguntas sobre ocupação, escolarização e ren da dos p aren tes mais próxim os (cônjuge, pais e irmãos) será possí vel conhecer bem melhor a situação sócio-econômica do servidor. Apu- rar-se-ão assim a relevância dos co fres públicos como fonte de sua re ceita fam iliar e d e seu a m p aro previdcnciário e a importância que a máquina estatal assume como es paço dc existência e horizonte de destino para cada segmento social, comparativamente a outras alterna tivas de ganho da vida na esfera pri vada ou no trabalho autônomo. Bom senso em distinguir o que é mais ou menos im portante p e r guntar é um requisito dc todo tra balho de pesquisa não am ador. Conhecer e colocar com clareza e precisão o rol de alternativas de resposta para cada questão tam bém é um indicador de profissio nalismo e bom planejam ento de pesquisa. Para isso é preciso cora gem para discutir à exaustão a rele vância de cada pergunta. Em segui da, é necessário submeter o formu lário a lantos testes quanto neces sários, assegurando-se q u e seja
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José C arlos Durand / Ricardo Ernesto V. Beltrãotestado sobretudo na parte do uni verso que se imagina terá maior di ficuldade em responder (represen ta n te s d o s se g m e n to s m enos escolarizados do funcionalismo, que presumivelmente também apresen tarão menorfamiliaridade com pes quisas e maior carga de fantasias e receios infundados quanto aos pro pósitos de um censo determinado pela administração).
Tais cuidados garantem duas vir tudes fundam entais em qualquer q u e s tio n á r io : a c e rte z a da inteligibilidade de cada pergunta e a sua inserção adequada (ou seja, sua posição no interior de um mesm o assunto e a seqüência ló gica de assuntos). Essa ordem cos tum a ser visualmente identificada no questionário impresso através de bordas ou outros sinais que iso lam “cam pos”. Chamadas podem ser colocadas ao fim de cada “cam p o ” e ao início do subseqüente, de m odo a orientar o respondente a preenchê-lo ou a passar adiante, sem hesitar nem se perder. Embora pareça óbvio, é de todo re comendável lembrar que uma ques tão “fechada” (isto é, com alternati vas de resposta previstas), pode não se aplicar a um determinado caso (exemplo: perguntara data do con curso de ingresso a quem não o prestou). Nesse caso, é absoluta m ente obrigatório prever a alterna tiva “não se aplica”. A questão da forma de ingresso, embora delica da, precisa scr feila. Contorna-se o constrangim ento introduzindo a
alternativa “outros motivos” entre as formas de ingresso no funcionalis mo. Cria-se assim uma “válvula de escape" que permite identificar o volume e os espaços onde se encon tram os que entraram para a admi n istração p ú b lica p o r c rité rio s patrimo- nialistas. Cruzando-se es ses dados com os mandatos de pre feitos, governadores e presidentes, até que seria possível identificar os chefes políticos e partidos que mais uso vêm fazendo dessa “moeda política” que é o emprego no governo.
Pode acontecer tam bém que o ser vidor sim plesm ente não saiba o que lhe é indagado. Não saiba p o r que - p or exemplo - jamais foi esclarecido q u e se e n q u a d ra v a num a certa condição funcio nal segundo esta ou aquela lei ou p o r que sim plesm ente se esqueceu de um fato qualquer de sua biografia ocupacional, como o núm ero de meses de serviço m ilitar ou o ano de um eventual reingresso no ser viço público. A um a inflação m en sal de 30 a 50% quem se lem bra de q u a n to ganhava um ou dois meses atrás? Por isso, a alternativa “não sabe” precisa ser explicita m ente incluída. Assim tam bém a alternativa “zero”, quando cabível, deve ser prevista, como, p o r exem plo, para identificar servidores que não possuam n e n h u m filho ou d e p e n d e n te . Enfim, é se m p re bom ter em m ente que as respos tas “não”, “não sabe” e “não se apli ca” são diferentes entre si. Sua pre sença n o q u estio n ário é fu n d a
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Recensar funcionários públicos: uma necessidadem ental para evitar que perguntas voltem sem resposta e se preci sem introduzir a posteriori hipó teses e pressuposições para dar um
sentido para tais lacunas de
informação.
As recom endações contidas nos parágrafos acima não são propria m ente originais em matéria de téc nicas de pesquisa. Elas se aplicam a quaisquer pesquisas em que seja usado o questionário auto-aplica- do. Os profissionais de pesquisa social sabem que um questionário com perguntas claras, bem orde n a d a s , d ia n te d o q u a l o resp o n d e n te se m ovim ente sem esforço d e uma pergunta à seguin te e de um “cam po” a outro é meio cam inho andado para o êxito da coleta de informações. É ilusória a p resunção de q u e a autorid ad e pública consiga, sob a ameaça de suspender o pagamento de salário, o b ter respostas válidas e precisas com u m q u e s tio n á r io mal construído. Os respondentes rea gem a isso deixando cm branco o que podem , pois intuem que não devem levar a sério um trabalho que use ferram enta tão precária. O apelo coercitivo não é em si su
ficiente, embora tão côm odo e tão compatível com o autoritarism o arraigado em nossa cultura. Deve ser visto no máximo com o recur so de última instância, e substitu ído até onde for possível p o r um a argum entação franca c persuasiva (através de divulgação prévia do censo d entro e fora do circuito de trabalho) cm que se esclareçam as possíveis repercussões positivas que o funcionário terá responden do com cuidado e sinceridade. Por exem plo, a co n trib u ição q u e o s o m a tó rio d a s r e s p o s ta s d a rá como possibilidade para a adm i nistração planejar cargos e carrei ras, prever fluxo anual de aposen tadorias, estimar necessidades de reciclag em , re m a n e ja r te r r ito rialmente seus quadros etc. Um meio de tranqüilizar os resp o n dentes será certam ente alertá-lo para o caráter de retrato factual coletivo que o levantamento repre senta. Como seus resultados não p o d e m s e r d iv u lg a d o s com individualização do servidor (re quisito obedecido em todo rccen- seam ento), ele tam bém não pode ser tom ado como base para afir mação ou contestação de direitos de quem quer que seja.H Para isso
14 - É in te re s sa n te n o tar q u e , se n d o p ro d u to d o regim e a u to ritário , o d e cre to 58.297, d e 2/5/1966, q u e reg u lam en to u o c en so federal d e 1966, ao m esm o tem p o cm q u e g a ra n tia a n ão divulgação d e d ados q u e individualizassem o servidor, e stab elecia u m a cláu su la d e p u n iç ã o p a ra os q u e não levassem a sério o p re en c h im e n to : “Art. 4 o, p a rá grafo 2o: Em caso d e recusa, silêncio, sonegação, falsidade ou e m p reg o d e te rm o s evasi vos, irrev eren tes o u injuriosos, o servidor será p u n id o discip lin arm en te." N este caso, su sp e n d ia -se a g aran tia d e não identificação: "Art 7o: As inform ações p re stad a s p e lo serv id o r através d o B oletim Individual, excluídas as q u e se rão in co rp o ra d as ao cad astro d e p esso al, terã o c aráter confidencial, n ã o p o d e n d o se r o b je to d e divulgação q u e as individualize ou identifique. Parágrafo ú nico: O d isp o sto n a p a rte final d e ste a rtig o n ã o im p e d e q u e as inform ações sirvam d e c om provação p ara caracterizar a re sp o n sa b ilid ad e d o servidor, n o caso d o p arágrafo 2° d o artig o 4° d e ste D ecreto"._____________________
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José C arlos Durand / Ricardo Ernesto V. Beltrãoexiste o Cadastro Funcional e as formas burocraticam ente previstas de registrar, contar e comprovar tem po de serviço, vantagens etc. Lembre-se aqui que os institutos particulares de pesquisa de opi nião e mercado, que usualm ente trabalham para empresas privadas e não podem coagir ninguém a resp o n d e r a seus questionários, desenvolveram técnicas atrativas de e s tru tu ra r e ap resen tar suas perguntas.
C o n s id e r a ç õ e s f in a is
A s recom endações a , ago ,a m encionadas incidem sobretudo na fase de planejam ento do cen so. A experiência dos autores re vela q ue ela é chave para um tra balho bem feito. Muitas vezes, uma postura entusiasta, mas amadora, tende a quase reduzir a realização de um levantam ento dessa enver gadura à fase de aplicação do ques tionário. Ocorre que, uma vez que os recursos são escassos e, por se rem públicos, exigem que sua uti lização seja racional, parece mais interessante dedicar esforço con centrado nessa fase. Este esforço pode, p o r um lado, maximizar o uso de recursos potencialm ente disponíveis pela administração, e, por outro, minimizar as disfunções ou entraves previsíveis ao adequa do levantam ento de dados que se pretende. Ademais, o tempo gas to em planejam ento é mais do que
com pensado na fase de aplicação e análise dos resultados.
Antes de tudo, monte-se um a equi pe c o m p e ten te d e técnicos em administração pública, em particu lar da área de recursos hum anos. Um c u id a d o im p o r ta n te , p o r exemplo, é contar com servidores que, p o r experiência acum ulada na localização de cargos em comis são, constituem verdadeiros “car tórios vivos” de informações sobre cargos existentes, especialm ente os vagos. Essa equipe precisa ser e n riq u ecid a com m em bros das entid ades de representação dos funcionários (sindicatos e associ ações), das o rd en s e con selh os profissionais, de usuários de ser viços públicos, de representantes da c o m u n id a d e científica e d e movimentos civis em penhados em reduzir discriminação de m inori as em situações de trabalho. Assim se garantirá um clima aberto e d e mocrático e uma seleção mais se gura e relevante de aspectos a le vantar.
Em seguida, um a assessoria técni ca de pesquisa capaz de aju d ar essa equipe a avaliar as condições de construção, teste, pré-codifica- ção e aplicação do formulário, de m odo a estabelecer um plano de consistência que preveja ao máxi m o as re s p o s ta s p o s s ív e is e logicamente aceitáveis para cada questão. Esse plano será o d ocu m ento básico de que lançarão mão
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Recensar funcionários públicos: uma necessidadeos encarregados dc estabclcccr a am plitude de variação de cada va riável e o plano dc cruzamentos de que resultará a análise final. É cla ro que a assessoria propriam ente operacional de pesquisa não é aí suficiente, sen d o de todo reco m e n d á v e l a in c o rp o ra ç ã o d c dem ógrafos, sociólogos, eco n o mistas, estatísticos, profissionais de recursos hum anos, atuários e quantas especialidades mais forem n e c e s s á ria s a um d ia g n ó s tic o aprofundado. Só assim se conse guirá retrata r um a com unidade p ro fis s io n a l im p o rta n tís s im a com o a dos servidores, como so b re tu d o de aju d ar a d ecidir na definição de políticas de pessoal bem estruturadas e, conseqüente m ente, na qu alidade do serviço público.
Considere-se que um censo de ser vidores é um retrato dos recursos hum anos da máquina pública, sen do, portanto, um instrum ento útil para se trabalhar a partir da reali dade tal qual é. Neste sentido, o censo não c por si mesmo instru m e n to d e m u d an ças o rg an iz a cionais no aparato estatal; mas a qualidade desse instantâneo segu ram ente será um instrum ento indispensável para uma reforma administrativa democratizante.
B ib lio g r a f ia
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RSP
José C arlos Durand / Ricardo Ernesto V. BeltrãoGOVERNO 1X3 ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria de Econo mia e Planejamento. Departa m ento de Estatística. Censo dos servidores públicos esta duais, 1966. São Paulo, 1968.
R e s u m e n
RECENSEARA FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS: UNA NECESIDAD C o n o c e r el n ú m e ro d e los funcionários públicos, su estatuto fu n c io n a l y d e p re v is ió n , su capacitación su calidad de vida y características demográficas es una urgência en el Brasil de hoy. Raras han sido Ias iniciativas serias de recensear a funcionários en el país, en cualquier nível dei gobiem o. Estas no han sido usadas como instrum ento para diagnosticar los recursos hum anos de la máquina estatal y fundam entar propuestas d e refo rm a a d m in is tra tiv a . Aprovechando la experiencia que acum ularon al analizar los resul ta d o s d e i C en so d e los Funcionários dei Estado de São Paulo, realizado el 31 de octubre de 1991, los autores cuestionan Ias razones de esc desconocim iento y desinterés.
A b stra c t
CENSUS O F CIVIL SERVANTS: A NECESSITY
It isurgent now forBrazil to kn ow the num ber of civil servants it has, their type o f contract and pension plan, their qualification, standard o f living an d d e m o g r a p h ic characteristics. There have been very ra re s e rio u s a tte m p ts to census Brazilian civil servants on any levei ofgovem m ent. And those that have been carried out have not been used to analyze the hum an resources in the ad m in istrativ e machine or as a basis for proposals foran administrative reform. Using their experience in analysing the resu lis o f the São P aulo S tate S e rv an ts C e n su s, w h ich w as carried out on O ctober 31, 1991, lhe authors question lhe reasons for the lack of kowledge and the disinterest.
José Carlos Durand e Ricardo E rnesto V asqu ez B eltrão sã o p r o f e s s o r e s da E sc o la d e Administração de Empresas de São Paulo - EAESP/FGV.