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No mar neológico de Arthur de Salles navegam os regionalismos do Recôncavo Baiano

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Rua Barão de Geremoabo, nº147 - CEP: 40170-290 - Campus Universitário Ondina Salvador-BA Tel.: (71) 263 - 6256 – Site: http://www.ppgll.ufba.br - E-mail: pgletba@ufba.br

Rosinês de Jesus Duarte

No mar neológico de Arthur de Salles

navegam os regionalismos do Recôncavo

Baiano

Salvador

2007

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Rua Barão de Geremoabo, nº147 - CEP: 40170-290 - Campus Universitário Ondina Salvador-BA Tel.: (71) 263 - 6256 – Site: http://www.ppgll.ufba.br - E-mail: pgletba@ufba.br

Rosinês de Jesus Duarte

No mar neológico de Arthur de Salles

navegam os regionalismos do Recôncavo

Baiano

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, como requisito final para obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientadora: Célia Marques Telles

Salvador

2007

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Biblioteca Central Reitor Macêdo Costa – UFBA

D812 Duarte, Rosinês de Jesus.

No mar neológico de Arthur de Salles navegam os regionalismos do Recôncavo Baiano / Rosinês de Jesus Duarte. - 2007.

120 f.: il. + anexos.

Orientadora : Profª Drª Célia Marques Telles.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, 2007.

1. Salles, Arthur de, 1879-1952. 2. Análise do discurso literário. 3. Lexicologia. 4. Neologismos. 5. Regionalismos. 6. Vocabulário. I. Telles, Célia Marques. II. Universidade

Federal da Bahia. Instituto de Letras. III. Título.

CDU - 81’373.43

CDD - 412

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À minha mãe, simplesmente por ser quem é, dedico esta dissertação.

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À força que rege o meu mundo, ao maior exemplo de amor já conhecido na História: Jesus Cristo, o meu Deus, por restaurar minhas energias, por me fazer acreditar nas pessoas e por estar perto de mim, sempre, mesmo quando eu não percebia. Sempre, obrigada!

A Valdelice Santos de Jesus, minha mãe − “mulher Maravilha” −, exemplo de força, coragem e determinação; pelo apoio incondicional, pelas horas de trabalho dedicadas à manutenção da minha educação, por dividir ou, até mesmo, carregar a minha aflição, pelos cafés de manhã cedo, por me lembrar de comer, quando, por conta dos afazeres, eu esquecia de fazê-lo. Obrigada por ser quem é.

A minha querida “Pró Célia” que recebeu de seus bolsistas, no decorrer desses anos o título de “mãe acadêmica”, pelas horas de dedicação, pelos finais de semana consumidos na finalização deste trabalho, pela confiança depositada e pelo riso terno que me traz tranqüilidade.

A meu irmão mais velho, Robson, mais pai que irmão, pelos castigos educativos dados na minha infância, aqueles em que eu tinha que ficar horas descobrindo as faces das palavras no dicionário: olha no que deu! Pelo apoio moral e material que sempre me disponibilizou, muito obrigada.

A André, por trazer mais amor e serenidade à minha vida, pela paciência, por confiar na minha força quando nem eu mesma pensava tê-la e pela atenção empenhada em nossa relação. A minha amiga Lia, que está presente em minha vida desde 1996, pela sincera amizade e companheirismo, por compartilhar, sempre, as gargalhadas e as lágrimas.

A Ana Bicalho por ter compartilhado todas as etapas desse trabalho, desde a seleção, por ter dividido incertezas, força, ânimo. Chegamos ao final de uma etapa, espero compartilhar muitas outras, no decorrer dessa “cachaça”, denominada vida acadêmica.

A todos os meus amigos que me acompanharam nesta e noutras etapas, aqueles que, mesmo sem ter seu nome impresso aqui, sabem o quanto lhes sou grata, por compreender a minha ausência, o meu nervosismo, a minha angustia.

Aos meus colegas − novos e antigos − bolsistas do Programa de Crítica Textual: Malena, Camila, Lia, Ludmila, Ari, Nilzete, Laurete, Alessandra, Taciana, Manuela, Daniela e Fernanda por dividir tarefas, pela troca de experiências e pelas risadas; às Professoras Alícia Lose, Risonete Batista e Rosa Carvalho, pela disponibilidade em ajudar. A Ludmila e Amanda, em especial, pela solidariedade, por executarem tarefas que não eram da sua obrigação. A todos, muito obrigada!

Ao Fundo de Amparo à Pesquisa da Bahia (FAPESB), pela bolsa que me foi concedida, pois sem ela, tudo seria mais difícil.

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Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui. Percorri milhões de milhas antes de dormir. Eu não cochilei. Os mais belos montes escalei...

(7)

A manipulação do léxico pelo poeta Arthur de Salles foi o elemento causador desse trabalho. O freqüente uso de palavras incomuns ou mesmo estranhas aos dicionários é latente em sua obra. Isso levou a despertar para dois fatos lexicológicos que ainda não haviam sido estudados na escrita do poeta: os neologismos e os regionalismos. Esses dois fatos suscitaram várias questões de cunho extralingüiístico. Para alcançar esse objetivo, em primeiro lugar, é necessário dar uma notícia sobre o poeta e sobre a sua produção de temática regional e ainda sobre a sua correspondência, cujo léxico surpreendeu no que tange à freqüência de

neologismos. A partir disso, percebeu-se que tratar do léxico, ainda que seja relativo ao discurso individual de um autor, sem se remeter a comunidade em que ele está inserido, seria uma missão, no mínimo, incompleta. Sendo assim, se noticiou algo sobre o Recôncavo Baiano da primeira metade do século XX: suas cores, suas gentes, seus costumes, seus ritmos e tudo aquilo que era vivenciado na escrita de Arthur de Salles. O principal objetivo da presente dissertação é, pois, a elaboração de um vocabulário de neologismos e de

regionalismos, segundo o corpus estudado (a obra de temática regional do poeta e a sua correspondência a Durval de Moraes). Para tanto, fez-se um apanhado geral do referencial teórico que versava sobre a elaboração de obras lexicográficas, a fim de estabelecer um método para a feitura do vocabulário. Estruturou-se, por fim, o vocabulário, propriamente dito, com os comentários relativos a esses dois mundos: os regionalismos e os neologismos que, no caso da escrita de Arthur de Salles, se entrecruzam. Desse modo tem-se uma pertinente contribuição aos estudos lexicológicos e é claro, filológicos, pois tudo foi feito com o intuito único de manter a fidelidade e o amor ao texto escrito. Ao considerar que essa dissertação esteve pautada em probabilidades e não em certezas, chegou-se a um trabalho lexicográfico, a partir da observação da manipulação do léxico de um poeta. O estudo do léxico de Arthur de Salles teve como finalidade compreender o processo de criação lexical, estabelecendo-se a relação entre os neologismos e os regionalismos. Os regionalismos, em menor quantidade, navegam entre os neologismos, e muitas vezes aqueles se confundem com estes, por se tratarem de formas já pouco usadas hoje, ou de significação tão específica que só é possível saber-se o seu significado dentro do contexto. Por outro lado, há também os

neologismos que identificam claramente a cor local, o meio que o poeta eterniza através da criação de novas palavras. Confirmou-se, parcialmente, a hipótese inicial, pois se notou que o número de neologismos é superior ao de regionalismos, aparecendo sem receios nas cartas. Tem-se, desse modo, um mar de neologismos, pois foi encontrada uma quantidade considerável de formas neológicas, enquanto os regionalismos, mesmo que mais timidamente, navegam nesse mar.

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The lexicon manipulation by the poet Arthur de Sales was the causing element of this work. The frequent use of uncommon words or even strange to the dictionaries is latent in his work, which led to two lexical facts not yet studied in the poet’s writing: the neologism and the regionalism. These two facts brought many of extra-linguistic questions. For achieving such goal, first of all, it is necessary talk about the poet as well as about his regional thematic and correspondence, whose lexicon surprised the neologism frequent use. From this point on, it was realized that, dealing with the lexicon, although related to one author’s individual discourse, without pointing it to the community it is inserted in, it would be a mission, incomplete, in the minimum. Thus, the Recôncavo baiano of the first half of the 20th century was mentioned: its colors, its people, its habits, rhythm and everything that was lived in Atur de Salles’ writing. The main objective of this dissertation is to collaborate with a neologism and a regionalism vocabulary, according to the corpus studied (the poet’s regional thematic and his correspondence to Durval de Moraes). For so, a general study of the theoretical foundation about the lexicographic work elaboration was made so that a method for the vocabulary doing process could be established. After that, the vocabulary itself with the comments related to the two worlds was structured: the regionalisms and the neologism that, in Arthur de Sales’ writing, they intercrossed. We have a pertinent contribution to the lexicon studies and, obviously, to the philological ones, once everything was done aiming at keeping the fidelity and love to the written text. By considering that this dissertation was led on probability and not certainty, a lexicographic work was achieved, based on the observation and manipulation of a poet’s lexicon. Arhur de Salles’ lexicon study aimed at understanding the process of lexical creation, establishing the relation between neologism and regionalism. The regionalism, in smaller number, sails among the neologism, and many times the formers are confused with the latter, once they are forms rarely used nowadays, or of so specific meaning that only altogether the context it can be understood. On the other hand, there are those that clearly identify the local color, the means the poet eternizes through new words creation. The initial hypothesis was confirmed, once the number of neologism is superior to the regionalism, being very present in the letters. Thus, a sea of neologism is there, because a considerable quantity of neologic forms were found, even timidly, they sail in this sea.

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AND Andorinhas SALLES, Arthur de. Andorinhas. In: PEREIRA, Norma Suely da Silva. “Um Punhado de versos” e “paginas de

prosa” de Arthur de Salles (uma antologia). Salvador: UFBA/IL/ PPGLL, 2002. p. 119-20. Diss. de Mestrado orient. por Célia Marques Telles.

ANT [Anthero] SALLES, Arthur de. [Anthero]. In: ASSUNÇÃO, Lucidalva Correia. A Prosa inacabada de Arthur de Sallres: “Os

Rincões patrícios e outros escritos”. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1999. f. 158-62, doc. 0469. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

ASS O Assassino do Sol SALLES, Arthur de. O Assassino do Sol. In: TELES, Maria Dolores. A Obra dispersa de Arthur de Salles em “Nova

Revista”, “Bahia Illustrada” e “A Luva”: tentativa de edição crítica. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1998. f. 184-9. Diss. de Mestrado orient. por Célia Marques Telles.

BOI Os Boitatás SALLES, Arthur de. Os Boitatás. In: CARVALHO, Rosa Borges Santos. “Poemas do mar” de Arthur de Salles:

edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2001. f. 449-455. Tese de Doutorado orient. por Nilton Vasco da Gama.

CAB O cão de bordo SALLES, Arthur de. O cão de bordo. In: CARVALHO, Rosa Borges Santos. “Poemas do mar” de Arthur de Salles:

edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2001. f. 474-477. Tese de Doutorado orient. por Nilton Vasco da Gama.

CAM Canção de amor SALLES, Arthur de. Canção de amor. In: CARVALHO, Rosa Borges Santos. “Poemas do mar” de Arthur de Salles:

edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2001. f. 440-445. Tese de Doutorado orient. por Nilton Vasco da Gama.

CHO Choupanas SALLES, Arthur de. Choupanas. In: PEREIRA, Norma Suely da Silva. “Um Punhado de versos” e “paginas de prosa” de

Arthur de Salles (uma antologia). Salvador: UFBA/IL/ PPGLL, 2002. p. 102. Diss. de Mestrado orient. por Célia Marques Telles.

CMY Canção Mysteriosa SALLES, Arthur de. Flor do mar. In: ASSUNÇÃO, Lucidalva Correia. A Prosa inc]acabada de Arthur de Salles:

Os “Rincões patrícios” e outros escritos. Salvador: UFBA/ IL/PPGLL, 1999. Anexo 4. Diss. de Mestrado, orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

COQ Coqueiros SALLES, Arthur de. Coqueiros. In: CARVALHO, Rosa Borges Santos. “Poemas do mar” de Arthur de Salles:

edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2001. f. 598. Tese de Doutorado orient. por Nilton Vasco da Gama.

DOM1 O Dote de Mathilde (A) SALLES, Arthur de. O Dote de Mathilde. In: BALDWIN, Elisabeth. “O Dote de Mathilde”, conto de Arthur de Salles: proposta de edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1996 Diss. de Metsrado orient. por Nilton Vasco da Gama. Texto genético. Doc. 0147.

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Vasco da Gama. Texto genético. Doc. 0143.

DOM3 O Dote de Mathilde (C) SALLES, Arthur de. O Dote de Mathilde. In: BALDWIN, Elisabeth. “O Dote de Mathilde”, conto de Arthur de Salles: proposta de edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1996 Diss. de Metsrado orient. por Nilton Vasco da Gama. Texto genético. Doc. 0104, 0145, 0146, 0148, 0149, 0150, 0151, 0152, 0153, 0154.

DRU Dias ruraes SALLES, Arthur de. Poesias; 1901-1915. Bahia: s.n., 1920. p. 115-78.

ESP Espumas SALLES, Arthur de. Espumas. In: CARVALHO, Rosa

Borges Santos. “Poemas do mar” de Arthur de Salles:

edição crítico-genética e estudo. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2001. f. 584-86. Tese de Doutorado orient. por Nilton Vasco da Gama.

FLM Flor do mar SALLES, Arthur de. Flor do mar. In: ASSUNÇÃO, Lucidalva Correia. A Prosa inacabada de Arthur de Salles:

“Os Rincões patrícios e outros escritos”. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1999. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama. Anexo.

GED [Gedeão] SALLES, Arthur de. [Gedeão]. In: ASSUNÇÃO, Lucidalva Correia. A Prosa inacabada de Arthur de Salles: “Os

Rincões patrícios e outros escritos”. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1999. f. 146-7, doc. 0111. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

ITR Ilha da Trindade SALLES, Arthur de. Ilha da Trindade. In: TAVARES, Célia Goulart de Freitas. Alguns aspectos da prosa dispersa e

inédita de Arrthur de Salles. Salvador: UFBA/PGL, 1896. f. 74-9. Doc. 0079.

JOC João Capataz SALLES, Arthur de. [Jo]ão Capataz. In: TAVARES, Célia Goulart de Freitas. Alguns aspectos da prosa dispersa e

inédita de Arrthur de Salles. Salvador: UFBA/PGL, 1896. f. 58-62. Doc. 0101, 00897, 0088.

MAR Ao mar! SALLES, Arthur de. Ao Mar! In: TAVARES, Célia Go ulart

de Freitas. Alguns aspectos da prosa dispersa e inédita de

Arrthur de Salles. Salvador: UFBA/PGL, 1896. f. 92-4. MUL Os Mulungús SALLES, Arthur de. Os Mulungús. In: TELES, Maria

Dolores. A obra dispersa de Arthur de Salles em: “Nova

Revista”, “Bahia Illustrada” e “A Luva”; tentativa de edição crítica. Salvador: UFBA/PPGLL, 1998. f. 176-8.

PAM A Planta amarga SALLES, Arthur de. A Planta amarga. In: TELES, Maria Dolores. Valores lingüísticos e estilísticos do uso da

pontuação em Arthur de Salles. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2002. Tese de Doutorado orient. por Celia Marques Telles. Anexo, doc. 0051, 0087, 0093, 0094, 0096, 0097, 0098, 0108.

PAS Passé SALLES, Arthur de. Passé. In: TELES, Maria Dolores. A

obra dispersa de Arthur de Salles em: “Nova Revista”, “Bahia Illustrada” e “A Luva”; tentativa de edição crítica. Salvador: UFBA/PPGLL, 1998. f. 170-2.

RFO1 O Ramo da fogueira (prosa) SALLES, Arthur de. O Ramo da fogueira. In: REIS, Maria da Conceição Souza. “O Ramo da fogueira”, obra regional de

Arthur de Salles: proposta de edição crítica. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1996. f. 43-47. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

RFO2 O Ramo da fogueira SALLES, Arthur de. O Ramo da fogueira. In: REIS, Maria da Conceição Souza. “O Ramo da fogueira”, obra regional de

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edição crítica. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1996. f. 56-74. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.6. f. 56-76. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

RFO3 O Ramo da fogueira (mss.) SALLES, Arthur de. O Ramo da fogueira. In: REIS, Maria da Conceição Souza. “O Ramo da fogueira”, obra regional de

Arthur de Salles: proposta de edição crítica. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 1996. f. 77-78. Diss. de Mestrado orient. por Albertina Ribeiro da Gama.

SAM Samba LOSE 2004 f. 144-145

SMA Sangue-mau SALLES, Arthur de. Sangue-mau. Salvador: UFBA, 1982. p. 10-254. Ed. crítica sob a dir. de Nilton Vasco da Gama. SRO [Sancho Rodrigues] SALLES, Arthur de. [Sancho Rodrigues]. In: TELES, Maria

Dolores. A Peregrinação de Sancho Rodrigues. [no prelo] TAM O Triplo amor SALLES, Arthur de. O Triplo amor. In: TAVARES, Célia

Goulart de Freitas. Alguns aspectos da prosa dispersa e

inédita de Arrthur de Salles. Salvador: UFBA/PGL, 1896. f. 86-91.

ULB O Ultimo Bôbo SALLES, Arthur de. O Ultimo bôbo. In: TELES, Maria Dolores. Valores lingüísticos e estilísticos do uso da

pontuação em Arthur de Salles. Salvador: UFBA/IL/PPGLL, 2002. Tese de Doutorado orient. por Celia Marques Telles. Anexo, doc. 00599, 0095, 0113, 0096, 0110.

VSF Vila de S(ão) Francisco GAMA, Nilton Vasco da; VEIGA, Cláudio. Arthur de Salles

e o Dous de Julho. Salvador: ALB/UFBA/ CEC, 1993. p. 85-94.

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adv.− advérbio Ex. − exemplo exp. − expressão interj. − interjeição s.f. – substantivo feminino s.m. – substantivo masculino us. met. – uso metafórico v. int. − verbo intransitivo v. refl. − verbo reflexivo v. trans. − Verbo transitivo var.− variação

SÍMBOLOS UTILIZADOS NAS TRANSCRIÇÕES [↑] acréscimo na entrelinha superior

[↓] acréscimo na entrelinha inferior < > riscado

<†> ilegível

[sic] como está no manuscrito / \ Adição interlinear

(13)

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 O PERCURSO DA PESQUISA ... 13

1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ... 19

2 ARTHUR DE SALLES: A OBRA DE TEMÁTICA REGIONAL ... 21

2.1 O POETA ... 21

2.2 O CORPUS ... 23

2.2.1 A obra de temática regional ... 23

2.2.2 O que contam as cartas? ... 29

3 O LÉXICO COMO ELEMENTO CULTURAL ... 35

3.1 TERRAS, GENTES, RITMOS E COSTUMES DO RECÔNCAVO ... 35

3.2 LÉXICO E CULTURA ... 40

4 A CRIAÇÃO NEOLÓGICA ... 47

4.1 A NEOLOGIA FONOLÓGICA: NEOLOGISMO ONOMATOPAICO ... 52

4.2 O NEOLOGISMO SINTAGMÁTICO ... 54

4.3 O NEOLOGISMO SEMÂNTICO ... 56

5 NEOLOGISMOS E REGIONALISMOS NA OBRA DE TEMÁTICA REGIONAL E NA CORRESPONDÊNCIA DE ARTHUR DE SALLES 61 5.1 A FEITURA DO VOCABULÁRIO: DECISÕES METODOLÓGICAS ... 61

5.1.1 Dicionários de língua portuguesa: uma notícia ... 63

5.2 A METALINGUAGEM NA LEXICOGRAFIA: COMO FAZER? ... 67

5.3 PROBLEMÁTICA DA LEMATIZAÇÃO ... 71

5.3.1 O lema e a lematização ... 71

5.3.2 Polissemia e homonímia ... 71

5.3.3 Lexias complexas ... 74

5.3.4 Construção dos verbetes: a microestrutura do vocabulário de neologismos e de regionalismos 75 5.3.4.1 A definição ... 77

6 NO MAR NEOLÓGICO NAVEGAM OS REGIONALISMOS: O VOCABULÁRIO 80 6.1 OS NEOLOGISMOS ... 83

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REFERÊNCIAS ... 115 ANEXOS

I Arthur de Salles/ Ocaso no mar

II Os ritmos influenciam a criação de Salles (Doc 064:0295) III Carta que fala de Passé (Doc. 070: 0394)

IV Carta que fala do Recôncavo (Doc. 071: 0427)

V Pequeno dicionário de palavras e frases de Arthur de Salles VI Mapa do Recôncavo

VII Passé

VIII Escola Agrícola da Bahia

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O PERCURSO DA PESQUISA

O contato com a obra de Arthur de Salles permitiu observar um fato muito recorrente neste poeta: a peculiaridade com a qual ele utilizava o léxico. As dissertações e teses produzidas dentro do Grupo de Filologia Românica que estudam a obra do poeta, nunca deixam de tecer comentários sobre o seu vocabulário. Desenvolveu-se, então, uma curiosidade acerca do estudo lexicológico, resultando no primeiro trabalho como bolsista, intitulado No mar neológico de Arthur de Salles1(DUARTE, 2002), no qual foi feita a coleta

e a análise de alguns neologismos do poeta baiano em sua obra em verso, em prosa e na sua correspondência. Com este trabalho, percebeu-se que a incidência de neologismos na obra sallesiana era bastante relevante, por isso decidiu-se continuar pesquisando sobre o fato, agora delimitando o corpus: a análise seria feita apenas nas cartas do poeta ao amigo Durval de Moraes. Disso resultou outro trabalho intitulado Arthur de Salles: velhas cartas, novas

palavras2 (DUARTE, 2003). Assim, estava determinado o primeiro objeto de estudo no

vocabulário de Arthur de Salles.

A idéia de estudar os regionalismos originou-se, primeiramente, com a pesquisa da bolsista Malena Maria de Souza que também integrava a equipe. A partir da leitura da obra de temática regional e das dissertações e teses que tratavam deste assunto, fez ela uma análise de regionalismos em alguns textos de Salles, no trabalho O regionalismo na prosa de Arthur de

Salles (SOUZA, 2003), cogitando, inclusive, da possibilidade de aprofundar este estudo. Por isso, Malena Maria de Souza fez um esboço de anteprojeto tendo como objetivo o estudo de regionalismos. No entanto, este fora interrompido por causa da mudança da bolsista para Brasília. O anteprojeto, então, foi deixado nas gavetas. Não obstante, sendo o léxico o único domínio da língua que constitui um sistema aberto, no qual se tem liberdade de criação e de uso de determinadas formas em detrimento de outras, resolveu-se unir esses dois fatos lingüísticos, visto que, na ocasião da realização do trabalho sobre regionalismos, fazia-se,

1 Este trabalho foi apresentado no III Seminário Interno Estudantil de Pesquisa, realizado no Instituto de Letras

desta Universidade, em forma de comunicação e no XXI Seminário Estudantil de Pesquisa, em forma de pôster, ambos em 2002.

2 Apresentado no IV Seminário Interno Estudantil de Pesquisa e no XXII Seminário Estudantil de Pesquisa, em

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simultaneamente, o trabalho de análise de neologismos nas cartas e, percebeu-se que esses dois fatos tinham uma relação que precisaria ser examinada mais detalhadamente.

No mar neológico de Arthur de Salles navegam os regionalismos do Recôncavo Baiano

pretende embrenhar-se num mundo ainda pouco conhecido na obra do poeta: os neologismos e os regionalismos.

A produtividade lexical, de acordo com Rocha (1998, p. 43-44) pode ser dividida em seis partes, duas delas tratam diretamente das questões suscitadas neste trabalho. A primeira refere-se às palavras possíveis sob o ponto de vista das regras de formação de palavras e que podem ser postas em ação a qualquer momento em uma situação em uma conversa ou em textos escritos. No caso específico desse trabalho as palavras foram acionadas através da escrita de Arthur de Salles. A segunda, conforme explica Rocha (1998, p.44), refere-se às palavras reais, institucionalizadas, familiares a uma comunidade lingüística, mas não-dicionarizadas, por serem recém criadas. Essas palavras, entretanto, como lembra Rocha (1998, p. 44), “têm existência real para o grupo de falantes em que é utilizada”. Sob essa perspectiva pode-se pensar em alguns neologismos que identificam o Recôncavo sob algum aspecto ou os próprios regionalismos não registrados nos dicionários gerais. Completando um ciclo, tem-se ainda uma terceira parte da produtividade lexical que diz respeito às questões trazidas a lume neste trabalho, são aquelas palavras que, apesar de estarem dicionarizadas, não são conhecidas de uma comunidade lingüística, por serem arcaísmos ou por serem regionalismos, ou, ainda, por serem palavras restritas a um grupo de falantes (ROCHA, 1998, p. 44).

O objeto de estudo dessa pesquisa são textos ou discursos acabados ou ainda em processo de construção, muitas vezes interrompidos; o léxico − obra prima desse processo − se engendra em construções desfeitas e refeitas incansavelmente, sendo manipulado, até que o texto chegue ao que seria a vontade do autor.

De acordo com Fagundes Duarte (1993, p. 117), o texto em processo passa por alguns níveis de construção. O primeiro nível é o que se pode denominar paradigmático em que se vai riscando, acrescentando ou substituindo, à medida que se escreve, elementos das classes chamadas lexicais (substantivos, verbos, adjetivos e advérbios). O segundo nível diz respeito ao processo de reordenação gramatical. Aqui, explica Duarte (1993, p.118), o sujeito representador se ocupa dos signos morfológicos (artigos, preposições, pronomes e conjunções). No terceiro nível, acentua-se uma tendência produtiva em que as classes mais submetidas à transformação são todas lexicais. A fim de se entender como se dá a

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manipulação do léxico por Arthur de Salles, o centro de observação deste trabalho situa-se no primeiro nível e, por conseqüência, no terceiro.

O léxico-base pode ser considerado o primeiro elemento estilístico de um texto. Dessa maneira, essa pesquisa de cunho lexicológico e lexicográfico situa-se dentro de um dos objetivos da crítica textual que é explicitar o estilo do autor através de suas escolhas lexicais. Fagundes Duarte (1993, p. 133) conclui que fazer estilo resulta de possibilidades infinitas, pois o escritor tem sempre a possibilidade de criar novos signos a partir de elementos disponíveis no sistema. Sendo assim, o estudo dos elementos lexicais em Arthur de Salles não pretende traçar o seu estilo, mas sim verificar algumas possibilidades estilísticas utilizadas pelo poeta, especificamente, no que diz respeito á sua criatividade lexical: novos conteúdos ou novas expressões surgem a partir de variados processos possíveis na língua. No que tange aos regionalismos, o perfume, o jeito, as atividades do Recôncavo invadem a escrita do poeta que é conhecedor de uma literatura universal − fato ratificado em seus textos − porém se confessa um “batelão ronceiro”. É essa a matriz estilística que se pretende analisar aqui.

No primeiro gênero textual que compõe o corpus desta pesquisa – o texto literário – a palavra aparece enviesada, sem compromisso aparente com a realidade, no qual as metáforas e o ato de fingir são recorrentes e, aludindo à poética de Aristóteles (1981 [335a.C]), necessários. O segundo gênero são cartas, que descortinam a alma de quem o escreve; podem ser consideradas um documento, mas em algumas situações, constituem verdadeiros textos literários, pois a palavra faz-se também senhora desse gênero. Ao se falar das cartas estar-se-á adentrando na maneira de ver de um homem, que é também poeta: vê-se um Recôncavo e uma Cidade da Bahia retratada entre os anos de 1901 e 1940, da beleza do Recôncavo aos estragos causados pela guerra na Cidade da Bahia. Compromisso com a verdade? Talvez, são as impressões de um intelectual, falando a outro intelectual, são as suas verdades sobre uma região da Bahia. Essas impressões serão veiculadas através da palavra. A manipulação desse ser fugidio – o léxico – pelo poeta Arthur de Salles é o principal foco desse estudo.

Sendo o corpus dessa pesquisa a escrita de um autor, faz-se necessário também situar o ambiente literário e geográfico em que se insere o poeta. A análise da obra de Arthur de Salles revela-o regionalista, pois ele retira do seu ambiente a substância para grande parte de seus escritos.

Os escritores brasileiros, na direção do que diz Dorsa (2001, p.16), independentemente das influências geográficas, culturais e econômicas, foram marcados por traços que influenciaram a sua linguagem, costumes, vivências regionais, sua maneira de ser e de sentir.

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Nesse contexto, insere-se também a produção literária de Arthur de Salles, bem como sua correspondência: as marcas do Recôncavo observadas nos seus temas, nas suas personagens, e principalmente, na sua linguagem foram um dos dois focos desta pesquisa. Ao estudar as lexias de cunho regional, pretende-se ver o Recôncavo Baiano circunscrito na escrita de Salles.

Os textos de Salles foram publicados, em sua maioria, em jornais e revistas que circulavam na Cidade da Bahia na época. A proliferação de revistas literárias na Bahia é comentada por Broca (2004, p. 97). Ele esclarece Broca (2004, p. 97) que o 15 de novembro, ao transformar as províncias em estados, acabou sendo refletido também na literatura. Esse fato incentivou, em diversas partes do país, a formação de agremiações e movimentos culturais que procuravam colocar-se fora da órbita da metrópole. Na Bahia, podem-se citar dois exemplos: a fundação da Nova Cruzada (que chegou a constituir um dos movimentos literários mais consideráveis no estado), em 1901, a qual tem Arthur de Salles com um de seus membros fundadores e, mais tarde, em 1917, a fundação da Academia de Letras da Bahia inserem-se nesse contexto de busca por autonomia.

O poeta baiano faz-se artesão da palavra, a partir da realidade do Recôncavo, ele constrói novos significados, pondo no centro aquela palavra já esquecida pela população ribeirinha, já relegada à fala dos velhos pescadores, fazendo de sua escrita uma permanente fonte de recriação e reinauguração da linguagem daquele povo. O que se pode observar em exemplos como:

Andar no escuro, andar sem rumo como cego / babatando na vida!... Andar surdo, andar mudo. (SMA, p. 206, 441, v. 916)

Hoje mesmo vim á Villa deitar uma carta para ti. Aqui chegando, encontrei a tua de 13 com o trecho italiano do autor do “Il Piacere. (doc. 063:0258, L.3)

Dorsa (2001, p.17) salienta que o regionalismo entrou vigorosamente na literatura, com seu patrimônio de tradições e folclore, com uma paisagem presentificada através da flora, fauna, ritos, alimentos e tipologias humanas.

É importante estabelecer o lugar de Arthur de Salles na literatura regionalista. Ele não se insere no que Dorsa (2001, p. 17) denomina literatura nordestina, que se presentifica sob várias facetas: denúncia social, protestatória, caráter visionário e messiânico e sob várias visões: do cangaceiro rebelde, do itinerante das secas, da massa inculta explorada pelos poderosos, do homem resignado e passivo. A sua escrita passa-se, conforme esclarece o próprio Arthur de Salles, tudo “entre pescadores”. Veja-se o trecho da carta:

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– Sangue máo. Em meio veio a morte de meu velho e de novo parei. Destaquei desse assumpto um episodio – o Ramo da Fogueira – que te mandarei. É essa velha superstição de que o ramo da fogueira caindo para a porta é fathidico, indica a morte de alguém da casa. Este e outros assumptos <da> dariam com o nome de Romanceiro boas paginas regionaes. Estes dous pelo menos eu os darei. Tudo isto entre pescadores. E nada mais. (doc. 069-0371)

Pode-se dizer que é o regional dentro de um macro-regionalismo. Dentro do Nordeste, existe o Recôncavo da Bahia, no qual o mar é o protagonista e a gente que integra essa região são pescadores, suas esposas, seus filhos, seus netos. Por isso, a atmosfera que se instaura dentro do que se está denominando regional na obra do poeta Arthur de Salles é diferente do que tradicionalmente se tem considerado regional.

Biderman (2003, p. 61) ressalta que na ciência dicionarística contemporânea considera-se que uma palavra faz parte do patrimônio lexical da língua considera-se ela tiver sido usada num determinado número de vezes por diferentes falantes e tiver ocorrido em mais de um tipo de gênero. O léxico em Arthur de Salles, no entanto, não será analisado por esse viés, em primeiro lugar por se tratar de neologismos, os quais mesmo com a impossibilidade de atestar a sua paternidade por parte do poeta, não se conseguiu também atestar a existência da palavra em momento anterior aos textos analisados. Em segundo lugar, por conta dos regionalismos, alguns já estão inclusive dicionarizados, o que atesta o seu uso por falantes de algumas comunidades, outros são restritos, provavelmente, às comunidades ribeirinhas de que Arthur de Salles falava.

O estudo do léxico em Arthur de Salles tem como objetivo geral compreender o processo de criação lexical do autor e o uso de lexias regionais. A partir disso, estabeleceu-se a relação entre os neologismos e os regionalismos na obra de Arthur de Salles, tendo como resultado final, a elaboração de um Vocabulário de neologismos e de regionalismos, com lexias recolhidas a partir da obra de temática regional do poeta e da sua correspondência a Durval de Moraes (TELLES, 2006b, p. 57-59).

O corpus da pesquisa constitue-se da seguinte maneira3: Ribas nataes (Samba, Dias rurais, Canção do mar, Os boitatás, Choupanas, Coqueiros, Espumas, O cão de bordo); a coleção Rincões Patrícios (João Capataz, Ilha da Trindade, Passé, Os Mulungús, O Dote de

Matilde, A Vila de São Francisco, O assassino do sol, O triplo amor) e Romanceiro

(Sangue-mau e O ramo da Fogueira). Em paralelo à obra regional, fez-se o estudo do vocabulário nas cartas de Arthur de Salles a Durval de Moraes. Nas cartas, verifica-se, a partir do vocabulário, que o poeta exalta e admira a terra de seus avós e que assimilou as influências da cultura

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universal adquirida através de suas variadas leituras e do contato com a cultura literária de sua época.

Delimitado o corpus, fez-se a recolha dos prováveis neologismos e das lexias consideradas regionalismos. Após o fichamento de todas elas, fez-se uma consulta em alguns dicionários de língua portuguesa contemporâneos à produção literária de Arthur de Salles, como: Domingos Vieira (1873), Antônio de Moraes Silva (1922), Cândido de Figueiredo (1973) e Caldas Aulete (1968). Para o estudo das lexias regionais tem-se ainda o Dicionário

do folclore de Câmara Cascudo (1988) e O Léxico rural de Suzana Alice Cardoso e Carlota Silveira Ferreira (2000), além de outras obras que tratam desse assunto, principalmente na região do Nordeste brasileiro. A análise dos neologismos será feita a partir da teoria que fundamenta o estudo da criação lexical, tomando-se como base, inicialmente, os estudos sobre a teoria da criação lexical de Louis Guilbert (1975), seguido daqueles desenvolvidos por Ieda Maria Alves (1990), Nelly de Carvalho (1984),entre outros. Fala-se ainda, sobre os processos de formação de palavras correntes na língua portuguesa, tendo em vista que o autor os utiliza com muita propriedade. Segue-se a isso, a confecção do vocabulário de neologismos e regionalismos com o significado das palavras e o contexto em que aparecem na obra do poeta.

Dessa forma, a fim de determinar o seu status de inventividade. Pretende-se estudar o poeta Arthur de Salles, um poeta que se denomina parnasiano na forma, mas que, no que tange à manipulação do léxico, dá um salto em relação à sua época, estabelecendo uma maneira singular de escrever sobre a gente do Recôncavo ou mesmo sobre os assuntos ligados à literatura universal.

Tendo em vista o corpus desta pesquisa, faz-se necessário definir alguns tipos de neologismos, todos eles dentro da divisão maior que é de neologismo de forma e de neologismo semântico.

Ressalte-se que não se pretendeu aqui descrever a estrutura lexical dos textos selecionados, pois o léxico é um sistema aberto que permite ao falante, principalmente ao artista, inventar, ampliando o campo semântico de uma mesma lexia, dando-lhe novos significados.

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1.2 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A intenção de emaranhar-se pelo mar de neologismos e de regionalismos de Arthur de Salles suscitou a construção de sete capítulos, aí incluídas a introdução e a conclusão.

A Introdução apresenta a proposta da dissertação, as razões por que se escolheu o tema, o percurso seguido desde a iniciação científica. Divide-se em duas seções. A seção 1.1 O

percurso da pesquisa, após demonstrar como se chegou ao tema, apresenta os métodos aplicados para a feitura geral do trabalho (haverá um capítulo específico para a metodologia na organização do vocabulário) e a seção 1.2 Estrutura da Dissertação que apresenta a dissertação em termos gerais.

No capítulo Arthur de Salles: a obra de temática regional apresenta-se o poeta Arthur de Salles a partir de uma sucinta biografia. Na seção 2.1 O poeta, como o próprio título já informa, apresenta-se o poeta Arthur de Salles. Por sua vez, a seção 2.2 O Corpus desdobra-se em duas partes: 2.2.1 A obra de temática regional, onde se apresentam as obras que constituíram o corpus deste trabalho e, a última seção, 2.2.2 O que contam as cartas que apresenta os principais assuntos das cartas de Salles ao amigo Durval de Moraes.

O terceiro capítulo O léxico como elemento cultural compreende duas subdivisões: A seção 3.1 Terras, gentes e falares do Recôncavo em que se apresenta o Recôncavo Baiano na ótica de Salles: suas paisagens, sua população, seus ritmos e seus costumes. Dá-se uma atenção aos ritmos que constituem o Recôncavo contemporâneo ao poeta, o lundu e o samba serão explorados, pois se entende que esses elementos serão bastante pertinentes na construção do vocabulário das obras. A segunda e última seção 3.2 Léxico e cultura mostra como léxico exerce o lugar de testemunha de uma dada comunidade, possibilitando o conhecimento da mesma, e ainda ratifica a denominação de regionalismo, pois revela fatos da vivência de uma região isolada.

A criação neológica é o título dado ao quarto capítulo e apresenta três seções: 4.1 A

Neologia fonológica: neologismo onomatopaico em que discute a definição do neologismo fonológico, principalmente o onomatopaico, devido a sua incidência no corpus. 4.2 O

Neologismo sintagmático onde se apresentam a definição do neologismo sintagmático e os processos de formação de palavras compreendidos nessa classificação; 4.3 O Neologismo

semântico, última seção, que também traz definição, além da problemática que permeia essa classificação, por conta dos conceitos de analogia e de metáfora.

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O quinto capítulo Neologismos e regionalismos na obra de temática regional e na

correspondência de Arthur de Salles pretende tratar da feitura do vocabulário propriamente dito. Para isso, foi dividido em seções e algumas delas com desdobramentos. Na seção 5.1 A

feitura do vocabulário: decisões metodológicas apresenta-se, a partir de algumas obras lexicográficas e de referencial teórico sobre o assunto, quais foram as decisões tomadas para a elaboração do vocabulário. Essa seção é desdobrada em 5.1.1 Dicionários de língua

portuguesa: uma notícia, em que se faz um pequeno histórico dos dicionários de língua portuguesa. A seção 5.2 A Metalinguagem na Lexicografia: como fazer? explica o que constitui uma obra lexicográfica. A seção 5.3 Problemática da lematização desdobra-se em: 5.3.1 O lema e a lematização; 5.3.2 Polissemia e homonímia; 5.3.3 Lexias complexas e 5.3.4

Construção dos verbetes: a microestrutura do vocabulário de neologismos e de regionalismos, que, por sua vez, traz ainda um desdobramento, 5.3.4.1 A definição.

No capítulo No mar neológico navegam os regionalismos: o vocabulário, tecem-se alguns comentários acerca dos resultados obtidos e, finalmente, elenca-se o vocabulário de neologismos e de regionalismos. Este se divide em 6.1 Os neologismos; 6.2 Os regionalismos e 6.3 Sobre os resultados obtidos.

Em À Guisa de conclusão faz-se alguns comentários gerais, ainda não conclusivos, pois o trabalho com o léxico em Arthur de Salles acha-se num estado incipiente, no que tange ao estudo das lexias em si. Apresentam-se, apenas, algumas impressões e muitas inquietações que deverão ser trazidas à cena em outra ocasião.

Seguem-se as Referências; e os Anexos. Este será composto por: I Arthur de Salles/

Ocaso no mar; II Os ritmos influenciam a criação de Salles (Doc 064:0295); III Carta que

fala de Passé (Doc. 070: 0394); IV Carta que fala do Recôncavo (Doc. 071: 0427); V

Pequeno dicionário de palavras e frases de Arthur de Salles; VI Mapa do Recôncavo; VII

Passé; VIII Escola Agrícola da Bahia; IX ‘Acompanhamento’ em Maria Guarda.

Cabe mencionar, ainda, que a dissertação seguiu as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR-14724-2005, NBR 6027, NBR 10520 e NBR 6023), com algumas adaptações, quando necessárias, como, por exemplo, no que se refere às normas para citação pelo sistema autor-data.

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2 ARTHUR DE SALLES: A OBRA DE TEMÁTICA REGIONAL

2.1 O POETA

Em entrevista sobre a poesia de Arthur de Salles4, disse Agripino Grieco: "Se por acaso

toda a poesia brasileira se perdesse num naufrágio e só restasse Ocaso no mar5, um crítico

literário diria: ‘aqui viveu um grande povo’”. A partir da leitura de sua obra, pode-se ratificar essa afirmação. Nascido em 1879 na Freguesia de Nossa Senhora do Pilar − uma das áreas populacionais mais antigas de Salvador − Arthur de Salles escreve seus primeiros versos entre os doze e treze anos, conforme a sua auto-biografia:

“O poeta começou a versejar ai pelos 13 anos” (SALLES, 1981, p.54)

Dedica esses versos ao seu primeiro amor, como afirma em carta a Durval de Moraes:

É que nesta cidade estive eu dos doze aos quartoze [sic] annos. Ahi, tomado de grande fervor religioso instinctivamente, tornei-me o menino bahiano, o menino santo, como chamavam as beatas. Ahi fiz a primeira comunhão e tomei bentinho do Carmo num dia 16 de Julho.

(...)

A essa altura veio-me o primeiro verso, a primeira quadra truncada e com ella a primeira palpitação do coração, um como primeiro amor por uma companheira de escola de face corada que trocava comigo santinhos coloridos. Ó, os primeiros sorrisos, os brinquedos e as lagrimas de saudade da meninota corada e bonita, já na Bahia. Os versos que ainda lhe fiz!.. (doc. 070: 0397)

Homem de origem humilde viveu sua infância entre as pequenas localidades do Recôncavo, principalmente Passé, e a Cidade da Bahia. Passé é a pequena vila onde nasceu sua mãe e onde viveram e morreram seus avós maternos. De todas as localidades do Recôncavo, parece, confessadamente, ser a sua preferida:

Amo este pedaço de terra humilde e pobre, pátria de minha mãe e túmulo de meus avos. (PAS, L. 47-48)

É esse pequeno povoado de pescadores, situado no distrito de Candeias (região costeira ao nordeste do Recôncavo), o lugar que Arthur de Salles elege como principal ambiente de sua obra regional (TELLES, 2003, p. 414-415):

Alli diante o livro mysterioso e profundo da natureza aprendi a amar a liberdade e a poesia. (PAS, L. 51-52).

4 Cf. Entrevistas Manuscritas sobre Arthur de Salles 5 Poema de Arthur de Salles. Ver texto completo em anexo.

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Durante sua adolescência e juventude percorre as localidades e cidades do Recôncavo e a capital baiana. Aos 22 anos funda, junto com outros jovens intelectuais, a Associação de

Letras Nova Cruzada, com o objetivo de “combater o romantismo chorão da época”. Participa de várias revistas de grande circulação na Bahia. Foi bibliotecário da Escola Agrícola da Bahia, em 1908. Em 1911, foi nomeado professor do Curso Primário do Aprendizado Agrícola, anexo à Escola Agrícola da Bahia, sediado no Convento de Nossa Senhora das Brotas. Viveu, assim, por alguns anos na antiga Abadia Beneditina de Nossa Senhora das Brotas. O contato com as pequenas vilas e ilhotas do Recôncavo, além do contato com a capital baiana, fez de Arthur de Salles um admirador do autóctone, homem arraigado nas coisas de sua terra. Em carta a Durval de Moraes, Salles afirma:

Sou, digo sempre em casa, um batelão um pobre batelão ronceiro, cheio de gusano e bom para ficar ahi na praia, numa enseada onde não soprassem ventos fortes nem batessem vagas altas. Um batelão, ahi. Lá, em Passé, quando rapaz, conheci uma senhora de vida airada que após largo tempo na cidade voltava, ao torrão praieiro para refazer-se. “Vim reformar a barcaça” dizia ella alludindo a<†>/o\ seu alto corpanzil de mulata vistosa. (doc. 070: 0394, 04. 02. 1935)

Em 1917, foi membro fundador da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de número três. Em 1940, novamente Agripino Grieco em uma conferência no Instituto Geográfico e Histórico da Babia IGHB intilula Arthur de Salles o “Castro Alves de bronze”. A sua obra perpassa por três distintos períodos literários − o Parnasianismo, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, essas classificações, no entanto, lhes eram estranhas, pois o poeta classifica-se de diferentes maneiras no decorrer da sua produção poética:

Affonso Costa que ahi está, no Rio, disse-me que lhe mandasse producções para a Terra de Sol. Não mandei. Vejo que ella é futurista ou tem tendencias futuristas, o que não critico. Eu porem não sou futurista. Meu verso parnasiano não agradará aos srs. da Revista. Se ser parnasiano é guardar amor á forma e carinho na maneira de expressar-se eu sou parnasiano. (doc. 071: 0421)

Na mesma carta, o poeta afirma já usar o verso livre, antes da novidade promovida pelo modernismo e, afirma ainda ser adepto aos “rythmos novos do Brasil”:

O verso livre que eu utiliso tambem, e não de agora, o verso a Verhanren, a quem nenhum futurista que eu conheço igualou ainda, é um bello passo no mundo do rythmo. É o que vejo ahi pela revista... Quanto aos themas, os assumptos vejo a mesma cousa. No entanto se a critica litteraria andasse a par do movimento artistico do paiz, veria no Sombra Fecunda a mais bella tentativa de rythmos novos no Brasil, precedendo toda essa novidade já um pouco velha de Marinetti e outros. Que o verso não fique preso a canones, bem. Mas isto de cortar a syntaxe, de escrever telegraphicamente e fazer outros tantos malabarismos não. No entanto não critico, não posso criticar o que se seja do seu tempo. Futurismo, prosantismo, momentismo (ou instantismo como lhe chamo) deixará o que for bello, duravel, como as outras escolas. (doc. 071: 0421)

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Contudo, o poeta considerava-se “a cima das escolas, longe destas prisões literárias de antigamente”. Em 1949 é considerado sucessor de Durval de Moraes no “Principado dos Poetas Baianos”. Arthur de Salles vem a falecer em 1952, na mesma cidade onde nascera.

O poeta baiano Arthur de Salles, através de suas poesias que, na maioria das vezes, relatam sua paixão pelas coisas da terra, introduziu várias formas no léxico do português do Brasil, aqui classificadas como regionalismos e como neologismos.

2.2 O CORPUS

2.2.1 A obra de temática regional

O poeta Arthur de Salles não se fez regionalista, ou seja, o regionalismo latente em suas obras não é conseqüência de uma atitude literária premeditada, intencional como foi a dos artistas dos Movimentos Regionalistas do Nordeste, por exemplo. Na seqüência de Xavier Marques6, Arthur de Salles inaugura, portanto, essa temática no início do século XX. Em

1924 publica Sangue-mau que pode ser considerado sua maior manifestação regionalista, ele insere na literatura brasileira, uma região do Recôncavo Baiano, especificamente Passé; insere suas gentes, suas mulatas de carnes opulentas, seus pescadores, suas rodas de samba, suas crendices. Tudo isso sem uma intenção declarada, o poeta, imbuído da expressão do ambiente que lhe circundava, publica sua cultura de modo singular no seu fazer poético.

O regionalismo não está restrito aos fatores físicos e aos fenômenos sociais e econômicos de uma região. Segundo Dorsa (2001, p.13), sua definição vai além desses limites, ela se refere aos elementos da linguagem, aos costumes, aos cenários, à coesão existente entre os habitantes de uma região. É por isso que se faz tão pertinente o estudo do regionalismo na obra de Arthur de Salles. Sendo o léxico uma expressão cultural, podem-se caracterizar os elementos que constituem determinadas regiões do recôncavo a partir das lexias ditas regionais. Essas, muitas vezes são formas que já fazem parte do acervo lexical da

6 Francisco Xavier Marques é autor baiano que tem uma obra ficcionista representativa na área regionalista e

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língua, mas foram estigmatizadas e relegadas ao “uso familiar” ou “uso vulgar” como ressaltam os dicionários gerais.

Dorsa (2001, p. 14) afirma que o regionalismo foi decisivo na congregação dos valores da vida e cultura do homem brasileiro. Ela cita Coutinho (1988, p. 205) que salienta:

Não se põe em xeque a unidade do país. O regionalismo é um conjunto de retalhos que arma todo o nacional. É a verdade que se entremostra na unidade, na identidade de espírito, de sentimentos, de língua, de região. As regiões não dão lugar a literaturas isoladas, mas contribuem com suas diferenciações para a homogeneidade da paisagem literária do país.

Em Sangue-mau é o lugarejo de Passé que será a paisagem central para o amor de Saúna e Tereza. Esse romance é também rodeado de superstições do lugar e de festas regionais que até hoje se fazem presentes na vida do lugarejo. As lendas e superstições recorrentes na constituição do imaginário da população ribeirinha serão retomadas na obra de temática regional de Arthur de Salles. Em Sangue-mau, os elementos da Idade Média são revividos através do velho contador de história: Roldão, o Judeu errante, os trovadores etc. As expressões ligadas às superstições, são muito freqüentes na obra de Salles principalmente em Sangue-mau. Nesta obra o poeta canta em verso a superstição de que um indivíduo com sangue-mau é capaz de trazer grandes desgraças à vida do companheiro. As expressões são quase sempre ligadas à feitiçaria ou às crenças do local: maus-olhos, dormir com o diabo,

jogar o rasto no mar etc., como se vê na fala do velho Caieira:

Sangue-mau! ...o maior inimigo da gente. Sauna, há sangue-mau. Guarde isto bem no fundo da alma e do coração. Nunca duvide disto. Muito longo contar tudo que tenho visto

Dos efeitos fatais de sangue-mau no mundo (SMA, 30, v. 116-120, p. 117-118). [...]

Quem não conhece o mal dos maus-olhos? A inveja, cobra que ninguém vê, nossos passos rasteja

e os enche de peçonha invisível do atraso. Muita gente não crê, sorrir, faz pouco caso. No entanto, existe tudo isso.

Uhm! Não crer no feitiço...

Não crer no mal que chega e no bem que nos foge... (SMA, 32, v. 121-127, p. 118).

As lexias ligadas à sorte, ou à falta dela, são predominantes nesse poema, o vocábulo

rasto é unido a outros para formar expressões que denotam a perda de sorte. Na edição crítica desse poema, realizada por Nilton Vasco da Gama e pelo Grupo de Edição Crítica da Universidade Federal da Bahia, define-se rasto como “marca da vida de um individuo”. Dessa forma, a maioria das expressões ligadas ao destino terá rasto como lexia principal:

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Ah! meu rasto no mar. Minha sina perdida! A gente pensa que anda e não anda na vida!... Caminha, mas os pés da sorte estão peiados. Bem que eu sentia, estes meus pés pesados.

Apanharam meu rasto e jogaram no mar! (SMA, p. 194. 382, v. 785-787).

Em sua obra regional pode-se verificar o resultado do contato com a população ribeirinha, aliado ao notório conhecimento da Idade Média que se torna nítido pelo imaginário medieval que se faz presente na fala dos personagens mais velhos e é repassada aos personagens mais novos por via oral.

As qualificações de alguns personagens estão também plenas do imaginário medieval:

mouro, judeu errante e roldão do mar. Atestam a constante presença de personagens de dez longos séculos da história da humanidade na vida simples dos personagens de Arthur de Salles. As lendas, crendices e superstições da época medieval transgrediram as barreiras dos séculos e chegaram, muito vivas, naquele meio. Saúna − protagonista do romance

Sangue-mau − acusa a sua amada Tereza de ter o sangue mau e, por isso, lhe trazer tantos males, fez-lhe perder a saúde, os bens, a dignidade. Ele, para livrar-se da peste que acompanha o seu grande amor, prefere abandoná-la para, novamente, tornar-se o roldão do mar e recuperar sua canoa: a Conceição.

No poema regional O Ramo da Fogueira, a lenda da fogueira na noite de São João, cujas raízes remetem ao início do período cristão é retratada pelo poeta, remetendo, desta forma, a um suposto acontecimento que se solidificou com a transmissão hereditária através dos séculos. Ainda em O Ramo da Fogueira, o lendário de origem francesa aparece quando o rapazio sentava-se no “terreiro enluarado” do velho João Gamboa para que este contasse as suas histórias, como no diálogo entre Camilo e Gamboa:

Então, Velho Gamboa, esqueceu-se da história/ Que ficou de contar? (RFO2, 4, v. 1-2)

[...]

− Qual? A minha memória é memória de velho (RFO2, 6, v. 2-3) [...]

− É a mais segura. A sua

É viva como o mar e clara como a lua (RFO2, 8, v. 3-4) [...]

Não. Às vezes babata. E que querem vocês? Oitenta e dous lá vão, falta somente um mês. Mas que história foi essa? A dos pares da França?

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As lendas são contadas e passadas pelas gerações, através da memória do ancião, representado em diferentes textos, com os respectivos nomes Pereira, Gamboa e Geraldo (TELLES, 2003, p. 415). No entanto, percebe-se que nomes que constituem o ideário medieval são, na obra de Arthur de Salles, protagonistas das histórias dos velhos sábios.

O cenário de O Ramo da Fogueira se repete em O Dote de Matilde. Os símbolos da Idade Média povoam o imaginário dos personagens das duas obras: Carlos Magno, Os Pares de França, a Princesa Magalona. Neste conto, o personagem responsável por eternizar o imaginário medieval é o "velho Geraldo”, que, nas noites de sábado após o "offício cantado de Nossa Senhora" (DOM1, L. 3), narrava “a história de Carlos Magno, os lances dos doze pares, Floripes, os mouros” (DOM1, L. 9), “das tristezas da Imperatriz Porcina, os passos da princeza Magalona”(DOM3, L. 17-18). “A memória do velho despejava à memória e a imaginativa aberta dos moços...” (DOM1, L.10-11); os personagens das histórias que permearam a Idade Média embalavam as noites dos personagens de Arthur de Salles. O passado, que de tão mágico parecia ser ficção, era ouvido com muita atenção e respeito pela gente simples do Recôncavo:

Depois sempre nova e sempre desejada, fascinante como a sereia, a velha gesta carolorovingia7. Os corações jubilavam. As almas rudes iluminavam-se com os lances remotos, os recontros da gente guerreira do Imperador do Occidente. (DOM 2, L. 10-12)

Tendo ainda como pano de fundo o imaginário da população do Recôncavo, Salles escreve o texto Ao mar!, no qual o mar da costa escancelada de Passé é exaltado através da sua lembrança, que traz as figuras que construíram a mitologia do nosso país como Moema (Caramuru) e um represente do nacionalismo, Gonçalves Dias. Aqui o mar do lugarejo torna-se palco para que a mocidade baiana possa escrever a sua epopéia, a sua “Ilíada”.

Velho mar sereno e grandioso, sepulcro verde de Moema, tumulo de Gonçalves Dias, que já começa a sentir a pujança da pátria brasileira no domínio de tuas águas e onde ella há de escrever a Illiada de seu futuro, velho mar, abre passagem a essa gente moça bella, deixa passar, entre os sorrisos das tuas ondas e das tuas espumas, a flotinha galharda e ligeira da mocidade bahiana. (MAR, L. 68-74)

Vê-se, a partir da leitura desses textos sobre o mar, que, mesmo que o mar e a “riba fragosa” de Passé sejam descritos através de um vocabulário que denota o conhecimento do

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poeta acerca da literatura universal; o cheiro da terra, a vila escarpada, os pescadores, as superstições e as lendas sempre permeiam os textos.

Em Dias Rurais8, foram observados como temas principais: a paisagem do Recôncavo,

os costumes de moradores e a tradição religiosa que caracteriza a região. A coletânea está organizada da seguinte forma: Um poema introdutório, o pórtico – descrevendo a paisagem geral do local; Paisagem – descrição do ambiente que, pelas características relacionadas nas cartas, identifica o lugarejo de Passé. Depois, como se estivesse, a cada parte da coletânea, adentrando na cultura do povo do fundo da baía9, começa o conjunto de poemas intitulado Alma da casa, subdividido em Sub tegmine, Os Santos, Pão e Vinho, A música dos bilros,

Serão Heróico. Seguindo a ordem, tem-se o poema Manhã entre árvores; Pan Brazilio; A

Bruma; A Canicula; A Tarde; Dendezeiro; Alma de mulher; A lagoa; O Pavão e Noite de

Natal que se subdivide em: I. Evocação; II. Missa do Gallo; III. No Adro; IV Lundú.

Em Alma da Casa − constituído de cinco poemas − o poeta vai revelar a “alma da casa” dos moradores do Recôncavo. Inicia-se com um poema que fala da paisagem, situando a casinha da qual ele desvendará a alma; conduzindo o leitor para dentro da casa, serão mostrados os costumes religiosos, como os santos e sua força no altar da casa. Em Pão e

Vinho – terceiro poema − começa a se descobrir mais uma vez a influência do imaginário medieval – Carlos Magno e seus paladinos – e da literatura Universal – Dom Quixote – na construção e preservação de lendas que permeiam o local. Após a informação da literatura lida na casa, direciona-se para a atividade artesanal, bem característica da região. Faz-se isso no poema Música dos Bilros, no qual as escolhas lexicais do poeta vão comandar uma partitura ao som do instrumento de trabalho das rendeiras. Termina com Serão Heroico, que reproduz a batalha de Roland – sobrinho de Carlos Magno – reconfigurando, novamente, o imaginário medieval no ambiente regional.

Outra coletânea de poemas, Noite de Natal, irá revelar mais uma tradição cristã: o Natal. No primeiro poema, o poeta faz uma “Evocação” à tradição, exaltando a “simpleza” das pequeninas igrejas em lugar da pompa das grandes catedrais. Adentrando no espírito natalino, segue-se o poema Missa do Galo, no qual o poeta descreverá a consagração da Hóstia Sagrada, comparando-a à lua no esplendor do azul do céu. Lá fora, no adro, o profano, aos poucos, assume o lugar do religioso, ao ressoar o som do violão, que começa tímido no poema No Adro, tornando-se latente, ao se juntar com os tambores no poema Lundu.

8 Trata-se da terceira parte do livro Poesias (SALLES, 1920, p. 115-178)

9 Essa é a denominação dada para Recôncavo, por Kátia Mattoso (1992, p. 51). Ela, porém faz uma ressalva para

o Recôncavo baiano, pois esse abrange todas as terras adjacentes, ilhas e ilhotas, bem para além das praias, vales, várzeas e planaltos próximos ao mar.

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Em No Adro, ele descreve o início dos ruídos produzidos pela parte profana da festa. A festa chega ao ápice em Lundu, ultimo poema da coletânea. Nesse o ritmo da chula já aparece mais estridente ao ouvido do leitor, que é tomado pelo “rantamplan” dos tambores; há personagens que dançam ao ritmo do lundu, dentro da roda de samba:

Tombam, juncando o chão, que sôa alvoraçado No estrepitante rantamplan do sapateado. E a música estonteia e queima a sala inteira. E a tabarôa dansa, abre os braços, peneira...

(DRU, Lundu, v. 26)

O limite entre a construção poética e as cartas de Salles torna-se bastante tênue neste tema. O Natal, festa religiosa, que a tradição cristã incutiu em nossas raízes, é trazida a lume por Arthur de Salles também em correspondência. Veja-se um trecho da carta em que a luz do natal será o principal tema:

A noute está toda aromada. Natal na velha terra bahiana. O bailado, a viola desfazendo-se em choros tremulos, o violão, o pandeiro regendo os sambas ruidosos, a missa do gallo, as egrejinhas, as capellas, as ermidas regorgitantes, os presepios cheios de fructos e de flores que não são os lyrios de Jessé e as rosas de Saron, tudo aqui na velha terra como nos velhos tempos. Nada se alterou, nada perdeu aquelle encanto primitivo de antanho. (doc. 066: 0321)

Vê-se revelado neste trecho um costume cristalizado na Bahia, o de misturar o profano e o religioso. A Noite do Natal é a noite da Missa de Galo, mas é também a noite do samba e da viola. Nessa mesma carta o poeta reflete sobre a tradição cristã arraigada nos costumes da população ribeirinha do Recôncavo baiano, afirma ser o natal a tradição que mais se enraizou, para usar um termo do autor, “nacionalizando-se” e gerando lendas.

Pierre Verger (1999, p. 75) faz alusão ao circulo de festas em comemoração ao Nascimento de Jesus. Comenta o costume na Cidade da Bahia, afirmando que as famílias vão em grupo à Missa do Galo e, na volta, recomeça-se a festa, interrompida durante o oficio divino, e vai até à aurora nas ruas e nos bairros populares.

A parte profana dos festejos natalinos, como a maioria das festas do Recôncavo, era animada pelos sons dos tambores. De acordo com os estudos de Nélson Araújo (1985, p.63), o “samba duro” é a expressão mais significativa da cultura popular do Recôncavo, é também um samba de passos não desenvoltos, amarrados; ao contrário do samba de roda que tem uma coreografia mais livre. O samba de roda e o samba chulado são populares em São Francisco.

Os hábitos da população do Recôncavo são revelados não só na obra literária, como também em sua correspondência. Nesta carta, Salles fala da Cidade de Santo Amaro:

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Fugindo a atmosfera abafada a muito torpemente humana do casarão sombrio, eis-me em S. Amaro. É noute. A cidade adormeceu rezando, envolta na treva, com o rio ao pé quieto e claro, onde as canoas e os barcos estão como collados á margem. (doc. 062:0252)

2.2.2 O que contam as cartas?

As cartas, que segundo Gomes (2004a) possibilitam uma “escrita de si”, falarão sobre as localidades do Recôncavo por onde Arthur de Salles passou: Passé, Brotas, Vila de São Francisco, Candeias, Santo Amaro, Maragogipe. Além de falar da Cidade da Bahia, ou seja, de Salvador, com todo o seu florescimento cultural − do qual o poeta também participou −, de suas tristezas e de suas festas.

Segundo Gomes (2004a, p. 10), a escrita de si integra um conjunto de modalidades do que se convencionou chamar “produção de si” no mundo moderno ocidental. De certa forma, essa produção de si abriu as cortinas do “teatro de memória” do poeta Arthur de Salles, que, com suas cartas, redesenhou sua biografia. Gomes (2004a, p.12) assevera, ainda, que os argumentos que sustentam as práticas de uma escrita de si derivam tanto da assertiva sociológica de que todo o indivíduo é social, quanto do reconhecimento da radical singularidade de cada um. Essa singularidade traduz-se pela própria fragmentação do indivíduo e de suas memórias através do tempo, sem que isso torne falso o desejo de uma “unidade do eu” (GOMES, 2004a, p. 13).

A escrita de si é, ao mesmo tempo, constitutiva da identidade do seu autor e do texto, que se cria, fato que se dá através dessa modalidade de “produção do eu”. Sobre a correspondência privada, um dos objetos de estudo desse trabalho, Gomes (2004a, p. 21) diz:

Ou seja, a correspondência privada é, com freqüência, um espaço que acumula temas e informações, sem ordenação, sem finalização, sem hierarquização. Um espaço que estabelece uma narrativa plena de imagens e movimentos − exteriores e inferiores −, dinâmica e inconclusa como cenas de um filme ou de uma peça de teatro.

De acordo com Foucault (2004, p. 431) nos primeiros séculos da era cristã, a escrita já se tornara, e não cessa de assim se afirmar cada vez mais, um elemento do exercício de si. Sendo assim, o espaço da correspondência é o lugar do aparecimento de um sujeito desmascarado, pois a única avaliação a que ele estará sujeito é a do outro, aquele que guarda seus segredos, gozando, portanto, de sua plena confiança.

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No artigo Em família: a correspondência entre Oliveira Lima e Gilberto Freyre, Gomes (2004b) afirma que as cartas suscitam interesse e curiosidades gerais, principalmente aquelas entre intelectuais, não importando se têm caráter pessoal ou profissional. Ela afirma ainda que a correspondência de intelectuais é entendida e tratada como um elemento para iluminar a compreensão de suas obras. A correspondência, continua Gomes (2004b, p. 12), é um documento − uma fonte − para contextualizar sua produção, fornecendo informações sobre questões que têm a ver com a criação, a circulação e a recepção da obra. A correspondência passiva de Salles (entre ele e Durval de Moraes) transita entre o caráter pessoal e o profissional, podendo perceber-se a partir de sua leitura o quanto a tessitura do texto literário do poeta dependia da opinião do amigo Durval de Moraes (TELLES, 2006a; 2002). O estudo da correspondência de Salles ratifica o que diz Gomes (2004b), pois suas cartas são importantes fontes para a compreensão do seu fazer poético, da sua visão de mundo e dos fatos históricos e sociais do seu ambiente. Em uma das cartas, Arthur de Salles, afligido pelos efeitos da guerra, escreve a Durval de Moraes e, implicitamente, dá notícia do seu modus

scribendi:

Quiz tambem enviar pela bocca dos soldados a minha canção de guerra. Tracei-a, ajuntei para ella verbos rubros, <e> adjectivos como as espadas batalhadoras, substantivos rigidos como sabres espelhantes; por ella diria a esses brasileiros emasculados que me circundavam, que riem das derrotas da Belgica, das invasões da França, que batem palmas á victoria das Allemanhas, o meu sentimento indomado de brasileiro, de christão, e de humano. (doc. 067:0336)

Gomes (2004b, p. 51) assevera ainda que a correspondência pessoal entre intelectuais é um espaço revelador de suas idéias, de seus projetos, opiniões, interesses e sentimentos. Uma escrita de si que constitui e reconstitui suas identidades pessoais e profissionais no decurso da troca de cartas. Ela conclui que a correspondência, como parte da obra de um autor, assegura uma aproximação das formas de estruturação do campo intelectual em um dado momento e lugar, permitindo que se investigue de que maneira funciona esse “pequeno mundo” e de como se deve entender a própria noção de intelectual.

As datas e os locais das cartas são instrumentos valiosos, que permitem delimitar um ritmo próprio à correspondência, bem como refletir sobre suas razões e seus temas preferenciais, sejam eles mais intelectuais ou mais pessoais (GOMES, 2004b, p.52-53).

Desse modo, a cidade de Salvador é revelada nas cartas, deixando transparecer as constantes atividades do poeta na vida cultural da cidade. Salles fornece um panorama histórico-social de Salvador do primeiro quartel do século XX: a revolução, as suas demolições e as suas construções. É possível, ainda, através das cartas, conhecer os poetas

Referências

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