DEPARTAMENTo
DE
sERv1ço soc1AL
A
VIOLÊNCIA
CONTRA
CRIANÇAS
NO
UNIVERSO
FAMILIAR:
_UMA
REALIDADE
VIVENCIADA
zÂvffivflfffl tv»-à~ ~ Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao
Depaxtamento
de Serviço Socialda
Universi-dade
Federal de Santa Catanna, para a obten-_ ção
do
títulode
Assistente Social.e X
.° .0S*'
Ú
QÚ Ú€}>ct;.E:1GFÊ‹ëvlç..›o..1al
Marilúcia
Tamanini
Schauffertpara sua vida, e de seus filhos, procurou
sem-
pre
o caminho da
vida,do
amor,da
esperança,da
justiça ebondade
e, principalmente,da
crença
no
AMANHÃ
E
EM
DEUS.
E
a todas aquelas crianças, de todos ospovos
e raças,que
vivem
num
contexto de extrema vio-lência,
onde
seus companheiros são a miséria,o
abandono, as mais variadas formas de agressão,
que
ansiosas esperam,num
raio de esperança, a libertação de suas existências, tãomarcadas
e violentadasem
seus direitos.Se
o filho viver criticado, aprende a criticarSe
vivecom
hostilidade, aprende a brigarSe
vive envergonhado, aprende a se sentir culpadoSe
vivecom
tolerância, aprende a ser toleranteSe
vivecom
estímulo, aprende aconfiar
Se
vivecom
igualdade, aprende a ser justoSe
vive apreciado, aprende a apreciarSe
vivecom
segurança, aprende a ter féSe
vivecom
aprovação, aprende a querer-seNietzsche
"O
primeiro e indiscutível direitoda
criança éaquele
que
lhe permite expressar livremente su- as idéias etomar
parte ativano
debate concer- nente à apreciaçãoda
sua conduta etambém
na
punição...".Sendo porém,
permissivo demais,O
sol e a tempestadepodem
deformá-loÉ
tua lentetambém,
Pois pelo seu futuroPodes
ver teu passado..."Os
meus
sinceros agradecimentos a todos aquelesque
colabora- ram, contribuindo paramais
essacaminhada
vitoriosa, muitas vezes,com
os percalços e desabores,além
dosmomentos
de alegria e triunfo.Como
não
será possível amenção
de todos, agradeço especial- mente:'
A
DEUS,
pela vida, pelosmomentos
que
esteve presente, sendo "aquele arnigo", fontede
sabedoria,que
me
auxiliou nesta caminhada, sendomeu
refúgio eminha
fortaleza."A
ti, ÓDEUS,
glorificamos, a tidamos
louvor, pois o teunome
está perto, as tuas maravilhas o declaram". (Sahnos 75.1)
Aos meus
pais, Willard e Maria, pela existência, amor, dedicação,confiança
e coragem,que sempre
me
transmitiram. »Aos
meus
irmãos, Carlos e Cristiane, pela presença nosmomentos
dificeis e alegres eminhas
tias Lúcia eMiriam
pelo seu apoioyÀ
professora Marli Pahna, por sua dedicação, apoio e disponibili-dade
em
orientar-mena
elaboração deste trabalho.À
Assistente Social Lilian KeliRech
por ter-me supervisionado,acompanhando-me
com
carinho, dedicação, incentivo, amizade, contribuindo paraum
aprendizado constante, e por sua presença nesta etapa de crescirnento pessoal e profissional.Meu
muito obrigada!!À
Assistente SocialMaria
IsabelToledo
Osório Pereira, pela sua contribuiçãonos
primeirosmomentos,
pelacompreensão
e ccnfiança.da
Divisãoda
Criança edo
Adolescente -PMF, meu
muito obrigada pelo res-peito, apoio,
confiança
e respaldono
campo
de estágio etambém
pelo contri-buição para
meu
crescimento pessoal e profissional.A
todas as amigasda
turma,com
quem
compartilhamos esses quatro anosde
curso, poiscom
suas amizadesme
fizeram
crescer.E
acompa-
nheira
de
estágio Jane.Aos
funcionários,amigos do
CEC
Parqueda
Figueira: Elza, Bete,Josi, Lenira, Dora, Ivonete, Cristina, Neli, Amarilda, Lurdes, Vera, Marlene,
Salma, Paulinho, Adelar, Irma, Alexandre, Andréa, Jane, Cleuza, Célia, Valdi-
ra, Renata, Cida.
Obrigada
pelas experiências, incertezas, e estímuloscom-
partilhados nestes dois anos de amizade.
Aos
amigos: Ledenir, Rita, Iara, Leninha, Vilma, Zoê, Elizete,Mirian, Marisa, Lena, Arlete, Dione,
que
estiveramsempre
presentes.A
todas as crianças e suas respectivas famílias, usuáriasdo
Pro-grama
do
Centro deEducação Complementar
Parqueda
Figueira, poissomente
através de suas contribuições foi possível a realização deste trabalho.
Ao
Zenirto,Ondina
e Martinha, obrigada pelo apoio e disponibili- dade.E
a todos que, diretaou
indiretamente, cruzarammeu
caminho
em
direção a esta conquista. Obrigada.
INTRODUÇÃO
... ..9CAPÍTULO
11.
CONSIDERAÇÕES SOERE MAUS-TRATOs
NA
INFÁNCIA
E
ADO-
LESCÊNCIA
... .. 121.1.
Uma
Visão
Geral ePanorâmica da
Violência ... _. 121.2. Retrospectiva Histórica sobre Maus-tratos
na
Infância e Adolescên-cia ... .. 19
1.3.
Uma
Breve
Leitura SobreMaus-Tratos na
Ótica Jurista ... ..341.4. Violência Social Vitimizando Milhares de Crianças e Adolescentes....4l
1.5.
Maus-Tratos
no
Universo Familiar ... ..54CAPÍTULO
112.
UMA
LEITURA
DO
SERVIÇO
SOCIAL
FRENTE
PROBLEMATICA
A2.3. Apresentação e Análise dos
dados da
PesquisaCONSIDERAÇÕES
FINAIS
... .. ~sUGEsToEs
... ..REFERÊNCIAS
B1BL1oGRÁ1=1cAs
... ..ANExos
...O
presente trabalho é resultado deuma
caminhada que
percorre-mos
no
período demarço/94
a agosto/95,no
estágio curricular realizadono
Centro
de
Educação Complementar
Parque da
Figueira..
A
concretizaçãoda
realização deste trabalho de conclusão de cur-
so
somente
foi possível pela experiência vivenciada junto 'às famílias e' aoseducandos que foram
(e, muitos ainda são)usuários desteprograma
sócio-pedagógico.
O
objetivo principal destaprodução
é mostrar a prática confronta-da
com
a teoria, esclarecer algtms pontos referentes às questões de maus-tratospraticados
no
universo familiar.Na
realidade, a relações violentas entre pais e filhos,sempre
esti-veram
presentes, desde os primórdios, e aindana
atualidade persistem nasmais
variadas fonnas dedesamor
à infância e à adolescência, traduzindo-seem
maus-tratos,
tema
central deste trabalho.Mas
o que
nos instigou à realização desta produção foi resultadode inúmeras coisas
como:
as observações feitas nas instituição,no
comporta-mento
agressivo dos educandos, nas formas de tratamento desses paiscom
os filhos,que
muitas vezes presenciamos nos atendimentos realizados tanto àscrianças ,
como
familiares eo
próprio conhecirnentoda comunidade
edo
con-texto familiar
que
os usuários se encontravam,além
de constatarcomo
tema
Nosso
trabalho de conclusão de curso apresenta-seda
seguinte forma:No
primeiro capítulo discorremos primeiramente sobreuma
visãopanorâmica
e geral acercada
violência. Posteriormente faremosum
retrospec-tiva histórica sobre os maus-tratos, considerações desta temática sob
mn
ótica jurídica, enquantonegação
dos direitosda
criança edo
adolescentes,além
deenfocarmos
a violência social e relacionarmoscom
a situação atual da infânciae adolescência. Versaremos,
também,
sobre a questão dos maus-tratosno
uni- verso familiar.No
segundo
capítulo apresentaremos' a sistematização de nossaprática.
Tentaremos
fazer a relaçãoda
teoria apresentadano
capítulo anterior,com
os depoimentos, as falas e fatos colhidos atravésda
pesquisa realizadano
setor de Serviço Social,
do
CEC
Parque da
Figueira.Além
de tecermos sobre estealgumas
considerações.Finalmente, faremos algiunas considerações sobre o trabalho
numa
visão globalizante, tentando sintetizar oque
foi explanado detalhadamen-te.
Desta
fonna,esperamos
estar contribuindocom
a sistematizaçãoda
inter-veção
do
serviço social nesta instituição,bem
como
frente adada
problemática1.1.
Uma
Visão Geral
ePanorâmica
da
ViolênciaAconceituação do
tenno violênciaassume
facetas diversas, oque
dificulta a conceituação única desta temática, pela diversidade de perspectivas
que
apresenta.A
palavra violênciavem
do
latim - violentia - cujo elemento defi-nidor é a força vis.
Essa
forçatem
seu aspecto negativo,na
medida
em
que,essa agressividade "natural", passa
da
impulsionalidade de ação e iniciativaconstrutiva, para a atuação
ou aumentodescontrolado
dessa agressividade, tra-duzida então
em
violência.Segundo
Gil (apudAZEVEDO,
l985:17)"A
violênciapode
ser definidacomo
atos econdições
que
obstmem
o desabrochar espon- tâneo de potencialhumano
mato, a tendência -inerente a todo
o
ser humano...Podendo,
tam-bém
estabelecer e reforçar condições que pri-vam, exploram
eoprimem
os outros, eque
con-seqüentemente ,
obstmem
o seu desenvolvi-Como um
fenômeno
complexo,quando
falamosem
violência, a primeiraimagem
que
assume
é a expressa pela agressão.Agressão
fisica, psí-quica
ou
sexual,que
atinge diretamente ohomem,
-muitas-vezes naquiloque
ama.
É
tudoo que
fereou
interfere negativamentena
dignidadeda
pessoa hu-mana.
Violência,
poderiamos
colocarcomo
todas as formas de violaçãoda
vida,da
consciência,do
corpo, dos direitos fundamentaisdo
homem.
E
são todas essas circunstânciasou
situaçõesque
secolocam
como
obstáculo,como
relações de opressão,dominação
e poder.Segimdo
Odália (199l:89), as fonnas de violênciaassumem
'di-versas tipologias:
- Violência
Oculta
É
aquelaque
se traduzem
impedimento da
organização e manifes- tação das pessoas através dosmovimentos
populares, sindicatos e outros.- Violência
Promovida
É
originada pela própria estruturada
sociedade,onde
as relações sociais são decorrentesde
um
sistemabaseado na dominação
e exploração, nas relações antagônicas e individualistas, estimulando a competitividade, sendo este sistemao
próprio agente demanutenção
desta violência.- Violência
Divulgada
Esta se
dá
atravésda
midia (de todos os veículos de comunica- ção),que
objetivam desviar a atençãoda
população dos principais problemasque
nos afligem, etambém,
como
estratégia de retirar a responsabilidadedo
Estado,
quando
este éum
dos responsáveis.- Violência Silenciada
Diante das inúmeras injustiças que
acontecem
em
nossa sociedadeda manipulação do
Estado,que
tem
por trás de suas ações, a "domesticação",conseqüentemente
, a violação dos direitos fundamentaisda
pessoa.- Violência Política
Dá-se quando há
a luta de classe, a tortura, o distanciamento decondições
do
povo, paraque
estenão
decida, pelas formas democráticas, a construção de sua história.- Violência Social
(forma
genérica)~
O
preconceito,o
racismo, a divisão dos gêneros, os problemas de~
saúde, educação, habitação, migraçao, alimentação,
saneamento
básico,em-
prego. e outros são-fatos sociaisque
denigrem a pessoahumana, negando
o princípiodo
homem
poder
viverem
sociedade, através de condutasviolentas,
de
coação
eda
agressão, negando-lhe sua peculiar condiçãohumana.
- Violência
F
ísicaAbordaremos
a problemáticada
violência fisica contra crianças e adolescentes, jáque
se constigr›i{otema
central deste trabalho.De
todos os tipos de violência, aque
se destacacom
maior
clare-za é a agressão fisica,
mostrada
visivehnentecomo
marcas
e cicatrizes, junta-mente
com
comportamentos
característicosda
vítima de violência.`
Esta violência é a mais
complexa forma
de dominação,onde
nas relaçõesde
poder, prevalece a força fisica dos "adultos" sobre as crianças e adolescentes,além do
que, existe toda tuna ideologia e sua legitimaçãoque
considera as crianças
em
segimdo
plano,sem
a observância,nem
tão pouco,cumprimento
dos direitos frmdamentais,que
lhesforam
garantidos pela legisla-ção vigente. Prevalecendo a idéia de
que
a criança devesempre
obedecer,in-
dependente
do que
seja a "ordem", respeitar e submeter-se aos adultos,sendo
por
serem
seus pais, responsáveis,com
grau de parentescoou
não.Tudo
istovem
traduzindo-se neste tão constante e conhecido fe-nômeno,
presenteem
todos ossegmentos da
sociedade.Apresentando-se esta agressividade,
que
é inerente a pessoa hu-mana,
permitindo-lhemanter
vivo e defender-se, transformando-se, muitas ve-zes,
em
armas
mortíferas, utilizando-se contra si e contra os "outros", provoca-da
porinúmeros
fatores.Onde,
"a história
tem
nosmostrado
ohomem
sucubin-do
a toda sorte de crueldades e massacres, in-dicando aí
mn
fracassono
desenvolvimento decomportamentos que
possam
controlar a des-tmtividade.
Nos
momentos
de crise socialhá
um
incremento dessa destmtividade.Nessas
circunstâncias, condições sobiais adversas, ca- racterizadas pela miséria, desemprego, fome,
falta de perspectivas, etc., se
combinam,
numa
alquimia mortífera,
com
as naturais pulsões agressivosdo
homem.
O
resultado éum
aumen-
toda
agressividade". (Steiner et alii, l986:3)E
é assimque o
homem,
com
suas pulsões agressivas,com
ornisto de
poder
e desejo,acaba
gerando as formas mais intensas e perversas deviolência, despindo-se
do
“homem
civilizado", incorporando-se e,tomando
uma
"nova
roupagem",do
homem
prirnitivo",com
seusmodelos
primitivos deexistência e relações, incapaz de controlar seus impulsos, seus
medos,
suas frustrações, "seu desejo de destruir o inimigo oculto".Viver
em
sociedadesempre
foiuma
experiênciacom
violência.Por mais que recuemos no
tempo, a violência estásempre
presente.Com
o decorrerda
história,podemos
observarque ganha
novas formas,não sendo
maisutilizada para a sobrevivência,assumindo
formas sutis,or-ganizar
em
sociedade, exercendo o princípioda
dominação, deum
grupo sobreo
outroou
a subjugaçãoda
natureza.Na
realidade, esta violência passa a seruma
experiência na socie- dade,no
macrossistema, nas relações interpessoais,onde
essas formas sutis deviolência
não
apenas atingem o aspecto fisicodo
homem,
mas
transcendem, atingindo-oem
suadimensão
cultural, política, econômica, psicológica, ética ereligiosa.
A
violência éuma
das formasde manutenção extema
da agressi- vidade naturaldo
homem,
contudonão
ésomente provocada
por fatores orgâ- nicos,mas também
por circunstâncias exterioresque o
estimulam."A
existênciada
agressividade, tanto dentro denós
como
fora,no meio
social, éalguma
coisaque não
podemos
negar. Essa agressividadeextema
é resultante das projeções dos nossosimpulsos destrutivos para fora, e
da forma
como
eles se estruturam, sob os diferentes tiposde organização social e principio que,
num
dado
momento
histórico, regulam as interaçõesentre os
homens".
(Steiner et alii, 1986:O1)O
comportamento
agressivo depende,em
grande parte, dosme-
canismos psicológicos e fisicos,
mas
depende
também
dos condicionamentossociais, políticos,
econômicos
e culturais aos quais se encontram submetidosos
homens.
Existe
um
constante"intercâmbio entre o indivíduo e o meio, entre
o
interior e o exterior, e a personalidade se cons-
trói
como
resultado desta relação dialética,obedecendo
um
processo de desenvolvimento.Este uso positivo
da
agressividade enão
nega-de-pende, entretanto, das vicissitudes
do
processo de desenvolvimentoda
criança.Depende
da
série complementar, da interação
que
se estabe-leceu entre as condições internas
da
criançacom
as condiçõesextemas
que omeio
lhe ofe- receu". (Steiner et alii, 1986:02)Na
verdade, toda a violência é social, entretanto certos atos vio- lentos atingem minoriasou
certos segmentosda
sociedade,como
as classesmenos
favorecidas.Em
tennos concretos, se faz necessáriouma
reflexão
críti-ca dessa temática "violência", pois antes de falar sobre a violência contra a in-
fância, sobre
o
aumento
da
violência interpessoal,temos que
fazerum
resgate a esta violência social,que
se refletecomo
um
dos fatoresque
podem
originar esses atos de violênciano
âmbito pessoal.Sabe-se
que
a causa "desta violência social", que se constituinuma
questão muito complexa, é oriunda de múltiplos fatores, perpassada pela questão dos direitos e das políticas sociais,do não
exercício da cidadania, pela existência das injustiças sociais, pela relaçãoda
má
distribuição de renda, contribuindocom
a concentraçãodo
poder e das riquezas nasmãos
de Lunapequena
parcelada
população,além
denão
possuirmosuma
consciência polí-tica e solidária, por que? Porque,
há
a relaçãocom
a questãoda
renda,da
ex-clusão social
da
passividade e complacênciado
Estado, dos direitos e deveres (cidadania),da
inexistência e praticabilidade das políticas sociais,da
educa-ção,
da
legitirnação,do que
está posto; dos interesseseconômicos
e políticos daquelesque
são os detentoresdo poder
edo
capital (quecondicionam
milha-res a
viverem
em
condições subumanas),mas
além
desses e muitos outros fato-res sócio-econômico-político e culturais, a questão passa
também
pela visãoque possuímos do
outro, enquanto pessoa e cidadão.Steiner coloca que,
quando
"a capacidade empática diantedo
ou-humanas.
A
necessidade, estimulada sociahnente, preside a sede de ultrapassaro outro,
de
eliminar o concorrente". (1986: 3)Infelizrnente, estamos cercados pela violência, e
como
agravantedessa situação, entra
em
cena a nossa permissividade social,que
a incorpora a seu cotidiano, de maneiraque
jánão
nos espantamos,quando vemos,
ouvimos,lemos
acerca dessa temática.Essa
violêncianão
é privilégio dos grandes cen-tros urbanos,
mas
nestes aparececom
muitomais
intensidade.Há
vários fato-res
como: o tamanho da
cidade e das instituições, o processo demodemização,
a situação
de
crise social,o
stress contemporâneo,que levam
o indivíduo aocompleto
anonimato, ao estabelecirnento de relações irnpessoais coisificadas eautomatizadas.
Da
combinação
destes elementosda
vida socialcom
as condi- ções internas, mentaisdos
indivíduos, se origina este quadro terrível de vio- lênciaque
estarnos vivendo,com
a agressão nas formas mais primitivasdo
comportamento humano.
Apesar
de tudo isto, muitas vezes negarnos,ou não fazemos
casoalgum,
ou
aindatemos
dificuldadesem
aceitarque temos
algumas investidas agressivas, capazes de praticar ações agressivas contra outros sereshumanos.
Mas
dificil,no
meu
entender, se faz aceitaro
fato deque
essa agressividadeseja voltada à infância e adolescência. Seres indefesos, que
procuram
e ne- cessitamde
proteção e amor,mas
que
muitas vezesrecebem
como
resposta desta busca, o abandono,o
Ódio, os maus-tratos, a violênciaem
toda a suaforma mais
generalizada.Se
observarmos, os animaispodem
ser levados a conter seus filho-tes,
chegando
em
certas circunstâncias a comê-los,porém
é dificil visualizar-mos
surfando sua cria até matá-la.Muitos
tomam-se
mais irracionais que os próprios animais, principahnente depois de praticaruma
das piores formas de violência contra os sereshumanos:
a violência praticada contra as crianças, e,principahnente, a violência doméstica, aquela que é exercida pelos próprios responsáveis
ou
pais contra os seus filhos.Como
estratégia dedesvendannos
essa questão-dos maus-tratos,da
violência entre pais. contra filhos, faremosum
breve resgate histórico sobreo
assunto, para amelhor compreensão
desta temática, ainda que haja a dificul-dade de
publicações, visto ainda ser hoje consideradocomo
tabu,como
"casode
polícia" enão
como
caso social.1.2. Retrospectiva Histórica
sobre Maus-tratos
na
Infância e`
Adolescência
i' A `
A
V ` ' '
Apesar de
ser dificil traçaruma
trajetória histórica desta temática,pode-se perceber
que
a questãodo
mau-tratona
infância e adolescência, se faz presentedesde
ostempos mais
remotos.'Em
todos ostempos
e civilizações, ainfância
nunca
esteveno
centro das preocupações e dos interesses sociais.Quanto
mais se retrocedeno
tempo,
pouco
verificamos
a eficácia e interessesna
relação entre pais e filhos,onde
as necessidades básicas das criançaseram
(e ainda continuam) renegadasa
segtmdo
plano, negando-lhe os direitos fundarnentais, furtando-lhes o direitoà infância e adolescência, descartando-as, expondo-as à morte violenta, ao
abandono,
aos espancamentos, ao terror fisico, psicológico e sexual.Ariés (l981:27),
afirma
que o
surgimentoda
infância aconteceu por voltado
século XIII e sua evoluçãopode
seracompanhada
na
históriada
arte e
da
iconografia. (relacionadacom
jogos infantis ecom
a própria questãoda
"pedagogia") dos séculosXV
eXVI,
concluindoque
os seus resultadosmais
significativos;onde
aparece amudança
da concepção
de infância pelosCom
a difusãoda
religião,com
o desenvolvimentoda
burguesia e das ciências empíricas, estasnovas
concepções sobreviveram, auxiliadas tam-bém
pelos pedagogos, moralistas, e eclesiásticosdo
séculoXVIII onde
inova-ram
com
o
estabelecimento dos princípiosda
"fragilidade eda
inocência in-fanti1", ainda
pregando
a segregaçãoda
criançado
mundo
adulto, colocando ainfância
num
pedestal, acreditando ser preciso preserva-la e disciplina-la.A
partir de então, a educação,
além da
transmissãodo
saber, passou a ser a dis-ciplinar, aparecendo
como
uma
linha mestrado
processo de socializaçãoda
criança, originando a
fonna
tirânica das relações familiares,onde
a disciplina confunde-secom
os "maus-tratos corretivos".flf
"É na fonnação da
família burguesa das classesem
ascensão quepor volta de
meados
do
século XVIII, a criança passa a ser o centrodo
univer-so familiar.
O
sentimento pela infância é, portanto, relativamente recenteem
nossa
história". (Orlandi, 1985238) -Segundo o pensamento
de Orlandi, apesar de ter ocorridouma
melhoria
na
situaçãoda
infância,no
decorrer dos últimos séculos,com
o sur- gimento das teorias relacionadas à questão de orientação infantil,da
criação deligas
de
Proteção à infância, juntamentecom
afonnação
e evoluçãodo
EstadoModemo,
interferindo e influenciando nas relações entre educadores e alunos, entre pais e filhos, elaborando leis,onde
com
o
auxílio de diversos profissio- naisque
atuavam
diretamente nas famílias, contribuindo paraque
os filhos fos-sem
colocadosno
centro das relações cotidianas e familiares, ainda assim, as criançascontinuam
sobrevivendo,em
sua maioria,no
abandono,na
miséria, sofrendocom
a fome,com
a falta de acesso aos serviços básicos de atendimen- to às necessidades básicas,permeada
pelos atos e relações violentas, provoca-dos
pelos ditos "adultos".Também
colocaque
essas transformações sofridassimultanea-mente
com
amodificação
dasconcepções
das crianças e adolescentes, marca- das pela violência,em
todas as formas de agressão.É
a partirdo
séculoXIX
que
se iniciauma
tentativa de"preocuÉç;í`ro"
com
a criança, passando a ser vistacomo
uma
pessoa,que
pos- suía valor e sentimentos, necessitando de cuidados especiais, devidoa sua condição peculiar de
um
serem
desenvolvimento.Porém,
é apenasno
séculoXX
que
esta temática passa a ser pesquisada por diversos profissionais, eque
hoje constitui-senum
maior
envolvimento de inúmeraspessoas, pertencentes a todos os
segmentos da
sociedade.V Na-
realidade, a história nos leva a
comprovar
que a violência pra- ticada contra a criançanão
éum
fato novo, estando presente nos grupos sociais primitivoscomo
contemporâneos,nem
tãopouco
como
fato isolado,
mas
são relacionados ao contexto sócio-econômico-político-cultural,na
qual estão in- seridas,com
o aumento cada
vezmaior do
número
decrianças maltratadas, exploradas, desprezadas, vítirnas
da
miséria, das relações violentas dos"adultos", pérsistindo até hoje o abandono, o trabalho escravo e excessivo, a violência fisica/psicológica/sexual,
o
filicídio, entre outros."Encontramos
o filicídiono
ritualdo
sacrificiode crianças para propiciar boas colheitas;
no
sacrificiodo
filhoem
proldo
povo, realizado pelos reis semitasda
Ásia Ocidentalem
mo-
mentos
de perigo;no
sacrificio generalizadodos filhos, praticado pelos fenícios
em
tempos
de grande calamidade,como
a peste, a seca,o
que
os levava a sacrificar pessoas queridasem
honra a Baal;na queima
de criançasem
honra a Baalou Moloch,
praticada entre os cananeus;no
rnito grego,com
Cronos devorando
seus fi-lhos recém-nascidos, para
não
ser destronado porum
deles;na
Bíblia,quando
é narrada a deterrninaçãodo
Faraó de jogarno
rio todos osMoisés.
Há
uma
repetição desse processoem
relação aos primogênitos egípcios,no
Exodo
ena
Matança
das crianças nascidasem
Belém,
ordenada por
Herodes
em
perseguição a Jesus". (Steiner et alii, 1986: 05)E
ainda hoje, encontramos o filicídio, nos episódios e notícias mostradas pela rnídia,como
fatos isolados, fragmentados,do
contextoem
que
estão inseridos.
Orlandi,
ao
citarMause,
afirma
que o
infanticídio de filhos legíti-mos
e ilegítimos era praticadonormalmente na
Grécia eem
Roma,
na
Idade Antiga, e estecostume homicida
continuou até o iníciodo
séculoXIX,
nos paí- ses europeus,porém
com
a redução nos filhos legítimos, acontecendo de diver- sas formas,onde
as criançaseram
deixadasem
valesou
esterqueiras; fechadasnos
interioresde
vasos;abandonadas
à beira de estradas, de caminhos,em
montes, a portas de instituições religiosas, entre outras formas cruéis e desu-manas.
Ainda, se a criança
não
fosse perfeitaconfonne
os padrões sociais estabelecidos, se chorasse demaisou
ainda pouco, se tivessealgum problema
de qualquer ordem, provavelmente seria morta.Na
IdadeMédia,
o hábitoou
trabalho das amas-de-leitenada
maisera
do que
uma
forma
para as farnílias eliminar seus filhos."Na
Europa,no
século passado, existiam "aldeias de amas-de-leite infanticidas", paraonde
mães
enviavam
seus filhos pequenos, afim
deque fossem
eliminados de várias formas.As
nutrizes mercenáriasprovocavam
a morte das crianças, dando-lhes decomer
algoque
provocava
"convulsõesno estômago ou
intesti-no",
ou
misturando gessono
leite para provocar o entupimento das entranhas". (Orlandi,Segimdo
Badinter,na
Europa, era freqüente a entrega de criançasdesde
a tenra idade àsamas
paraque
as criassem e paraque
voltassem ao lar,depois de
completarem
cinco anos. Este hábito inicialmente era privilégio das famílias aristocratas, depois generalizou-seno
século XVIII,quando chegou
a ocorrer mira escassez de amas, estendendo-se a todas ascamadas
sociais, ori- ginando urnaforma
deabandono
tãocomum
à época, realizada pelos pais, de-monstrando
assimuma
prática de desarnor e violência.O
abandono,como
forma
de violência praticada contra a criança,sempre
existiu desde os primórdios e, infelizmente,permanece
até os dias atu-ais.
Guerra
colocaque
osexemplos
são registrados nas diferentes so-ciedades
como:
"os
romanos
lançavam
as crianças (principahnente as ilegitimas)em
cestos de vi-mes
junto ao tronoda
FigueiraRuminal ou da
Coluna
Lacterinano
Forum
Olitoriurn, especi-ahnente
nos
últimos anos de seu império, quan-do o
número
deabandonos
cresceude fonna
significativa". (Guerra, l985:23)
Na
realidade,em
outras épocas, a criança esteve envolvida e ro-deada
por práticas homicidas, pelos mais variados motivos,como
purificaçõescom
água
fria, fogo, vinho, sangue e mina;ou
aindaeram
submetidas à emer-sões prolongadas
em
água
gelada, colocadasna
neve, ocasionando índices alarmantesde
mortalidade infantil, sendoque
quasemetade da humanidade
morria
na
infância, por maus-tratos, por cuidados inadequados, e pelo próprio desprezo à infância,fmto da concepção
errôneada
criança e pelas práticasig-norantes e homicidas praticadas pelos pais,
que não possuíam
a consciênciada
existência
da
particularidade infantilque
diferencia a criançado
adulto.Outro
exemplo
de violência cometida contra' crianças é a violênciasexual
ou
exploração sexual, vindo desde a antigüidade.Em
Roma
ena
Grécia era freqüente a utilização sexual demeninos
porhomens
adultos,onde o
pro- cessode
castração era muitocomum,
realizada desde o "berço",com
finalida- des mágicas, terapêuticas, para propiciar exploração sexual dos "mancebos", pelos paisou
responsáveis,como
fonte de renda. ', . .'.'Em m11it%1§. cidades, .haxia.1f›.01fdéiS d.¢ rapazolas,
em
Atenas, se podia alugá-los.Muitos
meninos
eram
vendidoscomo
mancebos.
Os
meninos
eram
utilizados sexuahnente desde pequenos,mas
a prática sexual, neste caso,não
era a es- timulação oraldo
pênis, e sim a cópula anal".(Orlandi, 1985:47) _
`
Também,
o
autor citaum
costume
freqüente e cruel,como:
"o ato de
emparedar meninos
em
muros ou
en-terrá-los
em
alicerces de edificiosou
pontes,com
a finalidade de reforçar as estruturas. Este últimocostume
prevaleceu desde a construçãodas
Muralhas de
Jericó até o ano de 1843,na
Alemar1ha". (Orlandi, l985:25)
Outra
fonna de
violência contra crianças e adolescentes,que
per-siste a séculos, são os castigos e espancamentos,
ou
seja, violência fisica,conftmdida
com
os"métodos
corretivos e disciplinares", utilizados pelos pais,pelas instituições educacionais e assistenciais,
que atuavam ou
aindaatuam
com
crianças."os maus-tratos dirigidos às crianças
com
fins
pretensamente edu- cativostêm
antecedentes remotos..., nas escolas públicas inglesas, o castigo corporal só foi eliminadoem
1969". (Guerra, 1985: 25)8
No
que
diz respeito a esta temática, a violência fisica, objetoda
nossa pesquisa,
sempre
se fez presente. Orlandi ressaltaque
haviaum
indice altíssimode
crianças nascidas antesdo
século XVIII, que hojecostumamos
chamar
de "criança espancada", indo dos espancamentos, castigos, ameaças,mutilações ao infanticídio.
Outra
forma
de violência cometida contra crianças e adolescentes é a exploraçãodo
trabalho infantil. ' " if 8 ` *As
criançassempre
fizeram
parteda
força de trabalhoda
socieda- de,em
todas as épocas,mas
foino
capitalismoque
essa força transformou-seem
Mercadoria,passando
a sercomprada
e vendidacomo
qualquer outro pro- dutono
Mercado, não escapando
deste processo demodificação
do
sistemaeconômico,
acarretandoem
sérias conseqüências sociais."Relatórios
de
inspetores e inquéritos realizadosna época mos-
tramque
as crianças de sete adez
anoseram
arrancadas decamas
irnundas às2, 3
ou
4
horasda
madrugada
e obrigadas a trabalhar até às 10ou
11 horasda
noite para ganhar
o
indispensável à sua existência". (Orlandi, 1985: 48)Depois de
muitas lutas pelos trabalhadores, surgiram, a partir de1833, as primeiras leis regulando o trabalho das mulheres e das crianças, dan-
do
início a implantação dos direitos das crianças, após séculos de exploração.Atualrnente, a .
"O.I.T. estima
em
70
milhões onúmero
de cri- ançasempregadas
atualmentena
área produtivaem
todoo mundo.
Na
Ásiaforam
localizadas crianças de 7 a 10 anos trabalhandona
condi- ção de auxiliares de adultos, recebendouma
fraçãoínfima
da remuneração
dos mais velhos.Mesmo
em
atividades fabris de risco,como
fa-bricação de foguetes, transporte
de
vidros, tin-turas, etc..., são freqüentemente visto
em
ativi-dade
com
menores
de 10 anos". (ConjunturaEconômica,
1992167)Na
verdade, estas estimativas,no
inícioda década
de 80, são consideradas "conservadoras",quando comparada
às estimativas de outras instituições dedicadasao
estudodo
trabalho infantil,que
calculam entre 75 a 100 milhões, onúmero
total de crianças trabalhadoras, nos paísesem
desen- volvimento."No
Brasil, cerca de 7 milhões demenores
entre 10 a 17 anos trabalham, dos quais mais de70%
encontram-se distribuídos entre as regiões Nordeste e Sudestedo
país,segundo dados da
PNDA
relativos a 1986.Os
menores que
trabalham dividem-se quase porigual entre as áreas rurais e urbanas,
com
ligei-ra predominância para estas últimas (52,8%).
A
grande maioria (76,4%) dos quais trabalham epertencem
a famíliasque vivem
em
situaçõesde
pobreza absoluta concentra-sena
área ru-ral". (Galasso, 1991:54)
Ainda, apesar dos países
adotarem
uma
legislação de proteção ao menor, as crianças estãosendo empregadas
em
atividades delituosascomo
as de "olheiros" de centrosde
venda
de tóxicos,ou
se constituindoem
transpor- tadores preferenciais das drogas (mulas) até os centros de consmno.Na
realidade, estas sansõesem
forma
de leivem
desde a Antigüi-dade
até a IdadeContemporânea.
H
-"O
código deHamurábi,
as inúmeras detemrina-ções dos imperadores romanos, a introdução
dos
mais
diversos tipos de penalidades para osque maltratarn crianças até a legislação atual,
espelham
a "necessidade" de diferentes socie-dades
em
termos de estabelecernonnas
disci-plinares
da
violência contra a criança". (Guerra, l985:25)O
famoso
código de Harnurábi foi criadoem
1700
a.C., pelo reipagão Hamurábi, da
Babilônia. Este continha300
dispositivos legais,com osquais os habitantes desta cidade
eram govemados.
T
H
1"
iComo
jápudemos
observar, 'tratando'-sie de uinaiisociedade dostempos remotos
(e até hoje)onde
as pessoas supervalorizam e utilizammal
suaautoridade e
poder
nas relações interpessoais, todas essas leiseram
elaboradasem
beneficios dos "adultos ehomens", que
diretamente contribuíram paraque
a violência setomasse mais
run dos segredos familiares,bem
guardados, ocul- tando a facedo
"agressor".Resgatar historicamente a legislação,
não
é viável,além da
faltade
informações eda
abrangência, procuremos, brevemente, discorrer sobre a legislação,baseada
nos estudos de Guerra,somente
de algims paísesda
IdadeContemporânea,
possibilitandouma
certa classificação sobre a questão dos"maus-tratos", entre pais e filhos, e para isso, escolhendo dois países
do
mun-
do,EUA
e França.Segundo
Steiner, et al.“... a era
contemporânea marca
tuna acentuadaintervenção
do
Estadona
vida familiar. Estemesmo
Estado passou a exigir, dos pais, deve-res e obrigações.
As
criançascomeçavarn
a ser exoneradascomo
cidadãosem
formação.A
possibilidade de destituiçãodo
pátrio-poder seocor-rendo de fato à
medida que
surgissemameaças
à integridade fisica de
uma
criança.De
certa forma,foram
limitados os direitos de vida e de morte,que
os pais tinham sobre os filhos, im- pondo-se sobre a farníliaum
controle instituci-onal". (Steiner et alii, 1986248)
Com
o
aumento da
situação de violência contra a infância,o
Esta-do
passa a interferir,na forma da
constituição deuma
legislação especifica,destinada à proteção, principahnente nos casos de
abandono
e filicídio,que
culminou
na
redução dos direitos dos pais sobre os filhos, transformando-se de"pátrio poder".
para
"pátriodever",-oficializando os- limitesdos
pais -ea iniciandouma
caminhada
de conquistas dos direitosem
prolda
infância e adolescência.Em
1889, criou-se adenominada "Rede
de Investigação Socialda
Familia", instituída através de leis,
onde atuavam
policiais e enfermeirasque
investigam e vigiam farnílias.
Depois
as assistentes sociais os substituíramnesta tarefa de "fiscalização dos pais". Por
um
lado, o Estado sepropunha
asubstituir as deficiências familiares,
mas
por outro, visava,no
futuro, àmanu-
tenção e
aumento da
força-de-trabalho,além do aumento
dos que iriam estar a favor dos seus interesses.Cabe
ressaltarque no
séculoXVIII
foi lançada a idéiada
respon- sabilidade paterna,no
séculoXIX
confinnada,
acentuando a materna, eno
sé- culoXX
reafirmando
este princípioda
Responsabilidade dos pais pelos filhos; tudo isto contribuiu parao
inícioda
transformação,da
visão econcepção
deinfância, de tentar sair
da
"coisificação" para "a cidadania", das crianças en- quanto pessoa,com
sentirnentos, desejos e vontades aserem
respeitados.A
legislação francesa,em
1889, avançano que
diz respeito às pe- nas contra os maus-tratos de pais contra os filhos, decretando a perdado
pátriocomporta-mentos
devassos, possuindoum
caráter "repressivo". Atuahnente, a legislaçãoem
vigoraborda
a violência fisica, sexual e a negligência,"que
possam
comprometer
a integridade fisica de Luna criança.É
interessante observar que fo-ram
excluídosdo Código
"as violências maisleves... Foi recentemente, a partir
da década
de50,
que
os textosda
legislação ganharam,ao
lado
do
seu caráter "repressivo",um
caráter "curativo". Este se traduz pela aplicação demedidas que visem
afomecer
auxílios materiaisàs famílias,
com
repercussões diretas sobre su-as condições de vida,
bem
como
da
criança". (Guerra, l985:26)Nos EUA,
a legislação sefundamentou na
doutrinado
"parens patriae",onde o
Estadotem
o poder
de autoridade dos pais, nos casosem
que
estes se revelaram insatisfatóriosem
termos de cuidados e de bem-estar deseus filhos.
Cabe
salientarque há modificações na
legislação,dependendo do
Estado deonde
advenha, existindo,de
maneira geral, aspectos repressivos,prevendo
penalidades para os agressores, e os aspectos curativos.A
primeira aplicação legal contra o mau-tratona
infância ocorreuna
cidade deNova
York, por interferênciada
Sociedade Protetora Contra Vio- lênciaem
Animais,que
moveu
ação visando à retiradado
pátriopoder
em
fa-vor
da menina
Mary
Ellen,que
era maltratada fisicamente por seus pais adoti-vos,
numa
época
em
que
aos pais era garantido todo opoder
sobre os filhos."A
alegaçãousada
foi a deque
a criança eraum
membro
do
reino animal e que, portanto, seu caso poderia ser regido pelas leisque
punem
a crueldade contra os animais". (Guerra, 1985:28)Em
1860,o
Dr.Ambroise Auguste
Tardicus,em
Paris, estabeleceo
conceitode
"criança maltratada", originando os primeiros estudos sobre aviolência de pais contra filhos. 5
- " *
Em
1946, o Dr. Caffay, radiologista infantil, relatou os casos deseis
bebês
portadores dehematomas
subdurais crônicas, múltiplas fraturasno
crânio e lesões
na
pele,porém
não
correlacionoucom
maus-tratos.Em
1962, Cafl`ey eKempe,
depois de inúmeros estudos, verificando vários casos, des-crevem
o
quadro edenominam: Síndrome do
Bebê
Espancado
(SIBE), referin- do-semais especificamente
a lesões sofiidas por criançasmenores de
03anos.
Segundo
Steiner et al., "as estatísticasacusam
e denunciam,que
mais
de50%
das mortes infantis por violência fisica são decorrentes demaus-
tratos impostos pelos próprios pais". (Steiner et alii, 1986:04)
Em
1965, a Sociedade Nacional para Prevenção de Crueldade paracom
Crianças,da
Grã-Bretanha,examinou
114.641 crianças vítimas de violência doméstica causadas pelos pais,onde
39.223 dos casos os paisforam
ao tribunal.
"Na
Dinamarca,em
1967, por exemplo,metade
das vítimas dos crimes cometidoseram
crian- ças e85%
dos infanticídioseram
obra dos pró- prios pais.Na
década
de 70,o
número
de cri-anças horrivelmente maltratadas por seus pais
chegava
a 110.000 por anona
Alemanha
Fede-ral. Entre nós, a alta incidência de casos de cri-
anças maltratadas registrada
em
prontos- socorros, e hospitais de Carnpinas, porexem-
plo, levou à criação de
um
Centro Regional deAtenção
aosMaus-Tratos na
Infância(CRAM1)".
(Steiner et alii, 1986:5)Pesquisas e estudos científicos
têm
propiciado odesvendamento
da
situação caótica,na
qual seencontram
milhares de crianças e adolescentes,vitimadas pela agressividade nos atos violentos, nas relações entre pais e fi- lhos, desde os
tempos
remotos até hoje, sendo presentes e universais,não
pou-pando
suas vítimas inocentes. i 'Somente
a partir dos anos 50 e 60, nosEUA,
surgiram alguns tra-balhos,
na
área de saúde, sobre essa temática de violência doméstica, tão es-condida
da
visão pública,mais
com
dados
alarmantes.`
Logo, não
só nosEUA,
como
em
vários paísesdo mundo,
váriostrabalhos
comprovaram
a ocorrência de abusos e agressões fisicasem
crianças,onde
os pais geralmenteprocuram
enganar osmédicos ou
outros profissionais,afirmando
que
os ferimentos são resultadosde
quedasou
outros tipos de aci-dentes, e por outro lado, as crianças gerahnente
não
falamou
acusam
o agres-sor.
Todos
os anos,no
Brasil,morrem
milhares de crianças,que
nos atestados de óbito apresentam,como
causada
morte, acidentes.Na
realidade, "estes acidentes"ocasionam
lesão, fraturas, quei- maduras,que
quando
"muito graves",obrigam
à intemação das vítimas.É
certoque
não
sepode
generalizar,afirmando
que estas milharesde
"mortes"foram provocados
porespancamentos
e abusos,mas
gerahnente,dependendo do
posicionamento dos profissionais da área, muitas vezeshá
aconfissão
dos pais, e aí a obrigatoriedadedo
profissionalem
denunciar e darprosseguimento aos procedimentos legais.
Muitos
estudos explicitamque
a violênciaem
crianças é provoca-da
por pais, mães, parentes, responsáveisou
pessoas próximas,que
em
suamaioria,
foram
espancadas,na
infância, por seus próprios pais, reproduzindoEm
outros casos,o
agressortem
problemascomo
alcoolismo, drogas ilícitas, psicoses, neuroses e várias outras variáveisque ocasionam
asmais
variadas consequências. -V ›'
Atualmente o
fator "pobreza"não pode
ser vistosomente
como
único fator responsável por esta problemática, pois esta é oriunda de múltiplos
fatores. Isto
sem
contarque
ainda hoje a questãoda
violência doméstica éconsiderada
como
"tabu", devido à idéia deque
a farnília éum
"recinto sagra- do",onde
os paispodem
fazer oque
quiseremcom
seus filhos,que
são as "suas propriedades"._, . .. Para
melhor
visualizannos essefenômeno, Orlandi cita alguns exemplos:
“Nos
países ditos civilizados, a violência dos paismata
mais criançasdo
que a tuberculose, a coqueluche e a poliomielite juntas, diz escan- dalizadoum
relatórioda União
Internacional de Proteção,com
sedeem
Genebra,na
Suíça.Na
França, a Liga Nacional para a Proteçãoda
Infância Infeliz calcula
que
a qualquermomen-
to se
contam 25
mil crianças francesas surra-das, esganadas,
queimadas ou
estranguladas.A
França éuma
prova
cabal de que a violêncianão
é exclusividade dos países pobres.Nos
abastados Estados Unidos, registra-se anuahnente 1 milhão de casos de Maus-tratos, -cifra
que
ascende ao ritmo de12%
ao ano, -dos guetos pobres de
Nova
York
àsmansões
endinheiradasda
Califómia.Na
Itália, 15 milcriança são torturadas, feridas, espancadas cruehnente, todos os anos.
Cerca
de600
crian- ças são estupradas.Segundo dados do
Ministrodo
Trabalhoda Alemanha,
cerca de mil crian- çasmorrem
anuahnenteem
consequência de maus-tratos".No
Brasil, a violência contra crianças é runfenômeno
quevem
desdeo
tempo
da
Colonização,com
a utilizaçãodo
trabalho escravo.Na
tra-vessia oceânica (África-Brasil), as crianças
eram
as primeiras aserem
jogadasno
mar, para diminuiçãodo
peso oscilante,como
estratégia de navegação.Na
época
do
Ciclodo
ouro, séc.XVII,
com
a expansão da ocupa-ção urbana,
o problema da
criançacomeça
a ganharnovas
proporções.No
início
do
séc. XVIII,o abandono
infantilaumentava
cada vez mais, sendo queessas crianças,
chamadas
"expostos",permaneciam
nas ruas, praças e estabe- lecirnentoscom
grande transitoriedade de pessoas, causandoenorme
escânda-los. `
Em
1738, foi criada porRomão
deMattos
Duarte,no
RJ, aCasa
dos
Expostos de
SantaCasa
de Misericórdia, objetivando assistir as criançasabandonadas.
Também
chamada
"Casa da
Roda"."A
mortalidadena
Casa
dos Expostosera grande,
não
só pelos próprios cuidadosfomecidos
às crianças,como também
pela falta de higiene e as péssimas instalações". (Orlandi, 1985161).Até
1825,algumas
crianças,em
São
Paulo,eram
deixadas nas portasde
casas particulares,em
lugares públicos,em
igrejas, ruas,ou
atiradosem
valas,montes
de lixo,demonstrando
que a situaçãoda
infânciano
Brasilsempre
foi cruel edesumana.
`"As
mães
deixaram
os filhos à noite nasmas
sujas eestes