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Vale da Bênção: um estudo de caso de crianças e adolescentes em situação de risco social

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

VALE DA BÊNÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

Por

Sergio Bezerra da Silva

São Paulo

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SERGIO BEZERRA DA SILVA

VALE DA BÊNÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

Dissertação apresentada em cumpri-mento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do grau de Mestre.

São Paulo

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SERGIO BEZERRA DA SILVA

VALE DA BÊNÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

Dissertação apresentada em cumpri-mento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do grau de Mestre.

Aprovada em __/__/__

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Bitun

Universidade Presbiteriana Mackenzie (Orientador)

________________________________________________________ Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________ Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera

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A Deus, que tem guiado meus passos e sus-tentado minha família.

À minha esposa, Evanilde Muniz Silva, compa-nheira fiel e mulher de virtude que tem incenti-vado e colaborado para o meu crescimento nos estudos.

A Murilo Muniz Bezerra da Silva e Gabriela Muniz Silva, pérolas que Deus confiou a mim como filhos, pela paciência nas minhas ausên-cias.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo apoio.

Ao MACKPESQUISA, pela subvenção concedida através de bolsa, fundamental para o desenvolvimento e término dessa pesquisa.

Aos professores da Escola Superior de Teologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, turma do segundo semestre de 2010, pela amizade e carinho.

Ao Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira e ao Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera, pelas valiosas contribuições e que muito me honram por participarem na banca de avaliação.

Ao Geraldo G. Azevedo, secretário da Escola Superior de Teologia, pela dedicação e carinho durante estes preciosos anos em que estivemos juntos. Um amigo e irmão em Cristo.

À Dagmar Dollinger, secretária do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, pela amizade e consideração, sempre disposta a orientar nas dificuldades.

À Rosenilda Rocha, pelo carinho e concessão de material para nossa pesquisa.

A todos os adolescentes, responsáveis, líderes religiosos e outros atores sociais entrevistados, sem os quais não seria possível desenvolver esta pesquisa.

A todos os funcionários do Vale da Bênção que tão bondosamente se dispuseram a participar deste projeto, meu muito obrigado.

Ao pastor Jonathan Ferreira, pelo tempo que pudemos estar juntos, que muito me ensinou.

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Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcança-ram a vitória. O Senhor fez notória a sua salvação, mani-festou a sua justiça perante os olhos das nações. Lem-brou-se da sua misericórdia e da sua fidelidade para com a casa de Israel; todos os confins da terra viram a salva-ção do nosso Deus. Celebrai com júbilo ao Senhor todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvo-res. Cantai com harpa louvores ao Senhor, com harpa e voz de canto; com trombetas e ao som de buzinas, exultai perante o Senhor, que é rei. Ruja o mar e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam.

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RESUMO

Esta pesquisa tem como propósito refletir a influência do sagrado na transformação social de crianças e adolescentes em situação de risco social, oriundas da destituição provisória ou definitiva por parte da Justiça ou Conse-lho Tutelar, na Cidade da Criança, um dos projetos da AEBVB (Associação Educacional e Beneficente Vale da Bênção), localizado no município de Araçariguama, Estado de São Paulo, Brasil.

No primeiro momento apresentamos a história da fundação da AEBVB e de seus fundadores, no contexto evangélico brasileiro, com projetos, ações, estrutura e seu reconhecimento perante autoridades e sociedade civil.

Em seguida, buscou-se analisar o trabalho realizado especificamente na Cidade da Criança, com a apresentação de propostas de trabalho, ativida-des e resultados esperados. Os depoimentos foram analisados através de en-trevistas semiestruturadas.

Em um terceiro momento, são abordados o conceito de sagrado, a vi-vência no cotidiano das crianças e adolescentes no Vale da Bênção e sua in-fluência na formação epistemológica transformando a criança e adolescente em um cidadão consciente através de uma cosmovisão cristã, resgatando valo-res familiar, ético e moral. Esta reflexão parte de sua história e proposta de tra-balho, das atividades na Cidade da Criança, dos resultados, e através de en-trevistas com internos e funcionários a influência do sagrado no cotidiano e na formação da criança, bem como a socialização do adolescente.

Finalmente, através da análise de resultados, pode-se confirmar a influência da religião na transformação de crianças e adolescentes em situação de risco social, resgatando valores morais, éticos e familiares e minimizando a possibilidade de marginalização.

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ABSTRACT

This research is intended to reflect the influence of the Sacred in the social transformation of children and adolescents in social risk arising from the temporary or permanent removal of Justice or by the Guardian Council held in the City of the Child, a project of AEBVB (Valley of Blessing), located in the mu-nicipality of Araçariguama, state of São Paulo, Brazil.

At first we present the story of the founding of the Evangelical Associa-tion BENIFICENTE VALLEY OF BLESSING and its founders, placing his mem-bership in the Evangelical Brazilian context, presenting projects, activities, structure and recognition by authorities and civil society.

The second aim was to analyze the work done specifically in the City of the Child, which presented a proposal of work, activities, expected results and through semi-structured interviews can analyze the evidence.

In third place are addressed concepts of Sacred, in the daily lives of children and adolescents in the Valley of Blessing and its influence on episte-mological formation transforming children and adolescents in a national con-sciousness through a Christian worldview, restoring family values, ethics and morality. This reflection part of its history and work proposal, the activities of the Child in the City, results, and through interviews with internal staff and the influ-ence of the Sacred in everyday life and training of the child, as well as the so-cialization of adolescents.

Finally, through the analysis of results can confirm the influence of reli-gion in the transformation of children and adolescents at risk of social redeem-ing values, moral, ethical, family, whippredeem-ing a possible marginalization.

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RESUMEN

Esta investigación tiene por objeto reflejar la influencia de lo sagrado en la transformación social de los niños, niñas y adolescentes en riesgo social derivados de la retirada temporal o permanente de Justicia o por el Consejo de Guardianes, celebrada en la Ciudad de los Niños, un proyecto de AEBVB (Valle de Bendición ), ubicado en el municipio de Araçariguama, estado de São Paulo, Brasil.

En un primer momento se presenta la historia de la fundación de la Asociación Evangélica VALLE DE BENDICIÓN BENIFICENTE y sus fundado-res, la colocación de su pertenencia en el contexto evangélico brasileño, la pre-sentación de proyectos, actividades, estructura y reconocimiento de las autori-dades y la sociedad civil.

El segundo objetivo fue analizar el trabajo realizado específicamente en la Ciudad del Niño, que presentó una propuesta de trabajo, actividades, resul-tados esperados y por medio de entrevistas semi-estructuradas pueden anali-zar las pruebas.

En tercer lugar se abordan los conceptos de la Sagrada, en la vida co-tidiana de los niños, niñas y adolescentes en el Valle de Bendición y su influen-cia en la formación epistemológica transformar a los niños y adolescentes de una conciencia nacional a través de una visión cristiana del mundo, la restaura-ción de los valores familiares, la ética y la moral. Esta parte reflejo de su histo-ria y su propuesta de trabajo, las actividades del Niño en la Ciudad, los resulta-dos, ya través de entrevistas con el personal interno y la influencia de lo sagra-do en la vida cotidiana y la formación del niño, así como la socialización de los adolescentes.

Por último, a través del análisis de los resultados puede confirmar la in-fluencia de la religión en la transformación de los niños, niñas y adolescentes en riesgo de canje de valores sociales, morales, éticos de la familia, para batir un posible marginación.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

1 VALE DA BÊNÇÃO: HISTÓRIA, PROJETOS E AÇÕES ... 6

1.1 História ... 12

1.2 Fundamentos ... 16

1.3 Projetos ... 17

1.3.1 Programa de apoio à família ... 17

1.3.2 Liberdade assistida ... 17

1.3.3 Colégio Vale da Bênção ... 17

1.3.4 Cidade da Criança ... 18

1.3.5 Casa Nova Vida ... 18

1.3.6 Creche Gotinhas de Vida ... 18

1.3.7 Centro Comunitário Vou Vencer ... 19

1.4 Administração ... 19

1.4.1 Diretoria ... 19

1.4.2 Conselho Fiscal... 20

1.5 Ações ... 20

1.5.1 Área religiosa ... 20

1.5.2 Área social ... 20

1.5.3 Área de saúde ... 21

1.6 Indicadores ... 21

1.6.1 Atendimento ... 21

1.6.2 Receita ... 22

1.7 Reconhecimento ... 23

1.7.1 Inscrições e títulos ... 23

1.7.2 Prêmios e certificados ... 24

1.7.3 Amigos e parceiros ... 24

2 CIDADE DA CRIANÇA ... 26

2.1 Propostas de Trabalho ... 26

2.1.1 Visão ... 26

2.1.2 Missão ... 27

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2.2 Atividades ... 31

2.2.1 Triagem ... 33

2.2.2 Rotina ... 34

2.3 Resultados Esperados ... 36

2.3.1 O abrigo ... 37

2.3.2 A socialização ... 39

2.3.3 Depoimentos de funcionários ... 44

2.4 Entrevistas ... 45

2.4.1 Aspectos metodológicos ... 45

2.4.2 Depoimentos de abrigados e ex-abrigados ... 46

2.4.3 Estrutura da Cidade da Criança ... 51

2.5 Análise ... 53

3 O PAPEL DA RELIGIÃO ... 55

3.1 Religião ... 55

3.2 Igreja ... 59

3.2.1 A igreja – conceito ... 59

3.2.2 A missão da igreja ... 63

3.2.3 Religião e comportamento ... 66

3.2.4 Religião e responsabilidade social ... 70

3.3 Análises dos Resultados ... 75

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 77

5 REFERÊNCIAS ... 79

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa reflete sobre a violência contra crianças e adolescentes, delimitada ao trabalho realizado pelo Vale da Bênção no cotidiano de crianças e adolescentes em situação de risco social.

A partir da temática apresentada, o objetivo geral é pesquisar o projeto social desenvolvido no Vale da Bênção, tendo como objetivo específico a partir da compreensão do contexto social, a contribuição da religião no processo de socialização desenvolvido na Cidade da Criança, um dos projetos do Vale da Bênção destinado a crianças vítimas de violência. Tendo as questões apresen-tadas em nosso objeto específico como referência, reflete-se sobre a importân-cia e o papel da religião dentro dos contextos soimportân-cial, familiar e público. Traba-lha-se a hipótese da inferência da religião como agente social a serviço do Estado por meio de conceitos ideológicos e históricos, da ética e da moral, con-tribuindo para a formação direta do cidadão.

Nesse contexto, busca-se o entendimento da religião, que, através dos séculos, tem sido objeto de estudos científicos que visam explicar e esclarecer qual sua função em uma sociedade. A igreja primitiva tinha como objetivo pro-pagar o evangelho e cuidar dos necessitados, levando assistência espiritual, familiar, médica e ensino. Contudo, ocupava o lugar do Estado, ou seja, a igre-ja se tornou o próprio Estado. A partir do iluminismo,1

1 Era do Iluminismo ou Era da Razão (movimento cultural de elite de intelectuais do século XVIII na Europa, mobilizou o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento prévio. Priorizou a razão e foi contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado. Iniciou com os filósofos Baruch Spinoza (1632-1677), John Locke (1632-1704), Pierre Bayle (1647-1706) e pelo matemático Isaac Newton (1643-1727), tendo a França como o centro desse movimento (http://www.historiamais.com/iluminismo.htm)

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(CIPRIANI, 2007, p. 97). Durkhein (1973, p. 53) comenta que “os dois gêneros não podem se avizinhar e conservar ao mesmo tempo a respectiva natureza”.

Esta pesquisa trabalha a práxis da religião por meio de assistência espi-ritual, educacional, psicológica, ética, moral, filosófica, afetiva, social e material em substituição ao Estado, que passa a figurar meramente como agente gestor e fomentador das ações. Contudo, discussões a respeito da validade da inge-rência da religião em áreas públicas são constantes, principalmente pelos orga-nismos de educação do Estado, nos quais a discussão gira em torno do proseli-tismo de uma única religião, por ser os cristãos a maioria de confessos, tirando a liberdade de escolha individual de prática e fé do indivíduo contrariando o status

laico. Mas não é consenso , uma vez que alguns gestores do ensino público su-gerem a religião como matéria obrigatória no currículo escolar, por entendê-la como fio condutor da ética e da moral. Nesse contexto, coadunamos com essa ideia, eliminando a possibilidade da dissociação da religião cristã na formação ética e moral, por demonstrar através da história ser um instrumento eficaz na formação de pensamento e cosmovisão.

Portanto, a AEBVB não só reflete a indissociabilidade e a relação mú-tua entre religião, ética, moral e sociedade, contribuindo para a formação do cidadão, corroborando para o resgate e para a socialização do indivíduo em situação de risco, mas também a relevância do ensino religioso para a forma-ção da criança nas escolas de ensino público e privado.

A aproximação da religião com o Estado não visa questionar ou negar o status laico do país, no entanto, enfatiza-se que o pensamento e a cosmovi-são cristã apresentados nesta pesquisa alinham uma práxis pedagógica que contempla o conhecimento científico e valoriza o indivíduo e suas característi-cas morais e éticaracterísti-cas, trabalhando com o ser humano todo, conforme o Pacto de Lausanne.

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A pesquisa foi dividida em três capítulos: no primeiro capítulo, trabalha-se a história da instituição, e, através de entrevistas com trabalha-seus diretores funda-dores, podem-se extrair elementos para compreensão do cotidiano. A pesquisa bibliográfica possibilita analisar os projetos desenvolvidos, seus resultados e o reconhecimento perante a sociedade civil e governamental. Dados estatísticos contribuem para situar a instituição no contexto das ONGs brasileiras.

No segundo capítulo é feita uma análise da Cidade da Criança, projeto destinado a crianças e adolescentes em situação de risco social. O referencial teórico utilizado é a obra de Peter Berger O Dossel Sagrado, e entrevistas e depoimentos de funcionários e abrigados possibilitam analisar todos os aspec-tos do Vale da Bênção na tarefa de abrigar, educar e formar um cidadão pronto para o convívio em sociedade. Foram abordados seus valores, missão e visão, o que permite refletir sobre a cosmovisão que é eixo condutor da instituição. Através da pesquisa de campo observaram-se o cotidiano no processo de so-cialização dos abrigados e a estrutura disposta para o alcance de seus objeti-vos. Por último, depoimentos de abrigados e funcionários demonstram a influ-ência do sagrado no cotidiano da instituição.

No terceiro capítulo, busca-se refletir o papel da religião no contexto do Vale da Bênção, a partir de Mircea Eliade, em O sagrado e o profano, e de Rudolf Otto, em O sagrado, cujas respostas contribuem para definir a ideia de sagrado e sua relevância na sociedade. Uma vez que se trata de uma institui-ção evangélica, o exercício da educainstitui-ção por princípios cristãos é o fio condutor para uma experiência com o sagrado. Buscou-se definir o conceito de igreja e sua missão, e o papel da religião no contexto da responsabilidade social.

Para isso, foram consultados alguns teóricos: Antonio Ávila, com sua obra Para conhecer a psicologia da religião, e Alderi Matos, para compreensão da perspectiva calvinista de educação, uma vez que seus fundadores têm raí-zes em princípios calvinistas. Por fim, foi feita a análise dos resultados da pes-quisa, confirmando a hipótese de que a religião tem contribuído para a forma-ção e a socializaforma-ção de crianças e adolescentes em situaforma-ção de risco social, resgatando valores familiares e gerando cidadãos conscientes..

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forte proximidade com a sociedade, desburocratizando o sistema e permitindo uma resposta eficaz às necessidades sociais, o que viabiliza ações públicas.

Segundo Netto (1999), “com a privatização da política de assistência a prestação desta é transferida para a alçada da sociedade civil, contribuindo para a construção de redes de proteção social ou de solidariedade social”. Behring (2003) diz que esta ação serve na verdade para ocultar as relações contraditórias e antagônicas do sistema capitalista.

Para Montaño (2002), essas parcerias representam a não responsabili-zação do Estado no trato da questão social, que transfere para as organiza-ções do terceiro setor suas responsabilidades.

Para Soares (2000), “neste contexto ocorre um retorno à família e às organizações sem fins lucrativos, ONGs e organizações filantrópicas, as quais se posicionam como agentes do bem-estar, passando a substituir o Estado na execução das políticas públicas”.

As instituições ligadas à religião merecem reconhecimento, credibilida-de e prestigio no contexto das ONGs no Brasil, como pocredibilida-demos verificar no quadro apresentando no primeiro capítulo, formulado pelo IBGE. Segundo Carvalho (1997),

[...] diante do contexto de precarização das políticas públicas so-ciais, as entidades religiosas passam a se envolver no enfrenta-mento da questão social [...] compõem o projeto de reprodução social das famílias empobrecidas [...] a igreja se faz presente no cotidiano de muitas famílias e comunidades, sendo a instituição com maior credibilidade para a população fragilizada.

Nesse contexto, se vê com objetividade a atuação da igreja em substi-tuição às ações do Estado, que transfere suas obrigações mediante parcerias e associações.

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es-gotando aqui o assunto, uma vez que este merece tempo maior para o desen-volvimento, trazendo o desafio para pesquisas futuras.

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1 VALE DA BÊNÇÃO: HISTÓRIA, PROJETOS E AÇÕES

Nascido com o desejo de apoiar e dar assistência a crianças vítimas de violência e abandono, a Associação Educacional e Beneficente Vale da Bênção (AEBVB), ou simplesmente Vale da Bênção, tornou-se exemplo e um marco nas organizações não governamentais, obtendo reconhecimento nas esferas pública e privada. O trabalho realizado pela instituição procura ao longo do tempo assistir a infância e a adolescência, bem como seus familiares, inserin-do-se no terceiro setor. As organizações não governamentais (ONGs) classifi-cadas como terceiro setor são movimentos sem fins lucrativos que visam suprir as necessidades humanas e ambientais em prol da melhoria da qualidade de vida, somando esforços com governos, empresas e pessoas físicas.

Encontramos no portal www.filantropia.org a seguinte redação:

O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas ques-tões sociais. O segundo setor é o privado, responsável pelas questões individuais. Com a falência do Estado, o setor privado começou a ajudar nas questões sociais, através das inúmeras instituições que compõem o chamado terceiro setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que têm como objetivo gerar serviços de caráter público.

Delgado (2001, p. 93) comenta: “as ações do ‘terceiro setor’ objetivam possibilitar a satisfação das necessidades humanas e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”. Dessa forma, a instituição se apresenta como entidade sem fins lucrativos, a fim de promover o bem-estar social, visando através de sua ação reduzir as desigualdades sociais. Por isso se faz necessária a apro-ximação do Estado e das ONGs para que juntos possam transformar teorias em ações que resultem na transformação do indivíduo.

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estão classificadas em cinco categorias, segundo a Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (Abong):

Com base em dados do Cadastro de Empresas – CEMPRE – de 2005, a pesquisa demonstra que existem hoje no Brasil 338 mil organizações sem fins lucrativos divididas em cinco catego-rias: 1. Que são privadas, não integram o aparelho do Estado; 2. Que não distribuem eventuais excedentes; 3. Que são volun-tárias; 4. Que possuem capacidade de autogestão; e, 5. Que são institucionalizadas (www.abong.org.br. Acesso em 30/11/2011).

Burity comenta sobre a aproximação entre igreja e Estado em seu artigo:

O importante a destacar é que, no cenário contemporâneo, há uma disseminação/circulação do religioso em busca de eficácia política, que gera condensações em discursos político-religiosos em contextos nacionais. O rebaixamento das barrei-ras que o modelo iluminista de oposição entre religião e política impunha encontrou-se com um ativismo religioso crescente-mente mobilizado contra o secularismo ou as injustiças e desi-gualdades, e isto tem permitido uma configuração múltipla das relações entre religião e política. Não se trata de um retorno de algo que havia morrido, nem de um reencantamento de mundo. [...] Antes, é sobre as ruínas do liberalismo dos séculos XVII a XIX, mas usando seus cacos ou restaurando seus “monumen-tos” institucionais meio abandonados, que se reconstrói a rela-ção entre religião e política (BURITY, 2001, p.40).

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Segundo informações do IBGE (2005),

Embora o crescimento percentual das entidades do grupo Reli-gião (18,9%) tenha sido menor do que a média nacional (22,6%), em números absolutos elas estão entre as que mais cresceram. No período de 2002 a 2005, foram criadas 13,3 mil entidades que se dedicam a atividades confessionais.

Vale destacar que, isoladamente, depois das entidades religiosas foram as associações de produtores rurais, as enti-dades de assistência social e os centros e associações comu-nitárias que apresentaram, nessa ordem, o maior crescimento (superior a mil entidades cada) (www.ibge.gov.br. Acesso em 30/11/2011).

Encontramos ainda no sítio da Abong: “Há também um crescimento significativo do grupo de organizações ligadas ao grupamento de religião, de-monstrando a forte natureza confessional do associativismo” (www.abong.org.br. Acesso em 30/11/2011).

Pode-se verificar a forte atuação da religião através das ONGs, apoi-ando o Estado nas necessidades sociais, o que justifica a relevância do traba-lho da AEBVB junto a crianças e adolescentes em situação de risco, classifi-cando-se na categoria 5, ou seja, das que são institucionalizadas.

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atuação ante o Estado, mantendo a religião como instrumento de transforma-ção e socializatransforma-ção. Por fim, deve-se entender os valores que a AEBVB adquiriu e transmitiu ao longo de duas décadas.

Para essa finalidade, é necessário retomar a dinâmica histórica da ins-tituição do pentecostalismo brasileiro, considerando-se o processo de acultura-ção e mensagens , encontrando algumas vertentes classificadas como ondas por alguns e gerações por outros. Não se pretende aqui acentuar a discussão onda ou geração, mas utilizar a metáfora “onda” para classificação da AEBVB no cenário religioso brasileiro, uma vez que a maioria dos estudiosos brasilei-ros da religião utiliza essa metáfora, com as seguintes classificações: pente-costalismo clássico, deuteropentepente-costalismo e neopentepente-costalismo.

A metáfora “onda” surgiu nos EUA para designar a história do protes-tantismo mundial, por meio de David Martin, o qual afirmava que se podia estu-dar o protestantismo em três grandes ondas: puritana, metodista e pentecostal. No contexto brasileiro, a primeira menção dessa metáfora da “onda” foi feita por Paul Freston.

A primeira onda ou pentecostalismo clássico foi na década de 1910, com a chegada da Congregação Crista (1910) e da Assembleia de Deus (1911), que deram ênfase ao dom de línguas (glossolalia), à volta de Jesus e à rejeição do mundo exterior. As primeiras igrejas eram formadas por pessoas pobres e de pouca escolaridade.

A segunda onda ou deuteropentecostalismo se deu nas décadas de 1950 e 1960 e fragmenta o pentecostalismo, tendo surgido outras denomina-ções que se difundiram pela massificação da estratégia de marketing de rádio, cruzadas em estádios, cinemas e teatros. Marcada pela cura divina, surgem a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), Igreja O Brasil para Cristo (1955) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), entre outras menores.

A terceira onda ou neopentecostalismo data da década de 1970, porém foi a partir da década de 1980 que toma espaço no cenário religioso brasileiro, tendo como referência a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Interna-cional da Graça de Deus, com forte apelo através de TV e rádio.

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O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido como a his-tória de três ondas de implantação de igrejas. A primeira onda é a década de 1910, com a chegada da Congregação Cristã (1910) e da Assembleia de Deus (1911). [...] A segunda onda é dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade se dinamiza e três gran-des grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: Quadran-gular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). O contexto dessa pulverização é paulista. A terceira onda começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80. Suas principais representações são a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça (1980) [...] O contexto é fun-damentalmente carioca (MARIANO, 1999, p. 28-29).

Em entrevista, Jonathan Ferreira, fundador da AEBVB, comenta em qual onda ela está classificada e de que forma se deu a transição do protestan-tismo histórico ao pentecostalismo.

Ocorreu o seguinte, naquela década de 64 a 66 surgiu no Bra-sil o movimento chamado de renovação espiritual, que surgiu dentro das igrejas batistas, atingiu várias outras denominações, como presbiterianas, metodistas, luteranas. Esse movimento veio com o falar em línguas, profecias, dons de cura, libertação dos endemoniados, e era muito forte para as igrejas históricas, o que provocou uma divisão em todas as igrejas históricas no Brasil. Uma parte desses grupos queria continuar em suas de-nominações, mas com liberdade para esses dons, então aca-bou tendo uma divisão, e acabei ficando do lado da renovação, então necessariamente tive que sair da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), ainda que com muito pesar, porque sou a terceira geração da IPB, tinha muitos sonhos para a IPB, e achava que o avivamento seria uma grande bênção para a IPB, eu não queria sair, mas não havia possibilidade de continuar, hoje tal-vez fosse diferente, mas na época não havia possibilidade. A missão Antioquia foi formada dessa nova Presbiteriana que na época ficou com o nome Cristã Presbiteriana, para aqueles que saíram da IPB, e, para aqueles que saíram da Igreja Presbiteri-ana Independente (IPI), ficou o nome de Igreja PresbiteriPresbiteri-ana Independente Renovada (IPIR), mas as duas se uniram e for-maram a Igreja Presbiteriana Renovada (IPR). Ou seja, a IPR é uma união de vários grupos presbiterianos, porém a missão Antioquia se mantém com sua linha interdenominacional.

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Sobre isso comenta Jonathan Ferreira:

Preferiríamos não ser rotulados, porque na verdade nos mo-vemos entre históricos, pentecostais, renovados, se evangéli-cos, nos vemos como ministério, ponte, através do palco, de-nominações, encontro etc., várias atividades de unidade da i-greja. A nossa formação, pastor Decio e eu, é presbiteriana, fomos pastores da IPB, depois recebemos a influência pente-costal de dons etc., então eu não sei como caracterizar isso, talvez histórica renovada, nossa teologia é histórica, mas, quando eu li na biografia do fundador da IPB, Simonton,2

2 Ashbel Green Simonton (1833-1867), o fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, nasceu em West Hanover, no sul da Pensilvânia, e passou a infância na fazenda da família, denominada Antigua. Eram seus pais o médico e político William Simonton e D. Martha Davis Snodgrass (1791-1862), filha de um pastor presbiteriano. Ashbel era o mais novo de nove irmãos. Os irmãos homens (William, John, James, Thomas e Ashbel) costumavam denominar-se os "quinque fratres" (cinco irmãos). Um deles, James Snodgrass Simonton, quatro anos mais velho que Ashbel, viveu por três anos no Brasil e foi professor na cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro. Uma das quatro irmãs, Elizabeth Wiggins Simonton (1822-1879), conhecida como Lille, veio a casar-se com o Rev. Alexander Latimer Blackford, vindo com ele para o Brasil.

que chegou ao Brasil em 1859, fruto de um avivamento nos EUA, era um avivalista cheio dos dons, então Simonton ainda jovem veio para o Brasil e em 1861 escreveu no diário dele “está tudo pronto, só falta o batismo do Espírito Santo”, uma coisa históri-ca que está no arquivo da editora presbiteriana, escrita por Ma-ria Amélia Rizzo, filha de um grande pastor presbiteMa-riano. Quando leio isso, olho para a igreja da Coreia avivada, então parece não ser possível ser presbiteriano crendo nos dons,

Em 1846, a família mudou-se para Harrisburg, a capital do estado, onde Ashbel concluiu os estudos secundários. Após formar-se no Colégio de Nova Jersey (a futura Universidade de Princeton), em 1852, o jovem passou cerca de um ano e meio no Mississipi, trabalhando como professor. Voltando para o seu estado, teve profunda experiência religiosa durante um avivamento em 1855 e ingressou no Seminário de Princeton, fundado em 1812. No primeiro semestre de estudos, ouviu na capela do seminário um sermão do Dr. Charles Hodge, um dos seus professores, que despertou o seu interesse pela obra missionária no exterior. Concluídos os estudos, foi ordenado em 1859 e chegou ao Brasil no dia 12 de agosto do mesmo ano.

Pouco depois de organizar a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (12/01/1862), o jovem missionário seguiu em viagem de férias para os Estados Unidos, vindo a casar-se com Helen Murdoch, em Baltimore. Regressaram ao Brasil em julho de 1863. No final de junho do ano seguinte, Helen faleceu nove dias após o nascimento da sua filhinha, que recebeu o seu nome. Helen Murdoch Simonton, a filha única do Rev. Simonton, nunca se casou e faleceu aos 88 anos no dia 7 de janeiro de 1952. Com o passar dos anos, Simonton criou o jornal Imprensa Evangélica (1864), organizou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e fundou o Seminário Primitivo (1867), este último localizado em um edifício de vários pavimentos junto ao Campo de Santana.

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mas nos damos bem. Temos trabalhado muito bem com todas as denominações [...] não é muito fácil mover-se no meio, para mover-se não podemos defender uma bandeira denominacio-nal, teológica, partimos para o aspecto prático do cristianismo [...] por sermos de origem presbiteriana, creio que nosso ensino é cristão em uma linha calvinista [sic].

Uma vez designada a classificação dentro do contexto organizacional dos setores e apresentados os aspectos de relevância, passa-se a sua história.

1.1 História

Filho de família presbiteriana, Jonathan Ferreira foi criado em Presiden-te PrudenPresiden-te, SP, aos 23 anos foi para o Seminário PresbiPresiden-teriano do Sul, em Campinas, SP, cursou bacharel em teologia durante cinco anos, se formando em 1961.

Em 1962 fui enviado pela Junta de Missões Nacionais da Igreja Presbiteriana do Brasil para o chamado norte novo no interior do Estado do Paraná, na cidade de Cianorte, como pastor mis-sionário, para abrir igrejas naquela região, uma região nova, onde o mato estava sendo derrubado e cidades sendo implan-tadas, a cidade tinha apenas oito anos, sem luz, asfalto, estra-das toestra-das de terra. Começamos o trabalho abrindo igrejas e, em 1965, fundamos o instituto bíblico na cidade de Cianorte para preparar obreiros para aquela região, onde trabalhamos até 1975.

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Bênção, às margens da rodovia Castello Branco, como um centro brasileiro de missões, seminário, acampamento, centro permanente de oração e ou-tras atividades, até o ponto em que foram desenvolvidos projetos sociais.

Em depoimento, Jonathan Ferreira comenta:

Era o ano de 1975, no norte do Estado do Paraná, quando eu recebi uma visão3 “uma certeza no íntimo”, de que iria

para uma grande área junto a uma rodovia e ali deveria inici-ar um trabalho de prestação de serviço social, e havia a ne-cessidade de uma sede para a missão Antioquia. Em 1979 mudei para São Paulo, à rua Bom Pastor, bairro do Ipiranga, tratava-se de um casarão antigo grande, onde iniciei o traba-lho da missão Antioquia juntamente com minha família, e no ano de 1980 escrevi um livreto onde expunha meu sonho e comecei a compartilhar com alguns amigos. Dentre esses amigos foi possível fazer uma reunião com 17 homens, pas-tores, profissionais liberais, empresários, apresentei o proje-to e o grupo aceiproje-tou o desafio, e esses 17 constituíram uma empresa chamada Vale de Bênção Empreendimentos Socie-dade Civil Limitada. Esse grupo comprou o terreno com a venda de títulos, que dava direito a um lote no condomínio que iriam fazer, felizmente as pessoas acreditaram e cada um recebeu seu lote registrado e sua escritura, assim se formou o Vale da Bênção, com a venda de títulos e posterior compra do terreno para ser pago em doze parcelas.

No ano de 1982, o sonho começa a ter formato por meio da aquisi-ção de um sítio à beira da rodovia Castello Branco. O pastor Jonathan Ferreira4 e o pastor Decio de Azevedo5 mudam com suas respectivas famí-lias para aquele local, acompanhados de outras famífamí-lias. O primeiro trabalho se deu com dependentes químicos, apoiados pela missão Visão Mundial,6

3 VISÃO neste caso aplica-se a uma aparição ou vista de algum objeto que se tem por sobrenatural sem o ser; aparição suposta de alguém; objeto sobrenatural; aparição fantástica; espectro, fantasma (MICHAELIS, 2002, p. 834)

possibilitando a recuperação e socialização de dependentes. Logo vieram novos desafios, como amparar crianças que moravam nas ruas dos bairros Lapa e Pompeia, em São Paulo, e eles adquiriram uma casa para abrigar

4 JONATHAN FERREIRA DOS SANTOS formou-se no Seminário Presbiteriano de Campinas, fundou o Instituto Bíblico Presbiteriano de Cianorte-PR e atualmente, dirige a Missão Antioquia, sediada no Vale da Bênção (http://www.iprb.org.br/biografias/J/JonathanFSantos.htm), acesso 13/12/2011.

5 DECIO DE AZEVEDO (1939-2007), nascido aos 17 de novembro de 1939, casado com Tirlei Mazon, permaneceu no quadro de pastores da IPRB até 08 de dezembro de 1983. Fundou o Seminário de Cianorte/PR e a missão Antioquia (http://www.iprb.org.br/biografias/D/DecioAzevedo.htm), acesso em 13/12/2011.

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essas crianças, dando alimento, educação e apoio religioso, espiritual e mo-ral.

Jonathan Ferreira em depoimento comenta sobre o início do trabalho com crianças desabrigadas.

Em 1986 e 1987 fomos desafiados pela prefeitura de São Paulo, SP, juntamente com outras instituições, a ajudar a ti-rar crianças da rua no bairro da Lapa. Havia muitas crianças dormindo na rua, comendo do lixo. Implantamos um progra-ma na Lapa, um restaurante para crianças de rua, começa-mos a tirar as crianças da rua, passacomeça-mos por vários momen-tos difíceis. O projeto da prefeitura não funcionou, todo mun-do foi embora, menos nós, então alugamos uma casa na Lapa e demos continuidade no projeto, assim surgiu o traba-lho com crianças. Depois ganhamos uma propriedade de um empresário no bairro da Lapa, aumentando cada vez mais até que conseguimos construir duas casas no Vale da Bênção para receber essas crianças de rua, deu certo, não era um orfanato, era um programa de adoção em que procu-rávamos devolver a criança a sua família, mas se não tives-se família procurávamos uma família substituta. Deu tão cer-to que logo depois tínhamos duas casas, então, nesse con-texto, nasceu o projeto Cidade da Criança, que hoje tem no-ve casas-lares [sic].

Era o início de todo trabalho, impulsionados pelos resultados na casa da Lapa, surgiu a primeira casa-lar no Vale da Bênção, que se chamou Casa Moisés, logo veio a segunda casa e, junto, a necessidade de uma área maior. Jonathan Ferreira compartilhou seu sonho com outros amigos, que logo se jun-taram para adquirir a área para a construção da Cidade da Criança, porém fal-tava dinheiro para o projeto.

Milton Balestrini, colaborador e amigo de Jonathan Ferreira, comenta:

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Distante 50 quilômetros da cidade de São Paulo, situado no quilômetro 50 da rodovia Castello Branco, no município de Araçariguama, Estado de São Paulo, Brasil, em meio a uma vasta vegetação, iniciou-se a AEBVB. Em 1990 foi inaugurado o colégio Vale da Bênção, em 1993, com apoio de igrejas e a-migos, foi adquirido o sítio Nova Vida na cidade de Sorocaba para abrigar as crianças daquele local, no mesmo período foi fundada uma creche no municí-pio de Araçariguama, assistindo em torno de cem crianças e suas famílias, jun-tamente com o programa Vou Vencer, dirigido a adolescentes.

Em 1995, destacando-se pelas suas ações, foram convidados pela en-tão Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), atual Fundação Cen-tro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa), para assumir a fa-zenda Nova Vida, com 120 adolescentes na cidade de Iaras. Em 2000, inicia-ram em Sorocaba o proginicia-rama liberdade assistida, para dar assistência a ado-lescentes em conflito com a lei. Em 2002, assumiram o mesmo programa na zona norte de São Paulo, e em 2007, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, deu início ao programa Ação Família, no bairro de Perus. Atualmente mais de 130 colaboradores, entre funcionários e voluntários, participam da es-trutura humana da AEBVB, dando suporte à sua eses-trutura física, que recebe crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e suas famílias.

Atualmente a AEBVB atende mais de 600 crianças e adolescentes em cinco projetos localizados em três municípios do Estado de São Paulo, a saber: Cidade da Criança e Creche Gotinhas de Vida, Araçariguama; liberdade assis-tida (Casa Nova Vida), Sorocaba; liberdade assisassis-tida (Abrigo na Casa de Meu Pai), São Paulo.

Segundo Jonathan Ferreira, diretor-executivo da AEBVB, a "missão é garantir os direitos básicos às crianças e adolescentes em situação de risco social, para que se tornem adultos preparados para a vida" (www.valedabencao.org.br, acesso em 30/11/2011).

Contudo, a AEBVB é um projeto cristão evangélico, idealizado pelo seu fundador, pastor Jonathan Ferreira dos Santos, de origem presbiteriana, abrindo suas portas para a comunidade evangélica interdenominacional.

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meio de uma estrutura que traz em seu escopo os fundamentos para o exercí-cio do trabalho da AEBVB, vistos a seguir.

1.2. Fundamentos

Através de preceitos cristãos, como ética, moral e tendo as escrituras bíblicas como referência de fé e prática, a AEBVB ensina o respeito, o amor e a força da parceria, por meio da ética e da administração com responsabilidade.

Encontramos o seguinte relato em seu Relatório Social de 2010.

Nossa Missão: Garantir direitos a crianças, adolescentes e fa-mílias em situação de vulnerabilidade social, capacitando-os para o exercício da cidadania, tendo como base uma referência cristã, visando à transformação integral (AEBVB, 2010, p. 2).

Destacam-se ainda os valores que constituem sua visão7

Amamos a Deus sobre todas as coisas, temos a Bíblia como referência de fé e prática, valorizamos a prática da oração, res-peitamos as pessoas, agimos com ética, administramos com responsabilidade, exercemos liderança compartilhada, constru-ímos parcerias, preservamos e respeitamos o meio ambiente onde vivemos (AEBVB, 2010, p. 2).

:

Pode-se observar que a construção da instituição e de suas bases se fundamenta em princípios e valores cristãos, em substituição ou complemento às ações do Estado. Assim, tem-se o contexto de uma dialética entre o sagrado e o profano, ou igreja e Estado, em ato sacrifical a favor da humanidade, em busca de potencializar a criança e o adolescente para a vida em sociedade. Uma vez refletidos os fundamentos, apresentam-se os projetos.

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1.3 Projetos

1.3.1 Programa de apoio à família

Em parceria com a Prefeitura de São Paulo, é dirigido a famílias em condições de extrema miséria, no bairro de Perus, onde são desenvolvidas ati-vidades de geração de renda, através de oficinas de costura, confecção, pintu-ras e atividades afins que possam capacitar a mulher para gerar renda e propi-ciar autonomia e cidadania. Por sua vez, o município atende os filhos nas esco-las e creches públicas, bem como oferece atendimento médico na rede pública.

1.3.2 Liberdade assistida

Esse programa atende adolescentes que cometeram ato infracional e estão sob acompanhamento do Estado nas cidades de São Paulo e Sorocaba, SP, por meio de uma equipe formada por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. Com dinâmicas coletivas, individuais e atividades psicossociais, buscse integrar esbuscses adolescentes e suas famílias, levando-os à socialização, a-companhados pelos diversos órgãos dos poderes Executivo e Judiciário.

1.3.3 Colégio Vale da Bênção

Conveniado com o Sistema Positivo de Ensino, oferece em período di-urno ensino de educação infantil e fundamental, tendo como objetivo propor-cionar formação escolar sob uma epistemologia cristã, desenvolvendo caráter, cidadania e responsabilidade socioambiental, atendendo crianças e adolescen-tes para a inserção na sociedade. Atualmente conta com 170 alunos.

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1.3.4 Cidade da Criança

Atende meninos e meninas de 0 a 18 anos, no Vale da Bênção, por meio de oito casas-lares. O projeto é desenvolvido com atividades orientadas por pedagogas, oferece assistência psicológica, médica e odontológica e apoio espiritual. Dispõe ainda de escolas, cursos profissionalizantes, oficinas temáti-cas e grupos terapêuticos. O programa é sustentado por doações de empre-sas, pessoas físicas e convênios com prefeituras e Estado, assistindo crianças e adolescentes encaminhadas por Conselhos Tutelares8 e Poder Judiciário, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente9, constando atualmente no-venta e seis assistidos.

1.3.5 Casa Nova Vida

Dirigida a adolescentes de 14 a 18 anos, no município de Sorocaba, SP, busca oferecer apoio integral na socialização de jovens em situação de risco, desenvolvendo atividades de profissionalização e inserção na comunida-de com apoio comunida-de empresas e voluntários. Atualmente atencomunida-de 20 jovens.

1.3.6 Creche Gotinhas de Vida

Oferece assistência pedagógica e social a crianças de dois a sete a-nos, no município de Araçariguama/SP, com atividades educacionais no perío-do diurno. Oriunda de parceria com o poder público e com empresas, enquanto seus pais trabalham, as crianças participam de atividades direcionadas ao

8 Os Conselhos Tutelares, previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), são criados por lei para garantir que, nos municípios, a política de atendimento à população infanto-juvenil vai ser cumprida. Estes órgãos devem ser procurados pela população em caso de suspeita ou denúncia de violação dos direitos de crianças e adolescentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (http://www.direitosdacrianca.org.br/conselhos/conselhos-tutelares)

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seu desenvolvimento. Oferece ainda cursos e apoio às famílias dos alunos ma-triculados. Atualmente atende 125 crianças em período integral.

1.3.7 Centro Comunitário Vou Vencer

Está situado em Araçariguama, em uma região de pobreza, com gran-des índices de violência e exclusão social. Tem como objetivo dar a adolescen-tes e jovens oportunidades por meio de dança, coreografia, oficinas de grafita-gem e inclusão digital, além de atividades pedagógicas e esportivas. Dispõe ainda de oficinas de leitura para crianças e adolescentes, mantidas por meio de doações de pessoas físicas, jurídicas e parcerias com empresas e com o poder público. Apresentados os projetos, passa-se à constituição administrativa.

1.4 Administração

A AEBVB tem seu escopo administrativo composto por líderes religio-sos protestantes, sociólogos, psicólogos e profissionais de diversas áreas. Atu-almente é organizada da seguinte forma.

1.4.1 Diretoria

Presidente: Pastor Silas Marchiori Tostes. Vice-presidente: Pastor Fernando Szymczak. Primeira secretária: Elaine Cristina Costa.

Segunda secretária: Rosimeire Alves de Oliveira. Primeiro tesoureiro: Roberto Antonio Sabiano. Segundo tesoureiro: José Paulo Charbel. Vogal: Pastor Eguinaldo Helio de Souza.

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Diretores de programas sociais: Debora Lilian dos Santos Fahur e pas-tor Tercio Sá Freire de Oliveira.

1.4.2 Conselho Fiscal

Presidente: Silvia Oliveira França.

Membros: Elio Zarpelon e Maria Margarete Salgado. Suplentes: Cícero Rodrigues de Oliveira e Elza Janoni.

Esta administração possibilita e fomenta as ações da AEBVB, apresen-tadas a seguir.

1.5 Ações

1.5.1 Área religiosa

Por meio de uma equipe de voluntários e pastores ligados a diversas denominações, mantém uma capelania evangélica, dando apoio espiritual, sen-timental e religioso, buscando através da comunhão entre membros de igrejas e comunidades vivências para a socialização e recuperação do senso de família.

1.5.2 Área social

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1.5.3 Área de saúde

Psicólogos e enfermeiros acompanham diariamente as necessidades de crianças e adolescentes, monitorando o crescimento educacional, relacional e afetivo.

Contudo, para que AEBVB possa realizar seu trabalho, é necessário apresentar resultados e obter receita para os projetos, conforme os indicadores a seguir.

1.6 Indicadores

1.6.1 Atendimento

Segundo o Relatório Social de 2010, a AEBVB atendeu:

Crianças e adolescentes diretamente... 2.240 Famílias ... 938 Atendimento indireto ... 8.960 Intermediou durante seus vinte e cinco anos de existência junto às Va-ras da Infância e da Juventude a adoção e o retorno à família biológica de 832 crianças e adolescentes, segundo o relatório de atendimento de 2009/2010.

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Em seguida podemos analisar o relatório de receitas.

1.6.2 Receita

Os recursos para manutenção do projeto são originários de três seg-mentos, sendo que os organismos públicos representam a maior parte, con-forme o gráfico abaixo:

33%

5% 6% 8% 21%

27%

AEBVB

AÇÃO FAMÍLIA

GOTINHAS DE VIDA

NOVA VIDA E CIDADE DA CRIANÇA

COLÉGIO VALE DA BÊNÇÃO

LA SÃO PAULO E SOROCABA

VOU VENCER

49%

28% 23%

0%

AEBVB

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Recursos Públicos ... 49% Doações ... 28% Parcerias Corporativas ... 23% Uma vez apresentados os resultados, verifica-se os reconhecimentos de órgãos públicos e privados.

1.7 Reconhecimento

No decorrer de seus 25 anos de existência, a AEBVB tem sido reco-nhecida como instituição de grande valor por várias esferas de governo, bem como no meio empresarial. Aqui são apontados alguns reconhecimentos obti-dos nas esferas federal, estadual, municipal e de entidades de classe, empre-sas e igrejas, dispostos no Relatório Social de 2010.

1.7.1 Inscrições e títulos

Utilidade pública federal – decreto de 16 de setembro de 1997, publi-cado no Diário Oficial da União, de 17 de setembro de 1997, seção 1, página 20.606, processo MJ 16.150/93-2.

Utilidade pública estadual, Estado de São Paulo, Lei 9.025, de 26 de setembro de 1994.

Utilidade pública municipal, Sorocaba, SP, Lei 5201, 16 de setembro de 1996.

Utilidade pública municipal, São Roque, SP, Lei 2.100 de 16 de setem-bro de 1996.

Utilidade pública municipal, Araçariguama, SP, Lei 371, de 27 de outu-bro de 2004.

Registro no CNAS, processo 44006.000426/97-85, resolução 173 de 22 de outubro de 1997.

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CDMCA/Sorocaba – 47.

CDMCA/Araçariguama – 01/99.

COMAS/São Paulo – inscrição 897/2007. COMAS/Sorocaba – Inscrição 17.05.1999. COMAS/Araçariguama – inscrição 001/2000.

1.7.2 Prêmios e certificados

Prêmio Sorocaba Cidade Solidária –iniciativa da CPFL e do Jornal Cru-zeiro do Sul.

Prêmio Regional de Qualidade da Gestão – oferecido pelo Instituto de Excelência da Gestão (Ipeg).

Certificado de Entidade Cidadã – oferecido pela Câmara Municipal de Sorocaba.

Certificado Mude um Destino – oferecido pela Associação dos Magis-trados Brasileiros em favor das crianças e dos adolescentes que vivem em a-brigos.

Certificado Empresa que Educa – oferecido pelo SENAC, São Paulo.

1.7.3 Amigos e parceiros

A AEBVB é apoiada por 43 empresas e 22 igrejas que mensalmente contribuem com doações financeiras, materiais e alimentícias, que possibilitam o atendimento de qualidade juntamente com o apoio governamental, conforme verificamos no próximo tópico.

1.7.3.1 Governo

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Prefeitura de São Paulo, SP. Prefeitura de São Roque, SP. Prefeitura de Sorocaba, SP. Fundação Casa.

Fundo Social de Araçariguama, SP.

Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad). Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Dessa forma, o trabalho realizado pela AEBVB traz em seu escopo uma práxis cristã em um espaço público, fomentado pelo Estado. Neste primei-ro capítulo pode-se ver o reconhecimento e a apprimei-roximação de religião e Estado na causa social. De fato, as igrejas desfrutam de forte proximidade com a soci-edade, desburocratizando o sistema e permitindo uma resposta eficaz às ne-cessidades sociais, o que viabiliza ações públicas.

As instituições ligadas à religião merecem o reconhecimento, credibili-dade e prestigio perante o contexto das ONGs no Brasil como podemos verifi-car no quadro apresentando no início realizado pelo IBGE, coadunando com este quadro podemos verificar em Carvalho.

Segundo Carvalho (1997) “diante do contexto de precarização das polí-ticas públicas sociais, as entidades religiosas passam a se envolver no enfren-tamento da questão social, [...] compõem o projeto de reprodução social das famílias empobrecidas, [...] a igreja se faz presente no cotidiano de muitas fa-mílias e comunidades, sendo a instituição com maior credibilidade para a popu-lação fragilizada”.

Desta forma, se vê com objetividade a inferência da igreja em substitui-ção às ações do Estado que transfere suas obrigações através de parcerias e associação.

Enquanto a igreja faz expiação pelos necessitados suprindo suas ne-cessidades, o Estado entra em simbiose com a Igreja para suprir as necessi-dades assistenciais legitimando o trabalho da AEBVB, reforçando a necessida-de da presença da religião na construção educacional e social do cidadão.

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2 CIDADE DA CRIANÇA

Neste capítulo serão abordados alguns aspectos que envolvem a vi-vência e as experiências no trabalho desenvolvido pela AEBVB, especificamen-te na Cidade da Criança, objeto de nossa pesquisa. Através de entrevistas a funcionários, colaboradores, voluntários, dados estatísticos, reconhecimento da sociedade e governos, refletiremos sua visão, missão e valores.

2.1 Propostas de Trabalho

Durante o período de pesquisa foram realizadas entrevistas com o pas-tor Jonathan Ferreira, fundador do Vale da Bênção, direpas-toria, funcionários e abrigados. Essas entrevistas somadas a depoimentos e publicações internas permitem uma análise da proposta de trabalho

2.1.1 Visão

A visão da AEBVB no trabalho aplicado na Cidade da Criança é aco-lher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos destituídos temporariamente de suas famílias por ordem judicial ou por meio dos Conselhos Tutelares, abrigan-do-os em nove casas-lares. Desenvolvendo atividades orientadas por pedago-gas e oferecendo assistência psicológica, médica, odontológica e apoio espiri-tual, dispõe ainda de escolas, cursos profissionalizantes, oficinas temáticas e grupos terapêuticos, buscando atender em um ambiente familiar as crianças e adolescentes abrigadas até decisão judicial.

Ana Silvia, bacharel em psicologia e administradora da Cidade da Cri-ança, relata:

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seio [da] família, ou se for destituído em definitivo, adotado ou completando 18 anos de idade [sic].

2.1.2 Missão

A AEBVB, entidade assistencial, filantrópica, sem fins lucrativos, tem por finalidade estatutária assistir e garantir direitos às crianças, adolescentes e familiares em situação de risco social, capacitando-os para o exercício da cida-dania, tendo como base uma referência cristã, visando à transformação inte-gral, preparando-os para a volta ao convívio familiar e social.

2.1.3 Valores

Para que possa cumprir a visão e concretizar sua missão, a AEBVB, por meio da Cidade da Criança, tem certos princípios e valores em seu escopo:

2.1.3.1 Espiritual

A oração é o combustível que motiva o trabalho na Cidade da Criança, e o projeto exerce sua espiritualidade cristã. Jonathan Ferreira afirma que a oração é um dos pilares da instituição, que acredita na reconstrução familiar mediante a proclamação do evangelho de Jesus, respeitando a liberdade de religião dos abrigados: “Amamos a Deus sobre todas as coisas, temos a Bíblia como referência de fé e prática, valorizamos a prática da oração, respeitamos as pessoas” (AEBVB, 2010, p. 2).

Sobre a oração, Roger Bastide (2006, p.166), em sua obra O sagrado selvageme outros ensaios, oferece a seguinte definição:

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Da mesma forma, Ana Silvia, administradora da Cidade da Criança, relata:

Através da Bíblia Sagrada se busca inserir a ética e a moral, fortalecendo a cooperação, [o] amor, [a] valorização do ser humano [e a] espiritualidade. Mesmo sabendo que a instituição é evangélica, não se obrigam os adolescentes a participar de cultos, ouvir música evangélica ou qualquer outra forma obriga-tória que possa ser considerada proselitismo [sic].

Como instituição evangélica, fundamenta a crença de que crianças e adolescentes em situação de risco social devem ser assistidas pela igreja no cumprimento da missão social de assistir os órfãos e necessitados. O contato com o sagrado, ou seja, uma intimidade com Deus, agregado aos serviços dis-postos gera transformação ética, moral e espiritual, conduzindo-os à valoriza-ção da vida e da cidadania. Dessa forma não se está afirmando meramente uma perspectiva transcendente, mas uma práxis aliada com a fé.

2.1.3.2 Ética e transparência

Percebe-se uma preocupação com divulgação e transparência aos man-tenedores e pretensos manman-tenedores, bem como diante da opinião pública e do governo quanto ao uso dos recursos destinados à instituição, seja pelo Estado, seja pela iniciativa privada. “Agimos com ética, administramos com responsabili-dade, exercemos liderança compartilhada. Construímos parcerias, preservamos e respeitamos o meio ambiente onde convivemos” (AEBVB, 2010, p. 2).

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ressaltar que conquistou o direito de receber como doação créditos da Nota Fiscal Paulista.10

A diretora dos programas sociais da instituição, Débora Lília dos Santos Fahur, diz:

Através deste relatório Anual 2010, reconhecemos o quanto fomos abençoados pelo Deus que ama crianças, e transforma para melhor os seus caminhos. Reconhecemos também o es-forço dos nossos colaboradores, que dia a dia se dedicam para educar e ensinar crianças e adolescentes. E a participação efe-tiva dos doadores e parceiros que têm estado presente através de suas contribuições tão significativas. Nossa expectativa é que ao ler este relatório de atividades, você possa conhecer melhor nossas atividades. Que possa também estar sensível a prosseguir nessa caminhada, apoiando e abençoando crianças e famílias [sic] (AEBVB, 2010, p. 4).

Percebe-se nessa declaração a relação da instituição com o sagrado. Para exemplificar a declaração de Débora Lília dos Santos Fahur, toma-se co-mo base o texto de Mateus 18.1-14, onde se apresenta a referência a criança. Nesse texto Jesus Cristo é indagado por seus discípulos sobre quem era o maior no reino dos céus.

Jesus Cristo então chama um menino e coloca-o como exemplo em meio aos discípulos, afirmando que aquele que se tornasse humilde como a-quele menino seria o maior no reino dos céus. Afirma ainda que aa-quele que recebe um menino em seu nome também o receberia e que se algum dos seus discípulos fizesse mal a alguma criança melhor seria pendurar um peso ao pescoço e se jogar ao mar. Ainda afirma que não é da vontade de Deus que nenhum dos pequeninos se perca. Dessa forma, a Cidade da Criança exerce seu papel de alcance integral da igreja, acolhendo crianças e adolescentes em situação de risco social, intervindo em conjunto com autoridades para que suas dores sejam amenizadas.

Percebe-se nestes depoimentos a vivência do sagrado na instituição. Peter Berger (2004, p.39) em O dossel sagrado comenta:

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O sagrado é apreendido como algo que “salta para fora” das rotinas normais do dia a dia, como algo de extraordinário e potencialmente perigoso, embora seus perigos possam ser domesticados e sua força aproveitada para as necessidades cotidianas”.

2.1.3.3 Humano

Uma vez que a figura do sagrado está presente nas vivências da insti-tuição, é compreensível que haja também a valorização do indivíduo. Geral-mente pessoas em situação de risco social são estigmatizadas e, nesse senti-do, os abrigados da instituição são conhecidos como as crianças do Vale da Bênção. Dessa forma, a valorização do indivíduo se faz necessária para que sejam respeitadas e aceitas na reintegração à sociedade.

Para que o indivíduo se sinta acolhido, a instituição oferece condições para que tenham experiências reais com Deus, valorizem o trabalho, a família e a comunidade, de forma a descobrir o valor pessoal e se preparar para ter uma vida digna, independentemente do fato gerador de sua estada na instituição. Nesse sentido, o valor da vida para o ser humano pode ser vivenciado por meio do amor de Deus.

Peter Berger (2004, p. 29) diz: “O indivíduo é socializado para ser uma determinada pessoa e habitar um determinado mundo”. Sendo assim, se pro-cura a valorização do indivíduo, com o entendimento de que todo ser humano é imagem e semelhança de Deus.

2.1.3.4 Excelência

Uma vez que se classifica como instituição sem fins lucrativos e não governamental, com o objetivo de apoiar serviço de caráter público, é funda-mental a integridade para se adquirir excelência. Nessa dialética, adquire-se credibilidade pela excelência do serviço a que se presta, esperando-se gerar nas crianças a formação de um cidadão autônomo e independente.

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acom-panhar o desenvolvimento de centenas deles. Alguns já terminaram faculda-des, outros estão casados e têm filhos, foram amparados na hora certa” (AEBVB, 2010, p. 3).

Da mesma forma, Debora Lilia, diretora de programas sociais, declara:

Presenciamos a chegada de muitas crianças para serem atendi-das em nossas casas-lares, vivenciamos a saída de muitos jo-vens ao completarem seus 18 anos. E, especialmente em 2010, pudemos de forma graciosa reencontrar jovens que compuse-ram suas próprias famílias, que têm seus próprios filhos. Muito deles, com um bom emprego, convivendo com as responsabili-dades de pais e mães de família (AEBVB, 2010, p. 4).

2.1.3.5 Educação

A educação da criança e do adolescente tem seu valor especial no processo de socialização no Vale da Bênção. Geralmente as crianças e ado-lescentes atendidos vêm de lares cuja estrutura familiar não foi capaz de pro-porcionar uma educação eficaz através da rede de ensino. Nesse sentido é comum que esse indivíduo tenha problemas para se submeter a regras, obedi-ência e uma escala de valores da sociedade, o que justifica a valorização da educação pela instituição.

A administradora da Cidade da Criança, Ana Silvia, questionada sobre a educação, relata: “Todas as crianças estudam, fazem oficinas, [participam de] coral, cursos junto à comunidade. Alguns estudam no colégio do Vale da Bênção e os demais na rede pública de ensino municipal e estadual [sic]”.

2.2 Atividades

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Questionada sobre o perfil exigido para aquele que deseja compor a equipe de profissionais, Ana Silvia diz:

[...] a pessoa tem que ter formação mínima de segundo grau, porém, pela dificuldade de contratação de pessoas que se qualifiquem mediante os salários oferecidos, existem mães com primeiro grau. Tem que gostar de crianças, ser evangé-lica, se dispor a conduzir o ensino da ética familiar através da Bíblia [sic].

Atualmente a equipe de colaboradores possui 33 pessoas distribuídas nas atividades administrativas e sociais, voluntários permanentes e voluntaria-do esporádico para manutenção predial.

Tabela 2.1 Colaboradores da Cidade da Criança

Colaboradores Quantidade

Funcionários 29

Voluntários permanentes 4

Para que os abrigados possam conviver em um ambiente que os valo-rize com seres humanos e priovalo-rize os relacionamentos familiares, o Vale da Bênção contrata mulheres na função de mães sociais, contudo, seus maridos passam a exercer a função de pais sociais voluntariamente. Nesse sentido, chama a atenção o fato de que algumas dessas famílias têm filhos e, dessa forma, eles passam a exercer função voluntária indiretamente na socialização dos abrigados, uma vez que passam a coabitar em um relacionamento de i-gualdade, dividindo a atenção de seus pais com os demais.

Sobre esse assunto, Ana Silvia diz:

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Em seu escopo de atividades, a Cidade da Criança dispõe de uma es-trutura que envolve psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e capelães, que visam mentorear, monitorar e acompanhar os abrigados em suas necessida-des, bem como atender seus funcionários. Ainda são oferecidos aos abrigados atendimento odontológico, cursos de informática, cabeleireiro e capacitação profissional em parceria com empresas privadas no programa Jovem Apren-diz11 para aqueles quem têm mais de 14 anos.

2.2.1 Triagem

O processo de triagem é de responsabilidade da autoridade Judiciária ou Conselho Tutelar, ficando a instituição Vale da Bênção responsável pela acolhida, acompanhamento e relatórios periódicos a essas autoridades. No entanto, ao chegar ao abrigo, as crianças ou os adolescentes necessitam de cuidados higiênicos. Nesse caso, é feito um trabalho de conscientização para tomarem banho e valorizarem a higiene pessoal e coletiva. Outro desafio é convencê-los a ficar no abrigo, uma vez que não há muros, seguranças ou qualquer outro aparato que sugira o uso de força. Diante da proposta de traba-lho de livre acesso, alguns desistem, ficando a responsabilidade pelo mesmo sob a tutela do Estado. Esse trabalho de conscientização é feito de forma sis-temática pela área técnica, através de psicólogo, psicopedagoga e assistentes sociais.

Vera Lucia Gaboardi Ferreira, psicóloga da instituição, em entrevista nos relata: “Geralmente a criança chega insegura, com medo, há uma falta de conhecimento e desvalorização, então se torna agressiva, e algumas fogem.”

11 A profissionalização do adolescente é uma etapa do seu processo educativo (ECA, art. 62) e, portanto, a razão de ser do trabalho é a formação, não a produção. O programa Aprendiz Legal, ao basear-se na Lei 10.097/2000 e em sua regulamentação, o Decreto nº 5598/2005, legitima a intenção e os esforços para contribuir com a empregabilidade de nossos jovens, especialmente os menos privilegiados. Este é um passo para integrar a sociedade em torno de uma causa comum: atender à necessidade dos jovens com suas diferenças individuais, suas condições específicas, aprendendo a conviver com a diversidade humana sem

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Uma vez abrigadas, as crianças passam por um período de adaptação de 30 dias, no qual serão acompanhadas diariamente pelas mães sociais, que informam as dificuldades da criança à equipe técnica.

Questionada, Marli Muniz, mãe social, relata: “As crianças chegam com carência da família, porém não sabemos o [seu] histórico, contudo, com o passar do tempo, as crianças [o] contam. Em geral, o problema envolve bebidas [...]”.

2.2.2 Rotina

Todos os funcionários do Vale da Bênção são registrados, exercendo cada um função específica com seus direitos trabalhistas devidamente garan-tidos. O trabalho é ininterrupto, uma vez que as mães sociais estão 24 horas convivendo com as crianças. Logo após uma breve oração feita por uma das crianças, é servido o café, em seguida, é distribuída as tarefas a cada um pa-ra manutenção e limpeza da casa. Essa limpeza tem o objetivo de ensinar a criança a valorizar, respeitar e desenvolver valores de cooperação. Para a-queles que estão em período escolar, as tarefas são distribuídas conforme sua disponibilidade de horário, preservando o direito à criança de horários para tarefas escolares, diversão, consultas médicas e odontológicas, cursos e demais necessidades. No caso dos menores até nove anos, é disponibilizada uma funcionária que faz o serviço de limpeza e lavanderia. Todas as refei-ções são preparadas em uma cozinha central e distribuídas às nove casas-lares de segunda a sexta. Nos sábados e domingos, as mães sociais são res-ponsáveis pelo preparo da alimentação, orientadas por um profissional de nutrição. Todas as crianças se levantam às 6h, tomam café às 7h, almoçam ao meio-dia, lancham às 16h, jantam às 19h e, de forma geral, se recolhem às 22h. Eventualmente são proporcionados passeios a outras cidades, praias, museus, teatros, cinemas, eventos esportivos e evangelísticos. Aos sábados, é liberada a visita aos seus familiares e a recepção de visitantes, ficando to-dos livres de obrigações e tarefas.

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neces-sidades materiais e supervisionar a execução dos trabalhos diariamente. Distri-buo as tarefas aos funcionários, elaboro o cardápio sob orientação da nutricio-nista e supervisiono a rotina das casas”.

A respeito da rotina, a mãe social Marli Muniz relata:

[...] fazemos devocional, vamos à igreja. Identificamos nas cri-anças um comportamento equilibrado aos frequentadores da igreja, diferente dos não freqüentadores, que demonstram a-gressividade [sic].

Identificam-se nesses relatos elementos de contribuição da religião de maneira positiva no desenvolvimento emocional da criança e funcionários.

Questionada sobre a rotina, a mãe social Maria de Fátima Carmo diz: “Tem horário para toda atividade, para acordar e para dormir.”

Pode-se observar que, de alguma forma, todos estão envolvidos em a-tividades que ocupam seu tempo produtivamente, por meio de conhecimento e capacitação, e que comunicam valores morais e éticos.

Nos períodos em que as crianças não estão envolvidas em tarefas, es-tudos ou participando de cultos, podem utilizar playground, campo de futebol, quadras de esporte e jogos como dama e xadrez, além de televisão e bibliote-ca, para que desenvolvam integração e socialização com outras crianças.

As atividades religiosas são dirigidas através de estudos bíblicos, histó-rias lúdicas e cultas, exercendo papel fundamental na socialização da criança. Leitura bíblica, oração e louvor os desafiam a experimentar a mudança do comportamento agressivo para um passivo e a formação do caráter através de valores cristãos bíblicos. As temáticas bíblicas permitem uma abordagem em diversas áreas, trabalhando os conflitos emocionais das crianças. Como todas as pessoas envolvidas no cotidiano participam de uma cosmovisão cristã bíbli-ca, sessões de aconselhamento pautadas por valores bíblicos permitem que seja dada atenção às crianças e resgatado seu valor como ser humano.

Questionado, o abrigado R.A.D., que passou por outros abrigos, diz:

Imagem

Tabela 2.2 Casas-lares da Cidade da Criança
Foto da fachada do Colégio Vale da Bênção

Referências

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