PE
402
ALEXANDRE
RICHTER
DOR
E
ANALGESIA
PÓS
-OPERATÓRIAS
NO
HOSPITAL
INFANTIL
JOANA
DE
GUSMÃO
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a
conclusão do Curso de Graduação
em
Medicina.FLORIANÓPOLIS
-
SANTA CATARINA
ERRATA
1
No
Trabalho deConclusão
deCurso
deGraduação
em
Medicina,entitulado
“Dor
e analgesia» pós-operatóriasno
Hospital Inafantil Joana deGusmão”,
do acadêmico Alexandre
Richter,há
um
lapso de digitaçãono
Método
(página 26),no
Resumo
(página 44) eno
Summary
(página 45),todos referentes ao
número
total de pacientes avaliados, que é de224
(enão
214,como
digitado).Todos
os resultados ~ci›tadosno
trabalho estão deacordo
com
anumeração
correta,não
ocorrendo interferência pelo erro supracitado.ALEXANDRE
RICHTER
DOR
E
ANALGESIA
PÓS
_OPERATÓRIAS
No
HOSPITAL
INFANTIL
JOANA DE
GUSMÃO
Trabalho apresenta_do à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a conclusão do Curso de Graduação
em
Medicina.Coordenador
do
Curso:
Prof. Dr.Edson
JoséCardoso
Orientadora:
Prof”. Dr”.Maria
CristinaSimões de
Almeida
FLORIANÓPOLIS
'-'SANTA
CATARINA
AGRADECIMENTOS
A
todos os funcionáriosdo
Hospital InfantilJoana
de
Gusmão
que
contribuíram
gentilmentepara
a realização desse estudo.Aos
professoresMaria
CristinaSimões
de
Almeida
eMário
José
da
Conceição,
porque
mais do que
idealizar e orientar trabalhos,os
mestres
educam
seus pupilos.A
meus
amigos,
pela torcida.A
minha
família, pelo carinho.E
a Juciena,minha
mulher,
a
quem
sempre
agradecereipor
minha
felicidade.DEDICATÓRIA
Dedico
esse estudo,assim
como
a vida, àmemória
do
meu
ídoloe
melhor amigo
~ 1.
INTRODUÇAO
... .. ~ ~ 2.REVISAO
DE
LITERATURA.
ÍNDICE
z › › à ó à z ‹ › - o . z . . . . z» . z . . . z z . . . .- 2.1 .Fisiopatologiada
nocicepção ... .. 2.2.Drogas analgésicas ... .. 2.3.Ana1gesiaPreemptiva ... _. 2.4.Ava1iaçãoda
dor ... ._ 3.oBJET1vo
... .. 4.MÉTODO
... .. 5.RESULTADOS
... .. ó.D1scUssAo
... .. 7.coNcLUsÃo
... .. 3.REFERÊNCIAS
... ._ 9.NORMAS ADOTADAS
... .. . . ¢ ¢ . . . › ó ú z à ¢ › › . z. . - . . . - . . . - . - .ú z ¢ . . z . . . » . . z ¢ .- . » . » » . . . - . › › oz . z › . . ‹ › . . . .z . . . . - | - z ¢ - ¢ . ¢ z z - .- . . . . › . . › . . - z › . › › óo . . . . . . . ¢ . » . - › .- . . . z . . - › .z10.RESUMO
... .. l1.SUMMARY
... .. . › . . z › z › » » . ‹ - . . ¢ . z.12.APÊND1cE
...1.INTRoDUÇÃo
Apesar
dos grandes avançosno
estudoda
dor e seu controle, ainda éelevada a prevalência desse sintoma
no
pós-operatório.Em
recentelevantamentol,
77%
de pacientes adultos relataram dor pós-operatória e,em
80%
desses, a dor era demoderada
a extrema.Em
dois estudoscom
crianças,obteve-se
uma
incidência semelhante”.Com
a evidênciada
necessidadede
mudanças
na
abordagem
desse problema, a Associação Internacional parao
Estudo da
Dor
(IASP), criadaem
19744,tem
realizado diversos encontros e trabalhos a respeito.A
partirda
metade da década
de 80,houve
grandesavanços na
sistematização
do
tratamentoda
dor pós-operatória,com
aformação
dosServiços
de
Dor Aguda
(SDA)5.Em
1991, Wheatley,RG;
Madej,
TH;
Jackson, IJB et alô relataram os primeiros resultados após
um
ano
de operaçãodesse serviço.
No
ano
seguinte, Gould,TH;
Crosby,DL;
Harmer,
M
et a17avaliaram os efeitos
de
um
SDA
implantado deforma
gradativa.Recentemente,
autoresgdemonstraram
a eficácia demétodos
simplesno
manejo da
dor pós-operatória,com
a introdução de protocolosque não
requerem
grandes recursos. Outros autores9 avaliaram a eficáciado
SDA,
caracterizando a dor, os vômitos, o sono e a satisfação
do
paciente, durante os três primeiros dias pós-operatórios, antes e após a implantação desse Serviço.Apesar
dascomprovações
de eficácia e relação custo-beneñciog dessaabordagem,
um
levantamento de 101 hospitais de 17 paísesmmostrou que
amaioria dos hospitais europeus
não
havia implantadoum
SDA
até 1998.Nesse
insatisfeitos
com
o
resultadoda
analgesiaempregada
eque poucos
serviços utilizavamalgum método
de avaliaçãoda
dor deforma
rotineira.Dessa
forma,tomou-se
necessária a avaliação das rotinasde
analgesiaempregadas
em
nosso meio,onde não há
Serviçode
Dor
Aguda,
eda
suaeficácia
no
tratamentoda
dor pós-operatória dos pacientes pediátricos.Com
2.
REVISÃO DE LITERATURA
2.1.Fisiopatologia
da
nocicepção
.A
sensibilidade periférica a estímulos nocivos émediada
pelos nociceptores”. Esses são terminações nervosas amielinizadas que, aoreceberem
um
estímulo capazde
exceder o limiar excitatório,deflagram
um
impulso nervoso a ser transmitido, por sua respectiva
fibra
nervosa aferente, até a sinapse medular.Na
pele,há
em
média 200
tenninações nervosaspor
cmz.Os
nociceptores demaior
número
são os polimodais C,que
respondem
a estímulos nociceptivos térmicos,mecânicos ou
químicos.Há
também
os nociceptorespolimodais
Aõ, que
respondem
a estímulos térmicosou
mecânicos.Em
músculos, articulações e vísceras, só
deflagram
a sensação dolorosacom
tração, distensão,
espasmo
ou
isquemia,ou
aindana
presença defenômenos
inflamatórios,
que
modifiquem
a sensibilidade dos receptores aos estímulos térmicosou
mecânicos.Os
nociceptores secomportam
na
sua maioriacomo
quimiorreceptores, apesar deresponderem
também
a estímulosmecânicos
e témrioosll.Há
diversos neurotransmissores envolvidos nesse processo: serotonina, histamina,
acetilcolina e cininas
como-
a bradicinina.As
prostaglandinasnão
sãoalgógenas propriamente ditas,
mas
estimulam
o efeito álgicode
outrassubstâncias,
como
a serotoninaou
a bradicinina.Também
merecem
destaqueoutros compostos,
como
a substância P, o peptídeo relacionado aogene da
calcitonina(PRGC)
e diversas outras substânciascomo
ATP,
ADP,
íon potássio e ácido láctico”. Esses produtospodem
ser produzidos pelo tecido,provenientes
da
circulação. Essas substâncias juntasdiminuem
o limiarexcitatório dos nociceptores e
podem
inclusive ativar os nociceptores “silenciosos”“,que não
são estimuladosem
estado nonnal. Essefenômeno
édenominado
Hiperalgesia Primária,ou
Sensibilização Periférica, tendoum
papel fundamental
na
dor após lesão tecidual, inflamaçãoou
isquemia”.A
dor causada por lesão tecidual é divididaem
somáticaou
visceral”.A
somática é oriunda de pele e tecidos profundos e
tem
um
caráter constante,localizado, contínuo e latejante. Ela
pode
ser divididaem
“fisiológica” e“fisiopato1ógica”l3.
A
“fisiológica” (ou “primeira dor”¡4, “rápida”) é reconhecida por receptores térmicos emecânicos
de alto limiar e oimpulso
éconduzido
por fibras mielinizadasA5
(com
2 a 5um
de
diâmetro eque
conduz
a 12 a30
ms`1). Apresenta-sede forma
abrupta, localizada e de curta duração,sendo
responsável peloreflexo
de retirada,ou
seja, exerce funçãoprotetora. Esse tipo de dor
não
é suprimido pela morfina.A
“fisiopatológica”]3(ou
“segunda
dor”]4, “lenta”) derivada
ativação de receptores térmicos,mecânicos
equímicos
de alto limiar, gerandoum
impulsoque
sepropaga por
fibrasnao
mielinizadasC
(com
diâmetromenor
que
2um
econduçao
a 0,5 a2 ms`1).
É uma
dor contínua, difusa e de longa duração.Produz espasmo,
rigidez e proteção
do
local deorigem do
estímulo, Esse'tipo de dorpode
sersuprimido pela morfina.
A
dor visceral é sentidaem
órgãos inervados pelo simpático,com
distribuição e características
mais
vagas.É
freqüentemente definidacomo
profunda, contínua eem
aperto. Possui diferenças fisiológicasda
nocicepçãosomática: a densidade de nociceptores nos tecidos viscerais é
menor
que
1%
em
relação à distribuição somática, oimpulso
é geralmenteconduzido por
fibras amielinizadas e o
mapeamento
cortical émenos
definido.As
fibras aferentes periféricas”têm
seus corpos celularesnos
gângliosradiculomedular, as fibras de grosso calibre se
separam
das depequeno
calibre eentram
pelocomo
posterior da medula.As
fibras amielínicasocupam
a partelateroventral
do
como
posterior, enquantoque
asmais
grossas estãonuma
posição mediodorsal.
Fazem
suas projeções pelascamadas
deRexed
do
como
dorsal e se
dividem
em
ramos
ascendentes e descendentes,que progridem por
um
a seissegmentos
medulares.Os
principaisneuromediadores
excitatórios da primeira sinapse são oATP,
os
aminoácidos
excitatórios e os peptídeos excitatórios”.O
ATP
atuaem
receptores de purinas e sua ação épouco
conhecida.Os
principaisaminoácidos
são glutamato e aspartato,que
atuam nos
receptores ionotrópicos
-
NMDA
(N-Metil-D-Aspaitato),AMPA
eAP4
-
emetabotrópicos. Acredita-se
que
os receptoresAMPA
eAP4
sejam
responsáveis pela transmissão excitatória rápida
no
SNC.
O
receptorNMDA
teria a função de potencialização da transmissão a longo prazo,
com
papelna
memória
e aprendizado”.Em
estado basal, o canal iônicode
cálciodo
receptor
NMDA
estábloqueado
pelo íonmagnésio".
Esse bloqueio évoltagem-dependente.
Com
estímulo intenso, repetidoou
sustentado das fibrasC, ocorre a abertura
do
canal e o conseqüenteinfluxo
de cálcio,que
acelera a despolarização.A
fosfolipaseC
e a adenil-ciclase ativamuma
cascatade
eventos,
como
oinfluxo
de cálcio e aprodução
de inositol trifosfato,diacilglicerol, óxido nítrico e
GMP
cíclico.O
óxido nítrico passa facilmentemembranas
e a eletêm
sido imputadas diversas funções. Ele poderia realizaruma
neuromodulação
retrógrada, difundindodo
sítio pós-sináptico para o pré-sináptico e então modularia a liberação de neurotransmissores,
ou algumas
vezes funcionaria
como
o próprio neurotransmissor.Na
cascata nociceptiva, ocorretambém
a expressao dos genesc-FOS
e c-da
expressão denovos
genesda dinorñna
e de encefalinas, relacionados àgênese
da
dor crônica.Entre os peptídeos excitatórios, os
mais
estudados são a substância P, aneurocinina
A
e a neurocinina B,que atuam
em
receptores específicos.A
substância
P
parece sermais
um
neuromodulador
excitatóriodo que
realmenteum
neurotransmissor, tendo a propriedade de reforçar as descargasprovocadas
por
um
estímulo nociceptivo,sem
modificar a atividade neuronal espontânea.No
como
posteriorda
medula, os aferentes primáriosfazem
sinapsecom
os neurônios proprioespinhais,
com
os intemeurôniosmedulares
excitatóriosou
inibitórios ecom
as projeções supra-espinhaisn.Os
neurônios nociceptivosdo
como
dorsalda
medula
são classificadoscomo
específicosou
não,em
relação à nocicepção'4"5_Os
neurônios nociceptivos específicos”respondem
a estímulosque
atingem
alto limiar,com
potencial de lesão tecidual.Alguns
são específicos auma
modalidade
nociceptiva;como
térmicaou
mecânica, enquanto outrosrespondem
aambas,
bem
como
a estímulos químicos de alta intensidade.Recebem
sinapse das fibras aferentesque inervam
pele e músculos.Os
neurônios nociceptivos inespecíficos(WDR,“wide-dínamic-range”)
respondem
tanto a estímulos não-nociceptivos quanto aos nociceptivos,codificando
a intensidadedo
estímuloem
freqüência de impulsos nervosos.Recebem
sinapses provenientes da pele,músculos
e vísceras,agrupando
freqüentemente os impulsos de
um
dado dermátomo.
Podem
apresentar aspropriedades
de
convergênciasde
fibras (tanto mielinizadas quantoamielínicas), de
modalidades
(térmicas e mecânicas; nocivasou
não) e de órgãos (participandona
fisiologiada
dor referida).A
transmissão nociceptiva émodulada,
durante seu trajeto medular, porEm
circunstânciasnormais
os neurônios desegunda ordem,
pós-sinápticos,determinam
uma
resposta estímulo-dependente fixa. Entretanto, sehá
estímulode
fibrasC
e esse é repetido auma
freqüênciamaior que
0,33Hz, a respostados neurônios nociceptivos inespecíficos
aumenta
em
magnitude
e duração”.Isso parece ter efeito progressivo e de longa duração e levar à despolarização
parcial
da
célula, oque
a deixariamuito mais
susceptível anovos
impulsos aferentes, por diminuir o limiar excitatório. Essefenômeno,
conhecidocomo
sensibilização central, facilitação espinhal
ou “wind up
”,também
expande
aárea de superficie corporal capaz de estimular
o
neurônio sensibilizado.Na
sensibilização central
há
principalmente a participação de neurocininas (substânciaP
e seu receptorNK-1)
ede aminoácidos
excitatórios (glutamatoatuando
no
receptorNMDA).
A
inibição espinhal ocorre pelas seguintes interações:- com
aferentes de grosso calibre (AB): através deum
circuito espinhallocalizado, o estímulo de fibras aferentes
de
baixo limiar (AB)produzem
inibição pré-sinápticaem
outros aferentes primários, incluindo nas fibras C.O
campo
receptor dos neurônios sensitivos espinhais apresenta duas zonas:uma
central excitatória e outra periférica inibitória.
A
aplicação de estímulomecânico
não-nociceptivo,na
zona
periféricade
captação, estimula fibrasde
grande calibre
que inibem
a atividade aferente desse neurônio.São
mediadores
desse efeito, principalmenteo
ácido y-aminobutírico(GABA)
e osreceptores de outros neurotransmissores inibitórios,
como
os opióides (tt e õ),os adrenérgicos (otz), os serotoninérgicos e os colinérgicos;
- com
aferentes depequeno
calibre: atravésdo
estímulo nociceptivo, pode-se ter inibição de neurônios aferentesmedulares por componentes
espinhais esupraespinhais.
Há
inibiçãoda
nocicepção,em
neurônios nociceptivos inespecíficosdo
trato espino-talâmico,quando
ocorre estímulo de altaintensidade
em uma
grande partedo
corpo, inclusiveno
lado contra-lateralou
no
própriocampo
receptivo desses neurônios.Têm
sido descritasalgumas
alterações morfológicasmedulares
após lesãoneuronal aferente periférica,
como:
as fibrasAB,
responsáveis pelo tato epropriocepção,
ocupam
lugares_na
medula
que
antesrecebiam
impulsospredominantemente
das fibras C, tendo efeito inibitóriona
primeira sinapse nociceptiva; ehá
alteraçõesna
estrutura dasmembranas
dos neurôniosque
fazem
sinapsecom
os aferentes primários. Sugeriu-seum
papel importantedessas alterações
na
regulaçãoda
excitabilidade aferentedo
como
dorsalló.A
maior
parte das fibras nociceptivas ascendentes,que partem do
como
posterior
da
medula,cruzam
a linhamédia
até ganharo
quadrantemedular
ântero-contralateral,
por onde
ascendem
às porções superioresdo
sistemanervoso central. Elas se projetam essencialmente para
formação
reticular,mesencéfalo e tálamo.
As
técnicas eletrofisiológicas utilizadas,em
estudos dasvias neuronais, privilegiam
o
estudo dos fascículos diretos, poisnão permitem
estudar
adequadamente
as vias polissinápticas. Portanto as viasmais
estudadasna
nocicepção são os fascículos espinotalâmico, espinorreticular eespino(ponto)mesencefálico,
além
dos espinosolitário e espinocervicotalâmicode
Morin
e de fibras pós-sinápticas dos cordões posteriores.Na
formação
reticular bulbar,há
a interaçãode
múltiplos sistemas (vigília,respiratório, cardiovascular, motricidade e nocicepção)
com
influênciassensoriais”. Apresenta duas estruturas importantes:
o
núcleo gigantocelular,implicado
na
elaboração de reaçõescomportamentais
à dor, eo
subnúcleoreticular dorsal. Esse último apresenta recentes indícios
de
ações específicasno
controle das vias ascendentes,respondendo
exclusivamente à ativação das fibras periféricasC
eAõ
(em
freqüência de descarga nociceptiva) eocupando
uma
posição estratégica entremedula
e tálamo.Nessa
estrutura ocorreA
regiãomais
importanteno
mesencéfalo é a área parabraquial lateral,que
transmite informações para
amígdala
e hipotálamo,sendo
relacionada areações emocionais,
comportamentais
e neuro-endócrinas à dor.As
estruturas talâmicas sãode extrema
complexidade
e tem-sedidaticamente dividido dois tipos de vias,
com
propriedades distintas: viasligadas ao tálamo lateral,
com
projeções parao
córtex somatossensoiial Sl eS2
e capacidade sensoriodiscriminativada
dor,em
tennos de duração,intensidade e localização; e vias ligadas ao tálamo medial,
com
conexões
com
a
formação
reticular e relacionadana
elaboração de reaçõesmotoras
eemocionais
à dor.O
córtex cerebral é de difícil estudo epermanece
com
várias controvérsias,com
relação a suas funçõesna
nocicepção. Parece estar relacionado à sensibilidade discriminativada
dor,como
a localização precisado
estímulo, e a atitudes frente à sensação de dor,com
importante participaçãodo
sistemalímbico
na
gênese dasemoções.
Há
também
os seguintes controles inibitórios deorigem
supra-espinhall ':-
Controles inibitórios tônicos: seriam provenientesda
região bulbarventrolateral central sobre o núcleo reticular lateral.
Permanece
controversa asua existência, assim
como
a hipótese deum
sistema facilitador tônico;-
Controles inibitóriosdeflagrados
por estímulos cerebrais: as açõesinibitórias resultantes
da
ativaçãoda
substância cinzenta periaquedutal eda
região bulbar rostroventral
(com
os núcleosmagno
da
rafe, gigantocelular e paragigantocelular), seriam decorrentes da conseqüente ativação de viasinibitórias descendentes bulboespinhais.
Os
neuromediadores
potencialmenteenvolvidos são principalmente o serotoninérgico e o noradrenérgico (receptor
otz). Outros seriam
o
sistema dopaminérgico, os opióides endógenos, o sistemapeptidérgico [colecistocinina
(CCK),
peptideo intestinal vasoativo (VIP), somatostatina, tireotrofina(TRH),
GABA,
entre outros] eo
colinérgico.~
Haveria
na
regiao rostroventral bulbar duas categorias neuronais: células“o]j'”,
com
atividade inibitória espontânea e irregular; e células “on”,normalmente
silenciosas,que
seriam ativadas pelo estímulo nociceptivo e exerceriam controle sobre a transmissão espinhal.-
Controles inibitóriosdeflagrados
por estímulos nociceptivos:um
estímulonociceptivo levaria aos
chamados
“fenômenos
inibitórios difusos induzidospor
estímulos nociceptivos”“, relacionados à intensidade e duração desseestímulo. Esse
fenômeno
seria desenvolvidoem
regiões bulbares inferiores à região bulbar rostroventral,no
subnúcleo reticular dorsal, e poderia funcionarcomo
filtro,em
que
se evidenciaria o estímulo nociceptivo,mais
importanteno
momento
em
relação às outras informações somestésicas de base.Novos
conceitos teóricos, para explicar as experiências demembro
fantasma,
têm
sido propostospor
autorescomo
Melzack”.
Esse autorpropõe
a existência deuma
rede neuronalchamada
“neuromatrix”
(ou matriz neuronal), cuja distribuição espacial econexões
sinápticas são inicialmentedeterminadas geneticamente e posteriormente “esculpidas” pela entrada de
dados
sensitivos. Propôs-se entãoque
o substratoanatômico da
sensaçãodo
corpo
como
próprio seria através dessa matriz neuronal,uma
redemuito
difusa,
que
teriaum
processamento
da
dor deforma
cíclica nos seus diferentescomponentes.
Esses processos, repetidos e cíclicos, e todas as diferentesconexões
sinápticas envolvidasem uma
“neuromatríx”
a caracterizariamcom
sua designada “neurosignature” (ou assinatura neuronal).
Essa
por sua vezinfluenciaria todos os impulsos nervosos
que
passariam pela matriz. Essa“assinatura neuronal” seria caracterizada pelos impulsos eferentes dessa rede e
não
pelas aferências sensitivas,podendo
gerar impulsosna
ausência deestímulo. Essa teoria explicaria a falta de correlação entre patologia e
intensidade dolorosa, a presença de sensação
do
membro
fantasmaem
pessoasrelacionada
com
amemória
das dores sofridas pelomembro
anteriormente àamputação.
Em
resumo,o
cérebronão
seriaum
mero
receptor e processadorde informações provenientes
do
corpo esim
um
gerador das experiênciasdo
corpo, enquanto os impulsos sensoriais apenas
modulariam
essa experiência.2.2.
Drogas
analgésicasNão
opióides:Anti-inflamatórios
não
esteróides(AINES):
diminuem
aprodução
tecidualde prostaglandinas por inibirem a
enzima
ciclooxigenase (Cox),que
transfonnaria o ácido aracdônicoem
endoperóxidos cíclicos instáveis,formando
prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos.As
prostaglandinas estão envolvidasno
processo de hipersensibilidade periférica e é basicamenteinibindo sua
formação que
atuam
osAINES. Porém
há
indíciosque
essesfármacos
também
possuam
ação central.Todos
osAINES
têm
efeitosanalgésicos, anti-inflamatórios e antipiréticos.
A
introdução de preparações injetáveis-
cetorolaco, diclofenaco, cetoprofeno etenoxicam
-
oferece a possibilidade de analgesia perioperatória livre das desvantagens dos opióides.O
largo uso deAINES
tem
confinnado
que
são efetivos analgésicos pós- operatórios,embora
limitadospor
contra-indicações e efeitos adversos.Os
efeitos adversos encontrados
com
osAINES
são úlcera péptica, disfunçãorenal, alteração
da
função plaquetária easma
induzida pela aspirina. Esses efeitos são decorrentesda
inibição das ações fisiológicas das prostaglandinas,produzidas pela
Cox-1
(constitucional),que
independem
do
processoinflamatório.
Em
1991, foi descritauma
forma de
ciclooxigenase, a Cox-2,que
é induzida poruma
sériede
fatorescomo
trauma
cirúrgico, endotoxinas,interleucina-1 e hipóxia.
Muito
da
informação clínica existente sobre ouso
deantagonistas seletivos da
Cox-2
aindaprovém
da
literatura reumatológica e são necessárias maiores pesquisas para assegurarem a eficácia e segurançano
uso
perioperatório desses agentes.Os
AINES em
geral são insuficientes parao
uso
isoladono
alívio de dor intensa, imediatamente após as cirurgias.Mas
elessão
muito
úteiscomo
analgésicos adjuvantes,aumentando
o alívioda
dorenquanto
diminuem
a necessidade de opióides”.Dipirona: apresenta
menores
efeitos sobre a coagulação sangüíneaque o
cetorolaco e foi
demonstrado que
sua incidência de úlcera gastroduodenal é equivalente àdo
placebo;no
entanto a incidência de agranulocitose, apesarde
baixa,
tem
limitado ouso
disseminado dessa droga principalmente nosEUA”.
Paracetamol: apesar de ter efeitos analgésicos e antipiréticos, o
paracetamol
não
é considerado anti-inflamatório.Há
controvérsias sobre o seumecanismo
de ação,podendo
serque
atuena
inibiçãoda
ciclooxigenaseno
SNC,
com
pouca
ação periférica.O
desenvolvimentomais
recenteno uso de
paracetamol é a introdução,
em
alguns países europeus,de
uma
preparaçãoendovenosa
(IV)na
forma
do
seu precursor propacetamol (2g
desse precursoré convertida a 1 g de paracetamol e estudos
têm demonstrado
sua eficáciana
analgesia pós-operatórialg).
Anestésicos locais: os anestésicos locais
bloqueiam
a geração de potencialde
ação, atravésdo
bloqueio dos canais de sódio”.O
bloqueio se fazna
seguinte
ordem: pequenos
axônios mielinizados, axôniosnão
mielinizados egrandes axônios mielinizados.
Por
isso as transmissões nociceptiva esimpática são bloqueadas primeiro.
Os
anestésicos locaispodem
seradministrados por diversas vias: anestesias de superñcie,
em
mucosas
ou
pele (mistura eutética de anestésicos locais -EMLA);
infiltrações locais; bloqueiosde
nervos periféricosn; instilações peritonealou
pleural; e bloqueiosneuroaxiais via peridural
ou
raquidiana.A
infusão sistêmica de lidocaínatambém
reduz a doraguda
e reduz o estado de hipercoagulabilidade pós-operatória,
mas
requer cuidadosa monitorização e apresenta efeitosferida operatórian é
eficaz
em
procedimentos cirúrgicosmenores
mas
tem
pouca
eficáciaem
operaçõesabdominais
maiores.Além
disso, a infiltraçãopor
si sópode
não
alterar amorbidade
pós-operatória, por atuarsomente na
periferia.
As
técnicas anestésicas regionaisproduzem
efeitos positivos nossistemas respiratório, cardiovascular e neuroendócrino,
reduzem
as~ ~
complicaçoes tromboembólicas
e a perda sangüínea eencurtam
a recuperaçao.A
anestesia caudal é o bloqueio regionalmais usado
em
criançass.Durante o
pós-operatório,
há
uma
variedade de técnicas de bloqueios anestésicosque
sãoefetivas e seguras,
podendo
ser usadas demaneira
contínuaou
intermitentes.Antagonistas
do
receptorNMDA
do
glutamatow: tem-serenovado
ointeresse
no
uso
perioperatório desses agentes, por via peridural, apesar dos efeitos psicomiméticos.A
ativaçãodo
receptorNMDA”
tem
um
papel importantena
sensibilização central e atuana
dor neuropática.A
cetamina éantagonista desse receptor,
com
efeitos analgésicos e alucinógenos.otz-agonistas
W921:
a clonidinatem
sido recentemente utilizadana
analgesia perioperatória
ou
para dor neuropática.É
capazde
aumentar
a analgesiada
morfina
e de prolongar e intensificar o bloqueio anestésico local.É
melhor usada
como
adjuvante desses agentes,podendo
diminuir seus efeitos colaterais. Isoladamente,em
doses efetivamente analgésicas,pode
levar àsedação e à hipotensão ortostática.
A
via sistêmica e principalmente as viasperidural e raquidiana
têm
sido usadas.Por serem mais
efetivas essas duas últimas vias, se reforça a teoriada
sua ação sobre receptores espinhais.Mas
há
evidências
de
um
efeito analgésicono
sítio da injúriaou inflamação,
com
aadministração periférica. Possíveis explicações para o efeito periférico
incluem
a inibiçãoda
liberação de noradrenalina, implicadana manutenção da
sensibilização periférica.
Beneñcios
adicionaisda
clonidinaincluem
uma
redução na
incidência de isquemia miocárdica e das catecolaminas circulantes,além
deum
efeito estimuladorno
hormônio
de crescimento,que
reduz a perda protéicamediada
pelo estresse operatório.Tramadol
19: éum
agonistamu-opióide
fraco,mas
também
com
importantes efeitos
em
vias noradrenérgicas e serotoninérgicas.Os
doisenantiômetros
do
tramadolpodem
ter ações complementares: o (+)tramadoltem
maior
afinidadecom
receptores mu-opióides etem
ação serotoninérgica, facilitando sua liberação e inibindo sua recaptação.O
(-)tramadol inibe arecaptação de norepinefrina.
A
vantagem
do
tramadol estáem
serum
analgésico
comparável
àmorfina
no
uso
parenteral. Possui efeitos colateraiscomo
sedação, depressão respiratória, estase gastrointestinal, tonturas,náuseas, sudorese e potencial de abuso.
Outros fármacos
não
opióides: a neostigmine,usada
via espinhal,tem
efeitos analgésicos
mas
uma
significante incidênciade
efeitos colaterais,sendo
seu usomais
apropriadocomo
adjuvante àmorfina,
à clonidinaou
a anestésicos locais. Inibe a hipotensãoprovocada
por esses últimos,mas
esseefeito hipeitensivo
pode
ser apenasmais
tardio; a adenosinatem
propriedadesanti-arrítmicas e anti-hipeitensivas
bem
estabelecidas etambém
propriedadesanti-nociceptivas
por
via sistêmicaou
intratecal.Por
via sistêmica deve seradministrada por infusão contínua. Possui paraefeitos
como
hipotensão e,em
casos graves
de superdosagem,
parada cardíaca; alguns anticonvulsivantes eantidepressivos tricíclicos são
usados
principalmentena
dor neuropática;quanto aos agonistas colinérgicoslg,
o uso
espinhal de acetilcolina foi descrito,mas
seus efeitos colaterais limitam o uso.Opióides:
Os
opióides são a basedo
manejo
farmacológicoda
dor pós-operatória, especialmenteem
doresmoderadas
e severas.São
as drogasmais
comuns
paraOs
opióidesendógenos
sãoformados
pela hidrólise depró-hormônios na
glândula pituitária anterior.
As
ações dos opióides são múltiplas:no
local lesadodiminuem
ainflamaçãols,
inibem
neurotransmissores nociceptivosna
medula
epossuem
ação supraespinhal, ativando as vias inibitórias descendentes.As
três ações sinápticas dos opióides são: ligação ao receptor pré-sináptico opióide, inibindo a liberaçãode
neurotransmissores excitatórios; diminuiçãoda
atividade dos interneurônios; e hiperpolarização pós-sináptica.No
SNC,
na
musculatura lisa visceral e vascular,em
estruturasmusculoesqueléticas e
nos
neurônios periféricos sensoriais e simpáticos, sãoencontrados receptores opióides, divididos
em
vários tipos:-
mu
(u):70%
dos receptores opióides espinhais, são subdivididosem
mu,
emuz.
Mu,
são responsáveis por analgesia supra-espinhal emuz
por
depressãorespiratória, bradicardia e
dependência
Íisica.-
delta (5): são responsáveispor
analgesia, alteraçõesno
humor
e emese.-
kappa
(K):levam
à analgesia espinhal emínima
depressão respiratória.Alguns
agonistas-antagonistas opióidesatuam
como
esses receptores.-
sigma
(cs): sua ativação leva a sintomas excitatórioscomo
disforia, hipeitonia e taquicardia.Entre os efeitos adversos dos opióides
encontramos
neuroexcitação,sedação, hipotensão, depressão ventilatória, náuseas, vômitos, íleo paralítico
pós-operatório, prurido e sintomas urinários de retenção
ou
urgência.Efeitos neurológicos:
pode
ocorrer neuroexcitação (dose-relacionada),rigidez muscular,
nistagmo
eprogressãode mioclonus
deum
membro
parageneralizado.
O
metabólitoda
meperidina, normeperidina,tem
meia-vida de20
importantes
em
pacientescom
disfunção renal.A
sedação excessiva é dose-relacionada.
Efeitos cardiovasculares:
podem
levar à hipotensãoem
pacienteshipovolêmicos,
que
estão dependentesdo
tono simpático paramanter
estabilidade cardiovascular.
A
liberação de histamina pelamorñna, ou
pelameperidina,
pode
levar à hipotensão por vasodilatação.E
a meperidina, aocontrário dos outros opióides, é
também
um
potente depressor miocárdico.Efeitos respiratórios:
há
depressão da ventilação,mediada
pelos receptores opióides uz, principalmente poruma
ação diretano
centromedular
respiratório.
Efeitos gastrointestinais: náuseas e
vômitos
pós-operatórios sãomuito
comuns
e os opióidescontribuem
para o íleo pós-operatório,que
pode
levar àatrofia vilositária, translocação bacteriana elsepsis.
Também
aumentam
apressão
no
ducto biliar eno
esñncter de Oddi, levando aespasmo
e cólicabiliar.
Pmrido:
éde
mecanismo pouco
conhecido e é o efeito colateralmais
comum
na
administraçãopor
via espinhal.Sintomas
urinários:pode
ocorrer urgência miccional, causada peloaumento
do
tono detrusor,ou
retenção urinária peloaumento
do
tono ureterale
do
esñncter vesical.Outros efeitos,
que
podem
interferirna
rápida recuperação pós-operatória,incluem
opouco
controleda
dor aomovimento
e a reduçãodo sono
REM.
Essa última ocorre
em
um
primeiromomento,
levando aum
efeito rebote nas3-Q e 42 noites,
com
maior
incidência de hipóxia pós-operatória tardia ede
isquemia miocárdica.
Tolerância é a redução
no
efeitoda
droga após administração repetida.A
dependência
para opióides usadosna
doraguda
é raramas
a possibilidadede abuso
pode
limitar o seuuso
domiciliar.21
O
protótipo dos analgésicos opióides utilizados é amorfina,
com
a qualtodos os outros opióides são
comparados.
A
meperidina,quando comparada
àmorfina,
tem
um
décimo da
potência,apresenta
maior
ligação protéica, émais
lipossolúvel,tem
início de açãomais
rápida e apresenta
maior
variabilidadeda
dose analgésicamínima.
Em
dosesequi-analgésicas às
da
morfina, produz
níveis equivalentes de sedação,euforia, náusea,
vômitos
e depressão respiratória.Seu
metabólito, anormeperidina, apresenta
uma
eliminação longa, principalmentena
insuficiência renal, e
tem
efeitos excitatórios sobre oSNC,
como
mioclonia,delírio e convulsões. Hipotensão é
mais
comum
eprofunda
com
meperidinaque
com
morfina.
A
meperidina apresenta os efeitos deaumento
da
freqüência cardíaca e depressão miocárdica.Além
dissopode
sermais
depressor ventilatórioque
amorfina,
excetoem
neonatosque
ocorre o contrário.Também
causa liberaçãode
histamina.Seu
uso é associadocom
menor
~ ~
constipaçao, retençao urinária e
espasmo
do
trato biliarque
com
amorfina.
Sintomas
de retirada são diferentes,com
poucos
efeitosautonômicos
e ossintomas
ocorrem mais
rápido ecom
menor
duração.O
fentanil é75
a 125 vezesmais
potenteque
amorfina,
com
iníciomais
rápido e
menor
duração de ação, refletindo amaior
lipossolubilidadecomparada
às duas anteriores.Com
múltiplas doses,ou
com
infusão contínua,ocorre saturação progressiva
de
tecidos inativosque
oarmazenam,
levando aoaumento
da
duração de açãomas
não da
intensidade.Apresenta
boa
correlaçãoentre a concentração plasmática e os efeitos analgésicos e ventilatórios e está
associado a
maior
estabilidade cardíaca.Em
doses equipotentes,tem
efeitosadversos similares aos da
morfina,
exceto pornão
causar liberaçãode
histamina.
Além
da
morfrna,da
meperidina edo
fentanil, são utilizados ainda o sufentanil e o alfentanil,normalmente
como
drogas adjuvantesda
anestesia.22
2.3.
Analgesia
Preemptiva”
:~
A
idéiade
que
o bloqueioda
transmissao nociceptiva, antesdo
inícioda
lesão cirúrgica, poderia reduzir a morbimortalidade pós-operatória, data de
mais
de 8 décadas”.Recentemente
essa hipótese de analgesia preemptiva (oupreventiva) ressurgiu e
tem
sido revista24”25.Ao
liberarmediadores
dos tecidos e tenninais simpáticos, a lesão tecidualaumenta
a sensibilidadedo
mecanismo
de transdução,em
terminaisperiféricos de neurônios nociceptivos primários (sensibilização periférica).
Também
resultaem
maior
excitabilidadedo
como
dorsal medular, produzindouma
expansão
do
tamanho
do
campo
de recepção,um
aumento
na
magnitude
e
na
duraçãoda
resposta ao estímulo efetivo. Isso leva neurônios, previamente nociceptivos-seletivos, a responder a impulsos inócuos (sensibilizaçãocentral).
Em
resumo, o processo de sensibilização resultaem uma
reduçãona
intensidade
do
estímulo necessário para iniciar a dor, tantoque
o estímuloque
normalmente não
produziria dor assim o faz (alodinia).Ocorretambém
uma
exagerada responsividade ao estímulo nocivo (hiperalgesia) e espalha-se a
hipersensibilidade
em
tecidosnão
lesados (hiperalgesia secundária).Para atenuar a dor pós-operatória e
combater
a sensibilização central,uma
conclusão lógica seria bloquear a transmissão nociceptiva induzida pelo ato
cirúrgico.
Com
osdados
expostosacima
sobre sensibilização neuronal periférica e central, define-se as basesda
analgesia preventiva,que
seriacontrolar a dor pós-operatória,
com
o uso de
fánnacos analgésicos antesde
ocorrer
o
estímulo, paraque
diminuam
a sensibilização central.Apesar do
entusiasmoprovocado por
essas teorias, os trabalhos clínicos~
posteriores,
que
analisaram esse conceito de prevençao, tiveram resultadosdecepcionantes 23. Está claro
que
ouso
de analgesia pré-operatória é eficazem
23
pós-operatório,
não
tem
sidoconfirmada na
maioria dos trabalhos.Segundo
Fletcher, D23,há
dois tipos de drogas sobre as quais deve-se rever suas aplicaçõesna prevenção da
dor: osAINES,
que
apesarda
grande relação teórica,menos
setem
confirmado
como
eficazes pré-operatoriamente e os antagonistasdo
receptorNMDA,
que
teoricamenteatuam
deforma
diretana
sensibilização central eque
vêm
apresentando resultados promissores.2.4.Avaliação
da
dor
As
criançaspodem
responder à dorcom
um
estado de privação social (”withdrawal ”), por esperarque
a dor énonnal
eque
tem
que
ser tolerada,ou
pormedo
demaior
desconforto associado a administrações de analgésicos porvia intramuscular.
O
fatoda
criança estar calada é muitas vezes interpretado, pelo observador,como
um
indicador deque
a criança estábem.
Paracombater
esse
problema
e facilitar pesquisas analgésicas, desenvolveu-se diversasescalas de avaliação da dor.
Os
métodos
de avaliaçãozóda
dor existentes são de autoavaliação (relatodo
paciente)ou
de heteroavaliação (conclusõesdo
observador). A
Os
métodos
de autoavaliação são melhores para adultos,ou
crianças a partir de 5 anos de idade, epodem
ser divididos entre unidimensonais e multidimensionais.São
unidimensionais as escalas visuais analógicas (escalanumérica, seqüência
de
faces”,desenhos
para colorir), as escalas verbaissimples e as escalas numéricas.
Os
métodos
de heteroavaliação sãomelhores
para os casosem
que
haveria déficit cognitivo,que
dificultaria a autoavaliação.São
heteroavaliações a avaliação ñsiológica, acomportamental
e a deconsumo
de
analgésicos.Há
uma
enorme
diversidade de escalas descritas, cadauma
com
caracteristicas e indicações próprias.
As
autoavaliaçõessãoos
métodos
deabstração, suficientes para verbalizar as características
da
dor.As
escalasque
envolvem
avaliaçõescomportamentais
e fisiológicas sãode
maior
abrangêncianas diferentes idades,
sendo métodos
de escolha para crianças menores,mas
são apropriadas apenas para avaliação de dores agudas,
em
curto período detempo28.
Apesar
dessas escalas,há
muitosproblemas na
avaliaçãoda
dorem
crianças, pois ocomportamento pode
ser influenciado pelo isolamento social, a diferenciação entre dor e ansiedadepode
ser diñcil e asmudanças
do
desenvolvimento da
criança,na
resposta à dor,podem
tomar
certasmedidas
3.
OBJETIVO
O
objetivo desse estudo foi analisar as rotinasempregadas
para analgesia pós-operatória e a incidênciade
dor,em
um
hospital pediátrico desprovido de4.MÉToDo
Após
a aprovaçãodo
protocolo pelaComissão
de Éticado
Hospital InfantilJoana
deGusmão
(HIJG)
e o consentimento esclarecido dos responsáveis,foram
observados,no
períodode
6de
abril a 15 dedezembro
de 1999,214
pacientes intemados, deambos
os sexos,com
idade entre 1 e 7 anos, estadofísico
ASA
(SociedadeAmericana
de
Anestesiologia) I a III,que foram
submetidos a operações sob anestesia.
Não
foram
incluídosna
análise os pacientesem
uso
de analgésico prévio,os
com
doenças neurológicas, psiquiátricasou
neoplásicas, osencaminhados
àUTI
no
pós-operatório e ossubmetidos
a operações cardíacas, neurocinírgicas,a reduções de fraturas e luxações
sem
procedimento
cirúrgico associado,ou
aprocedimentos
endoscópicosque não
levassem aum
estímulo doloroso.Também
não foram
incluídos os casosem
que foi impossível preenchercompletamente
osdados
no
protocolo, sejapor
incapacidade de avaliação, pormotivos
decorrentesdo
pacienteou
seu responsável, seja por registrosmédicos
insuficientesno
prontuário.Realizou-se
um
estudo descritivo, prospectivo, analisando-se as técnicasanalgésicas
empregadas
e os analgésicos utilizados duranteo
trans-operatório,além do
registrodo
momento
do
emprego
desses (antesou
após a incisão cirúrgica) eda
via de administração. Para os analgésicos prescritos para o pós-operatório, anotou-se a rotina (se a intervalos regulares,
por
dose únicaou
pordemanda)
e a via de administração.Em
entrevista realizadacom
o paciente eseus responsáveis, procurou-se analisar os
comportamentos
diantedo quadro
doloroso,com
os seguintes dados: a presençada
dor, se os paispediram
analgesia, a aplicação dos analgésicos prescritos pela
enfermagem
e a27
persistência
ou
recorrênciada
dor. Outrosdados de
relevância,como
a caracterizaçãoda
dor-
sua localização e freqüência-
e a presençade
outrasintercorrências,
também
foram
anotadas.A
entrevista foi realizadasempre
pelo autor
na
manhã
seguinte à operação,com
acomplementação de dados
constantes
no
prontuário.Os
atos cirúrgicos incluídosno
protocoloforam agrupados
quanto ao graude
dor, de acordocom
a classificação para adultos deGould
et al7,modificada
para crianças.
Considerou-se a presença
de
dorsempre que
houve
a referência à dor,independente de sua intensidade, seja seu início de
forma
espontâneaou
com
movimentação.
Em
criançasmenores que não
podiam
se expressarverbalmente de
forma
adequada, foi interpretado e registradocomo
havendo
~
presença de dor se apresentassem agitaçao, initação e choros freqüentes,
na
ausência de outros
motivos
que
justificassem essescomportamentos.
Também
foi considerada a presença
de
dor,quando
a queixa era referente a outrasregiões
do
corpo,não
relacionadas diretamentecom
oprocedimento
cirúrgico.Na
avaliaçãoda
analgesiaempregada,
registrou-secomo
“alteraçãoda
prescrição”
quando
não foram
seguidas as ordens médicas, sejaporque
aenfemiagem
não
administrouconforme
a prescrição, sejaporque
osresponsáveis pela criança se
recusaram
à administraçãodo
analgésicoprescrito.
Os
dados foram
analisados estatisticamente e apresentados sob asformas
5.REsULTADos
28
Os
dados
demográficos
analisados são expostosna
tabela I,sendo
que
138pacientes
(6l,6%)
eram
.do sexomasculino
e86 (38,4%) do
sexo feminino.Tabela I
-
Dados demográficos.Idade (anos)
Média i
desvio padrãoModa
Mediana
Amplitude3,89
i
1,91 4 4 l a7Fonte: HIJG, 1999.
Na
tabela II, observa-se os atos cirúrgicos realizados,sendo agrupados
”
l d l
quanto ao grau de dor, de acordo
com
a classificaçao paraadu
tos eGou
d
etal7 modificada para crianças.
Tabela II - Atos cirúrgicos realizados
-
classificação de Gould et al7 modificada paracrianças.
Pequeno porte n.°
Médio
porte n.°Grande
porte n.°Pequenas cirurgias 5 plásticas da pele
Meringotomia 2
Cirurgia para escroto 2
agudo Fulguração endoscópica (uretra/bexi ga) 2 Outras 5 Adenoamigdalectomia 108 Orquidopexia 20 Cirurgias do pênis, 9 uretra ou clitóris Drenagem de artrite séptica/osteomielite Apendicectomia 6 Herniorrafias 5 Outras 20 7
Cirurgia de abdome superior 10
Cirurgia de abdome inferior 10
Artroplastia de quadril 9 Video-laparoscopia 3 abdominal Toracotomia l Total de operações 16 175 33 Fonte: HIJG, 1999.
29
Os
opióides fentanil e alfentanilforam
utilizados por via parenteral,durante
o
trans-operatório,em
88
pacientes (39,2%).Em
7 (3,1%), utilizou-semeperidina por via endovenosa,
no
ñnaldo
ato operatório.Em
uma
criança,foi administrado sufentanil por via caudal, antes
da
incisão cirúrgica.A
cetamina foi utilizada
em
2
pacientes, após a incisão. Outros analgésicos não-opióides utilizados, isoladamente
ou
associados, estão listadosna
tabela III.Tabela III
-
Principais analgésicos não-opióides, utilizados antes ou após a incisão cirúrgica (número de vezes utilizados e percentagem dos pacientes).Técnica analgésica
Momento
de aplicação TotalAntes da incisão
Apósa
incisãon.°
(%)
n.°(%)
n.° (%)Dipirona via endovenosa 54 24,1% 122 54,4% 176 78,6%
Diclofenaco endorretal 128 57,1% 31 13,8% 159 71,0%
Bupivacaína infiltração 7 3 ,1% 14 6,2% 21 9,3
%
Bupivacaína bloqueios 49 21,8% O O 49 21,8%
Fonte: HIJG, 1999
r
A
ñgura
1 mostra as principais prescrições analgésicas, parao
pos-operatório, utilizadas nos pacientes estudados.
ii
105
.Dipirona
VO
SNI
Outras prescriçõesI
DipironaEV
SN + Hioscina com ou sem DipironaEV
regEl Dipirona
VO
SN + DiclofenacoDU
EI Dipirona
EV
reg + ParacetamolVO
reg + DiclofenacoVO
reg Figura 1 - Principais prescrições analgésicas pós-operatórias (número de prescrições).VO
- via oral SN - modo por demanda (“se necessário”)EV
- via endovenosa Reg - administração a intervalos regulares30
A
tabelaIV
mostra
osfámacos
analgésicos prescritos para o períodopós-~
operatório, suas vias
de
administracao e as rotinas utilizadas.Tabela
IV -
Fármacos prescritos para 0 período pós-operatório.Droga Vias n.°
(%)
Rotinas n.°(%)
Total - n.°(%)Dipirona Diclofenaco Híoscina
com
ousem
dipirona Paracetamol Meperidina oral 149 (óó,5%) Parenteral Oral Endorretal Oral Parenteral Oral Parenteral ó9 (3o,8%) 32 (14,2%) 22 (9,8%) 15 (ó,7%) 29 (12,9%) 23 (1o,2%) 9 (4,0%) Por demanda 168 (75,0%) Regular Por demanda Regular Dose única Por demanda Regular Por demanda Regular Por demanda Regular 50 (22,3%) 1 (o,4%) 38 (1ó,9%) 15 (ó,7%) 2 (o,8%) 42 (18,7%) 5 (2,2%) 18 (8,o%) 7 (3,1%) 2 (o,8%) 218 (97,3%) 54 (24,1%) 44 (19,ó%) 23 (10,3%) 9 (4,0%) Fonte: HIJG, 1999No
pós-operatório,216
pacientes(96,4%) receberam medicação
(16,6%) foram medicados
sem
queixa de dor.analgésica. Desses, 180 -pacientes
(83,3%)
sentiam dor,enquanto
que 36
Dos
224
pacientes estudados, 185 referiram a presençade
dor (82,6%), enquantoque
em
39
pacientes(l7,4%) não
se detectou a dor (figura 2).np 200 _ 185
150 0
100
50 39
I
Referiram dor0
-i
INão referiram dorFigura 2 - Número ab picientes qre referiram dor pós-operatória.
Os
dados
referentes aoscomportamentos
dianteda
dor estão apresentadosna
tabela V.Tabela
V
-
Comportamentos frente à presença de dor.Questões avaliadas N.° de pacientes (%)
Pediram analgesia 130 (70,2%)
Não
pediram analgesia 55 (29,7%)Foram medicados pela enfermagem 180 (97,2%)
Não
foram medicados pela enfermagem 05 (02,7%)Apresentaram persistência ou recorrência de dor 145 (78,3%)
Apresentaram apenas
um
episódio de dor 40 (21 ,6%)Em
31 pacientes (l3,8%), verificou-se a inobservância nas prescrições analgésicas (“alteraçãoda
prescrição”). Desses, 12receberam
dipironasem
queixa de dor
ou
febre, apesarda
droga ter sido prescritana forma
pordemanda.
Em
19 pacientes, a aplicação analgésica foi insuficienteem
relação àprescrição.32
~
6.
DISCUSSAO
O
principaldado
encontrado nesse estudo foi a expressiva incidência de dor pós-operatória(82,6%)
nas crianças estudadas,sendo que
a maioriapermaneceu
com
dor apesar de estar medicada.Essa
incidência é superior ade
outros trabalhos,
que
avaliavam a presença de dorem
hospitaissem
Serviçosde
Dor
Aguda.
Mather,L
eMackie,
J2 encontraram,em
1983,uma
incidênciaem
crianças de dor pós-operatória,no
diada
cirurgia, de75%.
Kart,TMS;
Rasmussen,
MMS;
Hom,
A
et al3 avaliaram,em
1996, crianças de 6 a 14 anos submetidas a operações ortopédicas eletivas,com
incidência de dor de70%.
As
conseqüências psicológicas para a criança e osdanos
nas futuras~
relações
médico
paciente, devido à presençade
dor, saomuito
diñceisde
mensurar. Crianças
que estavam
sem
dor antes deum
procedimento
cirúrgico~
sao propensas a relacionar o profissional de saúde à causa
da
dor pós-operatória, o
que
dificulta a relação médico-paciente”.Além
disso, se a~
criança e sua família acreditarem
que
ninguém
está levandoem
consideraçao ador, de
fonna
a tratá-la efetivamente,podem
ocorrer reações de ansiedade, deraiva e de desesperou). Para prevenir essas reações, deve-se implantar
uma
~ ~
conduta ativa
com
relaçao à dor, através de avaliaçoes rotineiras e deum
. . . 3()
planejamento claro e capaz de corrigir
uma
analgesia inadequada .Os
dados
demográficos encontradossugerem
uma
homogeneidade
da
amostra.
A
faixa etária escolhida (1 a 7 anos) envolve desde criançasem
fasepré-verbal até crianças maiores,
que
podem
descrevercom
alguns detalhes ascaracterísticas
da
dor.Os
métodos de
avaliaçãoda
dordevem
respeitar as característicasdo desenvolvimento
para cada faixa etária.O
método
defrente à presença de dor, tanto dos pacientes, quanto dos pais e profissionais de saúde.
Mas,
com
essemétodo
não
é possível quantificar a dor,sendo
mais
útil
na
avaliação de doresmais
intensas9.Em
crianças de 6 a 7 anos poder-se- ia utilizar efetivamente a escala visual analógica e,em
crianças deno
mínimo
4
anos, a escalacom
figuras de faces.Em
crianças menores, têm-se maioresproblemas
para a aplicação dessas escalas.Assim, foram
desenvolvidas escalasde
avaliaçãocomportamental
e de respostas biológicas à dor.Apesar
deparecerem mais
“científicos”, essesmétodos
não são melhoresdo que
uma
~
boa
avaliaçao clínica, realizadapor
um
profissional de saúde experiente ecom
boa
relação pessoalcom
a criança e os pais”.E
mesmo
que
um
desses escoresesteja
sendo
usado, omanejo
clínico geralmente ébaseado na
descriçãosimples
da
dor, se é ausente, leve,moderada
ou
severa”.Há
dificuldadeem
avaliar crianças
que não
manifestam
sua sensação dolorosa (privação socialou
“withdrawal”). Elas apresentam as características de palidez (por ativação
simpática) e falta de interesse
com
o
mundo
ao redor,lembrando
criançascom
doenças
gravesou
asque
estão estressadas pela reclusãono
hospital ecom
privação de sono. Pelo
método empregado
nesse estudo,algumas
criançaspodem
ter apresentado essecomportamento
e seus paisnão
terem notado.Há
também
oproblema
de crianças excessivamente sedadas,que
ñcam
quietas eestão
em
riscos potenciais.É
importanteque não
seconfunda
crianças quietascom
crianças felizes e saudáveis.Por
outro lado,não
sepode
dar analgésicos auma
criança pequena,que
estáchorando simplesmente porque
estácom
fome.Portanto, o
manejo
de
uma
criança pequena,que
pode
estarcom
dor(como
no
pós-operatório) é dificil