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Mudanças no Trabalho da Mulher na Região Metropolitana de São Paulo nos Anos 90

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Mudanças no Trabalho da Mulher na Região

Metropolitana de São Paulo nos Anos 90

*

Eugenia Troncoso Leone UNICAMP/IE

Palavras-chave: trabalho da mulher, emprego.

Introdução

O prosseguimento da consolidação da participação da mulher na atividade econômica, depois de três décadas de crescimento contínuo, enfrentou, na década de 90, enormes dificuldades devido ao mau desempenho do mercado de trabalho. Se bem foi a partir dos anos 70, num período de expansão da economia e acelerado processo de urbanização e industrialização, que se intensificou a inserção da mulher na atividade econômica, seu avanço vem ocorrendo em contextos econômicos extremamente desfavoráveis para todos os trabalhadores em seu conjunto. Assim, o da década de 80, se caracterizou pela estagnação da atividade econômica e pela deterioração das oportunidades de emprego e o da década de 90 foi marcado por uma reestruturação produtiva que repercutiu fortemente nos níveis de emprego afetando os setores mais estruturados da economia, sendo a Indústria de Transformação um dos mais atingidos.

Nesse contexto de perda de capacidade de crescimento da economia a mulher intensificou sua participação na força de trabalho, porém esse aumento veio acompanhado de um forte incremento do desemprego feminino. Esse fenômeno evidenciou a geração insuficiente de postos de trabalho pela atividade econômica incapaz de absorver todo o crescimento da PEA feminina. A Região Metropolitana de São Paulo, principal aglomeração urbana e que concentra uma parcela considerável da indústria do país, foi uma das mais afetadas pela reestruturação produtiva e destacou-se por apresentar o maior aumento de desemprego feminino metropolitano na década de noventa que, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD,

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

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passou de 12,9% em 1992 para 19,8% em 1999. Ou seja, no final da década de 90 de cada cinco mulheres que faziam parte da PEA uma encontrava-se na condição de desempregada. No mesmo período a taxa de participação feminina passou de 44,1% para 47,8% e a taxa de ocupação manteve-se inalterada em 38,4%1. Estes dados mostram o desequilíbrio entre a criação de postos de trabalho e a quantidade de mulheres que passaram a pressionar o mercado de trabalho.

A ampliação das taxas de participação feminina na Região Metropolitana de São Paulo, assim como em outras metrópoles do país, deveu-se, principalmente, ao aumento de participação das mulheres mais maduras, acima de 25 anos na atividade econômica remunerada. Entre as jovens isto não se verificou havendo inclusive decréscimo nas suas taxas de participação refletindo a crescente dificuldade de inserção dos jovens no mercado de trabalho aliado a uma incipiente diminuição da PEA jovem consequência da menor importância relativa dos jovens na composição etária da população com idade para trabalhar (PIA).

.O objetivo deste trabalho é fazer uma análise, com base nos dados da PNAD, das principais mudanças ocorridas na década de 90 no padrão de inserção ocupacional das mulheres da Região Metropolitana de São Paulo. Com esta finalidade as pessoas ocupadas foram classificadas em jovens (de 15 a 24 anos) e adultas (de 25 a 44 e de 45 anos e mais). Com base nessa classificação o trabalho faz uma análise da situação ocupacional e a renda do trabalho das mulheres ocupadas comparando-a com a situação ocupacional e a renda do trabalho dos homens ocupados.

É de conhecimento geral que a década de 90 passou por oscilações quanto ao seu ritmo de atividade econômica. Usando como “proxy” de atividade econômica o comportamento do PIB na década esta pode ser periodizada resumidamente da seguinte maneira: retomada da atividade entre 1993 e 1995, queda entre 1995 e 1996, recuperação entre 1996 e 1997 e a partir de 1997 queda e estagnação até 1999. Desta forma, os anos de 1992 e 1999, que serão utilizados nesta pesquisa podem ser considerados apropriados para fins de comparação na década ao caracterizar anos de crise e estagnação, respectivamente.

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Como a partir de 1992 a PNAD adota um novo conceito de trabalho realizou-se, preliminarmente, uma adequação da metodologia da PNAD não considerando, em nenhum dos dois anos contemplados, os dados relativos a autoconstrução, autoconsumo e ao trabalho não remunerado cuja duração semanal fosse inferior a 15 horas. Ou seja, optou-se pelo antigo conceito mais restritivo de ocupação.

O artigo apresenta a seguinte estrutura: em primeiro lugar se faz uma colocação geral sobre as mudanças no mercado de trabalho na década de 90; em seguida, são comparadas as taxas de participação, desemprego e ocupação entre homens e mulheres classificados em jovens e adultos. Tenta-se mostrar que as taxas de participação das mulheres continuaram a crescer somente entre as mulheres adultas e que o crescimento da participação feminina foi acompanhado pela elevação das taxas de desemprego indicando que as ocupações para o sexo feminino cresceram a um ritmo bem menor que o constatado para o crescimento da PEA feminina. E, este crescimento insuficiente da ocupação feminina afetou com maior intensidade as mais jovens. No terceiro item mostra-se que as principais alterações a nível setorial e de posição na ocupação das mulheres trabalhadoras ocorreram devido à continuidade de ampliação dos setores tradicionalmente empregadores de mulheres só que agora, devido à uma redução dos empregos tradicionais masculinos, houve, também, uma absorção de homens por parte destes setores predominantemente femininos contribuindo, assim, em vias transversas, para uma redução da separação ocupacional entre os sexos que, no passado, ocorria predominantemente através da entrada de mulheres em ocupações tipicamente masculinas. Finalmente avaliam-se as mudanças observadas no nível de rendimentos da ocupação principal dessas mulheres e homens, jovens e adultos, incorporando à análise a jornada de trabalho e a escolaridade.

1. Mudanças no mercado de trabalho na década de 90

O início da década de 90 foi marcado por um acelerado processo de abertura econômica e pela implementação de um plano recessivo de combate à inflação. A abertura comercial e financeira e as privatizações aceleraram a entrada de produtos importados e capital estrangeiro alterando as condições de concorrência no mercado

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interno. As empresas foram obrigadas a implementar estratégias adaptativas na tentativa de reduzir seus custos. Inicia-se, assim, um processo de reestruturação da produção que confere uma nova dinâmica ao funcionamento do mercado de trabalho cujas implicações mais imediatas são corte de pessoal e terceirização de atividades.

A crise recessiva alastra-se até meados de 1993 quando Itamar Franco substitui Fernando Collor de Mello sem alterar significativamente a estratégia de abertura econômica, mas com uma nova situação internacional em que o Brasil volta a ter crédito externo, apesar de continuar o desequilíbrio macroeconômico manifesto na elevada inflação. Em 1994 o governo reduz abruptamente a inflação, ajudado pelo aumento de importações de todo tipo de bens – duráveis e não duráveis – o que leva a um elevado déficit da Balança Comercial (Pacheco, 1996; Dedecca, 1996).

O ritmo de atividade econômica, portanto, não teve um comportamento homogêneo na década o que pode ser visualizado pela evolução da variação do PIB usando este como “proxy” do desempenho da atividade econômica. Efetivamente, o início dos anos 90 configura um período recessivo até o ano de 1993, quando o PIB apresenta uma variação real de 4,9% chegando esta variação a 5,8%, em 1995, para depois decrescer de forma quase constante até atingir um modesto crescimento de apenas 0,8% em 1999. A causa principal do crescimento da economia, em 1994, foi a elevação abrupta do consumo como conseqüência da estabilização dos preços e volta do crédito. Esta política de estabilização teve como alicerce a elevada taxa de juros que conjuntamente com a valorização cambial que pressionou os preços a níveis inferiores devido à facilidade de importação de produtos similares aos nacionais com preços menores em moeda doméstica. Consequentemente, a partir de 1994 a inflação diminuiu e manteve-se num ritmo baixo no restante da década.

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Gráfico 1. Variação anual real do PIB brasileiro na década de 90 Variação Anual Real do PIB

-6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 % Fonte: IBGE

A recuperação da atividade econômica, a partir de 1993, não conseguiu elevar o emprego ao nível anterior à recessão. O grau de informalidade das relações de trabalho aumentou e os trabalhos por conta-própria e em estabelecimentos de pequeno porte foram responsáveis por praticamente todo o aumento da ocupação urbana constatado após 1993. Além do setor industrial outros setores da atividade econômica, principalmente no que se refere ao emprego mais formal e protegido da economia, foram afetados pela recessão. Foi o caso da construção civil e das atividades financeiras e, em menor grau, o comércio, os serviços técnicos e de apoio à atividade econômica e os transportes e comunicações. O emprego só aumentou nos setores de educação, manutenção e serviços pessoais (Pacheco e Pochmann, 1996; Baltar, 1996; Mattoso e Baltar, 1997).

A região metropolitana de São Paulo foi uma das mais afetadas pelas oscilações da atividade econômica. A queda do emprego na indústria ocorreu de forma acentuada passando de 33,0% de participação na ocupação total, em 1989, para 19,6% em 1999, ou seja, uma perda de 13,4 pontos percentuais na década. Esta queda afetou todos os principais ramos de atividade da indústria como metal-mecânica, química e borracha, vestuário e têxtil, alimentação, gráfica e papel e outros ramos da indústria (DIEESE, 2001).

Com a perda do dinamismo do setor industrial na geração de empregos e o crescimento de ocupações nos serviços, o setor terciário passa a ter um peso cada vez maior na ocupação total. Esta tendência repercutiu desfavoravelmente no mercado de

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trabalho pela natureza precária de uma parcela das ocupações do setor terciário, no que diz respeito à estabilidade, segurança e remuneração, destacando-se o crescimento do chamado setor informal. De fato, nos anos 90 houve um crescimento das formas flexíveis de contratação de mão-de-obra e este crescimento foi mais intenso na região metropolitana de São Paulo. A tabela 1 ilustra a evolução das formas de contratação de trabalhadores por parte das empresas privadas e do setor público na metrópole de São Paulo na última década.

Tabela 1. Distribuição dos postos de trabalho por empresas segundo formas de

contratação. Região Metropolitana de São Paulo 1989-1999.

FORMAS DE CONTRATAÇÃO 1989 1999

Total de postos de trabalho 100,0 100,0

Contratação padrão 79,1 66,9

Assalariados contratados diretamente

Com carteira - setor privado 67,4 56,0

Com carteira - setor público 6,3 3,7

Estatutário 5,4 7,2

Contratação flexibilizada (*) 20,9 33,1

Assalariados contratados diretamente

Sem carteira - setor privado 11,6 17,9

Sem carteira - setor público 0,9 1,7

Assalariados terceirizados 2,4 4,0

Autônomos para 1 empresa 6,0 9,5

Fonte: DIEESE, 2001

(*) Entende-se por contratação flexibilizada a contratação do trabalhador diretamente pela empresa como assalariado sem carteira de trabalho assinada, via empresa terceirizada, ou como trabalhador autônomo.

Observa-se na tabela anterior que a contratação flexibilizada que em 1989 representava 20,9% do total de postos gerados pelas empresas passou, em 1999, para 33,1%. A principal forma de flexibilização refere-se à contratação do trabalhador diretamente pela empresa como assalariado sem carteira de trabalho assinada seguida pelo assalariamento indireto em decorrência da terceirização dos serviços. A contratação do trabalhador como conta-própria e autônomo é também uma forma de flexibilização importante ocorrida na região metropolitana de São Paulo atingindo, em 1999, 9,5% dos postos de trabalho, mais do que o dobro da porcentagem alcançada pela terceirização dos serviços (DIEESE, 2001).

Esse processo de flexibilização caracteriza-se pelas formas precárias de contratação de mão-de-obra como a de assalariado sem carteira de trabalho que coloca o

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trabalhador à margem das garantias legais mínimas estabelecidas pela CLT ou como assalariado disfarçado de autônomo onde os custos e riscos ficam por conta do próprio trabalhador. Este quadro de perda de dinamismo do mercado de trabalho e flexibilização do padrão de contratação afeta a mão-de-obra em geral e as mulheres em particular. É sabido que as mulheres estão mais sujeitas a uma inserção precária que os homens pois ainda que uma das forma predominantes de inserção das mulheres no mercado de trabalho seja o emprego assalariado uma parcela crescente de trabalhadoras não possui carteira de trabalho assinada pelo empregador. Além disso o emprego doméstico e o trabalho como autônomas na prestação de serviços ainda ocupa um contingente importante da força de trabalho feminina revelando a persistência da precariedade de sua inserção na atividade econômica. Segundo dados do DIEESE na região metropolitana de São Paulo, em 1999, 42,7% das mulheres ocupadas tinha um posto de trabalho considerado "vulnerável" contra 31,1% dos homens ocupados 2.

2. O perfil da PEA feminina na região metropolitana de São Paulo na década de 90.

A expansão do emprego feminino, na década de 90, ocorreu apesar dos efeitos destrutivos da reestruturação econômica. De fato, a participação da mulher na atividade econômica, segundo dados da PNAD para a região metropolitana de São Paulo, aumentou de, 49,4%, para, 53,4%, entre 1992 e 1999. No mesmo período, as taxas de participação masculina diminuíram passando de, 84,1%, para, 79,1%, do que se infere que foram as mulheres as responsável pela sustentação das taxas de participação, em torno de 65%, do total dos ocupados no período (Tabela 1). Observa-se, também, que as taxas de participação masculina diminuíram de forma generalizada tanto entre os homens jovens como nos adultos enquanto que as taxas de participação feminina só não aumentaram entre as jovens. Em 1999, as maiores taxas de participação feminina se encontravam entre as mulheres adultas de 25 a 44 anos atingindo 66,0% de participação.

2 Trabalho "vulnerável" inclui os assalariados sem carteira de trabalho assinada pelo empregador, autônomo para o público, trabalhadores familiares sem remuneração e empregados domésticos.

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Nesta faixa etária concentrava-se, também, a maior participação masculina que, em 1999, era de 94,3%, tendo, não entanto, recuado dois pontos percentuais na década.

Tabela 2. Taxas de Participação(*) segundo faixas etárias e sexo na Região Metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Homens Mulheres Total Faixas de

Idade 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Jovens de 15 a 24 anos 80,0 72,3 58,1 57,2 68,6 64,8

Adultos de 25 a 44 anos 96,1 94,3 58,5 66,0 76,5 79,4

Adultos de 45 anos e mais 67,4 64,3 26,5 33,0 45,3 47,2

Total (**) 84,1 79,2 49,4 53,1 65,9 65,6

Fonte: PNADs 1992 e 1999

(*) Taxa de Participação = (PEA/PIA)x100

(**) Não inclui a faixa etária de 10 a 14 anos nem os ignorados.

Vários trabalhos já mostraram que o perfil etário das trabalhadoras vêm-se modificado nas últimas décadas. Nos anos 70 eram as mulheres jovens, solteiras e sem filhos que participavam da atividade econômica (Bruschini e Lombardi, 2000). Em trabalho anterior, mostramos que, nos anos 80, o aumento da inserção feminina ocorreu mais intensamente entre as mulheres não tão jovens e principalmente entre as cônjuges pertencentes às famílias mais freqüentes constituídas pelo casal e filhos (Leone, 2000). Nos anos 90 esta tendência permanece. Os dados demonstram a persistência da mulher na atividade econômica abrangendo todo seu período reprodutivo e também a etapa de criação dos filhos menores, ou seja, trata-se de mulheres adultas que continuam entrando no mercado de trabalho ou mulheres que entraram jovens e permanecem na atividade econômica, sem se retirar, como no passado, devido à maternidade e/ou cuidado dos filhos (Wajmann e Rios Neto; 1998).

O bom desempenho das taxas de participação feminina, relativamente às dos homens, foi acompanhado, entretanto, de um forte aumento das taxas de desemprego. O aumento do desemprego, ainda que generalizado na década de 90, atingiu com mais intensidade às mulheres e, entre estas, as mais jovens. A taxa de desemprego feminino variou de 12,6%, para, 19,5%, e no caso dos homens de 8,9%, para, 12,7%, no período considerado (Tabela 3). Os jovens foram os mais afetados pelo desemprego refletindo uma maior dificuldade de entrada no mercado de trabalho mas, os valores observados na Tabela 3 sinalizam que esta dificuldade foi maior ainda para as jovens. Efetivamente, entre as jovens com menos de 25 anos a taxa de desemprego deu um salto de quase 15

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pontos percentuais enquanto que para os jovens do sexo masculino este salto foi de 10 pontos percentuais.

Tabela 3. Taxas de Desemprego (*) segundo faixas etárias e sexo na Região Metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Homens Mulheres Total Faixas de

Idade 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Jovens de 15 a 24 anos 16,8 26,2 19,9 34,3 18,2 29,8

Adultos de 25 a 44 anos 6,9 8,9 10,7 15,5 8,4 11,8

Adultos de 45 anos e mais 4,1 6,2 4,5 9,5 4,2 7,5

Total (**) 8,9 12,7 12,6 19,5 10,3 15,6

Fonte: PNADs 1992 e 1999

(*) Refere-se ao desemprego aberto: (desempregados/PEA) x 100

(**) Não inclui a faixa etária de 10 a 14 anos nem os ignorados.

Em pesquisa recente, Quadros (2001) confirma que as difíceis condições de trabalho são particularmente adversas aos jovens. Segundo este autor, com base nos dados da PNAD, em 1998, do total de jovens entre 15 e 19 anos somente 10% estavam ocupados. Desses, 51% eram negros e pardos e 36% mulheres. Esses jovens concentravam-se em nove grupos ocupacionais característicos dos estratos inferiores da estrutura social. O mesmo autor verifica que o segundo grau tem-se tornado uma barreira no acesso dos jovens a ocupações mais qualificadas. Do total de jovens entre 15 e 19 anos a proporção que nem sequer tinha ingressado no segundo grau era de 63,3% em 1998 e entre os jovens ocupados essa proporção era de 68%. Quando os dados são desagregados por sexo constata que a escolaridade das mulheres é sempre superior denunciando que as exigências no mercado de trabalho são maiores em relação as mulheres.

As mulheres adultas também foram mais prejudicadas que os homens adultos pelo desemprego. Ainda que a reestruturação da produção tenha prejudicado principalmente trabalhadores do sexo masculino também desempregou muitas mulheres. Alguns setores com alta predominância de mulheres sofreram queda de participação na ocupação total como, por exemplo, a indústria têxtil, vestuário e calçados. Outros setores com baixa participação feminina, porém importantes em termos de emprego total da região, também desempregaram mulheres como, por exemplo, a indústria metal-mecânica. Por outro lado, a expansão do emprego feminino

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deveu-se principalmente ao crescimento de poucas atividades como serviços domésticos e pessoais, comércio de mercadorias, serviços auxiliares da atividade econômica e alojamento e alimentação (Leone, 1999). Muitas destas atividades oferecem ocupações irregulares que prejudicam a consolidação das mulheres na atividade econômica.

Do acima dito conclui-se que, apesar do aumento quase generalizado das taxas de participação feminina, o crescimento da ocupação não foi suficiente para absorver todo o crescimento da PEA feminina como denunciado pelas altas taxas de desemprego constatadas na década. Este crescimento insuficiente das oportunidades ocupacionais pode ser mais bem visualizado pelo comportamento das taxas de ocupação ao indicarem estas o peso dos efetivamente ocupados com relação à população em idade de trabalhar (PIA). De fato, observa-se na Tabela 4, que as taxas de ocupação dos homens apresentaram decréscimo em todas as faixas etárias e no caso das mulheres somente entre as mais jovens.

Tabela 4. Taxas de Ocupação(*) segundo faixas etárias e sexo na Região Metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Homens Mulheres Total

Faixas de

Idade 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Jovens de 15 a 24 anos 66,5 53,4 46,6 37,5 56,1 45,5

Adultos de 25 a 44 anos 89,5 86,0 52,3 55,8 70,1 70,1

Adultos de 45 anos e mais 64,6 60,4 25,3 29,9 43,4 43,7

Total (**) 76,7 69,1 43,2 42,7 59,1 55,2

Fonte: PNADs 1992 e 1999

(*) Taxa de Ocupação: (Ocupados/PIA) x100.

(**) Não inclui a faixa etária de 10 a 14 anos nem os ignorados.

As mudanças acima apontadas refletem-se, também, na distribuição dos ocupados segundo idade. Para ambos os sexos percebe-se na Tabela 5 que diminui o peso da faixa etária jovem (menor de 25 anos) e adulta (de 25 a 44 anos) na ocupação total. Em contrapartida aumenta o peso da faixa adulta, acima de 45 anos, sobretudo no caso das mulheres. Essas mudanças mais intensas para o sexo feminino diminuíram as diferenças na distribuição etária dos ocupados segundo sexo.

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Tabela 5. Distribuição dos ocupados segundo idade e sexo na região metropolitana de

São Paulo, 1992-1999.

Homens Mulheres Total Faixas de Idade 1992 1999 1992 1999 1992 1999 15-24 23,6 22,4 28,5 23,2 25,5 22,7 25-44 54,1 52,1 55,1 54,6 54,5 53,1 Mais de 45 22,3 25,5 16,4 22,2 20,0 24,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNADs 1992 e 1995

Quanto a distribuição dos desempregados observa-se um predomínio na faixa de menos de 25 anos (Tabela 6). Em 1999, esta mesma faixa de idade, era responsável por mais da metade do total de desempregados do sexo masculino na região metropolitana de São Paulo. No caso das mulheres observa-se, analogamente aos homens, um predomínio das desempregadas jovens porém, no caso das mulheres, o peso no desemprego total das mulheres é também significativo entre as adultas com idades entre 25 e 44 anos. Na mesma tabela observa-se, também, que o desemprego, na faixa de 45 anos e mais de idade aumentou para ambos os sexos.

Tabela 6. Distribuição dos desempregados segundo idade e sexo na região

metropolitana de São Paulo, 1992-1999

Homens Mulheres Total Faixas de Idade 1992 1999 1992 1999 1992 1999 15-24 49,0 53,7 49,1 48,7 49,0 51,1 25-44 41,2 34,7 45,6 41,5 43,3 38,3 Mais de 45 9,8 11,6 5,3 9,7 7,7 10,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNADs 1992 e 1995

Em resumo, as transformações que ocorreram na economia brasileira na última década afetaram homens e mulheres. No caso das mulheres o aumento da ocupação não foi suficiente provocando aumento significativo do desemprego feminino e as jovens foram as mais afetadas. No caso dos homens o desemprego também aumentou, porém não com tanta intensidade como no caso das mulheres. No caso dos trabalhadores do sexo masculino o desemprego reflete só uma parte da redução de oportunidades de trabalho pois, no caso deles, também se constatou uma redução das taxas de participação.

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3. Características da Consolidação do Emprego Feminino

A diminuição do nível de emprego ocorrida no início dos anos 90 afetou mais intensamente os trabalhadores do sexo masculino e, em particular, os jovens. A população ocupada ficou um pouco mais adulta e, também, um pouco mais feminina. Na tabela 7, a continuação, observa-se que o peso da população adulta na ocupação total de cada setor aumentou na maioria dos setores apresentando decréscimo somente nos setores agrícola, transporte e comunicações e alojamento e alimentação. O peso da população ocupada, acima de 25 anos, na ocupação total, passou de 74,5% para 77,7% na década. Já a contribuição da mulher, na ocupação total de cada setor, aumentou nos setores de transporte e comunicações, alojamento e alimentação e reparação e outras atividades. Já no comércio de mercadorias, manteve-se praticamente constante. Na ocupação total o peso da mulher ocupada passou de 38,5% para 40,6%. Na mesma tabela pode-se observar que o mercado de trabalho da região metropolitana de São Paulo, na década de 90, expandiu-se basicamente nos setores comércio de mercadorias, serviços auxiliares da atividade econômica, atividades sociais e serviço doméstico remunerado. A participação feminina diminuiu nos setores agrícola, outras atividades industriais, serviços pessoais e domiciliares, divertimentos, atividades sociais e administração pública.

Confirmando a tese principal deste trabalho o homem, mais afetado pelos efeitos da transformação da economia sobre o mercado de trabalho ao reduzir a geração de empregos em setores onde é maior a presença masculina, foi levado a disputar com a mulher as oportunidades de emprego nos setores onde é maior a presença feminina. Deste modo, o aumento global da participação da mulher na ocupação deveu-se muito mais ao aumento da participação na ocupação total dos setores em que é maior a presença feminina do que ao aumento da participação feminina ao nível de cada um dos setores. Este aumento de participação feminina ao nível de setores, como foi dito, ocorreu somente em transporte e comunicação, reparação e atividades sociais enquanto em muitos outros setores aconteceu o contrário, ou seja, a diminuição da participação feminina como verificado na agricultura, outras atividades industriais, serviço doméstico, divertimentos, e mesmo em serviços pessoais e atividades sociais onde a

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presença feminina é predominante. Ocorreu, entretanto, que a participação na ocupação total, dos setores em que a participação da mulher é igual ou maior do que a média, aumentou de 45,9% para 53,6%.

Um simples exercício numérico de simulação da evolução da participação feminina na ocupação total em função das mudanças da participação feminina a nível setorial e da distribuição da ocupação total entre os setores de atividade econômica ajuda a evidenciar a constatação de que no aumento da participação feminina na ocupação total, detectado entre os anos de 1992 e 1999, pesou muito mais o aumento da participação na ocupação total dos setores em que é relativamente elevada a participação feminina a nível setorial. Assim, considerando a participação feminina a nível setorial de 1999 junto com a distribuição setorial da ocupação de 1992 a participação global da mulher na ocupação teria sido de, 38,4%, praticamente o mesmo valor da participação feminina na ocupação global detectada em 1992. Isto indica que os efeitos do aumento da participação feminina nos setores de transporte e comunicação, reparação e outras atividades foi exatamente compensado pela diminuição de participação feminina na ocupação dos setores agrícola, outras atividades industriais, serviços domiciliares, administração pública, divertimentos, serviços pessoais e atividades sociais.

Por outro lado, considerando a participação feminina a nível setorial de 1992 com a distribuição setorial da ocupação de 1999 a participação global da mulher na ocupação teria sido de 40,8%, praticamente o mesmo valor da participação feminina na ocupação global, constatado em 1999, indicando que todo o acréscimo verificado na participação feminina na ocupação total decorre das mudanças observadas na distribuição setorial da ocupação, tendo diminuído a participação dos setores onde é maior a participação masculina e aumentado a participação dos setores onde é maior a presença feminina.

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Tabela 7. Participação dos adultos e da mulher na ocupação de cada setor e distribuição

do total de ocupados nos setores da atividade econômica na região metropolitana de São Paulo, 1992 -1999. % Adultos na ocupação de cada setor % Mulheres na ocupação de cada setor Distribuição dos ocupados Setores de Atividade 1992 1999 1992 1999 1992 1999 Agrícola 76,8 69,2 35,7 27,7 0,7 0,8 Indústria de Transformação 70,9 74,9 28,5 28,9 26,6 18,9 Indústria da Construção 80,0 82,4 4,9 3,6 7,0 6,2

Outras Ativ. Industriais 84,2 85,7 14,5 12,5 0,9 0,7

Com. de Mercadorias 68,2 72,0 38,9 39,1 14,6 16,5 Transporte e Comunicações 83,1 78,4 11,5 15,2 5,0 5,8 Alojamento e Alimentação 77,5 76,0 38,8 44,1 4,8 4,9 Reparação 72,9 77,1 3,4 5,5 3,3 4,1 Serviços pessoais 84,7 88,6 82,3 75,2 3,0 3,6 Serviços domiciliares 83,7 84,9 27,1 24,4 3,2 3,1 Empregada Doméstica 74,8 81,7 93,7 92,8 6,0 7,7 Divertimentos 45,6 62,9 47,4 25,7 0,7 0,8

Serv. Auxiliares Atividade Econ. 71,8 73,1 37,4 37,6 6,0 8,2

Atividades Sociais 82,2 83,5 72,8 69,7 9,4 11,2

Adm. Pública 83,4 85,1 39,9 36,7 3,7 3,4

Outras Atividades 66,3 75,5 40,4 47,3 5,1 4,2

Total 74,5 77,7 38,5 40,6 100,0 100,0

Fonte: PNADs 1992 e 1999

Fazendo uma análise separada entre jovens e adultos por setor observa-se, na tabela 8, que a indústria de transformação desempregou, de forma generalizada, sem distinção de sexo e idade. Deve-se notar, entretanto, que os jovens foram os mais afetados e que as mulheres ainda que minoria, representavam menos de 30% do total de ocupados na indústria, também foram atingidas pela queda de ocupação deste setor. Mas, a pesar do intenso declínio do peso da indústria de transformação na ocupação total este setor continua sendo o mais absorvedor de mão-de-obra da região metropolitana de São Paulo.

O dinamismo do setor terciário evidenciado principalmente pelo aumento do peso do comércio de mercadorias, de transporte e comunicação, e serviços auxiliares da atividade econômica gerou emprego para jovens e adultos de ambos os sexos. Já outros setores do terciário absorveram mão-de-obra de forma diferenciada. Assim, alojamento e alimentação criou empregos para jovens. Os serviços pessoais e as atividades sociais absorveram adultos e homens jovens, os serviços domiciliares ampliaram suas ocupações com homens e o emprego doméstico continuou reduto de mulheres.

(15)

No que se refere especificamente ao mercado de trabalho feminino este expandiu-se devido principalmente ao dinamismo do setor terciário. Ampliaram-se as ocupações ligadas a serviços sociais, serviços pessoais, principalmente aqueles voltados para as camadas de alta renda, serviços de apoio à atividade econômica e comércio de mercadorias, ocupações estas em que as mulheres têm tradicionalmente um espaço de atuação maior mas a participação masculina aumentou em vários deles.

Ou seja, o setor terciário destacou-se, na década, como absorvedor de mão-de-obra para jovens e adultos e ambos os sexos. As mulheres, em particular, conseguiram manter sua participação na ocupação de vários desses setores que são tradicionalmente redutos de ocupação feminina porém constata-se que alguns desses setores ampliaram-se devido a uma maior absorção de trabalhadores do ampliaram-sexo masculino. É o caso, por exemplo, de parcela dos serviços domiciliares a que corresponde aos serviços de limpeza já que a outra parcela, a de serviços de segurança, é de predomínio masculino quase que exclusivamente. Destaca-se também o crescimento da participação dos homens jovens e adultos nas atividades sociais enquanto o peso das mulheres adultas ampliou-se muito pouco e das jovens houve até declínio.

Tabela 8. Participação da mulher na ocupação de cada setor e distribuição setorial dos

ocupados segundo idade e sexo na região metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Jovens ( 15 a 24 anos) Adultos (25 anos e mais)

Homens Mulheres Homens Mulheres

Setores de Atividade

1992 1999 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Agrícola 0,7 1,4 0,6 0,6 0,7 0,8 0,7 0,5

Ind. de Transformação 32,9 24,0 26,9 17,7 30,2 22,4 16,7 12,3

Ind. da Construção 9,1 7,77 0,7 0,9 11,3 10,8 1,0 0,5

Outras Ativ. Industriais 0,8 0,5 0,2 0,4 1,4 1,1 0,4 0,2

Com. de Mercadorias 18,6 20,3 17,8 21,1 13,3 15,9 13,6 14,3 Transporte e Comun. 4,7 7,0 1,5 3,6 8,0 8,6 1,5 1,7 Alojamento e alimentação 4,7 5,0 3,6 5,7 4,8 4,5 5,3 5,2 Reparação 5,9 6,9 0,2 0,4 4,9 6,4 0,3 0,6 Serviços pessoais 0,8 1,3 3,2 2,7 0,9 1,6 7,8 7,9 Serviços domiciliares 2,7 3,0 1,1 0,8 4,1 4,2 2,7 2,1 Empregada doméstica 0,8 0,7 12,8 14,3 0,6 1,0 15,3 18,6 Divertimentos 1,4 1,4 1,7 1,4 0,4 0,9 0,5 0,3

Serv. aux. atividade econ. 5,9 9,0 7,6 11,1 6,2 8,5 5,1 6,6

Social 2,5 6,0 12,0 11,5 4,7 5,6 20,2 21,4

Adm. Pública 2,7 2,7 2,0 1,7 3,9 3,9 4,6 3,5

Outras Atividades 5,8 3,4 8,2 6,2 4,7 3,8 4,3 4,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

(16)

O intenso processo de terceirização da economia brasileira, no quadro da modernização provocada pela rápida abertura comercial e financeira e na ausência de políticas de apoio ao setor produtivo, provocou um enorme crescimento de empregos informais, empregos sem carteira de trabalho e trabalhos por conta-própria ao mesmo tempo que reduzia-se a oferta de empregos formais com carteira. Na tabela 9 observa-se facilmente a diminuição dos empregados com carteira entre os anos de 1992 e 1999 para a população ocupada em sua totalidade e para ambos os sexos. A proporção de homens com carteira assinada caiu, entre 1992 e 1999, em torno de 10 pontos percentuais tanto para os jovens como para os adultos, enquanto que para as mulheres essa queda foi um pouco menor em torno de 7 pontos percentuais. Observa-se também um aumento expressivo dos empregados sem carteira e dos trabalhadores por conta-própria. Essa ampliação dos sem carteira e autônomos foi mais expressiva entre os homens refletindo a queda do peso da Indústria e o aumento do comércio e a prestação de serviços na ocupação total de trabalhadores de sexo masculino. No caso das mulheres a queda do peso do emprego com carteira corresponde a um aumento não só da participação do emprego sem carteira e do trabalho autônomo mas também do aumento do serviço doméstico remunerado. No que diz respeito especificamente ao emprego doméstico sua ampliação na absorção de trabalhadores do sexo feminino ocorreu predominantemente entre as adultas.

Tabela 9. Distribuição dos ocupados segundo posição na ocupação na região

metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Jovens (15 a 224 anos) Adultos (25 anos e mais)

Homens Mulheres Homens Mulheres

Posição na Ocupação

1992 1999 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Empregados c/ carteira 61,2 52,5 61,6 54,8 56,4 46,6 43,5 36,5

Militares ou Func. Públ. 2,6 2,3 2,5 2,4 5,1 4,2 11,7 10,1

Empregados s/ cart. ou s/ decl. 21,5 31,5 16,1 20,6 8,5 13,6 6,9 11,4

Domésticos 0,8 0,7 12,8 14,3 0,6 1,0 15,3 18,6 Conta Própria 9,7 8,8 3,8 4,4 21,9 27,1 17,1 17,8 Empregadores 1,2 0,9 0,1 0,3 6,9 7,1 2,6 3,1 Não Remunerados 3,0 3,3 3,1 3,2 0,5 0,5 2,8 2,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNADs 1992 e 1995.

(17)

O crescimento da ocupação feminina refletiu o comportamento do mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo na década de 90. O aumento do desemprego e o predomínio do crescimento das ocupações menos protegidas ligadas ao comércio e prestação de serviços permitiu a continuidade do crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. Deve-se chamar à atenção, entretanto, que ainda que com menor intensidade uma parcela dos homens também foi absorvida por essa geração de empregos precários.

A análise do perfil dos rendimentos da população ocupada reflete o aumento da renda desde um nível muito baixo atingido em 1992 não proporcionando elementos adequados para julgar a qualidade dos empregos gerados pela atividade econômica. Assim, entre 1992 e 1999 verifica-se uma melhora dos rendimentos na ocupação principal dos homens e mulheres ocupados na região metropolitana de São Paulo ainda que estes continuem em patamares relativamente baixos. Os salários auferidos pelas mulheres são visivelmente inferiores aos dos homens (Tabela 10). Em 1999, entre os jovens, 29% dos homens ganhavam menos de dois salários mínimos enquanto que entre as mulheres esse percentual era de 35,9%. No caso dos ocupados adultos os salários recebidos são superiores ao dos jovens porém os rendimentos masculinos se apresentam bem superiores aos das mulheres pois enquanto somente 9,6% dos homens adultos recebia menos de dois salários mínimos entre as mulheres essa proporção era de quase 30%. Ou seja, os jovens recebem rendimentos menores que os dos adultos e as mulheres adultas recebem salários inferiores aos homens adultos. Entre os homens adultos é bastante significativo, em torno de 20%, a proporção que ganha mais de dez salários mínimos.

(18)

Tabela 10. Distribuição dos ocupados segundo rendimentos na ocupação principal na

Região Metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Jovens (15 a 24 anos) Adultos (25 anos e mais)

Homens Mulheres Homens Mulheres

Rendimentos na Ocupação Principal (salários mínimos) 1992 1999 1992 1999 1992 1999 1992 1999 Sem rendimento 3,4 3,3 3,4 3,4 0,6 0,6 3,0 2,9 Até menos de 1/2 1,1 0,7 1,3 0,9 0,3 0,5 2,6 1,2 de ½ até menos de 1 3,8 3,1 5,9 4,4 1,2 1,3 5,6 3,5 de 1 até menos de 2 30,8 21,9 37,5 27,2 10,1 7,2 24,4 19,3 de 2 até menos de 5 41,2 54,2 38,1 50,8 35,7 40,1 33,8 40,6 de 5 até menos de 10 14,0 11,2 11,6 9,7 29,2 25,5 19,0 17,7 Mais de 10 4,1 3,0 1,1 1,8 20,5 20,5 9,6 11,4 Ignorados 1,5 2,6 1,0 1,9 2,4 4,3 2,0 3,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNADs 1992 e 1999.

A jornada de trabalho complementa a análise anterior. A tabela 11 mostra que a maioria das mulheres trabalha em tempo integral. Em 1999 entre as jovens quase 80% das ocupadas trabalhava mais de 40 horas e entre as adultas esta proporção era um pouco menor em torno de 72%. A alta proporção de mulheres trabalhando mais de 40 horas corrobora a consolidação da mulher na atividade econômica. A alta proporção de mulheres trabalhando jornadas extensas, acima de 45 horas, deve estar relacionado com o crescimento do emprego sem carteira. Vale destacar o aumento dos jovens e dos homens adultos com jornada inferior a 40 horas relacionado, provavelmente, ao aumento da presença masculina em setores de ocupação predominantemente feminina. Segundo pesquisa recente as principais atividades absorvedoras de mão-de-obra masculina juvenil pertencem ao setor terciário da economia relacionadas ao emprego assalariado sem carteira de trabalho e às piores remunerações, sendo que o peso do trabalho em tempo parcial é muito grande (Lourenço, 2002).

(19)

Tabela 11. Distribuição dos ocupados segundo a jornada de trabalho na ocupação

principal na Região Metropolitana de São Paulo, 1992 -1999.

Jovens (15 a 24 anos) Adultos (25 anos e mais) Horas

trabalhadas

na semana Homens Mulheres Homens Mulheres

1992 1999 1992 1999 1992 1999 1992 1999 Até 19 horas 1,9 1,5 3,2 2,4 0,7 1,5 5,5 6,6 De 20 a 39 9,5 12,2 16,5 17,7 7,5 9,0 23,2 21,7 De 40 a 44 46,4 47,8 48,0 46,8 39,1 40,5 41,9 42,3 45 ou mais 42,3 38,4 32,3 33,1 52,7 49,0 29,5 29,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNADS 1992 e 1999.

Por último, o perfil de escolaridade dos ocupados elevou-se na década de 90 de forma generalizada, porém são as mulheres que apresentaram os maiores níveis de escolaridade. De fato, em 1999, entre as jovens ocupadas 50% havia concluído pelo menos o ensino médio e entre as adultas essa porcentagem era de 42,5%. Já os homens ocupados apresentaram níveis de escolaridade inferiores, pois somente em torno de 33%, tanto dos jovens quanto dos adultos tinha, em 1999, concluído pelo menos o ensino médio. Vale a pena destacar que entre os adultos de ambos os sexos encontram-se proporções significativas de ocupados com altos níveis de escolaridade (Tabela 12).

Tabela 12. Distribuição dos ocupados segundo níveis de escolaridade na região

metropolitana de São Paulo, 1992 - 1999.

Jovens (15 a 24 anos) Adultos (25 anos e mais)

Homens Mulheres Homens Mulheres

Níveis de escolaridade

1992 1999 1992 1999 1992 1999 1992 1999

Fundamental Incompleto (*) 56,2 32,8 37,7 19,0 56,8 44,9 52,2 39,3

Fundam. Completo e médio incomp. 26,9 34,2 33,9 31,1 13,8 18,7 14,1 17,8

Médio completo e superior incomp. 15,6 30,2 25,3 46,3 17,4 22,6 20,0 26,9

Superior completo 1,0 2,5 2,8 3,7 11,8 13,6 13,3 15,6

Ignorados 0,3 0,3 0,2 0,0 0,2 0,2 0,2 0,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNADs 1992 e 1999

(20)

3. Conclusão

Desde a década de 60, como parte de um intenso questionamento do relacionamento social construído no pós-guerra as mulheres têm conquistado maior espaço na sociedade e maior igualdade entre gêneros desenvolvendo direitos individuais e reprodutivos que levaram a uma maior autonomia feminina, contribuindo para que elas superassem as inúmeras dificuldades colocadas à sua participação na atividade econômica (Lavinas, 1994; Matesco e Lavinas, 1994). Nas décadas de 80 e 90, entretanto, mercados de trabalho precários, marcados por diversos contextos econômicos, têm colocado barreiras para que essa participação se consolide de forma plena e eqüitativa.

Na década de 70 a entrada da mulher no mercado de trabalho ocorreu em meio a um processo de desenvolvimento da economia e da sociedade. Nesse processo as mulheres conseguiam disputar ocupações com os homens dentro de um projeto pessoal que desse qualidade a sua participação, rompendo inclusive tradicionais barreiras de entrada feminina na atividade econômica. Nos anos 80, num contexto de estagnação e nos 90, num processo de desmontagem do aparelho produtivo construído, esta luta ficou mais árdua. Não somente as mulheres, mas também, os homens passam a enfrentar enormes dificuldades para lograr uma participação de qualidade na atividade econômica. Como bem coloca Abramo (2000) muitos dos obstáculos de entrada das mulheres no mercado de trabalho se desvanecem, alguns diminuem e outros se reproduzem e, inclusive, se incrementam.

De fato, transcorridas três décadas a partir da intensificação da entrada da mulher no mercado de trabalho desapareceram muitas das dificuldades enfrentadas pelas mulheres na conquista de postos de trabalho tradicionalmente ocupados por homens e que com a reestruturação produtiva simplesmente deixaram de existir, principalmente aqueles ligados à Indústria de Transformação.

Por outro lado, permanece um crescimento sustentado da participação da mulher na força de trabalho, ressaltando a maior participação das mulheres de 25 anos e mais e destacando-se, entre elas, os cônjuges.

(21)

Contudo, incrementa-se o desemprego indicando que o aumento de postos de trabalho femininos não foi suficiente para absorver a totalidade do crescimento da PEA feminina.

As ocupações menos valorizadas e tradicionalmente femininas do mercado de trabalho continuam se reproduzindo implicando na persistência de nichos ocupacionais como, por exemplo, o do emprego doméstico. O aumento do emprego doméstico aliado ao aumento do trabalho autônomo reflete-se na maior proporção de mulheres sem carteira de trabalho assinada. Este crescimento de ocupações precárias ajudou também a absorver uma parcela de homens ocorrendo, por vias transversas, uma redução da segmentação por gênero.

O trabalho conclui constatando a continuidade da consolidação da participação da mulher no mercado de trabalho, na década de 90, no sentido de sua permanência no trabalho remunerado, sem retorno a simples afazeres domésticos. As diferenças de trabalho masculino e feminino continuaram diminuindo só que agora não tanto pela capacidade das mulheres de entrarem no mercado reservado aos homens mas pela redução deste último e pela participação conjunta de homens e mulheres nos precários empregos que hoje o mercado de trabalho oferece a ambos os sexos.

Bibliografia

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Referências

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