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Desenvolvimento Regional e Movimento Pendular: Questões Recentes no Norte Fluminense

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Desenvolvimento Regional e Movimento Pendular:

Questões Recentes no Norte Fluminense

Érica Tavares da Silva

Palavras-Chave: Movimento pendular; trabalho; estudo; desenvolvimento regional.

Resumo

Com o avanço da globalização, as transformações em nível mundial se traduzem, de alguma forma, em espaços específicos também, onde a cidade absorve em grande medida os impactos dessas mudanças, sendo a passagem de fluxos diversos de informações, mercadorias e pessoas. A mobilidade da população no território está estreitamente relacionada com o crescimento das cidades e o processo de urbanização. À consolidação das áreas metropolitanas ocorre simultaneamente o crescimento de cidades de porte intermediário. Este trabalho propõe uma continuidade na análise da dinâmica populacional na Região Norte Fluminense, trazendo também algumas questões preliminares sobre a mobilidade pendular na região. Como um estudo exploratório, pretende-se apresentar algumas informações em termos de origem e destino destes deslocamentos, comparando a população dos municípios da região que se desloca regularmente para fins de trabalho ou estudo. Para tanto, trabalhamos com os Microdados da Amostra do Censo Demográfico de 2000 do IBGE, considerando estes deslocamentos freqüentes existentes na região como reflexo das próprias origens de divisão do território. No norte fluminense, impactos sociais recentes foram observados com a nova dinâmica de desenvolvimento regional engendrada a partir da chegada da indústria petrolífera na região, onde Campos dos Goytacazes deu nome à nova área conhecida como Bacia de Campos – produtora de petróleo; entretanto, Macaé assumiu uma centralidade em termos de instalação física do parque industrial. Os impactos traduzem-se em questões políticas, demográficas, sociais e econômicas em distintos níveis, nos quais o movimento das pessoas exerce uma influência fundamental.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu-MG – Brasil, de 29 de Setembro a 03 de Outubro de 2008.

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Desenvolvimento Regional e Movimento Pendular:

Questões Recentes no Norte Fluminense

Érica Tavares da Silva

1 – Introdução

Apesar do deslocamento populacional e dos diversos tipos de mobilidade terem relacionado as áreas do globo em distintos processos históricos, a centralidade e a potencialidade assumidas pela mobilidade espacial no mundo atual é cada vez mais avançada, envolvendo movimentos e redes de relações em diferentes escalas. Há algumas vertentes para explicar o processo de migração, uma versão clássica aposta em oportunidades econômicas, podendo restringir-se “à análise de oferta e procura de empregos, ou na teoria da repulsão e atração de determinadas regiões” (Santos, 2005); outras também apontam os desequilíbrios estruturais, questões ambientais, assim como o estado econômico e geopolítico dos governos, como potenciais elementos constitutivos do processo de migração. Através deste estudo, pretende-se trazer maiores reflexões sobre a mobilidade, especialmente o deslocamento diário da população.

A urbanização crescente da população brasileira vem sendo evidenciada cada vez mais pela dinâmica demográfica nas últimas décadas, revelando também aspectos potenciais da rede de cidades, como processo social, e da rede de comunicação e de lugares, como elemento de articulação espacial. As cidades médias também vêm apresentando considerável crescimento. Isso certamente altera os fluxos de pessoas, que já deixaram de ser essencialmente rural-urbano para serem urbano-urbano; e já vêm sendo substituídos de fluxos de longa distância para fluxos intra-estaduais que apresentam uma variedade de movimentos (Santos, 2003).

Um estudo sobre mobilidade permite examinar a natureza, o tamanho e os resultados da mobilidade e suas implicações para as mudanças no contexto das cidades. Podem-se analisar também as mudanças ocorridas nos fluxos de e para determinadas regiões; sendo assim, a análise dos dados fornece detalhes sobre como se apresentam essas mudanças.

Na realidade de estudo proposta, onde ocorreu um aumento considerável do deslocamento populacional, é de grande importância conhecer mais profundamente os deslocamentos realizados, analisando os avanços atuais das possibilidades de mobilidade e, neste caso, focalizando em um tipo específico, a questão da pendularidade, com a coleta de informações mais detalhadas.

2 – Mobilidade Espacial: Apontamentos sobre a Pendularidade

Com a globalização e a facilidade proporcionada pelos meios de comunicação, é possível notar que não apenas o envio de informações, capitais e produtos é impulsionado, mas também o deslocamento das pessoas pelo território. A mobilidade espacial da população está ligada ao trabalho e à dinâmica da economia, onde a circulação de todos esses fatores se encontra bastante relacionada.

Segundo Benton-Short et al (2005), “é impossível entender o processo de globalização sem estudar as cidades, uma vez que elas são o centro local da globalização” (...), e ainda

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu-MG – Brasil, de 29 de Setembro a 03 de Outubro de 2008.

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“parece haver um consenso de que as cidades e a dinâmica da urbanização têm sido transformadas pela intensificação de processos globais” (Benton-Short et al, 2005, p. 945).

A radicalização das experiências de mobilidade espacial é potencializada pela consolidação de uma sociedade da informação, na qual as estruturas sociais reprodutoras da dominação social são modeladas pelo que ocorre no chamado “espaço dos fluxos” (Castells, 1999), fluxos tanto de informações quanto de mercadorias, serviços e pessoas. Como apontou Bauman (1999), presencia-se também a “infixidez” crescente de homens e mulheres, que vêem a perspectiva da mobilidade como um atrativo sobre a aflição da incerteza.

É bastante interessante a abordagem sobre os sujeitos da mobilidade feita por Haesbaert (2004), segundo o qual, podemos falar do nômade, que seria uma figura-símbolo de uma certa pós-modernidade, e o vagabundo – categoria analisada também por Bauman – que seria de alguma maneira seu correspondente moderno, estes dois apresentam uma forte carga de marginalidade e/ou subversão; enquanto o outro sujeito, o migrante, é uma parcela integrante, ou que está em busca da integração, numa (pós) modernidade marcada pela flexibilização – e precarização das relações de trabalho – no atual contexto da globalização.

Todo esse processo de possibilidades e/ou dificuldades de mobilidade está certamente relacionado com a dinâmica mais geral da economia, como também destacou Manuel Castells em sua reflexão sobre a sociedade em rede, apontando para uma maior flexibilidade no atual cenário informacional, com transformações diversas em termos de jornada de trabalho, crescimento do trabalho autônomo, situação profissional, segurança contratual, desempenho de tarefas e, além de tudo isso, transformações na mobilidade geográfica (Castells, 1999). Nesse contexto, Martine (1974) já destacava a problemática de que o movimento das pessoas para determinadas áreas urbanas pode contribuir para acentuar ou atenuar os desequilíbrios regionais e setoriais.

A migração pode implicar na transferência dos elementos mais produtivos (os jovens, os fisicamente vigorosos, os mais educados ou treinados, os mais criativos, etc.), se assim for, então as áreas que enviam esses elementos estão sendo destituídas de importantes recursos humanos, e as que recebem são presenteadas com esse novo potencial. No caso em questão, esses movimentos geralmente são apontados como fatores de desequilíbrio entre as regiões de origem e destino (Martine, 1974).

Abordando mais especificamente a conceituação do processo e dos atores sociais nele envolvidos, no contexto dos movimentos populacionais, é comum falar apenas de migrantes de um modo geral. Além disso, é comum conceber a migração como prática que se refere somente a mudanças espaciais. É preciso descontruir, de alguma forma, essas concepções gerais e analisar mais profundamente a visão da mobilidade.

Segundo Norbert Elias (2000), às vezes, os aspectos migratórios da mobilidade social são concebidos simplesmente como aspectos geográficos:

(...) tudo o que parece acontecer é as pessoas se deslocarem fisicamente de um lugar para outro. Na realidade, elas sempre se deslocam de um grupo social para outro. Sempre têm que estabelecer novos relacionamentos com grupos já existentes. Têm que se acostumar como o papel de recém-chegados que tentam fazer parte de grupos com tradições já estabelecidas ou que são forçados a uma interdependência com eles, tendo que lidar com os problemas específicos desse novo papel. Muitas vezes lhes é atribuído o papel de outsiders em relação aos grupos estabelecidos e mais poderosos, cujos padrões, crenças, sensibilidade e costumes são diferentes dos seus (Elias, 2000, p. 174).

Vale destacar que os recém-chegados também podem apresentar-se mais estabelecidos do que os residentes, uma vez que podem ser de condições econômicas e sociais mais

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favoráveis, já apresentando redes mais estáveis de articulação com o lugar, ou seja, já terem como recepção uma integração estabelecida. Portanto, os conceitos de estabelecidos e outsiders podem ser relativos.

Temos, assim, uma parte da população que se dirige para novas áreas com uma rede de relações já efetivadas, característica, por exemplo, dos profissionais inseridos em empregos altamente qualificados. Virilio (1994, apud Haesbaert, 2004) chama de “novos nômades” os intelectuais globalizados, ou executivos de grandes corporações, entre outros deste tipo, cujo deslocamento está traçado dentro de um circuito previsto e articulado.

Vemos, simultaneamente, pessoas que se movimentam em busca de melhores oportunidades sem nenhuma articulação prévia, se “aventuram” em lugares que “parecem” ser promissores em determinado momento. Esses seriam o que Virilio (1994) chama de “globalizados de baixo”, trabalhadores em emprego temporário e sem estabilidade, vivem mudando de cidade em busca de trabalho. Já a territorialidade do nômade pós-moderno é construída pela própria mobilidade espacial, com suas rotas relativamente fixas no mundo globalizado. Nestas concepções, ainda há o tipo de movimento daqueles já inseridos em alguma articulação na região de destino, mas que não se desvincularam da região de origem, movimentando-se freqüentemente de uma área a outra.

Desta forma, a concepção usualmente empregada de migrantes engloba uma diversidade de processos de mobilidade que apresentam muitas diferenças sociais e econômicas às vezes num mesmo contexto, apesar de demograficamente ser bem semelhante.

De acordo com Badie (1995), há uma abordagem segundo a qual, a mobilidade constante desestabiliza ou desloca as lealdades que os indivíduos têm em relação ao seu território de pertença, tem como efeito também retirar os indivíduos dos quadros territoriais para integrá-los noutros modos de socialização. O indivíduo vai aliar-se, ou procurar aliar-se, a uma outra rede de relações, em outro território. Os deslocamentos da população estão relacionados à produção da existência, onde a temporalidade social decorrente das condições econômicas e sociais se reflete nas condições de vida da população em cada contexto espacial e temporal.

Portanto, além da migração que implica mudança de residência, é possível destacar também a questão do deslocamento temporário, ou seja, aquele que ocorre para fins de trabalho ou estudo com retorno ao município de origem, o que chamamos de mobilidade ou deslocamento pendular, que está geralmente ligado à expansão de uma determinada região que exerce uma influência em termos de centralidade, em boa parte das vezes, do mercado de trabalho. Esta será a abordagem que temos por objetivo explorar neste trabalho a partir de informações sobre a Região Norte Fluminense.

A mobilidade residencial e a mobilidade cotidiana tem relação direta com a mobilidade pendular, faz parte da distribuição espacial da população. Vale ressaltar que não há uma conceituação definida sobre o emprego das expressões migração pendular, deslocamento pendular e mobilidade pendular. Utilizar a expressão “migração pendular” parece relativamente complicado, uma vez que a idéia de migração implica mudança de residência. A expressão “deslocamento pendular” se apresenta de forma mais apropriada; entretanto, ao falar em “mobilidade pendular” temos mais indicações de aspectos relevantes envolvidos no processo de movimento, como características sócio-econômicas, possibilidades e entraves a essa mobilidade cotidiana, impactos territoriais, entre outras questões que ampliam a visão apenas restrita ao deslocamento em si. De qualquer forma, ao tratarmos sobre o movimento ou mobilidade pendular, estamos abordando o movimento desta população que se desloca com freqüência por razões de trabalho ou estudo, envolvendo certamente um conjunto de causas e conseqüências em relação ao processo1.

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Esse movimento está profundamente ligado à dinâmica sócio-econômica e demográfica de grandes áreas urbanas no Brasil. Como ressaltou Sobreira (2005), outros aspectos se colocam.

Nessas regiões, a concentração de grandes volumes populacionais em áreas extensas e freqüentemente com um elevado grau de conurbação, tornam o problema do deslocamento espacial um dos mais prementes. A necessidade de deslocamento de uma expressiva parcela da população não é plenamente atendida pelo sistema público de transportes e as alternativas quase sempre geram conseqüências adversas como é o caso, por exemplo, do transporte individual. Em meio às questões correlatas ao deslocamento (...), podemos citar, dentre outras, a poluição, o tempo despendido nos trajetos e, em última instância, a dificuldade de se conseguir emprego devido às distâncias a serem percorridas (Sobreira, 2005, p.2).

Pretende-se integrar aqui a dimensão espacial juntamente com dimensões do processo social, no sentido demográfico, político e econômico, entendendo que a gestão do território, a administração e o controle da organização espacial em suas origens e reprodução, também passa por essas dimensões. Vale ressaltar que, juntamente com o deslocamento pessoal, práticas sociais e culturais são levadas, promovendo uma interação cultural. Sendo assim, pretendemos, neste estudo, abordar os movimentos e processos espaciais na realidade do território fluminense.

3 – Desenvolvimento Regional no Norte Fluminense

No território fluminense, tem se delineado um movimento em direção a uma nova organização espacial da economia e da população, pois, certamente, esses “movimentos” da atividade econômica promovem também os deslocamentos populacionais.

Em termos do desenvolvimento urbano e regional, como afirmou Santos (2003), observa-se – sobre a concentração da atividade econômica – dois movimentos: com a nova dinâmica econômica globalizada, há a emergência das “economias de serviços”, que promovem a consolidação das áreas metropolitanas, sendo a principal força geradora de emprego, em detrimento das atividades industriais. Ao mesmo tempo, estas têm se afastado das concentrações metropolitanas, onde os custos são crescentes, e passam a buscar localizações em centros urbanos de porte intermediário.

No Estado do Rio de Janeiro, a Região Metropolitana em muito se diferencia das outras regiões do Estado, uma vez que foi se concentrando em torno da capital – um núcleo econômico ativo e forte – vários municípios que cresciam e dependiam da metrópole, uma vez que estavam integrados a ela (Ervatti, 2003). Essa região concentra em torno de 80% da população do Estado. Entretanto, algumas cidades médias do interior vêm apresentando crescimento neste sentido, tornando-se centros regionais de desenvolvimento.

Como assinala Natal (2003), embora a Região Metropolitana ainda centralize grande parcela da mão-de-obra estadual, estudos recentes apontam um crescimento do número de estabelecimentos e, conseqüentemente, de empregos nas regiões interioranas do estado. Podemos citar aqui, o caso da Região Norte Fluminense com a exploração de petróleo, apresentando um parque tecnológico avançado e modernizado, com novas diretrizes econômicas para a região. Como confirma Piquet (2003):

De região protegida pelo Estado-nacional desenvolvimentista brasileiro no período da agroindústria do açúcar e ‘fechada’ por sua elite, [a região norte

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do Estado do Rio de Janeiro] sofre um processo de ruptura com seu passado quando da descoberta de petróleo em seu litoral. Vê-se então inserida em um mundo globalizado, complexo, rico e pouco afeito ao local (Piquet, 2003, p. 222).

Segundo o Censo Demográfico de 2000, a Região Norte Fluminense possuía 698.783 habitantes neste ano, tendo como um de seus determinantes o crescimento populacional presente. Em 1991, a população era de 611.576; e em 1980 possuía 514.644 habitantes (Tabela 1).

Tabela 1

Distribuição da População Residente – Região Norte Fluminense 1980, 1991 e 2000 População (%) Região e Municípios 1980 1991 2000 Densidade Demográfica (Hab./km2) Campos dos Goytacazes 62,3 61,5 58,2 100,6

Carapebus 1,3 1,2 1,2 34,4 Cardoso Moreira 2,9 2,1 1,8 24,3 Conceição de Macabu 2,6 2,8 2,7 46,9 Macaé 11,6 15,3 19,0 107,0 Quissamã 1,9 1,7 2,0 19,1 São Fidélis 6,8 5,7 5,3 35,5

São Francisco de Itabapoana 7,0 6,3 5,9 36,6

São João da Barra 3,6 3,4 4,0 59,9

Total (Região) 514.644 611.576 698.783 71,4

Fonte: Censos demográficos de 1980, 1991 e 2000.

Obs.: Os municípios de Carapebus Cardoso Moreira, Quissamã e São Francisco de Itabapoana foram criados após 1980, os dados aqui estão desagregados.

A Região Norte Fluminense corresponde a 22,2% da extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro. Campos dos Goytacazes se destaca com seu território, mas mesmo assim apresenta uma das maiores densidades demográficas da região, atrás apenas de Macaé. Este município apresentou em 2000, 107,0 habitantes por Km2, certamente, esse valor elevado se deve ao crescimento populacional dos últimos anos na cidade. Apesar de ser o mais alto da região, esse valor não é nem próximo da densidade demográfica no Estado do Rio de Janeiro, que em 2000 era de 327,5 habitantes por Km2.

Em estudo anterior observamos que, mesmo não sendo uma região metropolitana, o deslocamento populacional tem sido freqüente na região, onde especialmente o Município de Macaé tem gerado uma dinâmica na área do trabalho e emprego em decorrência da indústria petrolífera. Esta dinâmica tem acarretado de diversas formas uma transferência de pessoas para trabalhar na cidade – boa parte delas do Município de Campos dos Goytacazes, sendo também de várias partes do Brasil e até do exterior – gerando também considerável população transitória na cidade e na região (Silva, 2006).

Analisando o mercado de trabalho na Região Norte Fluminense, foi visto de forma sucinta que alguns trabalhadores que residem na região realizam esse deslocamento diariamente, outros permanecem no município apenas durante a semana, retornando aos finais de semana; ainda há aqueles que apenas embarcam para trabalhar nas plataformas e retornam para sua residência após o período de embarque, entre outros casos de diferentes jornadas de

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trabalho introduzidas com a instalação da indústria petrolífera. Podemos nos remeter, aqui, à concepção de “novos nômades” tratada por Haesbaert (2004) e Virilio (1994), abordadas anteriormente. Entretanto, neste caso, o movimento é constante, mas também segundo trajetórias pré-estabelecidas, como retorno à residência. Sendo assim, justamente por esse deslocamento freqüente na região, pretende-se analisar a questão da mobilidade pendular neste contexto.

4 – Movimento Pendular na Região Norte Fluminense

Atualmente, a Região Norte Fluminense é uma mesorregião composta de duas microrregiões, nas quais os dois municípios considerados “pólos” regionais dão nome a estas microrregiões – de Campos e Macaé.

Historicamente, no Censo de 1970, a região era formada por três microrregiões2: Microrregião açucareira de Campos, Microrregião de Itaperuna e Microrregião de Miracema. Estes municípios posteriormente iriam dividir-se e apenas a Microrregião de Campos seria o Norte Fluminense, juntamente com a emancipação de alguns distritos, o que fez aumentar o número de municípios na mesma área. As outras duas microrregiões formariam o Noroeste Fluminense.

No Censo de 1980, a divisão permaneceu a mesma. Em 1990, Quissamã emancipou-se de Macaé. Em 1991, separaram-se as Regiões Norte e Nororeste; a Região Norte Fluminense passou a ser formada, então, pelas Microrregiões de Campos e Macaé3.

No Censo de 2000, mais três municípios foram acrescidos ao Norte Fluminense. Cardoso Moreira emancipou-se em 1995 de Campos e São Francisco do Itabapoana emancipou-se de São João da Barra em 1997. Estes novos faziam parte da Microrregião de Campos, como seus municípios de origem. Também em 1997, Carapebus emancipou-se de Macaé, passando a fazer parte, como município, desta microrregião.

Portanto, finalmente, no ano 2000, a formação da Região Norte Fluminense era a seguinte: 1) Microrregião de Campos: Campos dos Goytacazes, Cardoso Moreira, São Fidélis, São Francisco do Itabapoana e São João da Barra; 2) Microrregião de Macaé: Macaé, Carapebus, Conceição de Macabu e Quissamã. Esta é a divisão que permanece atualmente.

Esta descrição sobre como se deu o processo de divisão da atual Região Norte Fluminense é interessante para observar a rede de influência exercida por estas origens territoriais. Esse processo torna bastante evidente a configuração do espaço regional; a relação de dependência entre os municípios – especialmente dos novos em relação aos dois pólos, Campos e Macaé – e a dinâmica do movimento populacional, a mobilidade pendular que focalizaremos neste estudo.

Analisando a população residente nos 9 municípios da região em estudo, utilizando os Microdados da Amostra do Censo Demográfico de 2000, filtramos os dados através da variável “Município e UF ou país estrangeiro que trabalha ou estuda”, a fim de trabalhar apenas com a população que se desloca com freqüência para trabalho ou estudo em outro município da Unidade da Federação (UF) ou não, ou outro país estrangeiro.

O que foi possível constatar em cada município é que a divisão por microrregião está bastante relacionada ao movimento pendular das pessoas residentes nos municípios. Para se

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A Microrregião açucareira de Campos era formada pelos municípios: Campos dos Goytacazes, Conceição de Macabu, Macaé, São Fidelis, São João da Barra. A Microrregião de Itaperuna era composta pelos municípios: Bom Jesus do Itabapoana, Laje do Muriaé, Natividade do Carangola e Porciúncula. E a Microrregião de Miracema formava-se por: Cambuci, Miracema e Santo Antônio de Pádua. A fim de analisar melhor esta divisão cf. CRUZ, José Luís Vianna, 2006.

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Microrregião de Campos: Campos dos Goytacazes, São Fidélis e São João da Barra. Microrregião de Macaé: Macaé, Conceição de Macabu e Quissamã.

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ter uma idéia, a princípio, deste volume populacional, apresentamos a seguir os valores referentes à população residente que realiza deslocamento para trabalho ou estudo (Tabela 2). É importante notar que estamos considerando como total apenas aqueles que se movimentam para estas finalidades, com certa freqüência, mas permanecem residindo nos municípios de origem; apenas a última coluna da Tabela 2 traz uma idéia do percentual desta população em relação à população total.

Podemos observar que 2,2% da população da região – 15.260 pessoas – não estudam nem trabalham no município de residência (Tabela 2). Esse era o contingente populacional, no ano 2000, que se dispunha com determinada regularidade a percorrer alguma distância, utilizar meios de transporte coletivo ou de uso pessoal, enfrentar alguns desgastes e determinados custos para trabalhar ou estudar em outro município que não o seu.

Analisando essa população por município, Campos apresenta o maior número de pessoas (6.152) que realizam esse movimento pendular, apesar de constituir 1,5% da população total do município – que também é a maior entre os municípios da região. No geral, mais de 95% dessa população, em cada município, realiza o deslocamento para outro município do próprio Estado do Rio de Janeiro; Campos e Macaé apresentam um percentual um pouco maior de pessoas que trabalhavam ou estudavam em outra UF (6,3%), sendo que Macaé ainda tinha 2,3% desta população trabalhando ou estudando em país estrangeiro, o que em números absolutos é pouco, mas provavelmente se deva ao forte vínculo que as empresas petrolíferas têm no exterior. Em termos percentuais, o Município de Conceição de Macabu apresenta os maiores valores, 10,5% de sua população se deslocando para trabalho ou estudo para outro município, a maior parte no próprio Estado do Rio.

Tabela 2

População residente que realiza deslocamento para trabalho ou estudo*, segundo Municípios de residência - Região Norte Fluminense, 2000

Deslocamento para trabalho ou estudo Municípios Trabalhavam ou estudavam em

outro município da UF Trabalhavam ou estudavam em outra UF Trabalhavam ou estudavam em País estrangeiro Total Percentual dos que se deslocam em relação a pop. Total Campos dos Goytacazes 93,6 6,3 0,1 6.160 1,5

Carapebus 99,2 0,0 0,8 594 6,9 Cardoso Moreira 100,0 0,0 0,0 717 5,6 Conceição de Macabu 99,0 1,0 0,0 1.978 10,5 Macaé 91,4 6,3 2,3 1.784 1,3 Quissamã 99,2 0,8 0,0 755 5,5 São Fidélis 98,5 1,5 0,0 1.399 3,8 São Francisco 95,2 4,8 0,0 538 1,3

São João da Barra 99,3 0,7 0,0 1.335 4,8

Total 95,8 3,8 0,3 15.260 2,2

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

*Considerando apenas aqueles que se deslocam.

Retomando aqui a idéia da articulação social com o lugar de destino, para aqueles que se deslocam apenas para trabalho ou estudo com retorno ao município de origem, podemos apontar, de uma forma geral, que o vínculo com o lugar de destino pode ser menos efetivo.

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Não aprofundando nas razões de ordem mais pessoal – o que foge ao escopo preliminar deste trabalho – os objetivos se movem comumente em torno de fins estudantis e/ou profissionais, onde possivelmente as pessoas dispõem de recursos que não obtiveram na área de residência.

A fim de se ter uma aproximação, em termos de dados, da motivação para o deslocamento pendular analisado, apresentamos informações sobre a freqüência desta população a instituições de ensino. Através da tabela 3, podemos notar que, no geral, a maior parte desta população não freqüenta nenhum estabelecimento de ensino; isso demonstra que as pessoas que “não freqüentam escola ou creche” são aquelas que certamente se deslocam para outro município devido ao trabalho.

Os municípios de Conceição de Macabu, Campos dos Goytacazes e Carapebus apresentam mais de 80% desta população se movimentando por razões de trabalho. Seqüencialmente, estão Quissamã – tendo em torno de 79%; São Francisco de Itabapoana – com 77,5%; e São João da Barra – 70% desta população residente em seus municípios se deslocando pela mesma razão.

Cardoso Moreira e São Fidélis apresentam valores para deslocamento em razão de trabalho em torno de 65% do total da população que trabalha ou estuda fora do município. O mais interessante observar é o Município de Macaé, que apresenta percentuais maiores entre aqueles que se deslocam por razões de estudo. A cidade se tornou um pólo regional em termos de emprego e certamente isso deve influenciar no menor contingente populacional se deslocando para outro município em busca de trabalho; sendo uma parte maior (quase 53%) se deslocando por motivos de estudo, provavelmente para o Rio de Janeiro e Campos, conforme veremos adiante.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

*Considerando apenas aqueles que se deslocam.

A fim de conhecermos melhor essa população e também algumas diferenças em relação à população que reside e trabalha no mesmo município, trazemos alguns dados sobre o perfil etário desta população, anos de estudo, rendimento e posição na ocupação.

Observando a pirâmide etária das pessoas que se movem freqüentemente tendo como origem os municípios da Região Norte Fluminense, vemos que a predominância masculina é notável em todas as faixas etárias. Na faixa de 15 a 19 anos, a proximidade entre homens e mulheres é maior, para este grupo etário talvez os motivos do deslocamento sejam também por razão de estudo e, como já foi mostrado também, o crescimento das universidades tem

Tabela 3

População que realiza deslocamento*, segundo Municípios de residência, por freqüência à escola ou creche - Região Norte Fluminense, 2000

Freqüenta escola ou creche Municípios

Sim Não Total (100%)

Campos dos Goytacazes 16,1 83,9 6.160

Carapebus 18,2 81,8 594 Cardoso Moreira 34,4 65,6 717 Conceição de Macabu 12,3 87,7 1.978 Macaé 52,9 47,1 1.784 Quissamã 20,9 79,1 755 São Fidélis 36,0 64,0 1.399

São Francisco de Itabapoana 22,5 77,5 538

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sido notável na região, sendo especialmente o Município de Campos dos Goytacazes como “pólo estudantil” do norte fluminense.

Gráfico 1

Pirâmide Etária da População Pendular Residente, Norte Fluminense – 2000

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Conforme a tendência geral, as faixas relativas à população em idade reprodutiva apresentam maiores concentrações de pessoas, ou seja, aquelas em torno de 20 a 44 anos principalmente, que devem deslocar-se por razões de trabalho. A partir destas últimas faixas de idade, a proporção de pessoas vai diminuindo, certamente para os idosos esse deslocamento vai sendo reduzido.

É importante considerar o nível educacional desta população, e aqui apresentamos também uma comparação com a população que trabalha e estuda no próprio município de residência4 – em termos de média de anos de estudo (Tabela 4). É interessante observar que municípios como Carapebus, Cardoso Moreira, Quissamã e São Francisco do Itabapoana – todos criados mais recentemente, a partir de 1990 – apresentam mais de 50% de sua população pendular possuindo até 7 anos de estudo; para Carapebus e São Francisco esses valores são ainda maiores, acima de 60%. Vale notar que estas faixas de escolaridade correspondem sumariamente ao ensino fundamental, sendo mais difícil as pessoas se deslocarem para cursar o ensino fundamental em outros município; geralmente o fazem a partir do ensino médio, sendo mais comum no ensino superior.

Macaé possui um maior contingente desta população com maior escolaridade, chegava a ter quase 20% desta população com 15 anos ou mais de estudo; Campos e São Fidélis também, onde a maior concentração está na faixa de 11 a 14 anos de estudo. Conceição de

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Ao nos referirmos à população residente estaremos nos referindo à população que trabalha e estuda no próprio município de residência, exclusive a que se desloca.

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Macabu e São João da Barra apresentam valores relativamente mais distribuídos até esta faixa de 11 a 14 anos.

Através da média de anos de estudo, confirma-se que Macaé se destaca seguido de Campos e São Fidélis. Comparando com a população que trabalha e estudo no próprio município de residência, observamos que esta média é sempre maior para a população pendular, e o próprio Município de Macaé apresenta a maior diferença entre as médias da população pendular e residente, trabalhando e estudando.

Tabela 4

População Pendular segundo Município de Residência: Distribuição por Anos de Estudo - Região Norte Fluminense, 2000

Classes de Anos de Estudo Municípios Até 7 De 8 a 10 De 11 a 14 15 ou mais Total (100%) Média de AE - Pop. Pend. Média de AE - Pop. Res. Carapebus 60,2 19,1 19,7 1,0 594 6,4 4,7 Campos 33,2 17,0 40,0 9,8 6.160 8,8 5,5 Cardoso Moreira 55,5 22,6 18,1 3,8 717 6,7 3,9 Conceição de Macabu 43,7 17,7 33,7 4,9 1.978 7,9 4,8 Macaé 15,7 19,0 45,5 19,8 1.784 10,6 5,9 Quissamã 50,7 24,7 23,2 1,5 755 7,0 4,2 São Francisco 65,4 11,2 20,5 3,0 538 6,5 3,5 São Fidélis 28,2 21,0 46,1 4,7 1.399 8,8 4,9 São João da Barra 39,1 24,9 31,6 4,4 1.335 8,0 4,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Analisando algumas características relativas ao trabalho, teremos aqui, obviamente, apenas a população que se desloca para outro município por motivos de trabalho, podendo estudar ou não.

Distribuímos esta população segundo classes de rendimentos em salários mínimos (Tabela 5). Boa parte desta população desloca-se de seus municípios recebendo até 3 salários mínimos – quase a metade, 49%. Praticamente os mesmos municípios citados anteriormente nas menores faixas de anos de estudo também apresentam concentração nas menores faixas de rendimento; Cardoso Moreira e São Francisco apresentam um percentual significativo na faixa de até 3 salários mínimos. Carapebus, Conceição de Macabu e Quissamã, neste contexto, têm seus percentuais mais distribuídos nas classes seguintes, e vale notar que a população pendular destes municípios se dirige principalmente para Macaé, assim como Campos, que também tem uma distribuição um pouco mais expandida até as faixas de maior rendimento.

Quanto à média de rendimentos, Campos e Macaé apresentam valores maiores, tanto para a população pendular quanto para a que estuda e/ou trabalha no próprio município de residência. No geral, a média de rendimentos da população pendular é maior, para o total este grupo apresenta média de 5,1 salários mínimos contra 3,4 da população residente.

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Tabela 5

População Pendular segundo Município de Residência: Distribuição por Rendimentos - Região Norte Fluminense, 2000

Classes de Rendimentos (em sal. mínimos) Municípios Até 3 SM Mais de 3 a 6 SM Mais de 6 a 9 SM Mais de 9 a 12 SM Mais de 12 SM Total (100%) Média de Renda - Pop.Pend. Média de Renda - Pop. Res. Carapebus 59,1 27,2 10,1 1,9 1,7 541 3,5 2,6 Campos G. 40,9 29,5 9,9 5,6 14,1 5598 6,1 3,2 Cardoso Moreira 73,9 20,2 2,7 1,7 1,5 524 2,7 2,1 Conceição M. 56,7 32,7 5,1 2,4 3,1 1851 3,8 2,5 Macaé 37,6 21,0 14,7 7,5 19,2 1032 7,9 5,0 Quissamã 58,6 23,1 10,6 4,5 3,2 644 3,7 2,4 São Francisco I. 77,9 13,1 0,0 2,4 6,6 500 3,1 2,3 São Fidélis 44,5 28,9 13,8 6,0 6,8 1006 4,6 2,4

São João da Barra 56,6 27,3 8,6 2,4 5,2 1105 3,8 2,0

Total 49,0 27,6 9,2 4,5 9,7 12801 5,1 3,4

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Obs.: 1) Variável: Total de Rendimentos em todos os trabalhos; 2) Total da população pendular não coincide considerando apenas aqueles que trabalham.

Além disso, quando observamos a distribuição desta população por posição na ocupação, podemos notar algumas diferenças também em relação à população residente (Tabela 6).

Tabela 6

População Pendular segundo Município de Residência: Distribuição por Posição na Ocupação - Região Norte Fluminense, 2000

Municípios/Posição Domés-tico com carteira assinada Domés-tico sem carteira assinada Empre-gado c/ carteira assinada Empre-gado s/ carteira assinada Empre -gador Conta-própria Trabalho s/rem. ou próprio consumo Total (100% Carapebus 2,4 4,8 80,8 4,1 0,0 7,0 0,9 541 Campos G. 0,5 1,9 65,1 23,5 1,0 7,8 0,2 5598 Cardoso Moreira 4,4 4,2 52,1 24,8 3,4 9,2 1,9 524 Conceição M. 2,3 2,6 54,2 30,6 2,4 7,1 0,7 1851 Macaé 0,0 1,9 52,2 25,2 1,6 16,4 2,7 1032 Quissamã 7,8 2,5 67,7 16,3 0,8 5,0 0,0 644 São Francisco I. 5,0 24,4 32,4 25,8 1,4 9,4 1,6 500 São Fidélis 1,1 0,7 43,5 38,1 0,9 15,7 0,0 1006

São João da Barra 1,6 5,7 46,2 29,3 3,7 10,9 2,5 1105

Total 1,7 3,4 58,2 25,2 1,5 9,2 0,8 12801

Pop. Residente* 2,6 6,8 35,1 27,9 2,5 23,8 1,4 251945

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Obs.: 1) Total da população não coincide considerando apenas aqueles que trabalham; 2) Colocamos a pop. residente na última linha para comparação.

A maior parte da população pendular é empregada com carteira assinada e, em segundo lugar, empregada sem carteira assinada. Para os primeiros apresentam percentuais maiores nesta categoria do que a população residente. Em torno de 5% desta população pendular trabalha em serviços domésticos; 1,5% são empregadores; 9,2% são trabalhadores

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por conta própria e pouco menos de 1% trabalham sem remuneração5; para estas últimas categorias citadas, a população residente apresenta percentuais maiores, especialmente empregadores – 23,8%.

Vimos que o percentual de trabalhadores com carteira assinada entre a população pendular é bem maior do que entre a população residente. De certa forma, isso é esperado, uma vez que para ser favorável deslocar-se para outro município a fim de trabalhar, é interessante que haja uma maior estabilidade no emprego.

Partindo das informações já apresentadas sobre esta população pendular e das comparações realizadas com a população que trabalha ou estuda no município de residência, passamos a observar a população pendular de cada município em relação ao destino de seu deslocamento. Analisaremos a distribuição da população norte fluminense que trabalhava ou estudava em outro município, que não o de sua residência no ano 2000.

Considerando primeiramente o maior município da região em termos territoriais e populacionais, 6.160 pessoas se movimentam freqüentemente para outro município, ou seja, das pessoas residentes na região que se movimentam em torno de 40 % são do Município de Campos dos Goytacazes. Destas 6.160 pessoas, quase a metade vai freqüentemente trabalhar ou estudar em Macaé. Como já afirmamos, já é sabido que esse movimento é muito mais por razões de trabalho. Em torno de 12,7% destas pessoas se deslocam para o Rio e 7% para São João da Barra, os demais vão para outros municípios da região e do Estado, entre alguns – em número mais reduzido – que vão para outros lugares fora do Estado do Rio de Janeiro.

Tabela 7

Distribuição da População de Campos que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Macaé 48,1

Rio de Janeiro 12,7

São João da Barra 7,0

Rio de Janeiro - sem especificação 4,5 São Francisco de Itabapoana 3,4

Niterói 2,9 Cabo Frio 2,4 Quissamã 1,6 Cardoso Moreira 1,5 Vitória 1,3 Outros 14,5 Total (100%) 6.160

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Também fazem parte desta Microrregião de Campos, os Municípios de Cardoso Moreira, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra, os quais também serão analisados separadamente.

A população de Cardoso Moreira tem 4,7% dos que se deslocam no norte fluminense. Em torno de 60% desta população, que se movimenta saindo de Cardoso Moreira, se dirige para Campos, o principal município desta microrregião. Em direção a Macaé, vão 10,5% das pessoas e 9,6% para Italva. Este último não faz parte da Região Norte Fluminense, mas é um

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Entram nesta categoria: 1) Aprendiz ou estagiário sem remuneração, 2) Não remunerados em ajuda a membro do domicílio, e 3) Trabalhadores na produção para o próprio consumo.

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município do Noroeste, e Cardoso Moreira, entre os municípios do norte, é o mais próximo da Região Noroeste Fluminense.

Tabela 8

Distribuição da População de Cardoso Moreira que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Campos dos Goytacazes 60,9

Macaé 10,5 Italva 9,6

Rio de Janeiro 4,6

Itaperuna 4,3 Niterói 2,4 Rio de Janeiro - sem especificação 1,3

Duque de Caxias 1,3

Rio das Ostras 1,1

São Fidélis 1,0

Outros 3,1

Total (100%) 717

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

São Fidélis tem 9,2% da população norte fluminense que realiza o deslocamento pendular. Em torno de 40% se movimenta para Campos com freqüência, logo a seguir está o Rio de Janeiro, destino de quase 15% da população pendular de São Fidélis; Macaé recebe 10,7% desta população. Os demais destinos estão em torno de outros municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Tabela 9

Distribuição da População de São Fidélis que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Campos dos Goytacazes 40,4

Rio de Janeiro 14,9

Macaé 10,7 Cambuci 7,2 Niterói 5,1 Itaocara 3,3

Santo Antônio de Pádua 3,1

Nova Friburgo 2,8

Rio de Janeiro – sem especificação 2,2

Italva 1,9 Outros 8,4

Total (100%) 1399

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

O Município de São Francisco apresenta 3,5% entre o total que se desloca freqüentemente para outro município na região. Campos é o principal destino – 57,8% desta população; Macaé em segundo lugar – 17,8%; e o Rio de Janeiro recebendo 11% destas pessoas. Os demais municípios apresentam percentuais menores, sendo apenas Carapebus da

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Região Norte Fluminense, os outros são de outros municípios do Estado do Rio e também do Estado do Espírito Santo – próximo a São Francisco.

Tabela 10

Distribuição da População de São Francisco que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Campos dos Goytacazes 57,8

Macaé 17,8 Rio de Janeiro 11,0 Cachoeiro de Itapemirim 3,0 Cabo Frio 3,0 Vitória 1,9 Petrópolis 1,7 Carapebus 1,5 Rio de Janeiro – sem especificação 1,3

Rio das Ostras 1,1

Total (100%) 538

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

A população que se desloca de São João da Barra para outros municípios corresponde a 8,5% do total da Região Norte Fluminense. Conforme a tendência dos municípios da Microrregião de Campos, a maior parte desta população também se movimenta para este Município. Além disso, a população pendular de São João da Barra apresenta maior percentual, quase 80%, em direção a Campos; 9,5% para Macaé. A capital do Estado vem terceiro lugar, com 4,1% das pessoas indo para o Rio de Janeiro para trabalho ou estudo.

Tabela 11

Distribuição da População de São João da Barra que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Campos dos Goytacazes 78,8

Macaé 9,5

Rio de Janeiro 4,1

Niterói 1,6 Quissamã 0,9

Rio das Ostras 0,9

Carapebus 0,7 Duque de Caxias 0,7 Carmo do Paranaíba 0,7 Cabo Frio 0,7 Outros 1,3 Total (100%) 1.335

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Foi possível notar que seguidamente aos municípios principais da própria região, sempre aparece o Rio de Janeiro – e alguns municípios da região metropolitana – como destino das pessoas que se deslocam com freqüência para trabalho ou estudo, tendo como

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origem municípios do Norte Fluminense. Podemos observar que a região metropolitana exerce também influência considerável nessa rede de movimentos populacionais para trabalho ou estudo, inclusive, como veremos a seguir, para os municípios do entorno de Macaé.

Passando a analisar a Microrregião de Macaé, vemos que este município também apresenta um percentual razoável de pessoas que se movimentam com freqüência – 11,7%. Macaé tem uma distribuição diferenciada em relação aos demais municípios da região, que tem como principal destino outro município do próprio norte fluminense. Neste sentido, 22,5% da população pendular de Macaé tem como destino o Rio de Janeiro, em segundo lugar que está o município de Campos dos Goytacazes, com 22,4%. Em seguida na distribuição aparecem Niterói, Carapebus e Rio das Ostras, entre outros. Macaé está sendo cada vez mais o principal destino de alguns municípios do norte fluminense e até de outras regiões.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

A população que se desloca de Carapebus para outros municípios corresponde a 3,9% do total da Região Norte Fluminense. Um percentual bastante elevado – 88% – se desloca freqüentemente para Macaé, vale considerar que a distância em relação a este município também é menor do que para os demais, além de ter sido também o mais recente que se emancipou de Macaé, um município pequeno com pouca diversificação econômica. Os demais 12% desta população vão para outros municípios com pequenos percentuais.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Tabela 12

Distribuição da População de Macaé que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Rio de Janeiro 25,5

Campos dos Goytacazes 22,4

Niterói 7,6 Carapebus 7,1

Rio das Ostras 6,2

Rio de Janeiro - sem especificação 5,8

Quissamã 3,6 Conceição de Macabu 3,5 São Paulo 2,0 Casimiro de Abreu 1,7 Outros 14,5 Total (100%) 1.784 Tabela 13

Distribuição da População de Carapebus que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Macaé 88,0

Campos dos Goytacazes 3,7

Rio de Janeiro - Sem especificação 2,7

Quissamã 2,5

Rio de Janeiro 1,3

Niterói 0,8

Outros Países da África 0,8

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O Município de Conceição de Macabu tem 1978 pessoas (10,5% do total) que realiza esta mobilidade pendular na região. Mais uma vez, Macaé está primeiro lugar, quase 70% desta população estuda ou trabalha com freqüência neste município; Campos vem em segundo lugar, já com um pequeno percentual – 8,2%; o Rio de Janeiro está em terceiro lugar com 4,1% das pessoas que saem de Conceição de Macabu realizando a mobilidade pendular, juntamente com Santa Maria Madalena.

Tabela 14

Distribuição da População de Conceição de Macabu que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Macaé 69,5

Campos dos Goytacazes 8,2

Rio de Janeiro 4,1

Santa Maria Madalena 4,1

Carapebus 3,8

Rio das Ostras 1,9

Niterói 1,9 Quissamã 1,7 São Gonçalo 0,9 Cabo Frio 0,8 Outros 3,0 Total (100%) 1.978

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

A população de Quissamã tem 5,5% dos que se deslocam no norte fluminense. Pouco mais de 50% se dirige para Macaé, confirmando a tendência desta microrregião. Posteriormente, aparecem Carapebus – com 16,2%; Campos dos Goytacazes – 14,4%; e Rio de Janeiro – 9,3%.

Confirmamos aqui a tendência observada também na Microrregião de Campos – o Rio de Janeiro também faz parte dos principais destinos dos municípios da região.

Tabela 15

Distribuição da População de Quissamã que trabalha ou estuda em outro Município* – 2000

Macaé 52,6 Carapebus 16,2

Campos dos Goytacazes 14,4

Rio de Janeiro 9,3

Rio de Janeiro - sem especificação 2,3

Rio das Ostras 1,6

Conceição de Macabu 0,9

Niterói 0,8

Nova Friburgo 0,8

Itajaí 0,8

São Pedro da Aldeia 0,4

Total (100%) 755

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Para compreendermos visualmente o que foi exposto, apresentamos um cartograma da Região Norte Fluminense e seus municípios. Considerando os maiores percentuais

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apresentados, as setas indicam o município de origem e destino das pessoas que trabalham ou estudam fora. Confirmamos, portanto, que Campos dos Goytacazes é o principal destino dos municípios de sua microrregião: Cardoso Moreira, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra. Sendo assim, por sua vez, Macaé também é o principal destino da população pendular de Carapebus, Conceição de Macabu e Quissamã, estes da própria Microrregião de Macaé. Já este município apresenta como principal destino o Rio de Janeiro e Campos dos Goytacazes.

Cartograma 1

Região Norte Fluminense: Mobilidade Pendular entre os Municípios6

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Elaboração: Silva, L. C. (2006).

Toda esta constatação parece perfeitamente razoável, uma vez que a divisão regional e as microrregiões são formadas justamente considerando esses fatores. Entretanto, com a nova dinâmica petrolífera na região e a instalação de um pólo de empresas desta área em Macaé, o município se tornou o destino cada vez mais crescente da população de muitos municípios da Região Norte Fluminense e de outras regiões, até mesmo do exterior.

Para o próprio Município de Campos (principal destino da população dos municípios de sua microrregião), Macaé se tornou o alvo de quase metade de sua população residente que se desloca com freqüência para trabalhar ou estudar nesta cidade, estudos anteriores já mostraram que cerca de 90% destes têm como finalidade o trabalho.

6

Foram considerados aqui apenas os destinos principais: que somavam 40% ou mais entre as pessoas residentes no município que se dirigem para o mesmo destino. A largura das setas expressa uma aproximação a este volume de pessoas.

Em direção a Campos Em direção a Macaé

Campos – Macaé / Macaé – Campos Macaé – Rio de Janeiro

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5 – Conclusões

A dinâmica demográfica certamente contribui para evidenciar os aspectos potenciais da rede de cidades, como processo social, e da rede de comunicação e de lugares, como elemento de articulação espacial. Sendo assim, os municípios da microrregião – no norte fluminense – têm como principal destino o município que denomina a própria microrregião. Para os principais municípios, Campos e Macaé, o principal destino do primeiro é o segundo, que vem exercendo uma dinâmica econômica, demográfica e de emprego bastante crescente nos últimos anos. Já Macaé, divide-se como principal destino da população pendular entre a capital do estado e Campos, que historicamente sempre foi a principal cidade da região.

Além disso, nota-se também a influência presente da região metropolitana, uma vez que logo após os municípios do entorno regional, sempre aparece o Rio de Janeiro – e alguns municípios da região metropolitana – como destino das pessoas do norte fluminense que se deslocam com freqüência para trabalho ou estudo.

Sobre as características da população pendular da Região Norte Fluminense, esta é predominantemente masculina, concentrada também nos grupos etários em idade reprodutiva. As razões do deslocamento indicam que são mais no sentido de trabalhar do que estudar, onde Macaé exerce uma centralidade neste movimento por motivos de trabalho. Foi possível observar que, de maneira geral, tanto a média de anos de estudo quanto de rendimentos, é maior para a população pendular do que para a população que estuda e trabalha no próprio município de residência; além disso, por posição na ocupação, a população pendular apresenta maiores percentuais de trabalhadores empregados com carteira assinada, e essa diferença em relação à população residente se reflete principalmente no maior número de trabalhadores por conta própria entre estes.

Podemos destacar também a tendência de crescimento das cidades médias alterando os fluxos de pessoas, que como afirmou Santos (2003), já não são mais primordialmente rural-urbano; os maiores movimentos são de caráter urbano-urbano. Além disso, os fluxos intra-estaduais já são mais intensos do que os fluxos de longa distância. Nesse contexto, os movimentos pendulares exercem uma importância fundamental, com as facilidades proporcionadas atualmente em termos de comunicação e transporte.

Como demonstrou Badie (1995), podemos destacar que mesmo retornando ao município de residência, esta população pendular estabelece novos vínculos sociais e contribui também para potencializar a rede de cidades no território de microrregiões e mesorregiões especialmente, mas também de estados e grandes regiões. Além disso, esta população interfere na região de destino em termos de alimentação, segurança, transporte, entre outros fatores sociais e econômicos que podem ser explorados.

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