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POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BILINGUE NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO DE VITÓRIA/ES: RESSIGNIFICANDO A PRÁXIS SOCIOEDUCACIONAL PARA ALUNOS COM SURDEZ

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POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BILINGUE NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO DE VITÓRIA/ES: RESSIGNIFICANDO A PRÁXIS SOCIOEDUCACIONAL PARA ALUNOS COM SURDEZ

CORREIA, Vasti Gonçalves de Paula 1

FROTA, Nilds de Souza Bandeira 2

D’OLIVEIRA, Regina de Fátima 3

Introdução

Nas duas últimas décadas a Secretaria Municipal de Educação de Vitória-ES vem enfrentando o desafio de implementar ações visando garantir aos alunos com surdez o direito de acesso e permanência na Rede Pública Municipal de Ensino. No desdobramento dessas ações, verificou-se que as formas como se estruturaram as propostas pedagógicas desenvolvidas para atender às necessidades educacionais especiais dos referidos alunos, sem o devido enfrentamento de sua diversidade lingüística, foram prejudiciais à sua escolarização, com perdas consideráveis no desenvolvimento da aprendizagem.

Buscando atender a Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito de todos a educação; às Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001); a Lei 10.098, de 23 de março de 1994, especificamente o capítulo VII, que legisla sobre a acessibilidade à língua de sinais; a Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e o Decreto 5.626 de 2005 que assinala que a educação de pessoas com surdez no Brasil deve ser bilíngüe, garantido o acesso à educação por meio da utilização da Língua de Sinais, e o ensino da Língua Portuguesa escrita como segunda língua, a Secretaria Municipal de Educação de Vitória/Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial/Gerência de Ensino Fundamental/Gerência de Educação Infantil, no ano de 2007, apresentou proposições para a reestruturação da política pública para a educação dos alunos com surdez matriculados nas unidades de ensino de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Essa reestruturação contempla o posteriormente estabelecido pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008 e o Decreto 6.571, que institui as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado. O objetivo geral da Política de Educação Bilíngue do município de Vitória/ES é atender as Diretrizes da atual Política Nacional de Educação Inclusiva, com a implantação de um projeto educacional bilíngüe, respeitando a experiência visual e lingüística do aluno com surdez no seu processo de ensino-aprendizagem, utilizando a Libras como primeira língua e a Língua Portuguesa escrita como segunda língua, resguardado o direito de opção da família ou do próprio

1 Mestre em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo – vasti_paula_br@yahoo.com.br 2 Fonoaudióloga. Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – nildsbandeira@gmail.com 3 Mestre em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo- ermara@bol.com.br

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aluno pela modalidade oral da Língua Portuguesa. Quanto aos objetivos específicos, destaca-se a busca por:

 Atender aos princípios da educação inclusiva, garantindo a reorganização/reestruturação de unidades de ensino para que incorporem a Libras no universo escolar, instituindo a educação bilingüe;

 Garantir que o processo de ensino-aprendizagem de alunos com surdez, seja realizado utilizando a Libras como primeira língua e o português escrito como segunda língua;

 Desenvolver metodologias e estratégias de ensino-aprendizagem com didáticas próprias para garantir a escolarização de alunos com surdez;

 Promover a reorganização da sala de aula comum e o desenvolvimento de ações pedagógicas para atender às necessidades de ensino-aprendizagem das pessoas com surdez em interação com ouvintes;

 Reestruturar a ação pedagógica desenvolvida pelo Atendimento Educacional

Especializado - AEE para atender às necessidades educacionais especiais dos alunos com surdez (Ensino de Libras, em Libras e modalidade escrita da Língua Portuguesa);

 Promover ações integradas com instituições especializadas na área da surdez, para definições de locais e profissionais especializados no desenvolvimento de ações pedagógicas complementares e suplementares, visando atender às necessidades educacionais especiais dos alunos com surdez quando tanto eles próprios quanto seus familiares optaram pela modalidade oral da Língua Portuguesa.

Providências técnico-pedagógicas e administrativas

No ano de 2007, a Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial, após levantamento referente às matrículas dos alunos com surdez nas escolas públicas municipais, constatou a seguinte situação: dos 128 alunos com surdez matriculados 40 alunos encontravam-se no período noturno, localizados em 06 unidades de ensino; 10 alunos estavam matriculados em 10 Centros de Educação Infantil, sendo um aluno por unidade de ensino; 68 matrículas foram efetivadas nos turnos matutino e vespertino de 31 Escolas de Ensino Fundamental. Ou seja, fora a Escola de Ensino Fundamental “Aristóbulo Barbosa Leão”, que tradicionalmente sempre acolheu alunos adultos com surdez no turno noturno e na qual encontravam-se matriculados 35 alunos com surdez, os demais estavam espalhados por toda a rede de ensino, o que dificultava a convivência socioeducacional com seus pares e a otimização do seu processo de ensino-aprendizagem.

No enfrentamento da situação acima sitada, a Política de Educação Bilíngüe, na perspectiva inclusiva, foi implantada no ano de 2008, contemplando sete unidades de Ensino Fundamental e duas de Educação Infantil como unidades de ensino referência de matrícula para os alunos com surdez. As referidas unidades de ensino estão localizadas em regiões estratégicas do município de Vitória, o que facilita o acesso dos alunos que gradativa e preferencialmente deverão ser remanejados das demais unidades de ensino.

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Os primeiros passos para a “implantação” da Política de Educação Bilíngue foram dados no final de 2007 e início de 2008, quando da realização de reuniões com a comunidade escolar das nove unidades de ensino referência para matricula de alunos com surdez, com os familiares dos alunos e representantes da comunidade surda. O objetivo das referidas reuinões foi a sensibilização e adesão ao projeto, que implicou:

 concentração de matrícula em sete unidades de ensino para possibilitar a convivência entre os alunos com surdez e adultos com surdez, o atendimento gradativo em horário integral, e a otimização das ações técnico-pedagógicas e administrativas necessárias;

 garantia de Vale Social para o deslocamento da família e/ou alunos de suas residências e retorno às suas residências, quando foi considerado necessário;

 ensino, uso e difusão da língua de sinais no universo das unidades de ensino referência para matrícula de alunos com surdez (alunos com surdez e alunos ouvintes, profissionais da escola e comunidade);

 processo de contratação temporária de Professores de Libras e/ou Instrutores de Libras (pessoas com surdez) para o ensino de Libras e em Libras;

 processo de contração temporária de professor ouvinte bilíngüe para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua;

 processo de remoção interna de professores especializados na área da surdez ou deficiência auditiva (função professor bilíngue – formação em serviço e continuada em processo);

 processo de contratação temporária de tradutores e intérpretes de Libras-Língua Portuguesa-Libras;

 dimensionamento do papel/função do tradutor e intérprete de Líbras-Língua Portuguesa-Libras no universo escolar;

 subsidio ao professor regente de classe com conhecimentos acerca da singularidade lingüística e especificidade educacional manifestada pelos alunos com surdez;

 disponibilização de tempos/espaços escolares para o ensino de Libras e em Libras, e da modalidade escrita da Língua Portuguesa (Atendimento Educacional Especializado – AEE contraturno / justificativa horário integral);

 reestruturação da ação pedagógica desenvolvida no Atendimento Educacional Especializado-AEE para o ensino de Libras, em Libras e da modalidade escrita da Língua Portuguesa;

 espaços/tempos para formação continuada dos profissionais envolvidos com os alunos com surdez;

 implementação de metodologias de ensino-aprendizagem e desenvolvimento de didáticas próprias para alunos com surdez no Atendimento Educacional Especializado-AEE;

 espaços/tempos para formação continuada contemplando os profissionais das escolas referência por meio de encontros periódicos coletivos e no próprio lócus da escola, incluindo em alguns momentos toda a comunidade escolar;

 implementação de metodologias de ensino-aprendizagem e desenvolvimento de didáticas próprias desenvolvidas em salas de aula comuns compostas por alunos com surdez em interação com ouvintes;

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 adoção de mecanismos de avaliação coerentes com o aprendizado de segunda língua , na correção das provas escritas, valorizando os aspectos semânticos e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa pelos alunos com surdez;

 redimensionamento do quantitativo de alunos em salas de aula compostas por alunos ouvintes e alunos com surdez – (durante o processo e respeitado o fluxo)

 aquisição/confecção de material didático para a criação de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem capacidades, em todos os sentidos, levando em consideração que as experiências de pessoas com surdez traduzem-se de forma visual, sendo que esses materiais e ambientes beneficiam também o processo de ensino-aprendizagem dos demais alunos

Ou seja, fez-se necessário vontade política para a implementação das providências técnico- pedagógicas e administrativas necessárias.

Histórico da política de Educação Bilíngue no município de Vitória-ES

A partir do acesso a diversos estudos realizados nas últimas décadas constatou-se que é por meio da língua de sinais que a pessoa com surdez vai adquirir a linguagem que lhe é própria, com possibilidade de adentrar ao mundo representativo e estabelecer trocas simbólicas com o meio físico e social, ampliando as possibilidades de desenvolvimento do seu pensamento.

Destaca-se, ainda, a compreensão de que mais do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam de acesso a ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos. Isso implica a adoção de uma política educacional que respeite a singularidade lingüística desses alunos e as características específicas em relação as suas experiências que traduzem-se de forma visual e se manifestam mediante a coletividade que se constitui a partir da convivência entre pessoas com surdez, uma vez que, ao ter contato com seus pares que usam a língua de sinais, o aluno com surdez poderá mergulhar no fluxo da comunicação, tomar consciência de sua identidade surda e de seus direitos e deveres como cidadão.

Isto posto, entende-se que compete às redes municipais de ensino implementar políticas que viabilizem o uso e a difusão da Libras no universo de suas unidades de ensino de Educação Infantil e Ensino Fundamental, nas quais encontram-se matriculados alunos com surdez, sem perder de vista a necessidade de garantia de sua escolarização e do ensino da língua cartorial do país.

Segundo Quadros e Schmiedt (2008, p.17), a recomendação do MEC/SEESP para o ensino da língua portuguesa escrita, como segunda língua das pessoas com surdez, ocorre em função da língua portuguesa ser, pela Constituição Federal, a língua oficial do Brasil, ou seja: “[...] é a língua cartorial em que se registram os compromissos, os bens, a identificação das pessoas e o

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próprio ensino”. Portanto, seu uso é obrigatório nas relações sociais, culturais, econômicas (mercado nacional), jurídicas e, nas instituições, de ensino, seu uso é fundamental para que as pessoas com surdez exerçam plenamente sua cidadania.

Considerando as perspectivas elencadas, há que se salientar o § 1º, Art. 22, do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que define como escolas e classes bilíngües aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo.

Diante do exposto, a Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de Vitória/ES, propôs em 2007, e implantou em 2008, a Política de Educação Bilíngüe, para atender aos pressupostos inclusivos e às necessidades educacionais especiais dos alunos com surdez.

Entre as ações implementadas definiu nove unidades de ensino como referência para matrículas de alunos com surdez, que estavam matriculados em diversas unidades de ensino públicas municipais sem a garantia do atendimento educacional comum e especializado necessário para atender às especificidades de seu processo de ensino-aprendizagem. Levou-se em conta para a escolha das unidades de ensino tanto as experiências vivenciadas pela escola quanto sua localização estratégica para atender a demanda dos referidos alunos,

A proposta de escolas referência para matrícula de alunos com surdez se justificou, visto a necessidade de providências técnico/administrativas e organizacionais que possibilitassem a interação entre alunos com surdez e entre os referidos alunos e adultos com surdez (Professor ou Instrutor de Libras), assim como a reestruturação pedagógica desenvolvida tanto na sala de aula comum quanto no Atendimento Educacional Especializado-AEE, com a criação de espaços/tempos escolares e novos cargos conforme encaminhamento dado em nível federal, a saber: professor ou instrutor de Libras; tradutor e intérprete de Libras-Língua Portuguesa-Libras; professor para o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua; professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade lingüística dos alunos com surdez. Considerando-se, também, a necessidade de formação continuada a toda equipe escolar com foco em estudos na área da surdez, bem como em metodologias e estratégias de ensino-aprendizagem para atender alunos com surdez em interação com ouvintes.

De acordo com o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, reguarda-se o direito de opção da família ou do próprio aluno com surdez pela modalidade oral da Língua Portuguesa, que deverá ser ofertada em turno distinto ao da escolarização, ficando a definição dos espaços e dos profissionais de fonoaudiologia para o desenvolvimento oral da Língua Portuguesa sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde e de instituições parceiras, que possuem estas atribuições.

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Desafios: garantia de acesso, permanência e qualidade da práxis socioeducacional para alunos com surdez

A educação escolar do aluno com surdez, fundamentada na filosofia da inclusão, entendida para além da integração física, ou seja, não apenas tendo como garantia o acesso, mas sim, a permanência e a qualidade da educação proposta para esses alunos, se configura em um enorme desafio para a grande maioria das redes de ensino que se propõem a garantir a educação para todos, visto esbarrar-se em vários problemas de diferentes instâncias e ordens, entre os quais destacamos a barreira da comunicação que ocasiona evasão e fracasso escolar das pessoas com surdez.

Considerando que, em uma escola inclusiva, a comunidade tem a responsabilidade de educar todos os alunos e assegurar que todos sejam valorizados, possibilitando que compartilhem saberes necessários para a vida social, há que se destacar que é a escola que deverá adaptar-se ao aluno com surdez, incorporando nos seus processos socioeducacionais sua singularidade lingüística e especificidade de ensino-aprendizagem.

Nesta perspectiva, é descabível negar aos alunos com surdez o direito de acesso à sua língua natural e à língua oficial do país. Isso pressupõe a garantia da educação bilíngüe que envolve a transformação da situação monolíngüe da escola, fundada na língua portuguesa.

Segundo Fernandes (2006, p. 3), constata-se que:

[...] o contexto educacional está organizado de forma que todas as interações são realizadas pela oralidade, o que coloca os alunos com surdez em extrema desvantagem nas relações de poderes e saberes instaurados em sala de aula, relegando-os a ocupar o eterno ‘lugar’ do desconhecimento, do erro, da ignorância, da ineficiência, do eternizado não-saber nas práticas lingüísticas.

Diante desse quadro situacional foi imprescindível buscar novos caminhos para viabilizar a escolarização das pessoas com surdez na escola comum, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras e o ensino da Língua Portuguesa escrita, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno pela modalidade oral da Língua Portuguesa.

Em dezembro de 2005 a Presidência da República publicou o Decreto nº 5.626 que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras. O referido Decreto sinaliza, em seus artigos, uma série de medidas que precisam ser desenvolvidas visando a plena inclusão de pessoas com deficiência auditiva e surdez. Tais medidas articulam-se com a atual política educacional proposta pelo Sistema Municipal de Ensino de Vitória-ES que tem no respeito/valorização da diversidade humana um dos seus focos de atuação.

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Em síntese, consideramos que a implantação da Política de Educação Bilíngue na Rede Municipal de Ensino de Vitória, no ano de 2008/2009, Implicou vontade política para a implementação das providências técnico-pedagógicas e administrativas necessárias. Atende às necessidades socioeducacionais especiais dos alunos com surdez na perspectiva dos pressupostos inclusivos e da legislação vigente.

Inicialmente, por ser uma política que considerada ousada para a realidade do município de Vitória-ES, cujos desdobramentos encontram-se em fase de deenvolvimento, a opção foi por contratações temporárias referentes as cargos necessários para a sua implementação. Após um ano e meio de trabalho constata-se a assertiva e a necessidade da efetivação de concurso público para os cargos de Tradutor e Intérprete de Libras-Língua Portuguesa-Libras e de Professor e Instrutor de Libras(comprovadamente pessoas com surdez).

Quanto aos cargos de Professor Bilíngue e de Professor de Libras por enquadrarem-se no Plano de Cargos e Salários do Magistério a opção é manter, como nas demais funções da modalidade de Educação Especial do município, sua localização via processo de remoção interna. Entretanto, considerando que encontra-se em tramitação um projeto de lei do Senador Cristóvão Buarque, que institui a Libras como disciplina do currículo de 5ª à 8ª séries, caso aprovada a lei isso poderá vir a acarretar a necessidade de concurso público para Professor de Libras.

Em consonância com o Decreto 5.626 e o Decreto 6.571, para que esta política se consolide é necessário que as redes de ensino disponham de profissionais capacitados para atuar diretamente com pessoas com surdez no contexto comum de ensino e no Atendimento Educacional Especializado-AEE. Nesse sentido, para o ano de 2010/11, a Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial SEME/CFAEE necessitará garantir a efetivação de profissionais com formação específica na área de tradução e interpretação de Libras-Língua Portuguesa-Libras e para o ensino de Libras e em Libras que são realizados por Professores de Libras e/ou Instrutores de Libras(preferencialmente pessoas com surdez). Entretanto, para consolidação das referidas funções dentro do quadro de servidores municipais esbarra-se em um ponto de estrangulamento que é a não existência dos referidos cargos estabelecidos em Decreto Federal, na Rede Municipal de Ensino de Vitória-ES. Sendo assim, a fase atual é de estudos para a criação oficial dos referidos cargos e respectiva abertura de concurso público.

Salienta-se que a criação desses cargos, em especial os que possibilitam a efetivação de profissional com formação em nível médio para o Atendimento Educacional Especializado é necessário pelo fato de que, de acordo com a Lei Municipal de Vitória nº 6.754 de 18 de novembro de 2006, não há cargos em nível médio para a função docente(instrutor)4 e nem para a de tradutor e intérprete educacional.

4 A necessidade de atuação de instrutores de Libras com formação em nível médio ocorre devido a carência de professor de Libras “surdo” na Grande Vitória (composta por sete municípios do Estado do Espírito Santo).

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É fator de preocupação da Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial SEME/CFAEE, a permanência desses profissionais em nossa rede de ensino. No momento histórico atual, há escassez dos referidos profissionais, haja vista que a demanda junto às Secretarias de Educação dos demais municípios da Grande Vitória e da Secretaria de Estado da Educação é maior que os recursos humanos disponíveis.

No que concerne concentração de matrícula em sete unidades de ensino, o atendimento em horário integral e a otimização das ações técnico-pedagógicas e administrativas encontram-se em processo gradativo de efetivação. É garantido o Vale Social às família e/ou alunos que fazem a opção pelas escolas referência de matrícula para alunos com surdez. O ensino, uso e difusão da língua de sinais no universo das unidades de ensino ocorre por meio dos espaços/tempos escolares disponibilizados nas salas de aula comum, no Atendimento Educacional Especializado, em salas/auditório destinados para a formação dos profissionais da escola e da comunidade escolar.

Salas específicas para o ensino de Libras e em Libras, e da modalidade escrita da Língua Portuguesa – AEE no contraturno, gradativamente foram disponibilizadas e estão em fase de aquisição de novos materiais didáticos-pedagógicos e equipamentos tecnológicos. Quanto à garantia do atendimento em horário integral, também encontra-se em fase gradativa de efetivação.

O subsidio ao professor regente de classe com conhecimentos acerca da singularidade lingüística e especificidade educacional manifestada pelos alunos com surdez ocorre por meio da formação em serviço e continuada, tanto no locus da escola quanto em espaços/tempos definidos pela Secretaria Municipal de Educação.

A formação em serviço e continuada dos profissionais que atuam com os alunos com surdez, envolve a troca de experiências tanto entre os que compõem à equipe bilíngue, quanto a contratação de assessoria externa de estudiosos e de profissionais especializados com experiência comprovada na área da surdez. A perspectiva é subsidiar a de implementação de metodologias de ensino-aprendizagem e desenvolvimento de didáticas próprias para alunos com surdez no Atendimento Educacional Especializado-AEE, sem perder de vista a necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas desenvolvidas nas salas de aulas comuns nas quais estão matriculados alunos com surdez em interação com alunos ouvintes.

Quanto a adoção de mecanismos de avaliação coerentes com o aprendizado de segunda língua , na correção das provas escritas, valorizando os aspectos semânticos e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa pelos alunos com surdez encontra-se em processo de sensibilização e formação dos professores regentes.

O redimensionamento do quantitativo de alunos em salas de aula compostas por alunos ouvintes e alunos com surdez ainda não se efetivou em função das restrições impostas pelo fluxo e merece maior atenção da Coordenação de Formação e Acompanhamento à Educação Especial.

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Para a criação de ambientes educacionais estimuladores, os recursos didáticos e tecnológicos existentes foram redistribuídos entre as nove unidades de ensino, outros encontram-se em fase de aquisição ou são confeccionados pela própria equipe bilíngue levando em consideração que as experiências de pessoas com surdez traduzem-se de forma visual.

A Política de Educação Bilíngue da Rede Municipal de Ensino de Vitória-ES, é uma realidade em processo de consolidação, alguns caminhos já foram trilhados, outos encontram-se em fase de construção. Tanto a Secretarira de Educação, quanto as unidades de ensino, assim como a equipe bilíngue, estão aprendendo a fazer, fazendo.

REFERÊNCIAS

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Referências

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