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aula Por entre territórios e redes: múltiplas leituras Organização do Espaço Autoras Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais

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Academic year: 2021

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Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do Espaço

D I S C I P L I N A

Por entre territórios e redes:

múltiplas leituras

Autoras

aula

09

VERSÃO DO PROFESSOR

VERSÃO DO PROFESSOR

(2)

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais

Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfico

Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfica

Nouraide Queiroz (UFRN)

Ilustradora

Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens

Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

(3)

1

2

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED

Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância

Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora

Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitor

Aldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE

Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais

Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfi co

Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfi ca

Nouraide Queiroz (UFRN)

Ilustradora

Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens

Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Apresentação

Nas aulas anteriores, estudamos as diferentes perspectivas de abordagens sobre território. Daremos prosseguimento às análises sobre território a partir de novas leituras referentes aos processos sócio-espaciais contemporâneos, os quais envolvem as noções de desterritorialização, reterritorialização e multiterritorialidade.

Objetivos

Compreender o signifi cado dos termos desterritorialização, reterritorialização e multiterritorialidade e suas conexões com os processos sócio-espaciais contemporâneos.

Reconhecer a ocorrência desses processos em situações concretas.

(4)

O tema e o contexto...

A

compreensão do que iremos estudar requisita uma releitura das aulas anteriores, que tratam do fenômeno da globalização e do conceito de território. Será interessante também buscar outras fontes de leitura que ampliem o entendimento sobre esses temas. Que tal consultar as referências bibliográfi cas e procurar ler os livros ali relacionados?

O tema desta aula está vinculado ao contexto da globalização e tem como matriz conceitual o território sob diferentes acepções. Iremos tratar de processos espaciais que se confi guraram no contexto da sociedade em rede e que envolvem questões atinentes à dimensão espacial e à territorialização enquanto componentes indissociáveis da condição humana. Dessa forma, como falar em desterritorialização, tendo em vista que não há como defi nir o indivíduo ou a sociedade sem inseri-los num determinado contexto geográfi co, territorial? Afi nal, o que signifi ca esse processo? A partir desses questionamentos, outros se impõem: qual o sentido de reterritorialização e em que contexto se tem a sua ocorrência? Por que falar em multiterritorialidade?

(5)

Da desterritorialização...

N

o fi nal do século XX,junto com a propagação do fi m do socialismo e, simultaneamente, do fi m da história; do fi m da modernidade e do Estado nação, decretou-se o fi m da geografi a, em função do desenvolvimento tecnológico, dos transportes e das comunicações, e o fi m dos territórios e o avanço dos processos de desterritorialização. Diante da decretação de tantos fi ns, estaria a sociedade atual, de fato, se desterritorializando?

O discurso da desterrritorialização disseminou-se nas Ciências Sociais, sendo defendido por autores que não são da área da Geografi a. A tônica desse discurso baseia-se na premissa de que os processos dominantes de globalização teriam feito imperar o mundo desenraizado, móvel, dos fl uxos e das redes, principalmente aquele das grandes corporações internacionais, em detrimento do mundo mais controlado e enraizado dos Estados-nações e dos diferentes grupos culturais. Nesse contexto, os territórios (geográfi cos, afetivos, sociológicos) estariam sendo destruídos, juntamente com as identidades culturais/territoriais e com o controle (principalmente estatal) sobre os espaços.

A confi guração desse quadro de análise exige que a Geografi a proceda a uma reavaliação de seus conceitos básicos, inclusive o de território (considerado, hoje, o mais difundido dessa ciência), e seja mais rigorosa na defi nição e utilização dos mesmos, tendo em vista as ambigüidades e o caráter metafórico com que têm sido abordados em outras áreas. A maioria dos trabalhos que focaliza o território não o faz pela ótica da sua relevância para a compreensão do mundo atual, mas pelo prisma de sua destruição, ou seja, pelo viés da desterritorialização.

Todavia, refl exões construídas por Haesbaert (2004, p. 31) apontam três questões básicas sobre os discursos e a prática da desterritorialização:

n de modo geral, não há uma defi nição clara de território nos debates que focalizam a

desterritorialização; o território ora aparece como algo dado, ora é defi nido de forma negativa a partir do que ele não é;

n a desterritorialização é vista quase sempre como um processo genérico (e uniforme),

numa relação dicotômica e não vinculada à (re) territorialização;

n a desterritorialização signifi cando o fi m dos territórios aparece associada, sobretudo,

com a predominância de redes, completamente dissociadas de e/ou opostas a territórios, e como se a crescente globalização e mobilidade fossem sempre sinônimos de desterritorialização.

No âmbito do debate sobre desterritorialização, as principais vertentes interpretativas podem ser agregadas em três dimensões sociais, segmentadas apenas para fi ns de análise: econômica (menos comum), política e cultural. Explicita ou implicitamente, essas dimensões estão articuladas a diferentes concepções de território. Chama a atenção o fato de que a

(6)

dimensão mais propriamente social da desterritorialização encontra-se praticamente ausente dos discursos, sendo o vínculo entre desterritorialização e exclusão socioespacial os mais relevantes na visão de Haesbaert (2004, p. 172).

De maneira geral, a desterritorialização numa perspectiva econômica é percebida através das relações capitalistas, especialmente da globalização econômica e mais enfaticamente no campo fi nanceiro e nas atividades ligadas ao ciberespaço, que promoveriam os principais mecanismos de destruição de barreiras ou de fi xações territoriais. Dessa perspectiva, derivam três leituras possíveis:

n a desterritorialização, em um sentido mais amplo, vista como sinônimo de globalização

econômica ou, pelo menos, como um de seus vetores ou características fundamentais, na medida em que ocorre a formação de um mercado mundial com fl uxos comerciais, fi nanceiros e de informações cada vez mais independentes de bases territoriais bem defi nidas, como as dos Estados nações;

n a desterritorialização, em um sentido mais restrito, vinculada a um dos momentos da

globalização (o mais típico deles), o chamado capitalismo pós-fordista ou de acumulação fl exível. A fl exibilidade seria responsável pelo enfraquecimento das bases territoriais ou, mais amplamente, espaciais, na estruturação da economia, em especial na lógica da localização das empresas e no âmbito das relações de trabalho (precarização dos vínculos entre trabalhador e empresa, por exemplo.). A desterritorialização seria sinônimo de deslocalização, ressaltando o caráter multilocacional das empresas, derivado da crescente autonomia em relação às condições locais/territoriais de instalação;

n a desterritorialização, em um sentido ainda mais restrito, seria um processo ligado a

um setor específi co da economia globalizada, o setor fi nanceiro, no qual a tecnologia informacional tornaria mais evidente tanto a imaterialidade quanto a instantaneidade (e a superação do entrave distância) nas transações, permitindo assim a circulação de capital (especulativo) em tempo real.

As leituras possíveis relativas à desterritorialização pelo viés econômico estão intimamente relacionadas ao discurso da globalização irrestrita num mundo efetivamente sem fronteiras, servindo de matéria-prima ao argumento político daqueles que defendem o projeto neoliberal.

Independente do enfoque que apresenta, a desterritorialização de natureza predominantemente econômica normalmente é tratada de forma parcial e subentende uma perspectiva unilateral (economicista) e histórica do território. Na visão de Haesbaert (2004, p. 193), se existe uma desterritorialização do ponto de vista econômico, ela está mais ligada aos processos de expropriação, precarização e/ou exclusão, inseridos na lógica de acumulação capitalista do que nas simples esferas do capital fi ctício, da deslocalização das empresas ou da fl exibilização das atividades produtivas.

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Atividade 1

Os analistas econômicos costumam dizer que o capital, hoje, é extremamente volátil, podendo se deslocar de uma bolsa de valores para outra, em questão de segundos, independente das distâncias geográfi cas entre os lugares. Essa situação que envolve o deslocamento do capital pode ser associada à desterritorialização em uma perspectiva econômica? Justifi que sua resposta.

A desterritorialização sob a perspectiva política adquiriu grande importância na Ciência Política e na Geografi a Política. Dentre as várias acepções, é a mais difundida tendo em vista que a relação entre espaço e poder é a mais aceita na conceituação de território.

A análise da desterritorialização política está diretamente vinculada a uma concepção de território, como criação do Estado moderno. Justifi ca-se esse recorte pelo fato de que o antigo e restrito conceito de território como jurisdição do Estado ainda persiste, especialmente na Ciência Política. No cerne da discussão desse processo, está o propalado discurso do fi m do Estado-nação e da emergência do mundo sem fronteiras.

No contexto da globalização, um dos elementos mais destacados para explicar a desterritorialização política está relacionado à difusão das novas tecnologias de informação e o chamado ciberespaço, vistos por Newman (1998, p. 6) como o fator principal a produzir a desterritorialização do Estado e a correspondente remoção das fronteiras. Dessa forma, a

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análise compreende tanto as empresas responsáveis pelo controle e/ou difusão da informação pelo mundo, como o tipo de tecnologia envolvida e a forma com que a informação é difundida, ou seja, a formação do que se convencionou chamar de ciberespaço no novo espaço técnico-informacional planetário.

Confi gurando um contra-discurso da desterritorialização no âmbito político, Newman (2000) ressalta a importância do território e suas delimitações, principalmente através do fortalecimento das identidades étnicas e nacionais. Conforme sua interpretação, é no próprio processo de reterritorialização, e não como resultado da desterritorialização, que as novas confi gurações geopolíticas estão sendo edifi cadas. Essas construções são possíveis através do surgimento de novas fronteiras e fi xações territoriais (por exemplo, a criação de novos Estados-nações) ou através de espaços virtuais de identidade, em novos moldes espaciais formados pelas narrativas territoriais centradas no simbólico e no mítico.

Verifi ca-se que muitos processos ditos de desterritorialização representam, antes, a construção de uma nova des-ordem territorial extremamente complexa, que pela simples perda ou mudança de poder das fronteiras nacionais resume-se a uma desterritorialização estatal. Os registros históricos indicam que as fronteiras do Estado-nação acabam se rearticulando sob essa nova realidade social e outros tipos de fronteiras vão surgindo.

No que se refere ao Estado contemporâneo, é importante enfatizar o papel contraditório que assume ao liberar as fronteiras no sentido da livre circulação de capitais – e, por vezes, de mercadorias – ao mesmo tempo em que controla a circulação de pessoas, trabalhadores ou refugiados políticos, impondo seus muros com vistas a impedir a entrada de migrantes.

Também é fundamental relembrar que a noção de território não se restringe ao território estatal e, assim, o sentido de fronteira deve ser expandido. Considerando a possibilidade da fronteira perder relativamente poder em uma escala (por exemplo, a nacional-estatal), poderá estar ganhando relevância em outras, como a local (guetos e comunidades mais fechadas) ou supranacional (organizações políticas como a União Européia).

Não se pode perder de vista que a sociedade reinventa o território em nível político, sendo imprescindível teorizar criticamente as territorialidades polimorfas produzidas na contemporaneidade e não reduzi-las a dramas singulares de territorialização resistente ou de desterritorialização. Porém, é necessário acrescentar o que se denomina política de identidade para compreender a signifi cância dos fl uxos, das redes, teias e formações identitárias no contexto atual.

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Atividade 2

O sentido de desterritorialização política é altamente difundido em função da relação entre espaço e poder. Sendo assim, questiona-se: estaria o Estado-nação em processo de desaparecimento? Justifi que sua resposta.

A desterritorialização numa perspectiva cultural envolve uma discussão em que o território é visto sob a ótica da articulação entre as dimensões política e cultural. Nesse sentido, prioriza-se o enfoque da “cultura política”, ao mesmo tempo material e simbólica. Torna-prioriza-se oportuno considerar que, prioritária ou não, antecedente ou não à política, a dimensão cultural sempre esteve presente nos processos de formação territorial. Hoje, a carga identitária ou simbólica aparece com uma ênfase raramente vista.

A criação dos Estados-nações modernos e, conseqüentemente, das sociedades nacionais, do ponto de vista cultural, corresponde ao que se analisou na dimensão política, um movimento que simultaneamente se mostra desterritorializador (destruidor das fi delidades territoriais) e reterritorializador (reconstrutor em um outro nível escalar).

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No cenário atual, a des-ordem territorial denominada de pós-moderna comporta lado a lado uma globalização que se diz homogeneizadora e niveladora de culturas, e uma fragmentação que envolve não só territórios estatais nacionais, com um caráter político mais pronunciado, mas também outros territórios de forte conotação identitária (alguns com forte conteúdo étnico de territorialidade).

Uma das primeiras abordagens sobre a desterritorialização no sentido político-cultural, foi proposta por Simone Weil (2001) e estava associada às noções de comunidade e sociedade nacional. Em sua leitura, o Estado (ou a nação, nos termos da autora) estaria substituindo todas as outras comunidades territoriais, provocando o desenraizamento geográfi co em relação às coletividades que correspondem ao território. Essa visão demonstra ambigüidade, posto que podemos encontrar a formação da nação moderna (fundada na identidade nacional) como um processo destruidor de territorialidades e reconstrutor, em outro nível de escala, ou seja, reterritorializador.

Além dessa perspectiva de desterritorialização como desenraizamento cultural promovido pelos Estados-nações, há leituras mais recentes, vinculadas aos discursos pós-modernos. Nesse contexto, são muitos os autores que proclamam a desterritorialização como característica central dos processos culturais contemporâneos em todas as escalas. Difunde-se a noção de um mundo culturalmente desterritorializado, enquanto, anteriormente, pouca alusão era feita a essa dimensão da territorialização na modernidade. Assim como aconteceu no âmbito da economia e da política, também entre os estudiosos dessa dimensão aparece o sentido de “descoberta” da importância das mediações espaciais na construção da cultura, não para evidenciar seu fortalecimento, mas para entender seu quadro de debilidade.

Entre os vocábulos que proliferam na tentativa de traduzir esse processo, estão desprendimentos culturais em relação a lugares específi cos, culturas desterritorializadas, hibridismo cultural e até mesmo não-lugares (sem identidade e sem história).

O sociólogo mexicano Nestor Canclini é um dos nomes que mais tem abordado a questão da desterritorialização de um ponto de vista cultural. Segundo ele, as mudanças socioculturais contemporâneas estão aportadas, principalmente, em dois processos: a reformulação dos padrões de assentamentos e convivência urbanos, desvinculando local de moradia e de trabalho e a redefi nição do senso de pertencimentos e de identidade, que deixa as lealdades locais e nacionais pelas comunidades transnacionais ou desterritorializadas de consumidores (por exemplo, os jovens em torno do rock). O resultado é a desterritorialização cultural.

De acordo com Canclini (1995, p. 28-29), a novidade é que, na segunda metade do século XX, as modalidades audiovisuais e massivas de organização da cultura foram subordinadas a critérios empresariais de lucro, assim como a um ordenamento global que desterritorializa seus conteúdos e suas formas de consumo. Essa desterritorialização vinculada à padronização mercantil das formas de consumo envolve também a passagem de um mundo de identidades modernas, territoriais e quase sempre monolíngüísticas, para um mundo de identidades pós-modernas, transterritoriais e multilingüísticas.

A despeito da pertinência da leitura da sociedade contemporânea pelo enfoque da desterritorialização cultural, é importante também considerar que estão em curso processos de reterritorialização, em diferentes escalas, os quais poderíamos chamar de culturalistas,

(11)

Atividade 3

pela ênfase que dão as identidades (étnicas, religiosas, lingüísticas). A escala nacional, especialmente dentro das lógicas pós-modernas, nem sempre é acompanhada por recortes territoriais uniformes e contíguos. Um exemplo de processo des-reterritorializador é a proposta de formação do Estado Palestino. A reterritorialização evidencia-se tanto pela construção de novos territórios que respaldem antigos grupos étnicos cujas tradições precisam muitas vezes ser reinventadas, quanto através de territórios que, em sua própria confi guração, inventem identidades e praticamente representem a fundação de novos grupos ou entidades culturais.

Considerando a relevância do debate sobre território e desterritorialização em uma perspectiva cultural (cultura política), Haesbaert (2004, p. 229) propõe tratar a des-territorialização a partir dos diferentes níveis de interação cultural que ela envolve. Sob essa ótica, os territórios seriam defi nidos como culturalmente mais fechados – cujos grupos poderiam ser vistos, ao mesmo tempo, como territorializados (internamente) e desterritorializados (na relação com grupos de outros territórios, deles excluídos) – e culturalmente mais híbridos – no sentido de permitirem/facilitarem o diálogo intercultural, com possibilidades de emergir novas formas, múltiplas de identifi cação cultural.

Reside nessa perspectiva a possibilidade de construção da multiterritorialidade? Este será o tema da abordagem do nosso próximo tópico de estudo. Antes, porém, uma paradinha para resolução da atividade proposta.

a)

Analise a proposição de Nestor Canclini sobre desterritorialização cultural.

b)

Explique o sentido de desterritorialização – reterritorialização e exemplifi que.

(12)

... À multiterritorialidade?

N

o contexto atual, da dominância do componente rede na constituição de territórios e da fl uidez crescente dos espaços, decorrente do meio técnico científi co informacional, tem-se uma redefi nição de territorialidades. Não se trata mais de pensar exclusivamente as territorialidades contíguas, vistas quase sempre com referência aos territórios estatais, mas de considerar o seu convívio com as múltiplas territorialidades ativadas de acordo com os interesses, o momento e o lugar em que nos encontramos. Estas remetem aos territórios-rede marcados pela descontinuidade e pela fragmentação que possibilita a passagem de um território a outro, envolta em um processo que foi denominado por Haesbaert (1997, p. 42), de multiterritorialidade.

Para o referido autor, na contemporaneidade, a multiterritorialidade é a forma dominante da reterritorialização, sendo equivocadamente identifi cada por muitos autores como desterritorialização. Sua origem situa-se no âmbito do capitalismo pós-fordista ou de acumulação fl exível, de relações sociais construídas através dos territórios-rede, sobrepostos e descontínuos, e não mais de territórios-zona, que marcaram a modernidade clássica territorial-estatal. O reconhecimento das territorialidades múltiplas não corresponde à aniquilação das formas mais antigas de território, que continuam a existir e formam, junto com as novas modalidades de organização territorial, um amálgama complexo.

A visão de multiterritorialidade baseia-se na concepção de que a territorialização corresponde às relações de domínio e apropriação do espaço, ou seja, às mediações espaciais de poder, sendo este considerado em sentido amplo – do mais concreto ao mais simbólico. Tendo em vista que não há grupo social sem território, ou seja, sem relação ou apropriação do espaço, cada momento da História e cada contexto geográfi co revelam sua própria forma de desterritorialização, privilegiando determinada dimensão do poder.

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Assim, considerando o território em uma perspectiva mais integradora do espaço geográfi co, Haesbaert (2004, p. 340) enfatiza o aspecto temporal, dinâmico e em rede que o mesmo assume, destacando sua multidimensionalidade e multiescalaridade (não restringindo ao poder político e à escala nacional, em sentido mais tradicional).

A multiplicidade e/ou diversidade territorial, em termos de dimensão social, dinâmica (ritmos) e escalas, resulta na justaposição ou convivência de tipos territoriais distintos, ou seja, múltiplas territorializações. Dentre essas modalidades, estão as territorializações fechadas (que não admitem pluralidade de poderes e identidades – territorialismo. Por exemplo, os talibãs afegãos.); territorializações tradicionais (defendem uma maior homogeneidade interna, como a lógica do poder e controle territorial dos Estados-nações); territorializações mais fl exíveis (admitem ora a sobreposição territorial, ora a intercalação de territórios. Por exemplo, áreas centrais das grandes cidades, organizadas em torno de usos temporários, entre o dia e a noite ou entre os dias da semana); e territorializações efetivamente múltiplas (resultantes da sobreposição ou combinação particular de controles, funções e simbolizações. Por exemplo, territórios pessoais de indivíduos ou grupos mais globalizados, que se permitem usufruir da multiterritorialidade das grandes metrópoles.).

A multiplicidade territorial é variável, comportando desde os territórios como abrigo, entre populações com parcos recursos de sobrevivência que ainda dependem do meio, até territórios vinculados ao ciberespaço, em que o controle é feito através dos meios informacionais.

No campo das territorialidades, ressaltam-se aquelas efetivamente múltiplas, resultantes não apenas da sobreposição entre tipos territoriais (territórios-zona e territórios-rede), mas também de experimentação/reconstrução de forma singular pelo indivíduo, grupo social ou instituição. É essa reterritorialização complexa, em rede e com fortes conotações rizomáticas, que se denomina multiterritorialidade.

De acordo com Haesbaert (2004, p. 343), as condições para sua realização incluíram a maior diversidade territorial, uma grande disponibilidade de e/ou acessibilidade a redes e conexões, a natureza rizomática ou menos centralizada dessas redes e, antecedendo a tudo isso, a situação socioeconômica, a liberdade e, parcialmente, a abertura cultural para usufruir e/ou construir essa multiterritorialidade.

Portanto, o sentido de multiterritorialidade (ou multiterritorialização, se a enfatizamos enquanto ação ou processo) implica a possibilidade de acessar ou conectar diversos territórios. Essa conexão pode se efetivar através de uma mobilidade concreta, que envolve o deslocamento físico ou virtual no sentido de acionar diferentes territorialidades sem sair do lugar, como nas novas experiências espaço-temporais proporcionadas pelas vias do ciberespaço. São essas novas relações em rede que dão origem aos territórios-rede fl exíveis nos quais o mais importante é ter acesso aos pontos de conexão que permitam acionar a multiplicidade de territórios existentes, criando uma nova territorialidade.

(14)

Atividade 4

Resumo

Identifi que as características básicas do processo de multiterritorialidade, conforme Haesbaert.

Nesta aula, tratamos a respeito do território sob a ótica da desterritorialização, reterritorialização e multiterritorialidade. Analisamos as diferentes perspectivas de desterritorialização (econômica, política e cultural), a relação entre desterritorialização e reterritorialização e o sentido de multiterritorialidade, típico da sociedade contemporânea.

Estamos concluindo as análises sobre o conceito de território. Considerando a importância do tema e como ele está presente no nosso cotidiano, sugerimos que faça leituras complementares e fi que atento aos noticiários. Você vai descobrir os múltiplos territórios que circunscrevem nossa vida e como a questão territorial está no cerne das disputas e guerras que assolam o mundo atual. Exercite sua capacidade de interpretar o território. Boa leitura!

(15)

Auto-avaliação

Para evidenciar sua aprendizagem sobre o tema estudado, elabore um texto sintético em que as abordagens conceituais relativas à desterritorialização, reterritorialização e multiterritorialidade apareçam de forma articulada.

Referências

CANCLINI, N. Consumidores e cidadãos: confl itos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.

HAESBAERT, R. Des-territorialização e identidade: a rede gaúcha no nordeste. Niterói: EDUFF, 1997.

______. Território, cultura e des-teritorialziação. In: ROSENDAHL, Z.; CORREA, R. L.

Religião, identidade e território. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001.

______. O mito da desterritorialização: do fi m dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

NEWMAN, D. Geopolitics renaissant: territory, sovereignty and the world political map.

Geopolitics, v. 3, n 1, 1998.

______.Territory, boundaries and postmodernity. In: PRATT, M.; BROWN, J. Borderlands

under stress. Londres: [s.n.], 2000.

ROSENDAHL, Z.; CORREA, R L. Religião, identidade e território. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001.

SANTOS, M. et al. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

SANTOS, M. O retorno do território. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. L. (Org.). Território: globalização e fragmentação. São Paulo: HUCITEC/ANPUR, 1994.

SOUZA, M. J. L. de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. Geografi a: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 77-14.

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EMENTA

n Eugênia Maria Dantas n Ione Rodrigues Diniz Morais

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar, região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

Organização do Espaço – GEOGRAFIA

AUTORAS

AULAS

1º Semestre de 2008

Impresso por:

Gráfica xxxxxx

01 Despertando para a leitura do espaço

02 Aprofundando o conceito de espaço

03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04 A dinâmica entre o global e o local na globalização

05 Paisagem como categoria da análise geográfica

06 Lugar e (des) identidade

07 Território e territorialidade: abordagens conceituais

08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras

10 Região e a Geografia tradicional

11 Região no contexto da renovação da geografia

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