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Ex.mo Prof. Eduardo Lourenço Senhoras e senhores Vereadores... Meus caros amigos Minhas senhoras e meus senhores

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Academic year: 2021

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Ex.mo Prof. Eduardo Lourenço Senhoras e senhores Vereadores ... . ... ....

Meus caros amigos

Minhas senhoras e meus senhores

O melhor do que havia para dizer já foi dito!

Muito melhor do que eu poderia dizer, falou-nos “o homem como

literatura” que, além de doador, hoje tivemos a satisfação de ouvir. Mas

tenho de cumprir o meu dever saudando-vos e agradecer a vossa presença neste ato de especial significado.

Para mim, como Presidente da Câmara de Coimbra é uma honra – e um grande prazer – homenagear, na presença do próprio, um dos maiores intelectuais que viveu e que estudou nesta nossa cidade. Como é sabido e já foi dito, sentimo-nos extremamente honrados por lhe termos entregue a medalha de ouro da cidade em 22 de junho de 2001.

Eduardo Lourenço é um intelectual, um grande filósofo, alguém que reflete sobre coisas complexas com uma escrita muito bela. Um filósofo com uma enorme atenção à poesia, à literatura, às ideias políticas – e também um cidadão muito interventivo, pela palavra e pela escrita, no país e na Europa.

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Se há homens em que Coimbra se revê e se orgulha de por cá terem passado, Eduardo Lourenço é um deles! Ele simboliza a aspiração desta cidade e da sua academia a ter uma compreensão geral das coisas, do seu sentido, uma compreensão crítica, lúcida, uma compreensão que permita construir um futuro melhor.

“Em lugar de uma visão do país imaginário”, estou a citar Guilherme d’Oliveira Martins (“Portugal, Identidade e Diferença”,

2007), “encruzilhada de sonhos e de má-língua, Eduardo Lourenço procura ser o camponês do Danúbio, com os pés assentes na terra, a dizer que tudo depende do que somos e do que queremos ser”.

Eduardo Lourenço chegou a Coimbra em 1940, com 18 anos. “Da

minha aldeia não se via o mar. Por estranha maravilha, aos dez anos nela tive notícia de uma cidade encantada, propícia aos amores, à boémia, às musas e à grave ciência, chamada Coimbra. Tal era na imaginação de dois estudantes meus vizinhos e amigos que já haviam provado o elixir dos sonhos que, durante séculos, a juventude da nossa pátria aqui respirou para “a restante vida”… (Oração de sapiência na cerimónia de

investidura como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra (1996)) .

Logo no primeiro ano de Letras, na Universidade de Coimbra (Curso de Histórico-Filosóficas – concluiu a Licenciatura em 23 de julho de 1946

dissertação intitulada “O Sentido da

Dialéctica no Idealismo Absoluto”)

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(até 1953)

conhece o seu mestre Joaquim de Carvalho e, também, a geração do neo-realismo: Rui Feijó, Carlos de Oliveira, Egídio Namorado, Raul Gomes, vários outros.

Reúne, conversa e argumenta com eles aqui mesmo, nesta Casa do Arco, no nº 8 da Rua João Jacinto, a antiga casa do poeta João José Cochofel – sempre assumindo “que não sabe para onde vai ”…

Eduardo Lourenço convive muito com os neo-realistas, mas não se torna nem militante, nem simpatizante partidário de qualquer ortodoxia. A sua aproximação a diferentes grupos é de outro tipo, aliás na linha de uma velha tradição de Coimbra desde a “Geração de 70”: o da recusa da ordem estabelecida, o da recusa do que é bafiento e manipulador, o da recusa, neste caso, do discurso cultural do Estado Novo.

Eduardo Lourenço tem, portanto, amigos e interlocutores nas diversas famílias intelectuais da “Coimbra dos anos 40”, conversa também com Miguel Torga ou com Paulo Quintela. Reflete com muitos outros. Começa então a traçar, em Coimbra, o percurso singular – e muitas vezes solitário – que havia de distinguir o seu pensamento e a sua obra.

Em 1949 lança o primeiro volume de “Heterodoxia”, com apenas 26 anos, propondo a heterodoxia como algo intrínseco ao ser humano – mas fazendo também uma crítica, uma notável contestação às duas

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grandes ortodoxias políticas da época: o catolicismo canónico e os ideais comunistas. Ao mesmo tempo, e coerentemente, repudia a ditadura de Oliveira Salazar.

A sua chegada a França nos anos 50, onde a referência marxista passaria a ser hegemónica nas universidades, mantém-no incólume pelos anos 60 e 70. Sempre independente, sempre crítico, sempre atento a tudo o que se passa na Europa e no mundo, refletindo sempre de forma heterodoxa, independente, livre – e, apesar da distância, nunca perdendo de vista Portugal.

Publica em 1978 “O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português”. E nunca mais nos foi possível olhar da mesma forma para a identidade portuguesa, ou, já agora, para a possibilidade de uma filosofia especificamente portuguesa...

A viver em Vence desde 1974, ano em que começou a lecionar na Universidade de Nice, Eduardo Lourenço continua, até hoje, a acompanhar tudo o que se passa em Portugal e, portanto, também o que se passa em Coimbra. Esta Coimbra que também é uma das suas cidades e à qual – para além da atenção, e das pontuais conferências que foi fazendo por cá desde os anos 80 – Eduardo continua a dedicar uma afetividade e uma ternura que nos devem tocar.

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Foi exatamente essa ternura que sentimos, eu e a Vereadora Carina Gomes, quando, meses atrás e sempre propiciada pelo irmão Adriano, falámos com Eduardo Lourenço na Fundação Gulbenkian e com ele combinámos esta doação de livros que tanto nos enriquece e partilhamos na “Sala Eduardo Lourenço” que acabamos de inaugurar. Para combinarmos os pormenores, foi ele que nos guiou com a sua bonomia e a sua graça até ao restaurante Gôndola, do outro lado da Avenida de Berna, um restaurante que, por sinal, é de uma antiga e estimada funcionária das cantinas da Universidade de Coimbra.

Nesse almoço encontrámos em Eduardo Lourenço a disponibilidade para levarmos a cabo o nosso propósito: tornar a sua obra e o seu pensamento mais acessíveis em Coimbra aos mais jovens, a todos aqueles que levam a cabo nesta cidade universitária uma etapa importante da sua formação intelectual e da sua formação cívica.

Encontrámos em Eduardo Lourenço o aliado perfeito para dinamizar a Casa da Escrita, para a tornar ainda mais apelativa a todos aqueles a quem a cultura, a política, o destino da cidade, o destino do país, da Europa e do mundo, interpelam e desafiam.

Para além do seu pensamento, também Eduardo Lourenço é, ele próprio, toda a sua vitalidade, toda sua seiva beirã, um desafio. Depois das “heterodoxias”, depois de ter trazido novas luzes às obras de Luís

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de Camões, de Fernando Pessoa ou de Antero de Quental, depois de ter pensado a mitologia identitária da pátria e refletido sobre o nosso destino na Europa, depois do Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, depois do Prémio Camões, depois do Prémio Pessoa – depois de tantos outros prémios, de tanto reconhecimento nacional e internacional, poder-se-ia pensar que Eduardo Lourenço gostaria de retirar-se e de repousar.

Mas não. Eduardo Lourenço continua a aceitar convites para falar em conferências, continua a viajar sem descanso por essa Europa fora – ainda agora está a chegar de Paris... Continua a atravessar com passo ligeiro as avenidas em Lisboa, a vir até Coimbra, a estar aqui connosco a partilhar a sua inteligência e a sua reflexão sobre o sentido das coisas.

Senhor Professor, meu caro Mestre, Eduardo Lourenço.

Disse há uns anos numa entrevista (“Público”, 2007): “Coimbra já me existia antes de ir para lá”.

Falava nos estudantes universitários da sua aldeia de S. Pedro do Rio Seco. Falava das raízes conimbricenses de algum ensino que recebeu no Colégio Militar. Falava da mitologia coimbrã.

Pois bem: hoje, Eduardo Lourenço faz parte da mitologia coimbrã. Faz parte do que de melhor, de mais crítico, de mais independente e de

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mais lúcido a investigação iniciada nesta cidade e nesta universidade conseguiram produzir nos séculos XX e XXI.

Bem haja, Mestre Eduardo Lourenço.

Bem haja pela sua doação à Câmara Municipal que tenho a honra de presidir.

Bem haja pela sua ternura por Coimbra.

Bem haja pela exigência que continua a impor aos nossos espíritos sempre que escreve e sempre que nos fala.

Bem haja pelo seu espírito cívico, pelo seu europeísmo crítico e convicto, pelo seu humanismo.

Bem haja pela inteligência lúcida com que nos continua a beneficiar.

Referências

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