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O P. Libermann e a Missão de Angola

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Volume 25 | Number 25

Article 29

12-2015

O P. Libermann e a Missão de Angola

Manuel de Sousa Gonçalves

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de Sousa Gonçalves, M. (2015). O P. Libermann e a Missão de Angola. Missão Espiritana, 25-26 (25-26) Retreieved from https://dsc.duq.edu/missao-espiritana/vol25/iss25/28

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a vida, procurando dar aquele calor humano de que foram privados adoles-centes e crianças que a maldade, se não a estupidez humana, empurrou para a desgraça.

In «Encontro» n.º 271 – novembro de 1995

O P. Libermann e a Missão de Angola

Diz-se com razão que o século mais missionário da Igreja é aquele que vai de meados do século 19 até ao Concílio Vaticano II. O Extremo Orien-te e principalmenOrien-te a África foram as áreas privilegiadas.

Ora bem. Na história missionária da África moderna, direta e in-diretamente, tem lugar de pioneiro o P. Francisco Libermann. São autores africanos que o dizem. O historiador Ki-Zerbo, cuja História de África em 9 volumes foi reeditada pela UNESCO, afirma que sem as Missões cristãs a África não teria acedido à época moderna nem à independência; referia-se ao progresso social e escolar trazido pelas Missões.

Léopold Senghor, fundador da nação senegalesa, esse afirma sem re-buços que o P. Libermann, pela sua dedicação aos africanos e pela empresa missionária que lançou, é uma espécie de «pai» da África moderna.

E que dizer do P. Libermann em relação a Angola?

Intuições Missionárias do P. Libermann

A crítica maior que é moda fazer-se à Missão do Padroado português, em ação a partir do século XVI, é a de uma excessiva coloração ocidental na proposta missionária. Seja. Mas nesse campo da atenção aos valores de cada cultura, Libermann falou claro aos seus missionários desde o início e já em 1841: “não levem para aí os hábitos e maneira de ser da Europa”, recomendava frequentemente.

A inserção dos valores cristãos na cultura local e a mútua fecundação dá pelo nome de inculturação. A inserção, adaptando-se quanto puder, do missionário ao jeito e vida local, tem o nome de aculturação. P. Libermann esteve atento a uma e outra, e à última com bom senso e equilíbrio. Por razões de diferença cultural e fisiológica, uma aculturação total às condições de vida local, sobretudo nesses primórdios duros da Missão (e relativamente ainda

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agora), nem é esperada pelo povo nem alcançada pelo missionário. A primei-ra expedição missionária de Libermann terminou num holocausto, e a lição foi aprendida: fazer-se tudo para todos como S. Paulo, mas levando o Evange-lho e não a sua Pátria, e aceitando que no fim de contas sejam os africanos os verdadeiros apóstolos dos africanos.

Outra intuição missionária do P. Libermann foi realizar que a priori-dade missionária era o objetivo de uma Igreja local e a preparação de quadros do país sacerdotes e catequistas.

O Seminário do Espírito Santo em Paris, por mérito da Madre Ja-vouhey, fundadora das Irmãs de S. José de Cluny, preparou desde 1841 vários sacerdotes africanos os primeiros da época moderna, se excetuarmos Angola. Segundo o historiador P. António Brásio, houve sempre em Angola, desde os começos do século 17, sacerdotes naturais do país. Eram 6 por 1870, quando os espiritanos chegaram para a 2ª evangelização de Angola

Para os catequistas, pensou o P. Libermann conseguir de Roma um estatuto de quase ordenação – o que chamaríamos hoje de «ministério laical instituído». Seria garantir ao catequista e à comunidade um serviço estável e visível de liderança. A ideia não vingou por ser demasiado pioneira para o tempo.

Nas cartas do P. Libermann transpira a preocupação constante pela dignificação dos africanos. A sua iniciativa missionária coincidiu em muitas partes com a libertação jurídica e social dos escravos – a sorte destes foi aliás a gota de água, na sua caminhada vocacional, que o moveu a voltar-se para Africa. O arranque das Missões em África partiu quase sempre da libertação de jovens e adolescentes que vieram viver para a Missão, e deles saíram os primeiros catequistas e as primeiras famílias cristãs. O primeiro missionário de Libermann, o santo P. Laval, trabalhou nas ilhas Maurícias principalmente com escravos recém-libertados; na ilha da Reunião, foi no adro da Missão que os escravos festejaram o seu dia libertador.

A dignificação da pessoa implica trabalho livre, família livremente constituída (em regra os escravos, mesmo tendo filhos, não podiam casar), e instrução. A tudo isso se dedicaram sempre os discípulos de Libermann.

Em Angola, foram também estas mesmas linhas de ação que marca-ram o trabalho dos missionários.

Os missionários de Liberman em Angola

A Missão espiritana em Angola foi pensada e decidida uns 5 anos depois da morte de Libermann. Foi assim: a Santa Sé queria que fosse reto-mada a Missão do Congo, donde o Governo português e o chamado

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Minis-tro «mata-frades» tinham expulsado os missionários em 1834: desde 1641, os Capuchinhos italianos tinham desenvolvido uma heróica ação missionária no norte de Angola, e tudo parou com a sua expulsão. A Congregação do Espírito Santo aceitou a proposta de Roma, e assim vai começar alguns anos depois a arrancada missionária no sul e norte de Angola, e na sequência da mesma nascerá em seguida a Província portuguesa.

Esse arranque missionário situou-se portanto ainda bem dentro do fervor inicial. Querem um sinal? Por contas da Secretaria Geral da Congrega-ção, sabe-se que a média de vida dos espiritanos em Angola, de 1870 a 1900, foi de 29 anos (e de 31 em toda a África). Aos que a malária ia vitimando, outros sucediam.

Na Missão de Angola, a preocupação com a formação do clero local e dos catequistas, estes como responsáveis de pequenas comunidades cristãs, veio logo ao de cima. O primeiro espiritano de Angola foi o santo P. Barros, um mestiço do Bié, que fez o noviciado na casa espiritana de Sintra e foi orde-nado padre por 1894. Edificado com o empenho missionário e a piedade dos discípulos de Libermann, o bispo de Luanda pediu-lhes pouco depois de che-garem que recomeçassem o Seminário diocesano: este funcionou na Missão da Huíla até perto do advento da República. Os primeiros sacerdotes diocesa-nos de Cabinda são também desse tempo, e de alguns deles há ainda memória entre o povo, caso, por exemplo, do venerado P. Alexandre Tati. Em 1922 é organizado no centro-sul de Angola o Seminário diocesano de Galangue, de-pois trasladado para a Cahala; dele sairão dezenas de sacerdotes para todo o sul do país. Uma das glórias dos espiritanos em Angola é de terem colocado sempre à frente dos seus próprios interesses as necessidades da Igreja local e a formação do seu clero.

É sabido como um adulto, com estrutura mental definida, dificilmen-te muda de tradições. O começo da missionação em Angola dificilmen-teve a mesma partida que noutras regiões do continente e que já foi referida atrás: com a libertação de jovens escravos (havia em África uma escravatura suave e fami-liar para serviços domésticos), ela juntou a preparação de catequistas e pro-fessores, e abriu caminho para a constituição de famílias cristãs. Esses jovens libertos cresceram na Missão; as meninas com as Irmãs, os rapazes com os Padres. Deles saíram os primeiros catequistas.

Não falta quem pense que até ao Concílio se prestava pouca atenção a inculturar a fé. Condição essencial para a inculturação é o conhecimento da língua local. Quem estudou as línguas e costumes dos povos de Angola? Quem compôs gramáticas e ordenou dicionários, quem registou em livros os contos, provérbios e tradições do povo, de norte a sul de Angola? É emblemá-tico o caso do P. Lecomte, Superior da Missão no sul de Angola na parte final

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do século 19. Contam os Diários das Missões que cinco anos depois de ter chegado ele já oferecia aos colegas uma gramática, um dicionário, um livro de cânticos e um catecismo em 5 línguas dos povos do sul.

Contam ainda os Diários das Missões de Angola (fontes indispensá-veis para história do país) que, quando se fundava uma Missão, havia sempre 4 preocupações: construir a capela, a escola, o dispensário, e abrir uma vala desde o rio mais próximo até à horta da Missão. Vinham depois as Oficinas e a Cerâmica para as construções. A última construção era a casa dos missio-nários – até lá iam morando em casa de pau a pique (paus entremeados de barro).

Tudo o que é humano é passível de alguma crítica, pois a perfeição é uma caminhada que não tem fim. Nestes 300 anos de vida missionária dos espi-ritanos, houve por certo erros e enganos. Mas, em particular depois que o P. Li-bermann refundou a Congregação do Espírito Santo, a ação dos seus discípulos marcou a história, religiosa e civil de toda a África. Angola é uma das joias mais preciosas dessa consagração dos espiritanos ao Evangelho, ao povo e à Missão. Certo: por detrás de tudo, esteve sem dúvida a ação do Espírito Santo agindo no coração de um povo tão aberto à religião como são em média os africanos. Mas os homens colaboraram.

In «Encontro» n.º340 – fevereiro 2002

Após longo e Cruel Sofrimento

Esperança renascida

Renascido, porque foi longo e cruel o sofrimento a que o povo esteve sujeito desde a alegria da independência, e para o qual não há explicação senão o modo incorreto como a autonomia aconteceu e o desejo doentio do poder por parte de alguns. Quase apetecia perguntar: mas é mesmo a sério que a paz chegou? Como explicar que em tão pouco tempo as Autoridades e os impli-cados na guerra passem de uma linguagem agressiva e exclusivista para um discurso fraterno e tolerante?

Referências

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