UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Direito
TEORIA GERAL DO PROCESSO 2 Docente: Vallisney de Souza de Oliveira
Discentes:
Anna Luísa Guimarães 16/0079136; Janielle Magalhães Silva 16/0009308; Raquel Lopes Amaral 16/0017297.
Seminário 5 – Juiz: Poderes e Deveres no processo civil
A proposta do Novo Código de Processo Civil tem, em sua exposição de motivos, como um de seus principais pilares, a celeridade. Atrelado a isso está o conceito de justiça, que no novo código possui um caráter de maior proximidade com a cidadania ao atender às necessidades sociais de forma menos complexa. A simplificação dos procedimentos possibilita ao juiz um enfoque maior no mérito da causa, além de tirá-lo de uma posição demasiadamente concentrada de poder, sem, entretanto, deixar de garantir o devido processo legal. Isso foi possível graças ao período democrático em que foi elaborado, diferentemente dos demais CPC's, cuja concentração de poder era marcante em suas elaborações.
Dentre os objetivos de criação do CPC/2015, cabe destacar no presente seminário a criação de condições para que "o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa" . Tal assertiva interferiu diretamente nos poderes e deveres do 1 magistrado, que agora tem maior possibilidade de adaptar o procedimento às peculiaridades de cada causa. Cabe salientar, todavia, que a extensão dos poderes judiciais de direção e instrução deve estar sempre pautada nas garantias constitucionais do processo, extirpando a discricionariedade autoritária dos magistrados.
Todas essas modificações condizentes ao papel do juiz foram trazidas à pauta do CPC/2015 em decorrência de que a contemporaneidade demanda cada vez mais um magistrado "participativo, atuante, que maneja o processo com firmeza e aprecia os direitos
1 Código de Processo Civil : Anteprojeto / Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília : Senado Federal, Presidência, 2010.
das partes com isenção, sem vedar a colaboração dos demais intervenientes no rito procedimental que leve à decisão o quanto possível dentro dos parâmetros da justiça, da equidade e da preservação da vida, da liberdade e da isonomia, contribuindo para uma justiça mais humana e mais social, mas rápida na busca da resolução da controvérsia e mais equânime, solidária e justa". 2
Os juízes - na realização de suas atividades – exercem parte da jurisdição, que é uma emanação do poder estatal soberano. Ou seja, o juiz, enquanto legítimo agente estatal, presenta o próprio Estado ao qual está vinculado. Tal abstração, por sua vez, implica em um olhar mais atento acerca dos poderes que o juiz detém no decorrer do processo. Em um contexto de Estado Democrático de Direito, é fundamental que a resolução de litígios seja permeada pela imparcialidade e impessoalidade do juiz. Nesta matéria, dos poderes-deveres no juiz no processo, o CPC/ 2015 apresenta maior técnica e sistematização do que o código anterior. Isso decorre pelo fato de que a matéria do referido artigo 139, do atual código, era encontrada no CPC/1973 em diferentes artigos, a saber: 125, 249, 342 e 445, entre outros. Por conseguinte, alguns incisos, presentes no atual código, não encontram correspondentes no CPC/73, são eles: incisos IV, VI, VII, IX, X e o subsequente parágrafo. O artigo 139 do Código de Processo Civil não trata apenas dos poderes do juiz, mas sim dos poderes-deveres que aquele deve respeitar tanto na condução do processo como também na prolação da sentença; a saber:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
II - velar pela duração razoável do processo;
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias;
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais;
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais;
2 FILHO, Napoleão Nunes. Os deveres do juiz perante o Novo Código de Processo Civil. Estadão, 2016.
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular.
É necessário considerar que o termo juiz, empregado no caput, abrange todo magistrado que, em qualquer grau, exerce a função jurisdicional no país. Deste modo, o artigo 139 dispõe as exigências de que se deve valer o juiz, no transcorrer do processo, para que o ordenamento jurídico seja aplicado tal como propõe o art. 8° do CPC – " observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência." Tal correlação é perfeitamente deduzida no caput do art. 139 que prevê o respeito às demais normas do CPC/2015 pelo juiz na condução do processo; respeito este que, consequentemente, estende-se às normas e princípios constitucionais conforme o art. 1° do CPC.
Não por acaso, a igualdade de tratamento aparece no inciso I do art. 139. Portanto, cabe ao juiz, sujeito imparcial, garantir condições de paridade às partes do processo; mas isso não significa que o CPC negue a existência de desigualdades que, por serem anteriores ao próprio processo, podem ter consequências diretas para o mesmo. Por isso, o CPC prevê, em outros dispositivos normativos, que, em determinadas situações, é necessário um tratamento distinto às partes, na medida de sua desigualdade; para que, assim, seja efetivada uma concreta isonomia no processo. Regras distintas quanto ao prazo, provas, competência, dentre outras, podem ser encontradas no código.
No inciso II , aparece a razoável duração do processo como norma fundamental do3 processo civil. Trata-se de uma previsão indeterminada e aberta que só poderá ser analisada no caso concreto, pois cada situação é permeada por diferentes condicionantes; afinal, a celeridade do processo não pode ser conseguida ao custo das garantias processuais. Assim, é utilizado pela doutrina critérios que possibilitam aferir se há ou não o cumprimento à
3 Também é assegurado como direito fundamental conforme o inciso LXXVIII do art. 5° (acrescido pela EC n°
razoável duração do processo, a saber: a natureza e complexidade do caso e o comportamento das partes e das autoridades. O desrespeito ao inciso II poderá suscitar medidas civis e administrativas.
O juiz, por meio do inciso III, terá a sua disposição um quadro de medidas preventivas e sancionatórias, caso perceba que uma das partes está agindo de forma contrária à dignidade da justiça ou de modo protelatório. Em outras palavras, por meio deste inciso, caberá ao juiz zelar pela preservação da probidade processual.
Garantir o cumprimento de uma ordem judicial é também um poder/dever de que se vale a figura do juiz, conforme garante o inciso IV. Pois, se as referidas medidas não forem adotadas corretamente, o princípio do devido processo legal ficará comprometido. Seja o destinatário da ordem judicial, uma das partes ou um terceiro, o seu respectivo descumprimento poderá acarretar diferentes sanções - que vão desde a advertência até a restrição da liberdade.
O inciso V, por sua vez, reafirma o modelo consensual de resolução de litígios, que também é encontrado no art. 3° do CPC, § § 2º e 3º: " § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial." Seja por meio da conciliação, mediação ou outra forma, é certo que autocomposição é uma medida que deve ser preferencialmente adotada sempre que possível. Tanto que o art. 334 cria a audiência inaugural de conciliação ou de mediação cujo não comparecimento poderá acarretar em multa às partes. A tendência cada vez mais crescente do judiciário é o incentivo à capacitação de profissionais nas citadas funções para conter a morosidade processual, essa em grande parte proveniente do demasiado número de ações judiciais, as quais são reflexo da ausência de foco da Constituição de 88 na rapidez e eficiência judiciais, introduzidos como garantias individuais apenas com o advento da Emenda Constitucional 45 de 2004. 4
O inciso VI versa sobre a permissividade conferida ao juiz para adaptar a forma à realidade, de modo a tornar o processo o mais coerente e adaptável possível. Para tanto, é deferido ao magistrado dilatar - jamais diminuir - os prazos processuais e alterar a ordem de
4 FILHO, Napoleão Nunes. Os deveres do juiz perante o Novo Código de Processo Civil. Estadão, 2016.
produção dos meios de prova, atendendo às necessidades do caso concreto. É fulcral enfatizar que as alterações dizem respeito à dilatação, e não à renovação do prazo, diferenciação essa que é reiterada no parágrafo único do referido artigo, o qual confirma que a dilação do prazo pode ser determinada apenas antes do prazo regular encerrar-se. No tocante à ordem dos meios de prova, sabe-se pode haver circunstâncias que a alterem no decorrer do processo. Por conseguinte, o juiz pode receber o depoimento das testemunhas das partes antes de haver a prova pericial. Porém, ele não pode interrogar a testemunha do réu antes de ouvir a do autor, a não ser que as partes manifestem vontade em sentido contrário, segundo entendimento do art. 456 do CPC. Isso significa que modificar a ordem dos meios de prova não equivale a alterar a sequência dos atos de um meio de prova em questão. O inciso VI representou um 5 avanço para a doutrina brasileira, que buscava conquistá-lo há tempos. A importância de dessa implementação está intrinsecamente relacionada com o fato de que a duração razoável do processo não deve violar o princípio fundamental do devido processo legal, de forma a retirar procedimentos que garantam a efetiva ampla defesa a todas as partes.
No inciso VII. afirma que o juiz pode exercer poder de polícia, requisitando força policial, além das próprias dos tribunais e dos fóruns de justiça. Portanto, se estabelece como função judiciária o condicionamento e restrição das atividades privadas a fim de garantir a ordem e o decoro. Esse inciso se estabelece como fundamental, pois apesar do artigo 360 do novo CPC normatizar o poder de polícia em casos de julgamento e audiência de instrução, essas não são as únicas hipóteses em que o uso desse poder administrativo é necessário. Além disso, o magistrado pode exigir a saída de pessoas que estão atrapalhando o andamento da sessão e até pleitear força policial, se indispensável.
Através do artigo VIII é postulado que é possível requisitar o comparecimento de qualquer uma das partes para esclarecimentos, porém não será aplicada pena de confesso. Ou seja, a falta de comparecimento da parte intimada não caracterizará veracidade dos fatos alegados pela parte contrária, sendo essa presunção considerada relativa. Anteriormente, esse inciso constava no artigo 342 do CPC/1973.
5 Associação dos Advogados Brasileiros de São Paulo. Ordem dos Advogados Brasileiros do Paraná. Código de Processo Civil Anotado. 2015, p. 245.
Exigir o suprimento de pressupostos e vícios processuais é o que afirma o inciso IX. Dessa forma, o juiz permite que, nos casos possíveis, as partes esclareçam o ocorrido, permitindo seu aproveitamento, sem inviabilizar o processo como um todo.
Ao juiz cabe notificar e oficiar o ministério público, a defensoria pública e/ou outros legitimados em situações que forem apresentadas diversas ações semelhantes, segundo o inciso X. Assim, poderá ocorrer a ação coletiva, que ocasionará em uma maior agilidade e eficiência dessas demandas.
É interessante lembrar que os juízes podem definir todos os tipos de medidas, ou seja,mandamentais, coercitivas, indutivas, ou sub-rogatórias. As disposições mandamentais são as que podem gerar efeitos constitutivos, mas que não têm os mesmos efeitos da tutela pretendida. Já as medidas coercitivas têm por propósito obrigar que uma das partes ou ambas cumpram uma ordem judicial, nesse sentido essas medidas se assemelham às medidas indutivas. As sub-rogatórias também visam que medidas coercitivas sejam cumpridas, no entanto não exigem que o ordenado colabore.
Ao magistrado também cabe poderes instrutórios, ou seja, é habilitada sua participação na constituição de provas do processo. Porém, a partir da análise dos deveres e poderes dos juízes foi possível perceber que apesar das partes possuírem certa autonomia processual, ele que possui o papel de apresentar o direito que realmente foi atribuído em caso concreto. Dessa forma, a sentença é proferida a partir das considerações do juiz acerca do caso, sempre atentando-se às provas e evidências.
BIBLIOGRAFIA
Associação dos Advogados Brasileiros de São Paulo. Ordem dos Advogados Brasileiros do Paraná. Código de Processo Civil Anotado. 2015, p. 245;
Código de Processo Civil : Anteprojeto / Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília : Senado Federal, Presidência, 2010;
FILHO, Napoleão Nunes. Os deveres do juiz perante o Novo Código de Processo Civil. Estadão, 2016. Acesso em:
http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/os-deveres-do-juiz-perante-o-novo-codigo-de-processo-civil/
OLIVEIRA, Vallisney de Souza. O Juiz e o Novo Código de Processo Civil. Curitiba: CRV, 2016;
REDONDO, Bruno Garcia. Deveres-poderes do juiz no projeto do Novo Código de
Processo Civil: O projeto do Novo Código de Processo Civil. Estudos em homenagem ao
Professor José Joaquim Calmon de Passos. Fredie Didider e Antonio Adonias Bastos (coord.). Salvador: Juspodivm, 2012, p. 200;
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Processo constitucional: nova concepção de jurisdição. Rio de Janeiro: Método, 2008, p. 198.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 58 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 542.