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REFLEXÕES DECOLONIAS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE POBREZA E RACISMO NO CONTEXTO BRASILEIRO

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Academic year: 2021

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Revista de Humanidades e Letras

ISSN: 2359-2354 Vol. 5 | Nº. 2 | Ano 2019

Delane Felinto Pitombeira Janaína Farias de Melo James Ferreira Moura Jr Zulmira Áurea da Cruz Bomfim

NO CONTEXTO BRASILEIRO

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RESUMO

A pobreza e o racismo são questões profundas na constituição da sociedade brasileira, tendo sido constante nas atuais pautas de discussões de políticas públicas. O presente artigo objetiva analisar as relações entre a estigmatização da pobreza e racismo no Brasil, relacionando ambos como marcadores na constituição social, e fomentada por relações assimétricas de poder, advindas desde o período de colonização. Assim, é necessário conceber a invenção da América como processo basal para construção da divisão racial por meio da colonialidade. Ademais, é preciso ressaltar, que o Brasil possui uma realidade peculiar, construída por meio de dominação de brancos europeus em detrimentos de povos africanos e indígenas, escravizados no o período colonial e posicionados historicamente na situação de pobreza. Há uma série de indicadores que embasam essas relações da pobreza e da raça que serão analisados nessa produção. Essa interlocução histórica entre racismo e pobreza advém desse contexto violento permeado de jogos assimétricos de poder que são perpetuadas de distintas formas ao longo do período histórico. Por fim, concluímos que essas relações apresentadas constituem elementos basilares para compreender a desigualdade social no país, a partir do contexto de colonização, e dominação, sendo fundamental a reconstrução de saberes e práticas, ressignificando processos desiguais socialmente construídos e legitimados ideologicamente no desenvolvimento da sociedade brasileira.

Palavras-chave: Pobreza; Racismo; Colonialidade; Sociedade brasileira.

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ABSTRACT

Poverty and racism are deep issues in the constitution of Brazilian society, having been constant in the current public policy discussions. This article aims to analyze the relations between the stigmatization of poverty and racism in Brazil, relating both as markers in the social constitution, and fostered by asymmetrical power relations, arising since the period of colonization. Thus, it is necessary to conceive of the invention of America as a basal process for the construction of racial division through coloniality. Moreover, it is necessary to emphasize that Brazil has a peculiar reality, built through the domination of European whites at the expense of African and indigenous peoples, enslaved in the colonial period and historically positioned in the situation of poverty. There is a series of indicators that support these relations of poverty and race that will be analyzed in this production. This historical interlocution between racism and poverty stems from this violent context permeated by asymmetrical power games that are perpetuated in different ways throughout the historical period. Finally, we conclude that these relations are basic elements to understand social inequality in the country, from the context of colonization and domination, being fundamental the reconstruction of knowledge and practices, re-signifying unequal processes socially constructed and ideologically legitimized in the development of Brazilian society.

Keywords: Poverty; Racism; Coloniality; Brazilian Society.

Site/Contato

www.capoeirahumanidadeseletras.com.br capoeira.revista@gmail.com

Editores

Marcos Carvalho Lopes

marcosclopes@unilab.edu.br

Pedro Acosta-Leyva

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

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REFLEXÕES DECOLONIAS SOBRE AS RELAÇÕES

ENTRE POBREZA E RACISMO NO CONTEXTO

BRASILEIRO

Delane Felinto Pitombeira1 Janaína Farias de Melo2 James Ferreira Moura Jr3 Zulmira Áurea da Cruz Bomfim4

Introdução

Este artigo surge como fruto de estudos em Psicologia Social, realizadas no âmbito do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) em relação com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira e participação da Universidade Estadual do Ceará, além de experiências de extensão com populações periféricas das autoras dessa publicação. Partindo desse contexto, temos desenvolvido reflexões nas temáticas de racismo e pobreza, que são marcas na constituição de nosso país e refletem nas construções de políticas públicas e nas disputas políticas e econômicas até os dias atuais.

1 Professora da Universidade Estadual do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (1996) e mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (2005). Atualmente é Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (2016). Trabalha com temas voltados à subjetividade, exclusão social, adolescência/juventude, políticas públicas e relações entre Psicologia e Saúde. delane.pitombeira@uece.br 2 Doutoranda do Programa De Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (2012). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC- 2016). Atualmente é professora substituta da Universidade Estadual do Ceará (UECE), monitora do curso de língua japonesa do Núcleo de Línguas da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e membro do Laboratório de Psicologia Ambiental da UFC - LOCUS e Professora dos Curso de Pós- Graduação em Psicologia das Relações Humanas e Psicopedagogia - Merithus/ UVA. janjanmelo86@gmail.com

3 Professor Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Campus dos Palmares), Programa De Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordena a Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e Resistências (reaPODERE) que desenvolve atividades de ensino crítico, pesquisa e extensão colaborativa. É pesquisador colaborador do Núcleo de Psicologia Comunitaria (NUCOM) da Universidade Federal do Ceará (UFC). james.mourajr@unilab.edu.br

4 Professora Programa de Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal Do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (1985), mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília (1990) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). Pesquisadora pela Universidade de Barcelona em Espaço Publico e Regeneração Urbana (2001) e Pós-doutorado na Universidade da Coruña-Espanha (2011). Atua nas áreas de Psicologia, com ênfase em Psicologia Ambiental e Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: Cidade, afetividade, mapas afetivos; comportamentos pró-ambientais, vulnerabilidade sócio-ambiental e juventude. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental- LOCUS-UFC e é líder do grupo de pesquisa em psicologia ambiental do Cnpq zulaurea@gmail.com

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 199 As relações interseccionais estruturais entre pobreza e raça no Brasil

Para darmos início, iremos discutir sobre alguns dados referentes à relação entre identidade étnico racial e pobreza no Brasil. A “raça” consiste em um forte marcador no cenário brasileiro. De acordo com Lima (2015), se historicamente a ideia de raça foi forjada a partir de um viés discriminatório e legitimado pela ciência, inicialmente, pela biologia. Atualmente reivindica-se a utilização do termo “raça” de forma crítica, evidenciando as construções sociais e históricas que formam o imaginário social até hoje. Dessa maneira, ela se torna uma conceituação política que é usada com fins de denúncia e de construção de movimentos de resistência e criação de uma sociedade antirracista.

Atualmente, a maior parte da população do país se autodeclara como negra (pretos e pardos) (53,6%), seguida da que se autodeclara branca (45,5%), conforme dados de IBGE (2014). De acordo com Bradford (2016), há a demonstração de um aumento na autodeclaração de negros quando comparado ao censo de 2004 (48,2% - negros e 51,2% - brancos em porcentagens comparativas). Quando correlacionados os dados de autodeclaração com os de renda no país, no entanto, nos deparamos com algo já conhecido, mas que chama a atenção. Comparada a população com mais alta renda, os brancos representam 79% dessa classe social (VIEIRA, 2016). Compreendemos, assim, uma forte desigualdade social que representa a acumulação da riqueza em um quantitativo menor de cidadãos, sendo uma estrutura histórica presente na América Latina e no Brasil (ALESINA; DI TELLA, MACCULOCH, 2004).

Assim, a pobreza constitui, junto com a raça, outra marca histórica da sociedade brasileira. Para Guerra et al (2015), a situação da pobreza tem sido enfrentada principalmente pela transferência de renda, sendo que nos anos 2000 considera-se que a ocupação de postos de trabalho, aliados às políticas sociais, permitiram uma ascensão positiva para o país. Em estudo realizado pelos pesquisadores, houve um aumento significativo da renda familiar per capta entre 1992 e 2012, passando de R$ 527,51 para R$ 962,10.

No mesmo sentido, a desigualdade social, amplamente exposta como sendo uma realidade injusta do Brasil, apresentou melhoras nas décadas de 1990 e 2000, apresentando diferença mais significativa nos anos 2000. O Coeficiente de Gini5, índice que toma como base a desigualdade social, apresentou redução de 0,604 em 1993 (maior registro no período) para 0,530 em 2012, destacando o período entre 2002 a 2012 como os que obtiveram redução mais

5O Coeficiente de Gini varia entre 0 e 1, sendo que ‘zero’ representa a total igualdade e ‘um’ a maior desigualdade. Faz-se importante apresentar

o alerta de Guerra et al (2015, p. 34): “É ilusório, no entanto, imaginar que um Gini igual a 0,5 ponto implicaria uma distribuição razoável de renda, podendo ser este considerado um resultado médio em termos de igualdade social. Na verdade, valores acima de 0,5 ponto são típicos de países com sérios problemas de desigualdade social e esta, geralmente, vem acompanhada por outros problemas como pobreza elevada, baixa educação, poucos empregos formais e níveis de saúde pública insatisfatórios”.

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ significativa, impactando mais diretamente nos rendimentos dos domicílios menos afluentes (GUERRA et al, 2015).

A taxa de pobreza6 também é mencionada por Guerra et al (2015) como tendo obtido alterações positivas na década de 2000. Segundo eles, a taxa de pobreza passou de 42,1% em 1992 para 15,9% em 2012, ressaltando os resultados positivos do incremento do processo laboral e das políticas sociais, os quais impactaram sobremaneira nos rendimentos da população. Mathias (2017) corrobora com a argumentação dessas mudanças recentes, afirmando que, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicilio (PNAD), no período de 2001 a 2012 os salários dos 10% mais pobres aumentou mais do que o dos 10% mais ricos, atribuindo esse fato especialmente às políticas de aumento do salário mínimo do então governo federal.

Porém dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) de 2017 apontam que houve um crescimento dos índices de pobreza e de extrema pobreza no território nacional (IBGE, 2018). Essas repercussões podem ser entendidas com consequências das políticas neoliberais implementadas de forma mais intensa em 2016 e que estão repercutindo de forma mais concreta atualmente.

Com a análise feita a partir de informações disponibilizadas pela receita federal sobre o Imposto de Renda, observou-se a permanência de alta concentração de renda no Brasil. Partindo de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), considera-se que o 1% mais rico deteve de 20% a 25% de todos os rendimentos brasileiros, divergência encontrada apenas entre 1943 e 1963, período em que o 1% mais rico agregou “apenas” 17%. “A desigualdade persiste até os dias de hoje, a despeito de melhoras circunstanciais, porque sempre que o país tentou mudar de rota a elite reagiu” (MATHIAS, 2017, p. 20), alegando as dificuldades enfrentadas para realização da reforma tributária brasileira.

Em recente relatório da Oxfam (2017), constatou-se que no Brasil apenas seis pessoas possuem riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres, sendo que os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95%7. Outro dado importante é que entre o ano 2000 e 2016, o número de bilionários cresceu aproximadamente de 10 para 31, reiterando o aprofundamento da desigualdade social no país.

Assim, mesmo considerando os avanços obtidos especialmente na primeira década do século XXI, com dados sobre a redução da desigualdade social e do enfrentamento da pobreza e extrema pobreza, fruto das recentes políticas sociais, aumento da ocupação no mercado de trabalho e incremento do salário mínimo, considera-se que ainda há muito a ser feito. Embora afirmando que os avanços no enfrentamento da exclusão social no Brasil foram maiores do que

6 A taxa de pobreza refere-se à “fração da população com renda domiciliar per capta inferior à linha da pobreza” (GUERRA et al, 2016, p. 134). 7 Os dados da Oxfam (2017) revelam que apenas oito pessoas no mundo detêm o mesmo patrimônio que a metade da população mais pobre,

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 201 em todo o século XX, Guerra et al (2015) alertam que “o movimento, contudo, não foi transformador. A dinâmica social brasileira, sem um Estado de bem-estar social forte, permaneceu diretamente subjugada à lógica da acumulação do capital e, assim, como é natural em qualquer sociedade capitalista, tendente à concentração de renda, poder e cultura”(GUERRA

et al, 2015, p. 27).

A complexidade da realidade é evidenciada com a alta concentração de renda existente, o aumento da violência, as desigualdades entre as regiões brasileiras, além da reprodução estrutural da pobreza presente no cotidiano da sociedade. Mais que a renda, e não menos importante que esta, encontram-se outros aspectos que integram processos de qualidade de vida da sociedade.

É importante mencionar que o uso mais comum para conceitualização de pobreza é baseado na renda. Há geralmente o estabelecimento de uma linha de pobreza que significa um quantitativo monetário para identificação de um indivíduo ou grupo em situação de pobreza (FERES; VILLATORO, 2013). No entanto, em uma perspectiva crítica, deve-se compreender a pobreza como um estado de privação multidimensional de liberdades nos diversos domínios da vida, como no âmbito salutar, educacional, trabalhista, recreativo, cultural, entre outros (SEN, 2000). No entanto, essa estratégia de compreensão da pobreza é pouco desenvolvida nas políticas públicas e nas investigações (COMIM, 2008). Vale ressaltar ainda as reflexões de Silva et al (2016) sobre a necessidade de reconhecer a dimensão social, econômica e política constituintes do sistema capitalista no enfrentamento da pobreza, para além da centralidade nos indivíduos.

Além disso, no Brasil, a pobreza geralmente foi tratada como sendo uma responsabilidade das pessoas que estavam nessa situação, não havendo até o início dos anos 1990 uma política pública concreta para combate a essa realidade. As pessoas em situação de pobreza eram inclusive culpabilizadas pela falta de desenvolvimento da economia brasileira (MOURA JR.; XIMENES; SARRIERA, 2014).

Nesse sentido, os estudos sobre a pobreza, a desigualdade social e a exclusão, a partir da perspectiva da multidimensionalidade, permanecem temas na pauta do Brasil, especialmente em momentos de retração do desenvolvimento e risco de perdas de garantias sociais, tal qual estamos vivendo na atualidade.

Retomando as relações entre pobreza e “raça”, quando analisados os dados da população com menor poder aquisitivo no país, no entanto, a maior parte permanece sendo composta por negros (grupo de 10% mais pobres no Brasil). Estima-se que esta porcentagem aumentou no intervalo de 2004 a 2014, sendo que até o último ano estudado 76% de negros estão entre os mais pobres no país. Isso significa que três entre quatro pessoas pertencentes aos 10% com menor renda são negros. Quando comparados aos brancos, observou-se redução nos pertencentes

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ a esta parcela da população (de 26,5% para 22,8%) (BRADFORD, 2016).

Apontamos que essas relações entre pobreza e raça tem um enfoque interseccional, pois estão situadas de maneira imbricadas. De acordo com Crenshaw (2002), há um cruzamento de violências que tornam um determinado grupo vivenciando uma série de dominações específicas por conta desse entrecruzamento de marcadores. De forma concreta, analisamos que esses dados de renda e raça são marcados por um forte racismo estrutural fundido com um processo de estigmatização da pobreza.

Diante desse cenário, é importante desconstruir os paradigmas hegemônicos e coloniais já constituídos que formam as correntes de pensamento, políticas e econômicas modernas e pós-modernas. Os dados referentes à estrutura da sociedade brasileira recém apresentados podem ser analisados de forma mais profunda a partir de uma perspectiva decolonial. Nesse estudo, compreenderemos negritude e pobreza dentro do lócus brasileiro, com uma história e desenvolvimento singulares, pautados em processos de dominação, advindos desde o período de colonização do Brasil e suas repercussões com a colonialidade que reverberam até hoje.

Assim, este artigo tem como objetivo analisar as relações entre a estigmatização da pobreza e racismo na sociedade brasileira, considerando-os como marcadores em processos de preconceito e discriminação no país até os dias atuais. Inicialmente iremos explanar de forma breve sobre os processos coloniais e suas repercussões na formação da pobreza e do racismo no país até os dias de hoje. Posteriormente, discutiremos sobre as interfaces entre pobreza e racismo no contexto da constituição do país. E, por fim, traremos considerações sobre questões que ainda devem ser debatidas e aprofundadas no desenvolvimento das políticas públicas e da construção da cidadania no Brasil.

A estrutura colonial da sociedade brasileira: um olhar a partir da pobreza e da raça

A história da constituição da sociedade brasileira é aspecto amplamente apresentado e debatido, não sendo objetivo desse texto contemplar de forma extensa a história do Brasil. Para o presente trabalho, nos deteremos sobre alguns pontos que consideramos fundamentais para a discussão acerca das relações entre pobreza e racismo.

Coutinho (2011), ao refletir sobre a questão cultural no Brasil, aponta o capitalismo como cerne da constituição cultural brasileira. Segundo ele, o Brasil ainda teve um processo forte de concentração de renda e de manutenção da desigualdade social com foco “no processo de acumulação primitiva do capital, que tinha seu centro na Europa Ocidental” (COUTINHO, 2011, p. 37). Como o capitalismo requer a existência do trabalho ‘livre’ e assalariado, a realidade brasileira vai dando novos contornos a essa inserção, tendo em vista a exploração da mão-de-obra escrava constituir a base desse processo no Brasil. Nesse sentido, o termo ‘colonial’

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refere-Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 203 se à subordinação formal ao capital internacional, afirmando que “é o elemento escravista que fornece a marca determinante da formação econômico-social” (COUTINHO, 2011, p. 39). Nesse contexto, a cultura europeia passa a ser o fundamento de uma classe ou bloco de classes relacionado ao modo de produção brasileiro, mesmo considerando os movimentos de resistências presentes nessa realidade.

O processo colonial, no entanto, não se dá apenas no âmbito econômico-social, mas também no plano epistêmico. Quijano (2005) trabalha com o conceito de colonialidade do poder, denominando ‘eurocentrismo’ a forma de produção de conhecimento fundado em um padrão mundial de poder, a saber colonial/moderno, capitalista e eurocentrado. “Eurocentrismo é, aqui, o

nome de uma perspectiva de conhecimento cuja elaboração sistemática começou na Europa Ocidental antes de mediados do século XVII, [...] e que nos séculos seguintes se tornou mundialmente hegemônica” (QUIJANO, 2005, p. 126).

Para o autor, esse novo modo de produção de conhecimento só foi possível mediante a noção de raça, fundamentada a partir da exploração e “invenção” da América, pautada na afirmação de supostas diferenças biológicas entre grupos sociais distintos. Assim, as diferenças sociais passaram a demarcar relações de dominação, criando categorias sociais diferentes entre os dominadores/colonizadores europeus (espanhóis e portugueses) e dominados/colonizados não-europeus (índios, negros e mestiços).

Grosfoguel (2016) reitera que antes da colonização das Américas, não havia o reconhecimento dos indivíduos separados pelas raças. Foi em virtude da identificação da população indígena nas Américas que a Igreja Católica teve que decidir se esse contingente populacional era portador de alma. Esse debate foi fundamento do racismo contemporâneo, em que as populações indígenas e africanas foram reconhecidas como não humanas, podendo ser escravizadas e dizimadas.

Mais do que uma perspectiva geográfica, o que se tinha a partir das relações de dominação era a distinção de identidades, associadas à ideia de hierarquia, lugares e papeis sociais definidos. A noção de raça e de identidade racial passou assim a definir os termos do que o autor denomina de classificação social básica da população, elegendo-se a cor como o elemento fenotípico identificador dessa distinção.

Na América, a idéia de raça foi uma maneira de outorgar legitimidade às relações de dominação impostas pela conquista. A posterior constituição da Europa como nova identidade depois da América e a expansão do colonialismo europeu ao resto do mundo conduziram à elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela à elaboração teórica da idéia de raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre europeus e não-europeus. Historicamente, isso significou uma nova maneira de legitimar as já antigas idéias e práticas de relações de superioridade/inferioridade entre dominantes e dominados (QUIJANO, 2005, p. 118).

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ Nesse contexto, a biologia foi considerada durante muito tempo como critério principal para definição de diferenças raciais, com o objetivo de diferenciar e classificar, justificando a dominação de alguns povos em relação a outros (QUIJANO, 2005). A questão racial estava intimamente ligada à relação entre conquistador e conquistado. A raça na América, então, foi utilizada como uma forma de legitimação das relações de dominação impostas no período das conquistas. Assim, a utilização do termo se relaciona diretamente com questões de dominação, segregação e classificação social, sendo utilizada como um critério fundamental para a nivelação da população mundial (LIMA, 2015).

As divisões raciais, então, relacionam-se diretamente com as de classe, sendo “associadas à natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho” (QUIJANO, 2005, p.118). Portanto, tanto divisões de trabalho quanto de raça possuem uma correlação estrutural, sendo esta última utilizada como uma forma de controle social da primeira. As divisões, permeadas pela dominação, tem o branco como padrão, sendo divididas em dois grupos: europeus e não europeus que se aperfeiçoam e se tornam brancos e não-brancos a partir de um critério provinciano e dominante (CARDOSO, 2017).

As peculiaridades de cada povo explorado foram sendo extintas, considerando diversos povos como se fossem apenas um, índios ou africanos. Ao falar dos povos nativos da América e dos da África, trazidos no período colonial, Quijano (2005, p. 127) afirma que quanto aos povos nativos:

São conhecidos os nomes dos mais desenvolvidos e sofisticados deles: astecas, maias, chimus, aimarás, incas, chibchas, etc. Trezentos anos mais tarde todos eles reduziam-se a uma única identidade: índios. Esta nova identidade era racial, colonial e negativa. Assim também sucedeu com os povos trazidos forçadamente da futura África como escravos: achantes, iorubás, zulus, congos, bacongos, etc. No lapso de trezentos anos, todos eles não eram outra coisa além de negros.

Assim, para Miglievich-Ribeiro (2014), essas relações de matriz colonial foram aprimoradas com o surgimento do capitalismo que aperfeiçoou esse novo sistema mundo com a reprodução da divisão racial e sexual do trabalho. As funções de trabalho da população não-branca estavam posicionadas em espaços subalternizados e de total dominação. Igualmente, o lugar das mulheres estava situado nesses mesmos espaços quando eram mulheres não-brancas, sendo incluídas de forma subalterna nas funções domésticas (KERNER, 2012).

Bernardino-Costa (2015), tomando Quijano como referencial, reflete as relações entre poder, raça e gênero, afirmando que as dimensões raça e trabalho foram associadas no sistema mundo moderno/colonial, acrescentando a já existente divisão sexual do trabalho. Nessa perspectiva, a colonialidade do poder pode ser observada desde os primórdios da colonização do Brasil, momento em que a servidão (indígenas) e a escravidão (negros) foram a base da economia nacional, refletindo as hierarquias e desigualdades presentes na sociedade brasileira. O lugar social pré-estabelecido para os homens e mulheres brancas e homens e mulheres negras e

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 205 indígenas era determinante para o desenvolvimento social, sendo as mulheres negras em situação de pobreza relegadas à função doméstica nos espaços das mulheres brancas (ALCOFF, 2016).

Considera-se ainda que a abolição da escravidão não significou um novo padrão social, uma vez que as imagens e os corpos negros e indígenas estavam submetidos à dominação resultante do processo de colonialidade do poder. Esse aspecto foi evidenciado com a chegada de imigrantes (brancos) após a abolição, dificultando a inserção dos negros no processo produtivo e no mercado de trabalho (BERNARDINO-COSTA, 2015).

Nesse sentido, podemos traçar um paralelo com o processo de estigmatização da pobreza. O racismo epistêmico foi fundamento da sociedade brasileira e de todo o sistema mundo moderno ocidental. No entanto, os estigmas vinculados à população mais pobre já advinha do período Medieval e da Antiguidade, onde a população empobrecida era identificada em posições estigmatizadas (LACERDA, 2009), como vinculadas a uma vida de sofrimento e de resignação perante a sua situação com uma forte explicação divina para justificar essa forma de existência. De acordo com Ribeiro (2005), a Igreja Católica também foi fundamental para o reconhecimento da população em situação de pobreza como responsável pela sua condição em virtude de uma vontade divina e a valorização da pobreza como ideia de sacrifício para entrada no reino dos Céus. É importante situar que o território brasileiro e latino americano foi colonizado com uma forte perspectiva evangelizadora de matriz católica, reproduzindo esses preceitos nas estruturas da sociedade brasileira.

No entanto, além dessas perspectivas, a população em situação de pobreza na Idade Média também foi reconhecida como perigosa, violenta e suja por conta da proliferação de epidemias na Europa, sendo reconhecidas com estigmas negativos (SIQUEIRA, 2006). Agregada a essa compreensão, com o forte aumento populacional entre os séculos XII e XIV, os mais pobres foram também reconhecidos como ociosos e culpados pela sua situação (PIVA, 2006). Esta forma de reconhecimento tornou-se mais intensa com o advento das primeiras estruturas capitalistas que pregavam que os indivíduos eram totalmente responsáveis pela sua condição (LACERDA, 2009).

Assim, por mais que sejam posicionamentos vinculados as pessoas em situação de pobreza que tenham sido desenvolvidos em território europeu, o processo de colonização e posteriormente imigração foi realizado por indivíduos desse respectivo continente. Há, assim, uma série de estigmas vinculados as pessoas em situação de pobreza no Brasil que podem também estar articulados com o enfoque racial, porque, como já foi apresentado anteriormente, a maioria da população pobre no Brasil é não-branca, e as classes mais ricas são predominantemente brancas (VIERA, 2016).

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ A essa altura, há que se pensar no papel da produção de conhecimento diante desse processo de colonialidade do poder, pois como aponta Santos e Meneses (2009, p. 13), para além de todas as dominações, há que se reconhecer a dominação epistemológica, referindo a “uma relação extremamente desigual de saber-poder que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprias dos povos e/ou nações colonizados”.

Mignolo (2008) remete, assim, a necessidade de uma desobediência epistêmica, abordando que é imperativo o exercício de ‘desaprender para aprender’, desvinculando o conhecimento centrado nos conceitos ocidentais, incorporando outros que foram alijados ao longo do processo de civilização ocidental.

Nesse sentido, o autor aponta o pensamento descolonial como sendo necessário para reinscrever o conhecimento advindo da razão imperial/colonial, fundamentado “nas línguas grega e latina e das seis línguas imperiais europeias (também chamadas de vernáculas) e não o árabe, o mandarim, o aymara ou bengali, por exemplo” (MIGNOLO, 2008, p. 290), desconstruindo construtos pautados na inferioridade, tais como o racial, nacional, religiosos, sexuais, de gênero.

Assim, faz-se importante reinscrever, dentro do debate epistêmico, os processos históricos até então vivenciados na constituição da nossa sociedade, remontando a pobreza e o racismo como marcas psicossociais fundantes do tecido social brasileiro.

Interfaces entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

Podemos entender que o processo de colonização no Brasil já se caracteriza, desde seu início, pela exploração de indígenas e de povos africanos, utilizados como escravizados por colonizadores europeus. Esse processo é constituinte da divisão racial do sistema mundo a partir do processo de invenção da América (QUIJANO, 2005)...

Para Bento (2009), as práticas racistas no Brasil são perpassadas por diversas contradi-ções, em geral ligadas aos processos históricos de discriminação. Quando realizados estudos, conclui-se que os processos formadores de preconceito, discriminação e as desigualdades sociais são cotidianos no contexto do país, contrariando a crença do senso comum, de que não existem diferenças no processo de construção social das raças no Brasil, pois este é formado por uma grande diversidade, o que caracteriza o mito da democracia racial. O que costumeiramente é de-nominado de “mistura de raças”, na realidade, é formado através de um processo histórico vio-lento e perverso de dominação e branqueamento do país (BENTO, 2009).

Como afirma Silva (2000), essa “mistura” entre diversas culturas e “raças” no país não ocorre de forma harmônica, mas sim assimetricamente, em uma relação na qual negros e índios são subjugados em detrimento dos brancos, que são tidos como padrão de “normalidade” e de

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 207 ideal. Ao mesmo tempo, índios e negros sofrem preconceito, sendo este relacionado ao padrão branco do qual destoam, sendo igualmente reconhecidos como pobres, pois a riqueza geralmente é relacionada às pessoas brancas. Dessa maneira, a pobreza geralmente no Brasil, como já apon-tado anteriormente, tem uma cor, mas igualmente está vinculada a uma perspectiva estigmatiza-da de reconhecimento estigmatiza-da população não branca como estando inseriestigmatiza-da nessa situação de empo-brecimento. Assim, atrela-se mais uma vez uma característica negativa. O branco, por sua vez, é invisibilizado em suas características contraproducentes, sendo proeminentes suas ditas qualida-des. O inverso ocorre, por exemplo, com os negros, em que suas características vistas como ne-gativas são postas em posição de evidência.

Historicamente, o processo de branqueamento ocorre num contexto em que há um temor pela perda de sua posição superior por parte da elite branca, tanto com o processo de industrialização, quanto pelo fim da escravatura, que possibilitaria aos ex-escravizados negros adentrarem no mercado de trabalho e apropriarem-se de espaços predominantemente ocupados por brancos. Portanto, o lugar da pobreza é construído como um espaço não-branco. É nesse contexto que a ideologia do branqueamento se constitui e perpassa inclusive a construção identitária negra como inferior, como afirma Bento (2009). Assim, podemos compreender o processo de construção do negro como inferiorizado no Brasil como uma questão estrutural, fruto de um processo de dominação colonizadora violenta e de um processo concreto de empobrecimento desse segmento da população que não tiveram com o fim do sistema escravagistas políticas específicas de suporte e apoio para sobrevivência.

Dentro dessa conjuntura, a própria construção social da ideia de raça perpassa o contexto ideológico de dominação. Hoje compreendemos que raça é um conceito de cunho cultural, carregado por um viés político e ideológico, não sendo mais explicado por questões biológicas. No entanto, aspectos da visão eugenista ainda perpetuam até hoje (NUNES, 2006). Apesar de haver algumas diferenças fenotípicas, o que predomina da diferenciação de identidades étnicas são as diferenças culturais, sendo estas formadas por costumes, crenças, valores, língua, entre outros.

Compreendendo tais questões acima mencionadas, podemos perceber o negro colocado em uma posição de “Invisibilidade Seletiva” (ROCHA, 2015, p.164), em que os discursos produzidos e reproduzidos socialmente irão privilegiar formas de referenciar os seres humanos conforme suas características raciais que também se vinculam com o fato de estar ou não em situação de pobreza.. Novamente, o olhar colonizador do branco é colocado como fora do processo de empobrecimento. A colonialidade tem uma cor e uma classe social, pois os processos de reconhecimento atrelam de maneira fundida a questão racial com a situação de pobreza no Brasil.

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ Podemos analisar que esse processo, segundo Souza (2017), foi marcadamente desenvolvido pelas elites primeiramente portuguesas para em seguida se tornarem locais. Há, assim, no Brasil, uma estrutura social em que as classes mais ricas têm um forte caráter escravocrata mesclado com uma intensa estigmatização da pobreza. A partir desse caráter colonial, há uma ênfase na compreensão das pessoas pobres como conformados e servis. Igualmente, no Brasil, há uma construção de uma identidade social de pobre que há a visibilidade tanto de aspectos negativos, como vagabundo, sujo, criminoso, culpado pela sua situação, como de aspectos vinculados a uma passividade baseados nos papéis de resignado, acomodado e servil (MOURA JR; XIMENES, 2016).

Nesse sentido, há que se evidenciar, na consideração da pobreza, a perspectiva psicossocial, enfatizando as significações, comportamentos e afetos singulares e coletivos que permeiam as vivências das pessoas que se encontram nessa condição. Acrescenta-se a dimensão subjetiva, às perspectivas sociais, econômicas e culturais da pobreza, corroborando o seu caráter multidimensional. Considera-se ainda a necessidade de desnaturalização dos processos sociais, em virtude da ideologização presente na realidade, muitas vezes, culpabilizando os indivíduos pela sua condição social, e desvinculando a dimensão individual da coletiva.

Nesse sentido, assume-se o plano da vivência e os afetos como fundamentais aos processos de conhecimento do real e de mudança social e a existência de uma interligação entre os planos afetivos, de ação e significação. Busca-se, portanto, compreender os diversos sentimentos e emoções produzidos em meio à realidade da pobreza que, por vezes, vinculam-se às experiências de vergonha e humilhação, normalmente ligadas à culpabilização do pobre pela sua condição. Entende-se que uma atuação no plano dos afetos é fundamental à produção dos processos de emancipação e mudança individual e social (XIMENES et al, 2016, p. 189).

Cidade et al (2012) refletem que a estrutura marginal e opressora da sociedade compromete o desenvolvimento das capacidades dos indivíduos, gerando a privação da liberdade, e dificultando as interações sociais. Também ressaltam as implicações psicológicas da pobreza, identificando algumas categorias que perpassam essa condição, como a resignação, o fatalismo e a submissão. É importante também ressaltar que essa estrutura da sociedade e suas repercussões também podem estar vinculadas a uma sociedade com raízes extremamente racistas.

Partindo da noção de identidade como ancorada na dimensão social, Moura Junior e Ximenes (2016) reforçam a noção do estigma como pertencente à identidade do pobre, a qual é construída na dinâmica social. Para Goffman (2004), o estigma apoia-se em uma ideologia para dizer e justificar inferioridades que são construídas no âmbito social, fomentando diferenciações diversas, inclusive de classe social. Nesse sentido, pode-se considerar a pobreza, a partir da identidade estigmatizada, frente às relações socialmente desiguais constitutivas da sociedade brasileira. A noção de estigma também pode ser entendida como vinculada a tonalidade de pele, configurando o estabelecimento de relações racistas (BARAÚNA, 2014).

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 209 Lembramos, ainda, as considerações de Bandeira e Batista (2002) com relação aos processos de preconceito e discriminação por que passam as pessoas em condição de pobreza. Para as autoras, “o que leva à discriminação e à exclusão não é a situação de carência material em si, mas o preconceito com relação às pessoas carentes. [...] é o preconceito o gerador da discriminação e da desigualdade que exclui (BANDEIRA; BATISTA, 2002, p. 125).

No entanto, pode-se compreender que essas formas de reconhecimento estigmatizadas das pessoas em situação de pobreza também podem ser utilizadas para os indivíduos não-brancos. Como expõe Nunes (2006, p. 91), no Brasil “a esperada cidadania após a abolição não aconteceu e, até hoje, é uma luta constante em uma sociedade em que a desigualdade racial é arraigada”. E reitera a autora: “A atitude do Estado para a situação do negro “liberto” sempre foi omissa: a miséria material, a discriminação e a humilhação vividas pelos afrodescendentes são reduzidas à culpa deles mesmos”.

O termo racismo é utilizado ainda hoje, apesar de a concepção de que não existem raças diferentes entre seres humanos. Entendemos que o que diferenciam as identidades étnicas são questões culturais, que se relacionam às formações de identidade, não há um aspecto biológico fenotípico. Remeter-se à “raça”, quando nos referimos a seres humanos, então, tem relação direta com o processo de racismo (LIMA, 2015). Racismo consiste em um processo de discriminação, em que são colocadas características fenotípicas de determinado povo, ou determinados costumes e crenças em posição de inferioridade em detrimento de outro povo. Em geral, o racismo ocorre como uma forma de justificar processos de dominação por meio de atitudes e ações discriminatórias, sejam estas implícitas, ou explícitas (LIMA; VALA, 2004).

Assim, os quatro séculos de escravidão e o passado colonial podem ser apontados como basilares na realidade de desigualdades da sociedade brasileira, gerando abismos entre regiões, pobres e ricos, homens e mulheres, negros e brancos, entre outras. O relatório sobre a desigualdade social da OXFAM (2017) traz importantes luzes nesse sentido, revelando as diferenças sociais em que vivem a população negra, apontando que 67% dos negros brasileiros estão entre as pessoas que recebem até 1,5 salário mínimo, em contraste com menos de 45% dos brancos, e identificando ainda que 80% das pessoas negras recebem até dois salários mínimos, estando distante a equiparação de renda entre negros e brancos. Dessa maneira, aponta-se que a intersecção entre pobreza e racismo é basilar da estrutural social de forma histórica e contemporânea.

Por outro, lado, mesmo compreendendo o Brasil como um dos países mais desiguais do mundo, tanto o relatório “A distância que nos une” (OXFAM, 2017) quanto “As faces da desigualdade no Brasil” (CAMPELLO et al, 2017) reconhecem os avanços das políticas sociais engendradas nos últimos anos (2002-2015), e os impactos sobre a melhoria das condições de

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Reflexões decoloniais sobre as relações entre pobreza e racismo no contexto brasileiro

________________________________________________________________________________________________________________________________ vida dos mais pobres. A perspectiva multidimensional apontada por Campello e Gentili (2017, p. 13), para além, e não menos importante, da distribuição de renda e riqueza, também considera que “o acesso – ou o não acesso – à água, saneamento, energia, educação, saúde, moradia e bens de consumo como geladeira, telefone, dentre outros, não são dimensões periféricas da desigualdade”, permitindo um olhar mais aproximado às pessoas que vivem em condição de pobreza e extrema pobreza.

Campello, Rodrigues e Sousa (2017) identificaram na população negra a maior transformação na desigualdade multidimensional, apontando aumento significativo, em comparação à população branca, de acesso à educação, a serviços de infraestrutura e bens de consumo duráveis. Assim, é importante evidenciar que, apesar das desigualdades construídas para as populações não brancas como vinculadas a situação de pobreza, ocorreram também mudanças significativas por conta das políticas afirmativas de acesso ao ensino superior, como também com o processo de desenvolvimento social e econômico que o país viveu até por volta de 2014.

Nessa esteira, o acesso de jovens negros ao ensino superior constitui um importante exemplo no processo de mudança iniciado na população brasileira. Observam-se as ações afirmativas como processos de combate ao racismo estrutural. Assim, a questão de identidade étnico-racial tem sido mais abordada e discutida nos últimos anos, ganhando mais visibilidade com a luta dos movimentos sociais ligados às questões raciais e com o fomento de Políticas Públicas voltadas para questões de luta contra discriminação e preconceito racial.

Nesse sentido, a pobreza, extrema pobreza e racismo no Brasil se entrelaçam baseados na colonialidade. Esse fundamento epistêmico foi amplamente difundido, e ideologicamente referendado, ocasionando toda sorte de desigualdades para as populações consideradas inferiores e repercutindo até hoje na sociedade brasileira nos processos de preconceito e discriminação e nas estruturações sociais. A dominação desse processo ideológico se traduz no fato de que, mesmo com o fim da servidão ou escravidão, não houve uma maior preocupação em incluir esses povos ao processo de desenvolvimento social em curso, relegando-os a uma condição de vida, na maioria das vezes, degradante, sem incentivos ou políticas sociais que os permitissem viverem dignamente.

Esses fatos históricos dizem, então, da constituição social da sociedade brasileira e, mais especificamente, das condições sociais a que foram submetidas a maioria da população, num processo de desigualdade profunda que perdura até hoje. As bases capitalistas que estruturaram a lógica de desenvolvimento das sociedades ocidentais agudizam essa situação e aprofundam cada vez mais o abismo existente das populações e territórios considerados vulneráveis, gerando processos de discriminação e preconceito. Dessa maneira, exige-se o enfrentamento em várias

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 211 frentes dessas interlocuções opressoras, bem como a participação de amplos setores e movimentos sociais, que historicamente, reivindicam condições de vida mais justas, equânimes e democráticas.

Considerações finais

Assim, reitera-se a complexidade no enfrentamento das questões sociais dentro do cenário brasileiro, especialmente diante da pobreza e desigualdade existentes, produzindo sofrimentos e violências das mais diversas ordens dentro do contexto das relações sociais. No decorrer desse trabalho, buscamos evidenciar alguns dos marcadores que consideramos fundantes na constituição da sociedade brasileira. A raça e a pobreza representam elementos basilares para a compreensão da desigualdade social, estando ancorados no processo de colonização, tal como aconteceu na maioria dos países do Sul, que passaram por essa realidade.

Considera-se que a interface entre pobreza e “raça” constitui a face mais perversa desse sistema, sendo uma realidade a ser enfrentada pela sociedade do país, tendo sido amplamente visibilizada por movimentos sociais e direitos humanos. Vale ressaltar, que tal visibilidade ainda é recente, sendo sua característica mais tardia também em decorrência do mito da democracia racial. Os movimentos negros têm ganhado força mais recentemente no país, assim como políticas públicas voltadas para questões de renda e também para diminuição dos danos históricos em relação a negros.

Nessa esteira, além da implementação de políticas públicas, o debate acadêmico, incluindo a Psicologia, também tem sido desafiado a se implicar nesse processo, colaborando na reconstrução de saberes e práticas, ressignificando processos socialmente construídos e legitimados, inclusive no âmbito da ciência, refletindo sobre saúde mental e subjetividade humana, a partir da perspectiva que o homem se constitui em sua relação com o meio e também o transforma em um processo dialético.

Ampliar a compreensão da pobreza numa perspectiva social, crítica e multidimensional, bem como a desconstrução do racismo, reconhecendo e reafirmando a diversidade cultural, social e política presente nos diferentes povos e etnias, pode ser um começo a ser trilhado nesse processo.

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Delane Felinto Pitombeira

Professora da Universidade Estadual do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (1996) e mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (2005). Atualmente é Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (2016). Trabalha com temas voltados à subjetividade, exclusão social, adolescência/juventude, políticas públicas e relações entre Psicologia e Saúde. delane.pitombeira@uece.br

Janaína Farias De Melo

Doutoranda do Programa De Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (2012). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC- 2016). Atualmente é professora substituta da Universidade Estadual do Ceará (UECE), monitora do curso de língua japonesa do Núcleo de Línguas da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e membro do Laboratório de Psicologia Ambiental da UFC - LOCUS e Professora dos Curso de Pós- Graduação em Psicologia das Relações Humanas e

Psicopedagogia - Merithus/ UVA.

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.5 | Nº. 2 | Ano 2019 | p. 215

James Ferreira Moura Jr

Professor Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Campus dos Palmares), Programa De Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordena a Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e Resistências (reaPODERE) que desenvolve atividades de ensino crítico, pesquisa e extensão colaborativa. É pesquisador colaborador do Núcleo de Psicologia Comunitaria (NUCOM) da Universidade Federal do Ceará (UFC). james.mourajr@unilab.edu.br

Zulmira Áurea Da Cruz Bomfim

Professora Programa de Pós-Graduação Psicologia da Universidade Federal Do Ceará. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (1985), mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília (1990) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003). Pesquisadora pela Universidade de Barcelona em Espaço Publico e Regeneração Urbana (2001) e Pós-doutorado na Universidade da Coruña-Espanha (2011). Atua nas áreas de Psicologia, com ênfase em Psicologia Ambiental e Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: Cidade, afetividade, mapas afetivos; comportamentos pró-ambientais, vulnerabilidade sócio-ambiental e juventude. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental- LOCUS-UFC e é líder do grupo de pesquisa em

psicologia ambiental do Cnpq

zulaurea@gmail.com

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