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Escola, memória e dor: jovens negros na educação básica de Delmiro Gouveia - AL (1990-2010)

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO LICENCIATURA EM HISTÓRIA. LUCAS EDUARDO NASCIMENTO. ESCOLA, MEMÓRIA E DOR: JOVENS NEGROS NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE DELMIRO GOUVEIA-AL, (1990-2010).. DELMIRO GOUVEIA-AL 2019.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO LICENCIATURA EM HISTÓRIA. LUCAS EDUARDO NASCIMENTO. ESCOLA, MEMÓRIA E DOR: JOVENS NEGROS NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE DELMIRO GOUVEIA-AL, (1990-2010).. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso. de. Licenciatura. em. História. pela. Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão, como requisito parcial para obtenção do grau de professor graduado em História.. Orientador (a): Gustavo Manuel da Silva Gomes.. DELMIRO GOUVEIA-AL 2019.

(3) Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza – CRB-4/2209 N244e Nascimento, Lucas Eduardo Escola, memória e dor: jovens negros na educação básica de Delmiro Gouveia, AL (1990-2010) / Lucas Eduardo Nascimento. – 2018. 81 f. : il. Orientação: Prof. Me. Gustavo Manuel da Silva Gomes. Monografia (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de História. Delmiro Gouveia, 2018. 1. História de Alagoas. 2. Educação básica. 3. Relações étnicoraciais. 4. Delmiro Gouveia. I. Título. CDU: 981.35:37.

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(5) DEDICATÓRIA. Aos meus pais, ao meu amigo irmão (Dudu), a Deus, a Oxóssi, muito a Raylane, ao meu Pai/Mãe Afro... Companheiros de todos os momentos....

(6) AGRADECIMENTOS. Em meio a tantos caminhos e propostas, sempre, a dúvida de escolher aflorava. Escolhas são difíceis, mas tornam-se necessárias para a formação do sujeito em decorrência do processo de vivência na sociedade. E este espaço de escrita serve de momento crucial para tornar público os meus agradecimentos àqueles que ajudaram nas minhas escolhas. Agradeço ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter mobilizado o projeto de expansão das Universidades Federais para os interiores dos Estados brasileiros proporcionando formação de profissionais, oportunidade de construções científicas e novos paradigmas para a educação brasileira. Reconheço também a importância de todo corpo docente na construção da minha experiência e formação profissional como professor de História. Em destaque aos professores do curso de História que estão ou passaram por esta instituição: Sheyla Farias, Aruã Lima, Flávio Moraes, José Vieira, Elter Vale, Vanuza Souza, Carla Taciane, Vladimir, entre outros. Em especial, ao professor Msc. Gustavo Gomes, que para mim, além de ser um professor e meu orientador, é, em especial, meu “Pai/Mãe” Afro que adoro, protejo e tenho uma enorme admiração pela pessoa social e emocional que é, não só comigo. Dentre tantos adjetivos positivos que poderia expressar, venho por meio desde registrar o principal: abençoado. Dona Pureza e Seu Manezinho, dois pilares essenciais na minha vida. Meus pais. Meus heróis. Seres humanos muito batalhadores que desde então acolheram uma criança recém-nascida, diante da ação de doação de uma mãe solteira que não tinha condições financeiras e dentre outras mais daquela época de cuidar da criança e que por isso deu a este casal iluminado que pensou: “será que conseguiremos criar este menino antes que agente morra”? Mesmo na existência do medo, a determinação de criar esta criança com chá, leite Ninho, perpassar por noites de sono, cuidar dessa criança em momentos de doenças, castigar e punir em algumas encrencas, utilizar de modos educativos de criação até as demais fases que só eles defendem ser eficazes; ter conversas e sempre ressaltar que a realidade é assim: “somos pobres, mas somos batalhadores. Tenha sempre fé em Deus!”, proporcionar formação educativa em escolas públicas e cobrar por boas notas e aprender o máximo possível, respeitar o próximo, ser trabalhador e nunca perder a humildade, enfim, fizeram parte do processo.

(7) desse sujeito e hoje, venho com emoção e lágrimas de felicidade nesse momento para registrar um pouco da trajetória de luta dos meus pais com a criação da minha pessoa. Reconheço a minha família todo meu carinho e afeto por acolher e estar presente na minha vida. Um muito obrigado a minha mãe biológica (Maria) e irmão biológico (Vitor), tenho carinho respeitoso por vocês. Agradeço imensamente a RaylaneCarvalho (Filha de Yemanjá), nesses mais de dois anos, como pessoa essencial na minha vida. Companheira, batalhadora, delicada, amorosa, inteligente, cuja presença se molda importantíssima. Ajudou muito. Agradeço também as ajudas da Ryclesia Carvalho (Filha de Iansâ). Meu amigo Eduardo Jorge, um irmão que Deus colocou na minha vida. Obrigado irmão por tudo. Atenção, risadas, noites de resenhas, festas e cachaças, empréstimos de dinheiro e moto, e acima de tudo, companheiro inseparável até nos momentos difíceis da minha vida, agradeço muito. Aos meus entrevistados, só tenho a agradecer a disponibilidade e a credibilidade de acreditar no meu trabalho científico e ressaltar nossa negritude como forma de estudo e portavoz para ensaios de mudanças. As suas memórias são combustíveis primordiais. Agradeço bastante as experiências da turma S 2012 e, especificamente, a turma de História formada por Isabella (Bela), Gustavo Leitão, as duas Fernandas, Gleice, Cléberton, Mony, Ana, o grande companheiro de trabalhos acadêmicos Alexandre (Xande), Tati, Jéssica, Krys, Dany, Regina, Fábia e aos demais que não me recordo no momento ou entraram no decorrer dos períodos. Agradeço imensamente aos integrantes que estão e passaram pelo grupo de cultura negra do sertão, ABÍ AXÉ EGBÉ, na verdade, minha outra família cujo encontro desde o início dessa história, por apoiar todas as experiências, estudos e propostas de (re)pensar a cultura afro-brasileira no cenário sertanejo alagoano estendendo reflexões para além do campo universitário, englobando comunidades, municípios e estados diferentes. Um agradecer especial para a percussão do Abí Axé por aceitar minha pessoa como coordenador e proceder momentos impactantes desde ensaios até apresentações. Sou muito grato a Yalorixá Mãe Lúcia de OxumOpará por ter palavras sábias expressando paciência e sabedoria diante atitudes e extensa afetividade com seus filhos e.

(8) filhas de santo além de acolhimento a qualquer que seja o cidadão, inclusive me ajudou quando precisei de socorro espiritual. Sou grato a meu pai Oxóssi, caçador, guerreiro e rei das matas, ensinando-me, desde muito antes de ter essa informação do meu orixá, a posiciona-me e confirmar o ser guerreiro nato que sou, concretizando assim como escolha para ser seu filho. OkeArô, Oxóssi! A Deus todo Poderoso, muitíssimo obrigado... A todas e todos, meu mais sincero e humilde MUITO OBRIGADO!.

(9) EPÍGRAFE. "Tem que acreditar. Desde cedo a mãe da gente fala assim: 'filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor.' Aí passado alguns anos eu pensei: Como fazer duas vezes melhor, se você tá pelo menos cem vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicoses... por tudo que aconteceu? Duas vezes melhor como ? Ou melhora ou ser o melhor ou o pior de uma vez. E sempre foi assim. Você vai escolher o que tiver mais perto de você, O que tiver dentro da sua realidade. Você vai ser duas vezes melhor como? Quem inventou isso aí? Quem foi o pilantra que inventou isso aí? Acorda pra vida rapaz" Racionais Mc’s..

(10) RESUMO. As memórias carregam múltiplos acontecimentos e momentos marcados por todos os dias na história de cada sujeito, podendo definir periodicamente suas reflexões, tomada de posições e escolhas na sociedade, ou seja, o subjetivo é marcado pelas regras que a sociedade padroniza, mas a seu próprio e também pode falar por si só. A ordem do discurso precede historicamente estratégias e práticas de controle e adestramento dos corpos, usando do saber para obter poder, todavia, as mesmas formas que produzem saberes e poderes não se tornam inteiramente eficaz por conta da complexidade das identidades dos sujeitos que problematizam as estruturas e apoiam-se em grupos que (re) pensam os discursos históricos. Esta pesquisa realizada na cidade de Delmiro Gouveia-AL apresenta como as narrativas resgatam as memórias de experiências de racismo no âmbito escolar dos sujeitos entrevistados declarados negros. Partindo do recorte temporal de 1990 à 2010 com base nas estatísticas do IBGE, Lei 10.639/03 e a narrativas das fases escolares dos entrevistados, podemos perceber que as tramas das práticas racistas são rotineiramente reproduzidas em diversos âmbitos da sociedade, de modo que, a escola não foge deste contexto, e acaba por reafirmá-las quando deveria desconstrui-las. Utilizo como alguns dos referenciais teóricos os autores Foucault (1987), Gomes (2013), Silva (2009) e Alberti (2013) a fim de entender problematizações sobre formação de subjetividades e análises do discurso, cultura afro-brasileira e relações étnicas, teorias dos currículos escolares e história oral.. PALAVRAS-CHAVE: Memória, Discursos, Educação e Relações Étnico-raciais..

(11) ABSTRACT. Memories carry multiple events and moments marked by every day in the history of each subject, and can periodically define their reflections, taking positions and choices in society, that is, the subjective is marked by the rules that society standardizes, but to its own I can speak for myself, too. The order of discourse historically precedes strategies and practices of control and training of bodies, using knowledge to gain power, however, the same forms that produce knowledge and powers do not become entirely effective because of the complexity of the identities of the subjects who problematize the structures and rely on groups that (re) think historical discourses. This research carried out in the city of DelmiroGouveia-AL shows how the narratives rescue the experiences of racism in the school environment of the subjects interviewed declared blacks. Starting from the time cut from 1990 to 2010 based on the IBGE statistics, Law 10.639 / 03 and the narratives of the interviewees' school phases, we can see that the racist practices are routinely reproduced in different spheres of society, so that the school does not shy away from this context, and ends by reaffirming them when it should deconstruct them. I use as some of the theoretical references the authors Foucault (1987), Gomes (2013), Silva (2009) and Alberti (2013) in order to understand problematizations about subjectivity formation and discourse analysis, Afro-Brazilian culture and ethnic relations, of school curricula and oral history.. KEYWORDS: Memory, Discourses, EducationandEthnic-Racial Relations..

(12) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Se reconheciam ou se declaravam como negro na infância? ........................ 71 Gráfico 02 –Momento de reconhecimento de identidade:..................................................71 Gráfico 03 –É fácil se assumir enquanto negro na sociedade Sertaneja? ........................... 72 Gráfico 04 – Já ouviram palavras ofensivas, preconceituosas e racistas por conta da cor? .............................................................................................................................................73 Gráfico 05 –Sofreu tratamentos diferenciados graças a cor da pelo ou pelo cabelo afro? Por quem? ..................................................................................................................................73 Gráfico 06 –Como lidavam com as manifestações de preconceito? ..................................74 Gráfico 07 –Reproduziu alguma forma de preconceito contra outro colega negro? ..........74 Gráfico 08 –Quais valores os entrevistados atribuem as ofensas direcionadas a identidade negra?...................................................................................................................................75 Gráfico 09 –Nos tempos de escola como as populações negras eram representadas? .......75 Gráfico 10 –Haviam falas ou expressões de professores/coordenadores/diretores que que reproduziam sentido negativo na identidade negra?............................................................ 76 Gráfico 11 –Quando se falava sobre os negros na escola? .................................................76 Gráfico 12 –Como os professores e a gestão escolar lidavam com atos de preconceito e racismo sofrido pelos alunos?.............................................................................................. 77 Gráfico 13 –Estudantes negros assumiam papeis de destaque no período escolar, em apresentações culturais ou artísticas? ..................................................................................77 Gráfico 14 –Quais os papeis que estudantes negros eram chamados para assumir nas atividades escolares?............................................................................................................78 Gráfico 15 –A escola potencializou sua identidade negra? ................................................78 Gráfico 16 - Crescimento da população no município de Delmiro Gouveia-AL, 1980/2010…………………………………………………………………………………79.

(13) Gráfico 17 - População por cor ou raça no município de Delmiro Gouveia-Al, 2010..................................................................................................................................... 79 Gráfico 18 - População residente por Cor ou Raça............................................................ 80.

(14) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO .................................................................................................................12 1. OS SENTIDOS DE SER NEGRO NO BRASIL: UMA ANÁLISE ARQUEOLÓGICA .............................................................................................................................................18 2. O RACISMO NA ESCOLA E (DE)FORMAÇÃO DE SUBJETIVIDADES NEGRAS .............................................................................................................................................30 3. MEMÓRIAS DA ESCOLRIZAÇÃO DOS JOVENS NEGROS EM DELMIRO GOUVEIA - AL ................................................................................................................43 CONSIDERAÇOES FINAIS ............................................................................................ 61 REFERENCIAS ................................................................................................................64 ANEXO 1 ............................................................................................................................ 67 ANEXO 2 ............................................................................................................................ 70 GRÁFICOS ......................................................................................................................... 71.

(15) 12. INTRODUÇÃO. Este trabalho científico emerge tendo em mente o déficit de trabalhos científicos no interior de Alagoas que discutem as relações étnico-raciais, e, principalmente, conforme nos ajuda a pensar a teoria Foucaultiana, sobre o sistema disciplinar da escola e seu poder no controle dos corpos e na (de)formação de subjetividades negras quando se exclui, silencia, aflige, dentre outras práticas, os afro-descendentes.Estas reflexões cruzam-se na pretensão de analisaras experiências de escolarização de jovens negros no município de Delmiro GouveiaAL, alto sertão alagoano na transição do século XX para o XXI. Entre os anos de 1990 e 2010 o Brasil passou por um complexo e tenso processo de debates e investimentos em educação como fruto de políticas neoliberais internacionais, disfarçadas em discursos que prometiam desenvolvimento, igualdade e bem-estar social. A educação era apontada como setor primordial de progresso nacional. Órgãos internacionais impõem critérios e metas educacionais para o Brasil alcançar resultados a fim de se ter mais investimentos, acordos comerciais internacionais e extensão do poder político no exterior. Nesse contexto, discursos de denúncia e esperança se cruzam, em que empresários, governantes, educadores, pesquisadores, movimentos sociais levantam pautas, ponderam críticas e elaboram propostas. Assim, como o passar dos anos, se implantam políticas afirmativas de diversos perfis, sobretudo, para a população negra brasileira e, implementamse discursos que tornam obrigatórias as práticas escolares antirracistas. O objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é reconstruir tramas do cotidiano escolar da educação básica no sertão, com foco nas relações étnico-raciais, a partir das memórias de jovens negros do município do Estado de Alagoas, Delmiro Gouveia, entre os anos de1990até 2010. A metodologia embasou-se majoritariamente na análise do discurso do pensamento Foucaultiano. De forma que buscamos trabalhar categorias analíticas como discurso, subjetividade e memória, conceitos estes que corporificam este TCC e traçam caminhos para o entendimento do leitor em meio à proposta de pesquisa, com a finalidade de entender como os sujeitos escolares se localizam e se posicionam frente ao pertencimento racial através da escola. Quando se fala em discurso estamos falando no conjunto de enunciados que podem caracterizar campos diferentes, porém, obedecem a regras de funcionamento, ou seja, o discurso induz o sujeito a seguir regulamentos ou formas normativas.1 É a ordem do discurso 1. FOUCAULT, Michel - A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Campinas: Loyola, 1996..

(16) 13. que estrategicamente molda diretrizes aos corpos. Com base nas obras de Michel Foucault podemos realizar abordagens discursivas remetentes aos objetos estudados. Na ocorrência da absorção por esta metodologia, o discurso ensina a analisar múltiplas relações sociais e suas estruturas e relações contextuais, portanto, estamos chamando de pertencimento étnico-racial a tomada de posição atribuída pelas pessoas quando assumem pertencer à determinada raça/étnica na sociedade. A colocação desse elemento na pesquisa evidencia importância na categorização e na configuração de sujeito que está em processo de (re)posicionar seu pertencimento e escolha para novos perfis de sujeitos. A realização por posicionar este conceito remete a sínteses de leituras e reflexões críticas sobre cultura afro-brasileira e relações étnico-raciais. A memória é, de acordo com Certeau (1994), a historicidade que retorna ao passado e institui lembranças colocando-as em interpretação no presente, e para corroborar com este conceito Le Goff (1990), expressa que a memória é uma propriedade de conservar certas informações e relembrá-las em diferentes épocas. Neste trabalho, a memória é situada como fonte de trabalho científico implementado no procedimento metodológico da pesquisa no amparo para relatar narrativas de fatos passados, algumas, por vezes, esquecidas, marcadas por profissionais formadores de corpos “dóceis” na escola e corporificadas na subjetividade dos sujeitos negros. Sendo assim, a história oral auxilia a partir do objetivo da pesquisa, pensar os sujeitos que podem potencializar narrativas de acordo com suas experiências que, neste caso, são experiências pesquisadas para o recorte escolar e social da comunidade delmirense entre os anos de 1990 a 2010. Trazendo a memória e a história oral como aspecto de importância metodológica compreendemos que a memória auxilia na coleta de narrativas para problematizar e entender a contextualização dos sujeitos de suas épocas e os posicionamentos que o sistema os alocou. O contato com os entrevistados ocorreu desde o momento da escolha pela pesquisa com sujeitos declarados negros juntamente a oportunidade de coletar as narrativas de experiências da escolarização e problematizar com eles no tempo presente usufruindo no segmento de suas memórias se foram alvo de racismo no seu período escolar. A maioria são universitários e outros são da comunidade delmirense, uns trabalham, outros são desempregados, tendo concluído apenas o ensino médio. Como andamento ainda metodológico, formulamos um questionário para nortear a condução da pesquisa no intuito de cada entrevistado responder com suas próprias informações e formular mais dados para a pesquisa. A escolha do questionário se deu, porque, este organiza e deixa o entrevistado a mercê da relativa naturalidade para expor, sem se identificar, respostas que possam o deixar intimidado..

(17) 14. Ressaltamos também o roteiro de entrevista previamente elaborado para aprofundar questões que o questionário não conseguia explorar com mais profundidade. As entrevistas foram realizadas na UFAL - CAMPUS DO SERTÃO, no horário noturno, sendo uma das entrevistas versada no horário matutino, ou seja, sempre dependendo da disponibilidade dos entrevistados. Com médias de tempo por entrevista de 50 minutos a 60 minutos, entretanto, uma entrevista levou 120 minutos. Diante de todos estes procedimentos metodológicos e com cruzamentos de outras fontes discursivas a serem interpretadas como legislação educacional, resultados de outras pesquisas, dados do IBGE, etc. Neste processo, constatamos que o nível de alternativas para superar o racismo nas escolas de educação básica em Delmiro Gouveia ainda é pouco. Visto que negros e negras sofrem ataques racistas há gerações. Este é o tipo de prática seletiva, “tão natural”, na compreensão dos cidadãos educados pelo sistema opressor. Práticas institucionais que negligenciam direitos humanos fundamentais da população negra no Brasil e que por isso devem ser problematizadas. As leis entram como componentes importantes nesta construção científica. Partindo de dois exemplos, podemos cita o Art. 5° da Constituição Federal CF/1988, Inc. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; e a Lei Federal N° 10.639/2003 – Autoriza a Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas redes de ensino público e privado da educação brasileira.Tanto as leituras teóricas e de outras pesquisas feitas sobre relações étnicas nas escolas ao longo do Brasil, quanto à pesquisa de campo que realizamos em Delmiro Gouveia nos fizeram perceber que essas legislações sozinhas não solucionam todos os problemas de se combater o racismo no Brasil.Estes discursos legislativos têm,em sua teoria, exercer o conceito de diálogo/ensino para todos os sujeitos situados no Brasil, porém, a execução da prática destes é o ponto que converge falhas através dos responsáveis que não legitimam o discurso do cumprimento das legislações sancionadas. Estruturando-se essas bases como diálogos de complemento juntamente, por exemplo, aos movimentos de representação negra que lutam por ações afirmativas, respeito e legitimidade nos valores sociais da sociedade, a exemplo temos o Movimento Negro Unificado (MNU) que traz atuações e memórias nessas participações, desse modo, manifestase a possibilidade de ação de interferir nas relações étnico-raciais diante postura de legitimar a contraposição a realidade espacial e seus valores sociais em meio aos ocultamentos com relação às leis e os sujeitos abarcados por estes objetos segundo GOMES, 2013..

(18) 15. Para além das leis supracitadas como implemento importância deste trabalho científico, ressalto também a discussão de saber e poder. Nas estruturas que formam a sociedade e criam seus valores, estes dois conceitos articulam posicionamentos, práticas ideologias e uma série de certificações das posturas objetivas e subjetivas dos sujeitos na sociedade (FOUCAULT 1979, 1987, 1996).Noutras palavras, o saber é o fenômeno que interliga ilimitados conhecimentos produzidos e inseridos no mundo, porém, o processo de seleção ou acumulo excessivo de saber formaliza-se, a princípio no subjetivo dos sujeitos, os elementos de diferenciação ou hierarquização dos corpos nos espaços sociais. Logo, o poder torna-se o modelo legitimador desses saberes absorvidos diante do posicionamento dos grupos ou instituições na sociedade, ou seja, as tensões diante destecontexto histórico são reflexos das proporções dessas fenomenologias estruturantes. Diante a escolha por análise do discurso da teoria Foucaultiana pode-se problematizar através das fontes de relatos orais, legislação educacional e constitucional, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e entre outros materiais. Como estes elementos registram suas formas discursivas e para além desses aspectos, os fenômenos do saber e do poder que contradiz, em muitos momentos ou basicamente em todos, as bases legitimadoras com discursos de igualdade e respeito para com as relações étnico-raciais, em princípio, na configuração do paradoxo sobre o sujeito negro representativamente dentro do contexto histórico-social brasileiro. Na estruturação deste trabalho, construímos três capítulos que interagem nas discussões e costuram um contexto que se estende desde um macro espaço/tempo até um micro espaço/tempo em que discursos se encontram, se chocam, se atravessam e se repelem. O primeiro capítulo intitulado como Os Sentidos de Ser Negro no Brasil: Uma Análise Arqueológica,apresenta problematizações com desenvolvimento de propostas discursivas de resultados sobre, o que é o saber? Como Foucault fala sobre a construção do saber? A quem ela atende? Por que saber é poder? Que necessidade o Brasil teve de construir um saber sobre o negro? Quem construiu esse saber sobre o negro? Foi o próprio negro ou o branco? Quem tinha poder de dizer tais saberes? O dizia esse saber? Esse saber foi positivo para o negro? Favoreceu a quem? Dava poder a quem? Enfim, estas problemáticas manusearam leituras como Foucault (1987, 1979, 2013), Schwarcz (1993), Munanga (2008 & 2012) e Gomes (2013); para chamar a atenção do leitor a refletir sobre os diferentes sentidos sobre os negros produzidos em diferentes lugares de fala. Hora, marcadamente branco; hora marcadamente negro..

(19) 16. O capítulo dois apresentado comoO Racismo na Escola e (de)Formação de Subjetividades,traz asdiscussõesFoucaultiana sobre a escola ocidental e moderna, com os seguintes questionamentos: Comofoi pensada? Qual o seu objetivo? Comoopera sobre os corpos? Que tipo de subjetividade pretende formar? Nesse emaranhado de problemáticas, além de usufruir de leituras do primeiro capítulo sãos inseridas novas leituras de pesquisadores como Guimarães (2012), Fazzi (2012), Cavalleiro (2012), Coelho & Coelho (2013 & 2013), Pedroso (2009), Silva (2007), Maggie (2005-2006), Dantas (2015), Franco (2010), Júnior (2013)que trabalham as realidades étnicas e o racismo dentro da sala de aula em diferentes regiões do Brasil trazendo, desse modo, conseguimos mapear as continuidades e rupturas entre os paradoxos dos discursos que legitimam práticas de exclusão e de valorização, marcando subjetividades em processos de escolarização. No terceiro capítulo, denominado Memórias da Escolarização dos Jovens Negros em Delmiro Gouveia-AL, fazemos uma tipologia do conceito de currículo e definimo-lo como objeto de poder, de disputas políticas e de produção de subjetividades conforme Silva (2009), destacando o currículo oculto como prática atual centralizada nas escolas. Logo, problemáticas são apresentadas e a Lei 10.639/03 é alvo de diretrizes do que supostamente é proferido. Questionamos assim, quando essa lei começa a ser aplicada em Delmiro Gouveia? Porque só nessa época? Como foi feito para implementar? Como foi a vida desses jovens de “Cor” na sua educação básica? Será que a existência de documento oficial para a educação básica previaa discussão das relações étnico-raciais como suficientes, para minimizar os conflitos raciais nas escolas municipais de Delmiro Gouveia? Como se davam essas relações étnico-raciais na escola? Como essas relações étnico-raciais no cotidiano influenciaram nas relações sociais? Como esses jovens reagiam? Como os sujeitos de poder na escola (professores, diretores, coordenadores) agiam? Os jovens negros conseguiam ocupar lugar de destaque?Seguindo o roteiro das entrevistas comparando a resposta com o questionário, buscamos colher resultados e registrar de modo científico nova contribuição para os estudos históricos no sertão considerando a negritude como centro de problematização e análise. A historiografia por muito tempo foi manipulada para disseminar registros de uma etnia negra sofrida, rebelde, selvagem e entre tantos outros caracteres conceituados e produzidos, não se falando e, ao mesmo tempo, perpetuando negligência de processos de lutas, resistências e posicionamentos políticos, sociais e culturas por alguns períodos. Sendo assim, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) torna-se inovador por ser escrito por um negro declarado da terra sertaneja e emblemando processos de existência do racismo diante identificação das memórias da escolarização dos jovens declarados negros do.

(20) 17. alto sertão alagoano contrapondo aos discursos e objetos que o Estado legitima existência de igualdade para todos. O alto sertão alagoano ainda é cheio de estereótipos racistas, mas, a implantação e estruturação de uma universidade federal no interior ajuda a reconfigurar as subjetividades dos. sujeitos. para. formar. profissionais/pesquisadores. para. (re)discutir. ideologias. conservadoras na região com a ferramenta da cientificidade. As principais discussões deste trabalho é apresentar a questão de que não tem sido fácil as experiências de escolarização de crianças e jovens negros em Delmiro Gouveia-AL apesar das políticas afirmativas na educação para população negra..

(21) 18. CAPÍTULO 1: OS SENTIDOS DE SER NEGRO NO BRASIL: UMA ANÁLISE ARQUEOLÓGICA Quando Michel Foucault (2013)2 apresenta a edificação do termo saber, propõe o conjunto das relações multidirecionais das sociedades que emanam discursos para caracterizar formas de domínio e controle perante os que acatam as ordens dos sistemas. Basicamente, a epistemologia do poder é o “pico da pirâmide” da genealogia do saber. O filósofo argumenta sobre a construção do saber:. Um saber é aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir ou não um status científico; (...) um saber é, também, o espaço em que o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso; (...) um saber é também o campo de coordenação e de subordinação dos enunciados em que os conceitos aparecem, se definem, se aplicam e se transformam; (...) finalmente, um saber se define por possibilidades de utilização e de apropriação oferecidas pelo discurso (FOUCAULT, 2013, p.220).. Os discursos são ferramentas que caracterizam enunciados e suas intenções, apresentando, desta forma, o que caracteriza a formulação do saber. Para Foucault (2013), a elucidação dos conhecimentos superficiais ou do senso comum vão além das formas conservadoras emanadas pelas relações adversas, estruturando na ciência, desde sua invenção e com o grande estopim no século XIX, virou um espaço, no qual, o sujeito tem a oportunidade de conhecer os objetos de estudo e seus discursos, produzindo a ideia de que quanto mais conhecimento for adquirido, maior será seu controle3 perante subordinado(s). Para Michel Foucault (1987), a estruturação do saber não é totalmente uma consequência unitária epistemológica, entretanto resolução que envolve tipos de discursos e práticas de disciplinariedade desenvolvidas ao longo da história conjuntamente a outras formas de saber não-cientificado que também formam saberes. Pode-se dizer que realidades discursivas constroem crises, forma confrontos entre paradigmas e resulta em novas propostas.. 2. FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013 (...) uma série de mecanismos de vigilância que aparecem entre os séculos XVIII e XIX e gue têm como função não tanto punir o desvio, mas corrigi-lo, e, sobretudo, preveni-lo ... (...) IN: Revel, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais - São Carlos :Claraluz, 2005. 96 p. 3.

(22) 19. A ilustração da figura abaixo aborda como Foucault (1979) analisa sua tese: Saber. Poder. Discurso Figura 1. Imagem Ilustrativa.. O estudo sobre a episteme é um ponto importante para análise, pois o pensador (2013) acreditou que ao apontar as relações de epistemologia e ciência, diante esta nova configuração trazida desde o século XIX até então, ocorreria uma distinção das outras formas possíveis de história dos saberes. A epistemologia é uma ferramenta para além do seu tempo, é o composto de discursos que problematizam todos os fatos inventados ou “descobertos” pelo homem. Formas possíveis de história e ciência são alvos do campo inesgotável da curiosidade. O estudo dos conhecimentos, a princípio, epistemologia científica, absorve um emaranhado de assuntos, temas ou conceitos como forma de produzir novos saberes legitimados institucionalmente, oxigenando um conjunto de relações que ligam tipos de discursos e que correspondem a uma dada época histórica. Noutras palavras, não é uma cobertura de história comum a todas as ciências, como exemplo, o sistema educacional brasileiro, mais do que uma forma geral, portanto, a propagação e a articulação de diversos sistemas que remetem uns aos outros. Michel Foucault (2013) analisa essa abordagem como relações de Poder4, partindo do discurso como conjuntura do pensamento defendido por quem os promove. Na verdade, segundo o pensador (2013), as relações discursivas trazem legitimidade de Poder. O saber gera poder para o sujeito que expõe a ideia. Quando é explicitado que conhecimento é Poder, o mecanismo de controle e vigilância adentra ao espaço como forma de moldar o sujeito, a fim de garantir a consciência subjetiva do cidadão agenciando as relações de adestramento na exibição histórica de seus costumes de aplicações mentais e, até mesmo, físicos. São sociedades que “domesticam” os 4. REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais - São Carlos :Claraluz, 2005. 96 p..

(23) 20. corpos. Ao montar suas estruturas, mostram seu maquinário para reconstruir as perspectivas de acordo com a evolução das relações sociais. Logo, novos paradigmas de padronização para os corpos são criados. Ao uso da dominação e observação desses corpos está a discursividade do sentido, a fenomenologia da finitude. Apresentando à ciência como forma de problematizar as relações estruturais das sociedades, executar múltiplas formas de interpretar e entender somados ao não expedir de formatos com sentidos “prontos”, para Foucault (2013), explicitar as estruturas de forma a questioná-las é o embasamento da produção da ressignificação. Mas afinal de contas, a quem este saber atende? A escolha do conhecimento específico é o suficiente? A subjetividade é afetada?São perguntas que remetem a indagar as estratégias perante os recursos do bom adestramento dos corpos legitimados nas estruturas sociais e apontada na análise de Michel Foucault. Os sujeitos são automaticamente ministrados a adentrar a algum (ns) sistema(s) de comportamentos e vigilância, pois as sociedades foram pensadas no conceito das estruturas de suplantação, em que a fiscalização propicia o chamado “alusão da normatização”. Ao passo que o sujeito inicia relações de si em complexidade cotidiana com o outrem, cria-se os meios hierárquicos distribuídos por muitas características, por exemplo, cor da pele, meio social, cabelo, vestimentas, linguagem, condições financeiras, modelos de escolas, coeficiente de inteligência, entre outras produções. Logo, os sujeitos, são moldados pelo sistema que os regem a caminhar aos devidos setores já disponibilizados pela fábrica de criar e domesticar corpos. É como argumenta Foucault (1987, p.209) “As “luzes” que descobriram as liberdades inventaram também as disciplinas”. Sujeitos são caracterizados como peças, moldados para servir ao padrão etnocêntrico, em muito ou na maioria dos casos, e supostamente a principal ferramenta para esta escolha é a manipulação dos conhecimentos. Quando o disfarce não é perceptível, é sinal que o percurso está ocorrendo como as hierarquias desejam. As relações entre sujeitos, em toda a história, são remetida com pilares de superioridade e inferioridade. São produções e reproduções que atualizam com o passar do período temporal e espacial também. Analisando os dois sujeitos, o Branco europeu e o Negro africano são detectados modos de conhecimentos diferenciados e atribuídos por seu meio e tempo, logo, a subjetividade é afetada e os comportamentos de superioridade diante o outro são colocados em prática. Além disso, o conhecimento propicia hipóteses e experiências resultando materiais de utilização, objetos que refletem como os estudos concretizam tal (is) mercadorias para uso do sujeito e vantagens pessoais ou coletivos do seu grupo. Através desta análise, é.

(24) 21. percebível que os brancos europeus do período citado usaram dos estudos, meios naturais e experiências para formular estratégias e objetos de dominação mediante outras relações de sujeitos, cujo a falta de conhecimentos ou não priorização por dominar tal (is) saberes resultou no processo chamado de superioridade sobre inferioridade. A progressividade por conhecimento tornou-se processo de poder, quem ou alguém que acumule multiplicidade de saberes pode ser mais poderoso, terá mais chances de ser superior ao outro. Para Foucault (1979)5, o conhecimento é voltado de acordo com as relações de poder, isto quer dizer que, para ele o conhecimento não é algo inerente do homem, porém, é algo inventado, as invenções do homem são aparelhos que manipulam e dominam sobre outros sujeitos, a fim de absorve mais conhecimentos como forma de poder. Mas por que saber torna-se meio de poder? Segundo Michel Foucault (1987, p.185) “Na verdade o poder produz; ele produz realidade, produz campos de objetos e rituais da verdade. O indivíduo e o conhecimento que ele se pode ter se originam nessa produção”. Os saberes produzem posicionamentos de poder agindo como sistema das diferenciações que são acatados pelos corpos moldados de acordo com opções de ramificações, produzindo terrenos vastos de desígnios para apresentar reuniões das supostas ações verídicas. As instituições entram como mecanismos que concretizam este processo. Qual a função das instituições neste processo regulamentar de complexidades? Para Foucault (1987), as instituições são estruturas para produção do saber, desde uma prisão até mesmo um hospital, uma escola, um cartório, uma academia, uma universidade etc; são sistemas que produzem saberes diariamente e, consequentemente, formatação de poderes, hierarquizando corpos e suas relações de convívio, entretanto, é mantido as formas de cautela e normas aos sujeitos como dispositivos para manter os corpos controlados dentro dos sistemas disponibilizados. Ter como elo as disciplinas, os castigos e as leis que deixam em evidência a lógica de preponderância do dominador sobre o dominado, já dizia Foucault (1987: p.207) “Nossa sociedade não é de espetáculos, mas de vigilância”. Digamos que desse processo o corpo atinge capacidades melhores na sociedade. Através das leis são solicitados o controlar dos corpos, remetendo várias plasticidades de adequação ao tempo e espaço. Punir sujeitos são formas de garantir o poder a quem os dominam, segurança a quem os ordenam. O saber punir reflete o poder, logo, é o direito inserido na sociedade, uma vez que somos subordinados por regras com o intuito de sermos. 5. FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979..

(25) 22. corrigidos. Adestrar estes corpos são formas de caracterizar um bom corpo dócil para as comunidades. O discurso também é alvo das produções de supostas legitimidades sobre verdade na sociedade, ou seja, refletem relações de poder, aprisionando ou não o indivíduo. Foucault (2013) expressa que as verdades são decorrentes do seu tempo, a verdade é termo histórico, é fruto do seu tempo. Apresentando os encontros de conhecimentos do seu tempo, cada sociedade cria suas verdades, listando seus próprios discursos. Não há de se preocupar em elucidar conceitos de poder, mas sim, relatar e mostrar as estruturas que manejam melhor a compreensão dos corpos nas sociedades. O poder não é dado a todos os sujeitos na sociedade, não é algo que se possa dividir entre aqueles que o possuem e o detêm exclusivamente e aqueles que não o possuem e lhe são submetidos, não tem somente uma direção, ela não vem só de cima para baixo, vem também de baixo para cima, pois para todo poder existe sua disciplina, e diante as disciplinas surgem momentos de resistências. Os corpos que resistem sobre as disciplinas embutidas nas sociedades são características da qualidade de um corpo que reage contra a ação de outro. Resistir é uma forma de obter poder. Uma boa exemplificação para a ideia acima citado poderia ser a escola contemporânea, por exemplo, a escola argumenta que o aluno deve ir com o cabelo “disciplinado” (amarrado, limpo, liso, etc), característica de uma ordem de cima, entretanto um aluno pode ir à escola de cabelo Black Power, existindo, dessa forma, um poder de resistência e confronto entre as relações envolvidas. Desse ponto de vista, o confronto remete supostas posturas que diferem sujeitos, compondo discursos e exercendo o poder. O saber exerce um vasto campo das relações de ideias, discursos, objetos, sujeitos e etc, mas entre todos estes elementos citados, o sujeito tem a “opção” de compreender que o corpo, segundo Foucault (1987), é um aparelho do saber, ou seja, instrumento necessário na construção do fenômeno de requalificação do indivíduo. O sujeito produz a sabedoria e a usufrui, porém, a sabedoria manipula o (s) corpo (s) de forma implícita; discursos ficam subentendidos, todavia, as relações de superior e inferior oscilam de acordo com as posições a quem ordena, comanda, acata ou resiste diante aos supostos discursos. Saber que as instituições são estruturas de controlar e vigiar os corpos, os moldando para servi ao(s) sistema(s) estruturados e punindo os sujeitos como forma de obediência às regras, mantendo organizado o controle destes. Saber que discursos constroem e desconstroem discursos, diante exposições das ideias, permite a abertura para o contraditório, apresenta-se novos paradigmas a serem seguidos ou não. Saber que a implicitude, em sua maioria, é uma das supostas bases das dominações dos corpos; as estruturas são formadas, o.

(26) 23. sistema é criado, os sujeitos participam e o exercício do questionamento ou curiosidade é pouco desenvolvido, fomentando determinismo do indivíduo. Saber que conhecimentos são formas de poder, todos os tipos de conhecimentos estimulam acúmulo de poder, sejam dos mais simples aos mais complexos, como Foucault argumenta que Saber é poder, o sujeito está apto a desenvolver inúmeras formas de informações, cabendo aumentar a capacidade de enxergar os discursos e melhorar o senso crítico sobre as informações. Saber é concorrência, pois os indivíduos absorvem muitos conhecimentos como forma de destacar sua própria pessoa priorizando ser melhor do que a outra, em condições adversas desenvolvidas na sociedade, a ação de competir é um instrumento inovador para busca do saber; saber é disputa. Por isso o Saber é ativo para o sujeito, tudo se deu através da origem, ocorrendo atualizações de acordo com o tempo e espaço dos indivíduos, a anatomia dos detalhes introduz articulação aos corpos referendados como experimentos planejados para estudos das notificações informativas perante as futuras gerações. Saber também se torna um instrumento de resistência dos sujeitos na presença de leis, regras, disciplinas, punições, enfim, formas de controle do indivíduo. Ao caracterizar este momento é iniciado o processo de conflito entre os sujeitos, a luta pela sustentação das posições ou derrota de uma das partes diante da sociedade são diariamente mobilizadas. Por conseguinte, o Saber é sobrevivência. A presença da teorização neste capitulo torna-se importante para destacar relações epistemológicas aos dispositivos que compõe a sociedade na compreensão metodológica de analisar os discursos por diferentes saberes que determinam objetos a partir de certos momentos históricos, no entanto, é destacar como esses discursos se relacionam entre si e desenham de estilo horizontal uma configuração epistêmica coesa. Neste âmbito, os sentidos de ser negro no Brasil são esboçados discursivamente por diferentes pensadores considerados clássicos6, estruturando dimensões simbólicas presente nas construções discursiva acadêmica desses intelectuais, portanto, reconhecemos que suas narrativas barganham a múltiplos tempos, que conforme Gomes (2013), configura redes de significação e formação interdiscursiva. É justamente nesse momento que apresentamos as ações de utilizar estes autores clássicos, considerando-os, assim, como pontos norteadores para a teorização política e intelectual na historicidade brasileira, em destaque, o contexto da questão racial que ganha espaços e credibilidade nos discursos científicos. Sobre Nina Rodrigues, consoante Gomes (2013): 6. Nina Rodrigues e Gilberto Freyre são considerados autores clássicos nas leituras de extensos valores sociais e humanas, em destaque, apontamos a cultura afro-brasileira na análise e configuração simbólica destes alunos..

(27) 24. Seu campo de pesquisa foi privilegiadamente a Bahia, sobretudo, Salvador: diversos espaços públicos, as ruas, as feiras e estabelecimentos comerciais, os terreiros de candomblé e os arquivos. Espaços de experimentação científica, onde “sincretizou”150 e aplicou seu pensamento eugenista e evolucionista forjando uma dizibilidade e uma visibilidade151 da cultura negra, inaugurando cientificamente um conceito de cultura afro-brasileira. Nina Rodrigues partiu de critérios de diferenciação racial para observar, anotar, teorizar, (des)classificar as experiências históricas e culturais negras no Brasil, fazendo uma operação simbólica na identidade nacional, ordenando as partes do todo brasileiro, formando simbolicamente um Estado que ainda não é. O projeto médico-eugenista se colocava como o redentor da nação fragilizada. (GOMES, 2013, p. 79). Contextualizando-se todo este processo, os estudos sobre a eugenia por Nina Rodrigues operam como forte marco simbólico para diferenciar culturas e criar valores, hierarquias. Logo, outros fenômenos como evolucionismo, determinismo e a própria eugenia relacionam-se entre si e sistematiza, na ciência, formas discursivas e simbólicas no entender da miscigenação étnica e cultural brasileira, condizente com Gomes (2013, p.80) “(...) entre o pessimismo e o otimismo, entre a sedução e o desprezo pelo universo cultural negro (...).”. No início do século XX, o autor Gilberto Freyre perscruta entender a nacionalidade brasileira entender a nacionalidade brasileira e criar homogeneidade simbólica de “povo brasileiro” usando a história para lhe servi como explicação ao objeto miscigenação que trazia consigo, sendo aspecto de destaque nas discussões políticas e intelectuais sobre a identidade brasileira. Com base em Gomes (2013, p.89): “O pensamento freyriano ganhou ainda mais destaque por defender a tese de queo Brasil era um exemplo de nação tolerante, uma nação que harmoniza as diferenças raciais”. Entretanto, o historiador Gomes (2013, p. 91) problematiza que: Com essa construção argumentativa, Gilberto Freyre já inicia seu texto demarcando os devidos lugares culturais ocupados por negros, índios e brancos de acordo com suas hierarquias sociais. Lugares que, em sua narrativa, viram símbolos associados à identidade de cada um desses sujeitos, definindo-as, plasmando-as, estereotipandoas. Negros e índios produzem o folclore colorido, musical e culinário. Os brancos produzem a imprensa, livros de etiqueta e literatura. Dessa forma, o autor começa a demarcar através da cultura, a posição política de cada personagem no cenário de colonização e organização da nacionalidade brasileira”.. Nesse processo de demarcação de posições políticas e culturais, o discurso de diferenciação tende a estereotipar plausivelmente alguns símbolos anexados a identidade cultural do sujeito negro,visto que a figura da cultura afro-brasileira é apresentada como folclore e subproduto das legitimações eurocêntricas, ou seja, o negro é subordinado, mas traz culinária, danças, malemolência mística e fetiches sexuais.Destarte, Gomes (2013, p. 104).

(28) 25. complementa que “Analisar a partir de bens materiais e de algumas práticas sem buscar compreendê-las pela ótica dos negros. Assim, sua análise se mostra superficial”. Seguindo o percurso dentro do século XIX, o Brasil é necessitado a edificar sobre seu festival de cores, mobilizando, dessa maneira, conhecimentos que caracterizariam os grupos e classes que ali preenchiam o espaço em desenvolvimento. É introduzido no Brasil os modelos de teorias raciais. Modelos estes, segundo Schawarcz (1993)7 chegaram no Brasil atrasados e impulsionavam o eurocentrismo no saber e determinismo no registrar da história dos sujeitos envolvidos. São corporificados, no conceito de raça, discursos de hierarquia, evolucionismo social, superioridade, inferioridade, racismo, conflitos, corpos puros, corpos mestiços, entre outras classificações.8 O recorte da negritude, diante desta construção, é algo a ser analisado e problematizado. A mestiçagem formaliza-se, no Brasil, como processo de mistura das raças, trazendo consequências para formação da identidade brasileira e a sua construção da identidade negra. KabengeleMunanga (2008)9 demonstra como os inúmeros autores europeus clássicos nos campos dos conhecimentos construídos ostensivamente as teorias racistas. Os autores clássicos são responsáveis por produzir conhecimentos deterministas sobre o negro, e estas informações são disseminadas com direcionamentos compulsivos na interação da miscigenação no Brasil. Munanga (2008) destaca autores como: Voltaire, JulienOffray de laMittrie, Maupertius, Buffon, Kant e Edward Long, estes foram cientistas que ao criarem saberes sobre a mestiçagem na história do pensamento, registram discursos que os qualificam e posicionam determinadas personalidades. Pode-se analisar que a todo momento os autores querem manipular uma construção forçada diante metodologias tradicionais da época e herança de outras épocas anteriores, já mencionava Lilia Schwarcz (1993) com relação as épocas das ciências, argumentando que no século XVIII a ciência particularizava o trunfo da ganância, porém, o século XIX é o grande século das especializações. Vale ressaltar que muitos autores guardam certos referenciais teóricos dessa transição temporal, ou seja, a ciência passa de um estado de “moda” para produtividade positivista. Estudos sobre a evolução humana, mas especificadamente o conceito de raça, lançaram extensões de conhecimentos difundidos nos campos das ciências modernas 7. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: Cientistas, instituições e Questões Racial no Brasil1870/1930 – São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 8 Iden. 9 MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional Versus Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008, 128p..

(29) 26. europeias desde do século XVIII, mas principalmente no século XIX. Segundo Munanga (2008), pensamentos como o Darwinismo Social (Charles Darwin juntamente ajudado por Alfred Wallace10) em sua obra Origem das Espécies (1859) foram cientistas clássicos que formalizaram a tese da seleção natural, mecanismo que trabalha com a produção de fenótipos e genótipos, construindo vários conjuntos de fatores hereditários com particularidades na constituição do indivíduo ou grupos. Logo, estes saberes passaram por processos de ressignificações nas visões dos novos campos científicos, propiciando argumentos na área do pluralismo das espécies. Munanga (2012)11 exemplifica Arthur Gobineau12 um desenvolvedor da teoria racial conectando as ciências modernas europeias como estímulos para discursos sobre seres puros e seres mestiços, atribuindo de forma respectiva, conceitos de que o poder do desenvolvimento humano séria perante as raças brancas, cogitada como superiores, e a falha deste processo ficaria com o envolvimento do negro aos “tipos puros”, cogitado como inferiores. O interessante ficou na disseminação dos discursos no conjunto das relações sociais,como os discursos provocaram processos de hierarquias de poderes entre raças, o quanto estruturados e fortificados discursos sobre o racismo impregnaram e evoluíram nas atualizações da sociedade de modo geral. Ou seja, heranças dos séculos passados, atualizamse constantemente e o negro inicia à resistência e luta para reeducar discursos e formar novos saberes. Vale ressaltar que a construção do saber sobre o negro nos respectivos séculos cogitados era manipulada por pensadores conservadores europeus. A ideia de que o branco seria a categoria, como argumenta Lilia Schwarcz (1993), de “perfectibilidade” 13 ministrada ao indivíduo à autoconfiança em declarar-se um ser hegemônico, apto, genial e inquestionável por ser a categoria de melhor e mais especializada em estudos e registros de fatos sobre outras raças. É diante a dominação do poder científico europeu que os cientistas formularam conceitos de inferioridade sobre a raça negra, com intuito de engrandecer a categoria branca e minimizar a categoria da negritude. Foucault(1987, p.205) estabelece “...mas o indivíduo é cuidadosamente fabricado, segundo uma tática das forças e dos corpos...”. 10. Alfred Russel Wallace foi um cientista que praticamente definia as bases da teoria da evolução e enviou-o a Charles Darwin. 11 MUNANGA, Kabengele – Negritude: Usos e Sentidos– Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2012, 96p. 12 Joseph Arthur de Gobineau foi um diplomata, escritor e filósofo francês. Foi um dos mais importantes teóricos do racialismo no século XIX. O disseminador do conservadorismo. 13 Conceito que discursa o privilégio apenas para “raças civilizadas”, não mais de toda humanidade. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz – O Espetáculo das Raças: Cientistas, instituições e Questões Racial no Brasil1870/1930 – São Paulo : Companhia das Letras, 1993..

(30) 27. Construir uma memória e deixar o legado dos estudos articulados pelas marchas superiores, fomenta modos de disciplinar os corpos espalhando discursos de veracidade nas relações humanas, isto quer dizer que, aos indivíduos que se caracterizavam e se auto declaravam brancos, tenderão a disposição de absorver discursos racistas e reproduzir conhecimentos com conceitos atualizados e mesmo aqueles que não classificavam como brancos, a exemplo podendo ser usado os mestiços, muitos daqueles corpos foram “infectados” com discursos racistas “prontos” sobre a etnia negra, ocasionando enfraquecimento da categoria dos afro-brasileiros e situações de vergonha e medo em se auto declarar negro. O processo de punição dos negros seria o seu auto posicionamento declarado inferior mediante discursos forjados pela elite supostamente branca na sociedade. Ao registrar conhecimentos que expressam configurações na sociedade, as interdiscursividades dos saberes, ao serem manipulados, criam possibilidades de produção de subdiscursos racistas que propõe parâmetros opressivos com relação ao negro e a formação da mestiçagem no andejar da história. Ao usar da ciência para nortear produções de supostas verdades com relação a etnia negra, tendo em vista, os blocos de práticas racistas, consolidação de “verdades” cientificas seguindo a herança eurocêntrica e controle sobre uma categoria que não sobressaísse dos padrões forjados pela elite. Estas e outras características influenciam direta e indiretamente nas produções sociais e, consequentemente, na formatação de uma sociedade vivenciada a heranças históricas. Vale ressalva que os discursos são voltados principalmente para o Brasil e que autores e instituições seguem muitos dos legados eurocêntricos criados ao recorte negro, monopolizando ações de controle e vigia das estruturas mediante “verdades” desenvolvidas. Quando se fala de Brasil, fala-se em sociedade miscigenada, ou seja, mistura de povos e culturas diferentes adicionados em cada espaço do território brasileiro. Os discursos sobre a miscigenação no Brasil trouxeram variações no decorrer dos tempos, desde a negação da categoria até aceitação dentro de algumas condições. Ao abordar a questão da mestiçagem no final do século XIX, adentram intelectuais nacionais a priorizar construir saberes historiográficos brasileiros tendo como referências as teorias dos cientistas anteriores. Segundo Munanga (2008), em 1888 é chegado ao fim a escravização no Brasil, propondo aos pensadores brasileiros um exercício crucial: Como moldar os ex-escravos caracterizados como selvagens em cidadãos pacíficos e construir uma nação com nova identidade? Atrelados a esta problemática, os pensadores nacionais iniciaram produzir conhecimentos com intuito de registrar supostas respostas, tendo em vista que a fomentação dos estudos para responder a problemática é ancorada nas teorias racistas dos.

(31) 28. tempos passados. De acordo com Munanga (2008, p. 20) “É importante sublinhar os preconceitos raciais associados a essa diversidade de definições”. Os efeitos perante suposta influência da herança científica eurocêntrica racista proporcionarão produções de discursos, todavia, contextualizando a negatividade no recorte da negritude na formação da identidade étnica brasileira. Identifica-se que alguns autores registram discursos sem buscar compreender formas ou camuflagens racistas e negligenciam a diversidade racial apontada como problema, mas o discurso de forjar realidades e o mecanismo de instituições financiadas por nações antigas repletas de paradigmas racistas resultaram na alienação dos discursos de verdades perante uma realidade almejada. Mediante exposições de ideias e teorias sobre raça, mestiçagem, formação da nação, classificação das raças e suas qualidades, tendo em vista estas e outras categorias abordadas em um Brasil no final do século XIX e desenvolver do século XX surge mais uma dúvida diante de muitos discursos ou possibilidades de supostas verdades com relação ao recorte negro, dentre várias perspectivas de discursos com intenção de monopolizar controle e estruturar hegemonia de grupos perante outros grupos, afinal, todos estes detalhes favoreceram a quem? Analisando os discursos de épocas e problematizando a construção e suas práticas vigentes na atualização dos tempos, pode-se dizer que, a categoria eurocêntrica, desde o início da construção das ideias, forçadamente almejada como a base da superioridade e tida como exemplo a ser seguida pelas outras categorias em formação, o branqueamento, para muitos pensadores e cientistas compreendiam o exemplo de formação de um mundo perfeito, de nações perfeitas. Entretanto, a alienação e a aceitação do sistema eurocêntrico no Brasil não reprimiram totalmente a categoria negra brasileira, pois o discurso de resistência vem operando com intensas reivindicações de movimentos e intelectuais afro-brasileiros muito crescentes, sendo assim, novos paradigmas surgem para contrariar velhos saberes. Com base em Munanga (2012), a memória é o fio condutor da escrita e oralidade, logo, o processo de aprendizagem é buscado também pelo negro e seu olhar perante muitas estruturas impostas trouxe vários posicionamentos com relação à postura e resistência para o recorte negro. Figuras como o Dr. Du Bois e Langston Hughes, Munanga (2012) ressalta que são considerados os pais da negritude, pois em meio a hierarquia conservadora eurocêntrica nas grandes instituições de ensino, finalmente o negro, a estes dois exemplos citados, tomaram a frente e enfrentaram as dificuldades impostas desde séculos passados. O grito da negritude manifesta-se na Europa e suas referências contagiam outros negros, mobilizando.

(32) 29. novas ressignificações, posicionamentos, saberes e lutas de resistência a sistemas racistas. Ainda de acordo com Munanga (2012), o martiniquense AiméCésaire movimentou a palavra negritude e realçou o seu significado como forma de obstinação do posicionamento negro nas construções de saberes e práticas.14 Um porta-voz do discurso da negritude, aqui no Brasil, Munanga (2012) identifica-o como Abdias do Nascimento15, forte militante afro-brasileiro que buscou lutar por uma democracia verdadeiramente plurirracial e multiétnica. Gomes (2013) assegura que a legitimidade da negritude em contrapartida ao “jogo burocrático do Estado”, o Movimento Negro Unificado (MNU) foi criado em 1978 por várias figuras da negritude no cenário brasileiro perpetuando também ganhos políticos na legislação brasileira como forma de regularizar, institucionalmente, em documento, a presença da negritude no sistema de constitucionalizar formas de poder em meados dos sistemas sociais envolvidos. Mas esta discussão sobre o MNU procuraremos desenvolver melhor nas próximas discussões dos capítulos que seguem trazendo conexões basilares. Interligando a partir das discussões deste capítulo, iniciam-se as análises da herança dos sistemas eurocêntricos impregnados no organismo da educação nos eixos escolares de brasileiros contemporâneos, tendo em vista seus processos e supostamente seus resultados.. 14. Neste momento o negro passa a ter voz e conhecimento para registrar e historicizar sobre sua etnia negra. Abdias do Nascimento foi um dos principais líderes do Teatro Experimental Negro (TEN). Além de escritor e dramaturgo, Abdias foi também Professor. Enquanto um dos principais militantes negros do século XX agia nos campos intelectuais e políticos do MNU em nível nacional, chegando a ser parlamentar.IN: GOMES, Gustavo Manoel da Silva - A cultura afro-brasileira como discursividade: histórias e poderes de um conceito . Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Recife, 2013. 15.

(33) 30. CAPÍTULO. 2:. O. RACISMO. NA. ESCOLA. E. (DE)FORMAÇÃO. DE. SUBJETIVIDADES NEGRAS. A escola é uma instituição que educa o cidadão de acordo com as normaspadrão administradas pelo Estado, funcionando como uma instituição que fabrica novos corpos16. Logo, os corpos que ali estão, são moldados de acordo com a realidade determinista perante o domínio da visão do Estado. Michel Foucault (1987) mencionou que toda instituição chega a criar um processo de dominação do corpo e de suas características, desse modo, ao passo que o tempo transcorre, o aparelho de transformação torna-se mais implícito e “natural” na visão da sociedade, ou seja, o natural são as normas e obrigações expostas por um poder maior que molda o cidadão e o “joga” de volta para a sociedade com a mente formada17. Foucault (1987) certifica que a escola é um dispositivo18 que reproduz o modelo de encarceramento disciplinar produzindo subjetividades com determinados perfis a fim de que se atendam objetivos políticos direcionados. A escola formaliza-se como estabelecimento historicamente marcante da subjetividade, pois desde sua estrutura física até seu dia a dia, a forma de vigilância dos corpos, moldá-los, puni-los evoca grandes modelos culturais eurocêntricos (branca, burguesa, racionalista, racista e cristã). O sistema disciplinar19 é adotado como aparelho sistematizado para o meio escolar como forma de modificar, treinar e averiguar o controle do cidadão. Para todo um sistema existe suas táticas20, o Estado impõe normas que sejam cumpridas todas ou boa parte das táticas diante controle do cidadão. A retórica do sistema disciplinar impera sobre o corpo dominado, vigiado e controlando sob um conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte de formação subjetiva do cidadão, até então adestrado21. Foucault (1987) assevera que a escola é um aparelho disciplinar que perpassa pela sociedade moderna e atualiza-se na contemporaneidade tratando das formas de pensamentos para mobilizar relações de poder provocando nos corpos uma coerção de objetividades 16. Conceito usando por Michel Foucault na obra Vigiar e Punir de 1987 que remete o corpo como sinônimo de sujeito, aquele que está englobado na sistematização do controlador perante o controlado, ressaltando o corpo como objeto a ser trabalhado. 17 O mesmo que: adestrada, amestrada, composta, constituída, doutrinada, educada, instruída, pontificada. 18 REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos. São Carlos:Claraluz, 2005. 96 p 19 Para Foucault (1987) disciplinar seria o panorama de regras embutidas na sociedade com proposito de atingir capacidade de melhoras dos corpos, ou seja, formulas gerais de dominação. FOUCAULT, Michel – Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, Petrópolis, Vozes, 1987, 288p. 20 Conjunto de meios ou recursos empregados para alcançar um resultado favorável na perspectiva das instituições que disseminam formas de controle, segundo Foucault (1987). 21 IN: FOUCAULT, Michel – Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, Petrópolis, Vozes, 1987, 288p.

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