• Nenhum resultado encontrado

O carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal : a manutenção da tradição via educação informal no passado e não formal na atualidade (1930-2018)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal : a manutenção da tradição via educação informal no passado e não formal na atualidade (1930-2018)"

Copied!
300
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação

MARCOS VINÍCIUS RODRIGUES DE AQUINO

O CARNAVAL DE MÁSCARAS DA FAZENDA CRESCIUMAL: A

MANUTENÇÃO DA TRADIÇÃO VIA EDUCAÇÃO INFORMAL

NO PASSADO E NÃO FORMAL NA ATUALIDADE (1930-2018).

CAMPINAS 2019

(2)

O CARNAVAL DE MÁSCARAS DA FAZENDA CRESCIUMAL: A

MANUTENÇÃO DA TRADIÇÃO VIA EDUCAÇÃO INFORMAL

NO PASSADO E NÃO FORMAL NA ATUALIDADE (1930-2018).

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Educação, na área de Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes von Simson

CAMPINAS, 2019.

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DE DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO MARCOS VINÍCIUS RODRIGUES DE AQUINO, E ORIENTADA PELA PROFESSORA DRA. OLGA RODRIGUES DE MORAES VON SIMSON.

(3)

Pablo Cristian de Souza - CRB 8/8198

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The masks carnival of the Cresciumal Farm : the maintenance of tradition through informal education in the past and non-formal in the present (1930-2018) Palavras-chave em inglês: Masks Carnival Non-formal education Oral history Cultural heritage

Área de concentração: Educação Titulação: Mestre em Educação Banca examinadora:

Olga Rodrigues de Moraes von Simson [Orientador] Ana Lúcia Guedes Pinto

Maria Cristina dos Santos Bezerra Data de defesa: 27-02-2019

Programa de Pós-Graduação: Educação

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: 0000-0002-0696-7605.

- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/1691234478723878 Aquino, Marcos Vinícius Rodrigues de, 1978-

Aq56c Aqu O carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal : a manutenção da tradição via educação informal no passado e não formal na atualidade

(1930-2018). / Marcos Vinícius Rodrigues de Aquino. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

Orientador: Olga Rodrigues de Moraes von Simson.Aq

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.

1. Máscaras. 2. Carnaval. 3. Educação não formal. 4. História oral. 5. Patrimônio cultural. I. Simson, Olga Rodrigues de Moraes Von, 1943-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

(4)

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O CARNAVAL DE MÁSCARAS DA FAZENDA CRESCIUMAL: A

MANUTENÇÃO DA TRADIÇÃO VIA EDUCAÇÃO INFORMAL

NO PASSADO E NÃO FORMAL NA ATUALIDADE (1930-2018).

COMISSÃO JULGADORA:

Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes von Simson

Profa. Dra. Maria Cristina dos Santos Bezerra

Profa. Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto

A Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

(5)

Aos meus pais, pelo incentivo constante, à Vanessa, pelo companheirismo e por ser essencial em minha vida,

e ao Augusto, meu filho, por me mostrar o que é o amor.

(6)

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

O desenvolvimento dessa pesquisa não pode ser visto somente como fruto do trabalho de uma única pessoa, mas sim do esforço e boa vontade de muitas outras. Desta forma agradeço inicialmente a todas as pessoas que participaram direta ou indiretamente da realização desse estudo.

Manifesto aqui o meu agradecimento, mais que especial, aos ex-moradores e trabalhadores da Fazenda Cresciumal que colaboraram com suas lembranças para a elaboração dessa pesquisa. Assim sendo, valorizo a participação dos depoentes: Sr. Cláudio Avanzo, Sr. Geraldo Donizete Petruz, Ednaldo Petruz, Hélcio Rezende, Celso Rezende, José Kilian, Anderson Kilian, Jefferson Rezende, Solange Kilian, Jacqueline Bezerra, Bruna Quirino e Monique Bezerra. Sem o envolvimento e a colaboração de vocês, os caminhos para a concretização desse estudo, seriam ainda mais complexos e tortuosos. Agradeço imensamente toda a confiança depositada e espero que os resultados alcançados pela pesquisa, possam corresponder às expectativas criadas, além de contribuir para uma maior valorização dessa rica manifestação carnavalesca tão significativa para centenas de famílias. Agradeço igualmente a Bel Parolim, que além de fornecer importantes informações a respeito do tema pesquisado, cedeu diversos documentos sobre o carnaval da Fazenda Cresciumal.

Externo também os meus agradecimentos ao Sr. Florindo Fiocco e Dona Lourdes, que além de abrirem as portas de sua casa e me receber gentilmente, oportunizaram, a partir de suas memórias, novas possibilidades de pesquisa. Agradeço igualmente à Antônio Carlos Fiocco, responsável por disponibilizar várias fotografias dos antigos carnavais de Leme.

À professora Profa. Dra. Olga von Simson, por seu acolhimento, confiança, paciência e orientações na condução deste trabalho, deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos. Do mesmo modo, agradeço as professoras Profa. Dra. Maria Cristina Santos Bezerra (UFSCar) e Profa. Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto (UNICAMP) que participaram da banca de Qualificação e posteriormente da Defesa. Suas análises

(7)

Agradeço também aos funcionários do Museu Histórico “Professor Celso Zoega Táboas” e da Biblioteca Pública Municipal “Professora Carolina de Moura Hilderbrand”, ambas da cidade de Leme, pela presteza e auxílio na fase de coleta de dados.

Aos meus familiares e amigos, que souberam entender minhas faltas em diversas ocasiões, manifesto carinhosamente minhas desculpas pelas ausências, mas ao mesmo tempo, agradeço fortemente os incentivos prestados.

E por fim, à Vanessa, esposa e “parte integrante” deste trabalho, manifesto carinhosamente o meu muito obrigado. Agradeço por compartilhar comigo parte de suas experiências vivenciadas na Cresciumal. Suas lembranças e a atenção dispensada, transformaram momentos difíceis e cansativos em prazerosas conversas.

(8)

O objetivo desta pesquisa é apresentar o Carnaval de Máscaras da Fazenda Cresciumal, localizada na cidade de Leme (SP), a partir das memórias de seus ex-moradores e participantes do desfile. Com o suporte da história oral, buscamos alcançar dados informativos do festejo; analisar as experiências de seus participantes e compreender como estes foliões veem as transformações ocorridas a partir da modificação do local do desfile que passou do meio rural para o espaço urbano. O trabalho é também desenvolvido por meio de uma pesquisa documental, que tem como fonte os antigos jornais da cidade de Leme e o acervo fotográfico dos ex-moradores da Fazenda. Assim intercalamos vários tipos de fontes com o intuito de enriquecer nossa pesquisa, dando a ela uma visão mais ampla do carnaval realizado. O carnaval que se desenvolveu na Fazenda Cresciumal tem suas origens estabelecidas, provavelmente, no final da década de 1930, e por cerca de 70 anos ocorreu exclusivamente no meio rural. Ao longo de décadas, este festejo carnavalesco se desenvolveu e incorporou brincadeiras que, com o passar do tempo, se consolidaram entre as famílias que lá viviam. Dentre suas principais características está a fabricação própria das máscaras para o desfile carnavalesco, que até 2006 era realizado na Fazenda e hoje é celebrado na cidade. A mudança foi uma consequência da venda da usina de cana-de-açúcar, instalada na Fazenda e, por cinco anos, o desfile foi interrompido, sendo retomado somente em 2011 a partir da atuação conjunta, firmada entre o poder público e os ex-moradores da fazenda. A pesquisa desenvolvida compreende a manifestação carnavalesca como um patrimônio cultural valioso, já que o desfile de máscaras e sua confecção pelos foliões contribuíram para construção de uma identificação cultural entre os moradores da Fazenda, configurando-se em um importante instrumento de resistência ao processo de aculturação. Nesconfigurando-se sentido, entendemos que a educação patrimonial é um valioso instrumento para a legitimação e preservação desta manifestação artístico-cultural. Nessa perspectiva, compreendemos que esse processo educacional pode ser identificado em diversas dimensões, ou seja, tanto nos espaços formais de ensino, como nos informais e não formais. Assim sendo, procuramos refletir sobre as dinâmicas dessas práticas educacionais, relacionando-as a um contexto específico. A educação formal pode ser verificada a partir das atividades culturais realizadas no ambiente escolar; a informal, presente nas relações de ensino-aprendizagem e interações socioculturais estabelecidas durante anos entre os moradores da fazenda; e por último, a educação não formal, principal foco de nossa pesquisa, como decorrente das atividades culturais e artísticas desenvolvidas pela Associação de Máscaras da Cresciumal. Com o entrelaçamento das variadas fontes de pesquisa, podemos chegar à conclusão de que há uma íntima relação entre o carnaval comemorado na citada fazenda, com as festividades carnavalescas realizadas e organizadas no espaço urbano pelo senhor Jacintho Fiocco no decurso dos anos de 1950 e 1960.

Palavras-chave: Carnaval de máscaras; educação não formal; história oral; patrimônio

(9)

Farm, located in the city of Leme (SP), from the memories of its former residents and participants in the parade. With the support of oral history, we seek to achieve informative data of the celebration; to analyze the experiences of its participants and to understand how these revelers see the transformations that occurred from the modification of the place of the parade that passed from the rural to the urban space. The work is also developed through a documentary research that has as source the old newspapers of Leme city and the photographic collection of the ex-residents of the Farm. Thus we intercalate several types of sources in order to enrich our research, giving it a broader view of the produced carnival. The carnival that developed in the Cresciumal Farm has its origins probably established in the late 1930s, and for about 70 years occurred exclusively in the rural area. Over the decades, this carnival celebration developed and incorporated plays that, over time, became consolidated among the families that lived there. Among its main characteristics there is the production of their own masks for the carnival parade, which until 2006 was held at the Fazenda and today is celebrated in the city. The change was a consequence of the sale of the sugarcane mill, installed at the farm and for five years, the parade was interrupted, being resumed only in 2011 from the joint action, signed between the public power and the former residents of the farm. The research developed includes the carnival manifestation as a valuable cultural heritage, since the parade of masks and their preparation by the revelers contributed to the construction of a cultural identification among the residents of the farm, becoming an important instrument of resistance to the process of acculturation. In this sense, we understand that patrimonial education is a valuable instrument for legitimizing and preserving this artistic-cultural manifestation. From this perspective, we understand that this educational process can be identified in several dimensions, that is, both in formal educational spaces, as informal and non-formal spaces. Thus, we seek to reflect on the dynamics of these educational practices, relating them to a specific context. Formal education can be verified from the cultural activities carried out in the school environment; the informal, present in the relations of teaching-learning and socio-cultural interactions established during years among the residents of the farm; and, lastly, non-formal education, the main focus of our research, as a result of cultural and artistic activities developed by the Association of Masks of Cresciumal. With the intertwining of the various sources of research, we can conclude that there is an intimate relationship between the carnival celebrated in the said farm, with the carnival festivities held and organized in the urban space by Mr. Jacintho Fiocco in the 1950s and 1960s.

Keywords: Masks carnival; non-formal education; oral history; cultural heritage and

(10)

Lista de figuras

Figura 1 – Exposição de Máscaras de carnaval da Fazenda Cresciumal 27

Figura 2 – Exposição fotográfica dos antigos carnavais da Fazenda Cresciumal 32

Figura 3 – Oficina de máscaras 32

Figura 4 – Trabalho de pintura da máscara 33

Figura 5 – Visão geral da exposição 33

Figura 6 – Exposição das máscaras 34

Figura 7 – Desfile de máscara realizado na Feira Cultural COC-Leme, 2015 34

Figura 8 – “Criatura e criador” 39

Figura 9 – Máscara campeã do Carnaval 2017 40

Figura 10 – Concessão do título de Barão 110

Figura 11 – O Boi 116

Figura 12 – Brincadeira de boi 117

Figura 13 – Palhaço bexigueiro 120

Figura 14 – Fantasia de girafa 122

Figura 15 – Fantasia de camaleão 123

Figura 16 – Fantasia de dinossauro 123

Figura 17 – Fantasia de elefante 124

Figura 18 – Fantasia de demônio no carnaval da Fazenda Cresciumal 125

Figura 19 – Penico usado pelo palhaço linguiceiro 126

Figura 20 – Palhaço linguiceiro 126

Figura 21 – Palhaço linguiceiro em ação 127

Figura 22 – O lateiro 128

Figura 23 – Artesão modelando a argila 136

Figura 24 – Molde da máscara em andamento 136

Figura 25 – Molde de argila finalizado 136

Figura 26 – O uso de papel para a fabricação da máscara 137

Figura 27 – Utilização da fibra de vidro 137

Figura 28 – Desfile de máscaras realizado na Fazenda Cresciumal 139

Figura 29 – Uso de folhagens na decoração de fantasias 140

Figura 30 – Máscara decorada com folhagens 140

Figura 31 – Momento em que os mascarados vão à sede da Fazenda exibir as máscaras para a família dos proprietários 145

Figura 32 – Mascarados na sede da Fazenda 146

Figura 33 – Momento de descanso dos foliões 147

Figura 34 – Desfile de máscaras realizado na Fazenda Cresciumal 150

Figura 35 – Fantasia de monstro – Carnaval de 2003 151

Figura 36 – A participação de crianças no carnaval 156

Figura 37 – Foto em família 160

(11)

Figura 42 – A banda que acompanhava o desfile dos mascarados 184

Figura 43 – “Carnaval no Cresciumal premia foliões”, Folha de Leme, 11/02/1989 187

Figura 44 – “Caretas de Leme”, Jornal A Notícia, 21/10/1989 189

Figura 45 – Participação das máscaras de carnaval na 20ª Bienal de São Paulo. Catálogo vol. 02, 20ª Bienal Internacional de São Paulo, 1989, p. 101 190

Figura 46 – Exposição Folclórica SESI-Leme. Jornal A Notícia, 28/08/1991 191

Figura 47 – Artesãos de Leme mostram sua arte em São Carlos. Jornal A Notícia, 16/01/1993 192

Figura 48 – Capa do programa “Arraial da Cidade de Leme” 194

Figura 49 – Programação do evento “Arraial da Cidade de Leme” 194

Figura 50 – Exposição fotográfica “Nas Caras, uma cultura através das lentes” 195

Figura 51 – Texto informativo sobre a exposição fotográfica 196

Figura 52 – Reportagem sobre o carnaval de máscaras publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, 16/02/1994 197

Figura 53 – “Leme resgata tradição europeia”, Jornal A Notícia, 19/02/1994 199

Figura 54 – Exposição fotográfica “Nas Caras”, A Notícia, 02/04/1994 200

Figura 55 – Programação da “Casa da Cultura”, Tribuna do Povo, 02/04/1994 200

Figura 56 – Exposição “Nas caras”, Jornal A Opinião 7/04/1994 201

Figura 57 – Programação da Casa da Cultura, Tribuna do Povo, 09/04/1994 201

Figura 58 – Exposição fotográfica em Leme, Jornal A Notícia, 20/08/1994 202

Figura 59 – Fantasias da “Fazenda Cresciumal” no baile de carnaval do Clube de Campo Empyreo, Gazeta Lemense, 20/02/1999 203

Figura 60 – Monstros da Cresciumal no Clube Empyreo, carnaval 1999 205

Figura 61 – “Cresciumal mantém tradição”, A Notícia, 21/02/2004 206

Figura 62 – Fantasia de Demônio, A Notícia, 21/02/2004 206

Figura 63 – “CarnaLeme resgatará apresentação de máscaras da Fazenda Cresciumal”, Repórter Leme, 26/02/2011 207

Figura 64 – “Monstros do bem”, Jornal Repórter Leme, 19/03/2011 208

Figura 65 – “Carnaval lemense resgata apresentação de máscaras da Fazenda Cresciumal”, A Notícia, 26/02/2011 209

Figura 66 – “Carnaval lemense promete ser dos mais animados da região”, A Notícia, 26/02/2011 210

Figura 67 – O Desfile de Máscaras da Fazenda Cresciumal na primeira página do Jornal a Notícia, 12/03/2011 211

Figura 68 – Apresentação de máscaras, A Notícia, 12/03/2011 212

Figura 69 – Curso de máscaras, A Notícia, 16/04/2011 213

Figura 70 – Carnaleme 2012, A Notícia, 04/02/2012 214

Figura 71 – Carnaval em Leme, Repórter Leme, 11/02/2012 215

Figura 72 – “Carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal, Leme de forma positiva na mídia nacional”, Jornal Leme Tem, 22/03/2017 216

(12)

Figura 76 – Reservistas italianos (recorte 1), O Município, 18/07/1915 223

Figura 77 – Reservistas italianos (recorte 2), O Município, 18/07/1915 223

Figura 78 – Reservistas italianos (recorte 3), O Município, 18/07/1915 224

Figura 79 – Reservistas italianos (recorte 4), O Município, 18/07/1915 224

Figura 80 – Seu Jacintho Fiocco, Revista Fatos & Fotos, 1964 225

Figura 81 – Companheiros de batalha, Revista Fatos & Fotos, 1964 225

Figura 82 – Senhor Jacintho Fiocco, Revista Fatos & Fotos, 1964 226

Figura 83– Carnaval de 1951, A Notícia, 21/02/2014 227

Figura 84 – Alegoria carnavalesca, “Cavalo de São Jorge e dragão” 230

Figura 85– O boi de Seu Jacintho Fiocco 231

Figura 86 – Destaque para o grande avião criado por Jacintho Fiocco (recorte 1), O Município, 03/02/1952 232

Figura 87 – Destaque para o grande avião criado por Jacintho Fiocco (recorte 2), O Município, 03/02/1952 232

Figura 88 – Preparativos para o carnaval, O Município, 17/02/1952 233

Figura 89 – Carnaval de 1952, O Município, 24/02/1952 234

Figura 90 – A grande atração do carnaval, o avião de Seu Jacintho Fiocco 235

Figura 91 – O grupo de mascarados de Seu Jacintho Fiocco 236

Figura 92 – O carnaval de Jacintho Fiocco, O Popular, 25/02/2011 242

Figura 93 – O resgate do carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal, A Notícia, 26/02/2011 244

Figura 94 – Seu Florindo Fiocco 249

Figura 95 – Exposição de máscaras da Fazenda Cresciumal realizada no evento “29 de Bom Gosto” 261

Figura 96 – Exposição “29 de Bom Gosto” 261

Figura 97 – Exposição de Máscaras realizada no Lago Municipal 262

Figura 98 – Oficina de Máscaras (1) 263

Figura 99 – Oficina de máscaras (2) 264

Figura 100 – Pequena exposição de fotografias 264

Lista de gráficos Gráfico 1 – Grupo total de entrevistados 63

Gráfico 2 – Grupo de entrevistados divididos por faixa etária 63

Gráfico 3 – Grupo de entrevistados divididos por gênero 64

Lista de Mapas Mapa 1 – Vista aérea da Fazenda Cresciumal (década de 1930-1940) 108

Mapa 2 – Vista aérea da Fazenda Cresciumal nos dias de hoje 109

Mapa 3 – Trajeto do desfile de carnaval realizado na Fazenda Cresciumal 144

(13)

MEMORIAL 14

INTRODUÇÃO 41

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 1.1. A questão da Memória 52

1.2. A utilização da História Oral 58

1.3. O perfil dos entrevistados 72

1.4. O trabalho com os antigos jornais da cidade 84

1.5. O uso da fotografia na reconstituição histórica via história oral 87

2. O CARNAVAL DA FAZENDA CRESCIUMAL 2.1. O Carnaval no Brasil, breve histórico 92

2.2. Breve histórico do Barão de Souza Queiroz e a origem da Fazenda Cresciumal 104

2.3. As possíveis origens do Carnaval na Fazenda 111

2.4. As brincadeiras de carnaval 115

2.5. A fabricação das máscaras 130

2.6. O desfile na Fazenda 143

2.7. A participação de crianças e mulheres no espaço festivo 152

2.8. A vida na Fazenda Cresciumal e a mudança para a cidade 166

2.9. A (re)descoberta do Carnaval de Máscaras pelos meios de comunicação 187

2.10. O Carnaval de Jacintho Fiocco 218

3. A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL COMO INSTRUMENTO PARA A EUCAÇÃO PATRIMONIAL 250 CONSIDERAÇÕES FINAIS 271 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 277 ANEXOS Anexo 1 284 Anexo 2 285 Anexo 3 291 Anexo 4 293 Anexo 5 298 Anexo 6 300

(14)

Memorial

Os caminhos percorridos, os anos na UEMG, UFOP e chegada à UNICAMP

Minha trajetória acadêmica tem início no ano de 2003, quando ingressei no curso de História da Universidade Estadual de Minas, em Divinópolis/MG. Por questões particulares, meu ingresso na Universidade acabou sendo tardio, somente cinco anos após ter finalizado o Ensino Médio, quando me dei conta que não poderia permanecer naquela condição. Hoje, durante esse processo de escrita, me vejo ainda pensando naqueles tempos e guardo na memória as cobranças feitas por minha mãe. Imagino que ela deva se lembrar do seu tempo de juventude, casou-se nova e por isso não deu seguimento aos estudos. Sempre ouvia dela essa queixa, “Ah se eu tivesse estudado! Hoje eu poderia estar

assim...”. Ela seguiu somente até o Ensino Médio. Os tempos eram outros, as cobranças

familiares eram basicamente para a constituição de uma família, casar, ter filhos e seguir a vida. A vida em uma pequena cidade, na qual ela nasceu, não oferecia grandes oportunidades, ainda mais para uma mulher de família simples. Meu pai, homem igualmente de origem simples, da “roça”, também não teve a oportunidade de avançar nos estudos, órfão de mãe desde muito novo, perdeu a genitora com pouco mais de 3 anos de vida, basicamente foi criado pelo pai e pelas irmãs mais velhas. A vida na roça era difícil e estudar não era tarefa fácil e acessível a todos. A escola ficava distante de sua casa, eram mais de 10 quilômetros de distância em um tempo em que o transporte escolar era inimaginável. Também, ainda muito jovem, perdeu o pai, aos 16 anos e, logo após alguns anos, a maior parte da família mudou-se para a cidade.

Sentia então que aquela situação não atendia aos meus interesses futuros, e daquele momento em diante procurei traçar novos objetivos em minha vida. Comecei a rever os conteúdos escolares de maneira individual e senti a necessidade de procurar outros meios para recuperar o tempo perdido, assim logo me matriculei em um cursinho pré-vestibular. O fato inusitado é que até aquele momento estava em dúvida entre a Educação Física e a História. A prática esportiva sempre esteve presente em minha vida, desde os tempos de criança até a vida adulta, o esporte foi uma prática constante. Entretanto, no cursinho, comecei a me interessar pelas discussões da História. Lembro que, durante o ensino fundamental e o médio, a História não era minha disciplina

(15)

preferida, talvez em virtude das aulas que exigiam somente cópias e o decorar de datas e fatos históricos. Contudo, no cursinho, passei a ver a História de uma outra maneira, as discussões e a forma como a professora abordava os conteúdos, contextualizando-os com a realidade, dava à disciplina uma outra dinâmica, sentia ali que a História nunca fora somente o “passado”, mas sim, o presente, pois era uma História viva, dinâmica, com várias possibilidades. Muita coisa passou a fazer sentido naquele momento. A escolha pelo curso de História concretizava-se a partir desse novo olhar. O interesse se justificava pela vontade de, cada vez mais, conhecer e compreender questões relativas ao desenvolvimento e aos problemas do Brasil. O final dos anos 90, e o início dos 2000, trouxera diversas possibilidades de análises históricas. Assim em 2002, prestei o vestibular da UEMG-FUNEDI. Vale lembrar que naquele momento o país estava mergulhado em um período de crise, ao final do governo FHC e no início do governo Lula. Todo esse contexto político despertava nas pessoas uma grande expectativa: a esperança de dias melhores para aqueles que haviam depositado seu voto de confiança nessa liderança popular, e o receio, por parte de alguns setores, que o viam como uma ameaça. Assim, se iniciaram meus estudos acadêmicos, em meio a um desejo profundo de cada vez mais conhecer nossa história, ao mesmo tempo em que grande parte da população brasileira esperava por dias melhores.

É importante destacar que, nesses anos que estive vinculado a UEMG, trabalhava durante todo o dia e o curso era feito no período da noite, eram raros os dias que conseguia chegar para a primeira aula da noite, ia direto do trabalho para a faculdade. Com toda certeza, a tarefa não era nada fácil, conciliar um curso noturno, com uma alta carga de leitura e com o trabalho, assim o resultado não era nada satisfatório. A missão não era impossível, afinal de contas, várias outras pessoas trilhavam o mesmo caminho e com as mesmas dificuldades, entretanto, sentia que na prática não aproveitava o curso e as leituras como deveria, sem contar o investimento financeiro feito, apesar de ser uma Universidade pública, pois o estado não assumia suas responsabilidades de financiar por completo a educação superior em Minas Gerais. Assim, em 2004, surgiu a oportunidade de prestar um concurso de transferência para a Universidade Federal de Ouro Preto. Após todo o processo de seleção realizado tive a oportunidade de viver novos ares.

Com a mudança, novas preocupações surgiam, mas também novas experiências estariam por vir. Na nova Universidade, o ritmo era bem mais intenso, a

(16)

carga de leitura se mostrava ainda maior, contudo, naquele novo contexto eu teria condições de me dedicar ao curso. Uma questão que merece ser destacada, a localização do curso de História. Ao contrário do que muitos pensam, o Departamento de História da UFOP, não se localiza em Ouro Preto, mas em Mariana – a cerca de 15 km de distância – e isso de certa forma tem uma grande importância, pois o Instituto de Ciências Humanas e Sociais, o ICHS, nos permitia uma relação de maior proximidade com os professores do Departamento. Por basicamente oferecer dois cursos naquela época, História e Letras, e estar localizado em uma região mais isolada, da própria cidade de Mariana, o ICHS, proporcionava aos estudantes um clima extremamente agradável e uma interação constante com os professores, os demais funcionários do Instituto e alunos das outras turmas, criando assim, uma verdadeira comunidade. É raro, quando encontramos os amigos daquela época, alguém não se recordar dos tempos do ICHS, das várias conversas no “redondo”, dos saraus promovidos pelos estudantes do curso de Letras e “noites do gramofone”, os campeonatos de futebol, das viagens do professor Zé Arnaldo, responsável pela disciplina de História da Arte, por várias das cidades de Minas e pelo Brasil afora, dos encontros estudantis de História ou Letras, do charme de sua construção, da beleza e simplicidade de sua Capela1. É quase impossível não se empolgar com essas lembranças. Os tempos de ICHS, sem dúvida, foram essenciais para minha formação, não somente como profissional, mas principalmente como pessoa, pois as experiências vividas ali, toda a diversidade cultural presente, pensamentos, visões de mundo, certamente, ainda hoje são elementos marcantes na vida de quem por lá passou.

Algumas questões acabaram por prejudicar a graduação: por se tratar de uma universidade pública, as verbas eram sempre escassas e, desta maneira, limitavam os projetos de pesquisa; as bolsas de monitoria e de iniciação científica eram raras, grande parte dos professores eram substitutos, mas tudo isso serviu como um aprendizado. A partir da convivência nesse espaço, percebia a importância da luta em defesa da universidade pública. Várias foram as greves nos quatro anos de graduação, quando técnicos administrativos, professores e alunos, com suas reivindicações específicas e

1 O prédio é uma construção da segunda metade do século XVIII e antigamente abrigava o Seminário de

(17)

coletivas, tentavam, a partir de suas ações, conquistar cada vez mais melhorias para a educação.

Deixar Mariana em 2008, e tudo o que vivíamos lá (colegas de curso, as repúblicas amigas, os amigos da República Cangaço) após a conclusão do curso, não foi fácil. Parecia que alguma coisa ficava para trás e mais uma vez, novos desafios surgiam. Voltar para a cidade natal, viver no conforto do lar, na casa dos pais e inserir-se no mercado de trabalho, eram algumas das coisas que chamavam a atenção e tinham, cada qual, uma emoção diferente. O que mais causava ansiedade e apreensão era o fato de ter que encarar a docência. Mas, após o primeiro contato com as turmas, compreendia que o ambiente escolar é marcado por suas peculiaridades e assim, aos poucos, começava a moldar minha prática em sala de aula. É evidente que as condições de trabalho, a valorização profissional por parte da sociedade e de nossos governantes, assim como, a relação com pais e alunos nem sempre são as mais adequadas. Ser hoje professor de educação básica é algo extremamente desafiador, vivemos um completo abandono por parte dos gestores públicos. Em vários momentos, diversos questionamentos vêm à tona, será que realmente vale a pena todo o investimento feito? Horas de estudo, dinheiro gasto, salários irrisórios, cobrança excessiva para a melhoria dos índices, casos e mais casos de violência nas escolas, são algumas das questões que permeavam e que ainda se fazem presentes no pensamento. Entretanto, todos esses problemas fazem com que o desejo por uma educação com mais qualidade, por uma sociedade mais justa e menos desigual, se torne efetivamente um instrumento de luta diária. Em tempos difíceis como os atuais, a luta pela educação de qualidade é ainda a melhor arma para a superação dessas questões.

Uma coisa que sempre me chamou a atenção enquanto vivia e circulava por Mariana e Ouro Preto, era a chamada arquitetura “colonial”. Viver em uma cidade tão antiga, com um conjunto arquitetônico como esse, sempre me fez pensar como seria a vida em outros tempos. Como eram as antigas técnicas de construção? Como deveriam ser, de fato, essas casas em suas construções originais? Todo aquele casario e as belas igrejas da região, recheadas com suas obras de arte do século XVIII e XIX alimentavam essa curiosidade.

Surge daí o meu interesse, após três anos depois de ter terminado a graduação, em cursar uma pós-graduação, o curso de Cultura e Arte Barroca, oferecido pelo Instituto

(18)

de Filosofia, Arte e Cultura da própria UFOP. O desejo de cursá-lo já existia enquanto aluno da graduação, mas como o curso não é gratuito, tive que esperar um tempo para conseguir juntar o valor do investimento.

O curso de Especialização em Cultura e Arte Barroca, até então, um dos únicos do gênero no Brasil, tinha como objetivo promover a discussão sobre as abordagens contemporâneas a respeito das manifestações culturais e artísticas luso-brasileiras dos séculos XVII, XVIII e XIX, com análise voltada principalmente para a produção artística verificada em Minas Gerais. Além das aulas teóricas e das aulas práticas realizadas em museus e igrejas, o curso oferecia viagens a cidades vizinhas que se destacavam por seu conjunto arquitetônico luso-brasileiro. Era um curso fantástico, uma pena não existir mais. A grade curricular contava com renomados professores que, durante décadas, estiveram envolvidos em pesquisas relacionadas ao objetivo do curso. Nomes como João Adolfo Hansen (Estética do Barroco), Myriam Ribeiro de Oliveira (Arquitetura e Talha), Elisa Freixo (Música Colonial), Marcos Hill (Pintura e Escultura), Maria do Carmo Pires (Sociedade Mineira Colonial), Sérgio Alcides (Literatura Colonial), além de vários outros pesquisadores compunham o quadro de docentes e de disciplinas. A pós-graduação ocorria sempre nos meses de janeiro e julho, e contava com aulas no período da manhã e da tarde. O curso, de altíssima qualidade, com professores especialistas em diversas áreas, tinha nessa forma de estruturação, um grande problema. Assim ao concentrar as aulas em um único mês, ele não permitia que o aluno tivesse condições de acompanhar as discussões teóricas, a partir da bibliografia sugerida pelos professores. Não naquele momento. O aprofundamento das leituras só seria realizado em um momento posterior, o que de certa maneira viria a criar uma outra dificuldade, como sanar as possíveis dúvidas surgidas no momento da leitura? Como retomar determinados conceitos sem a presença de um especialista? Como levar adiante um projeto de pesquisa visando a construção da dissertação para a conclusão do curso? E mais, como dar conta dessas leituras posteriormente, tendo que conciliar esse tempo de estudo com uma jornada de trabalho de quase 30 horas semanais?

Como a maior parte dos professores do curso eram de fora, ou seja, não pertenciam ao corpo docente do IFAC-UFOP, o contato com eles se tornava ainda mais difícil, após o fim das disciplinas, isso, de certa maneira, contribuía ainda mais para aumentar as dificuldades de entrega do trabalho final do curso. Na verdade, a maior parte

(19)

das pessoas que se matriculavam no curso, não conseguiam concluir a especialização em virtude de tais condições. Eram aprovadas nas disciplinas, a partir dos vários trabalhos sugeridos pelos professores, mas não conseguiam obter a titulação. Diante de tais dificuldades, acabei também não conseguindo entregar o trabalho de conclusão de curso. Entretanto, mesmo sem a titulação, o curso contribuiu muito para minha formação. Foi possível, a partir das aulas e das leituras feitas, reconstituir um contexto histórico-cultural das Minas Gerais, principalmente do século XVIII e XIX.

O curso deixava claro sua importância para o contexto no qual ele está inserido, pois além de formar principalmente professores para atuarem em várias áreas ligadas ao patrimônio, permitia a ampliação das discussões acerca da importância da preservação do patrimônio artístico-cultural locais e de todo o país.

A mudança para Leme e chegada à UNICAMP

Em 2013, após me mudar para o interior de São Paulo, especificamente para a cidade de Leme, algo me chamou a atenção: as máscaras da antiga Fazenda Cresciumal.

Após conversas com algumas pessoas sobre as máscaras da Fazenda Cresciumal, comecei a estruturar algumas ideias que mais tarde se cristalizariam em um projeto de pesquisa que seria submetido ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas. O processo de seleção ocorreu ao longo de 2015 e foi, desde o início, um grande desafio. Desafio devido ao fato de estar, naquele momento, trabalhando em três escolas, e com uma carga horária de quarenta e cinco aulas por semana e, no meio disso tudo, encaixar a escrita do projeto. Com toda essa adversidade, a boa notícia veio no final do ano, com a aprovação.

O início de 2016, trouxe muitas expectativas e voltar à universidade, agora em um outro momento da vida, traria ainda mais desafios. A ideia inicial era cursar as disciplinas no primeiro ano e, ao mesmo tempo, tentar manter as leituras específicas, mas conciliar o trabalho, vinte e quatro aulas semanais, as idas à Campinas (UNICAMP), as aulas da Pós e a extensa carga de leitura, inviabilizaram minhas pretensões iniciais. Sentia, mais uma vez, que nada seria “fácil”, como realmente não foi, e ainda não é.

(20)

A ansiedade se fazia cada vez mais presente, à medida que o período de matrícula nas disciplinas e o início das aulas se aproximava. A escolha das disciplinas não foi fácil, confesso que imaginava encontrar nos cursos oferecidos pelo programa, disciplinas que abordassem conceitos teóricos e metodológicos que se articulassem diretamente com minha pesquisa. Todavia, mesmo com as disciplinas oferecidas não contemplando diretamente meus anseios, elas contribuíram enormemente para minha formação e possibilitaram novos olhares, não só sobre minha pesquisa, mas para todo o processo de produção de conhecimento.

Assim, no primeiro semestre do curso, me matriculei nas seguintes disciplinas: “Fundamentos Históricos da Educação” (FE008), oferecida pelo Prof. Dr. José Claudinei Lombardi; “Seminário de pesquisa (FE191B) – Cultura, Sistemas de Ensino e Reprodução Social”, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Mauricio Ernica, além da “APP, Atividades Programadas de Pesquisa Mestrado I” (ED890), coordenada pela Prof.ª Dra. Aparecida Neri de Souza.

O curso ministrado pelo Prof. Dr. José Claudinei Lombardi e Prof.ª Dra. Mara Regina Martins Jacomeli, nomeado “Fundamentos Históricos da Educação”, procurou analisar os principais fundamentos metodológicos e teorias da História nos desdobramentos na pesquisa em História da Educação. A disciplina privilegiava uma bibliografia bastante familiar, pois abordava em diversos momentos, concepções teórico-metodológicas da História. As leituras estimuladas pela disciplina proporcionaram uma revisão de conceitos vistos nos anos da graduação, além de trazer novos olhares, não só sobre a História enquanto ciência, mas também ao próprio desenvolvimento do campo da Educação no país. Infelizmente a disciplina teve seu andamento prejudicado pela ocorrência de uma greve em 2016. Desta forma, grande parte das obras referenciadas na segunda parte do curso, não foram contempladas durante o restante do período letivo.

A disciplina oferecida pelo Prof. Dr. Maurício Ernica, “Cultura, Sistemas de Ensino e Reprodução Social” possuía como objetivo ler e discutir textos fundamentais para a investigação das relações entre cultura, sistemas de ensino e reprodução social, tendo como fundamentação a obra de Pierre Bourdieu e foi organizada em duas partes. Na primeira, foram trabalhados, a partir da bibliografia elencada pelo professor, textos para a compreensão das noções e conceitos chaves da obra de Bourdieu. Os textos

(21)

preliminares, escritos por intérpretes do intelectual francês, proporcionaram uma leitura mais acessível dos conceitos centrais da obra de Bourdieu. Assim, ao adentrarmos de fato em sua obra, na segunda parte do curso, já teríamos alguns de seus conceitos e teorias assimiladas, o que viabilizaria uma melhor interpretação de sua obra. Vale destacar que na segunda parte do curso, foi lida na íntegra a obra “A reprodução”, de Pierre Bourdieu em parceria com Jean-Claude Passeron.

No segundo semestre, foram oferecidas disciplinas que possibilitaram uma leitura de diversos autores e discussões de conceitos mais próximos de minha pesquisa. Assim o curso, FE190 “Seminário I, Trabalho Docente, Práticas escolares, contribuições da História Oral” (FE190), apresentada pela Prof.ª Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto, trazia como enfoque da disciplina, a partir de vários autores, as práticas escolares e o cotidiano escolar abordados através da perspectiva da História Cultural e da História Oral. A disciplina, foi nesse momento, uma grande aliada de minha pesquisa, pois proporcionou relacionar meu tema de estudo aos pressupostos conceituais da História Cultural, sem contar com a contribuição dos autores que tratavam dos métodos da História Oral, metodologia fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa.

Outra grande contribuição para a pesquisa foi o curso apresentado pela Prof.ª Dra. Débora Mazza e Prof. Dr. Alexandro Paixão, “Memória, Cultura e Educação” (ED814). O curso oferecido tinha como propósito discutir as contribuições teórico-metodológicas das ciências humanas e sociais, tendo como foco as relações entre a memória, a cultura e as iniciativas educacionais de grupos sociais populares em vários contextos históricos e sociais. A disciplina procurou localizar o contexto de surgimento e desenvolvimento dos chamados estudos culturais, evidenciando seus princípios, abordagens e metodologias.

As duas APPs cursadas, tanto a cursada no primeiro semestre letivo de 2016, sob a coordenação da Prof.ª Dra. Aparecida Neri de Souza, quanto a cursada no segundo semestre, também em 2016, de responsabilidade da Prof.ª Dra. Helena Maria Sant'Ana Sampaio Andery, deram à pesquisa, importantes contribuições. A APP I, promoveu a discussão coletivas de todos os projetos de pesquisa, recém-aprovados pelo programa de Pós-Graduação, e de algumas pesquisas já em andamento – no caso dos alunos veteranos – desta forma, possibilitaram a troca de experiências entre os discentes. As sugestões

(22)

dadas pelos professores e orientadores, bem como dos próprios alunos matriculados na disciplina, suscitaram melhorias na construção do projeto de pesquisa, novos recortes temporais e delimitação da pesquisa, tornando-a mais precisa e coerente, enfim, várias foram as contribuições sugeridas pelo grupo.

Já a APP II, além de promover leituras específicas, contou com a participação de vários dos professores do programa de Pós-Graduação, os quais ministraram seminários onde eram apresentados os resultados de pesquisas recentes. É importante frisar que, durante esses seminários, os pesquisadores apresentaram as metodologias utilizadas em seus trabalhos contribuindo, dessa forma, para uma maior assimilação teórica e prática de vários instrumentos de análise documental, algo de extrema importância para aqueles que iniciaram há pouco tempo suas próprias pesquisas.

Além disso, tivemos a oportunidade de apresentar nossa pesquisa no XIV Encontro Nacional de História Oral. O evento ocorreu entre os dias 02 e 04 de maio de 2018 e foi realizado na Universidade Estadual de Campinas.

O que procurei mostrar nessa primeira passagem deste memorial foi um pouco de meu trajeto dentro do ambiente acadêmico. É fato que se trata de uma trajetória permeada por escolhas que, muitas das vezes, se apresentam de maneira contraditória, pois somos assim, seres inacabados e em constante construção. Na maioria das vezes, a vida nos coloca frente a várias situações, nem sempre fazemos as melhores escolhas, nem sempre temos condições de fazer a escolha “certa”. Mas é também uma trajetória, de certa maneira, vitoriosa, construída com inúmeros percalços, afinal de contas, vivemos em um país com inúmeros problemas estruturais e que tem como grande marca a desigualdade social; um país que não reconhece a importância da educação para além do discurso, que desmerece o árduo trabalho de seus professores; um país que não valoriza a produção de conhecimento, sendo assim, imagino, que cada conquista, por menor que seja, deve sim ser valorizada.

O contato com as máscaras da Fazenda Cresciumal

Quem nunca aguardou com entusiasmo a chegada do carnaval? Festa presente em todo o Brasil, com muitos ou poucos participantes, maior ou menor pompa, o carnaval

(23)

“sempre” esteve presente em nossas vidas. É quase impossível, principalmente nas últimas décadas, com todo o desenvolvimento do aparato midiático, ficar imune aos anúncios da festa feitos pelos inúmeros meios de comunicação. Somos bombardeados constantemente com incentivos para fazermos parte de sua comemoração, seja assistindo aos desfiles das tradicionais escolas de samba, ou participando dos bailes nos mais diversos clubes e salões ou, até mesmo, nos desfiles dos numerosos blocos temáticos que, a cada ano, vão conquistando cada vez mais seguidores. Há aqueles que também preferem usar o período carnavalesco para saírem de suas rotinas e optam por viajarem para regiões, principalmente, para o campo (sítios, fazendas, etc.), onde o clima carnavalesco quase inexiste. Dessa maneira, é possível pensar que, são vários os sentidos atribuídos ao carnaval, brincar ou não a festa de Momo, acaba sendo uma escolha motivada por diversos interesses.

Durante toda minha juventude, o carnaval foi um período de grande alegria e sempre fez parte das minhas atividades recreativas. É impossível, ou quase sempre, nesta fase da vida, se negar, ou não gostar de brincar o carnaval. Amigos, familiares, sempre estiveram presentes em minhas lembranças sobre o carnaval. Várias foram as viagens feitas para cidades vizinhas, com o objetivo claro de celebrá-lo. Vale destacar aqui que em minha cidade natal, Divinópolis/MG, inexistia carnaval de rua. Assim, por volta dos anos 90, a diversão da juventude divinopolitana no período carnavalesco, consistia em se deslocar para as cidades vizinhas como por exemplo, Itapecerica, Oliveira, São João del-Rei/Tiradentes, onde o carnaval de rua era bem mais atrativo.

Na fase universitária, vivendo em Mariana/MG, o carnaval continuou a ocupar uma posição de destaque, é inegável que a vida em república estudantil se torna ainda mais interessante nesses períodos festivos. Nessas “cidades históricas”, há um grande afluxo de pessoas, de todas as partes do país, com o mesmo objetivo, a diversão durante o período carnavalesco. As casas ficam cheias de amigos, familiares e, muitas vezes, de pessoas desconhecidas que pagam pela hospedagem nos dias festivos.

Os sentidos atribuídos ao carnaval nesse espaço urbano, dentro do contexto universitário, parecem ser de fato, o de que durante o carnaval, tudo é permitido! A rotina cotidiana e os comportamentos individuais se alteram. A abundância de bebidas é regra a ser cumprida. As festas realizadas nas repúblicas estudantis muitas vezes ultrapassavam,

(24)

em algumas ocasiões, os limites socialmente impostos. Os excessos, nesse contexto, pareciam ser de fato a marca da festa!

A intenção dessa pesquisa não é detalhar as experiências vivenciadas ao longo de minha juventude, durante os diversos anos que vivi e pude acompanhar o carnaval em Mariana-Ouro Preto/MG, mas apontar que a comemoração do carnaval passa a ser vista por uma outra perspectiva; uma perspectiva muito mais intensa, onde o clima carnavalesco exercia uma grande influência, não só em mim, mas em toda a população local, desde a população nativa, até toda a comunidade estudantil, pois uma grande quantidade de turistas e de amigos, no caso dos estudantes, se deslocavam anualmente para a conhecida “cidade histórica” de Minas. Assim, de uma cidade que não possuía nenhuma tradição carnavalesca (Divinópolis), passei a viver em uma (Mariana), cuja tradição carnavalesca era extremamente valorizada e intensamente vivida. Mas, meu envolvimento no carnaval durante esse período se fazia de maneira bem diferente daquele que pude experimentar em Leme (SP). Aqui, uma nova experiência carnavalesca se estabeleceu. Uma nova forma de ver e vivenciar o carnaval acabou por criar sensações e novos sentidos. Até então, jamais tinha vivenciado uma experiência tão marcante como esta.

Após quase dez anos, morando e visitando os amigos que ainda permaneciam em Mariana, acabei me mudando para a cidade de Leme, interior de São Paulo. Tudo começou a partir de 2013, em julho, para ser mais preciso. A mudança se deveu ao meu relacionamento com minha companheira, Vanessa, que se tornou peça fundamental na construção do projeto de pesquisa. Assim, meu contato com o carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal se fez a partir dela. Informo aqui que sua família materna, Petruz2, foi moradora da Fazenda Cresciumal durante décadas. Sua mãe era neta de um imigrante europeu que havia se estabelecido na fazenda, e que permaneceu na Cresciumal mesmo após o casamento, tendo mudado para a cidade somente na época da demissão de grande parte dos funcionários da usina de cana-de-açúcar, quando esta foi vendida para um grupo francês, fato ocorrido por volta de 2005.

2 Inicialmente, parte dos imigrantes da família Petruz, de origem austríaca, se fixaram em uma fazenda de Araras, cidade vizinha à Leme. Posteriormente, acabaram mudando para a Fazenda Cresciumal e lá permaneceram até a venda da propriedade.

(25)

Em nossas conversas informais sobre o carnaval, ela sempre narrava com grande entusiasmo o carnaval vivido nos tempos de infância na fazenda. Vale salientar que seus pais não tinham envolvimento direto no carnaval da fazenda, não faziam máscaras e nem desfilavam no carnaval3, desta forma, assim como muitos outros, eram

apenas “expectadores”. Entretanto, isso não os impedia de curtir a festa carnavalesca da fazenda. A farra consistia também em acompanhar o desfile dos mascarados pelas ruas da fazenda, sempre instigando e provocando os palhaços.

Em suas lembranças destacavam-se sempre as figuras dos palhaços, o bexigueiro4 e o linguiceiro5, ambos o terror de grande parte dos moradores, mas

principalmente das crianças e adolescentes da fazenda. Um fato triste e marcante para os que viveram durante décadas na fazenda e, principalmente, para os amantes do carnaval da Cresciumal, foi o seu fim, em 2005, a partir da venda da fazenda. Depois da concretização da venda da propriedade, a maioria dos moradores se mudou para a cidade. Perderam não só o emprego, mas perderam também o local onde viveram por décadas, as redes de relacionamentos foram desfeitas, amigos e familiares passaram a viver separados em uma nova realidade: a cidade. Além de todas essas perdas, algo de extrema importância também lhes foi tirado: o “seu” carnaval.

Durante cinco anos o desfile de máscaras no carnaval havia deixado de existir. Ninguém mais fabricava as impressionantes máscaras de demônios, monstros e palhaços. O período do carnaval para essas pessoas já não era mais o mesmo, só a saudade dos antigos carnavais se fazia presente. No ano de 2011, ex-moradores, o poder público, através da Secretaria de Cultura, e a família que ainda detinha parte das terras da fazenda, entraram em acordo e, novamente, o desfile pode ocorrer. No ano seguinte, ele começou a ser realizado no centro da cidade de Leme e não mais na fazenda.

3 O pai, Edison Benedini, chegou a desfilar em duas ocasiões a convite de amigos, mas seu envolvimento

com o carnaval na fazenda não teve continuidade.

4 Este personagem carnavalesco se apresenta geralmente com uma colorida fantasia de palhaço e utiliza

bexigas de ar inflado amarradas em uma corda para desferir golpes nos expectadores que participam do desfile.

5 O mascarado, também conhecido como “mesinha”, porta uma pequena mesa, na qual um penico cheio de

cerveja, ou outro tipo de bebida, fica exposto com uma linguiça mergulhada. A brincadeira consiste em passar a linguiça embebida na cerveja na boca dos mais distraídos.

(26)

Em nossas conversas cotidianas, ela sempre narrou com saudosismo o tempo que viveu na fazenda. Sempre destacou a qualidade de vida, a tranquilidade do local, a estrutura da fazenda que proporcionava várias atividades recreativas, o tempo da escola, ou seja, as lembranças que marcaram positivamente os anos que viveram na Cresciumal. Suas narrativas sobre o carnaval eram sempre frisadas com um misto de alegria e medo, risos e correria. Entretanto, mesmo com esses relatos, que permaneciam ainda vívidos em sua memória, eu não conseguia ter de fato uma noção real do que representava o desfile de máscaras, as brincadeiras realizadas durante o desfile dos mascarados, tampouco a beleza e a peculiaridade das máscaras fabricadas. Jamais eu conseguiria compreender a dimensão do que era celebrar o carnaval dentro desse espaço.

Foi no ano de 2015, quando lecionava aulas de História no COC-Leme que pude, pela primeira vez, ver de perto as tão famosas máscaras da Cresciumal. Em uma pequena exposição organizada pela escola, cerca de 8 máscaras, a maioria delas de monstros e figuras animalescas com grandes chifres, divulgavam o trabalho dos foliões da fazenda e anunciavam a chegada do período carnavalesco – a pequena exposição ocorreu na semana anterior ao carnaval.

O fascínio e o encantamento pelo trabalho realizado pelos artistas da fazenda fizeram aflorar em mim, o interesse pelo tema. Inicialmente, o que mais chamou a atenção foi a criatividade, a qualidade das máscaras confeccionadas e o seu processo de criação. O processo de fabricação das máscaras será posteriormente destacado no texto.

(27)

Figura 1: Exposição de Máscaras de carnaval da antiga Fazenda Cresciumal, realizada no COC – Leme (2015).

Fonte: Acervo pessoal.

Através da fotografia é possível perceber toda a riqueza e criatividade desses artesãos. Das máscaras que foram expostas, somente uma é reprodução de um animal, as outras são de figuras demoníacas e monstros. As máscaras impressionam pela qualidade de acabamento e realismo. Vários dos alunos, principalmente os mais novos – da educação infantil –, demostravam um certo medo; outros, se recusavam a olhar atentamente as máscaras.

Após esse contato direto com as máscaras, procurei aproximar-me da pessoa que as havia expostas na escola. De posse das informações necessárias consegui entrar em contato com Anderson Kilian, um dos ex-moradores da Fazenda Cresciumal, que juntamente com outros participantes do carnaval da fazenda, tem feito vários trabalhos de divulgação do carnaval da Cresciumal, inclusive algumas oficinas de fabricação das máscaras – por conta própria – em escolas de Leme, como também em cidades vizinhas. O contato com o Anderson foi de grande importância, pois ele se mostrou solícito e

(28)

disposto a contribuir com a pesquisa. Além dele, consegui conversar com seu pai, José Kilian, também participante do carnaval da fazenda. A família Kilian, gentilmente disponibilizou diversas fotografias de seu acervo particular (já digitalizadas), para que pudéssemos visualizar e ampliar nossa compreensão do carnaval que era celebrado na fazenda.

A partir desse primeiro contato fomos obtendo novos colaboradores que também indicavam outros nomes, fornecendo assim um leque cada vez maior de possibilidades.

Assim, por obra do destino, e graças ao meu interesse por esse fato cultural, se deu inicialmente o meu contato com o carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal.

À medida que ia tomando conhecimento das histórias contadas por várias pessoas próximas da família, comecei a elaborar algumas considerações sobre a festa carnavalesca e o interesse pelo estudo do tema foi ficando cada vez mais sólido. A partir de então, comecei a elaborar o projeto de pesquisa que seria apresentado ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UNICAMP no ano de 2015.

Com base no levantamento prévio das informações referentes ao carnaval da Fazenda Cresciumal, alguns questionamentos foram se mostrando essenciais para a compreensão do festejo carnavalesco. Desses questionamentos surgiram os objetivos da pesquisa. Como se trata de uma manifestação cultural que existia na fazenda há mais de setenta anos, e que hoje é festejada na cidade, procuramos analisar as possíveis origens desse carnaval. Como eram os antigos carnavais da fazenda? Como eram feitas suas fantasias? Outro objetivo que a pesquisa pretende alcançar, é compreender como esses ex-moradores perceberam o fim do carnaval da fazenda, mesmo que tenha sido por poucos anos, ou seja, como estes passaram a sentir a ausência de uma manifestação artístico-cultural já consolidada entre a comunidade? É interessante pensar também o porquê da retomada da festa. Quais foram os agentes que tomaram a iniciativa e procuraram negociar com o poder público? Quais interesses estavam em jogo? E principalmente, como esses foliões passaram a celebrar o carnaval em um outro ambiente? Houve modificações na essência do desfile? Novas regras foram impostas aos mascarados? As antigas brincadeiras sofreram modificações, ao se alterar o espaço do

(29)

desfile? Enfim, de uma maneira geral, a pesquisa procura compreender os novos sentidos atribuídos ao desfile de carnaval, a partir de seus próprios participantes.

A pesquisa foi realizada a partir da obtenção dos relatos orais dos ex-moradores da Fazenda Cresciumal, procurando assim valorizar a memória viva dos antigos moradores da fazenda e participantes do carnaval de máscaras.

Também foi desenvolvido nosso trabalho por meio de uma pesquisa documental, tendo como fontes históricas os jornais circulantes na cidade de Leme, o meu acervo fotográfico particular e fotografias gentilmente cedidas pelos ex-moradores da Fazenda Cresciumal (fotos de família), além das imagens disponíveis nas mídias sociais, tentando, desta forma, construir ao máximo um caráter intertextual ao nosso trabalho. Assim, procuramos intercalar vários tipos de fontes, com o intuito de enriquecer nossa pesquisa, dando a ela uma visão mais ampla do carnaval realizado, o que dificilmente seria alcançado se utilizássemos somente um tipo de fonte.

Um levantamento de dados foi realizado na Biblioteca Municipal e no Museu da cidade. Foram consultados praticamente todas as edições dos jornais disponíveis nestas instituições. Entretanto, em virtude de nosso objeto de estudo ter se desenvolvido, principalmente, no meio rural muito pouco foi registrado nesses jornais. Os primeiros registros escritos, feitos pela imprensa local do carnaval de máscaras da Fazenda Cresciumal aconteceram ao final dos anos de 1980, quando uma multidão de foliões, e inclusive curiosos, se deslocava da cidade para acompanhar e divertir-se durante o reinado de Momo na Fazenda. Assim, em virtude da dificuldade de obtermos informações referentes ao festejo carnavalesco nessas instituições, optamos por entrevistar os ex-moradores da fazenda para que estes pudessem reconstruir, a partir de suas memórias e vivências, ao longo do tempo de vida na fazenda, os aspectos mais relevantes da cultura carnavalesca local. Compreendemos que o processo de rememoração dos antigos moradores da fazenda e dos participantes do carnaval, juntamente com a leitura feita do festejo carnavalesco pelo pesquisador, trarão novos olhares para esta tradição que há quase um século diverte, assusta e encanta milhares de pessoas.

A escolha dos possíveis entrevistados se mostrou, em um primeiro momento, uma dificuldade a ser superada. Como entrar em contato com essas pessoas? Quais pessoas entrevistar? Inicialmente foi feita a opção de estreitar as relações com a família

(30)

Kilian, o que já nos primeiros contatos diretos nos permitiu estabelecer uma boa relação de confiança. Apoiado nesse contato com a família, outros começaram a surgir, estabelecendo dessa forma uma rede de informantes, a qual se mostrou extremamente proveitosa.

De certa maneira, procuramos contatar as pessoas que atualmente estão mais envolvidas com o carnaval. Assim, mantivemos contato com Jefferson Rezende, hoje, um dos mais entusiasmados com o carnaval e um artista com uma imensa habilidade criativa e técnica. Suas máscaras estão sempre entre as mais premiadas. Foi, a partir do convite do próprio Jefferson, que tive a oportunidade de desfilar durante dois anos no carnaval de máscaras de Leme. Tudo se iniciou em 2016, quando a escola em que trabalhava promoveu em julho uma “Feira Cultural”, na qual os alunos e professores teriam a possibilidade de expor as atividades realizadas ao longo do ano letivo. Como já estava envolvido com a pesquisa, pensei em expor algumas das máscaras utilizadas pelos foliões e contar um pouco sobre a história deste carnaval. Assim, tinha como objetivo inicial divulgar o trabalho feito com as máscaras pelos participantes do carnaval, além de valorizar a tradição cultural e artística dos antigos moradores da Fazenda Cresciumal.

Inicialmente procurei auxílio junto a Anderson Kilian, já que ele havia realizado algumas exposições e oficinas de máscaras no Museu Histórico de Leme. Todavia, o Anderson já não possuía mais as máscaras, pois já as havia doado a outras pessoas. De qualquer forma, sua ajuda foi importante pois nos forneceu informações sobre a técnica utilizada para a confecção das máscaras, além de nos possibilitar o contato com Jefferson Rezende.

Com o contato do Jefferson em mãos, tratei logo de explicar a ele não só a proposta da Exposição de Máscaras, mas também a intenção de estudar o carnaval de máscaras da Cresciumal. Seu entusiasmo com a Feira Cultural era contagiante, e devido a isso, ele disponibilizou cerca de cinco máscaras, das quais duas ainda eram inéditas, ou seja, máscaras que seriam utilizadas no carnaval seguinte (2017). Outra grande ajuda, de sua própria iniciativa, foi a apresentação realizada pelo próprio Jefferson com a fantasia de “mago”, enquanto ocorria a Feira; por cerca de trinta minutos ele desfilou e interagiu com o público presente portando uma de suas premiadas máscaras, o que abrilhantou ainda mais o evento.

(31)

Ao propor esta atividade, tive como objetivo não só expor as máscaras usadas no carnaval, mas também demonstrar como as máscaras eram feitas antigamente e, por fim, contar um pouco da história dessa tradição aos visitantes. Assim, os alunos participantes foram divididos em três grupos, cada qual com uma função específica. Um dos grupos ficou responsável por contar um pouco da história da Fazenda Cresciumal, local onde eram realizados os antigos desfiles de carnavais. O segundo grupo teve como tarefa expor fotografias antigas e recentes dos carnavais realizados na Fazenda Cresciumal e na cidade. Esse grupo teve também a incumbência de prestar informações sobre a história do carnaval da fazenda. O terceiro grupo ficou com a responsabilidade de reproduzir a técnica de fabricação das máscaras. A pequena oficina de máscaras realizada possibilitou ao público presente uma noção de como é realizado o trabalho dos foliões da fazenda. Este grupo teve suas atividades divididas em três etapas. Na primeira etapa, os alunos procuravam exemplificar como eram feitos os moldes das máscaras a partir da manipulação da argila; na fase seguinte, demonstrava-se como as máscaras eram feitas, a partir da colagem de pedaços de papel, de acordo com a técnica utilizada pelos antigos foliões. Na última etapa, era feita a pintura e a decoração das máscaras.

Como a atividade ocorreria somente em uma manhã de sábado, foi privilegiada a confecção de máscaras simples, algo parecido – conforme o relato de vários participantes da pesquisa – com as antigas máscaras que eram feitas na fazenda, uma espécie de “careta”. Atualmente a maioria dos participantes que fabricam suas próprias máscaras utilizam outros materiais como, por exemplo, a fibra de vidro, material que proporciona uma maior durabilidade às máscaras e maior rapidez em sua confecção.

A atividade foi muito bem recebida não só pelos adultos, mas principalmente pelas crianças que ficaram admiradas com as máscaras expostas. A seguir reproduzo algumas das imagens registradas no evento.

(32)

Figura 2 – Exposição de fotografias dos antigos carnavais realizados na Fazenda Cresciumal

Na foto estão presentes: Nicole Hildebrand, Isabela Rebelato e Thaís Parrotti. Fonte: acervo pessoal.

Figura 3 – Oficina de máscaras.

Aqui os alunos reproduziram a técnica até então utilizadas pelos antigos artesãos – esta técnica e conhecida como “papietagem”. Presentes na foto: Greice Caroline e Vinícius Camargo.

(33)

Figura 4: Trabalho de pintura da máscara.

O aluno Nicolas Penteado finaliza a pintura de uma máscara. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 5 – Visão geral da sala onde foi realizada a exposição.

(34)

Figura 6 – Exposição das máscaras.

A máscara de um leão sem a juba, à frente; e a do monstro com vários chifres ao fundo, eram máscaras ainda em processo de finalização, portanto inéditas, e só participariam do desfile do carnaval em 2017. Todas as máscaras expostas no evento foram cedidas por Jefferson Rezende. Participaram desta etapa da

atividade, as alunas, Vitória Mizuno e Olívia Ferreira. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 7 – Desfile de máscara realizado na Feira Cultural COC-Leme, 2016.

Momento em que Jefferson Rezende desfila pelos corredores da escola com a máscara “O mago”. Esta máscara foi a grande campeã do carnaval de 2016, na categoria Tradição. Fonte: Acervo pessoal.

(35)

A Feira Cultural realizada no COC-Leme foi de grande importância para o aprofundamento do tema estudado, além de ter oportunizado novas experiências e práticas pedagógicas.

A partir da relação estabelecida com Jefferson Rezende, tive a oportunidade de conhecer mais de perto, aquilo que os mascarados do carnaval de Leme vivenciavam ao longo dos anos. Nessa ocasião foi feito o convite para que eu participasse do desfile de máscaras do carnaval do ano seguinte.

(36)

“Demônio das Cobras”

O convite feito pelo Jefferson Rezende me proporcionaria grandes emoções no carnaval de 2017 e experiências ainda não vivenciadas. É importante destacar que em 2016, tive a oportunidade de acompanhar o desfile de máscaras na condição de observador, mas não aquele observador que se coloca à margem do desfile, mas sim daquele que se insere no espaço festivo. Durante o desfile dos mascarados da Cresciumal no centro da cidade, é colocada uma corda nos dois lados da rua com o objetivo de separar aqueles que querem participar ativamente do desfile, daqueles que somente querem observar a beleza das máscaras, ou mesmo interagir com os fantasiados, mas mantendo uma margem segura de distância dos palhaços. Aqueles que escolhem permanecer dentro do espaço destinado aos mascarados estão sujeitos às tradicionais brincadeiras de carnaval, a mais temida delas sendo as bexigadas. Tendo como objetivo a compreensão da dinâmica do desfile, optei por permanecer no meio de toda aquela “confusão”, onde monstros, palhaços, demônios, lateiros, linguiceiros, dentre outros, comemoram o carnaval e divertem a população. Foram muitas bexigadas nas costas! Em alguns momentos eram vários palhaços que desferiam golpes simultâneos. Mas, como o Pistarini6 sempre diz, “tá no meio, tá brincando!”, não havia do que reclamar ou se queixar, a brincadeira das bexigas é uma tradição que há décadas faz parte do carnaval da Cresciumal. Para os mais antigos foliões da Fazenda Cresciumal, é a mais antiga das brincadeiras, sem ela o carnaval perderia um elemento essencial de sua identidade. Neste sentido, a observação realizada configura-se como uma válida experiência, pois permitiu não só comparar os dois momentos – já que pude também desfilar com uma máscara no ano seguinte – mas tentar entender como as modificações trazidas pelo deslocamento do local do desfile (do rural para o urbano), alteraram os sentidos do mesmo, tanto para os mascarados, quanto para os espectadores.

Durante a Feira Cultural realizada na escola em que trabalhava, o Jefferson expôs algumas de suas máscaras, duas inclusive, ainda inéditas nos desfiles, e após alguns meses me fez o convite para desfilar no carnaval usando uma de suas inéditas criações. Não pensei duas vezes, o convite foi aceito na hora, e mais, ficou combinado entre nós, que eu acompanharia todo o processo de criação das máscaras que ele ainda tinha para

Referências

Documentos relacionados

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Ocorre que, passados quase sete anos da publicação da Lei n o  12.651/2012 e pacificadas as discussões sobre a sua aplicação, emendas a uma medida provisória em tramitação

The provisional measure addresses the necessary extension of the deadline for entry into the Environmental Regularization Program (PRA), but also contains amendments that aim

Em consonância com esta perspectiva, o Observatório História & Saúde e o Observatório dos Técnicos em Saúde, estações de trabalho da Rede Observatório de Recursos

Aos jesuítas deve-se imputar a iniciativa pioneira de intercâmbio entre esses universos da medicina, já que eles também absorviam o saber dos físicos, cirurgiões e

Em 1902, Oswaldo Cruz passou a dirigir o Instituto Soroterápico Federal e, no ano seguinte, o Departamento-Geral de Saúde Pública, de onde combateu a peste bubônica, a varíola e a

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação