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Moedas sociais como mais um instrumento para potencializar o desenvolvimento da economia local

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS,

CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

MARCOS PRESTES DE OLIVEIRA

MOEDAS SOCIAIS COMO MAIS UM INSTRUMENTO PARA

POTENCIALIZAR O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA LOCAL

IJUÍ 2012

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MARCOS PRESTES DE OLIVEIRA

MOEDAS SOCIAIS COMO MAIS UM INSTRUMENTO PARA

POTENCIALIZAR O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA LOCAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Economia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Romualdo Kohler

Ijuí 2012

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MARCOS PRESTES DE OLIVEIRA

MOEDAS SOCIAIS COMO MAIS UM INSTRUMENTO PARA POTENCIALIZAR O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA LOCAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Economia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Economia.

Banca Examinadora:

... Prof. Ms. José Valdemir Muenchen

... Prof. Dr. Romualdo Kohler

Conceito: ………..

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DEDICATÓRIA

Aos meus familiares e em especial a minha esposa, Caroline pelo incentivo e pela privação do nosso convívio durante a graduação.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos os professores do curso pelos ensinamentos, não somente em relação à economia, mas também sobre outras ciências, sobre suas visões do mundo, da vida, do futuro, sobre meus desejos e aspirações, dentre os quais meu principal ouvinte, antes e depois das aulas, Dalmo. Agradeço também ao meu orientador Romualdo Kohler pela ajuda na definição do tema e na execução do trabalho e a meus colegas pelo convívio diário.

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“... nada é mais difícil na sua preparação, mais duvidoso no êxito e mais perigoso nos seus efeitos que estar junto com pessoas que querem promover inovações. Porque essas pessoas terão como oponentes firmes aqueles que se beneficiam da situação anterior e terão frágeis defensores entre os que se beneficiariam da nova situação. Esta fragilidade se explica parcialmente, pelo medo dos adversários que tem a lei ao seu lado e parcialmente pela desconfiança das pessoas que não creem em algo que ainda não foi experimentado na realidade...”

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre o dimensionamento da moeda na economia local, sua dinâmica nesse macroambiente, ou seja, sua influência tanto na economia real como na determinação da base monetária local. Em relação a essa questão se procurou entender o papel das moedas sociais, sua relação com a base monetária local e sua influência na velocidade de circulação da moeda, no intuito de avaliar sua capacidade de ativar a economia local, ocupando recursos ociosos, principalmente na inclusão da parcela da sociedade que se encontra na periferia do processo econômico. Para tal, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e documental, disponíveis em meio impresso e na rede mundial de computadores. O estudo aponta as moedas sociais como mais um instrumento para potencializar o desenvolvimento da economia local, por ser capaz de aumentar a velocidade de circulação da moeda, por substituição de importações e estímulo a geração de emprego e renda por novas atividades econômicas ao ocupar recursos inutilizados ou subutilizados.

Palavras-chave: moeda social, economia local, base monetária.

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ABSTRACT

This paper presents a study on the design of the coin in the local economy that macro environment its dynamics, its influence on real economy and in the determination of the local currency. In relation to this question was attempted to understand the role of social currency, its relationship with the local monetary base and its influence on the velocity of circulation of money in order to assess their ability to activate the local economy, occupying idle resources, mainly in the inclusion the portion of society that lies at the periphery of the economic process. For this purpose, the methodology used was literature and documentary, available in print and on the world wide web. The study points out the social currency as an additional tool to enhance the local economy, by being able to increase the speed of money circulation, through import substitution and stimulating the generation of employment and income for new economic activities to occupy unused resources or underutilized.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 O PAPEL DA MOEDA NA ECONOMIA ... 12

1.1 CONCEITO DE MOEDA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES ... 12

1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO ... 14

1.3 DIVERGÊNCIAS TEÓRICAS SOBRE OS EFEITOS DA MOEDA NA ECONOMIA . 18 1.3.1 Mercantilistas ... 19

1.3.2 Clássicos ... 22

1.3.3 Keynesianos ... 25

2 O DIMENSIONAMENTO DA MOEDA NA ECONOMIA LOCAL ... 28

2.1 PARTICULARIDADES DA ECONOMIA LOCAL ... 28

2.2 ENDOGENEIDADE OU EXOGENEIDADE DA MOEDA NA ECONOMIA LOCAL . 34 3 MOEDA SOCIAL ... 44

3.1 A MOEDA SOCIAL E SEU PAPEL NO CRESCIMENTO LOCAL ... 44

3.2 BANCO PALMAS, A EXPERIÊNCIA DO PRIMEIRO BANCO COMUNITÁRIO DO BRASIL ... 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 54

REFERÊNCIAS ... 56

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INTRODUÇÃO

O estudo da ciência econômica em relação à macroeconomia é o resultado da Teoria Geral de Keynes e das interpretações posteriores, modelos e relações que têm por base a macroeconomia keynesiana. Esta por sua vez, mesmo criticada por outras escolas, encontra-se disseminada e consensualmente aceita nos seus fundamentos por esquematizar uma macroeconomia nacional e dar lógica a um emaranhado de variáveis. Por outro lado, seu arcabouço teórico tende a ser aplicado na economia nacional e nas unidades da federação e não nas pequenas economias locais, fruto da indisponibilidade de dados econômicos agregados desta pequena economia.

Em relação a essa questão o gestor público, geralmente leigo em economia e mal assessorado, tende, simplesmente a utilizar as ferramentas que dispõe para gestar as contas públicas, ou seja, equacionar receitas e despesas em seu fluxo de caixa, sem verificar o sistema econômico local como um todo. Esta dificuldade é agravada pela estrutura tributária brasileira, concentradora de recursos no governo central e pela indisponibilidade de políticas economias ao gestor público. Com esse quadro de restrições, as pequenas economias locais não têm liberdade de ação para influenciar no seu desenvolvimento, essencialmente dependentes de recursos de níveis superiores de governo para tocar novos projetos.

Por outro lado, vem surgindo iniciativas de instrumentos monetários para interferir no desenvolvimento, não somente ao gestor público, mas também as comunidades organizadas decididas a mudar sua realidade. Esta nova possibilidade são as chamadas moedas sociais, instrumento monetário que em tese tende a dinamizar pequenas economias periféricas, ocupando recursos ociosos, aumentando renda e reduzindo a relação entre necessidades efetivas e necessidades satisfeitas.

A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa bibliográfica e documental, além busca de informações em meio digital acerca do tema. Desta forma para a pesquisa sobre a teoria monetária foi utilizada a bibliografia disponível das duas principais escolas, clássicos e keynesianos além da história da evolução da moeda e o papel da moeda na economia local. Em relação às moedas sociais, por ser um tema com potencial de exploração e sem apresentar uma sistematização geral, foi utilizada a busca por trabalhos, teses, artigos, anais e apresentações de seminários na rede mundial de computadores com relação ao tema, identificando aqueles úteis à proposta deste estudo.

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Sob este foco, o objetivo geral deste trabalho é justamente de dimensionar o papel das moedas sociais na economia local, como este tipo de ação tende a se refletir principalmente aos sujeitos que se encontram excluídos do processo econômico.

Para tal, os objetivos específicos deste trabalho foram fundamentados da seguinte maneira: entender o papel da moeda na economia, compreendendo as divergências teóricas em relação a ela e seus efeitos na economia real, dimensionar o seu papel na economia local e, por último, estudar a experiência do primeiro banco comunitário do Brasil, o Banco Palmas e sua moeda social, o Palmas.

O Capítulo 1 traz a evolução histórica da moeda na economia, suas características e funções como um instrumento potencializador das trocas e consequentemente resultado da evolução do sistema econômico, do escambo a moeda fiduciária atual. Paralelamente é necessário compreender as divergências teóricas em relação à moeda, principalmente a sua neutralidade ou não neutralidade, ou seja, a interação entre o real e o monetário.

O Capítulo 2 traz ao debate o dimensionamento da moeda na economia local com importantes reflexões sobre a base monetária local, resultado do estudo da Teoria da Base Exportadora, da Teoria da Base Econômica e, principalmente, da endogeneidade da oferta de moeda na economia local.

Em sequência, no Capítulo 3 o objetivo é estudar a experiência do primeiro banco comunitário do Brasil, o Banco Palmas, iniciativa implementada pela Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras – ASMOCONP na cidade de Forteleza, estado do Ceará, em 20 de Janeiro de 1998. Trata-se do primeiro banco comunitário do Brasil a emitir uma moeda social própria que circula essencialmente dentro da comunidade, objetivando o fomento a economia local, seja pelo aumento da velocidade de circulação da moeda ou pela expansão da base monetária local. Além de emitir o meio circulante local, o banco também realiza empréstimos em moeda social, tanto para consumo como para investimento, essencialmente desburocratizado e sem cobrança de juros. Em tese esse tipo de iniciativa tende a agregar à produção e ao consumo aqueles recursos inutilizados ou mesmo subutilizados, principalmente recursos humanos que se encontram fora do processo.

Nas Considerações Finais o objetivo é o de sintetizar o estudo em relação à moeda social Palmas, desde a evolução dos instrumentos monetários, sendo que este pode ser

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considerado uma inovação de uma economia local, passando pela teorização de que forma ela poderia afetar a economia real local.

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1 O PAPEL DA MOEDA NA ECONOMIA

Este primeiro capítulo tem como objetivo fundamental dar um breve panorama da evolução da moeda ao longo dos tempos, sua intrínseca relação com o desenvolvimento da sociedade humana e a organização econômica, servindo de base para o estudo das moedas sociais.

1.1 CONCEITO DE MOEDA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES

A evolução da moeda ao longo o tempo serve de base para afirmar a função e as características necessárias para que um instrumento monetário desempenhe bem o seu papel em nosso tempo. Embora sem um conceito aceito universalmente podemos definir moeda como qualquer bem ou instrumento que, aceito por uma coletividade, serve como intermediário de trocas, constitui uma unidade de conta e representa uma reserva de valor. Portanto a moeda pôde adquirir uma materialidade física tanto num bem com valor de uso como apenas em um instrumento que sirva de ponte nas transações, conchas do mar em sociedades primitivas, por exemplo, desde que esse bem ou instrumento seja aceito pela coletividade, ou seja, reconhecido pela sociedade como um todo como viabilizador de trocas.

Primeiramente temos a função de intermediária de trocas como o principal papel que a moeda cumpre no sistema econômico. Segundo Lopes e Rossetti (2005), essa função tornou possível que o maior grau de especialização e de divisão social do trabalho fosse praticado em larga escala, reduzindo o tempo empregado nas transações e eliminado os inconvenientes da necessidade da dupla coincidência de desejos exigida nas economias de escambo. A aceitação geral de uma moeda pela sociedade permitiu um avanço significativo na produção distribuição e bens e serviços, que já não estavam atrelados às mercadorias que tinham primeiramente um acentuado valor de uso para depois ser intermediária de trocas, tanto que para Lopes e Rossetti (2005) esse grau de especialização somente é viável em uma economia monetária. Além do mais, a utilização de moeda diminui o tempo empregado nas transações de compra e venda, dando aos indivíduos uma ampla liberdade de escolha para decidir o que

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comprar, quando comprar e quanto comprar, ampliando o nível de satisfação dos consumidores e a racionalidade e eficiência no uso dos recursos no sistema econômico.

A segunda função é ser uma unidade de conta, ou seja, todos os bens e serviços disponíveis têm seu valor referenciado na moeda vigente o que facilita a efetivação das transações em si, pois em uma economia de escambo o número de transações possíveis seria excessivamente alto, um tipo de valoração para cada tipo de mercadoria, tendendo a ampliar-se na medida em que novos bens e ampliar-serviços fosampliar-sem introduzidos no mercado. Outro ponto de destaque em relação a essa função da moeda é a possibilidade de permitir um gerenciamento das unidades produtoras pela contabilização administrativa das mesmas. Em nível de sistema econômico permitiu a construção e estruturação de novas informações pela padronização em valor monetário único de uma infinidade de bens e serviços transacionados no mercado, podendo então agrupar informações e construir um sistema de contabilidade social (produção, consumo, poupança e investimento, por exemplo). Novamente se ganha racionalidade e eficiência no sistema econômico, além introduzir novas possibilidades no gerenciamento de informações tanto em nível micro como macroeconômico.

Por último, temos a reserva de valor, pois a moeda é por excelência o ativo de maior liquidez possibilitando transacionar de maneira mais eficiente, segundo Lopes e Rossetti (2005, p.22) “por sua liquidez e pelos graus de incerteza quanto às possibilidades futuras de conversão de outras formas de ativo, a moeda é um reservatório por excelência de poder de compra”. A existência de outros ativos financeiros e não financeiros passíveis de mesma função não tiraram da moeda a preferência em se tratando de liquidez, pois qualquer outro ativo de ampla liquidez em uma determinada região não terá a mesma liquidez no país todo além de ser passível de volatilidade em seu preço no mercado.

Dentre as características essenciais que o instrumento monetário deve possuir no desempenho de suas funções, pode-se perceber que ao longo dos diferentes estágios da evolução econômica a moeda foi adicionando características conforme as necessidades dos agentes. Portanto, as características de indestrutibilidade e inalterabilidade, homogeneidade, divisibilidade, transferibilidade e facilidade de manuseio e o transporte são o reflexo do desenvolvimento econômico e da sociedade.

Com relação à indestrutibilidade e inalterabilidade da moeda, trata-se de uma característica com o intuito de perpetuar o seu uso nas transações de modo que não se deteriore, mantendo a confiança do público e sua aceitação geral, além de dificultar sua

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falsificação. A homogeneidade trouxe características de todo o processo histórico pelo que passou a moeda, pois todo instrumento que fosse utilizado para tal teria de ser homogêneo para ser aceito. No escambo, por exemplo, a mercadoria que fosse utilizada na troca teria de ter qualidade compatível com a da outra, possibilitando assim a efetivação da transação; da mesma forma no processo de cunhagem das moedas em metais nobres (ouro e prata) assegurava-se a confiança ao público e a certeza que aquela moeda representava em valor o respectivo peso do metal. Já a divisibilidade teve por objetivo permitir que tanto transações de valor expressivo como as de pequena monta sejam facilmente realizadas, cédulas ou moedas de valor alto e baixo são necessárias para essa característica. A transferibilidade da moeda é a característica que permite uma fácil transferência da posse da mesma entre os indivíduos em inúmeras vezes sem perder suas características, por exemplo, o gado que nos primórdios da história foi utilizado como moeda não tinha presente essa característica. Por último temos a facilidade de manuseio e transporte que trata de sua posse física, fácil de transportar e carregar.

As características essenciais da moeda foram moldadas ao longo do tempo em intrínseca relação com o padrão monetário vigente, mudando-se a moeda aceita pela coletividade mudavam-se as características desejadas, sendo que cada sociedade evoluiu seus instrumentos monetários segundo suas especificidades, mas todas chegaram ao mesmo sistema monetário atual de moeda fiduciária.

1.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO

Quando pensamos em moeda, logo vem à mente as notas e moedas metálicas que possuímos na carteira para transacionar compras, vendas, pagamentos e recebimentos no dia a dia. Essa atitude é tão corriqueira em nossas vidas que muitas vezes não paramos para pensar que nem sempre foi assim, sendo um esforço grande de imaginação localizar o tempo e o espaço onde sociedades primitivas não utilizavam nenhum tipo de moeda. Trata-se de sociedades primitivas com economia igualmente primitiva onde tudo o que era necessário a sobrevivência, alimento, vestes e moradia, por exemplo, eram providos de forma autossuficiente pelo grupo.

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Este panorama começou a mudar a partir da superação do estágio de economias primitivas para divisão do trabalho e especialização produtiva, ocorreu primeiramente na agricultura onde as necessidades internas do grupo eram suficientemente atendidas pela produção que ainda gerava excedentes.

Uma vez plenamente estabelecida a divisão do trabalho, é muito reduzida a parcela de necessidades humanas que pode ser atendida pela produção individual do próprio trabalhador. A grande maioria de suas necessidades, ele a satisfaz permutando aquela parcela do produto de seu trabalho que ultrapassa o seu próprio consumo, por aquelas parcelas da produção alheia de que tiver necessidade (SMITH, 1996, p.81).

A geração de excedentes possibilitou a troca desses bens por outros bens mediante coincidência de desejos, essa relação denominada de escambo, possibilitou a origem do primeiro tipo de moeda a ser utilizada.

À medida que ocorriam trocas de mercadoria por mercadoria sem equivalência de valor, determinados produtos adquiriam maior importância com relação aos outros. Essa ampla aceitação por diferentes grupos, somada principalmente ao seu valor de uso, deu a determinadas mercadorias a condição de se tornar uma moeda. As moedas mercadorias, como se denominam as primeiras moedas, eram diferentes de acordo com a época e a região do mundo, mas sempre estavam ligadas ao valor de uso, principalmente com relação às necessidades básicas do ser humano de alimentar-se e vestir-se. São exemplos: gado, animais domésticos, cereais, peles, tecidos, metais etc.

Com o desenvolvimento contínuo da produção, somado a ampliação do leque de bens criados pelo homem, começaram a haver impedimentos com relação à continuidade do uso das moedas mercadorias deste tipo, isto por que elas não preenchiam todos os requisitos necessários a um instrumento monetário no desempenho de suas funções. Por exemplo, as moedas mercadorias não eram homogêneas, implicando na ausência de um padrão de referência no seu recebimento, muitas vezes eram de difícil transporte e também de divisão, além de somar função essencial de um instrumento monetário, a troca, o seu valor de uso, comprometendo a sua função principal.

Foi apenas uma questão de tempo até que houvesse uma transição do uso de moedas mercadorias tradicionais para um novo instrumento monetário que acabaria por dinamizar e simplificar as relações comerciais na economia, as moedas metálicas. O processo de

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cunhagem de metais, o chamado metalismo, acabou viabilizando de forma satisfatória as funções monetárias que não estavam presentes nas moedas mercadorias, permitiu sua divisibilidade e mobilidade além de não haver a sobreposição de valor de uso e de troca tão acentuada. Essa padronização era verificada principalmente quando o processo de cunhagem ficou sob-responsabilidade do Estado, sendo que primeiramente eram utilizados metais não nobres como o cobre, o bronze e o ferro e posteriormente abandonados pelos metais nobres como prata e ouro.

Segundo Lopes e Rossetti (2005) podemos dizer que os dois fatores primordiais para a evolução do instrumento monetário vigente, que até então era fundamentado na moeda metálica, foi o aumento das atividades de produção conjugado principalmente ao comércio realizado dentro e fora dos limites territoriais dos Estados. Na verdade trata-se de uma evolução e não de uma transição completa do instrumento monetário, ou seja, as moedas de ouro ou prata continuaram sendo a base de todos os pagamentos ou recebimentos, mas ocorreu paralelamente o aparecimento de um novo tipo de moeda, a moeda-papel. Esta, por sua vez, era emitida por decorrência do depósito de ouro ou prata nas chamadas casas de custódia, instituições que guardavam sob garantia metais monetários com a posterior emissão de um certificado de depósito totalmente lastreado e com garantia de sua conversibilidade, razão pela qual também é conhecida como moeda representativa.

Este novo instrumento facilitou as transações do comércio com relação aos entraves dos metais no transporte pelo seu peso e risco de roubo, tornou da moeda-papel um instrumento mais flexível que contornou essas dificuldades além de facilitar operações de crédito.

A moeda encontra-se no seu mais perfeito estado quando é constituída totalmente de papel-moeda, mas papel-moeda de valor equivalente ao ouro que ela expressamente representa. A utilização de papel-moeda em lugar de ouro substitui o meio mais caro, e possibilita ao país, sem prejuízo para ninguém, trocar todo o ouro que antes utilizava com este fim por matérias-primas, utensílios e alimentos, com os quais aumenta sua riqueza e suas satisfações (RICARDO, 1996, p.265).

Na medida em que o uso da moeda-papel foi se generalizando cada vez mais, os dirigentes das casas de custódia perceberam que havia um descompasso entre os saques e os depósitos de metais monetários em suas instituições, ou seja, nem todos os certificados de

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depósitos emitidos pelos mesmos eram convertidos em metal ao mesmo tempo, dando margem de manobra para a emissão de certificados que não eram totalmente lastreados. Esse processo ocorreu de forma progressiva pela fidúcia adquirida por seus dirigentes ao longo do tempo e abriu caminho para um novo tipo de moeda, o papel-moeda, ora não mais totalmente lastreado.

A emissão descontrolada de papel-moeda pelas casas de custódia conduziu a crises sistemáticas no sistema monetário e financeiro que com o chamado “efeito manada”, corrida de depositantes para o saque de seus certificados, tanto que vários bancos ruíram em distintas épocas pela falta de confiança nas garantias ou rumores de que a instituição estivesse em dificuldades financeiras.

Esse processo culminou com a falência do sistema como um todo, onde então os Estado Nacionais assumiram a responsabilidade pela emissão e gestão da moeda. Estes por sua vez formataram diversas formas de regulação do sistema com relação ao lastro metálico, desde cobertura integral como da Inglaterra em 1844 (Pell Act), passando por reserva proporcional de 30% da Alemanha e de teto máximo de emissões sem relação com o encaixe metálico da França de 1870 a 1928. Atualmente, os sistemas fiduciários mundiais em sua totalidade contemplam o monopólio estatal das emissões, a inconversibilidade absoluta e a inexistência de lastro metálico.

Por fim, em sua última etapa evolutiva, a moeda assume sua forma bancária no século XIX quando a “independência do poder decisório dos departamentos bancário e monetário do Banco da Inglaterra leva a uma expansão dos meios de pagamento pela livre movimentação de depósitos a vista por meio de cheques” (LOPES E ROSSETTI, 2005, p.35) resultando num efeito multiplicador dos mesmos. De certa forma, a moeda-escritural como também é conhecida, nasceu da mesma percepção ocorrida no surgimento do papel-moeda, ou seja, a improbabilidade matemática de que todos os correntistas saquem ao mesmo tempo seus depósitos dá aos bancos comerciais uma característica única de criar moeda.

As moedas-escriturais juntamente com o papel moeda adquiriram um papel muito importante para o estágio atual do desenvolvimento do sistema econômico; já que transcendeu toda e qualquer característica que dificultava o desempenho das funções essenciais dos instrumentos monetários, ou seja, perdeu a justaposição de valor de uso e do valor de troca das moedas mercadorias e eliminou as dificuldades de transporte e segurança das moedas metálicas.

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Em resumo, as duas formas convencionais de moeda hoje utilizadas, moeda fiduciária e moeda bancária, constituem, apenas e fundamentalmente, um valor de troca. “Integralmente desmaterializadas, não apresentam nenhuma utilidade para a direta satisfação das necessidades humanas e prestam apenas os serviços inerentes à sua liquidez” (LOPES E ROSSETTI, 2005, p.36).

É necessário salientar, que o estágio atual da moeda não é estático, principalmente pelo rápido desenvolvimento de novas tecnologias que poderão num futuro próximo eliminarem por completo o uso do papel-moeda como o conhecemos.

1.3 DIVERGÊNCIAS TEÓRICAS SOBRE OS EFEITOS DA MOEDA NA ECONOMIA

Conforme vimos anteriormente, o desenvolvimento de um instrumento monetário eficiente ocorreu em paralelo ao desenvolvimento da sociedade, tanto em relação ao sentido de um conjunto de pessoas (comunidade) que necessita da interação com outras via trocas de bens, como pela capacidade única de produzir os mais diversos bens e serviços através da divisão do trabalho e especialização produtiva. Ademais, esse processo trouxe um inegável desenvolvimento econômico e um sistema monetário que de tão complexo está na pauta de debate dos filósofos e economistas muito antes do nascimento da economia como ciência. A importância da moeda como parte indissolúvel da economia real suscitou discussões teóricas dos seus efeitos, tanto na produção como no sistema financeiro propriamente dito.

O pensamento econômico trouxe ao longo do tempo uma evolução no estudo da moeda, pela intima ligação que esta tem com o produto econômico e pelas relações resultantes dessa interação, que atingem tanto o fluxo monetário quanto o de produção. Tendo as funções de meio de troca, de reserva de valor e de unidade de conta, a moeda adquiriu demasiada importância para o sistema econômico. Metaforicamente, assim como o sangue no corpo humano, a moeda e o crédito são o fluído da economia.

Tal importância se refletiu em divergências teóricas latentes entre os diferentes autores quanto a seus efeitos nos preços e na demanda da produção, além das decisões dos agentes a demandar moeda. Ademais o foco de análise deste trabalho está na centralidade das seguintes questões: neutralidade ou não neutralidade da moeda na produção e demanda

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econômica, sua endogeneidade ou exogeneidade ao sistema econômico, ou seja, se o nível de moeda em determinada economia é determinado ex ante (exogeneidade) pela atuação da autoridade monetária ou ex post (endogeneidade) determinado a partir da interação dos agentes econômicos e o nível de produção e transações no sistema.

1.3.1 Mercantilistas

Antes mesmo do nascimento da ciência econômica vários filósofos já haviam inferido algumas proposições sobre o papel da moeda, Aristóteles, por exemplo, já havia formulado a ideia de moeda como meio de troca e padrão de valor. Segundo John F. Bell (apud LOPES E ROSSETTI, 2005) foi Aristóteles que deduziu.

Muitas coisas necessárias à vida não são facilmente transportáveis, razão que levou os homens a empregar em suas transações algo intrinsecamente útil e facilmente aplicável aos propósitos comuns da vida, como o ferro, a prata e coisas similares; esses bens são um veículo de troca e um repositório de valor, de vez que constituem um padrão universal de medição, sobre o qual há geral concordância. Suas idéias foram mais bem entendidas do qualquer outro pensador durante mais de mil e quinhentos anos após sua existência (apud LOPES, ROSSETTI, 2005, p. 185).

O fato é que durante um longo período de tempo o pensamento econômico a respeito da moeda permaneceu estagnado, ficando muito mais focado em aspectos de moral e ética sobre o acúmulo de riqueza e da cobrança de juros sobre empréstimos de moeda. Somente após o surgimento do Mercantilismo e sua premissa básica de acúmulo de metais preciosos se registra na história novas reflexões.

A rápida expansão do comércio entre as diferentes nações durante a época do Renascimento exigiu um expressivo aumento da base monetária, que naquele momento constituía-se de moedas metálicas, mais especificamente de metais preciosos como o ouro e a prata. A quantidade disponível desses metais era insuficiente para o volume de comércio e exigiu das nações uma incessante busca pelos mesmos, formando assim a tese central da política econômica dos Estados Nacionais, o acúmulo de metais preciosos como forma representativa de riqueza. Parece que é a partir deste ponto da história que o homem começa a criar dentro de sua mente um fetichismo pela moeda, fruto em grande parte dessa tese e do poder de troca imediato com a posse do mesmo.

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Que a riqueza consista no dinheiro, isto é, no ouro e na prata, é uma idéia popular que deriva naturalmente da dupla função do dinheiro, como instrumento de comércio e como medida de valor. Pelo fato de ser instrumento de comércio, quando temos dinheiro temos maior facilidade de conseguir mais prontamente, do que por meio de qualquer outra mercadoria, tudo aquilo de que possamos ter necessidade. Pensamos sempre que o grande problema e o grande negócio é ter dinheiro. Dispondo dele, não há dificuldade alguma em fazer qualquer outra compra. Pelo fato de ser o dinheiro a medida do valor de outras coisas, calculamos o valor de todas as demais mercadorias pela quantidade de dinheiro pela qual podem ser trocadas. Dizemos que um rico vale muito dinheiro, e que um pobre vale muito pouco dinheiro (SMITH, 1996, p. 415).

O Bulionismo caracterizou a primeira fase do Mercantilismo, sendo que esse acúmulo de metais dava-se por meio da pilhagem no Mundo Novo, recém-descoberto, além de políticas restritivas da saída desses metais de dentro dos Estados. Neste período em que a riqueza era sinônimo de metais preciosos a voracidade dos Estados Nacionais era tal que Adam Smith foi muito feliz ao demonstrar o principal, se não único condicionante para o estabelecimento de novas colônias pelas potências coloniais:

Durante algum tempo após a descoberta da América, a primeira pergunta dos espanhóis, quando chegavam a alguma costa desconhecida, costumava ser esta: há ouro e prata nas imediações? Conforme a informação que recebiam, julgavam se valia a pena estabelecer uma colônia ali ou se valia a pena conquistar a região (SMITH,1996, p.415).

A segunda fase manteve a tese central e alterou apenas a forma pelo qual o metal era obtido, pois a prática adotada era a da balança comercial favorável por meio de políticas de fomento a exportação e redução das importações a fim de assegurar a não saída dos estoques monetários. Na medida em que os Estados Europeus iam se transformando em grandes Estados comerciais os principais agentes responsáveis por essa transformação, os comerciantes se demonstravam extremamente descontentes com tal proibição na medida em que esta inviabilizava a compra de bens de outros Estados Nacionais e, portanto dificultava a realização de novos negócios. Já o fluxo desses metais oriundos principalmente das Américas era destinado em grande parte para a Espanha, sendo responsável por um longo período inflacionário não só no país como em toda Europa pelo contrabando ilegal dos mesmos.

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Foi exatamente nesse período que os estudos a respeito da moeda tomaram novo impulso, a inflação dos preços no século XVI entre as décadas de 30 e de 90 motivaram a discussão sobre o papel da moeda no funcionamento da economia das nações.

Uma das mais conhecidas tentativas nessa direção foi a desenvolvida por Jean Bodin, um filósofo-político que viveu justamente neste período inflacionário. Bodin manteve uma interessante polêmica com Malestroit, o controlador da Casa da Moeda na França, sobre as causas da inflação seiscentista. Enquanto Malestroit dizia que a elevação dos preços era função da queda do intrínseco dos metais preciosos, Bodin procurou evidenciar, em documentos editados em 1566 e 1578, Reponse aux paradoxes de Monsieur de Malestroit, que a subida dos preços era causada pela abundância de ouro e prata. Embora tenha citado outros fatores, a elevação da quantidade da moeda foi dada como a causa básica dos surtos inflacionários. De fato, ao longo do período citado, a afluência de ouro e prata aos portos de Sevilha, acrescida do contrabando desses metais para a França, a Inglaterra e o resto da Europa, provocara uma violenta inflação. Pode-se assim atribuir a Bodin a formulação concisa, porém original, da teoria quantitativa da moeda, que explica as variações dos preços por mudanças introduzidas na quantidade de moeda (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 186).

Segundo diversos autores que estudaram as relações da moeda dentro do sistema econômico, o mérito de Bodin não foi total com relação à teoria quantitativa de moeda porque sua explicação foi considerada bastante incipiente e elementar, além do fato de não ser sua preocupação central o estudo a partir do viés econômico do fenômeno.

Mais tarde, vale destacar a contribuição de John Locke (apud LOPES E ROSSETTI, 2005, p. 187) em seu trabalho, Consequences on the lowering of interest and rasing the value

of money (1962), que adiciona nova contribuição na teoria quantitativa da moeda por sua

intuição ao conceito de velocidade da moeda. Sua argumentação parte da ideia de que o valor da moeda com relação aos produtos e serviços não depende somente da quantidade metais e de bens, mas também da velocidade de sua circulação. O conceito de Locke a respeito da velocidade da moeda foi usado para demonstrar que aumento da velocidade tem o mesmo efeito que aumentos na oferta monetária.

Outro pensador foi John Law (apud LOPES E ROSSETTI, 2005, p 187.), um financista escocês que desenvolveu um conjunto de ideias sobre as relações entre oferta a moeda e a atividade econômica no seu livro Money and Trade Considered. Na prática procurou verificar que aumentos na oferta de moeda acabariam levando ao incremento do

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comércio e consequentemente das atividades produtivas. Este foi responsável pela criação do Banco Real da França e de uma companhia de comércio onde pode por em prática suas ideias via emissão de papel-moeda sem lastro de metal, sendo que a garantia era o valor das terras do governo. Naquele tempo essa inovação que é tão presente em nossos dias mostrou-se um fracasso pela perda de confiança do público, muito embora os autores levem a crer que houve superexpansão da oferta monetária que por fim ocasionou a quebra do sistema.

Segundo Lopes e Rossetti (2003) novas contribuições ao estudo da moeda vieram a partir da publicação do estudo de Richard Cantillon no trabalho Essay sur la Nature Du

Commerce en Géneral de 1755. Sua argumentação foi especialmente bem sucedida por

relacionar as três principais variáveis onde as variações da moeda levam a variações da demanda e consequentemente levam a variações de preços. Demonstrou também as vantagens da liquidez, ou seja, a essência de liquidez é a moeda e consequentemente possuí-la dá a seu detentor maiores vantagens a outro com maior riqueza, porém menos líquida.

1.3.2 Clássicos

Os economistas clássicos rejeitaram totalmente a tese central do pensamento mercantilista de que a riqueza de uma nação era fundamentada pela quantidade de metais preciosos e enveredaram ao longo da história para a defesa do pensamento quantitativista da moeda. A transição do mercantilismo para o liberalismo clássico ficou a cargo de filósofos como David Hume, que afirmou que a verdadeira riqueza de uma sociedade era sua força de trabalho e as mercadorias resultantes dessa interação, além de destacar que o preço é uma relação entre o nível de moeda e o nível do produto, podendo variar mediante qualquer alteração dessas variáveis.

Adam Smith em sua obra mais conhecida, Wealth of Nations, foi enfático ao afirmar que a riqueza de uma nação não era dada pelo nível de estoques de metais preciosos e que moeda serviria apenas de véu para as transações do produto. A moeda era considerada simplesmente um meio de pagamento e o aumento dos estoques desses metais acabariam ocasionando elevação interna dos preços, com o consequente aumento das importações e o fluxo desses metais para fora do Estado.

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As afirmações de Smith que a moeda é simplesmente um meio de pagamento e que um sistema de papel-moeda bem gerido supre até com maior eficiência essa demanda nos revela a centralidade de seu pensamento, a moeda é neutra em relação ao produto, visto que o sistema sempre opera em equilíbrio, portanto somente interfere no nível geral de preços, mas não nos preços relativos que está relacionado à alocação de recursos.

Se, não obstante tudo isso, o ouro e prata em algum momento estivessem aquém da demanda efetiva, em um país que tivesse com que comprar esses metais, seria muito mais fácil substituí-los do que importar, em geral, qualquer outra mercadoria. Se houver falta de matérias-primas para a indústria, esta tem que parar. Se faltarem os gêneros alimentícios, a população passa fome. Mas se faltar dinheiro, o escambo supre a sua falta, embora com muitos inconvenientes. Para remediar esses inconvenientes, poder-se-á comprar e vender a crédito, ou então, os diversos comerciantes poderão compensar seus créditos entre si, uma vez por mês ou uma vez por ano. Por outro lado, um sistema de papel-moeda bem organizado pode suprir a falta de dinheiro em moeda, não somente sem inconveniente algum, mas até, em certos casos, com algumas vantagens. Em qualquer eventualidade, portanto, nunca a preocupação do Governo seria tão supérflua como quando está voltada para vigiar a conservação ou o aumento da quantidade de dinheiro em um país (SMITH, 1996, p.421).

A principal controvérsia, tanto na teoria como nas emissões de papel-moeda dos bancos centrais, passou a ser qual seria o nível ótimo da oferta monetária que não gerasse distúrbios inflacionários. Dois blocos antagônicos foram formados, de um lado a Currency

School e de outro a Banking School, sendo que essa divergência teve como principal

deflagrador a suspensão da conversibilidade das notas emitidas pelo Banco da Inglaterra.

O evento que deu origem à controvérsia foi a suspensão, determinada pelo Banco da Inglaterra, do resgate de suas notas por barras de ouro, durante o período das guerras napoleônicas. Com isso, desde o final do século XVIII e durante as primeiras décadas do século XIX, a taxa de câmbio da moeda inglesa (libra esterlina) se depreciou e os metais preciosos eram cotados a preços superiores em relação à moeda-papel. Essa tendência se acentuou ainda mais com o entesouramento do ouro e a consequente necessidade de suplementação da oferta monetária por notas de emissão do Banco da Inglaterra (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 189).

A Currency School afirmava que emissões de papel-moeda em excesso acabariam por gerar distúrbios nos preços, depreciando ao mesmo tempo a moeda e a taxa de câmbio, sendo recomendado o controle da oferta de moeda. Portanto, a moeda era considerada uma variável exógena e neutra, sendo determinada pelas autoridades monetárias que deviam zelar

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pelo seu poder de compra e que o nível geral de preços da economia estava em função da oferta monetária:

P = f(M) onde: P = Nível Geral de Preços e M = Oferta Monetária

O pensamento de Ricardo (1996, p. 259) estava alinhado com essas afirmações,

defendendo emissões bem reguladas de papel-moeda que não interferiam nos preços pois: “o dinheiro em circulação jamais pode ser tão abundante que se torne excessivo, pois, ao

diminuir seu valor, na mesma proporção aumenta sua quantidade, e, ao aumentar seu valor, diminui sua quantidade”.

A totalidade dos negócios que o conjunto da sociedade pode realizar depende do montante de seu capital, isto é, de suas matérias primas, máquinas, produtos alimentícios, navios etc. empregados na produção. Depois de se estabelecer um papel-moeda devidamente regulamentado, o capital não pode aumentar ou diminuir com as operações bancárias. Então, se coubesse ao Estado o poder de emitir papel-moeda, embora nunca descontasse uma letra ou emprestasse um xelim ao público, não aconteceria alteração alguma no montante dos negócios, pois teríamos a mesma quantidade de matérias-primas, máquinas, produtos alimentícios e navios (RICARDO, 1996, p. 268).

Já a Banking School posicionava-se de forma totalmente contrária afirmando que a moeda é uma variável endógena do sistema, mas também neutra, as necessidades dos negócios é que deveria determinar sua quantidade e o seu controle não era benéfico, reduzindo os negócios. Portanto a oferta de moeda estava em função do nível de preços.

M = f(P)

Portanto para os clássicos a despeito de suas divergências quanto à endogeneidade ou exogeneidade da oferta de moeda, são categóricos em afirmar que a moeda é neutra no longo prazo em relação às variáveis reais da economia, ou seja, a produção, o emprego e, nem mesmo a taxa de juros é afetada pelo aumento ou diminuição da base monetária. Ainda admitindo que esta não é neutra no curto prazo, a moeda no modelo clássico serve apenas de véu para as transações, visto que a economia opera sempre no pleno emprego e uma oferta

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bem regulada a partir de uma política monetária é suficiente para manter o nível de preços dentro do nível tolerado.

Os clássicos afirmam que não existe desemprego involuntário, pois todo e qualquer recurso será empregado mesmo que ocorra alguma defasagem de tempo para tal, visto que a oferta cria sua própria demanda (Lei de Say), o que indica que uma expansão da produção global elevará a renda e por fim elevará o consumo dessa produção. Se o nível de consumo agregado por algum motivo não acompanhar o de produção o livre mercado tratará de ajustar a produção e o consumo, já no mercado monetário os saldos ociosos de moeda, poupança (S) se deslocariam derrubando a taxa de juros (i) que por fim induziriam ao acréscimo do investimento (I) retornado novamente ao pleno emprego dos fatores. Essa premissa básica dos clássicos de que a economia sempre opera no pleno emprego e que eventuais distúrbios de curto prazo logo são superados caracteriza-se o ponto central da teoria. A flexibilidade total dos agentes para determinarem salários e os preços permite que a economia opere sempre em plena produção e que toda ela será consumida seja qual for seu nível. Logo as principais políticas macroeconômicas disponíveis ao governo para interferir nas variáveis reais são ineficazes em seu objetivo. A política fiscal irá afetar os juros pela alteração da distribuição do consumo e investimento governamental e privado e a política monetária que poderia agir diretamente sobre a demanda agregada, perde toda sua eficácia, visto que a economia sempre opera no pleno emprego dos fatores, se resumindo aos distúrbios nos preços.

1.3.3 Keynesianos

Keynes foi considerado um divisor de águas no pensamento econômico por rejeitar a passividade do modelo clássico na solução dos problemas econômicos e introduziu novos aspectos com relação à moeda. A moeda ganha um papel importante na sua teoria por seu aspecto de não neutralidade nas variáveis reais da economia, sendo considerada não apenas como um véu que ocultava as variáveis econômicas centrais, mas sim, além de um meio de troca para as transações, também se caracterizava por ser uma importante reserva de valor.

Keynes introduziu a incerteza frente ao determinismo dos clássicos, pois o desenvolvimento das economias capitalistas proporcionou também as condições para que um

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sistema financeiro refinado fosse gerado. A aplicação da renda não consumida em produtos financeiros no sistema bancário rende juros e estes por sua vez seriam os grandes responsáveis por atrair ou não esses recursos, portanto a decisão de se desfazer da liquidez em sua essência tem consequências na determinação da taxa de juros. Desta forma, Keynes adicionou a especulação no rol dos motivos da demanda por moeda, ou seja, além do motivo transação e precaução.

Para Keynes (1996) a demanda por moeda é resultado dos negócios, do nível de atividade do sistema econômico, mas que a especulação introduz mais um elemento na equação, pois os agentes podem demandar moeda para especular no mercado de títulos com o intuito de obter ganhos futuros.

Em circunstâncias normais, o volume de moeda necessário para satisfazer os dois motivos, transação e precaução, é principalmente o resultado da atividade geral do sistema econômico e do nível da renda nacional em termos monetários. Todavia, a administração monetária (ou, em sua ausência, as mudanças fortuitas que podem advir da quantidade de moeda) faz sentir seu efeito sobre o sistema econômico por sua influência sobre o motivo-especulação. Isso porque a demanda de moeda para satisfazer os motivos anteriores é, em geral, insensível a qualquer influência que não a de uma alteração efetiva na atividade econômica geral e no nível da renda, ao passo que a experiência mostra que a demanda de moeda para satisfazer o motivo-especulação varia de modo contínuo sob o efeito de uma alteração gradual na taxa de juros, isto é, há uma curva contínua relacionando as variações na demanda de moeda para satisfazer o motivo-especulação com as que ocorrem na taxa de juros, devidas às variações no preço dos títulos e às dívidas de vencimentos diversos (KEYNES, 1996, p. 199).

Portanto, para Keynes a moeda deixou de ser mera coadjuvante no sistema econômico para ganhar um papel ativo como um instrumento importante na busca do pleno emprego, pois em momentos em que o equilíbrio fosse abaixo do pleno emprego a moeda teria um papel importante. Sua interferência indireta na demanda agregada via formação da taxa de juros, acaba por condicionar os investimentos que por fim afetam a produção e o nível de emprego.

Podemos perceber que as divergências teóricas entre os clássicos e Keynesianos trazem ao menos um ponto de convergência: a moeda não é neutra, para os clássicos apenas no curto prazo e para os Keynesianos no curto e longo prazo. Nenhuma das reflexões teóricas mais recentes conseguiu alterar a centralidade do debate.

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O Quadro 1, abaixo, clarifica as diferenças entre os pensamentos Clássico e Keynesiano:

Quadro 1 – Modelo Clássico e Keynesianos comparados.

A moeda no modelo clássico A moeda no modelo Keynesiano

● A moeda serve apenas como intermediária de trocas. Ninguém retém moeda pela moeda, já que se admite a existência de outros ativos que desempenham a função reserva de valor melhor que os ativos monetários.

● A moeda determina apenas o nível geral de preços, não afetando, contudo, a estrutura dos preços relativos, a qual está ligada ao processo de alocação dos recursos. As mudanças que porventura venham a se verificar na estrutura dos preços relativos são determinadas por fatores reais, não monetários. Assim, a moeda não afeta a produção nem o emprego, determinando apenas o nível geral dos preços e os salários nominais.

● A moeda não afeta de forma permanente a taxa de juros. Esta é um fenômeno real, determinado pela parcimônia e pela produtividade marginal do capital. Os possíveis efeitos da moeda sobre a taxa de juros são apenas transitórios.

● A moeda age diretamente sobre a demanda agregada de bens e serviços. Mas, dado que a economia opera em permanente situação de pleno emprego, este tipo de ação afeta apenas os preços, não o nível de emprego. Essa ação da moeda pode ser assim sintetizada.

● ∆ Moeda → ∆ Demanda Agregada → ∆ Preços.

● A moeda é desejada pelos agentes econômicos como reserva de valor. Dependendo das variações futuras das taxas de juros, ela pode ser fonte de importantes ganhos de capital.

● A moeda, via taxa de juros, afeta o nível dos investimentos e, conseqüentemente, a demanda agregada no mercado do produto. Afeta, portanto, a produção e o nível do emprego.

● A moeda determina a taxa de juros. Em Keynes os juros são considerados um fenômeno exclusivamente monetário, significando um prêmio que os agentes econômicos recebem por abrir mão de liquidez.

● A moeda age, indiretamente, sobre a demanda agregada no mercado do produto, afetando assim o setor real da economia. Essa ação pode ser assim sintetizada:

● ∆ Moeda → ∆ Taxa de Juros → ∆ Investimento → ∆ Demanda Agregada.

Fonte: Lopes, Rossetti (2003, p. 172-174).

Este debate teórico está longe de acabado, ficando aos sucedâneos dos clássicos e de Keynes o desafio da definição da neutralidade ou não da moeda, embora, no curto prazo, todos já admitem que a moeda afeta a parte real da economia, hipótese esta ora assumida nesse trabalho, pois como diria Keynes, “o longo prazo é formado de curtos prazos”.

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2 O DIMENSIONAMENTO DA MOEDA NA ECONOMIA LOCAL

No capítulo anterior o ponto central do estudo foi a discussão entre as diferentes teorias monetárias e suas relações aos efeitos reais no nível de produção e emprego, neutralidade ou não neutralidade da moeda, quando ocorrem variação dos estoques monetários de determinada economia. Também foram discutidas as divergências se este estoque deveria ser determinado exogenamente, a partir da autoridade monetária competente, ou seria mesmo determinada pelos agentes econômicos e sua necessidade nos negócios. Neste capítulo o foco de discussão continua no mesmo tema, mas isto a partir de um outro recorte territorial de estudo, as pequenas economias locais representadas pelos municípios na contemporânea estrutura federada brasileira.

2.1 PARTICULARIDADES DA ECONOMIA LOCAL

Segundo os questionamentos de Kohler (2003) e partindo-se do pressuposto que a moeda afeta a parte real da economia, pode-se indagar quais os determinantes da oferta monetária local? Seria ela endógena ou exógena?

Estes são questionamentos de relevância para o entendimento da economia local, visto que tudo acontece em nível municipal, seja no âmbito social ou econômico. É exatamente neste espaço que a roda da economia gira, com a consequente geração de empregos e renda, produção e consumo, que resultam em bem estar e satisfação da sociedade.

Para Kohler (2003), as economias locais têm especificidades próprias quando comparadas ao nível macro dos Estados Nacionais por que suas economias são extremamente abertas às transações para fora do território, pelo livre fluxo de bens, serviços, capitais, rendas e fatores de produção. Esta é uma característica que não está presente nem mesmo no bloco econômico mais integrado do mundo, a União Européia (UE), por exemplo. Além do mais os agregados macroeconômicos tão importantes para o estudo e determinação de medidas intervencionistas não estão disponíveis, há escassez de indicadores para diagnosticar, prognosticar e intervir na economia local.

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Especificamente em relação aos municípios, o habitat das unidades familiares, encontra-se um modelo ideal de economia aberta visto que o fluxo dos fatores de produção e bens e serviços é totalmente livre, sem barreiras alfandegárias, tributação diferenciada ou outro condicionante (KOHLER, 2004, p. 96).

Como vimos no primeiro capítulo deste trabalho, a sociedade humana primitiva produzia todo o leque de bens necessários a sua sobrevivência e praticamente não era necessário transacionar produtos, alimentação, vestes e moradia eram providas de forma autossuficiente. A evolução da organização econômica via divisão do trabalho e especialização produtiva proporcionou o despertar de novas necessidades humanas concomitante a impossibilidade da autossuficiência, tanto as famílias quanto aos territórios

No sistema capitalista, quanto menor for uma região ou um espaço socioeconômico determinado, menor a possibilidade de produção relativa às necessidades de consumo interno, tornando-se providencial a obtenção de recursos para a importação de bens e serviços de outras regiões (KOHLER, 2003, pg. 85).

Assim o fluxo de comércio ganhou importância visto que é necessário importar bens e serviços (M) que não são produzidos internamente e são demandados pelas famílias. Doutra forma a exportação (X) de bens e serviços que também é necessária por agregar demanda externa à produção local, aumentando a escala e reduzindo os custos médios de produção, além racionalizar o uso dos fatores produtivos. Por outro lado, temos o fluxo monetário (renda) oriundo destas transações e a consequente desagregação de renda interna no caso das importações e agregação da mesma nas exportações. Se, por um lado, tem-se a necessidade de importar bens e serviços não ofertados internamente e consequentemente enviar renda interna para fora dos limites territoriais, por outro há a necessidade de haver renda para isso, seja ela gerada pela dinâmica interna ou pela entrada de capitais externos que financiem esse processo.

Logo o que acontece em economias locais empobrecidas que, por total indisponibilidade ou subutilização de riqueza, capacidade produtiva, base monetária, fatores de produção se veem num círculo vicioso de improdutividade, ociosidade e necessidades insatisfeitas?

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Com base nessa questão, fica explicito que uma economia local qualquer tem um estoque de capacidade produtiva e de recursos, determinante para seu nível de desenvolvimento e consequentemente os fluxos de produção e fluxos monetários serão resultantes dessa dinâmica.

Antes de nos aprofundarmos em suas conclusões temos que acrescentar a Teoria da Base Exportadora e da Base Econômica como importante instrumento de análise no estudo, pois através destas teorias se verifica um inter-relacionamento com o fluxo de rendas e de comércio na determinação da base monetária e no crescimento econômico local.

Para Souza (2008) a questão do comércio internacional apresenta duas estratégias de crescimento econômico: uma voltada para fora segundo as vantagens comparativas com substituição seletiva de importações, ou seja, uma economia relativamente aberta ao setor externo. A outra por sua vez apoia-se num setor externo fechado com um processo de substituição das importações amplo, voltado ao crescimento com base no mercado interno em que as exportações cresçam marginalmente.

Na primeira temos uma estratégia de crescimento orientado para fora com a promoção de exportações sem abdicar totalmente de alguma substituição de importações, pois segundo Krueger (apud SOUZA, 2008, p. 272) favorece a competição, especialização e economia de escala. Na segunda estratégia, conforme Souza (2008), o processo de substituição de importações via medidas protecionistas envolve custos sociais que se traduzem em capacidade ociosa e menor produtividade dos fatores, ou seja, a sociedade paga o custo da ineficiência.

A teoria da base exportadora supõe que os mercados internos das regiões não são suficientemente grandes para manter elevadas taxas de crescimento e que o aumento da escala das firmas pelas exportações reduz os custos médios, aumenta os lucros e os investimentos. A expansão das exportações possibilita obter demanda adicional para a produção excedente de alguns setores (SOUZA, 2008, p. 273).

Sob esse aspecto de que o crescimento econômico ocorra pela promoção de um setor exportador, a Teoria da Base Exportadora relaciona então, dois setores distintos no crescimento econômico local, o básico que se refere aos bens e serviços alocados

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externamente e agregam renda externa na economia local e o não básico que são consumidos internamente destinados ao mercado interno.

Segundo Souza (1980) as atividades básicas independem do nível da renda interna, pois esses bens e serviços são consumidos no exterior, ou seja, dependem do nível de renda externo. O setor básico constitui então, o motor do crescimento regional por irradiar efeitos multiplicadores sobre as atividades não básicas, sendo que esta economia poderá crescer mesmo que sua sociedade não esteja expandindo renda, contanto que o setor básico agregue renda externa. Por outro lado, as atividades não básicas estarão condicionadas pela distribuição de renda interna e pelas interdependências ao setor dinâmico.

Portanto para Souza (2008) a centralidade está no fato de que o crescimento das exportações (X) oriundas do setor básico irradia efeitos positivos no mercado interno, ou seja, o setor não básico ou não exportador (N).

Uma base exportadora dinâmica e diversificada, historicamente, tem estimulado o crescimento de diferentes regiões e países, não apenas porque elas constituem parte do produto total, mas principalmente porque exercem efeitos multiplicadores sobre o crescimento do setor de mercado interno (SOUZA, 2008, p. 273).

Na medida em que a estrutura de produção vai se adaptando ao crescimento de renda externa e não mais segundo a dinâmica interna, ocorre progressivamente, a ampliação do leque de bens e serviços importados, principalmente os tecnológicos destinados a suprir a demanda interna sendo que consequentemente as exportações se tornam mais importantes para financiar esse processo.

A partir da aceleração do processo de industrialização interna é que reside a distinção, segundo Souza (1980), entre a Teoria da Base Econômica a Base Exportadora, pois através desse processo as exportações deixam de ser a variável com maior parcela de explicação da renda interna. Surgem outras variáveis, como o nível de investimentos nas atividades locais, as construções residenciais, o nível de gastos do governo local que são importantes na determinação da renda interna.

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Nesse sentido, é comum fazer-se uma distinção entre os termos base econômica e base exportação; enquanto o segundo termo só se refere às exportações, o primeiro engloba, além destas, as demais variáveis independentes que explicam parcialmente de maneira significativa o nível do produto local (SOUZA, 1980, p.2).

Tendo como foco a economia local podemos inferir então que a presença de um setor exportador dinâmico irá irradiar efeitos positivos de caráter direto, indireto e induzido nesta economia. Diretamente, pela valorização econômica da produção de uma nova atividade, por exemplo, novos empregos e consequentemente o seu efeito renda. Indiretamente, pelos efeitos de encadeamentos, tanto para frente como para trás, exercidos sobre a mesma cadeia produtiva e, finalmente, pelos efeitos induzidos da renda gerada a partir da nova atividade têm sobre outras. O impacto das exportações no setor não básico da economia local é o de acelerar as transações do mercado interno pelo duplo beneficio da entrada de renda externa, além de seu benefício por si só, gera um aumento do consumo interno, renda e emprego.

Os efeitos multiplicadores das exportações, X, sobre o mercado interno, N, depende: (a) da existência de capacidade ociosa na economia; (b) do estoque de mão-de-obra; (c) da disponibilidade de capacitação empresarial: (d) da dotação de infra-estruturas de transporte; e (e) do envolvimento de insumo-produto de X com o setor de mercado interno (SOUZA, 2008, p.273).

Considerando então que o crescimento econômico local possa ocorrer em grande parte pela captura de renda externa sob a forma de bens e serviços vendidos ao exterior e que o fluxo monetário resultante dessas transações agregue renda externa, podemos desta forma afirmar que o setor não-básico fica relegado à dependência do setor básico para induzir o seu crescimento. Desta forma um município ou mesmo um bairro que nas suas inter-relações com o exterior acabe por ter um saldo da balança de pagamento (SBP) amplamente negativo, fruto de um processo do envio da renda interna para fora via compras de bens e serviços ou mesmo na transferência de sua poupança/investimento para outros locais mais rentáveis acaba por inviabilizar/inibir seu crescimento econômico.

Quando falamos de riqueza tanto no âmbito local como o nacional, temos como base a literatura econômica (SANDRONI, 2007) que esta se traduz na quantidade de fatores produtivos disponíveis, que são alocados e transformados em bens e serviços. Desta forma, uma economia empobrecida, de recursos subutilizados e que não possui capital produtivo

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instalado tende a invibializar um processo sustentado de crescimento econômico e sabe-se que quanto menos provido de tais recursos mais penoso torna-se dar um salto de desenvolvimento sem um agente indutor do processo.

Na economia local além de enfrentar as já ditas indisponibilidades de informações agregadas (fluxos e estoques) a respeito de sua economia, o gestor público municipal, responsável em última instância por conduzir e gestar a economia local tem um problema ainda maior para fazê-lo a contento; as especificidades da organização federativa e política brasileira restringem enormemente sua intervenção. Dito de outra forma é sabido que diferentemente do governo federal que dispõe das políticas fiscal, monetária e cambial para gestar a economia nacional o governo municipal não tem efetividade em nenhuma das três. A política fiscal que tange a arrecadação e o dispêndio dos tributos é dificultada no primeiro pela centralização de recursos nos governos estadual e federal, visto que os tributos de competência municipal (IS, IPTU e ITBI) representam uma pequena parte da arrecadação sendo agravada pela lei de responsabilidade fiscal. Desta forma, há uma grande dependência das transferências de recursos oriundos de competência tributária estadual e nacional, mas de competência financeira compartilhada (ICMS, IPVA e IR, por exemplo). Assim a política fiscal não está disponível ao gestor público municipal da mesma forma que se apresenta para o gestor nacional, visto que em nosso país a concentração de recursos tributários no âmbito do governo federal dificulta as ações do poder público estadual e municipal.

A vida política e institucional incorporou à sua rotina o discurso de exaltação ao município, mas que na prática vem servindo para encobrir desigualdades e injustiças em relação à distribuição de recursos arrecadados pela União [...]. A rotina de nossas municipalidades tem sido marcada pelo acúmulo de encargos e responsabilidades sem a devida contrapartida em recursos, especialmente quando o tema é saúde, educação, saneamento básico ou assistência social [...]. Embora com orçamentos insuficientes (do bolo arrecadado, a União fica com 59%, os Estados com 27% e os municípios com 14%, as prefeituras têm sido submetidas a intensa fiscalização dos órgãos públicos de controle, respondido a ações judiciais para atender demandas da saúde e enfrentando toda sorte de dificuldades para não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas é no município que se verificam a situação de abandono dos hospitais, a falta de estrutura das escolas, o atraso no saneamento básico, a deficiência no transporte escolar,o crescente índice de criminalidade, problemas relacionados a essa relação de dependência financeira crônica ( WEIS, 2012, p. 15).

Se por um lado temos pouca efetividade na intervenção via política fiscal o quadro revela-se ainda mais agravado com relação às outras políticas. Por se tratar de uma economia

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extremamente aberta com relação a sua inserção dentro de uma unidade federativa não há nenhuma efetividade no controle do comércio externo fora de seus limites territoriais, assim como não há câmbio, pois a única moeda aceita trata-se do real.

Da mesma forma, a política monetária é invibializada, já que a oferta de moeda e a taxa de juros são elementos de manipulação por autoridades monetárias nacionais, inexistindo por parte do Setor Público Municipal qualquer ação nesse sentido (KOHLER, 2011, p. 199).

2.2 ENDOGENEIDADE OU EXOGENEIDADE DA MOEDA NA ECONOMIA LOCAL

Para debater essa questão é necessário aprofundar nossos conhecimentos a respeito do dimensionamento da moeda e os fluxos de renda na economia local e nesse sentido Kohler (2003) traz grandes contribuições para o estudo, pois agrega novos entendimentos ao pensar, estruturar e simular uma Balança de Pagamentos de uma pequena economia local que dê conta de revelar os movimentos de rendas, principalmente por verificar os impactos das relações externas na base monetária interna.

Como vimos no item anterior, temos particularidades na economia local que restringem a ação efetiva dos gestores municipais na busca do desenvolvimento econômico sustentado, em relação a essa questão a moeda teria um papel de fundamental importância, pois sua não neutralidade também se dá em âmbito local conforme defendemos, mas qual seria sua dinâmica neste espaço? Seria exógena ou endógena?

Em seus estudos sobre a economia local Kohler (2003) procurou justamente discutir os determinantes da oferta de moeda no âmbito da economia local e sua relação com o crescimento econômico interno, pois fechadas as fronteiras de um pequeno ou médio município temos um macro-ambiente de estudo com todas as relações existentes em um Estado Nacional.

Desta forma Kohler (2003) utilizou-se da contabilidade social, das identidades e relações para corroborar a ideia de que os ensinamentos de Keynes podiam ser aplicados na macroeconomia local, em especial, que a moeda não é neutra no curto prazo, que afeta a parte real da economia, porém defendendo a endogeneidade da moeda na economia local.

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