• Nenhum resultado encontrado

Rio 2016: o Espectador e o Espetáculo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Rio 2016: o Espectador e o Espetáculo"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Marcos Bezerra de ALMEIDA1

mb.almeida@gmail.com

Briefing

On October 2, 2009, the city of Rio de Janeiro won the right to host the 2016 Olympic Games. For the first time in history, the largest sports event in the world would happen in a South American country. With that achievement, Brazilian people seemed to leave the “mutt complex” behind. However, over the following years, various facts were chan-ging the feeling of victory to the most sweeping doubt. Many journa-listic articles have been published extolling or strongly criticizing the mega-event. The lack of discernment between the critical eye and the revolt by the unfavorable political momentum possibly distorted (for and against) the opinions, even of experts. However, in spite of the vision of athletes, members of organizing committee, journalists, diverse profes-sionals and volunteers, the vision of the on-site spectator needs to be known so that one can identify how the great consumer of the Games perceived products and services linked to the Olympic event. Delays in the finalization of the structure works of competitions and urban mo-bility. The Olympic Village witnessed lengthy queues, difficult access, apartments still unfinished, fire principle, lack of water and electricity. However, in a short time these problems seemed to be solved and all athletes and coaching staff settled in their apartments. The Opening Ceremony of the Games seems to have been a turning point of expec-tations. My personal experience as a spectator was quite positive. I bought the tickets easily through the official website, I used the subway--BRT transportation system with ease. The Olympic Park proved impo-sing and universal. The access to the Arenas was facilitated and well oriented. The competitions followed the schedules and begun right on

1 Programa de Pós-graduação em Educação Física; Departamento de Educação Física; Universidade Federal de Sergipe; L’Esporte – Laboratório de Estudo e Pesquisa em Performance no Exercício e no Esporte

(2)

time. The attractions in any and every interval in the matches were qui-te enjoyable. On the other hand, the food was a negative point of the event. Few and overpriced options. The Official Game Store impressed by size. However, as it was the last weekend of the Games, several products were already sold out, which prevented the purchase of some souvenirs. There were few promotions to purchase too, even though it was the end of the event. The service, at least, was kind and adequate. Finally, my “Olympic dream” came true. My opinion about the Games has changed several times, always due to the news and the experien-ce itself. The almost experien-certainty of the overbilling of the works and the doubts about the sporting legacy that the Games can generate leaves a bitter taste in the mouth. On the other hand, the charm of seeing the world’s biggest stars of the sport compensated, at least momentarily, the frustrations.

Introdução

De acordo com Schwartsman (2016), “A festa foi bonita. Mas, exceto por Munique-72 e Atlanta-96, marcados por ataques terroristas, o espetáculo olímpico é sempre bacana”

No dia dois de outubro de 2009, eu caminhava pelas ruas do centro de Aracaju enquanto acompanhava um amigo, também cario-ca e recém-chegado a Sergipe, a fazer compras, quando me deparei com um televisor ligado em uma loja. O aparelho transmitia, direto de Copenhagen, Dinamarca, a cerimônia de eleição da cidade-sede dos futuros Jogos Olímpicos de 2016. As comitivas de Brasil, Japão, Es-panha e Estados Unidos aguardavam ansiosamente para o desfecho do processo, até que o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, abriu o envelope que trazia o nome da candida-tura vencedora: Rio de Janeiro! No ato, vibramos como se nosso time de futebol tivesse acabado de marcar um gol. Parecia mesmo algo a se comemorar, afinal naquele momento “deixamos para trás o nosso complexo de vira-lata” (FREIRE, 2016).

No entanto, ao longo dos anos seguintes, diversos fatos foram mudando o sentimento de vitória para a mais arrebatadora dúvida. O descrédito na competência da organização somado às infindáveis de-núncias de corrupção, superfaturamento e desvio de verbas públicas

(3)

fez o panorama dos Jogos Olímpicos perder todo o encanto. Ainda assim, depois de tudo, parece que o resultado final foi considerado um sucesso (HARAZIM, 2016). Muitos artigos jornalísticos foram publica-dos enaltecendo ou criticando fortemente o megaevento. Contudo, a despeito da visão de atletas, membros de comitê organizador, jornalis-tas, profissionais diversos e voluntários, a visão do espectador precisa ser conhecida para que se possa identificar como o grande consumidor dos Jogos percebeu produtos e serviços vinculados ao evento olímpi-co. Desta forma, este capítulo representa um relato de experiência de um espectador cujas opiniões sobre os Jogos Rio 2016 nunca foram as mesmas ao longo do tempo. Sendo assim, peço licença ao leitor para redigir este texto em primeira pessoa.

Desenvolvimento

Quando a Tocha Olímpica chegou ao Brasil, os jornais e as redes sociais não se cansaram de mostrar vídeos de protestos contra a reali-zação do Jogos no Brasil, na mesma medida em que boa parte da so-ciedade havia protestado poucos anos antes em decorrência da Copa do Mundo 2014. As diversas tentativas de se apagar a Tocha foram registradas por todos os cantos do país (VIDOTTO, 2016; KATAYAMA, 2016; O ESTADO DE S. PAULO, 2016), e revelavam a insatisfação do povo brasileiro com a forma através da qual os megaeventos são organizados e gerenciados, e com os gastos relativos às construções de arenas esportivas cuja utilização futura era questionada (FREIXO e RODRIGUES, 2016), não só pelo volume precário de eventos que as justificassem, como também (e principalmente) pelo custo de manu-tenção dessas estruturas. Na Grécia antiga, o fogo era tido como um elemento divino, sendo mantido aceso em frente a seus principais tem-plos (COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL, 2016). O revezamento da Tocha ao redor do mundo representa o anúncio da chegada dos Jogos, e o convida o público a dividir o espírito olímpico, uma tradição iniciada em Berlim, 1936. Indubitavelmente, o revezamento da Tocha é um dos mais emblemáticos elementos do movimento olímpico (THE OLYMPIC STUDIES CENTRE & INTERNATIONAL OLYMPIC COM-MITTEE, 2016). Desta forma, apaga-la intencionalmente seria uma afronta a tudo o que o olimpismo pretende representar. Contudo, o

(4)

que dizer das origens dos protestos? Até que ponto teria razão em se manifestar contrários aos Jogos no Brasil? E que meios e métodos seriam os mais adequados para chamar a atenção e tentar mudar os rumos dos investimentos no país? O jornalista Juca Kfouri destaca na excelente obra “Brasil em Jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas” (JENNINGS, 2014) que “Ter um olhar crítico sobre os megaeventos no Brasil não é patriótico nem antipatriótico. É apenas o necessário olhar crítico. E que, enfim, se precisar ser definido além disso, é muito mais a favor do Brasil do que contra.” Portanto, as manifestações eram justas e necessárias, mas os ataques contra os símbolos olímpicos represen-tavam nada além de descaso e constrangimento nacional, pois não lograriam êxito em mudar a história.

Obviamente, isto não quer dizer que não havia problemas de fato. Há poucos dias do início, um grande número de obras mostrava--se inacabadas e, com as areias do tempo correndo mais e mais rapi-damente, as dúvidas acerca do cumprimento dos prazos aumentavam exponencialmente. A Arena de vôlei de praia, por exemplo, estava lon-ge de ter condições de sediar as partidas, faltando apenas 11 dias para a estreia da modalidade. A obra, além de ter iniciado com atraso, ainda sofreu com embargos ambientais e a com a força da natureza (ressaca do mar de Copacabana invadiu o canteiro de obras) (AMOVOLEIDE-PRAIA, 2016). Não só isso, outras obras essenciais para a cidade, es-pecialmente aquelas referentes à mobilidade urbana, não inspiravam confiança de estarem prontas a tempo. Como isso já havia ocorrido na Copa do Mundo em 2014, a suspeita era justificada. Preocupações com a operacionalização de aeroporto, trens, metrô, BRT e etc., eram frequentes, e atravessavam as fronteiras do país.

No meio de todo esse alvoroço, as delegações dos competidores começavam a desembarcar e a entrada na Vila Olímpica foi cerca-da de confusões. Filas demoracerca-das, acesso dificultado, apartamentos ainda com acabamentos sendo finalizados, princípio de incêndio, falta d’água e de eletricidade. E então, a delegação da Austrália se rebelou e anunciou que estavam deixando a Vila Olímpica e buscando hotéis para hospedar seus integrantes. Motivo: falta de condições mínimas nos aposentos. Estava instalada a crise, apimentada por uma infeliz declaração do prefeito da cidade-sede, dizendo que colocaria um can-guru na entrada da Vila para convencê-los a voltar. Importante lembrar

(5)

que a Austrália havia sediado os Jogos Olímpicos 16 anos antes, e certamente sabia das dificuldades e responsabilidades com os prazos. Era, portanto, um visitante exigente. Isso repercutiu mal. Não obstante, em uma rápida reviravolta, a situação foi resolvida e todo o staff aus-traliano retornava à Vila, e ainda tecendo elogios às instalações. Pode ser, mas aos olhos do público, a cicatriz ficou exposta.

Esses não foram os únicos revezes sofridos pela organização. As reclamações de filas para a entrada nos locais de competição, atra-sos na programação, preços abusivos praticados no interior das insta-lações (alimentação especialmente) eram cada vez mais volumosas. Pareciam os Jogos fadados ao mais completo desastre? Tudo indicava que o “jeitinho brasileiro” de fazer as coisas finalmente mostrava seu lado perverso já nos primeiros dias dos Jogos, e o prognóstico era bastante desfavorável. É importante revelar que até então, eu estava em Aracaju, apenas acompanhando as competições e as notícias pela TV e internet, sem qualquer expectativa de estar in loco aos Jogos, e ainda com sentimentos divididos entre o fascínio esportivo e o descon-forto com os desgovernos. O que mudou então?

Bom, tudo começou a mudar, de fato, após a Cerimônia de Aber-tura. Cores, formatos, ritmos, tecnologia e criatividade. A diversidade brasileira era celebrada em muitas dimensões e extremos. De Gisele Bündchen a Fernanda Montenegro, de Anitta a Monarco, do forró de Luiz Gonzaga ao balé contemporâneo de Deborah Colker, da MPB ao funk, de Paulinho da Viola e a suave interpretação do Hino Nacional à fúria da bateria das escolas de samba, das favelas à zona sul, do preto e branco ao arco-íris, a flora, a fauna, a cultura e o jeito de ser brasileiro encantavam os olhos do mundo. E a Pira Olímpica? Minha modesta opinião de não-especialista confere a esta o título de mais bonita Pira Olímpica de todos os tempos!

Enquanto os primeiros dias de competições passavam, as pes-soas em Aracaju me perguntavam por que eu não ia aos Jogos, e eu ia ficando sem repertório de respostas para justificar minha insistência em me abster do evento. A Cerimônia de Abertura realmente me sur-preendeu e me levou a debater o assunto internamente. Quando me toquei, nem eu acreditava mais no que dizia. Eu tinha que ir aos Jogos. Boa parte da minha infância e adolescência foi pensando na

(6)

oportuni-dade de participar dos Jogos, primeiro como atleta, depois como trei-nador de basquetebol. Nada disso ocorreu, mas me restava ainda a oportunidade de vivenciar os Jogos como espectador. A decisão final dependia ainda do preço dos ingressos disponíveis e das passagens de avião. Para não comprometer as aulas na universidade, precisava ajustar a viagem para o fim de semana. A única opção viável o último fim de semana dos Jogos, o fim de semana das finais dos esportes coletivos. Paguei certamente o ingresso mais caro da minha vida para assistir a um jogo de basquetebol (900 reais), e somando o valor da passagem, seriam gastos cerca de 2 mil reais. Todavia, quando per-cebi que a próxima final de basquetebol feminino olímpico seria muito mais cara, haja vista que será em Tóquio, os valores já não se mostra-vam tão abusivos. Sou do Rio de Janeiro e minha família mora lá, ou seja, eu não teria gastos com hospedagem e alimentação na viagem. Não havia, portanto, justificativa para não ir. Posteriormente, assisti também a disputa do bronze feminino do handebol (420 reais). A com-pra dos ingressos via internet foi tranquila e organizada o suficiente para não deixar dúvidas quanto aos procedimentos.

No Rio de Janeiro, o aeroporto do Galeão tinha segurança refor-çada por soldados do exército. A compra do bilhete único para acesso aos meios de transporte públicos foi rápida (máquina de autoatendi-mento). Para chegar em casa, precisei passar pela primeira aventu-ra olímpica. Minha família moaventu-ra em frente ao estádio do Maaventu-racanã, mas naquele mesmo momento terminava a final do futebol feminino no Maracanã, e era aguardado o início da semifinal do vôlei masculino no Maracanãzinho. Assim, os acessos para automóveis no entorno do complexo esportivo do Maracanã estavam restritos aos carros oficiais do evento. Minha carona precisou me deixar na estação do metrô em São Cristóvão, de onde saltaria na estação seguinte (estação Maraca-nã) e andaria uns 10 minutos até em casa. Estações cheias e vagões lotados, mas sem confusão. Voluntários dos Jogos indicavam as dire-ções e davam informadire-ções para orientar as pessoas. Quando cheguei à rua, precisei me deslocar no contrafluxo dos torcedores que deixa-vam o futebol e se dirigiam ao metrô. Muita gente, calçadas lotadas, mas novamente, sem confusão e com o apoio dos voluntários.

O dia seguinte era finalmente a minha estreia olímpica. Para quem não está familiarizado com a cidade, é bom esclarecer que para

(7)

chegar ao destino final, eu teria que andar uns 15 min até a estação do metrô da Praça Saens Peña, percorrer todo o trajeto da linha 1 do metrô (18 estações), fazer a baldeação para a recém-inaugurada linha 4 (mais cinco estações), até chegar à Barra da Tijuca, e trocar de transporte para utilizar o BRT, que finalmente me levaria ao Parque Olímpico. Havia a caminhada final entre a descida do BRT e a entrada do Parque (800 metros). Tudo isso deveria levar algo em torno de duas horas, portanto, saí de casa às 7h30 da manhã. A primeira impressão positiva no caminho foi ouvir as vozes dos ex-atletas olímpicos Ricardo Prado, Sebastián Cuattrin e Dora Castanheira se apresentando e de-sejando as boas-vindas aos torcedores, para em seguida anunciar a chegada à próxima estação. Estações e vagões do metrô estavam lim-pos e organizados com sempre foram antes dos Jogos. Apesar do flu-xo de passageiros substancialmente aumentado, foi bom perceber que não houve perda de qualidade do serviço. A transferência para a linha 4 só era permitida para quem tinha em mãos, além do bilhete único es-pecial dos Jogos, o ingresso para os Jogos. Mais uma vez, voluntários orientavam as pessoas e o trajeto transcorreu sem problemas, mesmo com o elevado número de torcedores se aglomerando na plataforma. O novo metrô tem vagões com configuração diferente dos demais, sem divisões (portas) entre cada segmento. Havia peças emborrachadas nas barras de apoio superiores que imitavam anilhas do levantamento de peso. Era inevitável que as pessoas, entrando no clima do Jogos, tirassem fotos segurando a barra fazendo careta como se estivessem levantando peso. Mais uma boa iniciativa, simples e criativa, que pro-porcionou um acolhimento dos Jogos. Por fim, o BRT, que também teve bom nível de organização para a entrada no comboio.

O Parque Olímpico era enorme e realmente impressionante. Do lado de fora, grupos de voluntários saudavam a chegada dos visitantes e orientavam o direcionamento, alguns com muito bom humor, diver-tiam (e diverdiver-tiam-se!) a plateia. Havia muitos corredores de entrada o que não fazia as filas serem tão demoradas. Os visitantes tinham vá-rias opções de instalações para registrar sua experiência olímpica com fotos junto aos Anéis Olímpicos e a logo Rio 2016, entre outras. Andar pelo Parque leva tempo. A ideia de aglomerar praças de Jogos em um mesmo ambiente permitiu que as pessoas pudessem assistir mais de uma competição sem ter que se deslocar pela rua. Nesse sentido,

(8)

pude tranquilamente assistir o handebol às 11h e o basquetebol às 15h30. Depois de passear para conhecer o ambiente, fui para a Arena do Futuro, local da partida entre Holanda e Noruega na disputa da medalha de bronze do handebol feminino. A entrada foi tranquila, pois a fila andava rápido e a conferência do ingresso era eficiente. Arena bonita e organizada (um salve para os voluntários), e de qualquer lugar dava para assistir muito bem o jogo. Durante qualquer paralização no jogo (intervalos ou pedidos de tempo) a equipe de entretenimento dis-traía a plateia, com brincadeiras diversas. As duas equipes entraram em quadra com minibolas de handebol, que logo após as execuções dos respectivos hinos nacionais foram lançadas para as arquibanca-das como souvenir para o público. No alto do ginásio, o telão de alta definição transmitia o jogo e repetia as principais jogadas para que a torcida pudesse acompanhar. O mesmo padrão se repetiu na final do basquetebol feminino.

A alimentação foi um dos pontos negativos do Jogos. Além dos preços caros, a variedade deixava também a desejar. Hambúrguer morno e bebida fria (não gelada). A megaloja oficial dos Jogos também praticava preços abusivos em seus produtos. Como era o último fim de semana do Jogos, vários produtos já estavam esgotados, o que impe-diu a aquisição de alguns itens. Havia poucas promoções para compra também, mesmo sendo o fim do evento. O atendimento, pelo menos, foi gentil e adequado. Do lado de fora, a Esquadrilha da Fumaça fazia seu show com acrobacias de tirar o fôlego, rendendo fotos, filmagens e aplausos incessantes do público. O show dos aviadores aconteceu acima do espaço reservado a uma área de descanso e convivência dos visitantes. Jardins gramados, coberturas e dois telões foram dis-ponibilizados para entreter o público que aguardava a próxima atração esportiva. Dali, pude acompanhar parte da final do futebol masculino. Ao final do primeiro tempo, comecei o trajeto de volta para casa. Du-rante a viagem no metrô da linha 4, um casal que acompanhava a disputa de pênaltis pela internet informo a todos que o Brasil tinha ven-cido e conquistara a inédita medalha de ouro olímpica no futebol. Em reação inesperada, e aproveitando a configuração de vagão contínuo, os passageiros da parte da frente do comboio iniciaram uma hola que imediatamente foi acompanhada por todos. Viagem longa, porém tran-quila, e cheia de histórias para contar ao chegar em casa. O cansaço

(9)

foi grande, mas a experiência valeu a pena.

Retornei à Aracaju na segunda-feira. Aliás, eu e todo mundo! To-das as delegações partiram ao longo do dia do Galeão. Experimen-tei chegar ao aeroporto via BRT. Do Maracanã até lá foram mais ou menos 70 minutos. Se for viajar sem malas (meu caso), essa pode ser uma boa opção, mais econômica que o táxi. O volume de gente no aeroporto era incrível. A filas do embarque internacional pareciam intermináveis. Entretanto, o mais impressionante era que não havia confusão. As filas eram obviamente longas, mas as pessoas se des-locavam relativamente rápido para entrar na sala de embarque. Uma grande demonstração de eficiência da organização. Fui pedir informa-ção a uma voluntária que imediatamente começou a falar em inglês comigo até perceber que eu era “nativo” e mudar o idioma para o por-tuguês. Dúvidas sanadas rapidamente, caminho livre para o embarque doméstico. O terminal 2 do Galeão passou por reformas as quais eu ainda não tinha visto. As melhoras são sensíveis tanto a respeito dos acessos aos portões de embarque como acerca do novo corredor de lojas e restaurantes. Apesar de todo o movimento de partidas e chega-das, o voo para Aracaju teve um atraso de apenas 20 minutos.

Dá para dizer que o sonho olímpico foi finalmente realizado. O clima dos Jogos é tão contagiante que agora já faço planos para le-var minha esposa aos Jogos de 2024, algo antes impensável. Outros aspectos merecem nota. Antes da final de basquetebol, a bateria do meu celular estava por acabar e fui procurar algum local com toma-das para poder recarrega-lo. Nesse momento, por alguma razão, não consegui encontrar nenhum voluntário que pudesse me encaminhar. Precisei perguntar a um vendedor ambulante (credenciado) que me deu algumas dicas. Havia um stand de uma operadora de celulares que dispunha de estações de tomadas, mas infelizmente todas se en-contravam em uso. Acabei parando na porta de entrada dos banheiros, onde achei uma tomada. Não consegui perceber se dentro dos giná-sios havia dispositivos para carregar os aparelhos, mas acho que isso fez falta. De uma forma geral, a atuação dos voluntários foi bastante presente, solícita e bem-humorada. Quando dizem que os Jogos não seriam possíveis sem eles, tendo a acreditar plenamente. Não sei qual é a visão de quem já participou nesta função, mas certamente, é uma opinião igualmente importante.

(10)

Figura 1: Participação no Parque Olimpico

Fonte: arquivo do autor

Outro momento marcante foi a presença cativante da mascote dos Jogos, Vinícius, a representação convergente da fauna brasileira em um dos intervalos da final do basquetebol feminino. Vinícius apare-ceu na forma de boneco inflável fazendo acrobacias e danças diverti-das que alegraram o público e criaram simpatia imediata com o perso-nagem. Eu já havia visto este tipo de performance em jogos da NBA, mas achei bastante oportuno essa inserção nos Jogos Olímpicos.

Conclusão

É importante destacar que não tive condições de frequentar ou-tras arenas ou assistir ouou-tras modalidades em outros dias de competi-ções. É possível que minha visão seja diferente das de outras pessoas, cujas experiências não tenham se mostrado tão satisfatórias. Ouvi re-latos como os mencionados na introdução sobre atrasos na programa-ção e filas demoradas. Também não pude visitar o Boulevard Olímpico ou andar no VLT devido à chuva. Apesar de toda a descrença inicial,

(11)

os Jogos Rio 2016 podem ser considerados um sucesso esportivo, de público e de marketing. Se eu faria de novo e recomendaria a outros? Sim, claramente. Considerando-se apenas a minha curta experiência, os Jogos Rio 2016 cumpriram seu papel.

Por outro lado, o debate acerca das denúncias de superfatura-mento, corrupção, licitações fraudadas, desvios de verba pública ainda são vigentes (e necessários). Mas limitar a discussão ao que houve pré-Jogos parece não ser insuficiente. Deve-se encaminhar a discus-são também para o que ficou para depois dos Jogos. O que fazer com as faraônicas arenas esportivas a partir de agora? Qual será o custo da manutenção do velódromo? De que maneira serão utilizadas as Arenas Cariocas 1, 2 e 3? O que falar do campo de golfe? Daquilo que pode ser visto in loco no Parque Olímpico, particularmente, te-nho dificuldades de acreditar que nos anos vindouros as instalações estarão em pleno funcionamento, seja como centros de treinamento de alto nível, seja como espaço para receber jogos dos campeonatos estaduais e nacionais das variadas modalidades coletivas. Das insta-lações construídas para ao Copa do Mundo 2014, várias se encontram subutilizadas e se deteriorando.

Minha opinião sobre Rio 2016 passou por diversos direcionamen-tos, visto que havia um claro conflito de sentimentos. O sonho da infân-cia e adolescêninfân-cia se confrontava com a perspectiva de escândalos de corrupção e incompetência para organizar tal evento. O orgulho patrio-ta (quase ufanispatrio-ta) enaltecido pela Cerimônia de Abertura contraspatrio-tava com as fortes reclamações da delegação australiana. A oportunidade única de ver de perto as maiores estrelas do esporte mundial em ação defrontavam as incertezas do futuro citado em verso e prosa na forma de legado olímpico. No fim, venceram os Jogos Olímpicos. Não os do Rio 2016, mas aqueles de Atenas, mantidos vivos através dos tempos sob a égide dos deuses do Olimpo.

(12)

Referências

AMO VÔLEI DE PRAIA. Arena olímpica pena para ficar pronta. Dis-ponível em:< http://www.amovoleidepraia.com.br/NoticiasDeta- lhe/16/9/7275/olimpiadas/rio-2016/arena-olimpica-pena-para-ficar--pronta/>. Publicado em 26/07/2016.

COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. The olympic torch relay. Dis-ponível em: <https://www.olympic.org/olympic-torch-relay>.

FREIRE, M.V. As lições de 2016. Disponível em: <http://vejario.abril. com.br/materia/esporte/as-licoes-de-2016>. Publicado em 22/08/2016. FREIXO, A.; RODRIGUES, T. Tentativas de apagar a tocha olímpica refletem cansaço com evento das corporações. Disponível em: <http:// www.viomundo.com.br/politica/tentativas-de-apagar-a-tocha-olimpica--refletem-cansaco-com-evento-das-corporacoes.html>. Publicado em 24/072016.

HARAZIM, D. Mas deu certo, ponto. Disponível em: <http://oglobo. globo.com/ esportes/mas-deu-certo-ponto-19977043>. Publicado em 23/08/2016.

JENNINGS, A (org.). Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? São Paulo: Boitempo e Carta Maior, 2014.

KATAYAMA, J. Homem é preso ao tentar apagar tocha olímpica com balde de água. Disponível em: <http://g1.globo.com/mato-grosso-do- -sul/noticia/2016/06/homem-e-preso-ao-tentar-apagar-tocha-olimpica--com-balde-de-agua.html>. Publicado em 26/06/2016, atualizado em 27/06/2016.

O ESTADO DE S. PAULO. Mais duas pessoas são presas por tentar apagar a tocha olímpica. Disponível em: <http://esportes.estadao.com. br/noticias/jogos-olimpicos,mais-duas-pessoas-sao-presas-por-tentar--apagar-a-tocha-olimpica-no-parana,10000060150>. Publicado em 30/06/2016.

SCHWARTSMAN, H. R$ 1 bilhão por dia. Disponível em: <http://www1. folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2016/08/1805973-r-1-bi-lhao-por-dia.shtml>. Publicado em 23/08/2016.

THE OLYMPIC STUDIES CENTRE; International Olympic Committee. Torches and Torch Relays of the Olympic Summer Games from Berlin

(13)

1936 to Rio 2016. Disponível em: <https://stillmed.olympic.org/media/Do-cument%20Library/OlympicOrg/Factsheet s-Reference-Documents/Ga- mes/Torches/Reference-document-Torches-and-Torch-Relays-of-the--OG-from-Berlin-1936-to-Rio-2016.pdf#_ga=1.37102440.972782434. 1469998151>. Publicado em abril de 2016.

VIDOTTO, F. Manifestante tenta apagar a tocha olímpica com extintor de incêndio. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/olimpia-das/tocha/noticia/2016/07/ manifestantes-tentam-apagar-ktocha-olim-pica-com-extintor-de-incendio.html>. Publicado em 13/07/2016.

Referências

Documentos relacionados

Sendo assim, o presente estudo visa quantificar a atividade das proteases alcalinas totais do trato digestório do neon gobi Elacatinus figaro em diferentes idades e dietas que compõem

aceito pelo juiz, que determinará o fim da medida de segurança. Se o médico psiquiatra considerar o sujeito que cumpre medida de segurança ainda “perigoso” após o

Siguiendo esta línea de reflexión, en este estudio se encontró que el grupo de brasileñas y colombianas quienes cuentan con mejores ni- veles educativos que las peruanas tienen

Para aprofundar a compreensão de como as mulheres empreendedoras do município de Coxixola-PB adquirem sucesso em seus negócios, aplicou-se uma metodologia de

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Ocorre que, passados quase sete anos da publicação da Lei n o  12.651/2012 e pacificadas as discussões sobre a sua aplicação, emendas a uma medida provisória em tramitação

The provisional measure addresses the necessary extension of the deadline for entry into the Environmental Regularization Program (PRA), but also contains amendments that aim