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Esporte Militar Brasileiro: Renovações na Perspectiva dos Jogos Olímpicos 2016 - 2020

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ESPORTE MILITAR BRASILEIRO:

RENOVAÇÕES NA PERSPECTIVA

DOS JOGOS OLÍMPICOS

2016 - 2020

LEONARDO MATARUNA

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O FUTURO DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

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O

objetivo desta contribuição é o de reexaminar a participação das Forças Armadas brasileiras na representação nacional dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro como consequência da Agenda 2020 do Comitê Olímpico Internacional - COI que se propõe a implementar inovações nos Jogos Olímpicos até o ano de 2020. Cabe esclarecer que a presente revisão analítica justifica-se pela atual existência de cerca de 500 atletas militares brasileiros de ambos os sexos disponibilizados em tempo integral de treinamento para a seleção nacional visando aos Jogos Olímpicos de 2016. Por outro lado, a Agenda Olímpica 2020 consiste num conjunto de 40 recomendações para uma ampla mudança de conceitos e procedimentos relacionados aos Jogos Olímpicos com possíveis impactos no esporte de alto rendimento em geral incluindo competições militares internacionais.

Em retrospecto, depois dos Jogos Olímpicos Sul-Americanos de 1922 no Rio de Janeiro, nos quais o esporte militar brasileiro teve grande relevância, somente houve destaque similar a par-tir dos Jogos Mundiais Militares Rio 2011 (JMM2011) conforme relembra Cancella (2014). De fato, com este último megaevento sendo sediado no país, as atenções da sociedade brasileira se voltaram para a sua organização, investimento em instalações esportivas e, sobretudo, participação dos atletas. Em períodos anteriores as Forças Armadas Brasileiras (FA), e em específi-co, o Exército Brasileiro, já haviam episodicamente legitimado a convocação de atletas federados e confederados, ou seja, es-portistas que disputavam o circuito convencional competitivo

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nacional e/ou internacional, para representar o país, por meio do Serviço Militar Obrigatório (SMO).

Destaque-se que as modalidades individuais sempre foram o foco da prática via SMO adotada nas últimas duas décadas do século XX, sobretudo no Judô e no Atletismo, com atletas de renome que defenderam o Brasil tanto em Campeonatos Mundiais Militares como nos Jogos Olímpicos. Posteriormen-te houve a abertura de editais de convocação específicos para atletas no Serviço Militar Voluntário (SMV), emitidos pela Ma-rinha do Brasil três anos antes do JMM2011, ampliando o nú-mero de modalidades e o escopo da proposta do programa e que gerou a base nacional do recrutamento de atletas adota-do por todas as FA.

O Exército inovou também com editais de convocação para a en-trada dos atletas-militares em seus quadros. Na Marinha foram então incorporados como Marinheiros, o primeiro degrau da car-reira militar, e no Exército como Terceiro-Sargento, ou seja, dois postos acima, e consequentemente maior salário. Esta ação deu início a uma disputa por talentos esportivos entre as FA por meio dos chefes de equipe. Esses líderes na Marinha foram incorpora-dos também no posto de Oficial Subalterno (Tenentes), enquanto no Exército mantinham-se como militares de carreira no posto de Oficial Superior. Este fato de utilizar oficiais experientes na Ma-rinha ocorreu apenas em modalidades militares, e nas demais, utilizaram-se novos profissionais para organizar os esportes das quais a Força não tinha tradição e para orientar os atletas mais experientes quando não havia recursos humanos adequados.

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Esportes predominantemente militares mantiveram em suas comissões técnicas, “o pessoal da casa”, ou seja, os militares de carreira para compor as equipes, como chefes de equipe, téc-nicos e demais profissionais, além, é claro, dos atletas. No caso de modalidades como pentatlo militar, pentatlo aeronáutico e pentatlo naval, além de paraquedismo e corrida de orienta-ção, os treinamentos não tiveram alterações, mas se utilizaram parcerias com outras entidades para realizar maior intercâm-bio em termos de novos métodos de treinamento. As três úl-timas modalidades citadas convocaram alguns atletas apenas nas proximidades dos Jogos, mas realizando reaproveitamento de esportistas de outras modalidades, bem como adaptando técnicas para atender às lacunas existentes para competir com chances de medalhas nos JMM2011.

ESTRATÉGIAS DE PARCERIA

O recente avanço das FA brasileiras em termos de representa-ção do esporte nacional teve entretanto um precedente signi-ficativo na área de conhecimento científico para apoio ao trei-namento de atletas internacionais. Isto porque nas décadas de 1960 e 1970 o Conselho Internacional de Esporte Militar - CISM criou parcerias internacionais entre pesquisadores do esporte militares e civis no Brasil, incluindo entre eles o então Tenente Lamartine DaCosta da Marinha do Brasil que formulou o método Altitude Training por meio de investigações no Brasil e no México visando aos Jogos Olímpicos de 1968. À época o CISM publicou um manual e um artigo em sua revista sobre este

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desenvolvi-O FUTURdesenvolvi-O Ddesenvolvi-OS MEGAEVENTdesenvolvi-OS ESPdesenvolvi-ORTIVdesenvolvi-OS

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mento que até hoje apresenta elevado índice de citações (CISM, 2015). E a este impacto associou-se o fato do mesmo militar ter elaborado, a convite da então existente Confederação Bra-sileira de Desportos – CBD, o plano de treinamento físico para a altitude da Seleção Brasileira de Futebol vencedora da Copa do Mundo de Futebol em 1970 também no México.

O antecedente da parceria militar-civil para a criação inovado-ra e aplicação prática do Altitude Tinovado-raining pode ser revigoinovado-rado em condições preliminares e pós-evento dos Jogos Olímpicos de 2016, como consequência da emissão da Agenda 2020 do COI (IOC, 2014). Ou seja: a Recomendação 20 do citado documen-to estimula a criação de “parcerias estratégicas” visando a uma melhor cooperação entre entidades relacionadas ao esporte para aumentar o impacto de iniciativas de propósitos comuns. Esta conjugação de esforços pode em resumo transformar o papel atual das FA de apoiadoras em parceiras do esporte de alta com-petição do país. Em outras palavras, as atuais formas de coope-ração levadas a efeito pela Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB) com as confederações esportivas civis, ou pelas Comis-sões Desportivas das três FA (CDM, CDE, CDA) e a Confederação Brasileira de Esportes das Polícias e Bombeiros com entidades esportivas em geral, podem ser reforçadas por um protagonis-mo militar renovado na perspectiva de uma governança voltada para a inovação e melhor gestão, tanto de recursos de conheci-mento quanto dos recursos humanos e materiais.

Esta proposta pode ser tipificada pela parceria recente e bem sucedida envolvendo o Pentatlo Moderno e a

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Terceiro-Sargen-O FUTURTerceiro-Sargen-O DTerceiro-Sargen-OS MEGAEVENTTerceiro-Sargen-OS ESPTerceiro-Sargen-ORTIVTerceiro-Sargen-OS

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to Yane Marques, que conquistou o bronze nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 nesta modalidade. A atleta já apresentava ca-racterísticas de talento esportivo e, com o aprimoramento téc-nico e investimento realizado por meio de pesquisa científica, teve acesso a treinos mais adequados, suporte nutricional, fi-sioterápico e bioquímico, criados por estratégias de gestão do esporte militar. As provisões e a gestão técnica foram compar-tilhadas entre a área de ciências do esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB), do Instituto de Pesquisa da Capacitação Física do Exército e da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx). Em termos gerais, operações similares em graus distintos de comprometimento e responsabilidade institucionais têm ocor-rido na atual fase preliminar aos Jogos Olímpicos de 2016.

ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO

Assim sendo, há uma tradição de casos pontuais - sem conti-nuidade institucional - de cooperação militar-civil no Brasil, que pode ser mantida quanto ao aperfeiçoamento da participação de atletas militares brasileiros na representação nacional dos Jogos Olímpicos de 2016 e em outras competições civis inter-nacionais posteriores. Entretanto, considerando que inovação – entre tantos conceitos - é uma melhoria da tradição, há então consistência na proposta de um melhor protagonismo militar na preparação de atletas olímpicos brasileiros assumindo-se um status de stakeholder em lugar da função de provisionador. Re-gistre-se então que esta postura de associação entre entidades formais do esporte (COI, COB, confederações, etc.) e

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organiza-O FUTURorganiza-O Dorganiza-OS MEGAEVENTorganiza-OS ESPorganiza-ORTIVorganiza-OS

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ções não especializadas em esporte é estimulada pela Agenda 2020 no sua Recomendação 6. Consequentemente o comparti-lhamento previsto pela Agenda 2020 oferece a oportunidade de consolidar o protagonismo militar no Brasil pelo lado da gestão e da estratégia do treinamento esportivo, garantindo assim a continuidade ausente ou deficiente nas entidades não militares do esporte nacional.

A mesma Recomendação 6 aponta para a necessidade de coo-peração próxima entre entes organizacionais e gestores para a criação de boas práticas no ambiente olímpico de competição. Seguindo-se a este dispositivo a Recomendação 5 prevê a sus-tentabilidade como referência geral e meio de redefinições das relações esportivas, garantindo troca de informações entre os stakeholders dos Jogos Olímpicos. A aceitação das diferenças no que tange a não discriminação em relação à orientação sexual, constante na Recomendação 14; a construção de uma cultura contra dopagem que garanta um equilíbrio competitivo, con-forme abordagens das Recomendações 15 e 17; assim como o apoio aos atletas dentro e fora das competições na conformi-dade da Recomendação 18 são também pertinentes para ado-ção pelas FA, com base em um processo de educaado-ção baseada em valores olímpicos como indica a Recomendação 22.

Essas estratégias apoiadas na sustentabilidade e na formação dos atletas incluem necessariamente o esporte Paralímpico des-de que a Recomendação 7 enfatiza a busca pelos entes olímpi-cos de sinergia com “organizações que gerenciam esporte para pessoas de diferentes habilidades”. Uma inovação, no caso,

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se-O FUTURse-O Dse-OS MEGAEVENTse-OS ESPse-ORTIVse-OS

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ria o apoio ao esporte Paralímpico com a reconvocação de mili-tares afastados por invalidez em função de deficiência física. E como foi criada a função do Atleta-Militar, acompanhando-se Cancella e Mataruna (2012), criar-se-ia outrossim o Paratleta-Militar por meio do Serviço Paratleta-Militar Voluntário em que se poderia incorporá-lo de acordo com os regulamentos que preveem a convocação de qualquer cidadão brasileiro. A complementação desta convocação – ou mesmo seu ponto de partida – consis-tiria na inserção nas FA de especialistas em esportes paralímpi-cos, pesquisadores com vínculos em universidades, para atuar na capacitação de militares no treinamento de atletas e identi-ficação de talentos, fechando assim o círculo sinergético ante-cipado pela Agenda 2020.

Finalmente, assumindo sobretudo a Recomendação 39 da Agenda 2020 em que se encoraja o desenvolvimento do diá-logo da sociedade com o Movimento Olímpico, propõe-se que as FA aumentem doravante o contato com a comunidade civil, com os clubes dos atletas, com as federações/confederações, e sobretudo com as universidades no que tange à criação de espaços de intercâmbio científico. Este caminho permitirá um encontro mais produtivo e duradouro das FA com as desejáveis funções de stakeholders em nítida vantagem sobre o atual pa-pel de prestadoras de apoios.

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REFERÊNCIAS

Cancella, K. B. (2014). O esporte e as Forças Armadas na Pri-meira República: das atividades gymnasticas às participações em eventos esportivos internacionais (1890-1922). Rio de Ja-neiro: BIBLIEx

Cancella, K.B., Mataruna, L (2012). Military Sports Management in Brazil. Podium Sport, Leisure and Tourism Review, v. 1, p. 125-150.

CISM (2015). CISM Academy History. Available from http://www. cism-milsport.org/eng/007_SYMPOSIUM/2009/2009_aca-demy.asp. Accessed on 12 Jan 2015.

IOC (2014). Olympic Agenda 2020 – 20+20 Recommendations. Lausanne: International Olympic Committee, 2014.

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BRAZILIAN MILITARY SPORT:

INNOVATIONS TOWARDS THE

OLYMPIC GAMES 2016-2020

LEONARDO MATARUNA

Coventry University (UK)

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ilitary sport in Brazil gained national prominence during and after the Military World Games Rio 2011 (JMM2011). The national armed forces called for athletes from the Brazilian Olympic Committee and from Brazilian Sport Confederations offering them military status. They attended a Military Course and their jobs were to get the appropriate training and to represent the country in sports competitions. These military athletes started receiving medical assistance, physical therapy and nutritional support. They also had access to better training spaces, facilities and equipment. Besides, they were given a monthly stipend to support their sports career.

In the 1960s and 1970s, Lieutenant Lamartine DaCosta, a research-er from the Brazilian Navy, developed a new method of training: Al-titude Training, which was not restricted to training at a permanent altitude. The method was developed for the athletes to move from one altitude to another, decreasing the partial pressure of oxygen (CISM, 2015). From this scientific initiative a knowledge basis was created with military and civil associative means that gave support

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to and prepared athletes for the Olympic Games of Mexico City in 1968 and the FIFA World Cup in Mexico in 1970.

Thus, the Armed Forces were important in the past not just for the military sport but also for the development of soccer and for Olym-pic Sports. The impact of the Science of Sport in the Brazilian Armed Forces in the 1970s exposed the research developed in Brazil and fostered a new image of the country worldwide. After the 2011 Mil-itary World Games, in Rio de Janeiro, the milMil-itary got the attention of Brazilian society again, but this time it was different from the mili-tary government period (1964-1985). They were perceived differ-ently because of the sports competitions and the Military Games. Positive results and participation in sports competitions and in the Olympic Games tend to change the feelings of the population once there is investment on national sport through support of high perfor-mance athletes, who depend on the larger budget support from the Armed Forces that help them with the training and during periods of competitions.

During the London Olympic Games, many Brazilian athletes with ex-cellent results had come from the Armed Forces. It is high time now to reflect upon and use the same benchmark from military power countries such as Italy, Germany, United States and France to sup-port not just the Olympians, but also to start Paralympic programs focused on disabled athletes or the retired military population with disabilities. Many military receive pension after they acquire a dis-ability, but do not have further support. Why not recruit this special group to promote disabled sport in the Armed Forces and represent the country again?

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Finally, taking into consideration Recommendation 39 of Olympic Agenda 2020, in which the development of dialogue between soci-ety in general and the Olympic Movement is encouraged, we propose that the Armed Forces of Brazil from now on increase the contact with civil society, with the athletes’ clubs, with the sports federations/ confederations and, above all, with the universities, especially due to the creation of spaces for scientific exchange. This direction will per-mit a more productive and long-lasting contact of the Armed Forces with the desired functions of stakeholders with a clear advantage over the traditional but present role of support providers.

Referências

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