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Fatores determinantes no processo de desenvolvimento endógeno de um território: um olhar para o Município de Ijuí a partir dos atores da tríplice hélice

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO GESTÃO EMPRESARIAL

RAQUEL SILVA DE PAULA LOPES

FATORES DETERMINANTES NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO DE UM TERRITÓRIO: Um olhar para o Município de Ijuí a partir dos

atores da tríplice hélice.

Ijuí, RS 2016

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RAQUEL SILVA DE PAULA LOPES

FATORES DETERMINANTES NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO DE UM TERRITÓRIO: Um olhar para o Município de Ijuí a partir dos

atores da tríplice hélice

Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de Pesquisa Gestão Empresarial, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. Martinho Luís Kelm

Ijuí, RS 2016

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L864F LOPES, RAQUEL SILVA DE PAULA.

Fatores determinantes no processo de desenvolvimento endógeno de um território: um olhar para o município de Ijuí a partir dos atores da tríplice hélice / Raquel Silva de Paula Lopes. – Ijuí, 2016. –

173 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Martinho Luís Kelm”.

1. Desenvolvimento endógeno. 2. Fatores determinantes. 3. Tríplice hélice. 4. Território. I. Kelm, Martinho Luís. II. Título. III. Título: Um olhar para o município de Ijuí a partir dos atores da tríplice hélice.

CDU: 330.34 339.9(816.5) Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

FATORES DETERMINANTES NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO DE UM TERRITÓRIO: UM OLHAR PARA O MUNICÍPIO DE IJUÍ A

PARTIR DOS ATORES DA TRÍPLICE HÉLICE

elaborada por

RAQUEL SILVA DE PAULA LOPES

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Martinho Luís Kelm (UNIJUÍ): _______________________________________

Prof.ª Dr.ª Viviane Rossato Laimer (FJP): _______________________________________

Prof. Dr. Jorge Oneide Sausen (UNIJUÍ): _______________________________________

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5 “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.”

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe Cleusa, pelo amparo incansável e por sempre acreditar em mim; Ao meu pai Agenor, por me propiciar momentos de reflexão;

Ao meu marido Diorges, pela tranquilidade, carinho, amor, amizade, pelo apoio incondicional;

você é muito importante na minha vida;

Aos meus filhos, João Gabriel e Carlos Eduardo, pela compreensão da ausência e pelo estímulo, vocês são o sol da minha vida;

Ao meu orientador Martinho, por me guiar neste desafio, pela disponibilidade, paciência e auxílio;

À minha irmã Karen, pela força e compreensão da ausência em momentos difíceis, obrigado pelo suporte;

À minha sogra Zilá e meu sogro João Carlos, suporte;

Aos meus amigos e familiares, por compreenderem a importância dos compromissos acadêmicos; À Poli, Hélio, Mari, Vilson, Denise e Gilberto,

obrigado pela existência iluminada de vocês;

À minha afilhada Luísa, pela compreensão dos oito meses de ausência;

Ao economista e professor Jussiano, pelo auxílio e pela rica contribuição ao meu trabalho;

Aos entrevistados, pela disponibilidade e confiança, vocês enriqueceram meu trabalho;

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RESUMO

O território de Ijuí apresenta bons resultados em índices de desenvolvimento, a sua localização privilegiada, seu modal rodoviário que o interliga com uma gama de município, um vasto leque de serviços, comércio, aliado ao desponte do agronegócio chama a atenção de instituições de ensino e novas empresas para se instalarem e usufruírem da sinergia encontrada no território. A formação etnológica que deu início ao município, formou uma população que demostra força e trabalho, o que lhe rendeu alcunha de colmeia do trabalho. Para transcrever estas informações para a forma acadêmicas procurou-se entender que fatores têm determinado a dinâmica de desenvolvimento de Ijuí e como os diversos atores estratégicos, têm se posicionado e interagido neste processo? Desenvolvendo-se em três momentos esta pesquisa, analisa e sistematiza a dinâmica de desenvolvimento do município de Ijuí a partir da participação dos atores constituídos no modelo da tríplice hélice. O primeiro foi analisar dados mensuráveis, o segundo procurou através das entrevistas identificar, posteriormente descrever as ações e estratégias, por fim expor comportamentos e relações que provocaram mudanças no movimento de desenvolvimento e analisar o modelo encontrado pareando com o endógeno. Esta pesquisa classifica-se como exploratória, de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, tendo seu objetivo descritivo exploratório. Os procedimentos de coleta de dados foram pautados em cinco fases específicas: nas quais se procurou descrever, observar, organizar, entrevistar e analisar ações e comportamentos dos atores selecionados a fim de identificar os elementos estruturantes do modelo adotado. A análise releva que o desenvolvimento de Ijuí não pode ser explicado pelo modelo endógeno, visto que nem todos os elementos estruturantes: flexibilidade e complexidade institucional, desenvolvimento urbano do território, difusão e inovação do conhecimento, organização flexível da produção, tem influência positiva no município. O fator de influência da política também sofre restrições e com isso não promove o efeito H.

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ABSTRACT

The territory of Ijuí shows good results in development rates, its privileged location, its road system that interconnects the municipality with a range of cities, a wide range of services, commerce associated with the agribusiness lopping, draws the attention of educational institutions and new companies to set up and take advantage of the synergy found in the territory. The ethnological formation that started the city has created a population that demonstrates strength and work, which earned the county the nickname of “working hive”. To transcribe this information to the academic area, it was sought to understand what factors have determined Ijuí’s development momentum and how the various strategic players have positioned themselves and interacted in this process. Developing in three stages, this research analyzes and systematizes the development dynamics of Ijuí’s municipality through the participation of the agents on the triple helix model. The first was to analyze measured data, the second sought to identify through interviews, and later describe the actions and strategies to finally expose behaviors and relationships that have caused changes in the development of motion and analyze the model found pairing with the endogenous. This research is classified as exploratory, applied nature with qualitative approach having its exploratory descriptive goal. The data collection procedures were based on five specific phases in which it sought to: describe, observe, organize, interview and analyze actions and behaviors of selected agents in order to identify the structural elements of the model adopted. The analysis shows that Ijuí’s development cannot be explained by the endogenous model, since not all structural elements: flexibility and institutional complexity, urban territory development, dissemination and knowledge innovation, flexible organization of production; have a positive influence in the municipality. The political influence factor also suffers restrictions and it does not promote the H effect.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Processos de acumulação de capital ... 48

Figura 2: As esferas da Tríplice Hélice. ... 60

Figura 3 A Estrutura Social da Tríplice Hélice. ... 63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: IDESE Ijuí – Metodologia antiga de 1991 à 2005 ... 74 Tabela 2: Crescimento da construção civil em Ijuí medida pelo número de alvarás. ... 86 Tabela 3: Matriculas no Ensino Superior de Ijuí ... 95

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LISTA DE QUADRO

Quadro 1 : Comparação do IDH-M de Ijuí com o do Rio Grande do Sul ... 71

Quadro 2: IDESE de Ijuí e RS ... 73

Quadro 3: PIB Ijuí Atualizado e a participação de cada setor ... 77

Quadro 4: Análise do PIB da Agricultura de Ijuí - 1999 à 2012 ... 78

Quadro 5 : Quantidade de soja produzida no Brasil, RS e Ijuí ... 79

Quadro 6: Comparação do PIB Industrial entre Municípios ... 81

Quadro 7: PIB de Ijuí e PIB de Serviços ... 82

Quadro 8: Participação de Ijuí no âmbito estadual e nacional. ... 83

Quadro 9: Receita da Prefeitura Municipal de Ijuí comparado com a Variação do PIB ... 84

Quadro 10: Receitas Da Prefeitura Municipal de Ijuí Atualizadas ... 85

Quadro 11: Pib Per Capita Nacional, Estadual e Municipal ... 87

Quadro 12: Número de Estabelecimentos do Município de Ijuí ... 88

Quadro 13: Numero de idosos de Ijuí ... 89

Quadro 14: Número de Leitos no Município ... 90

Quadro 15: Número de Médicos Regularmente Credenciados no Município de Ijuí .. 91

Quadro 16: Ranking Enem das 10 melhores escolas do RS ... 93

Quadro 17: Ranking Enem das escolas do Ijuí ... 93

Quadro 18: Matriculas na Rede Escolar de Ijuí ... 94

Quadro 19: Número de Escolas de Ijuí ... 94

Quadro 20: Universidades presenciais e a distância em Ijuí ... 96

Quadro 21: Evolução do Emprego por Grau de Instrução no município de Ijuí ... 96

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Comparação PIB Per Capita de Ijuí com RS e país ... 23

Gráfico 2: Evolução do PIB total e setores. ... 24

Gráfico 3: População de Ijuí por faixa etária ... 75

Gráfico 4: População de Ijuí por faixa etária separada por censo. ... 76

Gráfico 5: População Rural e Urbana de Ijuí ... 76

Gráfico 6: PIB dos Setores Atualizados ... 77

Gráfico 7: Comparativo entre a movimentação do Soja em Ijuí, RS e Brasil ... 80

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LISTA DE ABREVIATURAS

CACON – Centro de Alta Complexidade em Oncologia COREDE – Conselho Regional de Desenvolvimento

DEMEI - Departamento Municipal de Energia Elétrica de Ijuí EAD - Educação a Distancia

FAL - Faculdade América Latina

FEE – Fundação de Economia e Estatística FIES - Fundo de Financiamento Estudantil

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDESE - Índice de Desenvolvimento Socioeconômico IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal INCOR - Instituto do Coração

HCI - Hospital de Caridade de Ijuí

LEA - Laboratório de Economia Aplicada da Unijuí PRCT - Programa Regional de Ciência e Tecnologia

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PROUNI - Programa Universidade para Todos

SESC - Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Sul TICs - Tecnologias de Informação e Comunicação

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 16 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 18 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ... 18 1.2 PROBLEMA ... 22 1.3 OBJETIVOS ... 26 1.3.1 Geral ... 26 1.3.2 Específicos ... 27 1.4 JUSTIFICATIVA ... 27 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 29 2.1 O DESENVOLVIMENTO ... 29 2.2 AS ESCALAS DE DESENVOLVIMENTO ... 32

2.3 DESENVOLVIMENTO REGIONAL X TERRITORIAL X LOCAL ... 37

2.4 OS EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL ... 40

2.5 O DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO COMO ALTERNATIVA ... 44

2.6 O DESENVOLVIMENTO LOCAL A PARTIR DOS ATORES DA TRÍPLICE HÉLICE ... 59

3. METODOLOGIA ... 65

3.1 CLASSIFICAÇÃO E DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 65

3.2 UNIDADE DE ANÁLISE ... 67

3.3 SUJEITO DA PESQUISA ... 67

3.4 COLETA DE DADOS ... 68

3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ... 70

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4.1 DADOS DO DESENVOLVIMENTO DE IJUÍ ... 71

A Performance de Ijuí a partir de seus Marcos Históricos ... 74

4.2 A HISTÓRIA DE IJUÍ SOB O OLHAR DE SEU ATORES ... 97

4.2.1 A situação antes de 94 – Período Agrícola ... 99

4.2.2 Período de 1994 a 2000 – Período Dinheiro Tem Valor ... 103

4.2.3 Período de 2000 a 2005 – Período Informação e Tecnologia ... 108

4.2.4 Período de 2005 a 2010 – Período da Saúde ... 112

4.2.5 Período de 2010 a 2014 – Período da Construção ... 117

4.3 Análise do Desenvolvimento Endógeno ... 120

4.3.1 Flexibilidade e complexidade institucional ... 120

4.3.2 Desenvolvimento Urbano do Território ... 126

4.3.3 Difusão e Inovação do Conhecimento ... 139

4.3.4 Organização Flexível da Produção ... 144

4.3.5 Desenvolvimento Endógeno e o Efeito H ... 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 155

REFERÊNCIAS ... 159

APÊNDICES ... 169

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento endógeno tem por objetivo constituir-se em um modelo analítico da articulação de um conjunto de fatores de um determinado território que, em tese, poderiam influenciar ou inibir seu progresso, seja em termos de taxas de crescimento econômico seja em termos da qualidade da população.

A dinâmica econômica que se estabeleceu a partir do processo da globalização, acabou por aproximar fronteiras, influenciar as inovações de determinados locais, podendo interferir positivamente no acúmulo de riquezas e na qualidade de vida de sua população. Os avanços tecnológicos também podem ser considerados um fator para a promoção do desenvolvimento, estimulando tanto a economia quanto a possibilidade de o tornar competitivo frente à concorrência de outros mercados. Com isso o modelo do desenvolvimento endógeno possibilita um estudo a partir de diferentes dimensões (política, econômica, social, ambiental, dentre outras), tornando-se um modelo alternativo na tentativa de explicar fatores que promovem diferenças entre territórios.

Desta forma, com o objetivo de analisar a dinâmica de desenvolvimento do município de Ijuí a partir da participação dos atores constituídos no modelo da tríplice hélice realizou-se esta pesquisa. De modo a identificar, descrever as ações e estratégias, expor os comportamentos e relações que geraram desenvolvimento para o território a partir do modelo da tríplice hélice, no período analisado.

Desde sua formação, Ijuí se destaca pela diversidade de colônias de imigrantes, visto que já em 1890 contava com 18 etnias, caracterizando-se como “Terra das Culturas Diversificadas”. Anos depois, recebe o título de primeira colônia do Noroeste do Estado, e continua se destacando pelo seu vasto comércio, pela agricultura de subsistência com venda de excedentes, criando relações com a indústria de alimentos. A partir da década de 60, esta policultura dá espaço às lavouras de trigo e soja mecanizadas, incentivadas pelo Governo Federal, modificando assim o modelo comercial existente, o que levou ao desaparecimento das pequenas empresas industriais as quais não se adaptaram ao novo contexto (KOHLER; GASS; MASSOLA, 2009).

O estudo está estruturado em quatro capítulos, sendo que o primeiro apresenta o tema, contextualizando assim a pesquisa junto com a introdução do problema, objetivos e a

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17 justificativa desta análise. A revisão bibliográfica está presente no capítulo dois, os conceitos de desenvolvimento, suas escalas com alternativas, os efeitos da globalização no desenvolvimento local e o desenvolvimento endógeno são alguns que estão presentes neste capítulo,

O capítulo três apresenta a metodologia utilizada para a realização desta pesquisa e no quarto capítulo são apresentados os dados e os resultados, obtidos a partir da percepção dos atores participantes do estudo. Ao finalizar com as considerações finais que explicitam as conclusões da pesquisa, suas limitações, contribuições e possibilidades de novos estudos a partir deste.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Nos estudos científicos contemporâneos são encontradas cada vez mais publicações sobre o desenvolvimento de regiões e territórios, investigados nas diversas áreas do conhecimento, buscando aprofundar os debates sobre o tema e disseminar seus conceitos (BRANDÃO, 2007). O presente estudo insere-se neste contexto de investigação, especificamente com relação ao desenvolvimento endógeno (BARQUERO, 2002) e centra-se no estudo de um território, contemplando os agentes que constituem a tríplice hélice (ETZKOWITZ, 2013).

Contemporaneamente, o desenvolvimento vem sendo estimulado pela globalização, fenômeno que aprimorou e expandiu as formas de trabalho e os processos de produção de bens de consumo e provocou efeitos positivos e negativos no desenvolvimento de alguns territórios. Um dos efeitos positivos foi o rápido e fácil acesso à informação, por meio de tecnologias, com a geração e disseminação de informações. Por outro lado, um dos efeitos negativos foi o crescimento das diferenças sociais e econômicas entre ricos e pobres, fazendo surgir questões sobre a participação das pessoas no processo de desenvolvimento e na melhoria de qualidade de suas vidas (CHANG, 2004 apud BELTRAME, 2014; NASCIMENTO; VIANNA, 2009). Sendo possível perceber este efeito entre locais a partir de um olhar sobre os indicadores do desenvolvimento, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Percebe-se que os indicadores do desenvolvimento constituem-se em uma unidade de medida parcial, pois expressam exclusivamente as variáveis nela abordadas, possuindo uma natureza restrita como qualquer modelo de análise, visto que sempre constituir-se-ão em simplificações de uma determinada realidade complexa (SIEDENBERG, 2003).

Ainda com relação à dimensão mais ampla, a globalização dos mercados expandiu a concorrência (COUTINHO, 2010), repercutiu também ao sistema produtivo de países, regiões e cidades (SINGER, 1997). Empresas com a ideia de isolamento para se manter competitiva mostra-se defasada (NASCIMENTO; VIANNA, 2009), pois as mesmas necessitam de fornecedores, os quais podem estar localizados em vários lugares do mundo, o

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19 que influencia sua logística e manutenção, como todo o entorno produtivo do qual as empresas fazem parte. Esse processo sistêmico e simbiótico estimula a organização de novas formações de modelos para cidades e regiões com vistas ao desenvolvimento (BARQUERO, 2002). Nesse aspecto, talvez resida uma das questões fundamentais que envolvem a diferenciação do que é desenvolvimento do que até então se entendia por crescimento.

Nesta linha de pensamento, Siedenberg (2003) reforça que crescimento e desenvolvimento são conceitos distintos. O primeiro corresponde ao aumento da produção e consumo de bens e serviços, conforme proposto nos manuais de economia mais utilizados, tem uma correlação quantitativa, geralmente medidos pelo Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento da produção e consumo não representa necessariamente desenvolvimento, pois este segundo termo refere-se à distribuição da riqueza produzida, tratando assim de forma qualitativa, principalmente quanto à melhoria da qualidade de vida no território. Por outro lado, o autor considera que o desenvolvimento seja a

consequência natural da aplicação de um mecanismo de assimilação e adaptação de habilidades individuais e pré-existentes às necessidades postas; uma espécie de

upgrade de habilidades. Normalmente estas mudanças individuais ocorrem em

etapas diferenciadas de transições, de acordo com fases típicas de cada espécie [...] e correspondem a um desdobramento de habilidades no sentido de o indivíduo conseguir fazer frente às situações adversas de cada fase. [...] o mecanismo de assimilação e adaptação também se aplica às experiências abstratas vividas pelo indivíduo (SIEDENBERG, 2004, p. 20).

A nova ordem econômica mundial determinada pela globalização gerou diversas pesquisas (SINGER, 1997), apresentando como o desenvolvimento local e regional endógeno pode influenciar no avanço tecnológico e consequentemente influenciar no aumento de inovações e promover o acúmulo de poupança (BARQUERO, 2002). Esses também são considerados fatores importantes para a promoção do desenvolvimento, estimulando tanto a economia quanto a possibilidade de se tornar competitivo frente à concorrência de outros mercados (BARQUERO, 2002).

A ideia de uma multiplicidade local, exposta por Llorens (2001), incita estudos sobre o desenvolvimento local atual, em especial sobre a definição do local, se ele seria um espaço ou um território? A respeito disso, Llorens (2001, p.111) afirma:

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20 O conceito de espaço como suporte geográfico no qual se desenvolvem as atividades socioeconômicas costuma trazer implicitamente a ideia de homogeneidade, e as preocupações fundamentais a ele relacionadas referem-se à distância, aos custos de transporte, à aglomeração de atividades ou à polarização do crescimento. Mas, a partir da perspectiva do desenvolvimento local e regional, interessa-nos basicamente outro conceito diferente, qual seja o de “território”, que compreende a heterogeneidade e a complexidade do mundo real, suas características ambientais específicas, os atores sociais e sua mobilização em torno das diversas estratégias e projetos e a existência e o acesso aos recursos estratégicos para o desenvolvimento produtivo e empresarial. Em síntese, em face do conceito de espaço como contexto geográfico dado, interessa-nos ressaltar o conceito de território como ator do desenvolvimento.

Tanto espaço quanto território são fomentos para a economia regional, cujo recorte teórico aponta para noções de intertemporalidade e de irreversibilidade na trajetória do desenvolvimento econômico. Sendo assim, o passado influencia o presente e, as ações de hoje desencadeiam o futuro; as características iniciais não coincidem com as do tempo posterior, e assim sucessivamente. Desta forma, as oportunidades perdidas dificilmente serão recuperadas posterioriormente. A governança municipal, pode gera um novo modelo de desenvolvimento, sendo um centro de referências para a economia regional, delimitado em um modo de intervenção, o qual o princípio neoliberal não está utilizando em primeiro plano (AMARAL FILHO, 2001).

Por conseguinte, é necessário um novo modelo de sociedade voltada ao desenvolvimento a partir de parcerias, que considera a economia baseada em conhecimentos e em processos de cooperação articulados entre universidade, indústria e governo. Esses três agentes do desenvolvimento são apresentados por Etzkowitz (2013) pelas suas múltiplas e complexas relações de interação, caracterizadas não apenas como típicas do atual modelo de desenvolvimento, o qual se denominou de modelo tríplice-hélice (ETZKOWITZ, 2013).

O desenvolvimento local articulado entre universidade, indústria e governo requer um novo modelo de financiamento, que deve ser centrado na geração de poupança pública local e recuperação da capacidade de investimento, a fim de recuperar a infraestrutura e posteriormente melhorá-la, criando um efeito virtuoso sobre o emprego, produto e renda (ETZKOWITZ, 2005; MELLO et.al., 2005).

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21 Em modelos anteriores o desenvolvimento era pensado do topo para a base, onde os projetos e políticas eram produzidos no campo macroeconômico. No desenvolvimento endógeno, a ideia é de um preceito de desenvolvimento que é estruturado da base para o topo, dependendo da capacidade dos atores presentes no território, partindo assim do campo microeconômico. O desenvolvimento de um local depende também do grau de liberdade, que é dado ao Estado, para criar novas políticas (BANDEIRA, 2007; AMARAL FILHO, 1996; AMARAL FILHO, 1995).

Para Barquero (2002), o desenvolvimento endógeno sugere receber as necessidades da população a partir da participação dos atores envolvidos e promover seu atendimento, pois o objetivo deste tipo de desenvolvimento é mais do que o crescimento econômico, o qual é definido como uma forma de crescimento e de modificação estrutural que acontece através da transferência de recursos levando em consideração a qualidade de vida dos atores sociais.

Mais do que atingir altos rendimentos financeiros o objetivo do desenvolvimento endógeno é a qualidade de vida dos atores, levando em consideração a economia, a cultura e todas as atividades sociais, observando os modelos produtivos e estratégias adotadas, e procurando analisar o que o território dispõe de recursos, que por vezes não são aproveitados de forma completa, produzindo assim novos modelos de produção ou de aproveitamento do território (BARQUERO, 2002).

Assim, em virtude de o tema “desenvolvimento endógeno” possibilitar um estudo por diferentes dimensões (política, econômica, social, ambiental, dentre outras), possibilita também investigar os fatores que possibilitam uma região apresentar indicadores de desenvolvimento mais elevados que outras.

No processo de revisão bibliográfica foi possível identificar alguns estudos no Brasil onde o modelo da tríplice hélice é utilizado para explicar o desenvolvimento de um setor ou região (BORGES, 2009; ALBERTO, 2009; CUNHA, NEVES, 2008; BALDI, LOPES, CASTRO, 2006). A partir deste contexto a temática desta investigação centra-se na dinâmica do desenvolvimento endógeno de um determinado território sob a olhar dos atores da tríplice hélice.

A consideração de Barquero (2002) é de que as cidades não são somente um suporte formal para atingir os objetivos nos processos econômicos, e sim um promotor de mudanças

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22 sociais, trazendo com isso uma visão de espaço com múltiplas dimensões e uma organização com poder legítimo e com dominação político-social, o que corrobora com o objeto de pesquisa deste estudo, para o qual foi definido como território o município de Ijuí, sem esquecer que este não consegue ser visualizado sem observar as influências da região, do estado e do país. Segundo Lefebvre (1974 apud BRAGA, 2002), um território possui capacidade multifacetada quando em um mesmo tempo é um local de relações econômicas e sociais, com diversas funções de ordem social, de produção, de força de produção, produto, mercadoria, sendo também complexa pelas variáveis resultantes desta multifacetação.

1.2 PROBLEMA

O Brasil obteve fortes conquistas (BANCOMUNDIAL, 2014) quanto ao crescimento econômico e industrial nas últimas décadas, com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4 trilhões (US$ 2,223 trilhões) em 2012. Além deste crescimento econômico, o Brasil diminuiu a pobreza (percentual de pessoas vivendo com US$ 2,5 diários) de 26,7% da população em 2003 para 12,6% em 2011 (BANCOMUNDIAL, 2014). Adicionalmente, na segunda metade do século XX, o país começa a obter posição de destaque dentro de um seleto grupo de países industrializados, sendo considerada a sétima economia mundial, segundo o Banco Mundial (2014). Infelizmente, também se destaca por apresentar uma das maiores desigualdades na distribuição de renda do planeta, considerado o oitavo país com maior concentração de renda. A “desigualdade é maior e mais diversa, embora um número mais amplo de pessoas tenha acesso a bens que antes não conhecia, isto porque pobreza e desigualdade não são sinônimos” (NASCIMENTO; VIANNA, 2009).

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Gráfico 1: Comparação PIB Per Capita de Ijuí com RS e país

Fonte: Confeccionado a partir de Atlas (2015) e Deespask (2015).

Considerando um espaço territorial concreto, dado este quadro potencial de diferenças de crescimento e de desenvolvimento, o município de Ijuí, localizado no noroeste gaúcho, tem observado nos últimos anos processos de desenvolvimento extremamente oscilantes, variando entre período de pujança e fraco desempenho (KOHLER; GASS; MASSOLA; 2009), fato que justifica uma investigação de modo a ampliar a compreensão dos fatores causais destes fenômenos e gerar subsídios para um processo positivo de intervenção.

Uma referência em termos de indicador econômico é a evolução do PIB do município apresentado no trabalho de KOHLER; GASS; MASSOLA (2009) com seus dados já deflacionados. Neste sentido, o município de Ijuí apresentava, em 1939, um PIB de R$ 59.263,001 e, em 2010, um PIB de R$1.419.000.000,00 (IBGE, 2014). No que concerne aos segmentos que constituem o PIB do município, é possível perceber que o setor agropecuário era de suma importância para o PIB total, em 1939, com R$ 31.819,00 frente a R$ 18.391,00 do PIB de serviços, pois além na agricultura de subsistência havia diversas indústrias relacionadas ao segmento agrícola. Nos vinte anos observados nesta pesquisa é possível identificar a mudança de importância dos segmentos no Gráfico 1.

1 Convertidos em valores do ano 2000.

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24 Os dados mais atuais, entretanto, demonstram que Ijuí estagnou e vem perdendo desempenho. Vale ressaltar que entre 1970-2003 houve diversos desmembramentos de distritos, o que afetou diretamente o indicador (KOHLER; GASS; MASSOLA, 2009). O setor de comércio e serviços se destaca desde os anos 50 no PIB de Ijuí, tendo uma ligação direta com o movimento do PIB. O índice da indústria apresenta um ciclo virtuoso nos anos 70, um declínio nas denominadas “décadas perdidas” e uma retomada do setor na era pós-real.

Gráfico 2: Evolução do PIB total e setores.

Fonte: IBGE (2015).

A participação de Ijuí no PIB setorial do RS também apresenta perdas nos últimos anos, visto que o setor agropecuário participava com 1,76% da produção primária do estado em 1939, caindo para 0,50% em 2005. Já a indústria tinha 1,19% da produção estadual, caindo para 0,44% em 2005. O setor terciário apresenta índices similares neste mesmo período, com exceção de alguns picos, ficando aproximadamente com 0,80% da produção por serviços e comércio (KOHLER; GASS; MASSOLA, 2009). A origem do PIB de Ijuí tem se centrado no setor de comércio e serviços, com aproximadamente 70% das atividades econômicas, e os setores industriais e agropecuários ficam com os 30% restantes.

O segmento comercial e o de produção agropecuária são considerados drivers de baixo valor agregado na economia contemporânea e o município não tem conseguido tonificar os segmentos da nova economia ou o industrial, que tem um potencial de difusão de desenvolvimento superior ao comércio e às commodities. Ijuí, um município que se destaca

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25 em empreendimentos de cunho associativista, como Sicredi, Cotrijuí, Unijuí e Hospital de Caridade de Ijuí (HCI), pode ser considerado um território que luta para promover o desenvolvimento, por vezes, de forma empreendedora.

A mudança na concepção do desenvolvimento fica evidente com a união de forças nos poderes executivos para criação de empreendimentos de cunho associativos, sendo um deles os COREDEs. Finamore (2010 apud BELTRAME, 2014), ex-presidente do Corede Produção, afirma:

Para o êxito dessa empreitada é imperativo o desenvolvimento de uma nova governança, o que significa o desenvolvimento de capacidades “em redes”, envolvendo Estado e os demais segmentos da sociedade civil organizada para a construção de diagnósticos econômicos e sociais e a construção, implementação e o monitoramento de uma agenda estratégica.

Com isso, Finamore evidencia as limitações do modelo de governança conduzido pelo Estado, seja pela sua concepção ou pelo papel que representa, como apenas um dos agentes articuladores do desenvolvimento (BELTRAME, 2014).

Uma das ideias de alinhamento de agentes de desenvolvimento é o modelo da tríplice hélice de Etzkowitz (2013). Nele, a dinâmica da inovação é interpretada a partir de redes de comunicação que remodelam permanentemente os arranjos institucionais a partir das novas perspectivas, que são criadas ao longo do tempo. Este modelo é fundamentado na ciência e na tecnologia, adotado como essencial para o desenvolvimento dos países, onde a inovação se apresenta como um forte elemento para alcançar uma alta competitividade nacional.

O estudo em questão está relacionada à observação de que a universidade pode e deve desempenhar um papel a mais no que se refere à contribuição que dá para a sociedade baseada no conhecimento. Em relação à estrutura educacional, Ijuí vem se destacando desde a educação básica até a educação superior e, nos últimos anos, nas ciências aplicadas, sediando a Unijuí, uma das melhores universidades do estado.

Estas mudanças estruturais no município podem ser analisadas por outro ângulo, pelo número de habitantes do município, onde se percebe uma pequena elevação a partir dos anos 90, e uma estagnação a partir do ano 2000, este motivo unido ao inicio do plano Real em 1994 fez com que se optasse por estudar o território de Ijuí de 1994-2014.

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26 Diante de todo o exposto, afirma-se que Ijuí tem potencial de desenvolvimento, porém as oscilações de sua performance prejudicaram o desempenho do município. Com isso a proposta de um olhar sobre Ijuí, observando os fatores de desenvolvimento endógeno deste território, a fim de ter uma análise qualificada pelo olhar dos atores da tríplice hélice, pode apresentar um possível diagnóstico das eventuais faltas de ação integrada dos diversos agentes. Procura-se comprovar a tese defendida por Barquero (2002) e Boisier (1999), que apresentam os atores locais como potencializadores no processo de desenvolvimento, pois a união dos atores locais é destacada como de suma importância no modelo de desenvolvimento endógeno e quando isso não ocorre a estagnação é um dos problemas que incide no território. Busca-se, assim, analisar não só o crescimento do território, mas um modelo de desenvolvimento equilibrado entre as dimensões econômica, social e ambiental garantido a sua sustentabilidade histórica, procurando evitar oscilações e criando uma base de desenvolvimento endógeno sólida.

A análise da dinâmica deste território é marcada pela existência de atores consistentes, fatores ambientais, principalmente no segmento agropecuário bastante robusto, um segmento de geração de conhecimento em crescimento, porém um processo de desenvolvimento orgânico irresoluto e sem uma definição de projeto claro de integração. Este conjunto de características e a dinâmica de interação dos agentes fundamentais conduz a questão central desta investigação, qual seja: que fatores têm determinado a dinâmica de desenvolvimento

do município de Ijuí e como os diversos atores estratégicos, têm se posicionado e interagido neste processo?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Descrever, analisar e sistematizar a dinâmica de desenvolvimento do município de Ijuí a partir das dimensões do modelo de desenvolvimento endógeno.

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1.3.2 Específicos

a) Apresentar a evolução histórica do processo de desenvolvimento do município de Ijuí no período 1994 a 2014.

b) Identificar e descrever as ações e estratégias, a partir do modelo da tríplice hélice, com maior potencial de impacto socioeconômico à promoção do desenvolvimento endógeno do território, no período analisado.

c) Analisar os comportamentos e relações que geraram desenvolvimento para o território e quais provocaram ações sem sucesso, a partir da análise realizada com os atores, delineando um possível relacionamento entre estes atores, a fim de caracterizar o processo de desenvolvimento deste território.

1.4 JUSTIFICATIVA

Inicialmente, é importante destacar que Ijuí é uma cidade que teve forte representatividade estadual e que gradativamente foi perdendo seu espaço neste cenário. Este estudo procura aprofundar a base de conhecimentos sobre o desenvolvimento endógeno, analisando a realidade do desenvolvimento em Ijuí/RS. Procura unir o embasamento teórico e científico, com a prática realizada, analisando as respostas obtidas através de entrevistas com os sujeitos da pesquisa, buscando avaliar com eles o desempenho do território a começar dos dados públicos previamente selecionado e, a partir disto, observar a relação entre a teoria de Boisier (1999) para o desenvolvimento endógeno com as práticas estimuladas para o desenvolvimento de Ijuí.

De outra parte, destaca-se também o caráter relevante da pesquisa em relação à investigação do tema. Com os dados deste processo analítico é possível apresentar um diagnóstico, que posteriormente pode ser utilizado para a criação de um planejamento de desenvolvimento do território, de forma a otimizar esforços e tempo, acelerar o processo e solidificar no território um desenvolvimento autossustentável, que permita cada vez mais, o bem-estar de seus atores locais.

Esta justificativa é fundamentada em Basso et. al. (2014) onde os mesmos não apresentam dúvidas da importância de se conhecer a realidade para poder intervir, porém a

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28 grande dificuldade é como se deve proceder para saber os problemas fundamentais e suas reais causas. Há uma diversidade de alternativas quanto aos procedimentos metodológicos para realizar estudos sobre a realidade apropriada para diagnosticar o desenvolvimento do território em questão. Estas dinâmicas propiciam ao pesquisador diversos estudos, o que traz grande aprendizagem, enriquecendo-o de conhecimento tanto dos temas abordados quanto dos procedimentos metodológicos utilizados, contribuindo para a formação de um pesquisador acadêmico.

A questão levantada visa aprofundar o debate sobre o desenvolvimento territorial, um dos temas do curso de Mestrado em Desenvolvimento, na perspectiva do empreendedorismo, contemplado na linha de pesquisa Gestão Empresarial. Alia-se a influência de líderes e empreendedores no desenvolvimento e qual o seu olhar sobre o território, o que pode detectar novos aspectos importantes, para o desenvolvimento e poderão ser utilizados nas práticas no sentido de desenvolver este território. Essa aliança temática entre os principais conceitos do estudo poderá disponibilizar dados sobre os atores sociais e promover um novo olhar sobre a questão do desenvolvimento em Ijuí.

Diante das justificativas apresentadas, vale destacar, novamente, a importância dessa pesquisa para o território, pois ao conhecer a realidade desta sociedade, a partir de uma nova ótica ainda não abordada, e assim contribuir na redefinição de políticas e no processo de desenvolvimento territorial. Esta pesquisa pode também observar um modelo de desenvolvimento diferente dos demais apresentados pela academia e com isso pode-se iniciar novos estudos pelo grupo de pesquisa a fim de definir um modelo de desenvolvimento não discutido até o momento.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento é um tema debatido ao longo tempo, por isso a diversidade de definições intrínsecas ao termo. Segundo uma das vertentes teóricas concebe o desenvolvimento associado à evolução, como seu principal pilar do pensamento sobre a natureza do mundo. Segundo Aristóteles, “a natureza é a geração das coisas que se desenvolvem”. Com isso, a noção de movimento traz o fenômeno da repetição, o qual nasce, cresce, morre e recomeça, fiel à natureza cíclica, estando ligada à teoria da evolução das espécies (FAVARETO, 2007).

Nesta linha, pode-se perceber que, à medida que o mundo evolui, a racionalidade vai incorporando, conflitos surgem, e, a religião cristã, dominante culturalmente o mundo ocidental, acaba influenciando os filósofos da época para um modelo teólogo cristãos. No início da Idade Média, Santo Agostinho tenta conciliar tradição, teologia cristã com filosofias antigas. Com isso, ciclos sucessivos de ascensão, apogeu e declínio defendidos por Aristóteles, são ultrapassados pelo surgindo um ciclo linear e único para a história (FAVARETO, 2007).

A ascensão do Iluminismo trouxe questionamentos sobre as mudanças sociais, em um contexto no qual a racionalidade aparece e ganha força nas ideias do mundo, surgindo à noção de “processo de evolução social”. Diversas palavras têm sido utilizadas para expressar “o movimento histórico da humanidade e seu sentido” (FAVARETO, 2007, p. 35), dentre elas: evolução, progresso, desenvolvimento sendo que esta última foi a que teve maior aceitação, provavelmente devido à sua relação desde a origem da palavra em latim até os seus significados tratados pelos filósofos da época (FAVARETO, 2007).

O conceito de desenvolvimento com direito à propriedade privada e liberdade econômica ganha nova proporção e magnitude a partir da Revolução Industrial quando o progresso passa a ser considerado, dando início ao surgimento de ricos emergentes e criando uma nova sociedade e modos de produção inovadores para a época. (FAVARETO, 2007; COSTA 2006).

Com a crise na década de 20, originida pelos Estados Unidos, provoca uma forte depressão econômica em diversos países, diante disso surge à ideia de crescimento como

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30 caminho para superação. Desta forma, a difusão da tecnologia e do conhecimento são modelos necessários para diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento. O objetivo do crescimento econômico é aumentar a riqueza, ocorrendo de forma assimétrica à distribuição de rendas, permanecendo assim as desigualdades sociais (ORTEGA, 2008; FAVARETO, 2007; COSTA, 2006).

Até meados do século passado era definida nação desenvolvida onde existia um consistente processo de industrialização e uma nação “subdesenvolvida” aquela, cujo a industrialização era fraca ou inexistente. Este foi um dos fatos que trouxe uma forte ligação entre o desenvolvimento e o crescimento. Contudo, iniciam-se questionamentos, principalmente depois da crise de 29, e que na segunda parte do século, se intensificaram quando se começa a notar diferenças entre conceitos e evidencia-se a complexidade de uma definição. Assim, a primeira definição dada é do crescimento econômico, preocupado com acúmulo e quantidade de riqueza, a segunda, o desenvolvimento está direcionado a qualidade de vida, contudo, ainda analisando os índices econômicos, basicamente utilizando o PIB per capita. No entanto, existem algumas variações entre os modelos de desenvolvimento propostos por diferentes economistas (VEIGA, 2005).

Estes novos modelos/conceitos procuram avaliar aspectos sociais e não somente o crescimento econômico e, assim, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pelo economista Mahbub ul Haq com a colaboração de Amartya Sem, e utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na tentativa de verificar o desenvolvimento das nações. O PNUD escolhe deste indicador pelo fato de ser amplo e por também utilizar o PIB, trabalhando em três aspectos: educação (taxa de alfabetização e escolarização); saúde (expectativa de vida da população); e renda (PIB per capita). Mesmo com uma significativa melhora do processo de análise com o IDH, este ainda apresenta uma visão parcial, pois existem outras variáveis que fazem parte do desenvolvimento de um território, com isso promoveu-se a criação de diferentes indicadores no Brasil, na tentativa de evidenciar cada vez mais a realidade da sociedade, sendo então propostos indicadores como: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE), Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM), todos apresentando variáveis e metodologias variadas o que, consequentemente os municípios ficam em colocações diferentes (PNUD, 2015; VEIGA, 2005; SIEDENBERG, 2003).

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31 A partir de seus estudos, Veiga (2005) apresenta três concepções básicas de desenvolvimento. A primeira é a concepção de crescimento econômico; a segunda, trata o desenvolvimento como um mito, negando assim sua existência. O mesmo autor observa que, nessas duas correntes, a preferência é dada à expressão “desenvolvimento econômico” ao invés de “desenvolvimento”, mas, em sua concepção, a última é mais correta. A terceira é a percepção do desenvolvimento como formato para garantir liberdade às pessoas e seus direitos, sendo que esta liberdade não seria restrita, devendo abranger questões estruturais, qualitativas, históricas, culturais, sociais, ecológicas.

Para Kindleberger e Herrick (1977), apud Barquero (2002), que afirmam que para que ocorra desenvolvimento é necessário que haja crescimento. Souza (1995) argumenta que o crescimento é uma variação quantitativa, enquanto desenvolvimento é uma variação qualitativa no modo de vida das pessoas, nas instituições e nas estruturas produtivas. Para Lopes (1995), o crescimento é o objetivo atingido enquanto o desenvolvimento é o caminho percorrido e, com isso, não há comparação entre eles. Ele também compartilha da ideia que o crescimento é necessário para se atingir o desenvolvimento, e que por isso deve haver uma necessidade de regulação pública em contraponto da economia liberal.

A ideia que o desenvolvimento preza pelas necessidades humanas, pela qualidade de vida percorre pela literatura independente da sua vertente, se deve ocorrer crescimento ou não é discutível, porém os aspectos financeiros influenciam diretamente na qualidade de vida dos atores. Para Caiden e Caravantes (1988), o desenvolvimento deveria melhorar em todos os aspectos as condições de vida das massas.

[...]. Desenvolvimento é mais do que a passagem da condição de pobre para rico, de uma economia rural tradicional para uma sofisticada: carrega ele consigo não apenas a ideia da melhor condição econômica, mas também, a de maior dignidade humana, mais segurança, justiça e equidade (CAIDEN; CARAVANTES, 1988, p. 30-31). Na interpretação de Rivero (2002) o desenvolvimento acaba estabelecendo uma forte relação com a inovação e as mudanças que ocorrem com ela, o homem apresenta vontade de sempre modificar o mundo, assim como visto na evolução humana, se desenvolve e se modifica juntamente com o objeto de desejo. O autor ainda afirma que é impossível todos os países chegarem ao mesmo patamar, visto que os países desenvolvidos hoje continuarão o seu desenvolvimento e os países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos têm problemas em

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32 desenvolver conhecimento científico e inovações tecnológica, dependendo dos países de primeiro mundo sendo difícil modificar este contexto (RIVERO, 2002).

O autor também observa o fato de parte da receita dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento ser gerada pela venda de produtos de pouco valor agregado, como produção agrícola, minérios, entre outros, pois normalmente não tem tecnologia suficiente para transformar o produto, a fim de gerar maior valor agregado. Para isso, é necessário, além de tecnologia, mão de obra qualificada, lembrando que ao mesmo tempo em que países subdesenvolvidos promovem o seu desenvolvimento científico-tecnológico, os desenvolvidos continuam seus estudos tornando esta balança difícil de ser equilibrada (RIVERO, 2002).

Outro aspecto a ser analisado é o fato de que regiões que perdem importância, em declínio ou estagnação, também apresentam redução na sua população. Ou seja, a capacidade da região reter as novas gerações em sua população a partir de novas e modernas frentes de trabalho, afim de evitar o processos migratórios para outras regiões com melhores oportunidades de trabalho, estacionando a progressão ou diminuindo a população de cidades e até de regiões, conforme é possível observar em muitas cidades do Rio Grande do Sul (SCHNEIDER; LÜBECK, 2003).

2.2 AS ESCALAS DE DESENVOLVIMENTO

Com o passar do tempo cada vez mais é reconhecida a importância da dimensão territorial no desenvolvimento, pois dela se pode investigar, interpretar e ajudar a conduzir este procedimento pela união de diferentes pontos de vista. Este recorte tem a possibilidade de atuar de forma assertiva, pois cada território ter suas características sociais, culturais, entre outras, que influenciam diretamente o desenvolvimento (CARVALHO, 2009).

Alguns autores têm demonstrado o espaço como um conjunto de elementos diversificados, contendo: homens, instituições, infraestrutura do espaço, as empresas que nele atuam, meio ecológico, entre outros. Percebe-se que estes elementos são incertos, pois podem mudar de espaço dependendo das condições propostas por cada um deles. Assim, a relação com o local é considerada cíclica, pois os elementos influenciam e também são influenciados pelo meio ( LIMA; SIMÕES; MELO; 2014).

Cada espaço atribui o valor que sua sociedade julga correto para cada componente. A partir de seus valores, muitas vezes heranças culturais, já que “cada sociedade encoraja o

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33 surgimento de formas específicas de organização e de instituições que lhe são próprias e que haverão de favorecer ou dificultar a atividade econômica” (BARQUERO, 2002, p.24). Com isso, é possível perceber a formação de um sistema pela união dos elementos, que se influenciam a partir modo de produção dominante daquele território. Assim o espaço se torna um sistema complexo que evolui a partir de suas próprias escolhas e estruturas. Porém, a evolução de qualquer elemento pode acabar influenciando a evolução do espaço como um todo.

Segundo Vainer (2002), para realizar um trabalho é necessário à ideia de escala, visto que ela acaba sendo central na forma de estruturar os processos em diversas áreas, sociais, culturais, políticas, econômicas entre outras, tendo um poder decisivo para sua efetividade nas ações, pois estas áreas inspiram formas de planejar e executar ações. Por esse motivo acaba sendo fundamental o entendimento que o que ocorre são processos dentro de uma dimensão escalar.

O processo de desenvolvimento e suas relações com escalas são movimentos difíceis de serem percebidos e estudados visto a diversidade de elementos conflituosos, principalmente pela organização e união dos atores locais que influenciam a trajetória do território. Estas relações devem ser vistas como elemento fundamental da transformação, pois no processo de construção do espaço, o poder de decisão pode aparecer em diversas escalas, e quando há projetos que dividem opiniões dentro da sociedade acaba por prejudicar as mudanças. A diversidade entre os diferentes atores que agem, se relacionam, influenciam o espaço e acabam criando diferentes escalas em multidimensões. Sendo assim, antigas posições se contrapõem a movimentos sociais que propõem a fazer do espaço um lugar de debate aberto, sendo que esta visão ainda precisa ser validada (VAINER, 2002).

Quando são ponderadas as escalas de forma mais abrangente observa-se a influência que os atores locais possuem no processo decisório que promove o desenvolvimento do território, e por isso é necessária sua avaliação. Alguns estudos apresentam questões sobre a dinâmica que ocorre com o desenvolvimento em diversos níveis socioeconômicos. O que culmina em um novo modelo que menciona a influência do espaço como de grande importância para o desenvolvimento. O paradigma antes realizado era do topo para a base, modifica-se, e em um novo modelo partindo das potencialidades locais para chegar ao topo. Ou seja, o antigo modelo onde grandes projetos e políticas eram pensados e inseridos por

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34 atores não pertencentes ao local é substituído pelo modelo de desenvolvimento onde a microrregião avalia e solicita seus projetos, num movimento da base para o topo, partindo das potencialidades dos próprios atores locais (AMARAL FILHO, 1996).

Segundo o mesmo autor, observa-se uma influência de assuntos inerentes e da dinâmica socioeconômica do espaço em diversos níveis, o que concebe melhorias na preparação de políticas para o desenvolvimento tanto territorial quanto regional, pois os atores locais acabam tendo um papel importante nas relações criadas, que se pode perceber no Estado com os COREDEs, os quais procuram aproveitar as características locais e seu modo de produção, tendo características diferentes em cada região, ocasionadas pelas relações sociais instituídas em cada espaço. (LIMA; SIMÕES; MELO; 2014).

Em outro estudo sobre escalas, Dallabrida (2010, p. 170) expõe o fato de que “[...] políticas de desenvolvimento não podem considerar os governos locais e suas estratégias como objetos isolados, pois essas tendem a contemplar as relações que os atores políticos estabelecem com as empresas e também com o capital internacional.”, mostrando, com isso, que a herança cultural acaba influenciando e que muitas vezes há desconcentração do foco principal, que é o desenvolvimento, e uma participação seletiva dos atores sociais torna este desenvolvimento vulnerável aos agentes em ação.

Em seu livro Brandão (2007) preocupa-se com o localismo exagerado, apresentando outro lado do espaço social, que pode gerar projetos incapazes de produzir um território melhor, trazendo consequências negativas para o desenvolvimento do espaço, pois as heranças culturais produzem diferentes processos de gestão e consequentemente diferentes desenvolvimentos territoriais.

Com todas estas questões, percebe-se que as escalas apresentam problemas tanto nos espaços cartesianos quanto nos espaços sociais. Castro (2006, p. 16) afirma que “nas últimas décadas do século XX, fenômenos importantes e aparentemente contraditórios continuam colocando o fato político em destaque na agenda da geografia”. Ainda diz que acontecimentos históricos como a globalização, o enfraquecimento do Estado trouxeram o aumento da circulação de mercadorias em âmbito mundial, a expansão da democracia e a intensificação da pobreza. Ou seja, os problemas relativos ao desenvolvimento, referente a qualidade de vida dos atores sociais, continuam independentes das escalas (CASTRO, 2006).

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35 Segundo Fleury (2006), o Estado deveria ser aproveitado para agenciar uma mudança estrutural, modernizando a agricultura, fornecendo infraestrutura ou promovendo a industrialização. É observado que no Brasil ao invés de principal agente transformador, o Estado acabou sendo um obstáculo para o desenvolvimento, ao perceber este deslize procura modificar as relações com o desenvolvimento realizando políticas de ajuste no último quarto do século passado.

Analisando as mudanças estabelecidas pelo novo modelo de Estado percebe-se a necessidade de os processos não ocorrerem somente no âmbito territorial, mas sim de forma multiescalar. Com isso há uma necessidade de consenso regional na tentativa de gerar um desenvolvimento não só local, mas com conexões econômicas para toda a região atingindo, assim, um desenvolvimento coeso e sustentável. A dificuldade é apresentada por Amin (2008, p. 362) “Não há nenhum território regional definível para governar. A implicância é que se necessita um marco político regional alternativo, que considere as regiões como parte de um conjunto mais amplo de conexões econômicas e de obrigações institucionais”.

Desta forma, percebe-se que os problemas com a escala de região se iniciam pela falta de possibilidade de tomar decisões como instituição. Deve considerar ainda as conexões e, por conseguinte a divisão de responsabilidades, que acaba comprometida justamente pela falta de regulamentação frente aos órgãos competentes. Ainda, em seu trabalho, Dallabrida e Büttenbender (2010, p. 3) colocam fortes posições de outros autores como “Swyngedouw (2004), que afirma que configurações escalares resultam dos processos socioespaciais que regulam e organizam poder e relações sociais, processos estes que, segundo Peck (2005), opera em todas as escalas, em vez de serem confinados a uma determinada escala”. Diante disto percebe-se que as tentativas de políticas multiescalares ainda precisam ser analisadas em sua efetividade, visto que apresentam diversas dificuldades de conexão e aceitação tanto entre os diversos atores como entre os estudiosos do tema.

O cenário atual apresenta distintas escalas onde as dinâmicas se inter-relacionam e se interpolam. O cenário global é caracterizado por transformações escalares e reestruturação mundial diante de um capitalismo agressivo. Smith (2005) “ressalta que o capital não somente produz o espaço em geral, mas também as reais escalas espaciais que dão ao desenvolvimento desigual a sua coerência” vindo ao encontro da ideia de Castro (2006) em sua concepção de que o poder tem muitas vezes a capacidade de estabelecer sanções como um

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36 intrumento para se chegar a um fim, transformando o desenvolvimento desigual independente da escala.

Devido às caracteristicas apresentadas anteriormente é necessário criar estratégias no processo de desenvolvimento que enfrentem os diversos interesses encontrados nas diversas escalares o que sugere uma construção de diversas formas de poder em múltiplas escalas espaciais. Assim qualquer plano ou tática para o desenvolvimento deveria exigir o envolvimento das diversas escalas dos espaços implicados, procurando encontrar a cooperação, mesmo sabendo que a competição existe em outros campos não articulados na cooperação. Assim, é necessário procurar estratégias multiescalares para a apreciação e diagnóstico dos elementos sobre os quais se deve intervir (BRANDÃO, 2007; VAINER, 2002).

Se considerar que os novos poderes fornecidos pela tecnologia descartam os espaços cartesianos, muitas vezes os atores locais ficam reféns do controle e das decisões de grandes redes que estão no local (sendo elas presentes fisicamente ou não). Os autores dizem que para lutar contra esta força deve ser utilizada efetivamente a democracia para o nascimento de um contra poder, porém dependerá especificamente da sociedade e de um amadurecimento de diversos elementos complexos pertinentes ao modelo atual (DALLABRIDA; BÜTTENBENDER, 2010).

A partir de toda a discussão, Carvalho (2009, p. 131) acredita que:

“[...] ordenamento do território é considerado uma ferramenta nuclear para reduzir as disparidades regionais, melhorar o uso e a organização espacial (considerando, de forma adequada, os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais), proteger o ambiente e melhorar a qualidade de vida, num contexto de profundas modificações nas estruturas econômicas e sociais dos países europeus e nas suas relações internacionais”.

Já Brandão (2007), em seu último capítulo, apresenta a tendência de transformação mundial de eliminação das escalas intermediárias devido às correntes teóricas homogêneas vividas nos dias atuais, “[...] confirmando uma tendência bipolar [...] – apenas o “local” e o “global”. Nesta visão altamente consensuada hoje, só restaria a opção de políticas de desenvolvimento de natureza “monoescalar”, isto é, só tendo o local como ponto de partida

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37 (e de chegada?) [...]” (BRANDÃO, 2007, p. 183) o que necessitaria de um ambiente de forte cooperação entre seus atores.

A análise das problemáticas escalares no contexto atual evidencia que as formas espaciais acabam tendo um papel de apoio ao processo de concentração e centralização do capital. As cidades são locais promotoras de desenvolvimento territorial, de uma economia cada vez mais contemporânea e com estes fatores influencia a transformação da sociedade, desempenhando, assim, papel fundamental no processo de acumulação tanto de capital social como de recursos financeiros, viabilizando a modificação e disseminação de processos de produção (LIMA; SIMÕES; MELO; 2014).

Desta forma, as cidades representam um ambiente possível de ser construído e são destaques as que melhor viabilizam o acúmulo capitalista. A governança territorial deve propiciar ações de forma a aumentar a capacidade de organização de sua sociedade local, a fim de administrar tanto assuntos públicos como políticos para promover o desenvolvimento. Decorrente desta concepção, a gestão territorial precisa ser entendida como um processo de gestão de diferentes visões de mundo e de interesses conflituosos, que tem origem em diferentes escalas, e que precisam ser detectadas, estudadas e criadas estratégias numa tentativa de desenvolvimento territorial.

2.3 DESENVOLVIMENTO REGIONAL X TERRITORIAL X LOCAL

Os temas desenvolvimento regional, territorial e local foram debatidos durante todo o século XX, procurando sempre alavancar a economia e propiciar novos modelos para o crescimento econômico e posteriormente para o desenvolvimento. Estas escalas trabalham com diversos elementos interdisciplinares, o que aumenta a complexidade para se perceber quais dos diversos fatores influenciam o desenvolvimento e assim criar uma percepção cada vez mais aprimorada.

Para elaborar esta análise em busca de uma nova percepção do território é preciso fazer uma reflexão sobre o passado, avaliando hierarquias antigas existentes de forma que seja possível detectar os elementos históricos que influenciam o espaço. Segundo Santos (2006) há três tipos básicos de espaço. O primeiro se encontra nas sociedades tradicionais, onde as culturas são transmitidas de forma que a ideia é de que o tempo não passa, onde as coisas acontecem de forma lenta, as transformações são quase imperceptíveis, ou seja, o

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espaço-38 tempo é circular. O segundo é o oposto ao primeiro, os progressos são constantes, a inovação está sempre sendo incentivada, e com isso as transformações são visíveis. O terceiro espaço é tempo da simultaneidade, onde se encontra um pouco dos dois espaços, ao mesmo tempo em que há herança de fatores culturais, são criados novos modelos de processos e transferência ou criação de novos produtos.

Mostra que o foco de sua percepção de desenvolvimento parte das estratégias que procuram preparar os atores locais de forma que eles modifiquem a realidade encontrada, procurando incentivar os elementos favoráveis e modificar os padrões encontrados, revelando que a diferença entre regiões é a sua capacidade de produzir e acumular tanto capital quanto inovação, influenciada pela história da sociedade, pela aceitação quanto a mudanças, processos e produtos e pelo acúmulo da riqueza concentrado no espaço (SANTOS; 2006).

Outra percepção é apresentada por Boisier (1996), para o qual o desenvolvimento está relacionado a seis elementos, suas qualidades, influência e articulações entre si e como se relacionam com outros territórios. O primeiro elemento citado são os atores locais, suas relações, como acontecem às tomadas de decisões e como são postas as posições que influenciam nesta sociedade. As instituições aparecem como segundo elemento, que influenciam a evolução da sociedade pelo formato utilizado. O terceiro elemento envolve a herança ética, a visão do mundo e as normas que conduzem as relações neste ambiente, ou seja, toda a cultura passada para estes atores sociais. Outro elemento apresentado é os procedimentos utilizados dentre as instituições, suas formas de relação e a maneira como lidam nas adversidades. Os recursos que se encontram no local surgem como o quinto elemento, sendo que neles estão contidos recursos naturais, financeiros e humanos. O último elemento e não menos importante é o meio externo, também chamado de entorno, ou seja, a forma de articulação com as demais escalas, o grau de influência e suas relações com o Estado.

Diante destes elementos, a boa articulação entre eles pode potencializar a região a um desenvolvimento consistente e fomentar recursos visando o desenvolvimento do território, tanto economicamente quanto socialmente, criando assim um cenário de projetos coletivos resultantes de três forças: alocação de recursos, política econômica e ativação social (BOISIER, 1996).

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39 Já o desenvolvimento local não envolve necessariamente o desenvolvimento de um município, pois pode abranger um território, uma localidade, comunidade ou microrregião. Também exibe vários significados, admitindo dimensões em diferentes formatos desde que tenha condições de propor ambientes de interação entre seus atores sociais, numa tentativa de recuperar a autonomia na gestão do que é da população. Com isso se admite um consenso de que o desenvolvimento local acaba assumindo elementos de diversas dimensões, sejam elas políticas, culturais, econômicas, sociais e ambientais, sendo necessário que as mesmas estejam alinhadas independente da diversidade cultural (MARTINS et. al., 2010).

O desenvolvimento local parte da flexibilidade, instituindo uma tática de diversificação das atividades com o intuito de enriquecimento sobre um dado território com base na mobilização de seus recursos (naturais, humanos e econômicos) e de suas energias, opondo-se às formas de organização clássicas. Tanto elementos culturais quanto socioeconômicos são fatores determinantes para o desenvolvimento de uma economia forte, estando entre os elementos influenciadores: as habilidades empreendedoras; os fatores locais de produção (recursos naturais, capital e trabalho) abertos a mudanças; as técnicas e habilidades de produtivas principalmente baseadas em inovações; e uma boa capacidade na tomada de decisão (BENKO, 1999; BARQUEIRO, 2002).

As estratégias de desenvolvimento local procuram ser uma reestruturação produtiva frente a um desenvolvimento desigual entre regiões, em uma tentativa de aproveitar as características locais para potencializar o desenvolvimento, reduzindo assim sua dependência do exterior. Estas, porém, acabam se tornando ambíguas, uma vez que os atores locais têm vínculo direto na forma que são tomadas as decisões, pelos seus vínculos próximos e diretos com o espaço, acabam sendo influenciados pela herança cultural e fatores éticos, o que muitas vezes acaba estagnando o local (ENDLICH, 2007).

Seguindo nesta linha, Endlich (2007, p. 14) ainda reforça que “os interesses são unificados, os conflitos e as diferenças silenciados em nome da ‘salvação’ do local, para que seja uma ‘região ganhadora’.”, sendo que isso muitas vezes pode acontecer na forma de alguns empregos ou na terceirização, criando relações precárias, o que não é o objetivo do conceito de desenvolvimento. Permanecendo conflitos entre o capitalismo atual e os atores sociais, sendo necessário trabalhar estratégias para melhorar esta relação. “Por isso, é

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