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Dinâmica da produção leiteira na região fronteira noroeste do Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional

Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos

JESILDO MOURA DE LIMA

DINÂMICA DA PRODUÇÃO LEITEIRA NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Ijuí/RS 2020

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DINÂMICA DA PRODUÇÃO LEITEIRA NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Tese apresentada ao curso de pós-graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional -Mestrado e Doutorado, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul -UNIJUÍ, na Linha de Pesquisa, Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Professor Dr. David Basso

Ijuí/RS 2020

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L732d

Lima, Jesildo Moura de.

Dinâmica da produção leiteira na região fronteira noroeste do Rio Grande do Sul / Jesildo Moura de Lima. – Ijuí, 2020.

187 f. ; il. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento Regional.

“Orientador: Prof. Dr. David Basso ”.

1. Transparência pública. 2. Participação cidadã. 3. Colaboração cidadã. 4. Governo aberto. 5. Dados abertos. I. Basso, David. II. Título.

CDU: 321.7 Catalogação na Publicação Eunice Passos Flores Schwaste

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Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Doutorado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Tese

DINÂMICA DA PRODUÇÃO LEITEIRA DA REGIÃO FRONTEIRA

NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

elaborada por

JESILDO MOURA DE LIMA

como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Desenvolvimento Regional

Banca Examinadora participou pela ferramenta GoogleMeet, conforme possibilita a CAPES – Ofício Circular nº 10/2020-DAV/CAPES:

Prof. Dr. David Basso (PPGDR/UNIJUÍ): _________________________________________ Prof. Dr. Argemiro Luis Brumm (PPGDR/UNIJUÍ): _________________________________ Prof. Dr. Nelson José Thesing (PPGDR/UNIJUÍ): ___________________________________ Prof. Dr. Carlos Águedo Nagel Paiva (PPGDR/FACCAT): ___________________________ Prof. Dr. Cidonea Machado Deponti (PPGDR/UNISC): ______________________________

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RESUMO

A dinâmica da produção leiteira na Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul passa pela compreensão histórica e seus resultados até o presente momento são fruto desta caminhada. O leite possui relevância no desenvolvimento da região, sendo constituído um Arranjo Produtivo Local, o APL Leite Fronteira Noroeste. O estudo das unidades de produção agropecuária ocorreu com objetivo de analisar a capacidade de geração de valor agregado e de apropriação de renda dos diferentes tipos de produtores de leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, visando o atingimento do Nível de Reprodução Social. Utilizou a abordagem metodológica da Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários, que se ampara na Ontologia do Realismo Crítico e a Complexidade, privilegiando a explicação da realidade ao invés da apenas descrevê-la. Em termos espaciais, foram pesquisados agricultores da região do COREDE Fronteira Noroeste, situada na mesorregião Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, margeada pelo Rio Uruguai, fazendo limite com a Argentina. São 20 municípios: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi. A coleta de dados a campo ocorreu nos anos 2018 e 2019, com visitação a 52 unidades de produção agropecuária, sendo atribuídos oito tipos distintos de produtores de leite, visando elucidar o problema que questiona qual a contribuição de diferentes tipos de agricultores e sistemas de produção para a consolidação e sustentabilidade da cadeia leiteira na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul? Em 2019 a região possuía 4.861 produtores de leite, que produziram 401,5 milhões de litros, sendo que 59,3% das unidades de produção produzem menos de 200 litros/dia. Em sua grande maioria utiliza mão de obra familiar, produção de leite a pasto com suplementação de concentrados e silagens. A mecanização da ordenha está presente em praticamente em todas as unidades de produção. Os diferentes tipos de unidade de produção agropecuária destacaram o seguir denominados: Tipo A: Familiar Leite Menor Escala; Tipo B: Familiar Leite Maior Escala; Tipo C: Patronal Leite; Tipo D: Familiar Leite e Grãos de Menor Escala; Tipo E: Familiar Leite e Grãos de Maior Escala; Tipo F: Familiar Leite e Suínos; Tipo G: Familiar Leite, Suínos e Grãos; Tipo H: Familiar Leite, Suínos e Peixe. Ainda os casos atípicos de leite e produção de tabaco e leite intensivo em sistemas confinados tipo Compost barn. Os resultados destacaram os tipos B, G e H com maior geração de valor agregado, posicionando-os como aqueles que maximizam suas atividades, obtendo melhores índices de produção por área útil. Por consequência, melhor conseguem remunerar a mão de obra utilizada, sendo esta a do tipo familiar, possibilitando condições mínimas de reprodução social daquelas famílias. Merece destaque a família no contexto das unidades de produção agropecuária, pois a sua possibilidade de se reproduzir socialmente é o fator-chave da sustentabilidade. As mudanças que ocorreram até o momento, apesar de manterem e até aumentarem o volume de leite produzido na região, reduziram a quantidade de famílias na atividade leiteira, especialmente aquelas com menor superfície útil, possuindo piores índices e, por consequência, menores volumes de produção. Ao arranjo produtivo do leite as políticas e ações empreendidas devem privilegiar aquelas que atentem para esta diferenciação das unidades de produção agropecuária, potencializando estratégias nos tipos de maior valor agregado.

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The dynamics of milk production in the Northwest Frontier Region of Rio Grande do Sul goes through historical understanding and its results to date are the result of this journey. Milk has relevance to the development of the region and a local productive arrangement, the APL Leite Fronteira Noroeste, is created. The study of agricultural production units was carried out with the objective of analyzing the capacity to generate added value and income appropriation of the different types of milk producers in the North-West Frontier region of Rio Grande do Sul aiming at reaching the Social Reproduction Level. It used the methodological approach of the Analysis-Diagnosis of Agrarian Systems, which is based on the Ontology of Critical Realism and Complexity, privileging the explanation of reality instead of just describing it. In spatial terms, farmers were surveyed in the region of the COREDE Fronteira Noroeste, located in the Northwest mesoregion of the State of Rio Grande do Sul, bordering the Uruguay River, bordering Argentina. The region consists of 20 municipalities: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa , Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva and Tuparendi. The field data collection took place in the years 2018 and 2019, to which 52 agricultural production units were visited, with 08 different types of milk producers being assigned, in order to elucidate the problem that questioned the contribution of different types of farmers and production systems. for the consolidation and sustainability of the dairy chain in the Northwest Border Region of Rio Grande do Sul? In 2019 the region had 4,861 milk producers, which produced 401.5 million liters, with 59.3% of the production units producing less than 200 liters / day. Most of them use family labor, production of milk on pasture with supplementation of concentrates and silages. The mechanization of milking is present in practically all production units. The different types of agricultural production unit highlighted the following: Type A -Smaller milk; Type B - Larger milk; Type C- Employer Milk; Type D- Milk and smaller grains; Type E-Milk and Major Grains; Type F-Milk and Pigs; Type G - Pork and Grain Milk and Type H - Pork and Fish Milk. Also atypical cases of milk and tobacco and intensive milk production in confined systems like Compost barn. The results highlighted the types B, G and H as the greatest generation of added value, positioning them as those that maximize their activities, obtaining better production rates by useful area. As a result, they are better able to remunerate the labor used, this being the family type, allowing minimum conditions for the social reproduction of those families. In the final considerations, the importance of the family in the context of agricultural production units deserves to be highlighted, as their possibility to reproduce socially is the key factor in the sustainability of the milk chain in the region. The changes that have occurred so far, in spite of maintaining and even increasing the volume of milk produced in the region, have reduced the number of families in the dairy business, especially those with less useful surface, having worse rates and consequently lower production volumes. In the productive arrangement of milk, the policies and actions undertaken must give priority to those that pay attention to this differentiation of agricultural production units, leveraging strategies in the types of higher added value.

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AGRADECIMENTOS

Ao Criador do Universo, pela sua magnitude em propor esta experiência impar chamada Vida. À família, pela compreensão, paciência, motivação e entendimento do tempo dedicado à formação. Aos educadores das séries iniciais e do ensino fundamental, sendo escolas públicas, que propuseram a dedicação no ato de ensinar. Aos mestres do ensino médio e técnico pela capacidade de formar para a vida, de iniciar a atuação profissional. E aos professores da graduação, pelo aprendizado técnico, humano e de sociedade. À Universidade, pela oportunidade em avançar na formação, especialmente aos professores que acreditaram na proposta da pesquisa e caminharam junto para esta conquista. Ao nobre Dr. David Basso, orientador, amigo, companheiro, dedicado, incentivador e crédulo na nossa capacidade. Aos colegas do Doutorado pela companhia nesta jornada. Aos amigos pela motivação em continuar. Aos colegas de profissão pelo incentivo sempre e pela disponibilidade em ajudar.

“Não ri seu moço daquele colono. Agricultor que ali vai passando. Admirado com o movimento Desconfiado lá vai tropicando. Ele não veio aqui te pedir nada. São ferramentas que ele anda comprando. Ele é digno do nosso respeito. De sol a sol vive trabalhando. Não toque flauta não chame de grosso. P'ra te alimentar na roça está lutando. Se o terno dele não está na moda. Não é motivo p'ra dar gargalhada. Este colono que ali vai passando é um brasileiro da mão calejada. Se o seu chapéu é d'a aba comprida ele comprou e não te deve nada é um roceiro que orgulha a pátria. Que colhe o fruto da terra lavrada. E se não fosse esse colono forte tu ias ter de pegar na enxada. E se tivesse de pegar na enxada queria ver-te mocinho moderno. Pegar no coice de um arado nobre e um machado p'ra cortar o cerno e enfrentar doze horas de sol um verão forte tu suava o terno, tirar o Leite e arrancar

mandioca e mês de julho no forte do inverno tuas mãozinha finas delicadas criava calo virava um inferno. Este colono enfrenta tudo isto e muito mais eu não disse a metade. Planta e colhe com o suor do rosto p'ra sustentar nos aqui na cidade. Não ri

seu moço mais deste colono. Vá estudar numa faculdade tire o Dr. chegue lá na

roça repare lá quanta dificuldade. Faça algo por nossos colonos que deus lhe pague por tanta bondade.” Vitor Mateus Teixeira.

Aos meus Pais e seus vizinhos que, desde criança, cuidam da terra e me ensinaram a seguir ligados ao meio rural como profissão e como prazer em enxergar a vida gerando riquezas. Obrigado! Agradecido e motivado para avançar!

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Produtores e volume de produção em litros dia ... 35

Quadro 02: População da região ... 56

Quadro 03: Pré-tipologias ... 62

Quadro 04: Avaliação e modelização de sistemas ... 69

Quadro 05: Cálculo do produto bruto ... 70

Quadro 06: Produto bruto atividade subsistência ... 70

Quadro 07: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 71

Quadro 08: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 71

Quadro 09: Consumo intermediário não proporcional ... 72 Quadro 10: Depreciação das instalações ... 73 Quadro 11: Depreciação máquinas e equipamentos ... 74 Quadro 12: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 75 Quadro 13: Distribuição do valor agregado ... 76

Quadro 14: Avaliação e modelização de sistemas ... 79

Quadro 15: Cálculo do produto bruto ... 79

Quadro 16: Produto bruto atividade de subsistência ... 80

Quadro 17: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 81

Quadro 18: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 82

(9)

Quadro 19: Consumo intermediário não proporcional ... 83

Quadro 20: Depreciação das instalações ... 84

Quadro 21: Depreciação máquinas e equipamentos ... 85

Quadro 22: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 86

Quadro 23: Distribuição do valor agregado ... 87

Quadro 24: Avaliação e modelização de sistemas ... 90

Quadro 25: Cálculo do produto bruto ...

.

... 90

Quadro 26: Produto bruto atividade subsistência ... 91

Quadro 27: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 92 Quadro 28: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 93 Quadro 29: Consumo intermediário não proporcional ... 94 Quadro 30: Depreciação das instalações ... 95 Quadro 31: Depreciação máquinas e equipamentos ... 96 Quadro 32: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 97 Quadro 33: Distribuição do valor agregado ... 98

Quadro 34: Avaliação e modelização de sistemas ... 100

Quadro 35: Cálculo do Produto Bruto ... 101

Quadro 36: Produto bruto atividade subsistência ... 102

Quadro 37: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 103

(10)

grãos ...104

Quadro 39: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 105

Quadro 40: Consumo intermediário não proporcional ... 105

Quadro 41: Depreciação das instalações ... 106

Quadro 42: Depreciação máquinas e equipamentos ... 107

Quadro 43: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 108 Quadro 44: Distribuição do valor agregado ... 109 Quadro 45: Avaliação e modelização de sistemas... 111

Quadro 46: Cálculo do produto bruto ... 112

Quadro 47: Produto bruto atividade de subsistência ... 113

Quadro 48: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 113

Quadro 49: Consumo intermediário proporcional produção de grãos ... 114

Quadro 50: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 115

Quadro 51: Consumo intermediário não proporcional ... 116

Quadro 52: Depreciação das instalações ... 117

Quadro 53: Depreciação das máquinas e equipamentos ... 118

Quadro 54: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 119

(11)

Quadro 55: Distribuição do valor agregado ... 120

Quadro 56: Avaliação e modelização de sistemas ... 122

Quadro 57: Cálculo do produto bruto ... 123

Quadro 58: Produto bruto atividade subsistência ... 123

Quadro 59: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 124

Quadro 60: Consumo intermediário proporcional atividade suinocultura ... 125

Quadro 61: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 126

Quadro 62: Consumo intermediário não proporcional ... 126

Quadro 63: Depreciação das instalações ... 127

Quadro 64: das máquinas e equipamentos ... 128

Quadro 65: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 130 Quadro 66: Distribuição do valor agregado ... 131

Quadro 67: Avaliação e modelização de sistemas ... 133

Quadro 68: Cálculo do produto bruto ... 133

Quadro 69: Produto bruto atividade subsistência ... 134

Quadro 70: Consumo intermediário proporcional atividade leiteira ... 135

(12)

136

Quadro 72: Consumo intermediário proporcional produção de grãos ... 136

Quadro 73: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 137

Quadro 74: Consumo intermediário não proporcional ... 138

Quadro 75: Depreciação das instalações ... 139

Quadro 76: Depreciação das máquinas e equipamentos ... 139

Quadro 77: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 141 Quadro 78: Distribuição do valor agregado ... 141

Quadro 79: Avaliação e modelização de sistemas ... 143

Quadro 80: Cálculo do produto bruto ... 144

Quadro 81: Produto bruto atividade subsistência ... 144

Quadro 82: Consumo intermediário proporcional atividade

leiteira ...145

Quadro 83: Consumo intermediário proporcional suinocultura ... 146

Quadro 84: Consumo intermediário proporcional piscicultura ... 146

Quadro 85: Consumo intermediário proporcional atividade subsistência ... 147

Quadro 86: Consumo Intermediário não

proporcional ...148

Quadro 87: Depreciação das instalações ... 149

(13)

Quadro 88: Depreciação das máquinas e equipamentos ... 150

Quadro 89: Cálculo econômico do valor agregado e da renda agrícola do sistema de produção ... 151 Quadro 90: Distribuição do valor agregado ... 152

Quadro 91: Proporção de Agricultores atuantes na atividade leiteira nos municípios integrantes da região Fronteira Noroeste do RS, por escalas de volume de produção deleite, em litros/dia, nos anos de 2017 e 2019 ... 159

(14)
(15)

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Apresentação e classificação dos sistemas agrários ... 25

Figura 02: Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul ... 32

Figura 03: População da Região Fronteira Noroeste ... 33

Figura 04: Estabelecimentos agropecuários em 2006 e 2017 ... 34

Figura 05: Tipos de solos da Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul ... 37

Figura 06: Zoneamento proposto ... 38

Figura 07: Especificação do zoneamento proposto ... 39

Figura 08: Lavouras anuais, comunidade de São Roque, município de Independência/RS ... 40 Figura 09: Comunidade de Barrinha Ceccin, interior de Três de Maio/RS ... 41

Figura 10: Aspectos evidenciados no interior do município de Porto Vera Cruz ... 42

Figura 11: Afloramento de rochas na Zona 03, interior de Porto Lucena ... 43

Figura 12: Tipo de solo encontrado na Zona 03 ... 44

Figura 13: Algumas instalações existentes ... 44

Figura 14: Criação de animais ... 45

Figura 15: Área plantada de culturas temporárias (hectares) ... 55

Figura 16: Produção de Milho, Soja e Trigo (toneladas) ... 57

(16)

59

Figura 18: Modelo de composição da renda por UTF ... 77

Figura 19: Modelo de composição da renda por UTF ... 88

Figura 20: Modelo de composição da renda por UTF ... 99

Figura 21: Modelo de composição da renda por UTF ... 110

Figura 22: Modelo de composição da renda por UTF ... 121

Figura 23: Modelo de composição da renda por UTF ... 132

Figura 24: Modelo de composição da renda por UTF ... 142

Figura 25: Modelo de composição da renda por UTF ... 153

Figura 26: Percentual de agricultores em cada faixa de produção ... 161

Figura 27: Remuneração e produtividade do trabalho familiar ... 163

Figura 28: Produtividade (Litros/Vaca/Ano e Litros/Hectare/Ano) ... 164

Figura 29: Valor agregado nos diferentes tipos de UPAs encontradas na Região Fronteira Noroeste do RS... 165

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADSA - Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários APL Leite - Arranjo Produtivo Local do Leite

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APLs - Arranjos Produtivos Locais

AMGSR - Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa CCGL - Central das Cooperativas Gaúchas de Leite

Ce - Cambissolo Eutrófico

COREDE Fronteira Noroeste - Conselho Regional de Desenvolvimento Fronteira Noroeste

COTRIMAG - Organização da Triticultura Nacional e Armazenagem Geral COTRIN - Organização da Triticultura Nacional

DEAg - Grupo de Pesquisa Sistemas Agrários e Desenvolvimento do Departamento de Estudos Agrários

EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMATER/ASCAR - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal e a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural

FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura FEE - Fundação de Economia e Estatística

FUNCAP - Fundação de Capacitação e Desenvolvimento FUNRURAL - Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INA-PG - Instituto Nacional Agronômico, Paris-Grignon

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ITR - Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

LRd - Latossolo Roxo Distrófico

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RA - Renda agropecuária

Re - Litólicos Eutróficos SAU - Superfície de área útil

SLPs - Sistemas Locais de Produção Ter - Terra Roxa Estruturada Eutrófica Tr - Terra Roxa Estruturada

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UPA - Unidade de Produção Agropecuária

(18)

SUMÁRIO

CAPÍTULO 01: O CONTEXTO DO ESTUDO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO RURAL ... 21

(19)

1.1 DISCUSSÕES TEÓRICAS RELEVANTES ... 21

1.1.1 A Teoria dos Sistemas Agrários ...... 21

1.1.2 As Condições Materiais da Reprodução Social ...... 26

1.2 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS ... 27

1.2.1 Estudo de Sistemas Complexos ...... 28

1.2.2 Ontologia do Realismo Crítico como Fundamento Metodológico ...... 28

1.2.3 Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários ...... 30

1.2.3.1 Princípios Metodológicos da ADSA ......... 30

1.2.3.2 Etapas da ADSA ... 31

CAPÍTULO 02: PROCESSO HISTÓRICO DOS PRODUTORES DE LEITE DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL ...

32

2.1 ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO ... 36

2.1.1 Zona 01 – Terra Roxa ou Latossolo Roxo (LRd2) ...

39

2.1.2 Zona 02 – Solos argiloso/pedregoso (Ce2) ...

40

2.1.3 Zona 03 – Solos cascalhentos (TRe 3 e 4 e Re10 e 20) ...

42

2.2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA REGIÃO ... 46

2.2.1 Primeiro Período (até meados de 1960) ...

46

2.2.2 Segundo Período (1960 até meados de 1990) ...

51

2.2.3 Terceiro Período (de 1990 até momento atual) ...

(20)

59

CAPITULO 03: CARACTERIZAÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA ...... 64

3.1 TIPO A – FAMILIAR LEITE MENOR ESCALA ... 68

3.2 TIPO B: FAMILIAR LEITE MAIOR ESCALA ... 77

3.3 TIPO C: PATRONAL LEITE ... 89

3.4 TIPO D: FAMILIAR LEITE E GRÃOS DE MENOR ESCALA ... 100

3.5 TIPO E: FAMILIAR LEITE E GRÃOS DE MAIOR ESCALA ... 111

3.6 TIPO F: FAMILIAR LEITE E SUÍNOS ... 122

3.7 TIPO G: FAMILIAR LEITE, SUÍNOS E GRÃOS ... 133

3.8 TIPO H: FAMILIAR LEITE, SUÍNOS E PEIXE ... 143

3.9 CASOS ATÍPICOS ... 154

CAPITULO 04: ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO E DA CAPACIDADE DE REPRODUÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE AGRICULTORES E SISTEMAS DE PRODUÇÃO ... 157

4.1 CENÁRIO DO LEITE NA REGIÃO ... 158

4.2 VALOR AGREGADO ... 165

(21)

4.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA PROJETOS DE INTERVENÇÃO NA PRODUÇÃO DE LEITE DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL ... 169

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...

175

(22)

INTRODUÇÃO

A região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, ao longo de sua história, por diversas vezes foi objeto de questionamentos acerca da busca de novas alternativas para seu desenvolvimento, como a suinocultura, a avicultura e a produção de leite. O avanço da produção de suínos, por meio da verticalização da atividade via sistemas de integração, envolvendo parcerias dos produtores com empresas processadoras (frigoríficos), fornecedores de ração, máquinas e equipamentos, obteve grande destaque. A produção de aves foi tema de discussão regional na década de 1990, provocada por movimentos cooperativos que buscavam estimular a cadeia de produção de carne, mas abandonada na mesma década, especialmente pelas grandes dificuldades enfrentadas pelas cooperativas de produção e o endividamento dos produtores rurais naquele período.

A compreensão de cadeia produtiva pode ser entendida como uma corrente vertical com elos que, interligados, cumprem o papel da passagem da matéria-prima desde a sua produção até a fase final, alcançando o consumidor. Batalha (1995) destaca que a análise de cadeia de produção é especialmente adaptada à problemática do sistema agroindustrial, permitindo, por meio de cortes verticais, sua segmentação fina e o entendimento da ação estratégica da empresa. A cadeia pode ser dividida em três macros segmentos, nem sempre facilmente identificáveis: a produção da matéria-prima, a industrialização e a comercialização. Para Sparemberger et al. (2009), a cadeia produtiva do leite é formada por um conjunto de atores que interagem entre si. Nesta cadeia, o início se dá com a produção de insumos, da qual fazem parte empresas responsáveis por matéria-prima, equipamentos, crédito, serviços e pesquisa. O elo seguinte desta cadeia produtiva refere-se à produção leiteira propriamente dita, envolvendo produtores, animais, o desenvolvimento genético, a qualidade e o preço de produtos. A indústria representa o terceiro elo desta cadeia, fazendo parte da mesma as empresas que transformam a matéria-prima, além das responsáveis pela logística do recolhimento do leite e distribuição dos produtos industrializados. O último elo da cadeia produtiva do leite é o consumidor, que adquire os produtos derivados do leite (SPAREMBERGER et al., 2009).

(23)

Já os Arranjos Produtivos Locais (APLs) são formados por um conjunto de empresas, produtores e instituições que, em um mesmo território, mantêm vínculos de cooperação. Com produtos semelhantes, participam da mesma cadeia produtiva, utilizam insumos comuns, necessitam de tecnologias semelhantes e informações sobre os mesmos mercados. Para Macadar e Costa (2016), os APLs são resultados de uma prioridade definida por uma região para o seu desenvolvimento econômico como forma de “equilibrar” as desigualdades regionais. Ainda afirmam que o Estado do Rio Grande do Sul foi pioneiro em criar políticas para APLs, quando, no início dos anos 2000, apoiou os Sistemas Locais de Produção (SLPs). Mas foi somente em 2011, ao ser aprovada a Lei n.º 13.839, que instituiu a Política Estadual de Fomento à Economia da Cooperação, que foi criado o Programa Estadual de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos Produtivos, instituída por meio do Decreto n.º 48.936, de março de 2012, que, entre outras definições, passa a ter a responsabilidade de reconhecimento e enquadramento de novos APLs. Logo, a região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, por ora delimitada, possui em sua recente história, a partir de 2014, a tentativa de organização para a constituição de um Arranjo Produtivo Local da cadeia do leite, obtendo, do Governo do Estado, o seu reconhecimento como APL.

A fim de estudar as unidades de produção agropecuária, este estudo objetivou compreender como diferentes sistemas de produção desenvolvidos por agricultores podem contribuir para a consolidação da cadeia produtiva do leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Para dar conta deste objetivo, adota a abordagem metodológica da Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários, que se ampara na ontologia do Realismo Crítico. Esta contextualização apresenta e delimita o tema e o problema de pesquisa, bem como os objetivos e a relevância do estudo.

Em termos espaciais, a pesquisa foi realizada com agricultores pertencente à região do Conselho Regional de Desenvolvimento Fronteira Noroeste (COREDE Fronteira Noroeste), situada na mesorregião Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, margeada pelo Rio Uruguai, fazendo limite com a Argentina. A região é constituída por 20 municípios: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz,

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Maio, Tucunduva e Tuparendi.

Sua delimitação encontra-se também embasada na existência da Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa (AMGSR), entidade fundada inicialmente com a participação de 11 municípios, no dia 30 de junho de 1964 (AMGSR, 2017). Esta primeira organização materializa a tentativa de uma mobilização a partir de uma microrregião diante das suas particularidades, especialmente nas dificuldades encontradas pelos gestores municipais em suas atividades municipalistas.

Estudar a atividade leiteira aponta a necessidade de pesquisar as propriedades rurais na sua diversidade de tipos, sistemas e uso de mão de obra. Nos apontamentos de autores como Mantelli (2006), quando analisando a estrutura fundiária da região Noroeste do Rio Grande do Sul, Caires e Aguiar (2015), estudando a agricultura paulista e Landau et al. (2012), na análise dos módulos fiscais existentes no Brasil, encontra-se que normalmente existe uma classificação fundiária das diferentes propriedades rurais em minifúndios, pequenas propriedades rurais, médias e grandes propriedade rurais, a partir dos módulos fiscais. Brasil (2012 a) apresenta que módulo fiscal é uma unidade de medida agrária que representa a área mínima necessária para a viabilidade econômica. Em 1979, através da Lei Federal 6.746, e pela Instrução Especial número 20, de 1980, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), foi estabelecido que no Brasil os módulos fiscais variam de cinco a 110 hectares, conforme as características de cada município (BRASIL, 1980). Landau et al. (2012) afirmam que o módulo fiscal é definido observando o tipo de exploração predominante no município, a renda obtida com esta exploração predominante e outras que tenham alguma importância, e ainda o conceito de propriedade familiar apresentado por Brasil (2006) e Brasil (2012 b). O artigo 4º da Lei 8.629 de 1993 (BRASIL, 1993, 2012 e), classifica as propriedades rurais da seguinte forma:

- Minifúndios: até um módulo fiscal;

- Pequenas propriedades: áreas entre um e quatro módulos fiscais; - Médias propriedades: acima de quatro e até 15 módulos fiscais; - Grandes propriedades rurais: com área acima de 15 módulos fiscais.

Mesmo que exposto pela legislação Brasileira, autores como Mazoyer e Roudart (2010), Dufumier (2007) e Silva Neto (2016) relatam as diferentes agriculturas geradas a partir do aumento da diversidade e geração de grandes

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desigualdades. “Podemos medir a produtividade bruta do trabalho agrícola pela produção de cereais ou de equivalência-cereal por trabalhador agrícola e por ano” (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 27). Estes autores afirmam que a agricultura praticada com ferramentas manuais, como enxadas e foices, comparada com a agricultura bem equipada e produtiva, acentuou uma diferença de 01 para 10 no período entre guerras, pulando de 1 contra 2.000 no término do século XX.

Dufumier (2007) contribui apontando as intervenções do Estado no desenvolvimento agrícola, também geradoras de desigualdades ocasionadas pelo insucesso, pressão e/ou obsolescência de projetos de desenvolvimento. Os agricultores vivem num espaço não estável, seja pelo mercado de trabalho, por condições materiais heterogêneas, gerando diferenciações sociais relevantes, muitas vezes impossibilitando até mesmo a sua continuidade na terra e ou empobrecimento grave.

Silva Neto (2016) alerta para esta diferenciação social especialmente observada na agricultura familiar. As diversas combinações de atividades gerando sistemas de produção não iguais, as categorias sociais dos agricultores como os de uso de mão de obra familiar, e ou capitalistas, por exemplo, comprovam a intensificação existencial de diferentes agriculturas e, por consequência, maior diferenciação social.

Logo, a diferenciação dos agricultores pela diversidade apresentada, resulta em contribuições da produção que advêm dos diferentes tipos. A predefinição de sistemas de produção apresentada por autores como Chang (1980), Fortes (1981), Payés (1989) e Carmo et al. (2001), muitas vezes não privilegia a observância e maior aproximação com a realidade estudada. Os dados levantados, em sua grande maioria valorizam apenas indicadores de volume de produção e seu valor bruto que somam para a região. No estudo sobre agricultores que atuam no leite na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, aqui proposto, se observado apenas seu volume de produção, ocorre a afirmação de grande relevância da

atividade, onde a pesquisa Pecuária Brasileira, promovida peloInstituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) em 2015, aponta uma produção de 423 milhões de litros.

Ainda que observando um volume considerado de litros de leite produzidos na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, torna-se insuficiente quando temos uma redução de produtores na atividade, que conforme dados do

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segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), em 2015 somaram apenas 9.780 agricultores, número que em 2017 foi reduzido a apenas 6.171 agricultores com atuação na atividade leiteira. Autores como Gomes (2000), Krug (2001) e Oliveira et al. (2007) privilegiam indicadores de referência na atividade leiteira, privilegiando como produção diária, vacas em lactação, produtividade por vaca/dia, produtividade da terra e produtividade da mão de obra (Oliveira et al., 2007, p. 507). Ainda Schiffler et al. (1999) reforça a importância do volume de produção de leite para tornar a atividade atrativa. Não distinguem os diferentes tipos de mão de obra utilizada, como aponta Silva Neto (2016), onde o autor exemplifica na comparação do tipo familiar e assalariada. Na verificação da viabilidade não são observados estes diferentes tipos de agricultores, sendo que os objetivos propostos em cada uma são distintos.

Portanto, a proposição desta pesquisa norteia-se pela busca de informações diretamente com os agricultores que atuam na atividade leiteira na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, na tentativa de explicitar a diversidade de produtores e sistemas de produção que desenvolvem, no sentido de responder ao seguinte problema de pesquisa: qual a contribuição de diferentes tipos de agricultores e sistemas de produção para a consolidação e sustentabilidade da cadeia leiteira na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul?

Diante dos aspectos justificados, o estudo analisa a capacidade de geração de valor agregado e de apropriação de renda dos diferentes tipos de produtores de leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Ainda, como objetivos específicos, situa historicamente a cadeia do leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, identifica e caracteriza os principais tipos de agricultores e sistemas de produção envolvidos na cadeia do leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, e analisa a contribuição dos diferentes tipos de agricultores e sistemas de produção para a cadeia do leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul.

Este estudo ancora-se na importância deste tema para a academia, região, linha de pesquisa a qual está situado o pesquisador e também a ele próprio, diante de sua atuação profissional nas questões temáticas da cadeia do leite na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para a academia, o estudo possibilita a busca das abordagens temáticas já aproximadas com o estudo, bem

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como a produção de novos conteúdos que possam contribuir em novas perspectivas de pesquisa. O desenvolvimento regional, as cadeias produtivas, sua organização, os arranjos produtivos locais, sistemas de produção e reprodução social são alguns assuntos pertinentes ao estudo e poderão aportar novas possibilidades de construções acadêmicas para com este e para estudos vindouros. A teia de estudo traçada visa alimentar novas percepções capazes de analisar e interpretar situações e projetos de desenvolvimento, gerando contribuições teórico-metodológicas para a continuidade deste e novos estudos num processo de importância e continuidade da produção científica.

A relevância para a região em estudo interessa pelo momento vivido, seja com a existência da sua própria delimitação geográfica denominada de Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, seja pela constituição como importante espaço produtor e beneficiador da matéria-prima, o leite. Mas, principalmente, para recente organização e constituição do Arranjo Produtivo Local do Leite (APL Leite), que a partir de mobilizações promovidas pelas lideranças regionais atingiu em 2016 a sua existência perante o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e, a partir dele, possui uma organização minimamente ativa como um grupo de governança constituído, visando a sua consolidação. O APL Leite poderá absorver, contribuir, e ainda ser “retribuído”, dos entendimentos provindos da pesquisa aqui proposta, sendo capaz de efetivar mais ações proveitosas do estudo, evidenciado pelas lideranças regionais, tornando esta pesquisa de relativa importância e relevância. As contribuições visam a possibilidade de apresentar as diferentes tipologias de produtores atuantes na atividade leiteira, bem como, a partir das explicações apresentadas pela pesquisa, o arranjo produtivo local do leite poderá definir estratégias de intervenção

A pesquisa também está inserida junto ao Programa de Pós-graduação

Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional, promovido pela Universidade Regional

do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), que têm o objetivo de instrumentalizar pesquisadores e profissionais capazes de entender e interferir criticamente no processo social e nos desafios do desenvolvimento regional, tendo a interdisciplinaridade como referência metodológica e os diversos aspectos que envolvem a questão do desenvolvimento territorial socialmente construído como temática de pesquisa. Especialmente, ainda, a pesquisa situa-se na linha de pesquisa Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas Produtivos. Esta linha

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processos e tendências globais e as dinâmicas locais e regionais de desenvolvimento. Também destaca as características dos sistemas de produção existentes, sua dinâmica de mercado, suas relações econômicas internas e externas e sua articulação em cadeias produtivas ou arranjos produtivos locais. Potencialidade, viabilidade e sustentabilidade dos distintos sistemas produtivos, bem como seus impactos econômicos, sociais e ambientais no desenvolvimento local e regional. Análise e interpretação da realidade, elaboração de estratégias e planejamento de ações de intervenção nos processos de desenvolvimento territorial, gestão ambiental e dos sistemas produtivos (UNIJUÍ, 2017).

Como pesquisador, a possibilidade do estudo, visando a melhor qualificação que objetiva a titulação futura de Doutor em Desenvolvimento Regional, oportuniza o aprendizado diante da análise e interpretação da realidade encontrada e vivida na região estudada. Como profissional que atua diariamente em atividades relacionadas à cadeia do leite, junto ao APL Leite FN do Rio Grande do Sul, implica em compreender e poder futuramente contribuir nas discussões e proposições capazes de gerar contribuições ao desenvolvimento regional. Portanto, a vivência, o aprendizado e o desenvolvimento da capacidade investigativa serão de grande relevância, além da possibilidade da aplicabilidade e produção cientifica enquanto pesquisador do tema.

O trabalho está organizado em 04 capítulos para melhor organização e apresentação dos resultados. O capitulo 01 apresenta o contexto do estudo no processo de desenvolvimento rural, evidenciando os aspectos metodológicos e teóricos necessários para a realização da pesquisa. O capítulo 02 prioriza apresentar o processo histórico dos produtores de leite, destacando as zonas agroecológicas e a distintas trajetórias que forjaram a realidade agora encontrada. No capítulo 03 são caracterizados os diferentes tipos de Unidade de Produção Agropecuária (UPA). O capítulo 04 apresenta a análise da contribuição e da capacidade de reprodução dos diferentes tipos de agricultores e sistemas de produção, e sugere ações estratégicas para projetos de intervenção na produção de leite da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul.

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CAPÍTULO 01: O CONTEXTO DO ESTUDO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO RURAL

A agricultura e seus diversos sistemas produtivos são resultados de condições como o clima, tipos de solo e condições de reprodução. Uma região pode ser estudada a partir desta reprodução, sobretudo nas evidências ora encontradas no local, bem como seus antecedentes e perspectivas possíveis ao futuro. Se uma região possuir uma delimitação, mesmo que imposta, esta poderá apresentar fatores aproximativos e comuns que a distingue das demais, mesmo que tenha em sua caracterização atributos semelhantes a outros recortes existentes.

1.1 DISCUSSÕES TEÓRICAS RELEVANTES

A discussão teórica embasa na contribuição e perspectivas dos produtores de leite na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para isso busca apoio na teoria dos sistemas agrários e nas condições materiais de reprodução social.

1.1.1 A Teoria dos Sistemas Agrários

O não conhecimento das diferentes realidades e nelas as diversas situações apresentadas em suas verdadeiras necessidades e problemas, na visão de Dufumier (2007), são os principais erros na concepção de projetos para com os agricultores. É preciso encontrar condições para que formulem ações baseadas na compreensão rigorosa da realidade encontrada. O autor ainda destaca na Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA) a importância de atentar para as evoluções históricas, visando a compreensão lógica dos acontecimentos.

Um sistema agrário antes de tudo um modo de exploração do meio historicamente constituído e durável, um sistema (técnico) de forças produtivas, adaptado às condições bioclimáticas de um espaço dado,

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(DUFUMIER, 2007, p. 60).

Dufumier (2007) ainda releva a importância da complexidade existente na tentativa de explicar a situação encontrada, diante das inúmeras variáveis que interferem para com os resultados na agricultura, que levam a apresentar nos sistemas agrários a possibilidade de estudar os acontecimentos para possibilitar a explicação dos fenômenos ocorridos junto a ela. Para isso, a teoria dos sistemas agrários contribui tanto para a realização de estudos acadêmicos, quanto para a definição de intervenções, visando promover o desenvolvimento (SILVA NETO; BASSO, 2015). Mazoyer e Roudart (2010) afirmam que a teoria dos sistemas agrários se apresenta como um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade de cada forma de agricultura e, diante das diferentes situações, perceber as transformações históricas ocorridas. Para os autores, a agricultura se constitui de um espaço e momento com objeto ecológico e econômico complexo, onde o meio cultivado e o conjunto de estabelecimentos vizinhados compõem esta complexidade. Silva Neto (2016) aponta a importância do enfoque sistêmico para o estudo da agricultura, pois, segundo o autor, a existência de elementos que possuem relação entre si os define como sistema. Os diferentes elementos que o compõem não resultam apenas num somatório com resultado final, mas fazem surgir as propriedades “emergentes”, fruto das relações entre estes componentes do sistema e não apenas das características individuais. Portanto, o somatório de cada elemento não necessariamente resulta no todo e este, sim, é resultado das relações entre aquilo que o envolve. Silva Neto (2016, p. 15) reforça que “a explicação deste fenômeno é a existência de interações entre os componentes do sistema, ou seja, relações não lineares que impossibilitam que o seu todo possa ser obtido pela soma de suas partes”.

A complexidade existente diante da variedade de formas de agricultura observáveis, apresentadas por Mazoyer e Roudart (2010), informa que o olhar atribuído para análise advém de como as formas de agricultura variam de uma localidade para outra, e a observação num lugar constata-se também de variações de uma época para outra. Ainda para os autores, a agricultura apresenta-se como um conjunto de formas locais, variáveis no tempo e no espaço, que mesmo diversas numa dada localidade e numa determinada época, podem ser aproximadas e classificadas numa mesma categoria. Assim, pouco a pouco descobre-se número

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finito, onde cada uma ocupa um lugar determinado no tempo e espaço. Estas formas observáveis são objetos complexos, possíveis de conceber em sistemas. Ou seja, primeiro delimitar, “traçar uma fronteira visual entre o objeto e o restante e considerá-lo como um todo, com subsistemas hierarquizados e independentes” (MAZOYER e ROUDART, 2010, p. 72).

Logo, para compreender um sistema agrário, precisa-se distinguir a agricultura tal como ela se apresenta na realidade, sendo um objeto de observação e análise daquilo que o observador pensa deste objeto. Neste sentido, Silva Neto e Basso (2015) destacam que um sistema agrário corresponde como um conjunto de conhecimentos metodológicos elaborados e resultados da observação, delimitação e análise de uma agricultura em sua particularidade. Não a realidade direta de um objeto, mas sim a elaboração cientifica deste objeto (criação dada pelo investigador), visa tornar possível uma análise da complexidade apresentada, desde que se use objetivos específicos bem definidos. Os autores explicam que um sistema agrário é “determinado a partir de um conjunto de critérios, ligados aos seus diferentes componentes e ou subsistemas [...] agrupados em dois conjuntos bem-delimitados” (SILVA NETO; BASSO, 2015, p. 26). Os autores definem estes conjuntos como agroecossistemas e o sistema social produtivo.

Os agroecossistemas são compostos por sistemas de cultivo e sistemas de criação. O agroecossistema, também denominado de ecossistema cultivado, envolve a forma de organização dos constituintes físicos, químicos e biológicos (dentro de um sistema agrário), nas diversas modificações, mais ou menos profundas, que a sociedade humana ali instalada obtém produtos a ela interessada. Mazoyer e Roudart (2010) exemplificam os subsistemas existentes dentro do agroecossistema, como as hortas, campos, terras cultiváveis, as pastagens e as florestas. Os autores afirmam ainda que cada subsistema se decompõe em partes, em que as terras cultiváveis são dispostas em glebas e que cada gleba é composta por folhas (várias parcelas) e elas, por sua vez, se decompõem em parcelas distintas (MAZOYER; ROUDART, 2010). “Já os sistemas de criação são compostos pelos rebanhos organizados em lotes manejados separadamente, como as vacas leiteiras, criação de terneiras, novilhas e novilhos” (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 72).

O sistema social produtivo, por sua vez, destaca os aspectos técnicos, econômicos e sociais. Silva Neto e Basso (2015) afirmam que o sistema social

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produção formado pela categoria social dos produtores e pelos sistemas de produção praticados por eles. Mazoyer e Roudart (2010) destacam ainda que o sistema social produtivo é formado por homens e mulheres e meios inertes, como equipamentos e matéria viva, como animais e plantas, que visam as atividades de renovação e de exploração da fertilidade do ecossistema cultivado, seja para o autoconsumo, seja para o comércio (trocas). Os meios de produção e as atividades desenvolvidas são organizadas nos estabelecimentos e se caracterizam pelos sistemas de produção praticados e pela categoria social pertencente. Mazouyer e Roudart (2010) definem sistemas de produção pela combinação de suas atividades produtivas e seu meio de produção. Os autores ainda afirmam que a categoria social é definida pelo estatuto social da mão da obra, podendo ser familiar, assalariada, cooperativa, serviçal e outras, pelo estatuto do agricultor, pelo modo de acesso à terra e pela dimensão do estabelecimento agrícola.

Já os sistemas de produção, para Silva Neto e Basso (2015), se referem à forma de organização das atividades no interior das unidades de produção, sendo possível agrupá-los usando certos condicionantes e problemas comuns de acordo com os objetivos do estudo. “De qualquer forma, o sistema de produção constitui-se de critérios de delimitação dos sistemas agrários mais detalhados e a sua adoção como critério principal, somente é possível em estudos de âmbito local” (SILVA NETO; BASSO, 2015, p. 27). Os autores reforçam que as unidades de produção integrantes de um sistema agrário para fins de análise devem ser classificadas em tipos, segundo as categorias sociais e os sistemas de produção. Ainda para Silva Neto e Basso (2015), para que se possa afirmar que um sistema agrário esteja em desenvolvimento, necessita apresentar acumulação de capital que permita a melhoria das condições de vida dos agricultores envolvidos.

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Figura 01: Apresentação e classificação dos sistemas agrários.

Fonte: Organizado pelo autor, 2019.

Este esquema apresentado na figura 01 possibilita a tentativa de simplificar, visualizar e compreender as diferentes necessidades de compreensão da realidade estudada pelo pesquisador e que devem respeitar as classificações estabelecidas pelos autores referenciados na ADSA. Ainda necessita-se compreender e estudar a

Sistema Agrário

Agroecossistema (organização dos cons tuintes sicos, químicos e biológicos) Sistema de Cul vo Subssistemas Glebas – Folhas - Parcelas Sistema de Criação Rebanho Lotes (vacas, terneiras,

novilhas...)

Sistema Social Produ vo

Categoria Social

Estatuto social da mão de obra (familiar,

assalariada, coopera va..)

Estatuto do agricultor

Modo de acesso à terra (Arrendatário, parceria, acesso direto...) Dimensão do estabelecimento agrícola Sistemas de Produção Combinação de a vidades (leite, grão, suínos...)

Meios de produção (nível tecnológico.. braçal, tração animal,

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pesquisa diante da possibilidade de explicação das diferentes realidades encontradas.

1.1.2 As Condições Materiais da Reprodução Social

A modelagem do valor agregado e da renda são utilizados para a realização da análise econômica nos diferentes sistemas de produção. Silva Neto (2016) destaca que o objetivo é avaliar a capacidade de geração de riqueza para a sociedade (valor agregado) e a viabilidade econômica da unidade de produção (renda) em cada sistema de produção. Dufumier (2007) detalha a necessidade de inventariar os recursos disponíveis, estudo de cada unidade de produção e nela ainda os sistemas produtivos e seus subsistemas, avaliando os seus resultados médios anuais.

A capacidade da continuidade, sustentabilidade, permanência, avanços ao futuro, passam pela reprodução social dos agricultores diante das mais diferentes tipologias existentes. A reprodução social numa agricultura familiar poderá ser distintamente diferente de uma base capitalista, que por sua vez difere de um modelo tipo parceria. Mas em diferentes modelos, a possibilidade de reprodução social é decisiva para a continuidade e o desenvolvimento ali existente. Silva Neto (2016, p. 67) afirma que “um agricultor cuja renda é inferior ao nível de reprodução social dificilmente se interessará em adotar técnicas que, apesar de poder provocar certo aumento da sua renda, não alterem a mesma significativamente”. O autor também apresenta a diferenciação da sustentabilidade e da reprodução social. Segundo ele, a sustentabilidade está relacionada à natureza termodinâmica, ou seja, à riqueza, e a reprodução social pela produção de valor.

Neste sentido, a dinâmica determinada pela produção e repartição do valor, sobre a qual se baseia a reprodução social, deve ser considerada em sua especificidade em relação à dinâmica determinada pelo consumo e renovação dos recursos naturais, sobre qual se baseia a sustentabilidade (SILVA NETO, 2016, p. 41).

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Ainda conforme o autor, o estudo da produção e a repartição do valor dentro das unidades de produção possibilitam relacionar com a reprodução social, baseados na possibilidade das categorias de análise econômica. Estas categorias de análise econômica se baseiam nos preços e relacionam, principalmente, o valor agregado e a renda. O valor agregado resulta da apuração da produção bruta deduzidos os consumos intermediários e a depreciação. Já a renda é o resultado final, descontados os juros pagos, salários dos trabalhadores, arrendamentos e tributos.

A necessidade de levantar a renda gerada pelos agricultores possui relevância, haja vista a necessidade de compreender e explicar a realidade presenciada durante a pesquisa. Segundo Dufumier (2007), diversas categorias de agricultores não têm conseguido ampliar suas áreas, adquirir novas tecnologias, nem a capacidade de remunerar a mão de obra. Silva Neto (2016) reforça a ideia de que as condições materiais de reprodução social dos agricultores dependem da evolução da produtividade do trabalho. Logo, uma diminuição nos preços, sem o aumento da produção, provoca uma diminuição do valor agregado.

Para se estudar comparativamente os níveis de eficiência de diversas unidades produtivas reais, Veiga (2007) propõe o uso da economia de tamanho, ao invés da economia de escala. Por outro lado, Chayanov (1974; 1981) alerta para a unidade de trabalho familiar, que é composta pelo número de membros que compõem a família, se encontram em plenas condições de trabalho e produzem para o autoconsumo. Gazolla e Scheider (2007) reforçam que o camponês executa as tarefas e trabalhos produtivos visando um equilíbrio ótimo entre consumo e trabalho da família, levando em conta a composição e o tamanho do núcleo familiar (nas funções de consumidor e trabalhador, por sexo e idade) e as necessidades daí derivadas. Os autores ainda reforçam que se pode dizer que o agricultor familiar possui uma dupla lógica de reprodução social, aliada à capacidade da sua produção e necessidade de consumo. O agricultor produz o autoconsumo, ou seja, os produtos de lavoura e da criação animal que, por serem consumidos pela família e por não passarem pelos circuitos de mercado, possuem apenas valores de uso.

1.2 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E

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respostas ao problema e aos objetivos da pesquisa são buscadas prioritariamente na própria realidade delimitada neste projeto. Esta perspectiva ontológica alinha-se epistemologicamente às abordagens dos sistemas complexos e do realismo crítico e, metodologicamente, à Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários.

1.2.1 Estudo de Sistemas Complexos

Uma das características de sistemas complexos é de serem evolutivos e abertos. A natureza da evolução de tais sistemas é marcada pela não linearidade, instabilidade, incerteza e imprevisibilidade. Segundo Silva Neto (2003), a presença de bifurcações impede o estabelecimento de relações fixas entre um estado específico e a sua estrutura, o que torna imprescindível a adoção de uma perspectiva histórica para se compreender adequadamente a evolução de sistemas vivos. Para este autor, as variáveis que caracterizam um determinado comportamento situacional de desenvolvimento não podem, sequer hipoteticamente, ser definidas sem levar em conta as transformações globais ao longo do tempo.

Para Wheatley (2006), a desordem pode ser uma forma de provocar nova ordem: a confusão, a instabilidade e o desequilíbrio tornam-se fontes para a construção de uma nova ordem, ao invés de representarem a destruição. Segundo a autora, a mudança acontece em saltos, além da capacidade de previsão, impossibilitando calcular de maneira exata o seu resultado futuro. Isto exige a superação das crenças científicas embasadas no determinismo, previsibilidade e controle.

A mudança gera turbulências provocadas por processos naturais e/ou por intervenções humanas, nos fazem questionar as interferências e os resultados esperados. Exige trabalhar com a totalidade e não apenas as partes. Wheatley (2006) enfatiza que nenhuma situação pode ser compreendida isoladamente, a partir de suas partes constituintes. A compreensão mais ampla dos sistemas complexos, como os que envolvem os produtores de leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, deve privilegiar a sua totalidade.

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1.2.2 Ontologia do Realismo Crítico como Fundamento Metodológico

A pesquisa tem a pretensão de explicar os fatos e não apenas descrevê-los ou estabelecer correlações entre os mesmos. Para isso, propôs em buscar conteúdos explicativos relacionados ao objeto de estudo a partir da própria realidade, sob o fundamento de conceitos do Realismo Crítico, uma corrente do campo da Filosofia da Ciência que tem em Roy Bhaskar um de seus principais representantes.

Para Bhaskar (1989), a realidade possui duas formas para ser explicada: uma pela sua dimensão transitiva e outra pela sua dimensão intransitiva. A forma mais comum utilizada em estudos que pretendam explicar fatos ou fenômenos relacionados ao mundo real é a da dimensão transitiva, que tem como fonte de dados o mundo das ideias, pelo conhecimento produzido e acumulado ao longo do tempo pela humanidade. A dimensão transitiva da realidade, portanto, é epistemológica, pois se fundamenta nas distintas interpretações já construídas sobre os processos naturais e sociais (BASSO, 2012). Para os realistas críticos, no entanto, a realidade em si possui uma dimensão intransitiva, ou seja, ela existe independente do conhecimento que se tenha produzido sobre ela (BHASKAR, 1989). Isto significa que o “mundo, natural ou social (dimensão intransitiva), é o mesmo, mas as teorias ou interpretações (dimensão transitiva) sobre este mundo são diferentes, parciais e até mesmo rivais” (BASSO, 2012, p. 114). Neste sentido, a pesquisa que será desenvolvida com produtores de leite da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul priorizará a dimensão intransitiva da realidade, num esforço para extrair conteúdo explicativo no próprio processo onde o fenômeno acontece.

Para tanto, a pesquisa apoia-se em outro conceito desenvolvido pelo Realismo Crítico, que se refere à estratificação da realidade. “Existe uma realidade subjacente aos fatos observáveis e é esta realidade que deve ser o objeto da ciência” (BASSO, 2012, p. 112). Bhaskar (1989) pressupõe a estratificação da realidade em três níveis: o nível empírico, o nível efetivo e o nível do real propriamente dito. O nível empírico corresponde ao que é diretamente observável por meio dos sentidos. O nível efetivo da realidade corresponde aos fenômenos ou eventos em si, que não necessariamente são observados diretamente por meio dos

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poderes, tendências que explicam ou causam os fenômenos estudados e estes não conseguem ser captados ou compreendidos facilmente pelo pesquisador.

Para compreender e explicar uma realidade, deve-se ir além daquilo que se pode observar empiricamente, adentrando nos níveis mais profundos da realidade, investigando relações entre fatos e acontecimentos que permitam gerar a melhor explicação do fenômeno em estudo. Como este projeto propõe-se compreender e explicar a realidade que envolve os produtores de leite na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, seguir-se-á os princípios e procedimentos da Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA), descrita a seguir.

1.2.3 Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários

A pesquisa proposta se utilizou dos pressupostos explicados anteriormente, buscando a explicação da realidade, apoiando-se na teoria da complexidade e no realismo crítico. A ADSA, conforme Silva Neto (2016), diz respeito à análise de situações agrárias locais, como metodologia de pesquisa por meio de uma abordagem sistêmica, em vários níveis relacionados com conceitos bem específicos. Nesta tentativa de compreender a real situação encontrada, permite a identificação de diferentes tipologias diante das técnicas de coleta que possuem etapas pré-definidas.

A ADSA tem sua origem nos estudos desenvolvidos há mais de 60 anos com a Cátedra de “Agricultura Comparada e Desenvolvimento” do Instituto Nacional Agronômico, Paris-Grignon (INA-PG), da França (MAZOYER, ROUDART, 2010; SILVA NETO, BASSO, 2015).

A internalização da ADSA no Brasil ocorreu no início da década de 1990, via Grupo de Pesquisa Sistemas Agrários e Desenvolvimento do Departamento de Estudos Agrários (DEAg) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), por meio de duas teses desenvolvidas em regiões do Rio

Grande do Sul, defendidas no INA-PG (DUDERMEL, 1990; SILVA NETO, 1994) e

incorporada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional no ano de 2003, no que atualmente é a linha de Pesquisa de Desenvolvimento Territorial e Gestão de Sistemas de Produção.

No final dos anos 1990, a ADSA teve uma grande disseminação em vários estados brasileiros em função de um Convênio firmado entre a Organização das

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Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o INCRA voltada à capacitação de técnicos atuantes nos Assentamentos de Reforma Agrária em todas as regiões do país, tendo a UNIJUÍ como instituição parceira.

1.2.3.1 Princípios Metodológicos da ADSA

Silva Neto (2015) aponta e necessidade da aplicação metódica e rigorosa dos seguintes princípios:

- Efetuar as análises a partir de fenômenos mais gerais para particulares, através de abordagens sistêmicas.

- Analisar cada nível da realidade especificamente, efetuando uma síntese antes de passar para a análise do nível inferior.

- Privilegiar a explicação em detrimento da descrição.

- Privilegiar uma visão dinâmica das situações por meio da adoção de enfoques históricos.

- Estar atento à heterogeneidade da realidade, evitando interpretações por demais generalistas (médias, p. ex.) que dificultam a elucidação dos processos.

1.2.3.2 Etapas da ADSA

As etapas são apresentadas a partir dos princípios metodológicos, como procedimentos que devem ser seguidos. Para dar conta destas etapas é necessário adotar técnicas de pesquisa adequadas a cada uma delas, com destaque para a observação direta e entrevistas em profundidade. No uso da técnica de observação objetiva-se realizar a leitura da paisagem encontrada, e com a entrevista, podendo este ser do tipo semiestruturada e/ou aberta, tornará possível o entendimento histórico e a caracterização de técnica das diferentes unidades de produção pesquisadas. Para isso, a coleta de dados subdivide-se em quatro importantes etapas, conforme Silva Neto (2015):

- Caracterização geral e identificação das principais heterogeneidades dos processos de desenvolvimento da agricultura regional.

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de agricultores e sistemas de produção.

- Identificação de linhas estratégicas de desenvolvimento.

CAPÍTULO 02: PROCESSO HISTÓRICO DOS PRODUTORES DE LEITE DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

A pesquisa está centrada na região Sul do Brasil, especificamente na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, denominada de Região Fronteira Noroeste, devido à divisão existente do Conselho Regional de Desenvolvimento Fronteira Noroeste (COREDE Fronteira Noroeste). É margeada pelo Rio Uruguai, fazendo limite com a Argentina, conforme mapa apresentado na figura 02:

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Fonte: FEE- Perfil Socioeconômico Corede Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul,

https://www.fee.rs.gov.br/perfil- socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+Noroestehttps://www.fee.rs.gov.br/perfil-socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+NoroesteFEE, 2015. Disponível em: <https://www.fee.rs.gov.br/perfil-socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+Noroeste>. Acessado em 10, 02, 2019.

A região é constituída por 20 municípios: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi.

A região Fronteira Noroeste possui uma superfície de 4.689 km² e, conforme a Fundação de Economia e Estatística (FEE), em 2000 a sua população somava 210.366 habitantes, sendo que 81.917 habitantes eram residentes no meio rural e 128.449 habitantes pertencentes ao meio urbano. Já em 2010, a FEE destaca uma leve redução da população total que, com base no Censo Demográfico, somava 203.494 habitantes, assim distribuídos: 65.862 no meio rural e 137.632 no meio urbano, conforme a figura 03:

Referências

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