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PROCESSO HISTÓRICO DOS PRODUTORES DE LEITE DA

A pesquisa está centrada na região Sul do Brasil, especificamente na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, denominada de Região Fronteira Noroeste, devido à divisão existente do Conselho Regional de Desenvolvimento Fronteira Noroeste (COREDE Fronteira Noroeste). É margeada pelo Rio Uruguai, fazendo limite com a Argentina, conforme mapa apresentado na figura 02:

Fonte: FEE- Perfil Socioeconômico Corede Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul,

https://www.fee.rs.gov.br/perfil- socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+Noroestehttps://www.fee.rs.gov.br/perfil- socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+NoroesteFEE, 2015. Disponível em: <https://www.fee.rs.gov.br/perfil- socioeconomico/coredes/detalhe/?corede=Fronteira+Noroeste>. Acessado em 10, 02, 2019.

A região é constituída por 20 municípios: Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi.

A região Fronteira Noroeste possui uma superfície de 4.689 km² e, conforme a Fundação de Economia e Estatística (FEE), em 2000 a sua população somava 210.366 habitantes, sendo que 81.917 habitantes eram residentes no meio rural e 128.449 habitantes pertencentes ao meio urbano. Já em 2010, a FEE destaca uma leve redução da população total que, com base no Censo Demográfico, somava 203.494 habitantes, assim distribuídos: 65.862 no meio rural e 137.632 no meio urbano, conforme a figura 03:

Figura 03: População da Região Fronteira Noroeste.

Fonte: FEE, adaptado IBGE, 2018.

A população rural no ano de 2000 representava 38,94% da população total e, em 2010, apenas 32,37%. A diminuição dos habitantes no meio rural na região Fronteira Noroeste entre 2000 e 2010 foi de aproximadamente 20%, enquanto a população no meio urbano cresceu em torno de 7% no mesmo período.

A estrutura fundiária da região, apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através do Censo (2006), destacava um total de 23.910 estabelecimentos agropecuários e os dados preliminares do Censo Agropecuário realizado em 2017 apresenta uma redução para 18.007 estabelecimentos agropecuários.

Fonte; Adaptado de Censo Agropecuário, 2006 e dados preliminares do Censo Agropecuário 2017.

Importante presença de minifundiários era apontada em 2006, sendo que 88% possuem no máximo 19,99 hectares (menos de um módulo fiscal). Conforme o Censo 2006, a região possuía 389,9 mil hectares distribuídos em seus 20 municípios, com destaque para Três de Maio e Santa Rosa, com as maiores quantidades de hectares. Conforme o gráfico apresentado na figura 04, observa-se uma redução no total de estabelecimentos agropecuários com alterações mais significativas na decomposição das faixas de áreas. Estabelecimentos com menos de 50 hectares tiveram redução em todas suas faixas, dando destaque as áreas de cinco até 20 hectares, ou seja, menos de um módulo rural (região um módulo é igual a 20 hectares). Já para estabelecimentos acima de 50 hectares, todos apresentam importante aumento, passando de 844 para 1511 no total, sendo acrescidos percentualmente em 79,03 pontos.

Apresentando a pecuária leiteira, os dados do relatório socioeconômico da cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul, elaborado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), no Estado do Rio Grande do Sul, apontaram que em 2017 existiam 173.306 propriedades leiteiras, com 1.309.259 animais na atividade. O relatório apontou também que 93,6% dos municípios do estado do Rio Grande do Sul possuíam produtores de leite com propriedades médias de 19,01 hectares. A pesquisa informa que 95,6% dos produtores produziam leite com sistemas de alimentação à base de pastagens, seguido pelo sistema de semiconfinamento (3,3%) e confinamento total (1,1%). A estratificação da produção leiteira está centrada em 65.202 produtores, sendo que 17,9% destes produzem

dia, 13,8% entre 150 e 200 litros/dia, 13,2% entre 200 e 300 litros/dia e apenas 18,2% produzem acima de 300 litros/dia.

A cadeia do leite na região Fronteira Noroeste possui importante destaque. Em termos de produção absoluta de leite, apresenta o município de Santo Cristo como o maio produtor do Estado, com um volume de 64,5 milhões de litros produzidos em 2015, segundo a Pesquisa da Pecuária Brasileira do IBGE, disponibilizada em 2016. A região atingiu neste mesmo período a produção 423 milhões de litros. Aponta-se ainda que das 15 maiores indústrias processadoras do leite no Brasil, 10 estão na região Fronteira Noroeste, seja com plantas industriais e ou captação de leite (APL Leite FN, 2017). A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal e a Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (EMATER/ASCAR), através de trabalho desenvolvido pelo escritório regional de Santa Rosa/RS, juntamente com seus escritórios municipais, realizou importante pesquisa integrante do relatório socioeconômico da cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul no ano de 2017. Os dados apresentados no Seminário Regional do Arranjo Produtivo do Leite, no mês de outubro de 2017, no município de Santa Rosa, informam que nos 20 municípios existentes havia 23.857 propriedades rurais, com 10.227 produtores de leite, num plantel de 115.101 vacas, produzindo 417,5 milhões de litros, em propriedades que possuíam, em média, 15,7 hectares.

Quadro 01: Produtores e volume de produção em litros dia.

MUNICIPIO Até 50 51 até 100 101 até 150 151 até 200 201 até 300 301 até 500 501 até 1000 1001 até 2500 mais de 2500 TOTAL

Alecrim 43,60 30,18 9,76 6,71 3,96 4,88 0,61 0,00 0,30 100

Alegria 20,42 37,17 19,90 5,24 8,38 3,66 2,62 2,09 0,52 100

Boa Vista do Buricá 9,67 15,61 16,73 13,38 16,73 17,47 9,29 1,12 0,00 100 Campinas das Missões 10,56 18,33 22,31 17,73 14,14 8,96 6,97 1,00 0,00 100

Cândido Godói 15,23 20,00 22,46 12,46 11,23 9,85 8,46 0,31 0,00 100

Doutor Maurício Cardoso 5,99 35,93 8,98 23,95 11,98 7,19 3,59 1,20 1,20 100

Horizontina 11,11 12,96 31,85 19,63 9,63 8,52 4,07 1,85 0,37 100 Independência 3,21 48,17 12,84 11,93 9,17 6,88 5,96 0,92 0,92 100 Nova Candelária 13,33 14,81 13,70 16,67 13,70 17,41 9,63 0,74 0,00 100 Novo Machado 21,76 11,76 23,53 8,82 11,76 8,82 8,82 4,12 0,59 100 Porto Lucena 18,21 53,70 16,05 6,48 2,78 2,16 0,62 0,00 0,00 100 Porto Mauá 0,00 18,52 46,30 18,52 9,26 6,48 0,93 0,00 0,00 100

Porto Vera Cruz 72,22 16,67 8,33 0,00 0,00 2,78 0,00 0,00 0,00 100

Santa Rosa 11,36 10,23 26,14 25,00 15,00 6,82 4,55 0,68 0,23 100

Santo Cristo 20,62 18,77 14,92 12,00 13,08 11,38 7,54 1,38 0,31 100

São José do Inhacorá 5,73 13,38 22,93 16,56 15,92 15,29 8,92 1,27 0,00 100 Senador Salgado Filho 12,42 17,65 23,20 17,97 14,05 7,84 5,23 1,63 0,00 100

Três de Maio 7,72 13,32 16,64 35,95 13,58 9,05 3,20 0,40 0,13 100

Tucunduva 9,89 45,05 20,88 4,40 13,19 2,20 4,40 0,00 0,00 100

Tuparendi 15,61 23,63 17,72 11,81 12,24 11,39 5,06 2,11 0,42 100

TOTAL 15,01 21,70 19,32 16,67 11,70 9,01 5,43 0,96 0,21 100

Produtores e volume de produção de leite em litros/dia (%)

84,39 15,61

Conforme o quadro 01, observa-se que apesar do volume expressivo de leite produzido na região, podemos destacar que são pequenos agricultores, que somados em sua quantidade, se responsabilizam pela importância da cadeia leiteira

na região Fronteira Noroeste, pois 84,39% produzem até 3001

litros/dia e apenas 15,61% produzem acima de 300 litros/dia. O volume de 300 litros/dia, apesar de apontado em estudos como o mínimo viável para a produção, não tem sua confirmação neste estudo, devido aos diferentes sistemas de produção de leite da região. Os resultados preliminares da mesma pesquisa, realizada em 2019, apresentam significativa redução da quantidade de agricultores atuando na atividade, apontando apenas 4.861 que, juntos, comercializam 401 milhões de litros/ ano. Os animais somam 97.235 e produzem uma média de 11,31 litros/dia. Relacionado aos sistemas de produção, 94,34% dos agricultores que estão na atividade utilizam produção de leite a pasto, suplementada por volumoso como silagem de milho planta inteira e rações.

2.1 ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO

A delimitação de zonas agroecológicas homogêneas, conforme Dufumier (2007), é utilizada para identificar e descrever os modos de exploração dos ecossistemas. Para delimitar as zonas agroecológicas é importante verificar quais fatores possuem contribuição na dinâmica da agricultura praticada. Fatores como a densidade populacional, movimentos de saída e entrada, tecnologias utilizadas, acesso a mercados e formas de abastecimento são necessários e devem ser observados. Na região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul foram identificadas três zonas agroecológicas a partir da análise do Mapa Exploratório de Solos do Estado do Rio Grande do Sul (2011).

1 A delimitação de até 300 litros/dia e acima de 300 dias/dia foi observada em conversas com gestores de empresas do setor e técnicos que atuam no fomento da a$vidade e que segundo eles, existem estudos (não encontrados) destacando que 300 litros/leite dia seria o mínimo viável para coleta, transporte e industrialização. Ainda importante destacar que relatos apontaram que desde os anos 1980 empresas estabeleceram quan$dade mínimas que aquisição sendo a primeira em torno de 05 litros/dia, chegando em tempos atuais em até 150/litros/dia. Importante destacar que estas mudanças ocorrem na relação oferta x demanda. Em períodos de escassez de produção as empresas atenuam suas regras priorizando a maior captação. Já em tempos de maior oferta resultam em ações para concentração da produção, polí$cas de pagamentos bonificando qualidade e maiores produções. Como resultados destas poli$cas muitas vezes nestes momentos de maior oferta da produção é possível observar a maior intensificação de saída de agricultores da a$vidade, migrando para outras e ou ainda abandonando o meio rural.

Figura 05: Tipos de solos da Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul.

Fonte: Recorte adaptado pelo autor do Mapa Exploratório de Solos do Estado do Rio Grande do Sul, IBGE e Secretaria da Agricultura e Abastecimento (2011).

No mapa da figura 05 é possível identificar quatro classificações dos solos existentes na região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, apresentando as Siglas LRd (1, 2 3 4), Ce (2), Tr (3 e 4) e Re (10 E 20).

A classificação LRd é descrita como Latossolo Roxo Distrófico. A classificação LRd2 apresenta em maior proporção Latossolo Roxo Distrófico e Álico A, moderado e proeminente textura muito argilosa e relevo suave ondulado.

Já o tipo de solo classificado como Ce apresenta descrito como Cambissolo Eutrófico (Cambissolos Háplicos). Destaca-se aqui o tipo Ce2, que apresenta Associação Complexa de Cambissolo Eutrófico e distrófico Ta e Tb a Chernozêmico, textura média e argilosa fase pedregosa, substrato basáltico, relevo forte ondulado e

montanhoso e terra roxa estrutura eutrófica e distrífica a chernozêmico e moderado textura muito argilosa, fase pedregosa e não pedregosa e relevo forte ondulado.

O terceiro tipo de solos, Tr, apresenta a descrição de Terra Roxa Estruturada Eutrófica (Nitossolos Vermelhos). Destaca o TRe3 com apresentação de Terra Roxa Estrutura Eutrófica A moderado e chernozêmico textura muito argilosa e Terra Roxa Estruturada Latossólica distrófica A moderado textura muito argilosa, relevo suave ondulado e ondulado. O tipo Tre 4 apresenta Terra Roxa Estruturada eutrófica A moderado e chernozêmico textura muito argilosa, relevo ondulado e Solos Litólicos eutróficos A chernozêmico e moderado textura media cascalhenta e media fase pedregosa substrato basalto relevo ondulado e forte ondulado.

O quarto tipo de solo é descrito como Re, denominado Litólicos Eutróficos (Neossolos Litólicos), apresentando a classificação específica Re20, sendo uma Associação Complexa de Solos Litólicos eutróficos A chernozêmico e moderado textura media cascalhenta e media fase pedregosa substrato basalto com Cambissolo eutrófico Tb e Ta A moderado e chernozêmico textura argilosa e media fase pedregosa e Brunizém Avermelhado textura media/argilosa e argilosa pedregosa relevo forte ondulado. Na figura 06 são apresentadas as microrregiões:

Fonte: Autor, 2019.

Microrregiões divididas por zoneamento

Figura 07: Especificação do zoneamento proposto.

Zona 01 Zona 03 Zona 02

Fonte: Autor, 2019.

Especificação do zoneamento por cores

O tipo de solo apresentado com Re (Litólico eutróficos) apresenta uma pequena área nos municípios de Campinas das Missões e Porto Lucena conforme a figura 06, e diante da aproximação e não diferenciação do tipo Ter, o mesmo não foi considerado na definição no zoneamento agroecológico. Portanto, são apresentadas três zonas agroecológicas.

2.1.1 Zona 01 – Terra Roxa ou Latossolo Roxo (LRd2)

Solos classificados como Latossolo Roxo distrófico e alático moderado e preeminente textura muito argilosa e relevo suavemente ondulado. Essa zona

compreende uma considerável área de terras da região Fronteira Noroeste, descontinuas em três locais. A primeira e em maior área predomina no município de Independência, seguindo pelos municípios de Três de Maio, Horizontina, Tucunduva, Novo Machado e Doutor Mauricio Cardoso. A segunda região envolve parte da área de Santa Rosa e Tuparendi e a terceira região soma-se o município de Senador Salgado Filho quase em sua totalidade, parte de Cândido Godói e em menor área abrange ainda o município de Santo Cristo. O relevo apresenta-se ondulado e levemente ondulado, composto por pequenas nascentes, lagoas e córregos pequenos. O solo tipifica em latossolo vermelho, especificamente como Latossolo Roxo Distrófico, moderado, com textura muito argilosa, terra roxa, estrutura distrófica e eutrófica.

Nesta zona agroecológica a vegetação predominante originalmente foi a mata nativa e em áreas menores o campo, especialmente no município de Independência (na divisa com o município de Catuípe) e ainda a existência em pequenas quantidades nos municípios de Senador Salgado Filho e Cândido Godoi.

Predominam agricultores que praticam a agricultura de maior mecanização encontrada em toda a região Fronteira Noroeste, devido a menor declividade, solos mais profundos, argilosos e sem o afloramento de roxas, propiciando o uso intensivo de máquinas e equipamentos sem maiores problemas. As atividades predominantes são o cultivo de culturas temporárias como soja, trigo, milho, aveia, canola, triticale, painço e linhaça, estes últimos em menor importância. Observa-se ainda propriedades que atuam na produção de leite a pasto, semiconfinamento e confinamento total como o sistema Compost Barn.

Fonte: Autor, 2018.

Em relação às propriedades rurais, prevalecem na maioria até tamanho médio, também apresentando baixa densidade existente em toda a região pesquisada, sendo propriedades de fácil acesso, devido a existências de estradas vicinais de maior fluxo e algumas até pavimentadas, como as rodovias Estaduais RST 342 e BR 472.

2.1.2 Zona 02 – Solos argiloso/pedregoso (Ce2)

Estes solos são do tipo associação complexo Cambissolo eutrófico e distrófico, possuem texturas argilosa média, com fases pedregosas, relevo suave, fortemente ondulado até montanhoso. Destacam as áreas geográficas compreendendo principalmente as regiões paralelas aos principais rios da região, como o Rio Buricá, Santa Rosa, Santo Cristo e a margem brasileira do rio Uruguai. Margeando o Rio Buricá apresenta superfícies importantes dos municípios de Alegria, São José do Inhacorá, Boa Vista do Buricá, Nova Candelária, parte do município de Três de Maio ao seu Norte, e partes do Município de Horizontina. Nas margens do rio Santa Rosa destaca superfícies parciais dos municípios de Independência, Três de Maio, Santa Rosa, Tucunduva e Tuparendi. Já nas

proximidades do rio Santo Cristo apresenta as terras em partes dos municípios de Santa Rosa, Santo Cristo, Tuparendi, Porto Mauá e Alecrim.

Figura 09: Comunidade de Barrinha Ceccin, interior de Três de Maio/RS.

Fonte: Autor, 2018.

Nesta zona agroecológica é possível identificar a mecanização com plantios de culturas anuais como trigo, milho, soja e pastagens temporárias, e permanentes para produção de leite. Existência de propriedades rurais com maior adensamento comparado com a zona agroecológica 01, e apresentação de estruturas mais simples, rústicas e menor grau de modernização de máquinas e equipamentos. Os equipamentos, em sua maioria, remetem ao período das décadas de 1970 e 1980, com algumas novas aquisições realizadas após o ano 2000. Os animais existentes possuem em sua maioria destina para a produção de leite e carne, visando para a subsistência e venda do excedente. O leite apresenta maior importância principalmente em propriedades rurais que usam mão de obra familiar, destacando nas áreas pertencentes os municípios de Santo Cristo, Nova Candelária, São José do Inhacorá e Boa Vista do Buricá. Destaque ainda a produção de suínos, especialmente em Santo Cristo e Nova Candelária.

Esta zona agrupa os tipos de solos TRe e Re, vide figura 06, apresenta terras roxas, relevo ondulado e fortemente ondulado, textura média cascalhenta e pedregosa. Maiores porções de terras localizadas nos municípios de Porto Lucena, Campinas das Missões, Porto Vera Cruz, Alecrim, Cândido Godói e parte de Santo Cristo. Nesta região apresenta solos rasos, afloramento de rochas, vegetação intermediária com capins, pequenos e médios arbustos e declividade significativa. Nesta zona as condições de atividades mecanizadas são reduzidas e necessário maior uso de mão de obra. Os acessos em vias de condições inferiores dificultam a locomoção de pessoas e transporte da produção. Apresenta pequenas áreas de culturas como soja e milho, pastagens de baixa qualidade para animais devido a solos pobres em nutrientes.

Figura 10: Aspectos evidenciados no interior do município de Porto Vera Cruz.

Fonte: Autor, 2019.

Conforme a figura 10, é possível identificar o releve bastante íngreme, vegetação rasteiras com áreas de pastagens, com destaque para animais destinados a produção de carne em sistema de produção extensivo. Na figura 11, o relevo apresenta sinais de afloramento de rochas que impossibilita o cultivo mecanizado de culturas.

Figura 11: Afloramento de rochas na Zona 03, interior do município de Porto Lucena.

Fonte: Autor, 2019.

Conforme a figura 11, é possível afirmar que se não houvesse o afloramento de rochas, possivelmente esta área seria ocupada com culturas como a soja e o milho, pois possibilitaria a mecanização e além desta realidade, as áreas ainda remanescentes com matas também não existiriam.

É possível observar na figura 12 o solo do tipo Neossolos, que apresenta condições inferiores de profundidade, com menor quantidade de horizontes e menor fertilidade em comparação aos demais, aliado a maior ondulação de seu relevo. Estas condições dificultaram a sua intensificação de uso, especialmente para a mecanização e utilização para o cultivo de culturas temporárias, como soja, milho e trigo.

Fonte: o Autor, 2019.

A figura 13 apresenta as evidencias das instalações existentes na Zona Agroecológica 03.

Figura 13: Algumas instalações existentes.

Condições precárias de instalações e em estágio avançado de depreciação são evidentes na figura 13, com galpões construídos em madeira, cobertos com telhas de barro, sem pintura em suas paredes e sem nenhuma manutenção recebida recentemente. Estas condições são frequentemente observadas nas áreas pertencentes à Zona Agroecológica 03, conciliadas com o baixo uso de tecnologias aportadas em máquinas e equipamentos. É possível observar, na figura 14, a existência da criação de animais (bovinos) para a produção de leite e carne.

Figura 14: Criação de animais.

Fonte: Autor, 2019.

Os bovinos fazem parte da paisagem, com destaque para aqueles destinados à produção de leite e de carne. Na figura 14, é possível observar as duas aptidões dos animais. Ao lado esquerdo da imagem, animais que possuem maior aptidão para a produção de carne. Ao lado direito, os animais destinados à produção de leite. É importante ressaltar, relacionado à seleção de animais no que tange a aptidão, a produção de carne voltada quase exclusivamente à venda, diferentemente dos animais para produção de leite, que primeiramente atendem a subsistência dos estabelecimentos e depois à venda do excedente.

Visando obter as explicações necessárias para a compreensão da evolução que levou ao patamar atual da produção leiteira regional, buscou-se entender as transformações que ocorreram na agricultura local, por meio da análise da história agrária da Região Fronteira Noroeste do Estado. Para isso, foram analisados

trabalhos2

desenvolvidos pelo Departamento de Estudos Agrários (DEAG) da UNIJUÍ, e também pelas entrevistas realizadas junto a agricultores visando obter uma síntese da trajetória histórica. Nesse sentido, buscou-se reconstituir a trajetória de evolução e diferenciação das formas e condições de produção, com vistas a identificar as condições sob as quais ocorreram a acumulação de capital e a diferenciação das categorias sociais e dos sistemas de produção praticados pelos agricultores. Autores como Silva Neto (2004), Frantz (1982), Zarth (1997) e Frantz e Silva Neto (2015) também abordam a história da agricultura no Estado do Rio Grande do Sul. Para a construção da trajetória da região, esta foi subdivida em três períodos. O primeiro período compreende até meados do ano de 1960, o segundo de 1960 até 1990 e o terceiro período de 1990 até o momento. Vale ressaltar que estas definições temporais não necessariamente possuem em seu ano a exatidão de alguma mudança abrupta, mas sinais que levam a um processo de alterações históricas, as posicionando em novas explicações na tentativa de entender o contexto a partir destas variações.

2.2.1 Primeiro Período (até meados de 1960)

Frantz e Silva Neto (2015) destacam que a presença humana na região ocasionou inúmeras modificações nas características físicas. Antes da chegada dos europeus a região era habitada, especialmente nas áreas de mata, pelos índios das tribos Guaranis e Kaingangs, e nas áreas de campo por Minuanos e Charruas. Os autores informam que a agricultura praticada era baseada no cultivo da mandioca, batata-doce, milho, abóbora, mate e até algodão, com realização de caçadas para complementar sua alimentação.

2 Estes trabalhos fazem parte das a$vidades do curso de Agronomia da UNIJUÍ, coordenados pelo Departamento de Estudos Agrários, visando o diagnós$co e estratégias de desenvolvimento.

Nas regiões de florestas, Frantz e Silva Neto (2015) relatam os primeiros sistemas de produção baseados na derrubada e queimada da vegetação, técnicas oriundas das tribos indígenas até meados do Século XX. Os mesmos autores apresentam os caboclos como os primeiros a ocuparem o território do Rio Grande

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