• Nenhum resultado encontrado

"É preciso limpar para depois plantar : práticas agrícolas do imigrante polonês e a paisagem colonial paranaense na virada dos séculos XIX-XX

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share ""É preciso limpar para depois plantar : práticas agrícolas do imigrante polonês e a paisagem colonial paranaense na virada dos séculos XIX-XX"

Copied!
104
0
0

Texto

(1)

CAMPUS FLORIANÓPOLIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

FABIANA CARLA GUAREZ

TÍTULO

“É preciso limpar para depois plantar”:

Práticas agrícolas do imigrante polonês e a paisagem colonial paranaense na virada dos séculos XIX-XX

FLORIANÓPOLIS

2019

(2)

Fabiana Carla Guarez

TÍTULO

“É preciso limpar para depois plantar”:

Práticas agrícolas do imigrante polonês e a paisagem colonial paranaense na virada dos séculos XIX-XX

Dissertação submetida ao Programa de Pós Graduaçõ em História da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de Mestra em História Cultural

Orientador: Prof. Dr. João Klug

Florianópolis 2019

(3)

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

(4)

Fabiana Carla Guarez

Título

“É preciso limpar para depois plantar”:

Práticas agrícolas do imigrante polonês e a paisagem colonial paranaense na virada dos séculos XIX-XX

O presente trabalho em nível de Mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Manoel Teixeira dos Santos

Universidade Federal de Santa Catarina/CA/UFSC-SC

Profa. Dra. Elenita Borges Pereira

Universidade Estadual do Centro Oeste/UNICENTRO-PR

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de Mestra em História Cultural

____________________________ Prof. Dr. Lucas De Melo Reis Bueno

Coordenador do Programa

____________________________ Prof. Dr. João Klug

Orientador

Florianópolis, 07 de agosto de2019

Assinado de forma digital por Joao Klug:24248690063

Dados: 2019.08.12 16:00:09 -03'00'

Lucas de Melo Reis Bueno:1518191886 7

Assinado de forma digital por Lucas de Melo Reis Bueno:15181918867 Dados: 2019.08.14 11:23:13 -03'00'

(5)

Este trabalho é dedicado à minha família, agricultores no Paraná.

(6)

AGRADECIMENTOS

Nada se faz sozinha. Na verdade se faz, mas algumas coisas são muito mais proveitosas se compartilhadas. Voluntária ou involuntariamente esse trabalho é coletivo. E este espaço é dedicado a agradecer todas as(os) envolvidas(os). Antes de qualquer outro gostaria de poder apresentar meu egoísmo pela primeira e não última vez neste trabalho. Entre esta autora que vos escreve e aquela universitária que começou essa pesquisa existe um abismo. E por isso gostaria de agradecer aquela mulher que se descobriu feminista durante todo esse processo, que decidiu ir embora pela segunda vez sem ter muitas certezas e com meia dúzia de caixas. Ela aguentou tanto, segurou tantas que só tenho a agradecer pela fé, pela insistência e pelo carinho que aprendeu a ter consigo mesma.

Agradeço a CAPES pela bolsa de mestrado concedida no segundo ano, ao Programa de Pós- Graduação em História da UFSC, e aos professores e professoras que fizeram parte do desenvolvimento deste trabalho. Agradeço imensamente aos arquivos e profissionais que auxiliaram no acesso as fontes bem como: o Arquivo Histórico do Paraná; a Casa da Memória de Curitiba; o Arquivo da Congregação da Missão de São Vicente de Paula;

Tive durante esses anos de trabalho, entre a escolha de migrar e o meu estabelecimento nesta ilha duas pessoas muitíssimo importantes. Meus pais, Gabriel Guarez e Marivone Baldin. Eu sei que esses dois fizeram o que estava além do seu alcance para que eu pudesse estar aqui. Mesmo não entendendo bem a necessidade das minhas ausências, minhas mudanças eles sempre estiveram comigo e me apoiando em absolutamente tudo. Sempre que eu voltava para casa queriam saber o que tanto eu estava lendo, o que tanto eu escrevia, e hoje eu agradeço por absolutamente tudo. Amo vocês mais do que tudo nessa vida. Agradeço em menores linhas meu irmão, por que alguém teve que ser presente na nossa família. Fabio Henrique Guarez, agradeço por você ser exatamente quem é, por ter lutado por você e por mim mesmo sem saber que estava fazendo.

Uma das pessoas mais especiais da minha caminhada toda como historiadora merece estar nesses agradecimentos,. Milton Stanczyk Filho, meu companheiro de cinco anos, obrigada pelas correções de textos virando madrugadas, por me ensinar a ouvir as críticas do meu trabalho. nossos caminhos não estejam mais juntos queria que você soubesse como foi importante em todo

(7)

caminho; Trupe Danko, meu grupo de teatro que ficou em Pato Branco, em especial Bruno Guedes, Mari Rossoni, Emanuel Padia por entenderem minha escolha. Agradeço pelo incentivo ainda na minha primeira partida às Maria’s mais lindas: Thais, Sandra, Danieli, Gracieli.

Gostaria de agradecer imensamente meu orientador Prof. Dr.João Klug, pelo profissional impecável e pelo ser humano que é, tratando todos com uma sensibilidade ímpar. Obrigada por todas as orientações, sempre leves e certeiras, pelos conselhos e puxões de orelha por conta da minha teimosia e pessimismo. Prof. Klug, és meu exemplo de humanidade e de bondade. Agradeço a Profa. Dra. Eunice Sueli Nodari pelo incentivo na pesquisa. Toda equipe do Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental/LABIMHA, agradeço por terem me acolhido nesse ambiente descontraído e de níveis altíssimos de produtividade: Aline, Luis, Angela, Lincon,, Nilo e Lucas.

Ainda nesse nicho de historiadoras e historiadores ambientais agradeço a primeira pessoa a me acolher sem ao menos me conhecer direito, Maíra Kaminski. Também Esther Rossi, por ter me chamado pra tomar um chimarrão em pelo verão florianopolitano, nunca o tomamos, mas obrigada por me acolherem, cada uma do seu jeito. Esther, agradeço pelas tardes no laboratório com muito café e concentração; pelas leituras dos textos, pelas dicas de como sobreviver na ilha; pelos dias de praia e pelas conversas no Iega depois de horas de trabalho; Por fim, mas não menos importante aos colegas da seleção que se tornaram muito mais do que isso, Luana, Mariane, Marina, José, Líbia, Arielle, Janaina e Jéssica. Meus sinceros agradecimentos a todos.

Deixo aqui meu agradecimento à banca de qualificação composta pela prof. Dra. Elenita Borges Pereria e pelo Prof. Manoel Teixeira dos Santos, as indicações e encaminhamentos foram de suma importância para este trabalho. Agradeço ainda por aceitarem participar desta etapa final do processo nesta banca de defesa, muitíssimo grata.

(8)

A sombra do futuro A sobra do passado Assombram a paisagem (Lenine, 2008)

(9)
(10)

RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo principal evidenciar o processo de estabelecimento de colônias polonesas no Paraná e analisar as práticas agrícolas destes indivíduos na construção de uma paisagem colonial. Neste sentido buscou-se evidenciar tanto o projeto de colonização dos sujeitos, seus anseios e expectativas com relação a propriedade; bem como o projeto colonial da Província do Paraná, estabelecendo colônias próximas à capital Curitiba. Em conjunto foram capazes de moldar um cenário, que embora não seja fixo e imutável, compôs a região colonial reconhecida pelo olhar do viajante polonês. Ainda se observou esta paisagem colonial composta pelo espaço; colonos, indígenas e caboclos, através do olhar dos viajantes poloneses que se dedicaram a reconhecer esse território e as condições dos processos migratórios e das colônias de origem polonesa. Por fim foi possível delinear certas permanências e transformações nas práticas agrícolas desses sujeitos evidenciando a presença e coexistência de diversos grupos étnicos que a partir de suas experiências, sejam europeias ou brasileiras alteraram a paisagem a ponto de compô- la de forma híbrida. As fontes foram analisadas a partir de uma perspectiva histórica ambiental, visto que esse processo opera numa via de mão dupla entre humanos e não humanos que se modificam mutuamente.

(11)

landscape. For that matter, it was sought to highlight both the project of settlement of individuals, their yearnings and expectations regarding property; as well as the colonial project of the Province of Paraná, establishing colonies near the capital Curitiba. Together they were able to shape a scenario that, although not fixed and unchanging, composed the colonial region recognized by the Polish traveler. It was still observed this colonial landscape composed of space; settlers, indigenous and caboclos, through the eyes of Polish travelers who dedicated themselves on recognizing this territory and the conditions of migratory processes and colonies of Polish origin. Finally it was possible to outline certain permanences and transformations in the agricultural practices of these individuals, emphasizing the presence and coexistence of several ethnic groups that, from their experiences, either European or Brazilian, altered the landscape to the point of composing it in a hybrid way. The sources were analyzed from a historical environmental perspective, as this process operates in a two-way street between mutually changing humans and nonhumans.

(12)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa da Polônia Tripartida. 1889 ... 23

Figura 2: Etnografia Central da Europa, 1910 ... 25

Figura 3: Caçadores nas margens do rio Iguaçu ... 41

Figura 4: Fluviópolis, São Mateus. Homem espantando gafanhotos a caminho da serraria ... 43

Figura 5: Barracas de poloneses ... 55

Figura 6: Casa de caboclo, 1920 ...57

Figura 7: Thomás Coelho, casa típica do imigrante polonês, 1906 ...58

Figura 8: Planta da Viação do Estado do Paraná ... 63

Figura 9: Primórdios de São Mateus ... 71

Figura 10: Agricultura ... 75

Figura 11: Derrubada de mata de araucária, clareira ... 76

Figura 12: Derrubada da mata virgem e a abertura de clareira para o futuro cultivo do terreno .. 76

Figura 13: Distribuição de lotes da Colônia de Thomas Coelho ... 84

Figura 14: Município de Araucária ... 87

Figura 15: Localidade de Tomas Coelho ...88

(13)

13

INTRODUÇÃO ... 14

1 CAPÍTULO I - O Projeto Agrícola da Província e dos Sujeitos ... 22

1.1 Da Polônia ao Paraná ... 22

1.2 O Projeto agrícola da Província ... 27

1.3 O projeto agrícola dos sujeitos ... 35

2 CAPÍTULO II - O olhar do viajante polonês e a construção da paisagem colonial 47 2.1 Os viajantes, os problemas da imigração e os colonos ... 47

2.2 A condição do colono determina a paisagem ou é a paisagem que determina a condição docolono?...53

2.3 Klobukowski e sua trajetória ... 62

2.4 A Oeste pelo Trem: A paisagem e as colônias polonesas ... 64

2.5 Arquitetura e a disposição nos espaços coloniais ... 69

2.6 Conclusões, Sugestões e um Panorama do Problema ... 72

3 CAPÍTULO III - Práticas e técnicas agrícolas ... 74

3.1 As práticas e os agentes transformadores ... 74

3.2 A comunidade camponesa ... 86

3.3 Thomas Coelho, fins de agosto ... 89

3.4 O centeio ... 91

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 98

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 100

(14)

INTRODUÇÃO

O cenário da imigração para o Brasil durante o século XIX passa por uma série de discursos, os mais difundidos são a falta de mão de obra e uma possível crise no sistema agrário brasileiro. Esse contexto entre propagandas da imigração sobre o Brasil, a redistribuição de terras, bem como as demandas políticas do Império vão ao encontro a uma reorganização do espaço em detrimento desses sujeitos.

Nessas considerações a respeito da agricultura do pioneirismo é o Geógrafo Leo Waibel e o historiador Ruy Wachowicz, ambos de uma perspectiva tradicional de suas searas de conhecimento abordam o grau de desenvolvimento agrário deste imigrante. No que diz respeito a Waibel, seus apontamentos são que, de forma geral, dos grupos étnicos encontrados no sul do país (o que incluía alemães italianos e ‘eslavos’), possuíam técnicas agrárias primitivas.1 Wachowicz, ao posicionar-se especificamente em relação aos poloneses na região do estado do Paraná, afirma nas considerações finais que o polonês manifestava "(...) o seu conservadorismo, inclusive na agricultura".2 Esse conservadorismo ao qual o autor se refere, seria a dificuldade em abandonar certas técnicas de plantio, bem como os vegetais a serem cultivados. A partir destas duas perspectivas é que pretende-se encontrar, se há, um eixo de equilíbrio entre a adoção de novas técnicas e culturas agrícolas e a continuidade de outras a partir da experiência agraria europeia.

Em suma os trabalhos que se atêm a análise ambiental da imigração dialogam com aspectos comuns além da condição do próprio indivíduo. Na maioria dos textos pode-se notar uma preocupação em abordar a relação deste colono com a floresta a ser vencida, deixando clara a maneira com que cada grupo interage com o ambiente. Do mesmo modo também propõe Paulo Afonso Zarth a respeito dos impactos no planalto gaúcho a partir da chegada do imigrante alemão.3

Marcos Gerhardt dedica-se a relevância do extrativismo da erva mate na região sul do Brasil, e de maneira especial o envolvimento dos colonos nessa atividade. Gerhardt reforça que "Com a colonização, o ambiente foi transformado, a terra privatizada, novas paisagens foram construídas e animais e plantas que antes predominavam nos ecossistemas florestais perderam seu habitat". Por este ângulo é importante ressaltar a introdução de outras espécies vegetais e animais bem como o processo de adequação ao ambiente. Perceber o processo migratório através da história ambiental torna-se um objeto fecundo para a problemática relacional entre a esfera humana

1 WAIBEL, Leo. Princípios da Colonização Européia no Sul do Brasil. Revista Brasileira de Geografia, v, 11, n° 2,

abril/julho 1949. pp. 159-222. p.183

2 WACHOWICZ, Ruy, O camponês polonês no Brasil, Curitiba, Fundação Cultural, Casa Romário Martins,

1981.p.140

3 ZARTH, Paulo A. Agricultura e Impactos Ambientais no Planalto do Rio Grande do Sul.IN: NODARI, Eunice &

(15)

15 e não humana.4

O objetivo geral desta pesquisa é analisar, a partir da perspectiva da história ambiental, as mudanças na paisagem ocasionadas a partir da instalação de imigrantes poloneses no Brasil ao final do século XIX e início do século XX. Ao investigar as técnicas e culturas agrícolas frente o processo de ‘caboclização’ do imigrante, permite-se problematizar a continuidade das técnicas agrarias dos imigrantes, isto é da Polônia para o Brasil. De igual modo, buscou-se perceber a forma como o imigrante (res)significa e constrói este ambiente.

Quando decidi que pesquisaria um pequeno fragmento tanto temporal quanto espacial do processo migratório para o Brasil, não imaginava como seria escrever isso tudo. Senti empatia pelo trabalho quando li cartas de imigrantes enviados para a Polônia que sequer chegaram a seus destinatários. Nessas cartas eles eram capazes de pintar quadros do que estavam a observar, de suas viagens, seus medos, mas o que me fez sentir mais próxima deles foi a esperança que tinham sobre a terra debaixo dos seus pés. Consideradas ao longo do texto acreditei nas fontes, não com uma verdade posta, mas como uma possibilidade. Ao começar a ler as memórias e relatos feitos tratei de aprofundar a investigação das colônias polonesas e quais eram seus problemas no Brasil: como estavam transitando, agindo, plantando, comendo, rezando, se construindo e transformando no Brasil Meridional.

São muitos pesquisadores e pesquisadoras que já se dedicaram a este tema, aos costumes, aos processos em grandes escalas, como a demografia, estudos estatísticos e econômicos sobre o sul do brasil e suas respectivas colônias.5 Tantos e tantas, e isso só engrandece os trabalhos, que já discorreram sobre muitas de possibilidades e particularidades, por que é possível, por que a história é tão plural quanto, por que nunca é mais do mesmo, é sempre uma perspectiva diferente. Algum insight que é desencadeado por uma experiência, e distintos uns dos outros compõe um vasto repertório de textos, livros, artigos, teses, dissertações, o leque é com absoluta certeza extremamente vasto, assim como a minha capacidade de perder o foco durante a escrita.

De maneira pontual serão apresentadas as fontes presentes em cada uma das nove edições dos Anais da Comunidade Brasileiro Polonesa 6 editados pela Superintendência do Centenário da Imigração Polonesa no Estado do Paraná. Vale dizer que todo o material composto nos Anais estão traduzidos do polonês para o português. Entretanto, ainda que não desabone de maneira alguma a

4 GERHARDT, Marcos. Colonização e extrativismo IN: NEUMANN, Rosane M. & TEDESCO, João C. (Orgs)

Colonos, colônias e colonizadores: Aspectos da territorialização agrária no sul do Brasil, Porto Alegre: Letra & Vida, 2015. p. 249

5 VER: Cecília Westphalen; Sergio Nadalin; Vilma Bueno; Ruy Wachowicz; Maria Luiza Andreaza; Romário

Martins; Marcos Roberto Pereira;

(16)

análise da documentação, ressalva deve ser feita a tais traduções e a possibilidade de que a readequação linguística poderia levar a alguns desencontros semânticos.

Na terceira publicação, referente ao ano de 1971, o corpo documental pode ser considerado mais profícuo: já no início são apresentadas as memórias de Koscianski, publicadas por Romão Wachowicz em 1937. De forma breve, as memórias relatam desde a infância de Stasio Koscianski até as memórias 'mais recentes' de sua vida como colono polaco. Em anexo, esta edição apresenta as memórias de Edmundo Wos Saporski, considerado o pai da imigração polonesa no Brasil. São três relatos: os primeiros tratam dos manuscritos referentes as primeiras famílias polonesas estabelecidas em Curitiba, advindas de Santa Catarina. Ainda remete a relação desses indivíduos, contendo o nome do chefe da família, números de pessoas em cada uma delas, bem como a data de chegada e local de instalação. O segundo apontamento trata sobre uma viagem a um sitio denominado São Luiz, realizada em 1870 no município Bocaiuva, para reconhecimento dos terrenos que viriam a ser dos colonos poloneses. O terceiro manuscrito, solicitado pelo cônsul polonês Kaimierz Gluchowski, refere-se à cidade de Curitiba.

Neste, Saporski descreve brevemente a formação da capital paranaense. É mais pontual ao apresentar o centro da cidade em vias da chegada dos primeiros imigrantes poloneses remanescentes de Santa Catarina. Importante ressaltar que esta terceira obra apresenta um levante da imprensa polonesa, reportagens, expedições e relatos pessoais da experiência dos poloneses nas terras brasileiras.

O quarto volume publicado, também no ano de 1971, contém as recordações de viagem de Stanislau Klobukowski. No início temos, pois, um esboço biográfico de Klobukowski que foi retirado de um dos trabalhos de Pawel Nikodem. Nesta obra, os oito capítulos são dedicados exclusivamente a publicação das memórias de Klobukowski sobre as expedições realizadas nas colônias polonesas do Brasil. A expedição que o trouxe ao Brasil foi decorrente do conhecimento teórico dos problemas da emigração apresentados pela revista científica ‘Revista da Emigração’ (1892), revista polonesa da qual Klobukowski foi um dos fundadores. Os relatos apresentados são minuciosos, redigidos no período de 1895 a 1897, tempo que durou sua viagem aos três estados da região sul.

Ainda em 1971, o quinto volume publicado apresenta relatos do Pe. Hugo Dylla ao estabelecer-se na colônia de Thomas Coelho, juntamente com outros três sacerdotes poloneses em 1903. O padre segue em missão pelo interior das comunidades polonesas no Paraná relatando ao seu superior em Cracóvia os detalhes de sua peregrinação e das condições dos imigrantes estabelecidos no Brasil. Um dos documentos data de agosto de 1903 e relata da chegada até o estabelecimento da primeira colônia Thomas Coelho. Posteriormente outro documento datado de abril de 1904, descreve seu translado até as comunidades mais distantes e as condições desses

(17)

17 indivíduos que o recebia em suas casas. É o que também ocorre no último documento de julho do

mesmo ano.

A sexta edição dos Anais, publicada em 1972, versa sobre as referências das correspondências de Edmundo Wos Saporski. Assim como grande parte da documentação publicada pelas demais edições, estas correspondências encontram-se no Arquivo da Congregação da Missão de São Vicente de Paula. Saporski, na condição de agrimensor e precursor da colonização polonesa, é um personagem importante deste processo. Somam um total de 34 correspondências apenas com uma prévia do conteúdo das mesmas. Além das cartas disponíveis neste volume, foram publicadas também as memórias de Saporski escritas em terceira pessoa, designado como personagem autointitulado Eti.

O sétimo volume, publicado em 1973, apresenta aos leitores outro relato de expedição realizada ao Brasil e Argentina por Antônio Hempel. Esta expedição de cunho científico, de 1891, trouxe ainda outros indivíduos a analisar o problema emigratório. Foram destas viagens que surge a “Revista da Emigração”, citada no volume IV, publicada em língua polonesa somente em 1893. Dispõe também de uma diversidade de fontes indicadas ao final da obra. Num total de 34 fontes de origens distintas são sugeridas, bem como uma prévia de seu conteúdo e os arquivos onde estas encontram-se. Entre eles: Arquivo Público do Estado do Paraná, Arquivo da Biblioteca Nacional, Câmara Municipal de Curitiba, Sociedade Amigos de Brusque e o Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico Paranaense.

O oitavo volume, publicado em 1977, o último, porém não menos importante, possibilita o conhecimento de uma imensidade documental. Neste tomo, trata-se da publicação de 60 cartas de emigrantes poloneses que chegaram ao Brasil durante o período da chamada “febre brasileira” de 1889 a 1891. Trazem como informação: o número da carta; local de origem; data; remetente; destino; e destinatário. Vale dizer que estas missivas foram transcritas e publicadas em polonês pelo historiador Marcin Kula e traduzidas para o português por Francisco Dranka, um dos idealizadores das comemorações do centenário da imigração polonesa no Paraná. Estas foram emitidas de vários estados, tais como: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. O conteúdo dessas cartas varia bastante de caso para caso: por conta da religiosidade desses imigrantes todas as cartas contém profissões de fé, em geral a maioria delas faz um relato minucioso sobre a viagem de navio, com algumas instruções sobre o trajeto para os parentes que possam vir, e uma descrição do ambiente e das atividades que já desempenham ou desejam fazê- lo com a terra recém adquirida. Esta documentação já foi utilizada por outros autores mas com abordagens muito diferentes. Ruy Wachowicz (1981) utilizou tais missivas tratando-as a partir de perspectivas da história social e cultural, enaltecendo as dificuldades no traslado e as preocupações religiosas. Também Marcos Justos Tramontini (2005) realizou um estudo que toma com base o

(18)

conteúdo das cartas e, a partir delas, quais são as expectativas da ascendência econômico-social do colono polonês. Porém, sob a égide da história ambiental, há muitas lacunas quanto as minucias e indícios acerca das práticas agrícolas do imigrante polonês que ainda não foram exploradas, razão desta investigação. Algumas características referentes ao tipo de plantio (escolha do gênero) em determinado momento da trajetória dos imigrantes aparecem com frequência: para o colono que já está estabelecido, uma prática; e/ou o que se pretendia plantar para o que acabara de chegar. Não raras são também as descrições dos diferentes tipos de técnicas e ferramentas que são utilizadas para o trato com a terra.

As fotografias que fazem parte deste escopo documental foram localizadas através da publicação da obra: “Imagens do trabalhador imigrante do Sul do Brasil: os poloneses do acervo Ruy Christovan Wachowicz, publicado no ano de 2007. O acervo publicado está disponível no Arquivo Histórico do Paraná, o qual está digitalizado. Somente uma das imagens utilizadas faz parte de uma exposição que ficou disponível de 17 de junho a 17 de julho de 1980 pela BADESP, contendo uma publicação do catálogo com as respectivas fotografias. Compõe os documentos utilizados ainda, os relatórios do Presidente da Província Adolpho Lamenha Lins, Guias para o Imigrante disponibilizado a pedido da Secretaria de colonização, Agricultura e Obras Públicas, bem como um Manual para imigrantes específico da Província do Paraná.

O que faria portanto com este material? Como seria minha abordagem sobre ele? Desta dúvida conheci uma vertente da História que já visitara a imigração nesses moldes e os resultados apresentam-se relevantes sobremaneira. Uma proposta diversa da considerada clássica, não seriam mais os imigrantes, suas trajetórias somente para minha análise, o espaço agora era capaz de se tornar ator nesse processo. Sim, o espaço, e junto dele práticas desses humanos, e plantas especiais, técnicas e instrumentos diferentes. Agora eu não precisava mais perguntar: Como este imigrante vem até aqui? O que passa a ser novidade para estes sujeitos, e como eles lidam com esse processo de adaptação? Como ele desenvolve seus costumes, suas crenças, como passa a viver e se construir no Brasil? Todas essas perguntas também são dirigidas para o outro sujeito incorporado pela História Ambiental: De que forma este espaço reage a estes sujeitos, como ele se adapta ou não a seus costumes e crenças? Através de quais técnicas este espaço submetido a uma transformação de grande impacto recebe sementes europeias? Esta terra é capaz de gestar uma cultura alimentar polonesa? Exaustivamente, essas perguntas me passam pela cabeça, de início como aberrações, mas são simplesmente geniais. A história ambiental permite esse deslocamento entre o humano e o espaço sem que seja uma percepção dual. Sem que o humano se perceba alheio. Particularmente gosto muito de uma analogia que faz José Augusto Pádua, o espaço o ambiente não é somente um cenário para a vida humana, não é fixo. Pasmem, ele é móvel, transitório, e tão

(19)

19 capaz de moldar o humano quanto o humano é capaz de moldá-lo.7

As fontes que sustentam minha argumentação são observadas a partir de níveis por onde a História Ambiental opera. Designados por Donald Woster, entendo os 3 níveis atuando sistematicamente, em essência são eles: 1- a natureza propriamente dita; 2- a natureza adaptada, como os modos de produção; entendo também as formas com que o humano pode alterar a natureza (o domínio sócio econômico a medida que este interage com o ambiente); 3- o terceiro trata de uma interação mais intangível e exclusivamente humana, puramente mental ou intelectual a maneira com que o homem entende esse processo.8

Pode-se nesta condição compreender e flexionar os níveis como concomitantes num processo moderno e contemporâneo de organização social. Insere-se neste debate a tensão entre as 3 esferas, onde interpreto a última como sendo resultado das duas anteriores. Quando afirmo que este trabalho opera com representações do espaço, das práticas, e de um imaginário destas categorias pelos indivíduos, posiciono a compreensão ao terceiro eixo. A intangibilidade: da memoria do viajante que escreve posterior a sua viagem; dos parâmetros puramente europeus com que o espaço é avaliado e registrado pelos indivíduos; pela compreensão e conversão de natureza em produto por parte dos chefes da colonização, presidentes de província e demais personagens do projeto agrícola colonial paranaense. Se estas representações sobre o meio não correspondem estritamente a plausibilidade da compreensão humana, não sei dizer a qual pertence.

Das categorias que perpassam este estudo podemos elencar: a paisagem, a territorialidade; e as práticas agrícolas. São os conceitos que mais permeiam o trabalho em suas designações, e importante ressaltar que embora sejam categorias independentes, apresentam-se extremamente inter-relacionadas neste trabalho. Enquanto paisagem, trata-se de uma construção pendular que se constitui através dos sujeitos e as projeções destes no espaço, configurando uma categoria híbrida. Esta verifica-se através do que Simon Schama, e até mesmo o que o geógrafo Leo Waibel destacava como uma paisagem cultural.

Dentro desse nível, a territorialidade merece atenção especial pois é o desfecho de todo esse processo de construção de uma paisagem completamente alheia, ressignificação das práticas agrícolas e sociais destes indivíduos, a partir de 3 momentos: 1- imaginário do espaço e da condição agrícola; 2- o estabelecimento dos sujeitos e a construção do espaço através dos humanos e não humanos; 3- a pluralidade da territorialidade efetivada: caboclos; colonos; indígenas; erva- mate e centeio.

As práticas agrícolas que inicialmente configuravam-se como ponto chave do debate, se

7PADUA, José A. Bases teóricas da história ambiental. Estudos Avançados, São Paulo, v24, n. 68, 2010. 8 WORSTER, Donald. Transformaciones de la Tierra, Montevideo: CLAES, Coscoroba Ediciones, 2008.

(20)

mostram mais estruturantes. O que se esperava desta pesquisa eram as práticas efetivas dos sujeitos em processo de transformação – de si mesmos e do espaço. Muitas são as possibilidades que a história nos apresenta e as fontes desta pesquisa conseguiram esboçar as práticas agrícolas quase sempre através de outros interlocutores, e não dos sujeitos que estavam a efetivá-las. Desta forma as práticas constituem toda a atmosfera desta pesquisa, desde os projetos até os resultados do processo migratório. Pode parecer que os aspectos étnicos pertencem ao tipo de história que não me proponho. Pode parecer sim que remeta aos aspectos estritamente culturais e de organização social, mas a etnicidade a partir de uma perspectiva etnobotânica compreende profundamente a ligação com que estes sujeitos a partir de suas experiências são capazes de operar e ressignificar sua biota numa nova concepção de espaço.

No primeiro capítulo pretendo abordar a partir de duas perspectivas o projeto agrícola que se desenvolve no Paraná ao final do século XIX: Por um lado compreender as exigências e expectativas da Província, através dos manuais direcionados para os imigrantes, bem como os projetos dos presidentes da Província diretamente ligados as demandas da colonização, quanto do gerenciamento da produção agrícola das colônias; Por outro compreender as expectativas dos colonos com relação a terra que ainda não receberam, e quais os planos para esta.

O segundo capítulo dedica-se às seguintes questões: de que forma o projeto agrícola estava sendo efetivado; quais são as demandas dos colonos; como se encontrava o processo de alteração da paisagem em detrimento do desenvolvimento das práticas agrícolas. Para esta análise serão utilizados relatos de viajantes poloneses, que em essência se dedicam a compreender o processo e detectar quais são os problemas da imigração polonesa no Brasil.

O último capítulo dedicarei atenção ás práticas agrícolas, aos sujeitos envolvidos no processo de estabelecimento da colônias, bem como darei atenção a uma das colônias estabelecidas próxima a região de Curitiba, a colônia intitulada Thomas Coelho.9 Dentro desse recorte, abrem- se as possibilidades de análise das suas particularidades com relação ao território onde é fixada no ano de 1876. Importante destacar as dimensões espaciais desta colônia, que corresponde a uma média em relação ao território das demais. O que se pretende com este estudo da colônia específica, portanto, é estabelecer um modelo de vida colonial, não generalizante, porém que pode ser transferido para compreender outras colônias onde os sujeitos possuem semelhantes espaços de experiência e horizontes de expectativa.

Um levantamento bibliográfico da historiografia sobre as migrações do grupo étnico dos poloneses para o Brasil é consideravelmente menor do que as referências encontradas para outros

(21)

21 grupos étnicos como os italianos e alemães no sul do Brasil.10 Objetivando portanto contribuir para

a historiografia dedicada ao grupo étnico dos poloneses. Revisitar a documentação e a paisagem a partir de uma dimensão ainda não explorada com profundidade a partir desse arcabouço teórico metodológico no Paraná.

10 Para isso ver: WEBER, Regina. Historiografia da imigração polonesa: avaliação em perspectiva dos estudos sobre

o Rio Grande do Sul. História Unisinos. Vol. 16 Nº 1 - janeiro/abril de 2012: “Prima pobre de uma família cada vez mais rica” (Maestri, 2002, p. 10), “atraso das investigações” (Wenczenovicz, 2007, p. 17), “escassez de bibliografia” (Gritti, 2004, p. 13) são termos presentes na historiografia contemporânea da imigração polonesa para o Rio Grande do Sul, inevitavelmente comparada aos estudos sobre a imigração italiana e alemã. Tal enquadramento tem paralelos na visão da própria corrente imigratória polonesa, que destaca, por observação quase sempre comparativa, a presença do catolicismo, a vocação agrícola1 e o peso do preconceito. Sem negar o papel de tais fatores, pretendesse relativizá-los e sugerir enfoques alternativos, sempre considerando os encontros interétnicos que se processaram no sul do Brasil”.

(22)

CAPÍTULO I - O Projeto Agrícola da Província e dos Sujeitos 1.1 Da Polônia ao Paraná

O cenário de desterritorialização da Polônia durante o processo de emigração para o Brasil está calcado nas seguintes condições: De uma população aproximada de trinta milhões de pessoas, 19,5 milhões dessas estavam concentradas nas áreas rurais. Segundo Edmund Tempski11 31% dessa população não eram proprietários efetivos das terras. Deste modo a população que residia nas áreas rurais encontrava-se em um território fragmentado e de poucas garantias quanto a produção alimentar.

Um dos grandes problemas do sistema agrário na Polônia era a estrutura das propriedades. Além da distribuição das terras ser de forma inadequada, onde poucos eram de fato proprietários, e os que as detinham eram pequenas em demasia, não conseguindo retirar destas o seu sustento. Aliado a um sistema escolar arcaico12, grande parte da população avessa as modificações no sistema “industrial” era analfabeta.

A Polônia tripartida apresentava suas particularidades, tanto no que concerne ao ambiente em que estão localizadas, bem como nas disposições políticas de cada domínio. Mas levando em consideração um cenário com fronteiras políticas mais flexíveis, a população enfrentava problemas semelhantes: a desapropriação das terras em detrimento dos latifundiários, fossem estes a burguesia polonesa ou de outra nacionalidade; o crescimento populacional e a baixa produtividade agrícola; o analfabetismo e carência de instruções eficazes no trato com a terra. Entre todas as características, talvez a carência de um estado unificado que apoiasse as condições para os pequenos agricultores é a que os une quando partem da Europa ao novo mundo.

11TEMPSKI, Edwino. Quem é o polonês? Boletim especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico

Paranaense. Curitiba, 1971.

(23)

23 Figura 1: Mapa da Polônia Tripartida. 1889.

(24)

De acordo com este mapa datado de 1889, pode-se visualizar a situação política, ou a ausência da mesma na constituição do território polonês. O mapa acima é do período específico do que ficou conhecida como ‘febre imigratória’. Pode-se observar o ponto de encontro entre o Império Prussiano, Russo e Austríaco, no meio desse território encontra-se escrito “Poland”. Embora não exista enquanto fronteira política, ainda assim está representada de alguma maneira. É nesse momento, durante o final do século XIX e proveniente desses três Impérios que os imigrantes poloneses se deslocam para o Brasil em seu maior contingente.

Por outro lado, aproveito a utilização de mais uma representação cartográfica, intuindo além de situar o(a) leitor(a) geograficamente, da situação desse nacionalismo polonês fragilizado. Não pretendo entrar em profundas discussões que se referem ao nacionalismo, porém é importante destacar a presença de um sentimento de nação, que sequer existia enquanto Estado. O mapa que segue, de 191013, propõe-se etnográfico da Europa. Nesta representação, justamente onde localiza- se hoje o território polonês está delimitado a existência de um grupo étnico especifico: os eslavos.

(25)

25 Figura 2 : Etnografia Central da Europa, 1910.

(26)

Um dos possíveis motivos da crise do sistema agrário polonês, ao que indica Marcin Kula, seria também o aumento da produção de cereais provenientes dos Estados Unidos e Canadá a preços mais atrativos, o que causou um impacto na produção cerealista europeia, afetando o mercado polonês.14 O que se verifica nessas populações quando chegaram ao Brasil, é um sentimento nacionalista, de identificação cultural e étnica por pare desses sujeitos. É possível que isso reforce as relações entre os poloneses, e o desejo de projetar em novo solo antigas ambições.15

Glochowicz16 delimita 4 momentos do fluxo migratório dos poloneses para o Brasil. Segundo os dados apresentados para o Problema da imigração no Brasil, estão condensadas informações de entrada de colonos, de 1872-1889, o estado do Paraná liderava o contingente com sete mil e trezentos indivíduos. De 1890 -1894 a chamada febre brasielira17 o estado do Paraná recebeu quinze mil imigrantes, ficando abaixo somente do estado do Rio Grande do Sul que recebeu vinte e cinco mil pessoas deste grupo étnico. De 1894 – 1900 o paraná recebe seis mil e até o período subsequente de 1914 um total quatorze mil setecentas e trinta pessoas. Evidente destacar que o estado do Paraná recebe o maior número desta população distribuindo-a em colônias ao longo dos planaltos paranaenses com diferentes enfoques de acordo com as fases de entrada.

O primeiro grupo de imigrantes poloneses a se estabelecer no Brasil, como trata a historiografia recorrente, veio no ano de 1869 mediados através de um dos personagens que mais se destaca politicamente no processo migratório: Edmundo Wos Saporski. Considerado pela historiografia tradicional o ‘pai’ da imigração polonesa, Saporski vem ao Brasil em 1867. Antes de outra profissão, Saporski é engenheiro e passa pelo Uruguai, e as três províncias do Sul do Brasil, onde em Santa Catarina opta pelo translado de dezesseis famílias polonesas e o estabelecimento destas nas proximidades da colônia de Itajaí.

Estes colonos não se habituando à província de Santa Catarina, pelo possível fato da proximidade com colônias alemãs18, com quem não mantinham boas relações, transferiram-se, não sem esforço, para o Paraná dois anos depois. Fundando em 1871 nas proximidades de Curitiba a colônia de Pilarzinho. É a partir desse cenário de desterritorialização e reterritorialização dos poloneses, e a criação de colônias polonesas no planalto curitibano que esta pesquisa de delineia.

14 ACBP, v.VIII.

15 Apesar da fragmentação plitica do território não leva a crença a ausência do povo e sentimento de polonidade. 16 GLUCHOWSKI, Kazimierz, Subsídios para o problema da imigração polonesa no Brasil. Porto Alegre: Rodycz&

Ordakowski Editores, 2005.

17 WACHOWICZ, op. cit. 1981. 18 ACBP, v. I.

(27)

27

1.2 O Projeto agrícola da Província

O interesse na fixação de colonos na Província do Paraná surge antes dos recortes delimitados por esta baliza temporal. Como afirma Marcos Nestor Stein19, as políticas de cada governante previam fomentar a ocupação do território paranaense através do estabelecimento de colônias europeias.20 O autor aborda o interesse de três presidentes da Província do Paraná21 em seus respectivos relatórios apresentados à Assembéia Legislativa. Entre os relatos que Stein apresenta estão os respectivos: Zacarias Goes de Vasconcelos(1854); Francisco Liberatto de Mattos (1858) e Antonio Barbosa Gomes Nogueira (1863). A partir dos interesses relacionados ao aumento da produção agrícola e estabelecimento de colônias de imigrantes no Paraná, entende-se que, apesar de projetos plurais e com diferentes abordagens, a Província em questão vem gestando um projeto agrícola desde sua fundação.

Para evidenciar a continuação deste projeto, ainda que não se auto-defina desta forma, pretendo, a partir dos relatórios do Presidente da Província do Paraná, Adolfo Lamenha Lins, estabelecer um modelo diferente a ser efetivado. Parto também de dois outros documentos que enfatizam este modelo proposto pelo presidente da situação, analisando entre outras características, o modelo de propaganda dos recursos naturais e demais características físicas da Província. São estes: o documento Dados estatísticos e esclarecimentos para os emigrantes específico sobre a Província do Paraná; e o Guia do Emigrante para o Império do Brazil.

O segundo documento que previa orientar os futuros imigrantes é o ‘Guia do Emigrante para o Império do Brazil’. Produzido através da Secretaria de Estado dos negócios da agricultura, comércio e obras públicas pelo inspetor geral das terras e colonização F.de B. Accioli de Vaconcellos foi também publicado no Rio de Janeiro, porém no ano de 1884, possivelmente nove anos após a publicação do primeiro documento. Assim como o da Província, ordenou-se que este Guia do Emigrante fosse vertida para os idiomas “francez, allemão e italiano, afim de ser mais facilmente conhecida nos paizes europêos”22.

O manual da Província para os imigrantes contém cerca de 155 página dedicadas a informar o novo imigrante das condições de receptividade que a província do Paraná oferece neste momento. Enquanto que o guia publicado posteriormente é consideravelmente menor, com apenas

19 STEIN, Marcos. Empreendimentos de colonização no Paraná: políticas de imigração e colônias agrícolas. In_:

NEUMANN, Rosane M, TEEDESCO, João C. (Orgs) Colonos, Colônias e Colonizadoras: aspectos da territorialização agrária no Sul do Brasil. 2015.

20 Ibid. p.97.

21 Emancipada em 1853. 22 Guia do Império, 1884, p.6.

(28)

73 páginas. Ambos colocam-se como instrutivos sobre as condições ditas naturais que o Império e a província oferecem. Darei mais ênfase ao documento voltado para a província, embora o guia do Império seja recorrente em alguns tópicos deste debate

No intuito de compreender de certa forma os anseios e projetos desenvolvidos pela província do Paraná, não sem suporte do Império, utilizo nesse capítulo inicial um dos manuais desenvolvidos e publicado por ordem do Ministério dos negócios da agricultura, do comércio e das obras públicas. Este documento intitulado ‘Dados estatísticos e esclarecimentos para os emigrantes’ foi publicado em 1875 na cidade do Rio de Janeiro. A obra inicia com três pequenas descrições seguidas de uma indicação de hospedagem e informações sobre emprego para imigrantes recém chegados. Interessante saber que esse folheto introdutório está publicado em três línguas: português; alemão e inglês,

S. Ex. o Sr. conselheiro Antonio Carneiro da Rocha, Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, ordenou que a Guia do Emigrante fosse vertida para os idiomas francez, allemão e italiano, afim de ser mais facilmente conhecida nos paizes europêos.23

Este manual voltado para os imigrantes contém cerca de 155 página dedicadas a informar o novo imigrante das condições de receptividade que a província do Paraná oferece neste momento. Mas este documento se destaca por uma potencialidade considerável de informações condensadas sobre toda a situação agrária, indústria, viária e de desenvolvimento comercial do Paraná. Destaco, portanto, a importância deste documento e a forma com que foi projetado enquanto ferramenta de propaganda das projeções da província para com o projeto de colonização. Como sugere o nome deste documento, um manual informativo para os imigrantes que almejam vir para o Brasil e, devem, portanto, seguir em direção ao Paraná. Dentro de toda a argumentação construída para que o imigrante se torne um colono no Paraná, faz-se inicialmente uma contextualização de todos os aspectos físicos da Província. De forma que possibilitasse ao sujeito dimensiona-la, estabelecia-se parâmetros de comparação entre espaços conhecidos ou ao menos mais claramente assimiláveis. No que tange o território, apresenta o seguinte quadro: “diremos que essa superfície é maior do que a da Prússia, antes das ultimas annexações, a qual era avaliada em 281,760 kilometros quadrados ; é ainda maior do que o da Inglaterra, Escossia e Irlanda, reunidas”.24 Ainda referente aos parâmetros utilizados para que facilitasse a compreensão do imigrante temos a referência das condições naturais do Paraná que são, segundo o documento,

23 Manual da Província, 1875 p.6. 24 Ibid. p.7.

(29)

29 muito superiores às da Prussia, Grã-Bretanha Portugal e Nova York25, enfatiza portanto a grande

capacidade em recursos do Paraná, podendo receber um número muito grande de imigrantes. Com relação a população, e o aumento da mesma, o manual possui uma pequena contradição com relação as datas. Fora publicado em 1875, e afirma que após 5 anos do último senso realizado em 1873 a população de emigrantes recebidos da Europa e de províncias vizinhas aumentara significativamente. Essa informação pode colidir com o projeto desenvolvido por Lamenha Lins que assume a presidência da Província em 1876. Os pontos encontrados neste manual vão ao encontro das propostas do Presidente com relação ao projeto colonizador, portanto é possível que tenha ocorrido algum equívoco nas datas de publicação, ou até mesmo esta edição ter sido revisada posterior ao cargo assumido por Lamenha Lins. O manual foi requisitado pelo Ministério dos negócios da agricultura, do comércio e das obras públicas, órgão do governo imperial. No relatório de Lamenha Lins, afirma que teve total aprovação de seu projeto pelo Império e que este seria aplicado para os próximos projetos de colonização.

O espaço da província acaba sendo o foco principal dos primeiros tópicos do manual. Um dos requisitos de Lamenha Lins para a ‘propaganda correta’ sobre a Província seria abordar de forma prática quais são as potencialidades reais existentes, como no caso das demandas topográficas: “A água abunda por toda a parte e da melhor qualidade. Não ha nessa extensa provincia região alguma, em que o viajante ou o agricultor sinta falta desse liquido, indispensável á vida animal e á vegetação”26. No que diz respeito a esse quesito, aprofunda-se e apresentar quase que um mapa fluvial da província. Não especificamente sobre o recurso da água, mas também no que tange a navegabilidade com o intuito de transportar as respectivas mercadorias para os que se estabelecerem nas colônias próximas ao rio Paraná. Deste, ainda pontua o seguinte critério comparativo:

É maior do que o Volga, o mais importante da Europa, e, portanto, maior do que o Danúbio, o Rheno, o Rhodano, o Loire, o Sena, o Tejo, o Thamisa e do que todos os mais celebres rios desse continente. Maior que qualquer um da américa do norte, maior que o Mississipi o Missouri e o S. Lourenço. 27

Num aspecto comparativo com o Império afirma que o sistema hidrográfico do Rio Paraná está para o sul do Império como o Amazonas para o Norte. Logo pode ser chamado de Rio Amazonas do Sul do Império. Outros rios navegáveis são citados tal como o Iguaçu, e o

25 Todos os comparativos apresentados são de Estados, a única cidade que se destaca é Nova York. 26 Relatorio Do Presidente De Província Adolpho Lamenha Lins.

(30)

Paranapanema. Destaco neste capítulo, além das descrições físicas da Província, as principais características que estão presentes nos guias destinados aos emigrantes. De modo que estas vão ao encontro das perspectivas dos próprios colonos analisadas nas cartas do Paraná e do Sul do Império, bem como em vários dos relatos de viajantes que compõe o segundo capítulo desta investigação. O clima e o relevo destacam-se entre categorias comuns enfatizadas pelo corpo documental.

Uma das preocupações dos imigrantes era em relação ao clima da província em que se estabeleceriam. Novamente recorro à ‘receita de boa colonização’ do Presidente Lamenha Lins, o qual destaca que os colonos devem estar bem aclimatados, e somente depois de afeitos ao clima seriam bons trabalhadores. Entre as cartas apresentadas na sequência também conseguimos analisar os níveis de preocupação com relação ás condições climáticas. Não desejam calor extremo e se alegram pelo inverno não ser tão rigoroso como o da antiga pátria.

Obviamente a escolha do clima infere não somente nas questões sensoriais, de frio ou calor, mas reflete no projeto desses indivíduos que é o sucesso agrícola em suas propriedades. O guia dedica 9 páginas a descrever as condições climáticas que estão diretamente associadas a altitude das regiões. No entanto pode-se perceber quatro regiões delimitadas:

Cada uma destas seis regiões tem o seu clima distincto. Estes climas estão por assim dizer graduados desde o mais quente— o da Marinha ou do Beira Mar,—até ao mais frio o da planalto de Curitiba, que fica em altitude de 900 a mil metros; desde o mais húmido — o da Serra do Mar, onde os vapores do Oceano Atlântico vêm se condensar como de encontro a uma muralha fria, e formam chuvas muito frequentes, até ao mais secco — o dos mais altos pontos do planalto de Curitiba.28

A preferência dos sujeitos por um clima ameno tal qual o europeu e a projeção de colônias próximas a Curitiba, uniu, pois, ‘a fome com a vontade de comer’. Pode-se entender até certo ponto essa expressão de forma literal, onde é suprida a carência de gêneros alimentícios pelas mãos dos imigrantes que desejavam terras. Encontram-se, portanto, sutis indicações de que: se escolherem o Paraná, poderão desfrutar dos mesmos cereais, o trigo, a cevada a aveia e o centeio. Indica as condições climáticas apropriadas para a criação de gado e os derivados como a manteiga o leite e o queijo e demais frutos encontrados nas regiões temperadas: maçãs, peras. pêssegos e morangos. Finaliza este incentivo afirmando que nestes planaltos onde a terra é tão fértil e o clima salubre os colonos serão aclimatados sem esforço.29 Neste sentido também ressalva as condições climáticas

28 Guia do Império, 1884 p.23. 29 Manual da Província, 1875 p.32.

(31)

31 aliadas a produtividade o Guia do Império:

A disposição topographica, a variedade de climas, as correntes d’agua que regam o sólo em toda as direcções, e a sua luxuriosa vegetação, tornam as terras do Brazil aptas em maior ou menor escala á cultura de todas as plantas do globo, e á verdadeiramente assombrosa producção.30

Refere-se as especificidades climáticas do planalto curitibano, e é no clima onde também aparecem a fauna e as principais espécies da vegetação.

É o clima de Curitiba o mesmo que prevalece em todas as regiões dos Campos Geraes, e até a sua descida para os valles do interior; isto é, em quasi 250 kilometros do caminho de ferro projectado. A canna de assucar e o arroz ainda não crescem ahi tão prodigiosamente como nas zonas mais quentes; mas as larangeiras (Citrus aurantium) e as bananeiras (Musa sapientum, Musa paradisíaca) produzem com a maior abundancia. No emtanto alguns passaros e alguns animaes ainda denunciam a natureza temperada do clima; ha passaros de pennas brilhantes e de variadas côres; mas são abundantes as perdizes, as narcejas, as tarambólas, as gallinhas do mato, os jacús, as lebres e os coelhos, etc., etc.31

Entre os mais variados tópicos que serão posteriormente citados, o capítulo destinado a agricultura condensa diversas informações sobre a estrutura agrária que já vigora nessas terras durante o estabelecimento das colônias polonesas. Dito isto na primeira página:

Os immigrantes terão, pois, o mais vasto campo de escolha: poderão dedicar-se ou á cultura dos generos européos nos planaltos de Curitiba, dos Campos Geraes e de Guarapuava, ou á cultura dos productos tropicaes ou brasileiros, nos valles do Ivahy, do Iguassú, do Piquiri e do magestoso Paraná! Poderão optar entre o trigo e o café; entre a betarraba e a canna de assucar; entre o lupulo e o fumo.32

O objetivo contudo destas linhas é o de propagar o poder de escolha que o clima, o solo e as gentes da província podem propiciar a este imigrante. Perpassam as próximas páginas destinadas

30 Guia do Império,1884 p.43. 31 Manual da Província, 1875 p.30. 32 Ibid. p.45.

(32)

a cada produto que cresce em solo paranaense: Batata; inhames e carás; tayoba;33 milho34; feijões; vinha35;mandioca36; café; cana de açúcar; algodão; fumo. Segue na indústria pastoril evidenciando que,

Os immigrantes, estabelecidos em torno de Curitiba, gósam das vantagens de um clima europêo; de um terreno prompto para ser lavrado a arado, e proprio para a cultura do trigo, da cevada, da aveia, etc., etc. ; da proximidade do mercado da cidade de Curitiba, capital da província, e residência de pessoas abastadas; de varias industrias urbanas, e, principalmente, da industria dos transportes em carros e carroças pela estrada da Graciosa, que dá escoamento a quasi todo o commercio do interior do Paraná com os paizes estrangeiros.37

Este projeto agrícola da província do Paraná, que trata do estabelecimento de colônias próximas a Curitiba foi gestado durante o governo de Lamenha Lins, são as causas que embaraçam a colonização nacional e estrangeira e o desenvolvimento de nossa agricultura numa terra mais que própria para atrair os braços que lhe podem dar vida.38

Neste contexto podemos estabelecer uma relação que ocorre entre a colônia e a cidade, e como isto foi gestado para resolver os anseios de ambos: estado e sujeitos. Para Adolfo Lamenha Lins, o então presidente da Província do Paraná no ano de 1876-77, haviam algumas saídas para atrair imigrantes de forma correta e iniciar um projeto de colonização que fosse positivos para a Província e Império, bem como para os indivíduos. De acordo com o Relatório apresentado a assembleia legislativa do Paraná em 1876, Lamenha sugere os seguintes passos para uma colonização bem sucedida. As regras deste projeto seriam:

Dizer a verdade ao Imigrante sobre a nova pátria que vem procurar, e em vez de poéticas descripções e exageradas promessas, convencel-o de que temos a seu alcance terras fertilíssimas, e promovendo a construcção de boas vias de

33 “Os colonos do Assumguy, e, em geral, todos os colonos das provincias do Paraná e de Santa Catbarina, plantam

infalhavelmente a tayoba, que dá prodigiosamente nas terras pretas, um pouco húmidas; nas beiras dos filetes d’agua; entre pedras, em terrenos, que não podem ser utilisados em outras culturas”. Ibid. p.46.

34 Destaca o milho como o primeiro produto depois da retirada da mata. Existe a preocupação em enfatizar a dispensa

de utilização de arado e estrume para alcançar alta produtividade.

35A fabricação desses vinhos é exeellente industria para as familias dos immigrantes. Muitas dessas fruetas são

sylvestres, e não exigem outro trabalho além de eolhel-as. Assim, por exemplo, os immigrantes, que se fixarem nas margens do Ivahy, terão nas florestas de laranjaes, matéria inesgotável para a fabrieação do vinho, de vinagre e de aguardente de laranja. Manual da Província, 1875 p.48.

36 Ensina o preparo da tapioca. 37 Ibid. p.88.

(33)

33

communicação. Facilitar-lhe o transporte, evitando que o immigrante soffra privações e máo tratamento até o termo de sua viagem. Dividir bons lotes de terra nas vesinhanças dos centros populosos e fazê-los comunicáveis por estradas de rodagem. Fazer o colono adherir á terra qye habita, pelo direito de propriedade, facilitando-lhe a aquisição d’ella. Evitar que o immigrate ao chegar soffra vexames que lhe abatam o animo aos seus primeiros passos em regiões desconhecidas. Estabelecer bem o colono, com todos os favores prometidos, e depois liberta-lo de qualquer tutela, deixando-o sobre si, e entregue ao desenvolvimento de sua própria iniciativa.39

Lamenha propões estas medidas com um propósito bem claro, o de fixar as colônias e os imigrantes da melhor forma possível, para que não abandonem o projeto da Província pautado em utilizar a terra da melhor forma possível, visando lucro para a Província e suprindo as demandas, se não as internas, as da capital da Província do Paraná. Este projeto colonizador arquitetado e fomentado por Lamenha, agrada os olhos do Império, pois os antigos moldes de colonização onde os colonos ficavam ociosos, migravam de suas terras e abandonavam o projeto do estado estava visivelmente fracassado.40

Ainda no mesmo relatório, Lamenha apresenta de forma breve a situação de algumas das colônias das proximidades da capital, entre elas: Assungy, São Venâncio, Superagui e a Colônia Argelina, Pilarzinho e Abrances estas últimas servem a título de exemplo da suposta má divisão dos lotes. Afirma, pois, que são propriedades demasiado pequenas e que não podem ser expandidos os terrenos pela forma em quadro com que foram repartidos. Cito estas duas localidades, Abranches e Pilarzinho pois constituem a lista de colônias poloneses, sendo que a população destas fica em torno de 425 indivíduos.

Na colônia Santa Cândida, requisitada através do Ministério da Agricultura solicitou-se a vinda de 200 imigrantes poloneses. Desta colônia, Lamenha Lins afirma bons resultados já aparecendo: alguns dos colonos já possuem carroças e bois, os terrenos já estão plantados e os colonos gozam de terras férteis para o plantio do trigo. A proximidade com a capital, e as boas estradas de rodagem permitem neste caso aos colonos venderem lenha41 e legumes nos mercados do centro. Outra colônia polonesa elogiada pelo Presidente é Orleans. Possui, segundo ele condições mais modernas de desenvolvimento, e regadas pelo rio Passaúna42 pode utilizar a força

39 Relatório do Presidente de Província, Adolpho Lamenha Lins, 1876, p.79.

40 Como o próprio Presidente da Província apresenta em seu relatório, os colonos estabelecidos na colônia do Assungy

estavam empobrecidos, vivendo de poucas variedades agrícolas e abandonando as terras.

41 Pela primeira vez a lenha aparece como uma atividade rentável. Nos outros relatos sobre a floresta e as árvores

derrubadas em detrimento do plantio menciona-se apenas o fogo consumindo-as.

(34)

do rio em favor do desenvolvimento de maquinas.

No relatório do seguinte ano, Lamenha Lins afirma o êxito com que seu projeto tem sido desenvolvido e aprovado pelo governo imperial. Segundo ele, que por este modo a Província teria pornanto, uma população de trabalhadores, já affeita ao nosso clima, identificada com os nossos costumes e preparada para , derramando-se pelo interior desta vasta província, explorar e aproveitar os inexgotáveis tesouros que ella encerra.43

Quadro 1: Informações das colônias polonesas a partir do Relatório do Presidente de Província (1877) Colônia Quantidade de poloneses (N.os Abs.) Região de proveniência Observação Abranches e

Pialrzinho 432 Silésia Domínio russo

Órleans 251 Galícia

Thomaz Coelho 739 Silésia e Galícia

Lotes quase todos demarcados. Possui serraria e os colonos vendem os pinheiros retirados de suas

propriedades

Santa Cândida 266 Região de domínio

prussiano

Dom Pedro 19 Silésia

Lotes amplos demarcados. Todos os

colonos são homens. Ainda constam 12 suíços e 7 ingleses

Dom Augusto 280 Silésia Divisa com Thomaz

Coelho

Santo Inácio 524 Silésia Lotes demarcados. Já se dedicam a construção de casas Lamenha 746 Região de domínio prussiano

Dedicaram-se logo ao plantio do centeio,

trigo e batatas Fonte: Relatório do Presidente de Província Adolpho Lamenha Lins, 1877. Adaptado pela autora.

(35)

35

1.3 O projeto agrícola dos sujeitos

Os limites desse projeto estavam postos pelos chefes da Província, quando abrem, portanto, as possibilidades para o estabelecimento de colônias oficiais, sob uma tutela provisória do ‘estado’. Em contrapartida a esses anseios por parte do Império, objetivou-se a partir de algumas cartas contidas no volume VIII da publicação dos ACBP no intuito de desvelar os anseios e projeções por parte dos indivíduos poloneses que se estabelecem durante a chamada febre migratória. Estas cartas são provenientes de diversas regiões do Brasil, somando um total de 60 missivas. A maioria delas provém do estado do Rio Grande do Sul, somando trinta documentos; outras doze sendo enviadas de Santa Catarina; do Paraná apenas nove; provenientes de São Paulo totalizam cinco, e do Rio de Janeiro apenas uma. Outras três aparecem publicadas, porém sem o local de emissão ou constando local ilegível no documento original.

Este tipo de documento muito utilizado pelos historiadores no que refere-se às práticas das escritas de si podem suscitar o debate da possibilidade de tratar-se de um documento forjado. Débora Bendocchi Alves44 em seu trabalho acerca das missivas de imigrantes alemães nas fazendas de café do Rio de Janeiro, no trato com essa tipologia de fontes, afirma o seguinte:

deveríamos levar em conta não é se as missivas eram ou não fontes fidedignas, mas sim que são documentos que, como os demais, devem ser tratados criticamente e que, em geral, acusam um alto grau de “veracidade subjetiva”, isto é, descrevem experiências individuais que estão ligadas à personalidade do escritor da carta, do seu grau de escolarização, do seu nível social e da vivência que teve no seu novo hábitat.45

Muitas vezes o que se observa com estas cartas é a falta de sincronia, como assinala João Baptista Borges Pereira46 entre o que estes indivíduos esperavam e imaginavam e o que realmente se apresenta com relação as condições materiais das colônias. Desse primeiro item destacado, o imaginário dos imigrantes era construído através de duas fontes principais: as cartas dos imigrantes que chegavam até as famílias e amigos; os manuais e guias oficiais.47

44 ALVES, Débora B. Cartas de imigrantes como fonte para o historiador: Rio de Janeiro – Turíngia (1852-1853)

Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 23, nº 45, pp. 155-184 – 2003.

45 Idem, p. 164.

46 PEREIRA, João B. B. Italianos no mundo rural paulista. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2002. 47 Ibid. p.65.

(36)

Uma das impressões que evidencia parte desse processo confuso onde se mesclam os anseios desses imigrantes poloneses Antonio Hempel, um dos viajantes poloneses destaca os desejos das mulheres e dos homens, de acordo com sua narrativa de viagem,

As mulheres desejam saber se lá existem padres poloneses, para se confessarem em sua língua materna. Interrogam sobre a existência de igrejas. Os homens, especialmente os mais velhos e com visão mais larga, preocupam-se com salários e desejam saber se as terras que receberão serão com matas (sic), se poderão semear centeio, bem assim querem saber sobree a qualidade do solo e outras coisas ligadas a agricultura.48

O próprio viajante destaca que a ideia sobre a nova terra é confusa e até mesmo ‘fantástica’. Percebe-se portanto uma preocupação, assinalada por ele pelos homens, das potencialidades agrícolas, do solo e de recursos oferecidos pelo governo. As preocupações com o trabalho são recorrentes entre os colonos de uma forma geral. De acordo com uma passagem sobre as expectativas de um colono italiano pode-se ter uma ideia desse choque entre o imaginário e o real para aquele indivíduo. Neste relato destacado por Pereira, o imigrante afirma que: ‘vim preparado para derrubar as florestas, mas até hoje não me acostumei com as ervas daninhas que, cortadas de dia crescem a noite, sem parar.’49

Esse limite entre a projeção e a realidade efetivada nas propriedades esta evidenciada também de acordo com o esforço e o trabalho a ser desempenhado. André, autor da carta 29 escreve da colônia Tomas Coelho em março de 1891. Recém chegado porém estabelecido numa colônia já existente há 15 anos. Em sua breve carta endereçada aos pais informa o quão bom se pode viver no brasil, e de igual forma como o governo ampara os emigrantes. André não indica estar ou pretender casar-se, logo entende-se que este sujeito veio sozinho, é possível que seja jovem que se desloca neste primeiro momento sozinho e posteriormente traz o restante dos familiares que ficaram na Polônia.50 André deixa claro em sua carta que, apesar de ter direito a terras na colônia, assim como as famílias que do mesmo modo recebem, prefere abrir mão da propriedade pois, “o que faria com ela sozinho, uma pessoa. Aqui dão propriedades relativamente grandes, segundo nossa medida trinta morgas e só com matas. Como eu procederia com isto?”51 Logo após, afirma

48 ACBP, v. VII p.27.

49 PEREIRA, 2002 Op.Cit. p.66.

50 TRUZZI, Osvaldo, Redes em processos migratórios, Tempo Social, USP, v. 20, n. 1, jun/2008. 51 ACBP, v. VIII p.38.

(37)

que, tudo o que cresce na Polônia aqui abunda, e pede que seus pais venham até ele, podendo assim trabalhar juntos em seu próprio pedaço de chão.

Detenho-me, portanto, especificamente no que se referem ás experiências no processo migratório, tanto nos seus desejos e projeções, quanto sobre o ambiente. Neste debate trago as nove cartas enviadas do Paraná, no intuito de destacar o projeto dos indivíduos já instalados no Paraná. Através das cartas enviadas de outros estados também podem ser efetuados alguns recortes que evidenciam o imaginário que permeava quase que em totalidade os sujeitos em processo de fixação, tenham sido enviados para outros estados além do Paraná. A condição de recém-chegados ao Brasil é muito semelhante, possuem um espaço de experiência de imigrantes em translado, ou seja, ainda não estão efetivamente instalados em suas propriedades e tampouco conhecem o ambiente em que estão sendo inseridos.

As cartas são referentes aos anos de 1890-1891, este período é o chamado “Febre da Imigração” onde houve um movimento intenso de entrada de imigrantes poloneses no Brasil. Chegam neste período aproximadamente 63.500 imigrantes, sendo estes distribuídos essencialmente entre os três estados do Sul, São Paulo, e uma porcentagem menos significativa distribuída por outras localidades.52 O trabalho de tradução dessas cartas para o português, com grande esforço realizadas pela equipe do Centenário da Comemoração da imigração especificamente por Francisco Dranka indicam uma informação relevante: a região específica da Polônia de onde vieram os imigrantes. Quase todos os indivíduos eram de aldeias localizadas no domínio Prussiano nas regiões de Rupin, Golub-Dobrzyń e Lipno.

Luiz, autor da carta 38 escreve da colônia de São Mateus do Sul, em 19 de janeiro de 1891, sua cara é endereçada a um padre em Bremenn para que a encaminhe a mãe, Maria. Esta carta não é encaminhada diretamente para a mãe. No último parágrafo o autor referindo-se ao padre, pede que esta carta seja entregue a sua mãe pois de algum modo sabe que as correspondências estavam sendo cooptadas na fronteira da Polônia. O pedido encarecido desta carta não foi suficiente para que ela tenha sido poupada.

Luiz, que aparentemente veio acompanhado da esposa indica que durante a longa e enjoativa viagem de navio nada de azedo foi servido, o que tornou a viagem ainda mais difícil. Os hábitos alimentares desses indivíduos começavam a entrar em conflito logo no navio. Indica já ter ganhado sua propriedade de terra, correspondente a quatro Wlokas53, este território coberto de matas seria,

52 GARDOLINSKI, Edmundo. Imigração e Colonização polonesa, 1957.

53 De acordo com as indicações das fontes a seguir, a equivalência entre as morgas e wlokas é: 50 morgas para 1

Referências

Documentos relacionados

Destaque para Freud que, no âmbito da psicanálise, o relaciona com a “capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.” Em 1918, Southard “foi o primeiro a descrever a relevância

Portanto, podemos afirmar que a Administração é um campo determinado de estudo cujo objeto central da análise é a organização de produção e a aplicação dos seus recursos

- Investigadora no projeto “Para uma História do Ensino da Química em Portugal nos séculos XIX e XX (até à Revolução de 1974)” desenvolvido pelo

P wave duration ≥ 125 ms, P wave dispersion ≥ 40 ms, as well as a P wave terminal force in V1 ≤ ‑0.04 mm/sec are good clinical predictors of the already known deleterious

As Torcidas Organizadas não são um fenômeno tipicamente brasileiro, existindo fenômenos muito parecidos ao redor do mundo, principalmente nos países mais

O custo variável é obtido pelo produto do Heat Rate (mede a eficiência da planta indicando quantas unidades de combustível são necessárias para produzir um MWh) com o preço spot

Em um ou noutro caso é vedada a desistência da arrematação e o valor será pago diretamente ao leiloeiro, na ocasião do leilão, que deverá recebê-lo e depositá-lo, dentro de