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Observatorio Social de América Latina Publicación electrónica. Informe de Coyuntura

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Academic year: 2021

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Informe de Coyuntura

A

M

Observatorio Social de América Latina Publicación electrónica

#ONSEJO

DE #ONSELHODE

Brasil

(2)

Documento de trabajo Nº 48

Realizada por

el Comité de Seguimiento

del Conflicto Social y la Coyuntura

Latinoamericana de A

Coordinación María Celia Cotarelo

© Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales

Se autoriza la reproducción de los artículos en cualquier medio a condición de la mención de la fuente y previa comunicación al director.

La responsabilidad por las opiniones expresadas en los artículos, estudios y otras colaboraciones incumbe exclusivamente a los autores firmantes, y su publicación no necesariamente refleja los puntos de vista de la Secretaría Ejecutiva de CLACSO.

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Brasil

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El Observatorio Social de América Latina (OSAL) constituye una iniciativa del Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) destinado a la promoción de estudios e investigaciones sobre los procesos de movilización y conflicto social, las dinámicas de participación y los repertorios de acción de movimientos sociales y organizaciones populares en los países latinoamericanos y del Caribe. El OSAL promueve el debate académico entre los investigadores e investigadoras sociales de la región. Además, estimula el diálogo entre las instituciones de investigación, las universidades y los movimientos sociales, sindicatos y organizaciones populares que actúan en la defensa de los derechos humanos y sociales.

La realización de informes de coyuntura bimensuales del conflicto social en 19 países de América Latina y el Caribe constituye una de las principales iniciativas desarrolladas por el OSAL. El documento aquí presentado constituye uno de los resultados de este trabajo de análisis llevado a cabo en el marco del programa. Se trata de un documento de trabajo en el que se analizan las principales acciones de movilización y protesta social llevadas a cabo durante el período indicado en uno de los 19 países relevados. El Informe de Coyuntura presentado ha sido elaborado por alguno de los diversos Comités de Seguimiento del Conflicto Social que conforman el OSAL, cada uno de los cuales, bajo la coordinación de un equipo de investigación que forma parte de la red institucional de CLACSO, lleva a cabo el trabajo de registro y análisis en uno o más países de la región.

Comités de Seguimiento del Conflicto y la Coyuntura Latinoamericana PAIS INSTITUCION RESPONSABLES Guatemala FLACSO Simona YagenovaMario Castañeda Colombia Escuela Nacional Sindical Guillermo CorreaDiana Cárdenas Diana Cárdenas Centro de Documentación de Estudios Quintín Riquelme Ecuador CIUDAD Mario UndaHugo González Bolivia CIDES – UMSA Dunia Mokrani ChávezPilar Uriona Crespo Chile ARCIS Juan Carlos Gómez Leyton Perú Instituto de Estudios Peruanos Ramón Pajuelo Brasil LPP Roberto Leher Argentina y Uruguay PIMSA (Argentina) María Celia CotareloNicolás Iñigo Carrera México UNAM Massimo ModonesiLucio Oliver Panamá, El Salvador,

Honduras y Nicaragua CELA (Panamá) Marco A. Gandásegui, h. República Dominicana

y Puerto Rico Centro Juan Montalvo(Rep. Dominicana) Mario SerranoJuan Luis Corporán Venezuela PROVEA Marino AlvaradoMarco Antonio Ponce Costa Rica IIS Carlos Sandoval

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Brasil

Informe de Coyuntura

Mayo-Junio de 2008

Abuso de poder, práticas de tortura, trabalho escravo... E todas as

faces do desrespeito aos Direitos Humanos

Anderson Andrade- Outro Brasil/LPP Vera de Oliveira- LPP/ UERJ

Introdução

A partir dos fatos relatados nos documentos da “Cronologia do Conflito Social”, produzidos pelo Observatório Social da América Latina, referentes aos meses de maio e junho de 2008, são analisados no presente artigo alguns aspectos das principais ações, promovidas pelos movimentos sociais e sindicais brasileiros, ocorridas no referido período. A despeito da continuidade das articulações, como a Jornada Nacional de Lutas Contra o Agronegócio e as Transnacionais, promovidas por trabalhadores rurais organizados que se intensificaram durante os dois últimos meses, sendo cerca de 26 ações apenas em junho, as lutas não têm garantido avanços na conquista das reivindicações, notadamente na reforma agrária que, conforme o próprio MST afirma em seu site, está parada1.

Na atual conjuntura mereceram destaque a continuidade − apesar de todas as dificuldades impostas − da mobilização da classe trabalhadora em prol da redução da jornada trabalho, na campanha por mais empregos e melhor qualidade de vida para todos. Outro ponto a se destacar refere-se à polêmica luta dos povos indígenas em defesa de suas terras e pela preservação de suas identidades, línguas e culturas, nos conflitos ocorridos na reserva de Raposa Serra do Sol, assim como a revolta em virtude da impunidade que impera nos casos de crimes cometidos contra ativistas, como no caso do assassinato da missionária Dorothy Stang.

Neste artigo também são evidenciadas as situações precárias vivenciadas pelos trabalhadores resgatados de fazendas onde trabalhavam em condições análogas a de escravos e o desrespeito aos direitos trabalhistas daqueles que são obrigados, por suas condições miseráveis de vida, a trabalharem por contrato temporário nas lavouras de cana-de-açúcar. Finalizando o documento, e passado um ano da chacina do Complexo do Alemão ocorrida em junho de 2007, vê-se repetir a lógica do extermínio da população pobre, em especial a jovem e negra, num total desrespeito aos direitos humanos no recente caso da trágica ação do Exército contra moradores do Morro da Providência. Movimentos em defesa dos direitos humanos denunciaram o governo federal pelo fato de que este autorizou o uso das forças armadas em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), algo inconstitucional, e os moradores (em especial, mulheres) do morro da providencia protestaram diante do prédio do comando do Exército, o que exigiu que o Ministro da Defesa fosse à Comunidade para “lamentar o ocorrido”. O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH),

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL Gilson Cardoso, constatou que deve ser repensado o papel das Forças Armadas, como instituição, no regime democrático. Além dos inomináveis assassinatos e torturas, o fato se agrava pela confirmação de que não apenas as polícias, mas também o aparato de segurança das forças armadas estão envolvidas na criminalização da pobreza. Contudo, não aconteceram mobilizações massivas.

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1 MST. Nova onda de criminalização do MST. Publicado no site: http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=5342, em 06/05/2008

Redução da jornada x Reformas Sindical e Trabalhista

Criticadas pelas entidades e movimentos que se opõem à política econômica do governo federal, como a Conlutas, a Intersindical, movimentos populares diversos, MST e por sindicatos de suas próprias bases, a CUT e a Força Sindical saíram do silencio para defender um projeto que reduz a duração da jornada de trabalho. Desde o lançamento da campanha nacional “Reduzir a jornada é gerar empregos”, em janeiro deste ano, foram realizados diversos atos públicos, promovidos pelas principais entidades de organização sindical – entre as quais se destacaram a Força Sindical (FS) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) –, com o objetivo de divulgar à sociedade os impactos positivos que poderão ser alcançados caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 393/01, de autoria dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Paulo Paim (PT-RS), seja aprovada no Congresso Nacional.

A PEC 393/01, apresentada inicialmente em 2001, propõe a redução de 44 para 40 horas da jornada de trabalho semanal, no primeiro ano, e para 35 horas, após dois anos da primeira redução. A proposta também prevê um aumento na remuneração do serviço extraordinário (popularmente conhecido como hora extra), que atualmente representa um adicional de 50% sobre o valor da hora normal trabalhada, e que passaria a ser de pelo menos 100%, no caso do trabalho ser realizado nos domingos e feriados, o adicional será de 200%. Cabe destacar que a referida proposta já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Ao longo da campanha, realizada em todas as regiões do país, foram realizadas grandes coletas de assinaturas que resultaram na elaboração de um abaixo-assinado contendo cerca de 1,5 milhões de assinaturas em apoio à PEC 393/01. Os documentos foram entregues no dia 03 de junho, em sessão especial da Câmara dos Deputados, realizada em Brasília – Distrito Federal (região Centro-oeste). O ato de entrega contou com a presença de trabalhadores, empresários, deputados e representantes de institutos de pesquisa, tendo recebido o apoio de dezenas de parlamentares de diversos partidos. No que diz respeito ao tema em foco, os embates giram entre os prejuízos alegados por parte do empresariado, de que a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais reduzirá a competitividade da indústria brasileira e os benefícios que podem ser obtidos pelos trabalhadores. O argumento da classe empresarial é que o custo da mão-de-obra se elevaria a tal ponto, que prejudicaria a capacidade de exportação do país, tendo em vista que os aumentos de custos seriam automaticamente repassados para os preços dos produtos destinados ao consumo interno e externo, o mesmo ocorrendo nos setores de comércio e serviços. No entanto, tal alegação é contestada com base em dados fornecidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que integram a tese de

doutorado “Redução da Jornada de Trabalho: uma análise econômica para o Brasil”2.

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL Tais dados apontam que o aumento do custo da mão-de-obra será de cerca de 1,99%, valor semelhante aos aumentos de produtividade que a indústria vem registrando, por semestre, ao longo desta década. O que significa dizer que esse custo será plenamente absorvido em apenas 6 meses, não representando risco para a competitividade da economia.

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2 CALVETE, Cássio da Silva. “Redução da Jornada de Trabalho: uma análise econômica para o Brasil”. Tese (Doutorado em Economia). Instituto de Economia da Unicamp, Campinas, SP. 2006.

Adicionalmente, muitos aspectos positivos podem ser apresentados a favor da redução da jornada. Em primeiro lugar, segundo estudos realizados pelo Departamento

Intersindical de Estudos Socioeconômicos (DIEESE)3, caso o limite de horas semanais

previsto na Constituição fosse de 40 horas e o valor do adicional pago pela hora extra fosse dobrado, poderiam ser criados cerca de 2,2 milhões de postos de trabalho com carteira assinada, reduzindo as altas taxas de desemprego vigentes, ao mesmo tempo em que possibilitaria uma melhor distribuição da renda no país.

Contudo, é necessário apontamos os limites desta campanha dirigida pela Força Sindical e CUT. Esta não discute a proposta de reforma sindical e trabalhista que visa flexibilizar direitos conquistados com muita luta e mobilização pelo conjunto de trabalhadores, tampouco as modificações propostas pela reforma sindical sobre as negociações com a patronal, que faria com que os sindicatos e as assembléias de base perdessem sua autonomia de negociação. Esta Campanha acaba por restringir-se apenas a uma negociação pontual que não fere, como apontado acima, os interesses das grandes empresas, secundarizando o debate sobre as reformas trabalhista e sindical.

Ainda sobre esta questão, a diminuição da jornada de trabalho sendo aprovada como lei não poderá ser garantida caso seja aprovada a proposta de reforma trabalhista. Esta por flexibilizar direitos, delega à patronal e aos trabalhadores, o “poder” de negociação dos seus direitos, estes flexibilizados e não mais garantidos por lei.

Justamente por isso, no dia 1º de Maio, ao mesmo tempo em que a CUT e a Força Sindical organizam “Atos Shows” em todo território Nacional, tendo como eixo esta Campanha de redução da jornada de Trabalho, a Intersindical e Conlutas, organizaram atos políticos, também em todo território, contra as reformas: sindical e trabalhista, como forma de denunciar a implementação de tais medidas neoliberais e o silenciamento das maiores centrais sindicais a respeito destas políticas.

O desrespeito aos povos originários: a resistência indígena e a luta por seus direitos

Com uma extensão de 1,743 milhão de hectares, situada no estado de Roraima (região Norte), na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, a terra indígena Raposa Serra do Sol foi homologada por Decreto Presidencial, em 15 em abril de 2005. Antes da homologação, o antropólogo Paulo Santilli da Fundação do Índio (Funai), em 1992, foi responsável pela produção do laudo técnico que levou a identificação e à posterior demarcação da área em 1998. Nela vivem 18.000 indígenas das etnias Makuxi, Wapichana, Ingaricó, Taurepang e Patamona numa área que representa 7,7 % de todo o estado. Neste sentido, o processo de homologação da Reserva Indígena Raposa Serra do 3

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL Sol já passou por todas as etapas, culminando no decreto presidencial, que transformam a área contínua em “próprio nacional”, ou em outras palavras, terra da União, restando apenas que os não-indígenas sejam devidamente retirados.

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3 DIEESE. Argumentos para a discussão da redução da jornada de trabalho no Brasil sem redução do salário. Nota técnica nº 66. Abril de 2008. Disponível em: http://www.dieese.org.br/notatecnica/notatec66argumentosReducaoJornada.pdf

Ao longo do mês de maio surgiram várias reportagens criminalizando os indígenas, tanto de Raposa Serra do Sol, como os de Altamira, no Pará (região Norte), onde no dia 20, índios caiapós se revoltaram contra um engenheiro da Eletrobrás que falava sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em suas terras. Grandes grupos midiáticos e hegemônicos disseminam a falsa informação de que a reserva Indígena Raposa Serra do Sol oferece risco a soberania nacional, deveriam informar que lá trabalham mais de 400 Agentes Indígenas de Saúde e 100 indígenas técnicos em microscópio conveniados com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) atuando em 62 laboratórios e 187 postos de saúde, valorizando a medicina tradicional indígena. Há ainda 250 professores indígenas em mais de 100 escolas de ensino fundamental e três de ensino médio, entre elas, a Escola Agropecuária de Sururu, que profissionaliza técnicos

de nível médio e onde é manejado um rebanho de 27 mil cabeças de gado.4

Mesmo com todos esses dados, o Supremo Tribunal Federal (STF) não garantiu os direitos dos indígenas sobre a terra. Contrariando o decreto presidencial que obrigava a retirada dos pequenos proprietários rurais, comerciantes e os produtores de arroz, o STF concedeu medida liminar na Ação Cautelar oferecida pelo Governo de Roraima, suspendendo todos os atos de desocupação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Com o impasse da retirada dos fazendeiros, os indígenas permaneciam na terra quando dez índios foram covardemente feridos por disparos de arma de fogo durante a construção de suas casas na reserva. Estes disparos teriam sido feitos por jagunços que invadiram a terra com motos e caminhonetes durante a madrugada a mando dos arrozeiros, sendo o principal suspeito o líder dos rizicultores, o senhor Paulo César Quartiero, prefeito de Paracaima (município que fica dentro da reserva). O político foi preso em flagrante por posse de arma de fogo alguns dias após o atentado contra os indígenas, ele foi autuado sob as acusações de homicídio, formação de quadrilha e posse de artefatos explosivos.

Antes mesmo desta tentativa de chacina no norte do país, os arrozeiros e políticos de Roraima já haviam feito várias ações violentas como quebrar pontes, queimar casas e uso até de bombas caseiras na tentativa de intimidar os indígenas, segundo comunicou em carta aberta o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Após o atentado, os indígenas anteparados por estacas de madeira e arame, bloquearam a RR-319, estrada conhecida como Transarrozeira e que dá acesso à reserva. Os indígenas queriam impedir que os produtores de arroz levassem para as fazendas fertilizantes e sementes, objetivando com isso proteger a terra. A mobilização foi feita para garantir a demarcação da terra indígena. Quatorze mil hectares de terras da União são ocupados por seis rizicultores e o principal deles, o prefeito do município de Paracaima, responsável pela fazenda Depósito, foi autuado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) por ter aterrado duas lagoas e nascentes, além de margens de rios, e por ter desmatado áreas destinadas à 4

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL

preservação permanente e à reserva natural legal5. Também foram suspensas as

atividades de plantação de arroz, criação de gado e porco. O IBAMA também estabeleceu a obrigação de reparação de dano à área de preservação permanente e reserva legal.

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4BETTO, Frei. Raposa Serra do Sol: questão de justiça. Artigo publicado no site: http://alainet.org/active/23986 em 09/05/2008. 5 SILVA, Marina. Raposa/Serra do Sol, um lugar de direito. Artigo publicado no site: http://terramagazine.terra.com.br em 17/06/08.

Atos como esses continuam ocorrendo com a certeza da impunidade. No mês de maio, pelo menos 40 conflitos envolvendo a causa indígena ocorreram em todo o Brasil, cujo motivo principal é a expansão da fronteira agrícola. A grande desfaçatez dos grandes grupos econômicos, órgãos do governo (como o próprio governo do estado de Roraima e o Supremo Tribunal Federal), políticos, militares (a exemplo do general Augusto Heleno, que criticou a proposta de transformação da faixa da fronteira norte do país em terras indígenas e afirmou que a política indigenista do governo é um caos, fato este que repercutiu em toda a mídia) e fazendeiros continua. Surge e tenta-se sustentar o discurso de que os indígenas estão ameaçando a soberania nacional, são violentos e requerem algo que não lhes é de direito.

As senzalas do século XXI

Enquanto as duas principais centrais sindicais converteram o 1 de Maio em um evento festivo, com artistas de grande apelo popular e sorteio de automóveis, outros trabalhadores menos afortunados comemoram ao longo dos dois últimos meses, de forma bem mais simples, em longínquos e pequenos municípios do interior do país, suas liberdades com o fim de um pesadelo chamado escravidão. Diariamente, e em pleno terceiro milênio, homens, mulheres e crianças ainda continuam sendo submetidos à máxima exploração de suas forças de trabalho no Brasil, com jornadas de trabalho extremamente exaustivas em praticamente todas as regiões do país, reproduzindo no campo as condições alienantes de produção. Um traço caracteristico desse processo de hiper exploração é que não se tratam de setores econômicos arcaicos que praticam essas modalidades de controle do trabalho. Atualmente, muito da competitividade brasileira no agronegócio, em especial nas áreas do agrocombustível, soja e abertura de novas áreas de pastagem para a criação de gado, é realizada com mão de obra hiperexplorada, incluindo as novas modalidades de escravidao.

Aproveitando-se das condições miseráveis de uma parcela da população - que em sua maioria desconhece seus direitos trabalhistas -, e da certeza da impunidade que se verifica na maioria dos crimes cometidos contra os direitos humanos, empregadores seguem explorando em todo o seu limite a mão-de-obra de trabalhadores, inclusive da população indígena, que na busca pela sobrevivência, aceitam trabalhar em condições indignas para qualquer ser humano.

O número de resgatados de propriedades que mantém trabalhadores em situação análoga a de escravos ou semi-escravos não parou de crescer nos últimos meses. Em 2007, foram mais de 5000 trabalhadores e até o início de junho de 2008, já se contabilizavam 1019 pessoas. Adicionalmente, impressionam as ações praticadas por fazendeiros inescrupulosos que, na busca do lucro fácil em sua jornada pela acumulação de riquezas, submetem seus empregados a situações desumanas, obrigando-os a

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL viverem em condições extremamente precárias e insalubres e a trabalharem até a exaustão suprema, passando dos limites que o corpo humano suporta.

Carga horária de até 18 horas diárias, inexistência de equipamentos de proteção, salários atrasados (ou frequentemente ausência de pagamentos), falta de água potável, inexistência de saneamento básico, falta explícita de liberdade, existência de uma dívida crescente e impagável, condições degradantes de alojamento (como ausência de colchões ou lençóis), além, obviamente, da falta da carteira de trabalhos assinada. Todos os itens anteriormente citados constituem exemplos das situações verificadas pelo grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no momento do resgate dos trabalhadores. Nestes acampamentos improvisados, homens, mulheres e crianças vivem sob constante ameaça de violência que é praticada por guardas armados, orientados inclusive a tirar-lhes a vida em caso de fuga.

Por acreditarem que precisam pagar uma dívida ao fazendeiro que arcou com o deslocamento de sua cidade de origem até o local de trabalho, providenciou moradia (ainda que se trate de um alojamento em condições totalmente precárias, sem qualquer sanitário) e alimentação (muitas vezes insuficiente ou até mesmo estragada), os trabalhadores são escravizados de uma forma “moderna”, presos pela servidão da crescente dívida e pelo medo real de não sobreviverem em outro local, em virtude de não disporem de qualquer outra fonte de renda capaz de garantir seus sustentos e de suas famílias.

O modelo de escravidão atual é tão ou mais cruel quanto o praticado nos séculos passados. Nos períodos anteriores, ao menos, os escravos tinham plena consciência de sua situação. Atualmente, a hipocrisia é o que vigora nas relações entre os patrões (senhores opressores) e os empregados (escravos oprimidos), que fazem com que o trabalhador nem perceba ou entenda que está sendo tratado de forma semelhante à um escravo. O que se verifica contemporaneamente é o aprofundamento da humilhação do ser humano, com o homem sendo a cada dia mais subjugado, transformado em mera mercadoria, propriedade de seu senhor.

Merecem destaque as situações verificadas nos estados de Alagoas (região Nordeste), Mato Grosso do Sul (região Centro-oeste) e no rico interior de São Paulo (região Sudeste). O cultivo da cana de açúcar no Brasil cresce cada vez mais e deve atingir este ano a safra recorde de 500 milhões de toneladas. Nas lavouras canavieiras do território

alagoano, cerca de 60 mil bóias-frias6 se submetem as condições de trabalho desumano,

tentando sobreviver com o corte da cana. Milhares de homens e mulheres se amontoam em barracões de lona, muitos dormem em redes ou diretamente no chão batido. A alimentação disponível é a “bóia-fria”, que consiste numa pequena refeição (frequentemente a única do dia), acondicionada em recipientes sem isolamento térmico. A comida normalmente é de má qualidade para o tipo de trabalho realizado e totalmente insuficiente se comparada ao esforço diário realizado. Além disso, estes lavradores são obrigados a se locomoverem em caminhões e ônibus em péssimo estado de conservação, que trafegam acima de sua capacidade de transporte, misturando homens, facões e foices em sua carga - um risco extremamente elevado para a segurança dos trabalhadores no caso de uma freada brusca repentina.

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL Um outro ponto a ser destacado refere-se às mortes causadas por cansaço dos trabalhadores, principalmente em plantações de cana e destilarias de álcool. As péssimas condições de trabalho do setor açucareiro do Brasil já causaram duas mortes este ano no estado de São Paulo em virtude do excesso de trabalho.

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6 Nome dado no Brasil aos trabalhadores que atuam nas colheitas de cana-de-açúcar.

Tragédias inadmissíveis, que ocorrem devido ao modelo adotado, já que os cortadores - em sua maioria oriundos do Nordeste em busca de um futuro melhor -, tem contratos temporários e ganham somente por produção. Frequentemente um único trabalhador é

obrigado a cortar até 12 toneladas de cana por dia, com dez mil golpes de facão7,

debaixo de um sol escaldante, para receber, em média, míseros R$ 0,11 por metro de cana cortada. Além disso, é prática comum que os trabalhadores executem suas tarefas sem utilizarem os equipamentos adequados de proteção, tais como: luvas, óculos de proteção e botas, por exemplo.

As recentes libertações ocorridas representam algum avanço, mas ao mesmo tempo indicam que há necessidade de intensificação do trabalho realizado pelos fiscais do MTE, assim como a concretização das punições cabíveis – que atualmente incluem o pagamento de uma multa a ser paga pelos proprietários das fazendas, que varia entre R$ 60 e R$ 100 mil, incluindo dívidas trabalhistas e danos morais coletivos – para os que desrespeitam as leis do trabalho, no intuito de pôr um fim definitivo neste anacronismo que insiste em se perpetuar, visando a abolição completa da escravidão no Brasil.

Crime e criminalizados: o reflexo de uma sociedade que naturaliza a hiperexploração e a expropriação

Em junho completa-se um ano da chacina no Morro do Alemão, na Cidade do Rio de Janeiro (região Sudeste) onde 19 pessoas foram mortas e, neste mesmo mês, agora em 2008, três jovens foram brutalmente mortos depois de serem considerados mercadorias, carnes humanas vendidas para o abate. Onze militares do Exército que estavam patrulhando o Morro da Providência, sob a alegação oficial de “atender às missões constitucionais da Força” deliberaram sobre a vida desses três rapazes, Marcos Paulo Rodrigues, de 17 anos de idade, Wellington da Costa, de 19 anos, e David da Silva, de 24 anos. Após o veredicto, os militares resolveram vender os três jovens aos traficantes de drogas de uma facção rival, que fica no Morro da Mineira, também no centro da cidade do Rio de Janeiro.

O Exército informou que a participação militar se limitava à construção e fiscalização técnica das obras de engenharia sob a responsabilidade da Comissão Regional de Obras da 1ª Região Militar, e a segurança dos locais de trabalho e dos trabalhadores envolvidos no projeto. Entretanto, crimes como este, mostram como o mito da marginalidade ainda persiste, e a população pobre da favela continua sendo agressivamente segregada e criminalizada. Os três rapazes carregavam as marcas do estereótipo, eram jovens, negros, pobres e favelados (estatisticamente o grupo social que mais sofre homicídios por armas de fogo no Brasil). Os jovens entregues aos traficantes 7

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL foram torturados e alvejados com no mínimo 46 tiros e encontrados num lixão no município de Duque de Caxias - região metropolitana do Rio de janeiro.

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7 MST. Canaviais já fazem duas vítimas este ano no estado de São Paulo. Publicado no site:

http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=3471 em 03/05/2007

Posteriormente, os moradores do Morro da Providência fizeram manifestação em frente o Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste (CML), protestando contra o envolvimento dos militares na morte dos rapazes e o que vimos foi mais repressão, bombas de gás e golpes de cassetetes. A presença do Exército no Morro da Providência foi considerada inconstitucional e sua retirada da favela foi determinada alguns dias após este bárbaro episódio.

Jornada de lutas: trabalhadores rurais em ação contra a estagnação da reforma agrária e o avanço da degradação ambiental

O mês de Junho foi quase que diariamente marcado por ações protagonizadas por movimentos sociais do campo. A “Jornada de Lutas Contra o Agronegócio e as Transnacionais”, que teve âmbito nacional, mobilizou milhares de trabalhadores do campo e da cidade. No estado do Rio Grande do Sul (região Sul), os manifestantes se uniram para protestar, entre outros itens, contra o monopólio e a especulação das empresas no mercado de sementes e alimentos, contudo foram violentamente reprimidos pelas ações da Brigada Militar.

Ainda no mesmo estado, a Via Campesina (formada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Movimento dos Atingidos por Barragens, Comissão Pastoral da Terra e pela Pastoral da Juventude Rural) ocupou duas áreas da empresa Votorantim para denunciar o avanço da monocultura do eucalipto e da acácia na região sul do estado. Estas monoculturas que se instalaram na região têm provocado desequilíbrio ambiental, com o ressecamento de córregos, prejudicando pequenos agricultores e assentados.

Em função da Jornada, a Via Campesina denuncia também, através de suas ocupações e manifestações, a opção do governo pelo modelo agroexportador, que beneficia as grandes empresas e o capital financeiro, em detrimento do avanço da degradação ambiental e do agravamento da desigualdade e da pobreza, especialmente no campo. Além de protestarem contra a expansão da monocultura da cana-de-açúcar no Brasil, que tem aprofundado a concentração fundiária, retardando ainda mais o processo de reforma agrária, um ato da Jornada que reuniu cerca de mil trabalhadores denunciou o projeto de instalação de cinco termoelétricas, uma refinaria e uma siderúrgica do complexo Portuário do Pecém, em São Gonçalo do Amarante - Ceará (região Nordeste). As instalações irão causar imensos danos ambientais à bacia hidrográfica da região para favorecer especialmente as grandes empresas estrangeiras, beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica neoliberal.

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Brasil – Informe de Coyuntura Mayo/junio de 2008 – OSAL

Considerações finais

O desrespeito aos trabalhadores, aos menos favorecidos, às minorias sociais, aos povos originários e aos movimentos sociais expõe apenas um dos muitos problemas que deveriam estar na pauta de discussões do país. Pessoas são mortas no campo e na cidade todos os dias, sejam pelo narcotráfico, por conflitos com o agronegócio ou até pelo próprio aparato repressor do Estado.

Os interesses dos despossuídos e das populações marginalizadas, sobretudos os movimentos sociais – que vem violentamente sofrendo processo de criminalização -, estão subjugados aos do Estado, que por sua vez é uma esfera indissociável dos interesses do capital. Não à toa, o agronegócio, representado por grandes corporações agropecuárias, já ocupa mais de 70% das terras agricultáveis no Brasil.

No país, existem várias reservas indígenas já homologadas, mas que ainda sofrem interferência do agronegócio, da extração ilegal, do tráfico de drogas, da grilagem. Isso ocorre por total negligência e, muitas vezes até com a conivência de órgãos governamentais. É inaceitável que os povos indígenas continuem sendo desrespeitados e tratados com tamanho descaso, e ao tentarem exercer seus direitos serem tratados como criminosos.

A certeza da impunidade fortalece a discriminação, a criminalização e a exploração através da opressão. O trabalhador brasileiro continua lutando por conquistas como a redução da jornada de trabalho, o que geraria, entre outros aspectos, mais postos de trabalho e renda para um número maior de famílias. No entanto, em pleno século XXI, ainda encontramos pessoas submetidas ao trabalho escravo. Passados séculos após a implementação da cana-de-açúcar no país, a produção deste alimento – hoje a serviço dos grandes usineiros – remonta o cenário de superexploração da mão-de-obra, onde pessoas são vistas como máquinas que operam até 18 horas por dia colhendo até 12 toneladas para produzir combustível em larga escala e isso, em plena crise e escassez de alimentos.

Finalizando, observa-se que, independente de suas particularidades, sejam eles desempregados, empregados (formais ou informais) do campo e da cidade ou indígenas, a classe trabalhadora - ainda que de forma fragmentada - resiste na luta pela manutenção de seus direitos e por novas conquistas, como por exemplo a redução da jornada de trabalho e a demarcação efetiva das terras indígenas. A população menos favorecida, mesmo no limite de sua sobrevivência, mostra que a resistência é fundamental para a garantia dos mínimos direitos em nossa sociedade, destacando a necessidade da união dos movimentos sociais, muito embora exista no Brasil uma forte corrente política que tende a criminalizar esses movimentos.

Referências

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