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KATE SPICER WOLFY. Tradução de Carla Ribeiro

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Academic year: 2021

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KATE SPICER

WOLFY

Tradução de Carla Ribeiro

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Este livro é uma obra de não-ficção baseada nas experiências e memórias da autora. Nalguns casos, nomes e pormenores foram alterados para proteger a privacidade de outros.

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A todos os que sabem o que é amar e ser amado por um cão.

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Antes

O relógio ladra doze vezes, e o dia em que eu decido arranjar um cão começa. Olho para o relógio do meu fornecedor. Os números foram substituídos por figuras de programas de televisão familia-res. Cabe à Lassie anunciar a meia-noite.

O que raio está aquilo a fazer aqui?

O coração da casa do Tim não é a lareira nem a cozinha ou sequer a televisão; é uma grande mesa de café em mármore e vidro, que deve ter sido uma coisa bastante elegante nos anos oitenta quando ele era um jovem citadino. Agora, a cidade vem até ele, debruça-se sobre a sua monstruosidade de época e, de notas enroladas entre os dedos, snifa cocaína diretamente para o sistema respiratório, onde, depois de absorvida através das suas membranas mucosas, passa para o sangue, espalhando-se então pelo corpo e chegando ao cérebro. E… bum, dá-se uma grande descarga de dopamina. A deliciosa do-pamina é a droga da felicidade produzida pelo nosso próprio corpo. Se conseguirmos ter dopamina suficiente, a nossa vida parecerá es-plêndida, mesmo quando nos sentimos tristes.

Neste estado, o tempo voou. A cada hora, um eco da minha ino-cência marca mais tempo passado. Mais da minha vida desperdiçada. Parece que ainda agora a Lassie ladrou o seu aviso de que devíamos estar todos na cama, quando o Bagpuss começa com o seu bocejo soporífero. É uma da manhã. Hora de dormir para as crianças. Não para os visitantes do Tim, contudo. Esses sentiam-se conversadores, perversos, excitados, animados; gritavam, confessavam os seus mais verdadeiros e negros pensamentos, discutiam e apontavam dedos uns

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aos outros, um deles mexeu rigidamente as ancas numa nada sen-sual dança sexy, criavam laços para a vida e rapidamente se tornavam amigos – até o efeito da droga passar, claro, e toda essa animação ser substituída pela necessidade urgente, suja e desesperada de mais cocaína. Então, ninguém é nosso amigo, a não ser o Tim. O bom, velho Timbo.

O Tim não era traficante, não propriamente; de início, era muito generoso com o seu Tupperware cheio de um pó branco como a neve, finamente moído. Não era um qualquer pó de bar de trinta libras. Um grama do delicioso material do Tim custava cento e trinta libras. Daí que atraía um tipo mais simpático de amigo, se é que isso existe. Eventualmente, porém, limitava-se a dizer não, e então começávamos a pagar-lhe.

Sentados debaixo do relógio, agora com o ponteiro das horas no

Mr. T, estão dois banqueiros delinquentes. Um é  considerado um

génio na sua especialidade, o outro é um talento financeiro mais vul-gar, mas bem mais bonito, se gostarem do tipo de homem de fato ele-gante e cabelo penteado para trás. Estão aos berros um com o outro sobre a LIBOR e complexas transações financeiras. Chamemos-lhes os Libores.

Está cá outra mulher, uma jovem de fogosas pernas vestida com um par de calções de cabedal ao estilo nova-iorquino e uma graciosa camisola sem mangas, que mostra as laterais dos seus seios bonitos e arrebitados. É a namorada do banqueiro inteligente – não que ele lhe tenha prestado qualquer atenção a  noite toda. Chamemos-lhe Chica. Tim divide a sua atenção entre as mulheres e os banqueiros. Está fascinado pela conversa da Chica sobre as suas ambições como

influencer. O que é bom, porque ela não deixa que mais ninguém

se meta na conversa. Por agora, parece que estamos todos a dar-nos lindamente, embora eu seja suficientemente experiente para saber que são as drogas a falarem e a ouvirem; tenho idade suficiente para ser mãe dela, e, não se deixem enganar pelo cabelo preto, o Tim tem idade para ser seu avô. De manhã, não teremos nada em comum.

Sento-me com a  cabeça inclinada para mostrar que sou toda ouvidos, embora não seja, de maneira nenhuma. Estou só a des-frutar do escapismo anestésico de um desconforto inespecífico de

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que, durante toda a  minha vida adulta, nunca consegui escapar por completo a não ser quando estou pedrada, o que na verdade foi variando ao longo dos anos: drogas, desporto, álcool, amor, traba-lho, todos se têm revelado ótimos agentes entorpecedores. Embora acabe sempre por vir cá parar de novo.

O cinzeiro enche-se até transbordar e, uma vez por hora, uma nova figurinha da infância surge breve e melancólica. O apartamento está todo às escuras, exceto a mesa de café, iluminada por um can-deeiro e pela nossa sôfrega atenção.

Por volta das quatro, o meu ânimo começa seriamente a desfale-cer e eu mergulho num silêncio de ombros descaídos. A pouca con-versa que consegui estabelecer por entre o monólogo egocêntrico da Chica começa a abrandar. Estou a ficar sem gasolina.

Preciso de mais. Droga.

Ouve-se uma espécie de rangido sussurrante de pele de animal morto contra a deliciosa pele da Chica, à medida que as pernas dela se movem no velho sofá de couro branco de playboy internacional do Tim. Parecem tipos a fazerem das suas em carros antigos. Este apartamento é realmente a terra que o tempo esqueceu. Principal-mente de dia. Não me lembro de alguma vez ter visto as cortinas abertas. Olho para cima. O maldito relógio realmente não pertence aqui. Devia estar numa sala de jogos ou numa alegre cozinha fami-liar, banhada pelo sol e coberta de migalhas de bolacha.

Phil Collins canta na mega-aparelhagem do Tim com grandes botões. Ele tem as drogas, e, onde há drogas, normalmente há al-guém que não se importa de fazer sexo, mas o Tim sempre teve di-ficuldades com a parte do rock ‘n’ roll. Está sentado, atento à Chica, que fala agora em monetizar a sua conta de Instagram e em patroci-nadores e em marcas que lhe pagarão por conteúdos.

– Tenho a certeza de que conseguias atrair também um público masculino…

O meu cinismo está a regressar lentamente. Em tempos, achara triste e ofensivo para os meus princípios feministas a visão destas mulheres mais jovens a serem lentamente corrompidas pelos Tims deste mundo, homens mais velhos e com drogas caras. Agora, en-colhia os ombros. A ruína vulgar de gente afortunada já não me

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comovia. Huysmans, o escritor francês, disse que o “coração en-durece e fica seco com a devassidão”, e isso é um melhor resumo do que eu alguma vez poderia fazer. Boas meninas mudam-se para Londres, boas meninas são corrompidas – e de forma bastante vo-luntária, do que me podia lembrar da minha rápida queda. Sei que é suposto ser uma tragédia da desigualdade de género, mas para mim é um cliché.

A Chica, despachando as linhas como uma profissional e contando--nos os seus planos para uma vida brilhante, ainda não percebe tudo isto. Ergue dramaticamente o telemóvel acima de nós.

– Selfie!

Não, não, não. Nem pensar. Consigo ver as órbitas encovadas. Os olhos desfocados, a pele sem vida das cinco da manhã, as raízes gri-salhas e a linha de penugem no queixo. Ponho as mãos à frente da cara. – Vá lá! Não acredito que és da mesma idade da minha mãe – diz ela, entusiasmada.

– Não! – digo-o como o diria a um cão prestes a roubar-me um bife.

Continua a parecer impecável. A textura sedosa da pele, o corpo solto e esguio, o cabelo ainda um glorioso reflexo da sua natural esperança dourada. Os seus belos olhos, com um mero indício de sombra azul, por baixo, fitam-me intensamente, e  com um leve sinal de mágoa, do seu luminoso rosto orvalhado.

– Oh, não! Porquê?

– Porque, mesmo que, por algum milagre, eu esteja com bom as-peto, não gosto nada de selfies. São narcisistas, carentes e embaraçosas. – Mas eu tenho um filtro espantoso – diz ela, mexendo no tele-móvel. E vai-me dizendo quantas selfies precisa de publicar por dia enquanto influencer nas redes sociais.

– Não acho que isto seja algo que deva ser documentado seja de que forma for. Vai em frente, mas eu… nem pensar.

Tim oferece-se para lhe tirar a fotografia, e ela reclina-se no seu estúpido sofá branco, fazendo agora algo fofinho com as pernas. Faz um estranho beicinho, e ele dispara. Um verdadeiro David Bailey. Bah. Está a ajeitar-lhe o cabelo. Tenho aqui mesmo à frente uma his-tória de #sexismoquotidiano. O meu grande amigo Timbo, o tarado

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sexual com um saco enorme de coca. O que foi que primeiro te atraiu para o Tim, um pervertido de meia-idade com alguma barriga, ca-belo estranhamente demasiado preto e um saco para sandes cheio das drogas mais caras de Londres?

O  mais esperto e  menos bonito dos Libores continua com as roupas de trabalho, mas tirou a gravata e desapertou os dois botões de cima. O cabelo oleoso cai-lhe de ambos os lados do rosto pálido. Do outro extremo do altar de pó, grita ao Tim como, apesar das aparências:

– Na verdade, sou um anarquista, sabes? Precisamos, no mí-nimo, de uma revolução social…

Leva algum tempo até que ele pare de falar e eu consiga fazer-lhe uma pergunta razoável.

– Posso só dizer uma coisa, por um momento? – peço, com ur-gência. Ele ergue a mão. O que tem para dizer é tão interminável quanto imperativo. – NÃO, mas posso só dizer… – Disparo: – Se és anarquista e socialista, então, porque és banqueiro? – Infelizmente, a minha garganta parece papel e as últimas palavras são um latido débil e quebrado.

– Não é a profissão que nos define, mas sim o impacto das nos-sas ações – diz ele. E, virando-se de novo sobretudo para o simpó-sio da mesa de café, acrescenta: – Quer dizer, sim, provavelmente é contraditório, mas uma abordagem puritana a estes assuntos é ge-ralmente um impedimento ainda maior ao progresso.

Brutal, inteligente, convencido… e  caoticamente nojento: tem o fato a cair-lhe do corpo e pequenos Vs de espuma seca aos cantos da boca, a combinarem com a crosta vermelha em redor da sua na-rina favorita, de aspeto inflamado. Diria que o setor bancário não está a funcionar assim tão bem para ele.

Preciso de vinho, penso, e dirijo-me ao frigorífico do Tim, cheio de Waitrose Chablis. Mmmm, vinho. Só a ideia ilumina o pessi-mismo existencial.

A pequena sessão fotográfica improvisada do Tim e da Chica ter-minou, e as suas atenções voltaram-se para mim. Estou ligeiramente para lá da fase da conversa. Gostaria de beber um pouco da melhor

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zurrapa de supermercado e ficar calada. Não consigo pensar em nada de interessante para dizer.

A Chica já me disse que é vegan, não bebe nem consome drogas, e eu olhei para ela com o pertinente espanto.

– Oh, isto… isto é uma ocasião especial. Às vezes, temos de nos soltar.

– Mas bebes e consomes drogas, e os teus calções são de pele verdadeira?

– Sim, mas apresento-me como sóbria.

– Mas não estás sóbria. – Olho para o ranger dos maxilares dela. – Na verdade, estás fodida.

Isto é novo para mim. Antigamente, trazíamos os nossos hábitos à vista de todos. Passaram mais de duas décadas desde que exibia com orgulho a minha t-shirt da Hysteric Glamour com as palavras

Junkie’s Baddy Powder, que explorava as famosas embalagens de pó

de talco e era um dos elementos fundamentais no guarda-roupa de um certo tipo de jovem nos anos noventa. Tinha também uma t-shirt da Betty Ford Clinic com as palavras Limpa e Serena, algo que os britânicos viam como uma piada, enquanto os americanos vinham a correr e a acenar com os seus porta-chaves de dez anos sóbrio dos Alcoólicos Anónimos. A maioria das minhas irmãs, neste tipo de comportamento, seguiram em frente e tiveram pelo menos um filho, coisa também conhecida como festectomia. Os miúdos davam às mu-lheres algo por que o resto de nós tinha de pagar para cima de trinta mil libras. Uma razão para estarmos sóbrias. Maternidade ou reabi-litação? Não tinha experimentado nenhuma das duas.

O Tim segue-me até à cozinha, dizendo a este anjo de olhos de corça que somos velhos amigos e o quanto ele me ama e como eu cos-tumava tomar conta deste seu pedaço de mansão em Mount Street, Mayfair, quando tinha a idade dela. É bem-intencionado e tem sido um verdadeiro amigo ao longo de toda a minha vida adulta – se alimentar um hábito de baixo nível de consumir cocaína durante duas décadas é o que os grandes amigos fazem uns pelos outros. Mas é também furiosamente viciado, e isso torna-o complicado como parceiro.

A Chica reparou que fiquei um pouco deprimida e entrou em modo encorajador – Deus nos ajude – de terapia.

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– És taaaão fixe e divertida, tipo, eu simplesmente não percebo. Gostavas, tipo, assim muuuuito da tua carreira? Porque, tipo, eu percebo isso. A sério. Tipo, eu nem sequer sei se quero ter filhos.

A cena dos filhos. Ela agarrou-se à cena dos filhos.

– É demasiado tarde – digo, com uma rispidez capaz de fechar a boca aos seres humanos mais sensíveis. Mas a Chica está fora de si. De momento, a sua empatia parece-lhe real, mas na verdade é só uma necessidade de falar e falar. E falar. A única coisa que tem em comum com Sigmund Freud neste momento é que adora cocaína. Se a sua carreira no Instagram não der certo, pode arranjar um em-prego na Freud’s, a empresa de relações públicas.

– Não é nada demasiado tarde. Eu tinha uma amiga…

Fomos melhores amigas a noite toda, mas, agora, à medida que entro devagar nas primeiras fases de uma ressaca, ela começa a dar--me cabo da cabeça. Os últimos vestígios de diversão vão-se escapu-lindo da noite. Só tenho uma opção, se quero que continue. Consumir muito mais droga. Não posso consumir muito mais droga. Tenho de sair e depressa.

Apesar de me ter levantado e afastado, a Chica continua a taga-relar sobre a amiga que tem duzentos anos, ou coisa assim, e acaba de dar à luz cinco gémeos. Começo a sentir rancor pelas suas belas pernas e pelo seu ansioso e prestável rosto, que se torce e contrai à minha frente.

Só me dou conta, agora, de um desolador burburinho interno. Sentimentos negros indefinidos, bem como outros mais irritan-temente claros: as minhas pernas comparadas às dela, alguma vez voltarei a usar uns calções assim, tenho dinheiro que chegue para remover o  vale cinzento nas minhas raízes? Então, começo a  ver o quadro global e existencial. Vislumbres de pais, de irmãos, do meu namorado Charlie, qual é o sentido de seja o que for? Odeio a minha vida. E o trabalho, o trabalho, o trabalho, o trabalho… como um pássaro a dar-me bicadas na cabeça. Volto uma e outra vez à mate-mática moral de armar confusão numa noite anterior a ter de ir para a escola.

Começo por dizer a mim mesma mentiras que me são familiares: “Posso estar em casa às seis, levanto-me antes do meio-dia e posso

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escrever até às oito da noite, e fazer exatamente o mesmo trabalho que uma pessoa normal faz no emprego. Só tenho de escrever mil palavras para o jornal de amanhã, é possível, eu consigo, não preciso de me sentir mal por esta noite.”

Estou agora a beber vinho, como se de limonada se tratasse, de um dos copos Riedel sem pé do Tim, que, segundo a experiência lhe ensinou, são mais difíceis de ser derrubados por pessoas bêbedas.

O pensamento regressa uma e outra vez, até que o ruído existen-cial se transforma num grito doloroso.

Trabalho. Trabalho. Trabalho. TRABALHO, foda-se! O meu es-pírito agarra-se a cada costela à medida que se afunda na boca do meu estômago. Oh, Deus, ajuda-me, ajuda-me a sair daqui, ajuda-me a dizer NÃO.

Algures na ansiedade intensificada pela coca, uma versão sensata do meu ser tenta chegar a mim e tranquilizar-me. Já conheço esta sensação. Consegues lidar com isto. Vai para casa. Vai para casa, para o teu namorado sensato que está a dormir na tua cama grande e con-fortável. Amanhã é só outro dia.

Não, amanhã já é hoje. Trabalho. Trabalho. Trabalho.

– Está tudo bem aí, querida? – É o Tim que pergunta; e ele está demasiado perto de mim: eu estou debruçada sobre a bancada da cozinha, com os ombros puxados até às orelhas e o queixo encostado ao peito. Estende os braços como se estivesse prestes a abraçar-me, e eu permito-me ser abraçada por ele como um rapaz adolescente, rígido sob os braços esmagadores de uma tia solteira com bigode. – Vem cá, vem ao Timbo, querida.

Leva-me de volta à suite com a mesa de café para snifar coca e dá-me a sua adorada palha de prata em forma de aspirador, um presente, tal como o relógio, de um dos seus joviais e nada engraça-dos companheiros de coca.

– Não, obrigada. – Olho para as linhas habilmente cortadas com uma lâmina, dispostas ao longo do espelho retrovisor descartado de uma carrinha Peterbilt. Nada de cartões de crédito sujos nem notas de cinco enroladas, para o velho Timbo. Há algumas palhinhas de papel acabadas de cortar. As de plástico são demasiado duras para o nariz.

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– Querida. É tão bom ver-te. É um prazer enorme ter-te aqui. Tento pensar em qualquer coisa para dizer, mas não consigo en-contrar nada.

– Ataque de tristeza, Katiepooz? Lembra-te, querida, “a estrada do excesso conduz ao palácio da sabedoria”.

Essa velha anedota. Teria o grande místico William Blake tido noites miseráveis e insípidas como esta, em Londres? Não me parece.

– Nunca sabes quando chega, até saberes que é mais do que su-ficiente – digo eu. – E isto é suficiente.

Tenho de ir.

– Vou para casa.

Ouvem-se sussurros de persuasão. Ofertas de táxis. Uma sugestão de que espere para partilhar um Uber de regresso a Notting Hill com o Libor de QI mais baixo. O meu coração salta-me no peito como uma bola de squash e a minha cabeça continua a querer desfazer-se do dia de amanhã, como um terrier frenético face a um pau.

Devia ter ido para casa seis horas antes, à meia-noite. À meia--noite de há vinte anos, na verdade, quando todas as pessoas boas deixaram de fazer estas coisas. Tenho de sair daqui antes que o re-lógio chegue ao Urso Paddington, ainda que, apesar do meu estado, esteja curiosa quanto ao som que ele fará.

– Tenho de ir.

Desço as escadas a  correr. Não espero pela gaiola do elevador deste grandioso e antigo bloco de mansões. Se correr, talvez consiga afastar o medo, animar-me um pouco. Desço a Mount Street a correr, alimentada pela cocaína, pelo Chablis e pelo desespero, pedindo ao ar fresco que me anime. Balenciaga. Scotts. Marc Jacobs. Passo por todas as lojas e restaurantes de luxo e faço sinal a um táxi preto, com uma luz laranja acesa, em Audley Street. Afundo-me no banco e en-terro a cabeça nas mãos, gritando em silêncio: “Nunca mais. Nunca mais quero consumir drogas. Por favor, Deus. Por favor, ajuda-me. Tenho de parar de fazer isto.”

Endireito-me, respiro, respiro, respiro. O que sobe tem de des-cer. Encosto-me para trás e apanho o condutor a olhar para a sua passageira, agora estendida no banco de trás.

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– ‘Tás bem, querida? Levantaste-te cedo? Ou ainda não foste à cama?

Os seus gracejos amáveis e indulgentes são ligeiramente anima-dores. Reviro os olhos ausentes e demasiado arregalados, orlados por rímel de um dia e eyeliner seco e esborratado, e gaguejo:

– Algo do género.

Recosto-me e vejo Park Lane passar à esquerda. O que sobe tem de descer. Tenho o maxilar preso, os dentes de trás cerrados. Os om-bros doridos e tensos. Sinto o cheiro dos meus sovacos. Tento não pensar nas outras pessoas a levantarem-se de manhã, com o hálito fresco e acabadas de tomar banho, a ouvir a frenética rádio matinal, despachando os filhos para a escola, a fazer fila para o leve e so-cialmente aceitável vício do café das abelhinhas obreiras, todas as atividades saudáveis do ser humano útil. Talvez estejam cansados. Alguns podem até estar ressacados à quarta-feira. Quantos idiotas como eu estarão debruçados sobre os joelhos na parte de trás de um táxi? Penso no meu irmão Will, poucos quilómetros a norte, em Tufnell Park, a dizer um olá sonolento ao seu filho mais novo que o acordou com um brinquedo ou uma absurda questão infantil. E no meu irmão Tom, com dificuldades de aprendizagem e a viver num lar junto à costa, em Devon, satisfeito com um par de cervejas ou uma bela chávena de café instantâneo. Dói. Tudo dói.

Sinto-me sozinha na minha estupidez. Mas não estou.

Tinha lido estudos que analisavam as águas residuais nas gran-des cidagran-des da Europa. A  urina de Londres mostrava de longe o maior consumo de cocaína durante a semana. Em 2016, cerca de um grama por mil pessoas. Estima-se que haverá cerca de dez mil outras pessoas por aí a darem cabo do resto da sua semana. Esta é uma das mais tranquilizadoras jangadas estatísticas a que uma pessoa se pode agarrar, quando está a voltar rapidamente ao nor-mal na parte de trás de um táxi londrino ao amanhecer.

Não há nenhuma vantagem nisto.

Abro a janela, enquanto o táxi passa por Hyde Park, em Bayswater Road. A esta hora da manhã, há algumas pessoas lá fora, os corre-dores, passeadores de cães e gente a sofrer de jet lag. Invejo-os por estarem do lado certo do amanhecer. Encosto-me bem à janela e olho

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para fora, enquanto inspiro o  aroma verde que sopra do parque. O que sobe tem de descer.

– Levanto-me às duas da tarde, trabalho até às oito…

O Charlie gosta de estar na cama às nove, pois tem um trabalho a sério, que adora. Levantar cedo e cedo erguer. Se os meus cálcu-los estiverem corretos, terei acabado de o evitar, assim como ao seu sóbrio julgamento. Subo devagar os degraus metálicos até ao nosso apartamento, no primeiro andar, e abro a porta ao ar silencioso onde paira o cheiro do jantar. Salsichas. Oiço ressonar lá em cima. O sa-cana preguiçoso está a dormir até tarde. Pouco passa das seis. Não se levantou para ir trabalhar tão cedo como eu esperava. Dispo-me onde estou, deixando um molho de roupas a cheirar a tabaco e as cuecas viradas para cima no chão da cozinha. Com as mãos e os pés, subo as estreitas e íngremes escadas até ao nosso quarto no sótão e cambaleio numa farsa embriagada pelo quarto.

– Qu’horas são? – A voz dele sai abafada pelo sono e pelo edre-dão. Não digo nada. Mais desperto agora, ele queixa-se, repugnado: – Ui, tresandas.

Quero dizer-lhe que são três da manhã. Há uma diferença tão grande entre as seis e as três. Mas, lá está… A furiosa e tilintante ba-lança da infelicidade. Ambos sabemos as horas agora: são seis e sete da manhã. A hora a que o Charlie se levanta, exceto naqueles dias em que se levanta às cinco e um quarto, para ir ao ginásio, ou às quatro, para apanhar o primeiro voo para Frankfurt.

– ‘sculpaaaa – digo eu, enfiando-me na cama. – És uma desgraça – resmunga ele.

– Eu sei – respondo, enquanto me ajeito na posição lateral de segurança.

Ao longo dos anos, o Charlie habituou-se a ouvir-me subir as es-cadas de madeira branca ao amanhecer. De vez em quando, lá vinha eu a cambalear, exalando vapores de vinho, para o encontrar a es-covar o seu fato elegante, a polir os seus mocassins italianos num crescendo de energia para um dia de trabalho no escritório.

Fosse qual fosse a sua disposição quando saía do apartamento, sempre antes das sete da manhã, muitas vezes às seis, a última coisa

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que fazia era borrifar-se com um halo de perfume masculino de um velho perfumista francês. Infestava cada sala onde entrava de um cheiro a couro macio, lavanda e limões de Amalfi. Por pior que nos estivéssemos a dar, a única coisa que eu podia seguramente amar era esse aroma. Não tenho a certeza do que podia ele amar segura-mente em mim. Para um homem com um emprego a sério, tolerava os meus tumultos com uma paciência muito invulgar.

Nesta manhã em concreto, o sono não aparece facilmente, e tenho de voltar lá abaixo e subir para a bancada da cozinha para chegar à reserva de bebidas fortes por cima do frigorífico.

– O carro está numa linha amarela – grita ele do lavatório, onde concretiza a sua ablução final, esse borrifo de perfume de duzentas libras. – Podes tirá-lo antes das oito e meia? – Sai, olha para mim e vira-se novamente para o espelho, abanando a cabeça e resmun-gando: – Pergunta estúpida. Sugiro que voltes a pôr a tampa na te-quila e vás para a cama, Kate.

Dá a volta nos seus mocassins Ferragamo, com sola de cabedal, e sai sem olhar para mim, vários metros acima dele, nua, em cima da bancada da cozinha, com um cotovelo sobre o frigorífico e um suporte para ovos cheio de bebida na mão.

– É mescal, na verdade.

A porta da cozinha bate, deixando-me sozinha com o cheiro a sal-sichas, limões de Amalfi e a sua superioridade moral. Sinto-me um pouco melhor agora. Estou em casa.

Os meus hábitos noturnos mais extremos não facilitavam a nossa relação. Enquanto eu saltitava pelas valetas estreladas da cidade de Londres, o  Charlie providenciava-me uma estrutura estável onde pendurar a  minha vida. A  nossa relação era uma experiência de opostos que ameaçava constantemente explodir, mas que, milagro-samente, nunca o fazia. Até o encontrar, a minha vida amorosa era um ciclo constante de relacionamentos baseados no êxtase sexual, condenados a não durarem mais do que os dezoito meses a dois anos habituais até a oxitocina, a hormona de ligação, se esgotar – altura em que a luxúria se esvai do nosso banco de hormonas e abrimos finalmente os olhos, em tempos ofuscados pelo amor. A realidade

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e os relacionamentos nunca tinham resultado para mim, antes do Charlie.

Quando ele apareceu no pico dos meus quarenta anos, eu pensava estar dignamente para lá dos homens e perguntava-me como con-seguiria safar-me com aprumo neste ofício de solteirona moderna. Estava deitada no sofá a fingir-me interessada num debate eleitoral que estava a dar na televisão, enquanto percorria o Twitter, onde toda a gente tentava fazer piadas inteligentes sobre a #eleicao2010. Tentei concentrar-me na televisão, pois pensei que mostrar interesse no de-bate, ver a Newsnight, ler o Financial Times e ser séria ajudar-me-iam a elevar a minha parada profissional acima da ridícula norma, como o meu mais recente artigo para a Esquire, de seu nome “Fiz de Figu-rante num Filme Pornográfico”.

Os meus olhos voltavam constantemente ao ecrã do meu velho BlackBerry. Ping. Uma notificação vinda de alguém que eu não co-nhecia. “Achei muito engraçada a  sua história sobre ser figurante num filme pornográfico.” Tuitámos durante todo o debate, até que fiquei a saber quão perto ele vivia de mim; sugeriu-me então que nos encontrássemos para uma bebida no Julie’s, um restaurante ao virar da esquina. Nah. Estás muito bem assim, pensei eu. Alerta stalker!

Outra semana, outro debate eleitoral, ele voltou a contactar-me. Desta vez, admiti que a política me aborrecia e, no espaço de dez minutos, estou a ir de bicicleta para o Julie’s. Se não desse em mais nada, podia ao menos pagar-me um par de gins, que ali são dema-siado caros.

Ao entrar, vi um tipo sentado à janela, com longos e esvoaçantes cabelos louros, a berrar para a empregada do bar. A barriga saía-lhe por cima das calças de ganga à boca de sino, que lhe tinham ser-vido pela última vez nos anos oitenta. Estava aos berros numa voz sofisticada – o pior tipo de voz para gritar. Jesus. Era este o tipo do Twitter. Pedi um gin, no bar, de tão incomodada. Ia engoli-lo rapi-damente e correr de volta a casa, para uns minutos homeopáticos de

Newsnight.

– Kate?

Ali mesmo, a menos de meio metro de mim, junto ao bar, es-tava um homem alto, com cabelo escuro e curto, uns grandes olhos,

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absurdamente brancos, e uma pele fresca e limpa, com um par de Converse creme novinhas em folha e umas calças de ganga azul--escuras da Edwin. Muito composto, muito diferente do cretino aos uivos, do outro lado.

– Charlie – disse ele, estendendo a mão. – Do Twitter?

Isto mudou tudo. Passados poucos goles de gin, era evidente que tinha arranjado um homem alto e solteiro, sem indícios imediatos de problemas com vícios, uma frota de ex-namoradas, uma barriga de cerveja, perda de cabelo ou insolvência. Havia homens solteiros por ali, mas a maioria dos decentes e disponíveis eram engatatões de manequins em série e não queriam comprometer-se com uma velha de quarenta anos como eu. Estes tipos andavam constante-mente à caça de uma nova namorada-troféu sensual, com ênfase em nova. Um ser humano decente do sexo masculino, interessado num verdadeiro relacionamento com uma mulher normal de qua-renta anos que não se parece com a Elle MacPherson, é algo incri-velmente raro. O que se passava com ele?

Rimo-nos ambos das lamúrias arrogantes do tipo com cabelo à Lady Di junto à janela.

– Pensei que eras tu – disse eu.

– Não, desculpa. Infelizmente, eu sou eu – respondeu ele. Tinha encontrado ouro, sem sequer me aperceber. Quando co-meçámos a passar a noite juntos, achei muito sexy a maneira como ele acordava, o esmero com que fazia sexo comigo e a forma orde-nada como se vestia para o trabalho na City, onde fazia qualquer coisa sensata relacionada com acordos. Depois de ele sair, elegante e cheiroso, eu estendia-me ao comprido nos seus lençóis brancos e dormia mais uma ou três horas.

Havia problemas; há sempre, nas relações. O principal era que, apesar de ser seis anos mais novo do que eu, o Charlie era um adulto sensato, e eu não. A desleixada Kate a sorver mescal de um suporte para ovos, esta manhã, era muito mais limpa e organizada do que a que ele conhecera há seis anos. Ainda assim, tinha dificuldades em acompanhar os seus altos padrões ou, mais precisamente, não queria. Aos sábados de manhã, ele levantava-se e começava logo a fazer coisas, mesmo que estivesse de ressaca. Nunca ficava parado ou a mandriar.

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Os miúdos diletantes com um fundo fiduciário repugnavam-no, en-quanto eu pensava que tinham a melhor das vidas.

De alguma maneira, ele conseguiu aturar uma namorada ociosa e permanentemente quase falida. E, de alguma forma, eu consegui aguentar um namorado turbinado e viciado no trabalho. Às vezes, até nos divertíamos. Tendo passado por relacionamentos suficien-tes para durarem várias vidas a algumas mulheres, eu sabia que isto era o melhor que se podia arranjar – ainda que às vezes fosse uma verdadeira seca.

Com as mil palavras do artigo como única motivação para me levantar – algo em que tento pensar vagamente, ao mesmo tempo que a minha mente enrolada luta contra a ressaca –, é já de tarde quando finalmente arranco o meu malfadado rabo da cama. Durante esse tempo, não só tinha dormido, como fizera também três chávenas de chá e comera uma torrada e dois sacos de Quavers.

Debaixo do edredão, entre períodos de sono babado semelhante a um coma, enviei ao Charlie mensagens atarefadas, cheias de men-tiras, que sugeriam um dia produtivo, ainda que ressacado. “No mer-cado. Queres alguma coisa?”, acrescentando, em nome da verdade, um emoji verde a vomitar. Tinha desistido de entregar o artigo no prazo previsto e pusera o despertador para as quatro da tarde, altura em que precisaria de começar a controlar a situação doméstica, se não queria irritar o meu namorado trabalhador.

Tenho pela frente três ou quatro dias de meia vida, a sentir-me emocionalmente em baixo e desconfortavelmente dormente. É isso uma ressaca de droga. O que sobe tem de descer.

Agora, só preciso de cafeína forte. Hora de me levantar e seguir em frente.

Com paredes da cor de papas de aveia e um chão de cimento es-curo, o Coffee Plant, em Portobello Road, funciona como um som-brio programa de troca de agulhas para viciados em cafeína exigentes. Na verdade, é basicamente disso que se trata. De manhã, a casa de banho está sempre ocupada com os movimentos intestinais da meia--idade recentemente estimulados. Vendem um bom café, e muito: contando com o “Gershon de torra terapêutica”, que é um grão verde

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usado para enemas e problemas de cólon, há vinte e sete tipos dife-rentes de grão por detrás do balcão de madeira.

Prendo a minha bicicleta à própria roda e encosto-a à parede, lá fora. Uma rapariguinha caminha muito lentamente atrás da mãe; eu passo à frente e atravesso a pesada porta de vidro, mas não a seguro para elas passarem. A porta fecha-se na cara da criança. A mulher entra atrás de mim e planta-se mesmo à minha frente, com uma es-pécie de virtuosa fúria maternal indignada.

– Você sabia, sabia, sabia que ela estava lá.

– Lamento imenso. – A ênfase no “imenso” não sai muito bem. Pareço uma cabra. – Pensei que abriria a porta à sua própria filha. Ela está bem?

Sinto um rasgo de vergonha. Sabia? Sentir-me-ia irritada por me ter visto envolvida na pesada adoração reverente desta criança pe-quena? Sim, preciso de café, mas precisava de ir a correr atravessar a porta? Afinal, dificilmente se poderia descrever o meu dia como “ocupado”. O ambiente no café pode ser turbulento, às vezes: pais demasiado atentos, miúdos a correrem para cima e para baixo, aos gritos, à volta de viciados em recuperação vindos das reuniões dos Alcoólicos Anónimos e  dos Narcóticos Anónimos do Exército de Salvação, do outro lado da rua. É um lugar repleto de vida humana. Adoro-o.

O  incidente agita a  matéria negra que tenho vindo a  encostar conscientemente a um canto do meu corpo ao longo dos últimos dez anos da minha vida, desde que os meus amigos começaram a pro-criar. Há algumas semanas, estive numa feira com uma amiga que andava a fazer tratamentos de fertilização in vitro.

Estava a tentar convencê-la a experimentarmos uma diversão um pouco mais radical, mas ela estava preocupada com a inseminação. – Não te preocupes, vai sacudir os óvulos, deixá-los mais vivos – disse eu.

Quando já estávamos no divertimento, com a minha amiga da fertilização in vitro a olhar em frente, os seus óvulos calmos e sos-segados, a minha outra amiga observou:

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É como se eu tivesse desligado esse lado de mim. Nem sequer sei como me sinto em relação a isso. De que serve ansiar e sofrer por uma vida que nunca viveu dentro de nós? Andem lá para a frente. Conti-nuem. Mas há um tédio irascível, quase violento, que sinto quando começam as conversas de bebés. Surge-me de novo, enquanto esta mulher me recrimina por não pôr as mãos entre os joelhos e baixar--me para dizer: “Posso abrir-te a porta, sua magnífica princesinha?”

“Vamos falar sobre isso”, poderia um psiquiatra dizer.

As mulheres desaparecem na maternidade; mesmo quando estão fisicamente na sala, estão mais ou menos ausentes. Muitas vezes, as amigas que se tornaram mães não prestam atenção à conversa ou à nossa presença ou a um gesto bondoso. Às vezes, a mãe dobra-se sobre o filho, como que a protegê-lo do mundo inteiro, incluindo de nós. É uma sensação estranhamente humilhante.

Também já tinha visto um homem a fazer isso, um homem com quem tive um longo e infeliz caso. Eu tinha ficado com ele durante uma visita do filho e, quando o rapaz se levantou a meio da noite, ele envolveu-o por completo nos braços e peito e mandou-me sair. O som dos meus saltos altos, estupidamente sexy, enquanto saía do quarto e atravessava o soalho rangente até à porta da frente, não fez mais do que enfatizar um momento de solidão e de dor. Esse tipo de coisas marca-nos para sempre.

Eventualmente, esse tipo de coisas também me afastou das fa-mílias, e comecei a passar mais tempo com amigos solteiros, princi-palmente homens, uma vez que quase todas as mulheres eram agora mães. Levou-me tantas vezes de volta ao Tim, que conseguia lembrar--me do código de seis dígitos do seu portão. Não é uma desculpa. Odeio desculpas. Sendo alguém que está constantemente atrasada no trabalho, há sempre uma desculpa, e às vezes até é boa. Ocasio-nalmente, a nossa avó morre mesmo. A verdade é que todas as des-culpas são tretas. As desdes-culpas são para gente infantil. Não ter filhos deixara-me sem propósito, sem distração, sem algo para fazer. Ao contrário do Charlie, o trabalho não bastava. Alguém disse em tem-pos: “Lutar apenas por nós mesmos é defensivo e triste.” Sim. Isso. É isso. Não consigo fugir à constante e gritante pergunta: “É só isto?”

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