• Nenhum resultado encontrado

BAKALÁŘSKÁ DIPLOMOVÁ PRÁCE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "BAKALÁŘSKÁ DIPLOMOVÁ PRÁCE"

Copied!
53
0
0

Texto

(1)

MASARYKOVA UNIVERZITA

Filozofická fakulta

BAKALÁŘSKÁ DIPLOMOVÁ PRÁCE

(2)
(3)

Masarykova univerzita

Filozofická fakulta

ÚSTAV ROMÁNSKÝCH JAZYKŮ A LITERATUR

Portugalský jazyk a literatura

Šárka Pantůčková

Reflexão do Feminismo em Portugal na Análise dos Poemas

Escolhidos de Maria Teresa Horta

Bakalářská diplomová práce

Vedoucí práce: Mgr. et Mgr. Vlastimil Váně

Brno 2012

(4)
(5)

Prohlašuji, že jsem diplomovou práci vypracovala samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury a že se tištěná verze shoduje s verzí elektronickou. ………

(6)
(7)

Zde bych ráda poděkovala v první řadě vedoucímu mé bakalářské práce Mgr. et Mgr. Vlastimilu Váňovi za veškerý čas a úsilí, které věnoval této práci, za všechny rady a připomínky a také za trpělivost, se kterou přistupoval k mému chaotickému procesu tvorby. Velký dík patří i mým motivátorům, mamince, Vandě Kučerové a Veronice Juříčkové.

Na závěr bych ráda poděkovala všem vyučujícím oboru Portugalský jazyk a literatura, především Mgr. Marii de Fátima Néry-Plch, za vytvoření příjemného a podnětného studijního prostředí a zprostředkování cenných vědomostí.

(8)

Índice

Prefácio...9

Parte Teórica...10

História do Movimento Feminista...10

O que é o Feminismo?...10

Primeira Onda do Movimento Feminista...11

Segunda Onda do Movimento Feminista...15

Maria Teresa Horta...17

Obras Publicadas...19 Parte Práctica...21 Espelho Inicial...22 Espelho inicial...23 Permanência...26 Só...29 Medusas...31 Recomeço...34

Minha Senhora de Mim...37

Minha Senhora de Mim...38

Abrigo...40

Sobre a Ambiguidade...42

Poema de Amor...44

Entre nos e o tempo...46

Conclusão...48

Bibliografia...50

Fontes Primárias...50

(9)

Prefácio

Este trabalho é divido em duas partes. Na primeira parte quero documentar a história do movimento feminista. Este movimento é uma corrente que no meu ponto de vista não é fácil para descrever. Na história remota podemos falar de muitas mulheres que eram importantes para a vida cultural ou política como por exemplo a poetisa grega Safo. Todavia, estas mulheres eram excepções e não tinham grandes ambições nem possibilidades a convencer as outras. Então não podemos dizer que estas pessoas eram os primeiros sinais do feminismo. Sobre as primeiras marcas do feminismo e as fases particulares do movimento vou falar no capítulo dedicado à história.

A segunda parte deste trabalho vai analisar a poesia da Maria Teresa Horta. No exemplo de dez poemas quero identificar a influência do feminismo e documentar desta maneira os pensamentos do feminismo em Portugal.

O meu objectivo neste trabalho é uma comparação de dois livros de poemas de Maria Teresa Horta. Dum do início da sua carreira literária e do outro que foi escrito dez anos depois. Nesta comparação queria mostrar o decurso do movimento feminista através da poesia. Porque tanto se desevolve o pensamento feminista e as suas ideias e objectivos como se desenvolve as imagens e os motivos dos poemas escolhidos.

Ainda antes de avançar ao texto próprio, quero identificar os meios técnicos que aparecem no texto. As palavras no tipo itálico expressam sempre uma citação, na parte teórica trata-se de citações das fontes que são marcadas também com as vírgulas dobradas. Na parte práctica indico com o típo itálico sempre as citações do poema e as vírgulas dobradas são usadas só no caso, quando remeto às fontes secundárias como na parte teórica.

Ás vezes aplico no texto as vírgulas dobradas sem ser uma citação, neste caso a indicação significa um relevo conotativo, pejorativo, exagerado ou irónico. Não ocorre com frequência e a peculiaridade daqueles casos parece óbvia.

(10)

Parte Teórica

História do Movimento Feminista

Primeiramente tenho de responder as perguntas o que é o feminismo e quando nasceu. Eu penso que o feminismo emanou quando a sociedade definitivamente estabeleceu o homem (masculino) como o homem e a mulher como alguma coisa não perfeita, como o outro sexo. E quando observamos a história europeia, este momento decorreu já há muitos anos ou séculos. Aliás, toda a história que conhecemos funciona neste princípio. Algumas mulheres no passado surgiram e conseguiram construir um ambiente e um estado importante. Mesmo ficaram na beira da sociedade porque uma mulher extraordinária, uma mulher bem sucedida, uma mulher poderosa não foi (ou é) normal. A posição da opressão de mulheres documenta a literatura de ficção.

A seguir eu vou argumentar a minha ideia acima-citada e documentar o movimento feminista.

O que é o Feminismo?

Quando encontramos no dicionário o lema feminismo vamos ler que o feminismo é um movimento criado no fim do século XVIII. Apesar de que eu acho que o feminismo é o pensamento que não é possível limitar com nenhuma data, normalmente é escrito em dicionários:

Feminismo, o movimento que iniciou no fim do século décimo oitavo e funciona até hoje e que esposou o objectivo de atingir a igualdade dos direitos entre homens e mulheres e conseguir a emancipação das mulheres. (Universum, 2002)

Antes de chegar-se para as teorias feministas e a manifestação concreta em Portugal, queria expressar a minha crítica da percepção do feminismo. Bem conhecidas são as demonstrações do feminismo radical. E isto é a imagem que a maioria da população tem sobre o feminismo: A mistura esquisita do radicalismo da Emmeline Pankhurst e da ideologia radical, separatista e lésbica. Então muitas vezes uma feminista afigura nas cabeças da gente um estereótipo duma pessoa que evoca um homem, com a roupa masculina e com o comportamento masculino. Naturalmente esta personagem detesta homens e é lésbica. Uma remissão a problema da percepção do feminismo na

(11)

sociedade podemos encontrar no livro de Vodáková e Vodáková:

O feminismo inclui mais atitudes. Além do desejo que as mulheres se possam livremente realizar nalguns ramos da vida não em prejuízo de homens mas na cooperação igual com eles, há também o ódio aos homens e o esforço de vingar-se de todos os avitamentos históricos e de privá-los da influência social. Esta odiente postura representa às vezes ao público desinformado o feminismo como tal ou dá lhe valor pejorativo, gozado ou assustador. (2003, p. 339)

Todavia, isto não é a base do feminismo. Particularmente não hoje, quando a luta se moveu para outro palco. Nesta época quase todas as mulheres já podem eleger nas eleições (este direito era o primeiro objectivo do movimento) mas a igualdade ainda não tem sido obtida. Para mim o feminismo significa a dignidade de mulheres. Isto não é só algum movimento. O feminismo é a ideia que conjuga todas as mulheres diferentes deste movimento.

Alena Schauerová, o especialista do feminismo que se engaja na elevação da consciência pública dos problemas feministas e que dita um curso do feminismo na educação em Masarykova univerzita, distingue três definições do feminismo:

1. uma actividade para a igualdade dos gêneros – é uma actividade conjunta dos homens e das mulheres

2. uma disciplina científica – como economia feminista ou ciência política feminista ou teoria literária feminista ou muitas outras

3. o sistema, a atitude de vida – a mulher tem os mesmos direitos como o homem apesar do facto que fisicamente são diferentes

Também na publicação Rod ženský os autores definem o feminismo naquelas três dimensões como um complexo de atitudes feministas na imensa escala, dum desejo da igualdade ao ódio aos homens, e a seguir como a ciência feminista que representa as correntes dos pensamentos feministas que levam em conta a perspectiva das mulheres. A última dimensão tem o mesmo sentido como o movimento feminista porque representa os diferentes tipos e movimentos do feminismo e a sua história. (Vodáková, Vodáková, 2003)

Primeira Onda do Movimento Feminista

Na literatura feminista refere-se esta expressão ao longo período desde o ano 1792 até os anos cinquenta ou sessenta do século XX. (Vodáková, Vodáková, 2003) A data 1792 representa a publicação do livro A Reivindicação dos Direitos da Mulher da Mary

(12)

Wollstonecraft. Este livro é muito significante para o movimento porque primeiramente defende a mulher que não devia ser tratada só como a propriedade do homem. Mary Wollstonecraft escreveu o texto na atmosfera da Revolução Francesa quando a chamada para os direitos políticos, sociais e económicos surgiu. Ainda antes do livro, uma declaração da Olympe da Gauges foi publicada que advogou os direitos da mulher. A

Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã seguiu após A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, é resposta a isto e pôs a igualdade entre os homens e as

mulheres nas questões propostas na declaração original:

(I) A mulher nasce e vive igual ao homem em direitos.

(II) A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da mulher e do homem: estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança, e sobretudo a resistência a opressão.

(X) Ninguém deve ser hostilizado por suas opiniões, [...] a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna; [...].

(XI) A livre comunicacão dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos os mais preciosos da mulher, pois esta liberdade assegura a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda cidadã pode, portanto, dizer livremente, eu sou a mãe de uma criança que vos pertence, sem que um prejulgado bárbaro a force a dissular a verdade; cabe a ela responder pelo abuso a esta liberdade nos casos determinados pela Lei. (DeGouges, 1789)

Dezassete artigos da declaração foram os primeiros passos à Reivindicação, que não só dá às mulheres os direitos políticos mas também reflecte o problema da educação e da moralidade. A Mary descreveu várias situações onde as mulheres ficavam na posição subordinada e criticou esta geralmente aceita injustiça ou desigualdade. Na sociedade na passagem do século a mulher é considerada só como alguma coisa que deve parecer muito bonita mas que é inocente como uma criança. Mary Wollstonecraft diz que também as mulheres deviam ter o direito da educação porque as mulheres educam as crianças e por isso é importante que elas puderam passar os conhecimentos à criançada.

Demais disso, o livro fixa a atenção à mulher como ao símbolo da sexualidade mas sexualidade que é adjudicada só aos homens e às vontades deles. Aquela discrepância resulta à violência da qual não é possível proteger-se porque não há nenhuma protecção na legislação. (Wollstonecraft, 1992)

Depois deste livro a ativação da gente começou e no Reino Unido o John Stuart Mill liderou o pensamento feminista (não uma organização concreta mas o despertar

(13)

feminista geral da sociedade) e contribuiu ao movimento feminista em flor no ano 1869 com o seu livro A Sujeição das Mulheres que tinha escrito com a sua esposa. (Mill, 1869) A chamada para o sufrágio resultou na criação de National Union of Women's Suffrage Societies. Este grupo foi criado no ano 1897 pela fusão das organizações National Central Society for Women's Suffrage (em Portugal conhecida como União Nacional pelo Sufrágio Feminino) e Central Committee, National Central Society for Women's Suffrage. Muitas comissões como aquelas que arrazoavam o apelo para que as mulheres recebessem o sufrágio foram criadas e depois unidas pela única organização. (Roth, 2004)

Posteriormente no ano 1903 Women's Social and Political Union (em português a União Feminina Social e Política) dividou do grupo com o lema «Ações, não palavras!» e com as Emmeline e Christabel Pankhurst na cabeça. Este período significa uma luta dura pelo sufrágio. Quando a pressão mental não deu frutos, as mulheres decidiram a combater fisicamente. (LeGates, 2001) A alteração da atitude trouxe dois resultados. Primeiramente as mulheres começaram a ser percebidas com seriedade porque a sua resistência não ficava mais ao lar mas toda a sociedade teve de notar que alguma mudança se passava. Segundo, o radicalismo levou a imagem pejorativa do feminismo e das feministas. As sufragistas eram intransigentes e agora é difícil de conceituar se as suas ações concorreram mais positivamente ou negativamente. O Reino Unido, onde o movimento foi criado e ficou o mais forte, garantiu o sufrágio limitado às mulheres no ano 1918. As mulheres maiores de 30 anos de idade, desde que eram chefes de família (uma expressão oficial usado pelo governo), casadas com um chefe de família ou se elas tinham um diploma universitário podiam votar. Igualmente com os homens votaram não mais cedo do que em 1928. (Wheeler, 1978) O movimento das sufragistas tinha oragnizado alguns grupos das mulheres que participaram na primeira guerra mundial. A contribuição feminina tinha evidentemente ajudado à obtenção do sufrágio. O argumento antagónico, que desvaloriza a sua contribuição, é no meu ponto de vista a atmosfera complexa. O avocamento para o sufrágio feminino não foi só um debate isolado mas um movimento mundial. As mulheres começaram a reclamar a sua posição em toda a parte do mundo e a emancipação era na verdade só uma pergunta de tempo.

Na primeira fase do feminismo não podemos omitir os eventos do desenvolvimento nos Estados Unidos onde a luta começou como uma para os direitos para os negros, depois dos anos 60 denominados «afro-americanos» por causa da conotação pejorativa que o termo «negro» tinha obtido.

(14)

Nos Estados Unidos a Margaret Fuller criou no ano 1845 Woman in the Nineteenth Century que é um livro influente, comparado à Reivindicação da Mary Wollstonecraft. Mas antes deste livro a luta pela abolição da escravidão tinha começado e durante este movimento as mulheres perceberam que elas combatam por alguma coisa que não têm. Os protestos contra a sujeição dos negros ocorreram nos anos 30 e apesar do facto que o real efeito não foi conquistado antes da guerra civil, a actividade feminina notavelmente contribuiu. A conexão ao movimento pela liberdade dos negros motivou uma rica escala dos participantes. Nas demonstrações marcharam as mulheres dos grupos cristãos e também as sufragistas radicais porque elas eram conectadas também graças à Margaret Fuller. No seu ensaio ela diz que os homens e as mulheres são de natura igual e toda a gente tem a mesma possibilidade de perceber e sentir o amor divino que é no seu ponto de vista a coisa mais importante e do mesmo modo a coisa mais desapreciada daquela época. Este amor divino devia representar o amor geral para todos. A Margaret Fuller argui que as pessoas precisam de estar ligados e ajudam uns aos outros. Logo, as pessoas deviam criar alguma forma duma união mas antes daquela união os indivíduos deviam ser independentes. Isto significa que as mulheres têm de despegar-se da influência masculina e os homens têm de aceptar as mulheres como iguais. (DuBois, 1999)

O seu discurso parece um pouco ingénuo, ideológico e também espiritual. Todavia eu creio que naquele período as mulheres não teriam aceito nenhuma coisa mais revolucionária. As mulheres do décimo nono século existiram só na posição das esposas, toda a função delas era cerrada na área privada e elas não tinham nenhuma possibilidade de participar na vida pública. (Grenz, Olson, 1992)

As mulheres na liderança do movimento eram Matilda Joslyn Gage e Elizabeth Cady Stanton que liderou National Woman Suffrage Association, e também Frances Willard de Woman's Christian Temperance Union. Embora estas personagens fossem à frente do movimento feminista, eram também significantes para o movimento pela abolição da escravatura. (Roth, 2004) As duas correntes eram interligadas e os figurantes supunham que a décima quarta emenda à Constituição dos Estados Unidos comportaria ambos os direitos das pessoas da outra raça e das mulheres. Em 6 de dezembro de 1865 foi aprovada a lei que aboliu a escravatura como a décima terceira emenda à constituição, depois em 09 de julho de 1868 a emenda XIV foi adoptada. Esta revisão estabeleceu a noção «cidadão» e atribuiu o sufrágio a todos os cidadãos masculinos dos Estados Unidos. (Tindall, Shi, 2000) As mulheres tinham esperado

(15)

primeiramente que seriam agrupadas na emenda mas deviam aguardar ainda 52 anos.

O direito dos cidadãos dos Estados Unidos ao voto não será negado ou cerceado pelos Estados Unidos ou por qualquer Estado em razão do sexo. Congresso terá poder para fazer cumprir este artigo por legislação adequada. (Brooks, 1992, p. 20)

A décima nona emenda da constituição adjudicou o voto as mulheres em 18 de agosto de 1920. (Brooks, 1992)

A primeira onda do feminismo na literatura tradicionalmente acaba com o sufrágio feminino, em muitos países ocorrido em volta do fim da primeira guerra mundial.

Em Portugal o feminismo tem origem na Federação Socialista do Sexo Feminino, cuja primeira sessão se realizou no dia 17 de Junho de 1897 sob a presidência de Margarida Marques. Outra organização inicial chama-se o Grupo Português de Estudos Feministas, criado em 1907. (Neves, Calado, 2001)

Em Portugal a situação teve o decurso mais lento pelo estabelecimento da ditadura que não permitia actividade social e também as condições de vida eram piores que por exemplo no Reino Unido. Apesar das condições, as mulheres reuniram-se. Antes da ditadura existia a Constituição de 1911 que designou «o chefe de família» que podia eleger, mas esta figura eram apenas os do sexo masculino. (Wheeler, 1978)

Adelaide Cabete criou uma organização chamada Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas que promovia congressos feministas. O primeiro decorreu em 1924 e representou um grande apelo a sociedade. Ajuntou e envolveu diferentes ideias, correntes e movimentos despertantes em Portugal e proclamou o destaque a vida política e intelectual. (Cohen, 1989)

O Conselho mantou sua actividade até 1947 e constituia o palco mais importante da luta feminista em Portugal. É também parcialmente o mérito dele que as mulheres receberam o sufrágio limitado em 1956. Podiam eleger caso tivessem terminado ou ensino secundário o um curso superior. (Wheeler, 1978)

Segunda Onda do Movimento Feminista

A segunda onda do movimento feminista começou no início da década de 1960 e durou por vinte anos. As mulheres já obtiveram o sufrágio e oficialmente eram livres mas estes direitos novos não eram aceites geralmente na sociedade. Sobre esta situação descontente escreveu Betty Frieden no ano 1963 no livro A Mística Feminina, que é considerado como um dos factores importantes desta renascença do feminismo. Os tópicos da segunda onda eram os problemas da igualdade e a discriminação

(16)

profundamente arraigadas na sociedade. (Renzetti, 2003)

O livro A Mística Feminina trata das mulheres norte-americanas que combateram os direitos mas ficaram igualmente oprimidas. O livro funciona como um testemunho das donas-de-casa que são consideradas só como mães e esposas. Apesar da possibilidade de estudar nas universidades, não estudavam porque uma mulher sofística não era em demanda. As mulheres só esperavam para o casamento e em geral estudavam por motivo de ser uma boa representação do seu marido. (Friedan, 2002)

Betty Friedan discute as questões da identidade duma mulher. O comum problema foi o facto que as mulheres se presentavam como as esposas dos seus maridos e as mães das suas crianças. Nada mais era levado em consideração. As mulheres sentiam o vazio e o aborrecimento das suas vidas. (Friedan, 2002) Betty Friedan exprimiu a atmosfera e entrou em funcionamento as feministas da segunda geração.

A segunda onda do feminismo tem uma estrita ligação à Betty Friedan também por causa da Organização Nacional das Mulheres, originalmente em inglês National organization for Women com a abreviação NOW que significa «agora» em português e sublinha a ênfase contemporanêa da organização (Roth, 2004). Esta organização ainda funciona mas os objectivos são distintos dos objectivas dos anos sessenta. Naquela época as mulheres combateram pela participação igual das mulheres e dos homens na sociedade e pela realização verdadeira dos privilégios e resposibilidades que nascem na igualdade dos sexos. (NOW, 1966)

O que é típico da segunda onda é a diversificação dos movimentos. Desde anos sessenta emanam os grupos diferentes que são das opiniões particulais. Frequentamente se conjugavam os interesses como o feminismo e os direitos dos homossexuais, os ciganos ou os homens de cor (Roth, 2004).

(17)

Maria Teresa Horta

Maria Teresa Horta, do nome original Maria Teresa de Mascarenhas Horta, nasceu no dia 20 de Maio de 1937 como a primeira criança do Jorge Augusto Silva Horta e D. Carlota Maria Mascarenhas (Biblioteca Genealógica de Lisboa, 2000-2012). Nasceu e cresceu em Lisboa. Provém, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa. Entre os seus antepassados conta a célebre poetisa Marquesa de Alorna, ela que é sua avó em 5º grau e ela que é a personagem principal do seu livro mais novo. (Portal da Literatura. 2011) Em Lisboa estudou também, frequentou a Faculdade de Letras, e o seu percurso passou também pelo movimento cineclubista. Nos anos 60 e 70 foi a dirigente (a primeira) de o ABC-Cine Clube. «Foram tempos muito empolgantes, tempos do fascismo que eram tempos péssimos mas simultaneamente tempos de coragem. As pessoas tinham que fazer coisas a partir dos sonhos. E os centros cineclubistas foram sempre centros de resistência ao fascismo.» Disse Maria Teresa Horta na entrevista por Ana Filipa Oliveira (2007) Participou activamente nos movimentos feministas e de emancipação da mulher. Já como uma criança tendia a lidar com as questões femininas, com os estereótipos divididos por gênero.

Desde muito pequena, ao longo de toda a minha vida, contestei muito a situação da mulher, embora de uma maneira, digamos, infantil ou primária. Era ver os primos fazer umas coisas e as primas não poderem fazer, os meus irmãos fazerem umas coisas e nós irmãs não podermos fazer. Os homens tinham uma posição, as mulheres tinham outra, eles iam para as faculdades e elas não... (Portal da Literatura. 2011)

Maria Teresa Horta tem boas raízes feministas porque a sua avó era sufragista e a Maria ia às reuniões com ela e podia escutar as discussões. (Portal da Literatura. 2011) Também a sua mãe era progressista na mentalidade. « A minha mãe era lindíssima, andava de calças quando as mulheres não as usavam, fumava na rua. » (Ramos Silva, 2011) Embora estivesse metida num tempo tradicional, católico, e a sua família geralmente cumpria as tradições e os estereótipos, os pais eram mais liberais e Maria Teresa Horta tinha o acesso à biblioteca do seu pai e podia ler todas as obras literárias. Porém, todos os autores eram homens. O primeiro livro duma mulher, duma escritora foi O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir. A importância deste livro comentou Maria Teresa Horta: « E a Simone ensina-me o que é a vida.» (Portal da Literatura. 2011)

Maria Teresa Horta é considerada uma feminista, ela mesma diz muitas vezes nas entrevistas que se sente como uma feminista. Desta maneira a sua actividade (além da obra poética) apresenta uma boa evidência. Ela mostrou-se muito associada ao seu

(18)

tempo e as suas demandas. Respeitamente construie e exibe uma identidade «nova», feminina, «porque desde os meados dos anos 60, (re)nomear o corpo feminino tem sido uma das metas do feminismo.» (Sant'anna, 2009)

Maria Teresa Horta representou uma luta pela igualdade. Era presa pela sua poesia, demonstrava pelos direitos das mulheres e proclamava as suas ideias da emancipação (nos jornais, na poesia, nas estradas).

[...] a fama feminista trouxe-lhe poucos proveitos. A sua luta pela igualdade de direitos das mulheres e pelo direito à diferença, a sua verdadeira cruzada contra o machismo, do mais ostensivo ao mais velado, rendeu-lhe mesmo alguns amargos de boca.

(Sant'anna, 2009)

Maria Teresa Horta é feminista e poeta, ensaísta, ficcionista e jornalista.

(Enquanto jornalista, coordenou o suplemento Literatura & Arte do jornal A Capital,

também chefiou a revista Mulheres e colaborou ainda em outros jornais e revistas como Diário de Notícias, Diário de Lisboa, O Século ou República, Seara Nova, Vértice, Colóquio/Letras e Eva. (Instituto de Literatura Comparada Margarida

Losa. 2011))

Escreve a poesia e a ficção que são as disciplinas mais importantes, mais pessoais. «Escritora sou eu ser humano. […] A poesia é o meu lado claro. É uma poesia ardente, clara, cheia de luz. Uma poesia do verão. A minha ficção é o meu lado mais obscuro, mais negro.» (Oliveira, 2007) Na poesia podemos observar a sua confissão feminina. A poesia é «aberta», quero dizer que na poesia de Maria Teresa Horta podemos ler os seus pensamentos e o seu «ser humano.»

No palco literário surgiu em 1960 com Espelho Inicial. Ela contribuiu à publicação colectiva Poesia 61 com a plaquette Tatuagem. Outros autores conhecidos pela Poesia 61 são Casimiro de Brito, Luiza Neto Jorge, Gastão Cruz e Fiama Hasse Pais Brandão. (Burianová, Hodoušek, 1999)

O seu nome está ligado à exploração poética do erotismo, da sublimação do corpo, da libertação feminina e da vivência da sexualidade. O seu discurso é marcadamente plurissignificativo e conotativo, vincando uma linguagem que apela à sensualidade. A temática do amor perpassa a sua obra associando-se ao eros e à fusão do homem e da mulher como duas metades complementares que fazem o seu percurso, procurando encontrar-se. (Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. 2011)

(19)

Obras Publicadas

Espelho Inicial (Faro: Edição do autor, 1960)

Cidadelas Submersas (Covilhã: Pedras Brancas, 1961) Tatuagem (Faro: Edição do autor, 1961)

Verão Coincidente (Lisboa: Guimarães Editores, 1962) uma curta-metragem inspirada na poesia de António Macedo

Amor Habitado (Lisboa: Guimarães Editores, 1963) Candelabro (Lisboa: Guimarães Editores, 1964) Jardim de Inverno (Lisboa: Guimarães Editores, 1966) Cronista Não é Recado (Lisboa: Guimarães Editores, 1967) Minha Senhora de Mim (Lisboa: D. Quixote, 1967)

Ambas as Mãos sobre o Corpo (Mem-Martins: Europa-América, 1970)

Novas Cartas Portuguesas (com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno) (Lisboa: Estúdios Cor, 1972)

Ana (Lisboa: Futura, 1974)

Educação Sentimental (Lisboa: A Comuna, 1975) Mulheres de Abril (Lisboa: Caminho, 1976) Poesia Completa I e II (Lisboa: Litexa, 1983) Os Anjos (Lisboa: Litexa, 1983)

O Transfer (Lisboa: Feminino Plural, 1984) Ema (Lisboa: Rolim, 1984)

Minha Mãe, Meu Amor (Lisboa: Rolim, 1984) Cristina (Lisboa: Rolim, 1985)

Rosa Sangrenta (Lisboa: Nova Nórdica, 1987)

Antologia Política (Lisboa: Círculo de Leitores, 1994)

(20)

Destino (Lisboa: Quetzal, 1997)

A Mãe na Literatura Portuguesa (Lisboa: Círculo de Leitores, 1999) Só de Amor (Lisboa: Quetzal, 1999)

Antologia Pessoal – 100 poemas (Lisboa: Gótica, 2003) Feiticeiras (Paris: Actes du Sud, 2006)

Inquietude (n.p.: Quasi, 2006)

As Palavras Secretas (n.p.: Escrituras, 2007)

Poesia Reunida (Lisboa: D. Quixote, 2009) 2010 – Prémio Máxima Vida Literária As Luzes de Leonor (Lisboa: D. Quixote, 2011)

(21)

Parte Práctica

O objectivo da parte práctica é uma análise dos poemas. A poesia de Maria Teresa Horta pertence à lírica moderna que podemos datar desde a metade do século dezanove. (Friedrich, 2005) Na segunda metade do século vinte, quando a obra de Maria Teresa Horta é publicada, não temos de encontrar uma linha concreta do sentido porque não é sempre possível. As poemas modernas não têm só uma possibilidade da explicação. Como escreve Hugo Fridrich, a lírica moderna já não conta uma história mas trabalha com palavras e com imagens. (2005)

Um poema não necesita uma linha certa e concreta. Nenhuma interpretação (que atem se ao texto) é mal porque a poesia é aberta à influência dos leitores, quais podem um pouco transformar o sentido na base dos seus sentimentos.

A poesia de Maria Teresa Horta é próxima à escrita automática, é sensual e retorna-se tematicamente com uma obsessão à sexualidade. Escreve as obras inspiradas pela emancipação feminina. Em público e do ponto de vista feminino fala da sexualidade e da erótica. (Burianová, Hodoušek, 1999)

A minha análise concentra-se só numa linha da explicação. O meu objectivo é mostrar a poesia de Maria Teresa Horta como uma história duma mulher que está a descobrir a sua naturalidade e que se emancipa na sociedade tradicionalmente masculina.

(22)

Espelho Inicial

Espelho Inicial é a primeira obra publicada de Maria Teresa Horta. Este livro

dedicou à Simone de Beauvoir. À escritora e filósofa francesa que no ano 1949 escreveu o livro O Segundo Sexo, um livro sobre as diferenças entre as mulheres e os homens que não são dadas da natureza mas que são criadas durante os séculos pela sociedade dominada pelos homens. (Beauvoir, 1966) Naturalmente não podemos ignorar esta primeira informação do livro. Sem começar a ler é já certo que este livro tem alguma coisa a dizer ao tópico do estado das mulheres.

No meu ponto de vista Espelho Inicial encadeia a resistência contra o regime e o grito feminista. Nos poemas podemos encontrar os símbolos femininos, tanto escondidos como visíveis. A poesia de Maria Teresa Horta é famosa pelo erotismo. Contudo este erotismo não é nenhuma forma da pornografia mas é decente e distinto. E eu percebo-o como o meio do processo de encontrar a identidade feminina que é esquecida e perdida nas expectativas estabelecidas pela cultura masculina, especialmente na dictatura de Salazar que era estreitamente ligada com o cristianismo e a imagem sobre uma mulher, que lhe faz só a mãe e a dona de casa. A política oficial impedia às mulheres a educação superior e desdobrou-se para deixa-las junto do lar por razão do apoio à política de natalidade. (Wheeler, 1978)

(23)

Espelho inicial espelho inicial no pensamento das ondinas em revolta loura sobre o sol esquecido no centro dum lago harpas de vertigem ainda o arbusto tatuado no vento só o ciúme nos lábios duma estrela louca

semeada dentro do orgulho da seara arrepiada nunca mais o cais na bruma oscilante apenas o encontro dum anjo na noite pricipal

O poema «Espelho inicial» é cheio dos símbolos. Já o nome e também o primeiro verso do poema: espelho inicial. No meu ponto da vista este verso representa a pesquisa da identidade feminina. Espelho inicial como a primeira vista de mim e para mim. Esse espelho deve reflectir o reconhecimento que lentamente chega à consciência, o reconhecimento de ser a mulher.

Zdeňka Kalnická trabalha com a noção espelho em duas maneiras. O espelho pode representar o símbolo duma mulher, porque evoca o nível de água (um símbolo duma mulher) ou também personifica a perda duma mulher. Isto significa que a reflexão dum

(24)

espelho mostra uma pessoa que parece a pessoa que encara o espelho mas não é ela, é so a reflexão. E como Kalnická diz, as reflexões podem ser repercutidas por muitas caras e pode durar eternamente. (2007)

O lago (a água generalmente) é um símbolo feminino (Kalnická, 2007), é um símbolo da maternidade e da natureza que é representada na cultura pela mulher, como diz Simone de Beauvoir (1966). O sol ao contrário representa o núcleo masculino que fica esquecido dentro de cada mulher porque as mulheres foram formadas como «as segundas» e aceitaram aquela percepção masculina da mulher. (Beauvoir, 1966)

Mais uma vez e um pouco mais concretamente, a primeira estrofe podia representar o primeiro desperto e a consciência (espelho inicial) duma mulher. As

ondinas mostram o nível de água que se revela ou rebela como as mulheres, porque a

água representa as mulheres. Então o movimento de água junta-se com o movimento das mulheres. A especificação do movimento mostra-se no verso revolta sobre o sol pela conexão entre o sol e o mundo masculino no simbolismo. (Kalnická, 2007)

Toda a repesquisa e reachado parecem loucos e causam uma vertigem, porque «alguma coisa nova» nasce. Esta novidade é o acesso à feminidade e ao feminismo. Penso que harpas de vertigem é uma imagem ambígua. Podia marcar o som que revela uma vertigem no sentido duma mudança. Ou podia relembrar as harpas que são conectadas às musas, às mulheres e ligar esta imagem com a vertigem para assinalar a atmosfera do «nascer dos sentimentos.» Contudo, não é necessário encontrar um sentido exacto de cada um verso, talvez nem seja possível. Acima caracterizei a poesia de Maria Teresa Horta como lírica moderna que não exige uma explicação clara.

O arbusto tatuado no vento sinto como uma perturbação da natureza duma mulher

pelo vento. Kalnická presenta o vento como o elemento masculino, junto do sol. (2007) Em minha opinião a estrofe representa a opressão da natureza (que representa a mulher) pela sociedade masculina (representada pelo vento). O arbusto tatuado é um elemento natural tocado eternamente dum homem (vento). Seara arrepiada é também uma imagem muito natural que é a fonte do orgulho.

A imagem do ciúme nos lábios talvez assinale o aspecto do erotismo no poema porque os lábios são os que beijam mas os lábios são também os que falam. Pois o verso podia representar o ciúme que as mulheres sentem quando queriam falar ou discutar mas não estão aceites nem respeitadas.

A penúltima estrofe compreende mais uma vez o simbolismo da mulher com a palavra a bruma. A bruma é só um outro estado físico da água, também a bruma causa

(25)

que não podemos ver bem para a frente. Creio que ambas notas são importantes para este poema. Novamente podemos observar o contraste entre os elementos de natureza como a bruma e entre a criação humana como o cais. O cais é o molhe que é usado pela gente para «violar» a água, para embarcar. Eu percebo a estrofe no sentido que isto não acontecerá mais no futuro que fica incerto como a bruma oscilante.

O poema termina com o anjo na noite principal. A imagem relembra a cena bíblica, quando o anjo chega a Virgem Maria e anuncia-lhe que está grávida. A imagem evoca-me a dignidade duma mulher que deu a vida a deus, uma mulher que tem um corpo humano e físico, que é sacro e importante e não devia ser esquecido. Parece-me que a última estrofe podia assinalar o erotismo feminino que chegará com outros poemas de Maria Teresa Horta. Todavia é possível que esta descrição é motivada pelo conhecimento da poesia de Maria Teresa Horta e não é adequada.

(26)

Permanência

os lagos pressentiram a primeira permanência do sentir

quando no interior da noite a segunda estrela

se turvou

os castelos enviaram a ausência

os monstros sobre o mar vomitaram toda a loucura que era verde

e tudo terminou com a mensagem enviada nas asas

dos aviões sem rancor de saberem as casas sob o ventre

os cavaleiros deram a notícia

de terem encontrado monges sacrificados pelo sol

no torpor asfixiante dos desertos

Uma mulher como uma mãe representa um lugar, onde o homem pode sentir alguma coisa pela primeira vez, onde nasce cada homem. Uma mulher é o mediador que intermedeia a qualquer pessoa (um homem ou uma mulher) a experiência de ser, de sentir, de perceber.

Já durante a gravidez pode o bebê reagir e comunicar com a mãe. O bebê tem uma capacidade natural de reagir aos estímulos diferentes. Ao lado deste, o bebê comporta-se selectivamente, no sentido que reage naquela maneira que atrai os estímulos desejados.

(27)

(Vágnerová, 2000)

Os lagos na primeira estrofe representam a água, uma mulher que facilita a sua

água, o seu ventre para permanecer e sentir. A água é considerada como uma afiguração duma mulher típica pela conexão com a naturza e a tranquilidade mas também pela água dentro do útero, pelo parto.

A água é um símbolo da vida e da morte. Perigoso mas também calmante, aparece em várias formas e associa diferentes idéias e sentimentos. É o mais próximo ao homem de todos os elementos (o embrião se desenvolve no líquido amniótico da sua mãe e o corpo humano é composto de 55 a 75% de água). A água representa nas mitologias e filosofias iniciais um elemento feminino (junto com a terra), enquanto os elementos ar e fogo são masculinos. (Kalnická, 2005, p. 109)

No quarto verso familiariza-se a noite pela palavra interior. A noite objectivamente não pode ser denominada com o interior ou exterior, quando o sujeito lírico fâ-lo, eu penso que podemos falar da noite como se tornasse uma parte integral duma mulher, como se fosse a sua escuridade. Nesta escuridade feminina, as esperanças são rasgadas – a estrela promete no meu ponto de vista um melhoramento porque me asocia a estrela que prometeu o retorno do rei (Jesus Cristo) na mitologia bíblica. Toda a gente podia ver a estrela e estar ansiosa para a grande chegada. A segunda estrela também teria prometido salvar a gente mas esta estrela se turvou.

Outra possibilade de ler o verso representa a escuridade da mulher como alguma coisa natural. Uma mulher na história sempre representaria uma bruxa ou feiticeira. A

segunda estrela podia representar também a lua. Não é típico denominar a lua como

uma estrela, todavia, já Genesis fala sobre o Sol como sobre a primeira luz e sobre a lua como sobre a segunda luz, mais pequena. (Genesis 1) Assim quando aceitamos a

segunda estrela como a lua, o verso representa um cenário típico: bruxas, lua, noite –

como um encontro das feiticeiras.

Quero dizer que a primeira estrofe parece mostrar uma mulher na sua base: uma mãe e uma bruxa que são os estados únicos que tem.

Ao contrário dos lagos e da permanência da natureza há os castelos efémeros que ficam no poema como um oposto artificial. De um lado o sujeito lírico fala da natureza e de outro lado das coisas construídas e desnaturais como castelos ou aviões. Nem castelos, nem aviões têm a força eterna da natureza mas parecem mais estáveis e fortes. Esta imagem do edifício com as muralhas grandes envia a ausência assustosa. Talvez não seja pavorosa mas a ausência é uma palavra que debuxa alguma coisa não só vaga

(28)

mas também a qual falta alguma coisa.

A mulher representada pelo mar é prisioneira, enfeixada pelos monstros que a guardam e os monstros desrespeitam a luta pela liberdade, turvam-na e proclamam-na louca por efeito de verde que é a cor da liberdade. E tudo, a esperança, a perspectiva,

terminou com a mensagem dos monstros artificiais, desnaturais como os aviões, só de

ferro, indiferentes, sem emoções. A mensagem de saberem as casas sob o ventre, a informação que existe uma base feminina escondida dentro de mulheres, sob o ventre.

O poema termina com a estrofe que contém as palavras o sol e o deserto, totalmente opostas ao lagos e mar. A oposição aparece em todo o poema e como referi, enquanto a água representa a base feminina, o fogo e o sol representa a base masculina. Os monges, os quais não são perigosos mas inocentes, não usam violência mas sacrificam a sua vida ao objectivo mais honroso como o serviço ao deus, são

sacrificados. Eu concebo esta imagem como uma representação da opressão quando os

fracos são maltratados.

Porém, há os cavaleiros que deram aquela notícia e informam toda a gente sobre o sacrifício e a opressão. Eu vejo os cavaleiros como uma imagem dos mensageiros anónimos. Há estes cavaleiros que não são descritos e podiam representar só o fato que a mensagem existe e espalha.

O poema chama-se «Permanência». Por um lado, trata-se da primeira permanência no ventro duma mulher, por outro lado permanência é alguma coisa que perdura, statu quo que não intenta mudar. O poema «Permanência» parece um pouco depressivo porque espelha uma situação timorada da ditadura, da opressão. Todavia no meu ponto de vista constitui uma embaixada, um apelo.

(29)

só de solidão nos olhos e um mundo de silêncio entre os braços no mar os pescadores sem barcos

as searas nas lágrimas as algas

e a louca vontade de poder dormir

Apesar de fato que neste poema não há nenhuma palavra que representaria o corpo feminino, nem a luta feminista e nenhum pronome é utilizado e o sujeito lírico parece distino e despersonalizado, para mim este curto poema expressa o desespero triste de mulheres que já têm entregado o seu desejo absurdo de querer alguma coisa natural, como estar todas iguais. Apesar de que o desejo seja normal, normal como dormir, aquela vontade é considerada louca e inaudível. Baixo vou justificar esta ideia.

Eu trabalho com o poema como se fosse certo que o sujeito lírico fala da emancipação das mulheres por razão de contexto da vida de Maria Teresa Horta e por razão que este análise tem a especificação de mostrar as influências feministas na poesia.

A mais importante nota é a representação duma mulher pelo mar. A mulher é tipicamente identificada com a água. Esta ligação existia já na mitologia, por exemplo na mitologia egípcia, onde a a deusa Isis representara a inundação vivificante. (Kalnická, 2007, p. 28) Esta análise é baseada na identificação da mulher com o mar.

O poema compõe-se de duas estrofes. A primeira descreve uma mulher que é sozinha e abandonada e os seus olhos são vazios porque vive no mundo silencioso – ela é silenciosa por razão de estar abandonada de si mesma, da sua natureza. Entre os seus braços deve ficar o coração, o centro de amor e os braços deviam expressar este amor, deviam tocar, voar, ser livres, no entanto, ficam imóveis e quietos.

A segunda estrofe fala sobre as searas nas lágrimas, porque tudo o que emana, tem a origem nas lágrimas e no sofrimento.

(30)

Lágrimas contêm o potencial criativo. No mito causam grande aumento de união criativa e emocional. Na medicina popular lágrimas são usadas como um mediador de conexão, para proteger, para unificar os pensamentos e as almas. O choro em contos de fadas protege contra roubo ou inundações. Se rociamos algo, levantam os ânimos. As lágrimas curam o corpo e remediam a visão. (Estés, p. 164)

Tudo é perdido e confuso como os pescadores sem barcos, os quais não se possam orientar no mar espaçoso como não se esforcem por compreender as mulheres.

A imagem da mulher neste poema é bastante selvagem e natural pelo uso das palavras algas e mar. Com a palavra algas, minha imaginação cria uma imagem duma louca menina com cabelos verdes, algadas, vivendo no mar, uma medusa.

Como eu percebo o poema é que tenta dar o destaque à situação e invocar a atenção sobre as mulheres e a posição delas. O poema podíamos ler com o desprezo e afirmar que as mulheres são retratadas como as caixas vazias sem nada a dizer. Em minha opinião, aquela interpretação seria mal avisada não só pelo contexto da história mas também por causa das palavras seleccionadas. Fala-se de sofrimento, das lágrimas e da solidão, dos braços que faltam alguma coisa, não de indiferença ou ligeireza.

Maria Teresa Horta testemunha com só um grito, com só, porque nada mais é necessário. A poesia não é cometida já por o fato que não é explícita mas no meu ponto de vista Maria Teresa Horta queria despertar a sociedade com sua poesia. Mas o valor poético é muito importante (talvez mais importante) portanto a poesia parece mais reflexiva que agitante.

(31)

Medusas mar amar mercadores de pérolas sem lágrimas e uma hidra pescadores de dor vento descalço de calor e tranças em coral das medusas mar amar mulher de branco cansada de esperar dias de paz

e uma manhã agasalhada em nevoeiro

mar amar

palácios dentro de soluços

conventos de freiras e pensar

O nome do poema representa duas coisas – o animal que vive no mar e a personagem mítica. Ambos têm relação a uma mulher, no caso da medusa - animal do

(32)

mar – do símbolo duma mulher – e no caso da medusa mítica pela sua história – é uma mulher abandonada, intratável porque só o lanço de olhos dela mata.

No caráter de medusas ou águas-vivas, em seguida, encontramos uma outra ligação arquetípica - os cabelos e as serpentes, em simbolismo mitológico associado com a terra (resp. subterrâneo) e ciclicidade (como os cabelos crescem e caem e muda de pele de cobra como símbolos da renovação cíclica da vida). (Kalnická, 2005, p. 110)

No poema repete-se a combinação das palavras mar e amar. O mar é um pronunciamento simbólico duma mulher

Vida, como foi provado por muitos cientistas, surgiu da água, e muitas histórias da mitologia também oferecem uma explicação da criação do mundo da água. [...] Idéias de água infinita (oceano) como a fonte original da vida [...] intimamente ligado à imagem de mulheres; também o corpo de uma mulher grávida contém água, que está desenvolvendo uma nova vida humana. (Kalnická, 2005, p. 118)

e a eufonia destas palavras não é acidental. Percebo este jogo com palavras como a expressão duma mulher que é uma parte inseparável de amor e de amar. Sem mar não pode morfologicamente existir amar mas este jogo com letras tem também o aspecto textual porque no meu ponto de vista o sujeito lírico expressa com este jogo a capacidade de mulheres a amar, a paixão, a sexualidade. Também a imagem duma mulher como uma mãe, a qual guarda o lar e o fogo e é o centro da família, junta a família pelo amor materno.

Eu observo no poema Medusas um paradoxo entre a mulher amante, selvagem, cheia de paixão e entre o maltratamento dela que comprovo pelas palavras lágrimas,

dor, soluços. Esta conexão pode parecer fraca mas em consideração a outros poemas e

ao tema específico faz sentido.

Na primeira estrofe os mercadores, não mercadoras, vendem as pérolas que tipicamente simbolizam as lágrimas. A meu ver a estrofe presenta duas mulheres, uma submessa que veste as pérolas porque é uma mulher obediente e elegante e não sente a relação entre as pérolas e as lágrimas. A segunda mulher é uma hidra, uma medusa, uma mulher selvagem e descomedida.

As pérolas são produzidas pelas ostras no mar então os que as colectam são os

pescadores – os pescadores de dor porque apanham as lágrimas. Aqui notamos a ênfase

à palavra dor porque os pescadores já contêm a palavra mas o sujeito lírico ainda sublinha a dor com a repetição de dor. E os pescadores apanham as pérolas para colocá-las ao pescoço como uma cadeia, uma trela que simboliza uma submissão triste de

(33)

mulheres.

Segue uma estrofe que descreve a natureza duma mulher, a selvageria, todavia esta origem de mulheres parece abandonada ou violada. O vento privado de calor, as

tranças desordenadas em coral. O vento aparece-se às vezes no simbolismo como uma

representação masculina – a mulher contém a tranquilidade e imobilidade como terra e o homem ao contrário é o elemente frenético como o vento.

A mulher de branco representa geralmente uma noiva, no poema ela é cansada de

esperar que podemos clarificar no sentido que não quer mais construir o seu mundo de

acordo com os costumes. Minha ideia é que a mulher espera o homem para formar-se a noiva, a esposa e finalmente a mãe e a dona de casa e esta mulher é já cansada de esperar e quer encotrar a paz consigo mesma. Aquela decisão podia evocar a paz, um abrigo em nevoeiro do ambiente inimigo, onde as mulheres vivem como dentro dos

palácios. As mulheres vivem escondidas de todos e também de si mesmas dentro de soluços. E choram por tudo o que não têm, por tudo o que faz as freiras das mulheres.

Eu vejo o poema na base que o poema descreve uma situação onde as mulheres são submissas e têm medo de mudar a situação porque não conhecem nada mais, porque a sua selvageria já tinha destruído há muito tempo. O sujeito lírico expressa os sentimentos de mulheres que pensam deste modo e quer afoguear uma reacção. Todavia, trabalha com as palavras naquela maneira que o sujeito lírico não se mostra em todo o poema.

Eu fico consciente que minha explanação pode parecer mais inequívoca e evidente que o poema na verdade é. Porém, minha análise funda-se na base feminista pela pessoa política de Maria Teresa Horta. A autora é feminista e lutava pelos direitos de mulheres assim eu conto uma história que se esconde, segundo mim, no poema.

(34)

Recomeço

náufragos da noite o tempo dos cabelos em clepsidras de água o tempo da queda no gesto

o tempo do olhar nos olhos dos espiões gerações submersas alheias ao testemunho da distância recomecemos no ventre da água incerta urge-nos a planície de quilómetros assimétricos onde nos refugiamos

expectantes do último naufrágio

Novamente, este poema vou analisar de modo que fosse explicitamente dito que trata de mulheres, emancipação e feminismo. Dessa maneira o nome – Recomeço – contém toda a história do poema. O prefixo re diz que as mulheres já têm começado a luta mas por alguma razão devem começar mais uma vez porque a primeira vez não era sucedida e naufragaram. O livro de Betty Fridan A Mística Feminina foi publicado em Portugal em 1971, no mesmo ano como Minha Senhora de Mim de Maria Teresa Horta.

A Mística Feminina fala do problema que as mulheres já têm oficialmente os direitos

mas practicamente ficam opresadas. A publicação no mesmo ano pode ser só uma coincidência mas isso não muda o fato que as mesmas ideias houve na sociedade e actividade de Maria Teresa Horta, tanto literária como política, é uma evidência.

(35)

Então as mulheres são os náufragos porque não têm nenhum país para viver. Não existe o espaço onde podiam viver e expressar-se. Na sociedade daquela época são consideradas só como mães e esposas. Além de ser só náufragos são os náufragos da

noite. As mulheres seja parecem invisíveis seja as marotas na margem da sociedade, o

que segue ao resultado que as mulheres são os náufragos da noite porque só à noite podem encontrar a sua origem. Durante o dia não têm possibilidade para ficar na evidência tudo o que fazem e o tempo não permite às mulheres estar livres. Porém, o

tempo dos cabelos está a vir. Os cabelos como um dos símbolos femininos representa o recomeço, quando as mulheres começarão uma mudança dos tempos. Chega o tempo

quando não se baixarão e poderão dar uma olhada aos espiões. Os cabelos são também um símbolo erótico que assinala também a liberdade na demonstração da sexualidade feminina.

A estrofe o tempo da queda / no gesto podia significar que o tempo parou num momento dum gesto ou o tombo, a submissão – o tempo quando cada gesto, mesura, olhar estão sob a ordem do mundo masculino, dominante. Na primeira explicação quero dizer que é possível que um gesto parou o mundo talvez o tenha mudado. A segunda explicação parece-me como descrição do tempo, do mundo feminino que caiu no sentido que as mulheres não têm a mesma posição na sociedade como os homens. Um gesto é em fundo um costume e o problema que tratam os movimentos feministas é precisamente isto. As mulheres vivem só em costumes.

As gerações inteiras que indiferentemente não faziam nada, não lutavam, e eram

alheias ao testemunho da distância recomeçarão novamente. O testemunho da distância

percebo como expressão da distância da mulher natural (igual ao homem) e da mulher social (não igual ao homem).

Adiante expressa-se pela primeira vez o sujeito lírico no poema, mas como uma parte de nós. O recomeço faz mais incerto pelo conjuntivo e pela água incerta. Apesar disso o recomeço aconteça no ventre da água, na base duma mulher, lá onde tudo começa, onde começa a vida.

A incerteza expressada é causada pelo esquecimento da origem ou o medo de que se passará.

A planície de quilómetros assimétricos mostra um oximoro porque uma planície

devia ser plana mas aqui é assimétrica porque os quilómetros são assimétricos. A assimetridade força as mulheres a rebelar-se. Elas, as mulheres, são também diversificadas e cada uma é única mas os costumes, o ambiente tornam-nas à planície,

(36)

fazem todas as mulheres mesmas. E apesar de refugiar-se, o sujeito lírico fala sobre o último naufrágio que simboliza a luta que chegue. E sujeito lírico neste poema actua escondido na palavra nós para mostrar que cada uma «delas» é uma parte de nos.

(37)

Minha Senhora de Mim

O livro de poesia Minha Senhora de Mim é um exemplo de poesia típica de Maria Teresa Horta. Este livro pode ser caracterizado pelas palavras corpo e mulher. Sempre representa uma obra feminista e sobretudo feminina. Mas ao contrário do Espelho

Inicial não procura a identidade feminina porque ela é já certa da sua posição. Mais

significante aqui é o erotismo, que se ignorava no ponto duma mulher.

Eu não quero dizer que a mulher não é considerada como um objecto sexual. Justamente o contrário, ela é. Todavia, Maria Teresa Horta não fala do ponto de vista masculina mas feminina, que considerado revolucionário e proibido pela sociedade. A mulher não podia enunciar a sua sexualidade.

Minha Senhora de Mim documenta um grande passo no movimento feminista

quando comparamos o livro com a obra anterior e observamos a mudança do tópico da descoberta da identidade feminina no Espelho Inicial ao erotismo de Minha Senhora de

Mim.

A escrita da poetisa de Minha Senhora de Mim (1971) tem sexo, por se encontrar próxima da historicamente determinada vida das mulheres - ao nível da experiência interior, corporal, social e cultural -, pelas temáticas abordadas, pelo seu universo existencial, pelos aspectos da linguagem e da construção poética ou narrativa, consoante o registo em que a autora se move. E depois há ainda o outro corpo, o corpo da linguagem, a corporização do texto, no qual a exaltação dos sentidos é voraz, dolente, vertiginosa, na continuidade entre elementos diversos, como o mundo real e o imaginário, a ferida e o espanto, a sombra e o fogo. (Gastão, 2005)

(38)

Minha Senhora de Mim

Comigo me desavim minha senhora de mim

sem ser dor ou ser cansaço nem o corpo que disfarço Comigo me desavim minha senhora de mim

nunca dizendo comigo o amigo nos meus braços Comigo me desavim minha senhora de mim

recusando o que é desfeito no interior do meu peito

A primeira coisa para marcar neste poema é a ênfase aos pronomes possessivos ou à apropriação geralmente. O nome do poema reflecta o nome do livro de poesia. «Minha Senhora de Mim» que remete à Virgem Maria como à Nossa Senhora em português. No meu ponto de vista é esta relação criada por razão de conscientização duma mulher, que o seu corpo é sacro e que devia viver com o corpo porque é normal.

O poema trabalha com três versos que se repetem como o refrão: Comigo me

desavim / minha senhora / de mim. No meu ponto de vista a estrofe representa uma

disarmonia dentre duma mulher. A palavra desavim é uma marca do problema, da disputa. A aproximação, até a confusão com a Nossa Senhora dá à mulher a ênfase e a importância. Ultimamente, a apropriação acentua o fato que o conflito ocorre-se dentro da mulher, que o sujeito lírico encrespou-se consigo mesmo e com o qual se desaveio é uma parte inteira e inseparável dele (ou «dela» porque eu pressuponho que o sujeito

(39)

lírico é uma mulher pela palavra senhora, e também por razão do contexto da vida de Maria Teresa Horta).

Após podemos observar três estrofes diferentes: sem ser dor ou ser cansaço / nem

o corpo que disfarço é a primeira. Esta estrofe mostra o desquite forte do corpo e certo

nível de indiferença com as palavras sem ser dor ou ser cansaço. A meu ver o verso representa a distância duma mulher do seu corpo. O sujeito lírico ausentou-se de si mesmo apesar que no facto o que é distinto agora, é a base importante, talvez a mais importante. Quero dizer que o corpo é o fundamento de cada mulher, de cada homem e é importante e urgente senti-lo.

Depois de estrofe que se repete como o refrão chega nunca dizendo comigo / o

amigo nos meus braços. Uma estrofe que confirma a separação e a distância do sujeito

lírico do seu corpo. Os braços deviam ser os amigos no sentido que deviam ser uma parte integral. Os braços deviam tocar o corpo como se falassem com ele. Mas isso nunca acontece.

Recusando o que é desfeito / no interior do meu peito é a última estrofe do poema

que de novo reveza a refrão-estrofe. Eu penso que o sujeito lírico mais uma vez confessa a distância em si mesmo. Interior do meu peito mostra que a disputa passa-se no seio, dentro duma pessoa. O que no primeiro verso da estrofe remete ao corpo físico, como eu já disse.

Eu esclareço o poema como uma confessão duma mulher que está distinta do seu corpo mas que já pode ver que o corpo é importante e sacro. O poema parece uma confissão, como uma reza que é importante. Mas nesta reza o sujeito lírico não fala a deus, nem à Nossa Senhora. Porém fala a si mesmo, porque dá a conhecer que o sujeito lírico – ela – e o seu corpo é mais importante.

(40)

Abrigo

Abrigo-me de ti de mim não sei há dias em que fujo e que me evado

há horas em que a raiva não sequei

nem a inveja rasguei ou a disfarço

Há dias em que nego e outros onde nasço há dias só de fogo e outros tão rasgados Aqueles onde habito com tantos dias vagos

O poema começa com o verso abrigo-me de ti e eu vou primeiramente analisar este ti. Quem é o «ti?» É possível que «ti» é sempre o sujeito lírico. Uma parte dele que não é integrada e com a qual o sujeito lírico não se pode identificar. Com a ideia semelhante vou ainda trabalhar no poema «Sobre a Ambiguidade».

Esta teoria não tem nenhuma evidência e a razão de criação dela na minha mente pode ser só minha influência como influência da leitora.

Porém, no contexto histórico (tenho em mente a luta feminista e a emancipação, percepção das mulheres de si mesmas) e também no contexto dos poemas deste livro de poesia, penso que a ideia não é improvável. Todavia, não encontrei uma resposta certa.

Na minha análise vou trabalhar com este meu sentido que o poema é uma disputação dentro duma mulher.

O poema representa uma luta dentro duma mulher porque ela tem duas personalidades mas nem uma nem outra é percebida como «diabólica». O problema não é existência de duas personalidades mas a disarmonia entre as personalidades.

(41)

O sujeito lírico fala sobre dois estados: a primeira estrofe está parada em sentido oposto à segunda estrofe. A primeira estrofe presenta uma mulher que se não ama, que se não conhece e que se esforça por fujir ou esconder. A segunda estrofe fala duma mulher que está harmoniosa, que não sente nenhuma raiva, ódio ou ansiedade.

Outras três estrofes têm só dois versos. Cada estrofe é composta dum verso do primeiro tipo: Há dias em que nego // e outros tão rasgados // com tantos dias vagos e também do segundo tipo: e outros onde nasço // há dias só de fogo // Aqueles onde

habito. A mulher do primeiro tipo é assustada e incerta, vive nas tradições e com as

tradições, não é feliz, não unida com o seu corpo. A outra pessoa representa o oposto. Ela habita no seu corpo que ama e pode tocá-lo. É cheia de vida e de paixão. O fogo (a palavra da paixão) e o nascimento considero como uma evidência para esta dedução, no caso contrário comprovam a dedução as palavras rasgados, vagos.

O que podia negar a minha teória são duas palavras. Ti e inveja. Eu já expliquei que a distância dentro duma mulher podia ser afigurada naquela palavra ti. A inveja é uma emoção ligada mais aos amantes então podia parecer idevida. Porém, aquela emoção pode surgir em qualquer relação e de qualquer estímulo e eu creio que a inveja neste poema sublinha o desacordo dentro do sujeito lírico.

(42)

Sobre a Ambiguidade

Este esquecer de mim por bem querer este te perder

e envolver nos braços Este meu dizer e desdizer de nunca te perder

mas não esquecer que o faço Este meu delírio

minha febre

este meu medo de saber Este meu vício

e minha causa este meu motivo de não ser

O poema «Sobre a Ambiguidade» espelha já no seu nome tudo de que se fala, no meu ponto de vista, neste livro de poesia (Minha Senhora de Mim). A primeira pergunta devia focalizar o problema de ambiguidade, que há entre o corpo duma mulher, no sentido físico e sexual e entre o estatuto social que uma mulher tinha ganhado durante o tempo. (O estatuto documentei na parte teórica.). Então aqui há uma mulher que tem necessidades físicas, sexuais e vontades e uma mulher que vê os seus sentimentos como uma expressão duma doença ou de loucura. Ela sente-se inadequada para desejar com ânsia porque a sociedade interdita aquelos sentimentos. (Beauvoir, 1966; parte teórica deste trabalho)

A meu ver, este poema tem uma tendência para acelerar. Pois o tempo é mais rápido com cada próximo verso, as expressões são mais sensuais e mais fortes, eles cortam a respiração até o último verso de não ser. Parece como um fim definitivo, imudável.

Em todo o poema surgem as expressões como mim, meu, minha. Há um acoplamento entre o poema, entre as palavras e entre o sujeito lírico, entre a realidade. O

(43)

poema é não só sentido mas também sensitivo e sensível, porque o poema mesmo «cresce» dentro das palavras. «O crescimento» manifesta-se no tempo acelerante do poema.

A presença de mim no poema é muito significante por causa de mostrar o deslocamento de atenção de Maria Teresa Horta. Os poemas mais antigos não abrangem a mulher concreta e física, porém, aqui a mulher já emerge nos desenhos certos que não representam só as espectativas e mitos dos outros. Neste poema a mulher sei que ela é a mulher e que devia expressar-se para mostrar que uma mulher não vive em contos de fadas ou nos espelhos, todavia, existe no mundo físico e é física.

Apesar da presença de mim podemos observar no poema também te. Quem é tu?

Tu tem duas possibilidades, que podia representar. Uma representação é outra pessoa e

segunda é simbólica – no poema surge uma mulher sensual que fala no poema sobre ela mesma. Mim, meu, minha neste poema é, acima referido, uma mulher autêntica, física, sensual. A oposição desta mulher aparece como outra pessoa, que talvez seja familiar ou íntima por apostrofar com te (e não você, por exemplo), no entanto não faz parte de eu. Esta outra mulher é a pessoa que tem arraigado profundamente na percepção de si mesma em cada mulher. E com esta explicação entra em linha de conta a apuração que

te neste poema expressa a ambiguidade – te é também a mulher mesma mas também a

outra pessoa, a outra mulher, porque a autora apercebe-se que é composta da sua parte física mas também da sua parte social, tradicional, estereotipada. Por conseguinte de

não ser no fim deste poema é a embocadura dos sentimentos de te perder, porque a

ambiguidade fica dentro da mulher e a única solução parece não ser uma ou outra – física ou esterotipada.

Minha última nota refere-se à ambiguidade sobre as palavras usadas: perder e

envolver, dizer e desdizer. Como acima referido, a língua (as palavras e também o som

das palavras) e o sentido (as imagens que representam) fazem duas partes inseparéveis do poema.

(44)

Poema de Amor

Minha mágoa minha água

meu sabor de fruto solto Meu fruto

de sol aberto

no seu caminho revolto Meu infiel

meu ramo

minha flor de cetim

Meu corpo que não derramo meu insuspeito

de mim

Poema de Amor apresenta uma relação muito forte a mim, ao sujeito lírico. No

meu ponto de vista à análise representa este sujeito lírico uma mulher pelos símbolos utilizados, que vou explicar abaixo. Eu encaro os poemas como poemas duma confissão feminina então me parece evidente que a relação a mim representa uma relação à mulher. Todavia, esta ideia será documentada abaixo.

As palavras minha, meu, mim pululam no poema. Também neste poema observamos o desenvolvimento do sujeito lírico que tende para descobrir si mesma e por esta razão fala sobre si mesma e tenta encontrar a ligação entre os sentimentos e as palavras, encontrar a base duma mulher, encontrar uma harmonia.

Expressões como água, fruto, ramo, sabor são os símbolos duma mulher maternal, duma mãe. Eu já citei acima alguns autores que confirmam esta conexão. Todavia estas expressões podemos entender também como um pronunciamento da sexualidade feminina porque minha flor de cetim pode implicar a sensualidade duma mulher, a vagina e os desejos sexuais. Com tudo isso, a flor é de cetim, do material muito delicado, que assinala que a mulher de cetim é delicada e tem uma relação carinhosa a seu corpo.

(45)

a ambiguidade destas duas pessoas. O poema funciona como um testemunho duma mulher que ama a sua existência, que ama o seu corpo, que se ama.

A primeira, segunda e terceira estrofe são edificadas como uma descrição. Em cada estrofe há símbolos duma mulher, uma presença de eu mas também um desacordo entre as expressões: mágoa e água, fruto e revolto. A desarmonia simboliza no meu ponto de vista o combate como no poema Sobre a Ambiguidade. Todavia a última estrofe deste poema mostra que o sujeito lírico já não fala sobre a ambiguidade, mas sobre o amor, o amor a si mesma. Não quer derramar o seu corpo, não o quer suspeitar.

Acima referi que as três estrofes descrevem sempre o mesmo que podia levar a pergunta: o que é a mágoa e porque descreve esta palavra uma mulher? Creio que a mágoa representa a luta duma mulher no sentido da apercepção duma mulher. Ser uma mulher suporta o peso dos estereotipos, de não ter direitos, de ser só uma mãe e parturiente pois as pressuposições pejam a mulher e causam que uma parte da sua identidade vem a ser um ónus.

(46)

Entre nos e o tempo

Assim... meu amor penetra o tempo as ancas devagar as pernas lentas

o charco dos teus olhos e a laranja

a palpitar dentro do meu ventre Assim... meu amor

penetra o tempo a boca devagar os dedos lentos

a raiva do punhal que enterras no sol pastoso

do meu ventre Assim... meu amor penetra o tempo os rins devagar o espasmo lento

A primeira coisa para acentuar é a estrutura regular do poema. O poema é muito sensual e o ritmo é também regular. Esta regularidade implica o sentido que o poema seja uma representação do coito.

Do mesmo modo são escolhidas as palavras. A regularidade passa por todo o poema. A primeira estrofe repete-se três vezes. A segunda, quinta e sétima estrofe afiguram o mesmo esquema da oposição da lentidão e da pressa. Só as palavras mudam-se: ancas, pernas, boca, dedos, rins. Mais uma vez queria avisar ao ritmo que se

Referências

Documentos relacionados

 Para os agentes físicos: ruído, calor, radiações ionizantes, condições hiperbáricas, não ionizantes, vibração, frio, e umidade, sendo os mesmos avaliados

O Museu Digital dos Ex-votos, projeto acadêmico que objetiva apresentar os ex- votos do Brasil, não terá, evidentemente, a mesma dinâmica da sala de milagres, mas em

nhece a pretensão de Aristóteles de que haja uma ligação direta entre o dictum de omni et nullo e a validade dos silogismos perfeitos, mas a julga improcedente. Um dos

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Completado este horário (09h do dia 24 de fevereiro), a organização encerra os revezamentos e fecha a área de troca, não sendo mais permitida a entrada de nenhum atleta

No caso de falta de limpeza e higiene podem formar-se bactérias, algas e fungos na água... Em todo o caso, recomendamos que os seguintes intervalos de limpeza sejam respeitados. •

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação