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GESTÃO DO LAZER: FORMAÇÃO E CAMPO DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DA ÁREA

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GESTÃO DO LAZER: FORMAÇÃO E CAMPO DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DA ÁREA

Matheus Oliveira Santos (SESI-São Carlos; CEUCLAR – Batatais; SPQMH; NEFEF/UFSCar) Robson Amaral da Silva (SEE/SP; NEFEF/UFSCar) Marcos Rogério Kapp (SESI-São Carlos)

RESUMO

As transformações sociais na contemporaneidade têm requerido cada vez mais competências e habilidades dos profissionais que atuam no campo do lazer. Sendo assim, esse texto aborda aspectos relacionados a compreensão do lazer, suas características, sua ocorrência história, bem como a formação e atuação do profissional que atua nessa área. Essa discussão se faz necessária, uma vez que entendemos os gestores de clubes, hotéis, acampamentos, empresas, grêmios, escolas, como profissionais do lazer que atuam desde o planejamento até a execução de ações nesse campo.

Palavras-chave: lazer, gestão, profissional do lazer.

INTRODUÇÃO

As transformações sociais na contemporaneidade têm requerido cada vez mais competências e habilidades dos profissionais que atuam no campo do lazer, diferentes daquelas exigidas há tempos atrás. O destaque que o lazer vem ganhando enquanto um campo de pesquisa e intervenção em expansão requer um debate mais aprofundado e ampliado para que possamos ter uma noção mais clara sobre as especificidades dos profissionais que atuam nessa área.

A inserção desses profissionais em diversos espaços como hotéis, clubes, acampamentos, empresas, grêmios, escolas nos leva a olhar o lazer enquanto um campo de atuação para profissionais de diferentes formações, ou seja, multiprofissional.

A gestão desse fenômeno passa pela qualificação profissional, em uma perspectiva capaz de atender as demandas advindas com as transformações sociais no mundo contemporâneo. A possibilidade de contar com recursos humanos provindos de diversos segmentos amplia as possibilidades de uma atuação qualificada, e sobretudo, consciente do papel que devem desempenhar na construção de uma sociedade mais digna para todos.

Dessa forma, esse artigo tem como objetivo abordar a gestão do lazer a partir dos profissionais que atuam nessa área. As reflexões estabelecidas nos limites desse texto são pautadas em argumentos acadêmico-científicos, assim como em argumentações construídas a partir da experiência de anos dos autores enquanto profissionais no campo do lazer.

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Acreditamos que para a consecução do objetivo inicialmente estabelecido, se faz necessário um diálogo acerca do fenômeno lazer, nos aprofundando, ainda que de maneira superficial, em seus significados, sua ocorrência história e características.

UM POUCO SOBRE O LAZER

Segundo Marcellino (2000c), existe uma grande polêmica entre os estudiosos sobre a ocorrência histórica do lazer na vida social. Para ele, o fenômeno lazer, tal como conhecemos hoje, surge a partir da Revolução Industrial, quando a Europa passou por um conjunto de transformações sócio-econômicas, com consequente alteração do modo de organização social e de trabalho. A economia de subsistência, baseada, sobretudo, na agricultura e no trabalho artesanal, foi substituída pelo trabalho, em um sistema dito fabril.

Alves Junior e Melo (2003) também refletem sobre esse aspecto. Para eles, a humanidade, constantemente, buscou por formas de diversão tão importantes quanto o trabalho, a religiosidade e a vida familiar. Todavia, essa busca pela diversão não significa que sempre tenha existido o que hoje chamamos por lazer. “O fato de haver equivalências não significa que os fenômenos sejam os mesmos” (p.2). Assim, “o lazer é um fenômeno moderno, surgido com a artificialização do tempo de trabalho, típica do modelo de produção fabril, desenvolvido a partir da Revolução Industrial” (p.29).

De acordo com Bruhns (1998), é nessa sociedade urbano-industrial que a noção de tempo linear tornou-se, predominantemente, objetiva, universal, irreversível e medida em unidades sucessivas, concebida como medida abstrata, capaz de ser aferida e calculada pelo relógio mecânico.

Para Woodcock (1990, p.120), escritor vinculado ao movimento político anarquista1, esse instrumento mecâncio:

(...) transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas de uva. E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalista industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa

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Anarquismo é a doutrina, teoria ou filosofia política que afirma que a autoridade política, sob qualquer aspecto, é desnecessária e indesejável. Embora a ênfase central na teoria repouse assim na hostilidade ao Estado, a ela se aliam frequentemente atitudes que repudiam não só a autoridade política, mas também a organização social e a autoridade religiosa. O anarquismo destaca as possibilidades de cooperação voluntária e ajuda mútua na vida do homem e ataca a cooperação conseguida pela força ou pela ameaça de coação externa (SILVA, 1986).

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um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou de qualquer outra máquina.

O relógio foi a primeira máquina automática que adquiriu uma função social, pois, por meio dele, foi possível a regulamentação e arregimentação da vida dos seres humanos, condições necessárias para assegurar o funcionamento de um sistema de trabalho baseado na exploração. Podemos perceber essa exploração nos slogans da ideologia capitalista que dizem “tempo é dinheiro2” e “perder tempo”, sendo, esse último, considerado um pecado para a igreja.

Alves Junior e Melo (2003) apontam que, com a artificialização do tempo de trabalho, houve também a artificialização do tempo de não-trabalho, surgindo o que hoje definimos como lazer.

Com essas mudanças, o tempo de não-trabalho torna-se um tempo de contraponto ao trabalho produtivo. O trabalho capitalista, alienado em sua essência, era visto pelas classes proletárias como um esforço cansativo e rotineiro, o qual tinha a sobrevivência como principal objetivo. Assim, o lazer torna-se, paradoxalmente, vislumbrado pelo assalariado como um dos poucos momentos de realização e prazer, devendo “compensar” a frustração gerada no seio do processo produtivo (WERNECK, 2000). Criou-se assim, até os dias atuais, uma clara cisão entre “tempo de trabalho” e “tempo de não-trabalho” ou “tempo livre” que, muitas vezes, é confundido com o próprio fenômeno lazer.

Entretanto, concordamos com Bosi (1977), quando diz que “(...) se no trabalho e no lazer corre o mesmo sangue social, é de esperar que a alienação de um gere a evasão e processos compensatórios em outro” (p.76).

De acordo com essas reflexões, o entendimento do lazer vem sendo histórico e culturalmente atrelado, principalmente, às noções de trabalho, assumindo relações de tensão. O trabalho vem sendo reduzido ao simples labor. Já o lazer, por sua vez, vem sendo concebido como um “tempo livre” do trabalho produtivo, sendo privilégio de poucos e um sutil meio de se internalizar a maneira dominante de ver o mundo, permitindo a manutenção dessa opressora e injusta situação (WERNECK, 2000).

Atualmente, o lazer está presente não apenas na Declaração Universal dos Direitos Humanos3, mas também na Constituição Federal do Brasil4, sendo previsto como um

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Expressão marcada por Benjamin Franklin. 3

Artigo 24: “Todo o homem tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas”. DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos (2008): proclamada pela

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direito social, constituindo-se em um importante fenômeno social. Mas, será que existe um consenso sobre sua definição entre os estudiosos, profissionais da área e a população em geral?

Segundo Bramante (1998), há uma grande complexidade na sua definição, transitando desde sua etimologia, representando sentidos distintos na sua raiz latina: licere (lazer), schole (escola), otiu (ócio), até a inexistência da palavra lazer, nos países vizinhos de língua espanhola, sendo, habitualmente, tratada por “ocio” ou “tiempo libre”. Em nosso país, ele sempre foi conceitualmente confundido com recreação, jogo, esporte, brincadeira, entre outros.

No que diz respeito ao vocabulário comum, o que se verifica, com maior frequência, é o entendimento do lazer enquanto “(...) simples associação com experiências individuais vivenciadas que, muitas vezes, implica na redução do conceito à visões parciais, restritas ao conteúdo de determinadas atividades” (MARCELLINO, 2000a, p.21). O mesmo autor mostra que nem mesmo as repartições de prestações de serviços públicos deixam evidenciado um campo abrangido pelo lazer. “Não são poucas, nos âmbitos estadual e, principalmente, municipal, secretarias ou divisões de ‘Esporte e Lazer’, ‘Recreação e Lazer’, ‘Cultura e Lazer’, etc5” (p.21).

Esse caráter parcial e limitado que se observa quanto ao conteúdo também é verificado quando se procura detectar os valores associados ao lazer. Para o senso comum, os mais comumente relacionados são o divertimento e o descanso (MARCELLINO, 2000a).

Se sairmos às ruas perguntando às pessoas o que é lazer, veremos que, dificilmente, alguém não tenha uma opinião sobre o assunto. Isso porque, na atualidade, o lazer vem ganhando prestígio e espaço nas vivências cotidianas. Em entrevistas realizadas junto a transeuntes na cidade de São Carlos, o lazer é entendido como: “jogo, piquenique”, “parque, onde as crianças brincam, onde tem campo de futebol e a turma joga bola, voleibol, basquete”, “sair, curtir, ir para as baladas”, “lazer é diversão, tranqüilidade, crianças”, “um momento onde a gente se diverte, o lugar onde a gente esquece do dia-a-dia, é uma brincadeira, (...) passatempo”, “é uma maneira de você sair da sua rotina, mas (...) não significa uma maneira vazia de você sair da rotina”, “refrescar a mente um pouco, ficar

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Art. 6o, Capítulo II. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.

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Na própria cidade de São Carlos temos, atualmente, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, a qual, até 2002, era denominada Secretaria Municipal de Esporte, Turismo e Lazer.

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sossegado, beber, se divertir, sem arrumar conflito, sem nada”6. Como podemos observar nessas frases citadas pelos populares, não existe um consenso quanto a uma definição do que vem a ser o lazer.

Entre os estudiosos e profissionais da área também não existe um consenso sobre seu conceito. O que se pode verificar é a distinção de duas grandes linhas. A primeira, que enfatiza o aspecto atitude, considera o lazer como um estilo de vida, portanto independente de um tempo determinado e, a segunda, privilegia o aspecto tempo, situando-o como liberado do trabalho, ou como tempo livre, não só do trabalho, mas de outras obrigações (religiosas e familiares, por exemplo), ressaltando a qualidade das ocupações desenvolvidas. Mas, a tendência mais comum entre os estudiosos e especialistas é a de considerar as duas variáveis – tempo e atitude – para a conceituação do lazer (MARCELLINO, 2000a). Alves Junior e Melo (2003) referem-se também ao prazer como importante parâmetro para definir o lazer. Segundo os autores “as atividades de lazer são buscadas tendo em vista o prazer que possibilitam, embora nem sempre isso ocorra e embora o prazer não deva ser compreendido como exclusividade de tais atividades” (p.32).

Os estudiosos das mais variadas matrizes ideológicas tendem a concordar com um conjunto de características advindas da vivência do lúdico como eixo fundamental do lazer. Para Bramante (1998), “a ludicidade, enquanto eixo principal da experiência do lazer, (...) que, por meio dos mais distintos estudos, redescobre-se a vocação inerente do ser humano que brinca e que joga, na sua mais pura essência antropológica” (p.12). Para Bracht (2003) “uma das características do lazer enquanto dimensão própria da cultura, além dos aspectos já pontuados (relativos ao tempo, à atitude e busca do prazer), é o caráter lúdico de suas práticas” (p.157).

Pinto (2007) parte da concepção de lúdico como construção da alegria, pela prática com autonomia, conceito esse que a autora analisa com base na inter-relação dos princípios de vivência plural, significativa e compartilhada.

A experiência plural significativa é uma ação com sentidos e significados atribuídos pelos seus participantes. Nasce da curiosidade, da motivação, do interesse dos sujeitos brincantes e realiza-se segundo suas capacidades de (re)criar os conteúdos nas situações concretas vividas (PINTO, 2007).

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Frases retiradas do documentário “Ócios do Ofício”, desenvolvido na cidade de São Carlos, pela ACIEPE (Atividade Curricular da Integração Ensino, Pesquisa e Extensão) Lazer em Debate, ministrada pela Prof. Dra. Valquíria Padilha, na UFSCar, em 2004 (ÓCIOS, 2004).

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Já a construção compartilhada na experiência lúdica capacita o grupo a transformar o desejado em algo possível. Sujeitos e grupos fortalecem-se. Dessa experiência compartilhada surgem as regras de convivência e de organização. O jogo lúdico constitui-se como espaço privilegiado de diálogo e interação, com ricas possibilidades para administração dos conflitos (PINTO, 2007).

Ainda segundo a autora, a experiência lúdica é enfatizada pelo direito que todos têm de ser, decidir e agir como indivíduos e sujeitos coletivos. No entanto, é importante esclarecer que ela não está referindo-se à liberdade como um bem absoluto, doado e herdado, do qual podemos abusar. Também não a está limitando pela coação social sob a forma de tradição, costumes, leis ou regulamentos. Viver a liberdade também não é fazer o que se quer, na hora e lugar que se desejar. Assim, a liberdade no jogo lúdico é autonomia construída na interação com o outro.

Mas, para Pinto (1998), o lúdico, essência do lazer, foi sendo esquecido, principalmente no século XX. Para ela, “o desejo de ‘retorno’ à proeza de repensar o lazer fundado nos pilares do lúdico, nos desafia a romper a simbolização alienada, que nos vem sendo ensinada quotidianamente, e entender os sentidos das resistências lúdicas nessa nossa sociedade tão conflituosa” (p.19).

Dessa maneira, podemos perceber que cresce o entendimento do lazer como busca de dignidade e do respeito à pessoa como cidadã e, assim, de sua compreensão como campo de humanização das relações, dando sentido e significado às vivências de lazer para as pessoas.

Gomes (2004) valoriza o lazer, no qual “a cultura constitui uma expressiva possibilidade para se conceber o lazer em nossa realidade histórico-social” (p.124). Assim, pauta-se “(...) no pressuposto de que a cultura constitui um campo de produção humana em várias perspectivas, e o lazer representa uma de suas dimensões: inclui a fruição de diversas manifestações culturais” (p.124).

Para a autora, o lazer é uma dimensão da cultura construída socialmente em nosso contexto a partir de quatro elementos inter-relacionados:

• Tempo, que corresponde ao usufruto presente e não se limita aos períodos institucionalizados para o lazer (final de semana, férias, entre outros);

• Espaço-lugar, que se estende muito além de um espaço físico do qual os sujeitos se apropriam para exercer o convívio social ou local do encontro do lazer;

• Manifestações culturais: conteúdos vivenciados como o fluir da cultura, seja como possibilidade de diversão, descanso ou desenvolvimento;

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• Ações (ou atitude) as quais estabelecem suas bases no lúdico.

Ao tomar esses quatro elementos como referência, Gomes (2004, p.124) ressalta que:

(...) o lazer se inscreve no seio das relações estabelecidas com as diversas dimensões da nossa vida cultural (o trabalho, a economia, a política e a educação, entre outras), sendo institucionalizado na atualidade como um campo dotado de características próprias. Mas o lazer não é um fenômeno isolado, pois está em franco diálogo com o contexto. Por um lado, o lazer pode contribuir para o mascaramento das contradições sociais, mas, por outro lado, pode representar uma possibilidade de questionamento e resistência à ordem social injusta e excludente que predomina em nosso meio.

Sendo assim, avançamos ao encontro das proposições de Santos et al, (2007) que compreendem a vivência do lazer enquanto prática social, não fragmentada em tempo (de trabalho x livre/disponível), tampouco como sendo possível de realizar apenas delimitada a espaços (equipamentos específicos de lazer x outros espaços), nem mesmo atendo-se à atividades (não sérias x sérias), mas, prioritariamente, enquanto atitude, ou seja, a

intencionalidade do sendo-uns-com-os-outros-ao-mundo. Ser este, portanto, integral, que se

faz e refaz nas relações de intersubjetividade com os outros seres, tendo, como pano de fundo, o contexto do mundo.

Reconhecemos, porém, as interferências recíprocas da prática social trabalho na prática social lazer, bem como de outras práticas sociais. Também alertamos para a necessidade de políticas públicas que contemplem a construção de equipamentos específicos de lazer. Quanto às atividades, compreendemos que devam ser significativas e repletas de sentido para a pessoa que as realiza, de forma que não seja compelida, alienada ou oprimida (SANTOS et al, 2007).

Em síntese, atentamos para a possibilidade da conscientização e autonomia do ser, implicando, portanto, na intencionalidade atribuída pelo ser ao lazer (e demais práticas sociais), não desconsiderando o contexto sócio-político, o qual envolve opressão (de uns sobre outros) e desigualdades (entre uns e outros), conforme a prática social do lazer vai ocorrendo nas relações entre pessoas, grupos, comunidades, sociedades e nações, desenvolvidas sob certas finalidades e em determinados espaços e tempos (SANTOS et al, 2007).

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A gestão no campo do lazer “(...) envolve um conjunto de tarefas que procuram garantir a política na prática. Ao gestor compete interpretar a política e dar direcionamentos instrumentais para que ela ocorra de forma eficaz. Isso significa desenvolver planos estratégicos e operacionais, por meio de planejamento, organização, liderança e avaliação do processo e dos resultados” (PIMENTEL, 2008, p.2). Dessa forma, realizamos a partir de agora uma discussão acerca da gestão do lazer, priorizando a esfera do debate relacionada ao profissional que atua nessa área. Assim, trazemos para o bojo da discussão os elementos analíticos, formação e atuação profissional, para que possamos elucidar as peculiaridades desse trabalhador que se forja no seio da atual sociedade. Acreditamos na pertinência dessa perspectiva, uma vez que entendemos os gestores como profissionais do lazer que atuam desde o planejamento até a execução de ações de lazer.

Diversas são as denominações para designar os profissionais do lazer: recreador, animador sociocultural, agente cultural, promotor de eventos, gentil organizador (PIMENTEL, 2003) dentre outras.

Assim como são apresentadas várias expressões para denominar os profissionais que promovem ações diretamente nessa prática social, temos também uma gama enorme de possibilidades de atuação, no que se refere a espaços, locais, equipamentos de lazer e ações promovidas. Pimentel (2003) nos apresenta um conjunto de espaços nos quais esses profissionais se encontram inseridos, tais como: “academias, shopping’s, hotéis, associações, clubes, hospitais, asilos, SESC, SESI, escolas, presídios, navios (cruzeiros), fábricas, parques temáticos, condomínios, lojas de brinquedos, parques de diversão e de peão (...)” (p.79). Além desses contextos de atuação, nos quais os profissionais do lazer se encontram presentes, temos também diversas modalidades de atuação que o autor considera serem corriqueiras: “oficinas culturais, exposições, saraus, colônias de férias, shows, torneios, festivais, encontros, dias de lazer, cursos, acampamentos, festas, excursões, promoções, torneios e jogos” (p.79); e em interação com os mais diferenciados grupos e instituições, variando desde órgãos públicos à grupos de interesses.

Porém, as reflexões acerca desse profissional não se encontram restritas aos seus locais de atuação, estratégias ou grupos/instituições atendidas. Devemos, estabelecer diálogos que elucidem a sua formação e as perspectivas de mudança/permanência, alienação/emancipação, em sua atuação nos diversos contextos sociais.

A formação profissional para a área do lazer, segundo Isayama (2004), tem sido marcada por duas tendências. Uma que vislumbra a formação baseada na técnica e com

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orientação para o domínio de conteúdos específicos e metodologias. Temos assim, a prática como eixo principal na ação desse profissional, minimizando o papel da teoria. Há dessa forma, uma dicotomia entre teoria e prática. A outra tendência procura formar profissionais na área do lazer tendo como bases o conhecimento, a cultura e a crítica. A sua concretização se dá através da construção de saberes e competências fundamentadas no compromisso da disseminação de valores de uma sociedade democrática, assim como na compreensão do papel social do profissional na educação para e pelo lazer.

A partir da primeira tendência apresentada por Isayama (2004), acreditamos que algumas problemáticas se instalam na atuação dos profissionais formados segundo essa concepção. Um embate entre bom humor e competência. Marcellino (2000b) argumenta que os profissionais do lazer, cada vez mais, estão vendendo a sua personalidade, caindo em um processo de alienação. O autor acredita que a venda da personalidade é tamanha, que os mesmos passam a pregar que o bom humor é mais relevante do que a competência. O argumento utilizado por esse tipo de profissional é o seguinte: “bom humor não se aprende e competência se adquire” (p.128). Um profissional sempre solícito, de corpo belo e riso fácil.

Essa é uma maneira de se conceber o profissional do lazer, baseada no senso comum, como um indivíduo criativo, versátil e alegre, mas que no fundo mascara algumas questões mal resolvidas em nossa área.

Uma delas seria a dificuldade de se visualizar (do profissional e, por vezes, a nossa também) o significado do lazer em nossa realidade, em suas dimensões sociocultural e política, assim como as contradições presentes nesse contexto (PIMENTEL, 2003). A outra seria a falta de condições e de equipamentos de trabalho na sua atuação, não só do seu setor, mas da iniciativa pública e privada (MARCELLINO, 2000b).

Uma das alternativas que se apresenta seria o investimento na formação desses profissionais, a fim de se conceber indivíduos mais conscientes, críticos e contextualizados social, cultural e historicamente em sua atuação. Os caminhos são diversos para a concretização desse projeto que se impõe como uma necessidade em nossa área, objetivando assim, a contribuição para a formação de uma sociedade mais digna e justa. Privilegiaríamos assim, a segunda tendência apresentada por Isayama (2004).

Diversos autores tais como Werneck (2000), Pinto (2001), Pimentel (2003), Melo e Alves Junior (2003), Isayama (2004), dentre outros, apresentam contribuições relacionadas aos mais diferentes aspectos (postura profissional, conteúdos, valores inspiradores, formação continuada...), para uma formação/atuação mais consistente e contextualizada dos profissionais do lazer.

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CONSIDERAÇÕES

Habilitar o profissional do lazer para o olhar de gestor parece ser um desafio ainda a ser concretizado. Seguramente, isso não significa rendição à lógica da racionalização, tampouco, menosprezo pelos conhecimentos advindos de longos anos na atuação direta com a prática social lazer.

Acreditamos na inserção dos gestores em um processo de formação consciente, crítica e criativa, contribuindo assim, para uma ação mais significativa no contexto dos espaços de lazer que respeite as referências culturais dos indivíduos.

Dessa maneira, apontamos um conjunto de aspectos interrelacionados que consideramos essenciais na formação e atuação dos profissionais do lazer:

• Estabelecer uma relação recíproca entre teoria e prática; • Amplo conhecimento dos conteúdos culturais do lazer;

• Conhecimento profundo em termos de interesses da população com a qual estamos trabalhando;

• Investimento na formação continuada; • Formação de uma equipe multiprofissional;

A observância desses e de outros aspectos no contexto dos espaços de lazer permite uma gestão do lazer no sentido da superação dos desafios que se colocam à formação e atuação desses profissionais na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS

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Referências

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