Processo Nº 4276/2014 Interessado: Defensoria Pública
Assunto: Consulta da Chefia de Gabinete sobre a possibilidade de atribuição de
gratificação mensal a título de representação (GR), art. 135, III, da Lei 10.261/68, ao Diretor e Assessor da EDEPE.
Parecer. Gratificação de representação (art. 135, III do Estatuto dos Servidores Púbicos de São Paulo). Concessão ao Defensor
Público Diretor da EDEPE e ao(s)
Defensor(es) Público(s) assistentes da Direção. Possibilidade.
Parecer AJ nº 383/2014
1. Trata-se de consulta formulada pela I. Chefia de
Gabinete por solicitação do Excelentíssimo Defensor Público-Geral.
2. A consulta foi realizada para saber sobre a
“possibilidade de atribuição de gratificação mensal a título de representação, prevista no art. 135, III, da Lei nº 10.261/68, ao Diretor e ao Defensor Público Assistente da Escola da Defensoria Pública – EDEPE”.
3. Pois bem, passo a me manifestar a fim de instruir
o Defensor Público-Geral em sua tomada de decisão.
4. A gratificação de representação é veiculada pela
Lei n. 10.261/68:
Artigo 135 - Poderá ser concedida gratificação ao funcionário: III - a título de representação, quando em função de gabinete,
missão ou estudo fora do Estado ou designação para função de confiança do Governador;
5. A utilização desta gratificação pela Defensoria
Pública é possibilitada pelos artigos 243 e 11, inciso VIII, das Disposições Transitórias, da Lei Complementar estadual 988/06, verbis:
LC n° 988/06:
Artigo 243 – Aplicam-se, subsidiariamente, aos membros da
Defensoria Pública do Estado as disposições da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968 – Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do
Estado, e da Lei Complementar nº 180, de 12 de maio de 1978. Disposições Transitórias
Artigo 11 - São asseguradas aos membros da Defensoria Pública do Estado as seguintes vantagens pecuniárias:
(...)
VIII - outras previstas em lei.
6. Fácil perceber a legalidade da utilização da
gratificação de representação (GR) pela Instituição, diante da previsão expressa de aplicação subsidiária da Lei nº 10.261/68 aos membros da Defensoria Pública que, por sua vez, tem asseguradas eventuais vantagens pecuniárias previstas em quaisquer leis que possam se lhes aplicar.
7. Importante esclarecer que o artigo 135, inciso III,
da Lei nº 10.261/68 previu três modalidades de representação que possibilitam a gratificação, a saber: representação por função de gabinete, representação por
missão ou estudo fora do Estado e representação por função de confiança1. A
resposta à consulta depende do enquadramento das atividades do Diretor e do Defensor Público assistente da EDEPE em uma destas modalidades de representação que podem ser gratificadas, o que passaremos a analisar.
8. O Diretor e o Defensor Assistente da EDEPE não exercem função de confiança do Defensor Público-Geral, não constando do rol do artigo 89 da Lei 988/06.
9. Com efeito, o Diretor da EDEPE é indicado ao
Defensor Público-Geral pelo Conselho Superior da Defensoria Pública, nos termos do artigo 31, VI, da Lei Complementar estadual 988/06. Já o Defensor Público assistente é indicado pelo Diretor da EDEPE com posterior homologação pelo Conselho Superior da Defensoria Pública (artigo 15, §1°, do Ato DPG de 7/11/2006 – Regimento Interno da EDEPE). Desta forma, incabível a gratificação de representação por função de
confiança.
10. De outro lado, o Diretor e o Defensor Público
assistente da EDEPE desempenham suas atribuições no Estado de São Paulo e não fora dele, ao menos no que se refere ao desempenho ordinário de suas atribuições,
afastando, também, a possibilidade de perceberem gratificação de representação por missão ou estudo fora do Estado. Observo que sequer é necessário investigar se
exercem atividades de estudo ou missão, bastando para afastar a gratificação o fato de não ser fora do Estado.
11. A gratificação de representação por função de
gabinete, terceira e última modalidade, exige que o gratificado exerça atividade
comumente praticada no centro decisório da Instituição, isto é, na Administração
Superior2. E é aqui que se enquadram o Diretor e o Defensor Público assistente da
EDEPE. Vejamos.
12. Nos termos do artigo 10 da Lei Complementar
estadual 988/06, a Defensoria Pública do Estado compreende quatro grandes grupos de órgãos: órgãos de Administração Superior, órgãos de Administração, órgãos de
Execução e de Atuação e órgãos Auxiliares.
2 Ampliamos, neste ponto, entendimento anterior desta Assessoria Jurídica expressado no parecer AJ nº
19/2013, que fazia referência ao exercício de função na Administração Superior, nos termos do artigo 11 da Lei Complementar estadual 988/06.
13. À exceção dos órgãos de Execução e Atuação, que exercem atividade fim, os Defensores Públicos que eventualmente exerçam atividade de direção e coordenação dos demais órgãos podem, em princípio, exercer função de gabinete, desde que integrem o centro decisório da Instituição, considerando suas diversas atribuições.
14. Pois bem, nesta estrutura, a EDEPE constitui órgão
Auxiliar (LC 988/06, art. 56) ao lado, por exemplo, da Coordenadoria Geral de
Administração (CGA), Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) e Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI).
15. Enquanto órgão, a EDEPE não possui
personalidade jurídica própria e no exercício de suas atribuições expressa a vontade
da Instituição a que pertence, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Sobre o
conceito e as características dos órgãos, Hely Lopes Meirelles escreveu precioso e elucidativo trabalho entranhado em sua conhecida obra “Direito Administrativo Brasileiro”, da qual transcrevo pequeno trecho, in verbis:
Como parte das entidades que integram, os órgãos são meros
instrumentos de ação dessas pessoas jurídicas, preordenados ao
desempenho das funções que lhes forem atribuídas pelas normas de sua constituição e funcionamento. Para a eficiente realização de suas funções cada órgão é investido de determinada competência, redistribuída entre seus cargos, com a correspondente parcela de poder necessária ao exercício funcional de seus agentes.3(grifei)
16. Nesta trilha, é correto afirmar que é a Defensoria
Pública quem exerce as atribuições fixadas no artigo 58 da Lei Complementar 988/06, e o faz através de seu órgão EDEPE. Também é correto afirmar que a EDEPE é órgão
superior4 em relação aos assuntos de sua competência específica, pois detém o poder
de direção, controle, planejamento, decisão e comando sobre os mesmos, nos termos do próprio artigo 58, já mencionado.
3 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 70.
4 De acordo com classificação largamente utilizada pela doutrina administrativista. Ver, por todos: DI
17. Isto fica claro quando analisamos algumas atribuições específicas da EDEPE, que as desenvolve sob a direção e o comando do Diretor e do Defensor Público assistente. O Ato DPG de 07/11/2006, em seu artigo 10, dispõe ser atribuição do Diretor da EDEPE, verbis:
Artigo 10. Compete ao Diretor:
I - dirigir, administrar e representar a EDEPE; II - zelar pelo cumprimento da legislação em vigor;
III - atribuir funções ao Corpo Técnico e demais servidores lotados na EDEPE;
IV - decidir sobre a criação, transformação e extinção de cursos; V - supervisionar o gerenciamento do uso dos recursos
orçamentários e financeiros da EDEPE, autorizando, nos limites de
suas atribuições legais, os respectivos pagamentos; VI - exercer o poder disciplinar;
VII - assinar títulos e certificados expedidos pela EDEPE;
VIII - propor ao Conselho a instituição de núcleos de estudos ou de atividades específicas, inclusive no interior;
IX - nomear coordenador de núcleos de estudos ou de atividades específicas, inclusive no interior;
X - apresentar, ao ensejo das reuniões ordinárias do Conselho, relatório das atividades da EDEPE;
XI - firmar contratos, convênios, acordos e ajustes;
XII - cumprir e fazer cumprir a legislação em vigor e este Regimento; XIII - publicar, mensalmente, os demonstrativos das receitas e despesas gravadas nos recursos da EDEPE;
XIV – acompanhar e avaliar a qualidade das atividades executadas pelos Defensores Públicos em estágio probatório, enviando relatórios individuais ao Conselho Superior;
XV – instituir Comissão Editorial, Serviço de Biblioteca e Documentação e Serviço de Divulgação no âmbito das atividades da EDEPE;
XVI - desempenhar outras atividades não especificadas neste Regimento, mas inerentes à função, de acordo com a legislação vigente.
18. É de se notar que no exercício de suas atribuições,
o Diretor e o Defensor Público assistente da EDEPE matem relações com outros órgãos internos da Instituição e representam a Defensoria Pública em relações com terceiros (contratações, p. ex.), o que é típica função da Administração Superior ou, para utilizar termo sinônimo, de gabinete.
19. Os atos relacionados no artigo transcrito são
típicos de gestão e comumente praticados por representantes de órgãos superiores da administração. Revelam exercício de função de gabinete, independentemente de
qualquer subordinação expressa da EDEPE à Defensoria Pública-Geral.
20. Por ser órgão superior em relação aos assuntos de
sua competência específica, por ter como atribuição atos típicos de gestão praticados por órgãos superiores de administração e por representar a Instituição em relações com terceiros, entendo que as atividades do Diretor e do Defensor Público assistente
podem ser gratificadas pela representação por função de gabinete.
21. Lembro, por fim, que a gratificação de
representação por função de gabinete não pode ser somada a outra que possua a
mesma causa. Não pode o Defensor Público em razão do mesmo motivo (exercício de
função na EDEPE, p. ex.) receber duas gratificações (GR e gratificação pelo exercício de atividade em condição especial de dificuldade decorrente da natureza do serviço, p. ex.).
É o meu parecer, sub censura.
São Paulo, 15 de agosto de 2014.
Pedro Pereira dos Santos Peres