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PREFÁCIO. Por Tiago Pitta e Cunha

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Academic year: 2021

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Quando lemos Não Tenham Medo do Futuro, compreende‑ mos que essa frase é muito mais do que um título. É um apelo e até mesmo um anseio de alma de Eduardo Marçal Grilo. Um homem que, talvez inesperadamente, para quem cursou Engenharia, dedicou a sua vida profissional a melhorar a edu‑ cação em Portugal. Movido por uma paixão, a educação, e por uma luta: conseguir que Portugal, com um grande atraso edu‑ cacional nos últimos dois séculos – pelo menos comparativa‑ mente a outros países da Europa Ocidental –, consiga perceber que a educação é o principal fator do desenvolvimento eco‑ nómico e social, e que deve ser tratada como o setor estraté‑ gico que efetivamente é.

Trata ‑se de um anseio genuíno porque, nas palavras do autor, o futuro já não é o que era. Imprevisível o futuro sem‑ pre foi, mas a velocidade das mudanças é hoje muito maior do que era há 100, 50 ou mesmo 20 anos. Tudo mudava, mas nada mudava tão de repente como hoje.

Por detrás desse anseio há uma clara preocupação: poder, no quadro de turbulência que caracteriza a época em que vivemos, aconselhar uma geração mais nova, aqueles que

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EDUARDO MARÇAL GRILO

necessitam de fazer escolhas e correr riscos, desde logo ao optarem por um curso e prepararem as suas carreiras.

Para enquadrar esse aconselhamento explana eloquente‑ mente a sua visão do mundo, de Portugal e da educação. A conclusão é que, sendo o futuro por definição incerto, e sendo hoje mais incerto do que outrora, os jovens devem procurar perseguir a sua realização pessoal, investindo naquilo que querem ser, e fazendo ‑o com seriedade e empenho, pois nada garante que o que é hoje uma profissão «recomendável» o continue a ser daqui por 20 ou 30 anos, radicando o sucesso antes no gosto que temos pelas coisas que fazemos. Um con‑ selho sábio, que não surpreende e que vimos refletido no próprio percurso profissional de Eduardo Marçal Grilo.

Ao dar ‑nos uma visão do mundo, de Portugal e da sua edu‑ cação e ao não se abster de tomar posição e de nos recomen‑ dar caminhos, este livro é também, simultaneamente, um testemunho e uma lição. Um testemunho da vastíssima expe‑ riência e do pensamento do autor sobre o mundo em que viveu e que há de vir, bem como sobre a educação em Portu‑ gal, de que é tão apaixonado e sabedor; uma lição de sensatez, pelo equilíbrio e pela inteligência das orientações que, assunto a assunto, o autor nos deixa. Com uma leitura fluida, que nos agarra e nos faz virar sempre mais uma página, percorremos as várias esferas da realidade referidas: por um lado, o mundo de hoje, da globalização, da pandemia, e da mudança e, por outro lado, Portugal – um país capaz do melhor e do pior – e a importância do setor da educação.

Na sua visão do mundo, que é uma visão à medida do autor – equilibrada, lúcida, clara –, encontramos interrogações sobre o futuro da globalização, o mundo da automação e da

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inteligência artificial que aí vem. Fica no ar a suposição de que estamos hoje prontos para mudar de vida, ou até para mudar de época. Que estamos cansados da época em que vivemos, marcada que foi pelo predomínio tão intenso dos mercados e da economia.

Como corolário dessas reflexões, o autor olha para a pan‑ demia que vivemos como uma oportunidade, que nasce da crise que gera, e que, apesar de vir acrescentar incerteza à incerteza, pode ter a virtude de nos levar a confrontar os nossos grandes desígnios atuais, que, saliento com total con‑ cordância, serão a saúde, a transição energética, a preservação do ambiente e o combate às desigualdades.

Antes de nos mostrar o seu profundo conhecimento sobre os desafios da educação em Portugal, o autor leva ‑nos ainda a viajar pela nova ordem mundial, que, no seu entender, con‑ siste na inversão da marcha histórica do domínio do mundo pela Europa e pelo Ocidente, para o domínio do mundo pela Ásia e pela China. Se a História foi o fluxo da Europa para a Ásia, passando de caminho pela América (EUA), o futuro será o inverso. Aqui, a propósito da nova ordem mundial, mais do que vislumbrar, pressentimos algum pessimismo na visão do autor. Com ela virá a luta pela sobrevivência do Ocidente, a força dos populismos, o imperativo da coligação dos mode‑ rados e a continuação da agressão ao ambiente como dano colateral da economia.

Tem toda a razão o autor ao ser pessimista sobre uma nova ordem mundial, face ao que assistimos atualmente, onde os desafios globais crescem em dimensão e complexidade, por oposição à estatura das lideranças que diminui por todo o mundo.

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EDUARDO MARÇAL GRILO

Com o virar das páginas chegamos à segunda parte do livro e a Portugal, onde vale a pena ler – pela sua extrema clareza – a análise sobre as forças e as fraquezas, as oportunidades e as ameaças com que o nosso país se confronta. Também aqui perpassa alguma reserva, pois lamenta a falta de uma certa visão do futuro, que seja capaz de mobilizar as energias dos portugueses e que aumente a sua confiança nas instituições do país.

Mergulhamos, por fim, na educação, onde encontramos ideias claras sobre muitos assuntos desta temática e, acima de tudo, um pensamento bem estruturado em torno de uma fórmula simples, concisa, mas que continua a necessitar de ser posta em prática: as pessoas no centro da educação, e a educação no centro do desenvolvimento do país.

Esta segunda parte, que é quase um novo livro, traz ‑nos uma reflexão profunda sobre a educação em Portugal e sobre os desafios com que se confronta. Do pré ‑escolar à autonomia das escolas, do acesso ao ensino superior aos exames e aos

rankings, do livro à importância do ensino da Matemática,

das propinas à violência nas escolas, e do valor das Ciências Humanas, perante a tendência para sobrevalorizar as tecno‑ logias, fazemos uma última viagem inteiramente à volta do mundo da educação em Portugal.

Sem poder ser mais exaustivo, chamo a atenção dos leitores para as três principais virtudes que o autor identifica no uni‑ verso da educação: o conhecimento, as atitudes, e os valores éticos, que em conjunto serão a base para uma sólida formação e que, como tal, são a chave para não ter medo do futuro.

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O título deste livro não é original nem pretende sê ‑lo. Nos últimos tempos, o papa Francisco tem vindo a apelar não apenas aos católicos, mas a todos os que o ouvem para que não receiem o que os espera num futuro mais ou menos próximo.

E o Papa faz este apelo em particular quando fala sobre a vida e quando se dirige a todos os que olham para o futuro com alguma intranquilidade, e por vezes mesmo em grande sobressalto quanto à incerteza e à imprevisibilidade do que os espera, a eles e aos seus filhos.

O medo é hoje um fator que condiciona a atitude de mui‑ tas pessoas que se sentem inseguras e não conseguem encarar o futuro com um mínimo de confiança.

Somos aliás confrontados todos os dias com notícias, algu‑ mas delas falsas, que têm como único objetivo causar insta‑ bilidade e afetar o espírito e a confiança de cada um no futuro. Em muitos meios de comunicação, as únicas notícias que merecem ser divulgadas são o que podemos designar por «más notícias». São precisamente as que nos atormentam e nos deixam preocupados com os acontecimentos atuais, ou nos deixam ansiosos com o futuro, porque o que «aí vem», algo sem precedentes, será pior do que se imagina.

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EDUARDO MARÇAL GRILO

Ter medo é, neste contexto, uma reação natural dos seres humanos, que oscilam entre o certo e o incerto, o bem e o mal, o positivo e o negativo, mas que perante as más notícias tendem sempre a inclinar ‑se para o pior dos cenários.

No que diz respeito ao futuro, e em especial quando se toca no que podem ser os riscos e as ameaças que caracteri‑ zam o nosso futuro coletivo, o comportamento mais provável é o do receio do que pode vir a acontecer.

A crise vivida em todo o mundo com o aparecimento e a disseminação do coronavírus veio reforçar a imprevisibilidade do amanhã e acentuar e reforçar o sentimento de instabili‑ dade que caracteriza as nossas atitudes e os nossos comportamentos.

O futuro já não é o que era. Ou melhor, o que nós pen‑ sávamos há uns tempos que seriam os elementos caracte‑ rizadores do futuro deixaram de o ser, porque o processo de mudança em que vivemos tornou ‑se tão rápido que a única coisa certa que temos pela frente é a imprevisibili‑ dade.

Da minha experiência concluo que existe uma grande preocupação por parte de muitas pessoas em relação ao futuro, particularmente quando se trata de escolher um curso superior, quando a rapariga ou o rapaz da família termina o 12.º ano e pretende continuar os seus estudos numa univer‑ sidade ou num instituto politécnico.

Em inúmeros casos sou questionado com perguntas que mostram bem as dificuldades da escolha:

Este curso serve para quê?

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Este curso garante emprego?

E no futuro este curso ainda servirá para alguma coisa? Em grande parte dos casos não sei o que deva responder, mas há uma ideia que procuro transmitir.

Seja qual for o curso que se escolher, o que importa é que o curso seja bem feito, ou seja, que o jovem dê ao curso o melhor de si próprio. No fundo, o mais relevante é assegurarmo‑ ‑nos de que fazemos as escolhas acertadas, mesmo podendo estas comportar riscos, mas essas escolhas não devem resultar dos receios que o futuro possa trazer, nomeadamente em matéria de emprego.

Este livro pretende, assim, ser um contributo para algumas decisões que cada jovem toma ao longo do seu percurso aca‑ démico, bem como uma tentativa de combater a ideia de que o futuro não nos reserva nada de bom e que tudo o que pode vir a ocorrer em diversas áreas da nossa vida, designadamente em matéria de emprego, só pode corresponder a mais proble‑ mas, mais dificuldades e menos possibilidades de realização pessoal ou a um menor contributo para a sociedade em que cada um está inserido.

O livro está estruturado para ter duas partes, sendo a pri‑ meira dedicada aos desafios globais que poderemos encarar num futuro mais ou menos próximo, e a segunda aos proble‑ mas relacionados com a forma como devemos ver equaciona‑ das as questões da educação dos mais jovens partindo de um quadro caracterizador da situação em que se encontra o nosso país.

A primeira parte integra dois capítulos: no Capítulo I são apresentadas algumas reflexões sobre a imprevisibilidade que

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EDUARDO MARÇAL GRILO

o futuro nos reserva; no Capítulo II são feitas analogias sobre o que poderá ser uma nova ordem mundial ao mesmo tempo que se procura elencar os grandes desafios para a década ini‑ ciada em 2020.

A segunda parte compreende três capítulos. O Capítulo III contém uma análise sobre as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que caracterizam Portugal nesta fase do seu desen‑ volvimento; enquanto no Capítulo IV se analisa o papel que a educação deve desempenhar para que os mais jovens adqui‑ ram a formação de base indispensável à sua realização futura; no Capítulo V são produzidos alguns argumentos que justifi‑ cam a importância da educação nas sociedades modernas; e, finalmente, no Capítulo VI são equacionados alguns dos pro‑ blemas e desafios mais evidentes que é possível identificar nas escolas portuguesas e no ensino aí praticado.

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