Teorema da Fun¸
c˜
ao Inversa
Teorema da Fun¸c˜ao Inversa Seja f : (Xn, p) → (Yn, q) um mapa suave tal que Dfp : TpXn → TqYn ´e um isomorfismo. Ent˜ao existe U ⊂ Xn aberto tal que
(1) p ∈ U ,
(2) W = f (U ) ´e aberto em Yn,
(3) f |U : U → W ´e bijectiva,
(4) a inversa (f |U)−1 : W → U ´e suave.
Segue da regra da cadeia que a fun¸c˜ao g = (f |U)−1tem derivada Dgq = (Dfp)−1.
Prova:
Sendo este um resultado local, podemos tomar cartas locais, de Xn em torno de p, e de Yn em torno de q, e reduzir a prova a um representante do mapa f nestas
cartas locais.
Suponhamos ent˜ao que f : (Rn, 0) → (Rn, 0) ´e um mapa suave, com dom´ınio
aberto D ⊂ Rn, tal que Df
0 : Rn → Rn´e um isomorfismo. Designamos por ∂f∂x(0)
a matriz Jacobiana de f na origem.
Para inverter a rela¸c˜ao y = f (x) vamos usar o Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita aplicado `a equa¸c˜ao F (x, y) = y − f (x) = 0, onde F : D × Rn→ Rn assim definida
´
e uma fun¸c˜ao suave. Como F (0, 0) = 0 − f (0) = 0, e ∂F∂x(0, 0) = −∂f∂x(0) ´e uma matriz invert´ıvel, pelo Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita, o conjunto
M = {(x, y) : F (x, y) = y − f (x) = 0 }
´e localmente, numa vizinhan¸ca de (0, 0), um gr´afico x = g(y) de uma fun¸c˜ao suave g : W ⊆ Rn → Rn. Mais precisamente, existe um aberto V ⊆ D × Rn tal
que
M ∩ V = { (x, y) ∈ Rn× Rn : y ∈ W e x = g(y) } .
Seja U = {x ∈ Rn : (x, f (x)) ∈ V }. U ´e aberto porque a aplica¸c˜ao x 7→ (x, f (x))
´
e cont´ınua. Se x ∈ U ent˜ao (x, f (x)) ∈ M ∩ V , o que implica f (x) ∈ W e g(f (x)) = x. Logo, f (U ) ⊆ W e g ◦ f = idU. Se y ∈ W ent˜ao (g(y), y) ∈ M ∩ V ,
o que implica g(y) ∈ U e y = f (g(y)). Logo, g(W ) ⊆ U e f ◦ g = idW. Aplicando
f a ambos os lados da inclus˜ao g(W ) ⊆ U obtemos
W = (f ◦ g)(W ) = f (g(W )) ⊆ f (U ) ⊆ W ,
o que prova a igualdade W = f (U ). Logo, f ´e uma bijec¸c˜ao entre U e W , cuja inversa ´e (f |U)−1= g.
Equivalˆ
encia entre Mapas
Introduzimos a seguir uma rela¸c˜ao entre mapas, que em certo sentido ´e an´aloga `
a rela¸c˜ao ”ser difeomorfo a” entre variedades. Dois mapas suaves f : X → Y e f1 : X1 → Y1 dizem-se equivalentes sse existir um par de difeomorfismos
φ : X ' X1 e ψ : Y ' Y1 tais que ψ ◦ f = f1◦ φ. Por outras palavras, o seguinte diagrama ´e comutativo. X −→ Yf φ y yψ X1 f1 −→ Y1
Algumas observa¸c˜oes, cujas verifica¸c˜oes ficam ao cuidado do leitor:
(1) O difeomorfismo φ estabelece uma correspondˆencia bijectiva entre os pon-tos cr´ıticos de f e os ponpon-tos cr´ıticos de f1.
(2) O difeomorfismo ψ estabelece uma correspondˆencia bijectiva entre os val-ores cr´ıticos de f e os valval-ores cr´ıticos de f1.
(3) A rela¸c˜ao ”ser equivalente a” entre mapas ´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia. Fixando duas variedades X e Y , o espa¸co C∞(X, Y ) de todas as aplica¸c˜oes suaves f : X → Y pode ser munido de uma topologia natural, habitualmente chamada a topologia de Whitney. Um mapa f ∈ C∞(X, Y ) diz-se est´avel se for equivalente a todos os mapas pr´oximos, nesta topologia. Os mapas est´aveis correspondem a classes de equivalˆencia abertas. Identificando a circunferˆencia S1 com o quociente
S1 = R/Z, o mapa f : S1 → R, f(x) = sin(2 π x), ´e est´avel. Este mapa tem dois pontos cr´ıticos n˜ao degenerados, um m´aximo e um m´ınimo. A figura seguinte mostra um exemplo de um mapa g : S1 → R, com ponto cr´ıtico degenerado, de
tipo c´ubico, que ´e inst´avel. Note que g tem trˆes pontos cr´ıticos, mas perto de g existem mapas com dois e quatro pontos cr´ıticos respectivamente. A instabilidade de mapas ´e fen´omeno associado `a ocorrˆencia de singularidades, i.e., de pontos cr´ıticos degenerados.
O conceito de equivalˆencia pode ser localizado. Dados mapas f : (X, p) → (Y, q) e f1 : (X1, p1) → (Y1, q1) dizemos que f e f1 s˜ao localmente equivalentes sse
existirem difeomorfismos locais φ : (X, p) ' (X1, p1) e ψ : (Y, q) ' (Y1, q1) tais que
ψ ◦ f = f1◦ φ. Por outras palavras, o diagrama seguinte ´e comutativo.
(X, p) −→f (Y, q) φ y yψ (X1, p1) f1 −→ (Y1, q1)
Teorema da classifica¸c˜ao local de mapas em pontos regulares
Seja p ∈ Xn um ponto regular de um mapa suave f : (Xn, p) → (Yk, q). Ent˜ao
(1) se n = k, f ´e localmente equivalente `a identidade id : (Rn, 0) → (Rn, 0). (2) se n > k, f ´e localmente equivalente `a projec¸c˜ao linear π : (Rn, 0) →
(Rk, 0), π(x1, . . . , xn) = (x1, . . . , xk).
(3) se n < k, f ´e localmente equivalente `a inclus˜ao linear ι : (Rn, 0) → (Rk, 0), ι(x1, . . . , xn) = (x1, . . . , xn, 0, . . . , 0).
Prova:
Caso n = k. Tomem-se cartas locais φ : (Xn, p) ' (Rn, 0) e ψ : (Yk, q) ' (Rk, 0). Seja ˜f = ψ ◦ f ◦ φ−1 o representante de f nestas cartas. Como p ´e regular, D ˜f0
´
e um isomorfismo. Pelo teorema da fun¸c˜ao inversa, ˜f admite uma inversa local g : (Rn, 0) → (Rn, 0). O seguinte diagrama comutativo
(Xn, p) −→ (Yf n, q) φ y yψ (Rn, 0) −→ (Rf˜ n, 0) id y yg (Rn, 0) −→ (Rid n, 0)
mostra que f ´e localmente equivalente `a identidade id : (Rn, 0) → (Rn, 0).
Caso n > k. Tomem-se cartas locais φ : (Xn, p) ' (Rn, 0) e ψ : (Yk, q) ' (Rk, 0). Seja ˜f = ψ ◦ f ◦ φ−1 o representante de f nestas cartas. Como p ´e regular, rank(D ˜f0) = k. Isto significa que a matriz Jacobiana ∂ ˜∂xf(0) tem as suas k linhas
linearmente independentes, e, portanto, tem pelo menos k colunas linearmente independentes. Sem perda de generalidade podemos supor que isto acontece com as primeiras k colunas. Por outras palavras, det∂(x∂ ˜f
1...,xk)(0)
6= 0. Seja ent˜ao g : Rn→ Rn o mapa g(x) = ( ˜f (x
1, . . . , xn), xk+1, . . . , xn). Definindo π : Rn → Rk,
π(x1, . . . , xn) = (x1, . . . , xk), temos ˜f = π ◦ g. O mapa g tem matriz Jacobiana na
origem ∂g ∂x(0) = " ∂ ˜f ∂(x1...,xk)(0) ∂ ˜f ∂(xk+1...,xn)(0) O I # ,
com determinante det ∂g∂x(0) = det
∂ ˜f ∂(x1,...,xk)(0)
6= 0. Logo, g : (Rn, 0) →
(Rn, 0) ´e um difeomorfismo local. Finalmente, o seguinte diagrama comutativo
(Xn, p) −→ (Yf k, q) φ y yψ (Rn, 0) −→ (Rf˜ k, 0) g y yid (Rn, 0) −→ (Rπ k, 0)
mostra que f ´e localmente equivalente `a projec¸c˜ao linear π : (Rn, 0) → (Rk, 0).
Caso n < k. Tomem-se cartas locais φ : (Xn, p) ' (Rn, 0) e ψ : (Yk, q) ' (Rk, 0).
Seja ˜f = ψ ◦ f ◦ φ−1 o representante de f nestas cartas. Como p ´e regular, rank(D ˜f0) = n. Isto significa que a matriz Jacobiana ∂ ˜∂xf(0) tem as suas n
colu-nas linearmente independentes, e, portanto, tem pelo menos n linhas linearmente independentes. Sem perda de generalidade podemos supor que isto acontece com as primeiras n linhas. Por outras palavras, det∂( ˜f1,..., ˜fn)
∂(x1...,xn)(0) 6= 0. Seja ent˜ao g : Rk → Rk o mapa g(x) = ˜f (x 1, . . . , xn) + (0, . . . , 0, xn+1, . . . , xk). Definindo ι : Rn→ Rk, ι(x
1, . . . , xn) = (x1, . . . , xn, 0, . . . , 0), temos ˜f = g ◦ ι. O mapa g tem
matriz Jacobiana na origem ∂g ∂x(0) = " ∂( ˜f 1,..., ˜fn) ∂(x1...,xn)(0) O ∂( ˜fn+1,..., ˜fk) ∂(x1...,xn) (0) I # ,
com determinante det ∂g∂x(0) = det∂( ˜f1,..., ˜fn)
∂(x1,...,xn)(0)
6= 0. Logo, g : (Rn, 0) →
Finalmente, o seguinte diagrama comutativo (Xn, p) −→ (Yf k, q) φ y yψ (Rn, 0) −→ (Rf˜ k, 0) id y yg −1 (Rn, 0) −→ (Rι k, 0)
mostra que f ´e localmente equivalente `a inclus˜ao linear ι : (Rn, 0) → (Rk, 0).
Submers˜
oes e Imers˜
oes
Seja f : Xn→ Yk um mapa suave. A aplica¸c˜ao f diz-se:
(1) uma imers˜ao sse n < k e f n˜ao tem pontos cr´ıticos.
(2) um difeomorfismo local sse n = k e f n˜ao tem pontos cr´ıticos. (3) uma submers˜ao sse n > k e f n˜ao tem pontos cr´ıticos.
Recordemos que uma aplica¸c˜ao f : X → Y se diz aberta sse para cada subcon-junto aberto U ⊆ X, f (U ) for aberto em Y .
Teorema
Seja f : Xn → Yk, n ≥ k, um mapa suave sem pontos cr´ıticos. Ent˜ao f ´e
uma aplica¸c˜ao aberta. Em particular, se Xn ´e compacto e Yk conexo ent˜ao f ´e sobrejectiva.
Prova:
cada ponto p ∈ X, f ´e localmente equivalente a uma projec¸c˜ao linear π : Rn → Rk, π = id quando n = k. Como, em qualquer caso, a projec¸c˜ao π ´e uma aplica¸c˜ao aberta, o mapa f ´e aberto numa vizinhan¸ca de p. Logo, f ´e localmente um mapa aberto. Tendo em conta a propriedade f (S
i∈IVi) =
S
i∈If (Vi), f ´e globalmente
um mapa aberto.
Como f ´e aberta, o conjunto f (Xn) ´e aberto em Yk. Mas como Xn´e compacto,
f (Xn) ´e tamb´em compacto, o que implica que seja fechado em Yk. Como Yk ´e
conexo, sendo f (Xn) simultaneamente n˜ao vazio, aberto e fechado em Yk, tem-se
f (Xn) = Yk. Logo, f ´e sobrejectiva.
Teorema
Seja f : Xn → Yn um difeomorfismo local duma variedade compacta Xn noutra
variedade conexa Yn. Ent˜ao todas as pr´e-imagens f−1(y), com y ∈ Yn, tˆem o
mesmo n´umero finito de elementos. Prova:
Exerc´ıcio 33. Teorema
Seja f : Xn → Yk uma submers˜ao duma variedade compacta Xn noutra variedade
conexa Yk. Ent˜ao todas as pr´e-imagens f−1(y), com y ∈ Yk, s˜ao variedades de dimens˜ao n − k difeom´orficas entre si.
Prova: