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A vivência de estresse na vida acadêmica de estudantes trabalhadores e não trabalhadores de um curso de psicologia, do Sul de Santa Catarina: um estudo comparativo

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A VIVÊNCIA DE ESTRESSE NA VIDA ACADÊMICA DE ESTUDANTES TRABALHADORES E NÃO TRABALHADORES DE UM CURSO DE PSICOLOGIA,

DO SUL DE SANTA CATARINA: UM ESTUDO COMPARATIVO1

Beatriz de Oliveira Vargas2 Valdirene Bruning de Souza3 Sâmia Torquato Rahim4

Resumo: A presente pesquisa teve com objetivo geral descrever a vivência de estresse na vida

acadêmica de estudantes de psicologia, trabalhadores e não trabalhadores, das diferentes fases de um curso de psicologia, do Sul de Santa Catarina. Os objetivos específicos foram definidos como: investigar a concepção de estresse para os estudantes; identificar o período do ano em que os estudantes percebem maior presença de sintomas de estresse; verificar o nível de estresse percebido de estudantes trabalhadores e não trabalhadores, das diferentes fases do curso de psicologia, utilizando a Escala de Estresse Percebido (PSS); comparar o nível de estresse percebido nos estudantes dos dois grupos. Foram utilizados dois instrumentos para a coleta de dados: um questionário com perguntas abertas e fechadas e a Escala de Estresse Percebido (PSS), na versão com 10 questões. Participaram 32 alunos estudantes do primeiro ao oitavo semestre de um Curso de Psicologia, compondo uma amostra de aproximadamente 10,3% do total de estudantes presentes no referido curso. Este tipo de pesquisa pode ser classificado como descritiva, quanto ao nível, quanto ao caráter é qualitativa e quantitativa, e quanto ao procedimento, de campo. As respostas dos sujeitos, obtidas através da aplicação da Escala de Estresse Percebido (PSS), foram categorizadas com caráter quantitativo, seguindo as instruções padronizadas dos instrumentos e relacionadas ao referencial teórico pesquisado. Já as respostas obtidas através do questionário foram analisadas qualitativamente a partir da técnica de análise de conteúdo. A análise dos resultados indica que os estudantes trabalhadores vivenciam um nível de estresse percebido maior que os estudantes que somente estudam, embora a diferença na média dos dois grupos tenha sido de 3,3 pontos. Com relação ao questionário, os resultados mostram uma coincidência na percepção de estresse nos mesmos períodos do semestre para ambos os grupos, assim como concepções e vivências semelhantes em relação do estresse. Por esse motivo, considera-se que, embora o trabalho concomitante à graduação indique uma maior percepção de estresse, o mesmo não é a sua única causa nos estudantes, sendo necessário refletir acerca da vivência acadêmica como um todo.

Palavras-chave: Psicologia. Estudantes. Percepção de Estresse.

1Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo.

2Acadêmica do curso de Psicologia: byakpiva@hotmail.com.

3Professora orientadora. Mestre em Educação. Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: valdirene.souza@unisul.br

4Professora co-orientadora. Mestre em Educação. Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: samia.correa@unisul.br

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com Lipp (2003), o estresse é uma tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do corpo, definida como uma reação física e emocional, relacionadas às pressões impostas a um organismo por condições difíceis, chamadas estressoras. Cada indivíduo terá diferentes predisposições biológicas, que estão relacionadas ao modo da aprendizagem que adquiriram desde a infância, dessa forma, cada indivíduo responderá de formas diferentes às situações estressoras.

Algumas situações, como iniciar em um novo emprego, casar-se ou separar-se, nascimento de um filho, sofrer um acidente, perder coisas, esperar em filas, barulhos provocados pelos próprios vizinhos, entre outros, podem ocasionar uma resposta de estresse. (MARGIS et. al, 2003).

De acordo com Alcino (2003), o estresse não é uma doença, sendo necessário que ocorra para que o organismo, em momentos de perigo, possa entrar em estado de alerta. É determinado não somente por fatores externos, mas, por fatores internos, pois, estes muito contribuem para que ocorra o estresse.

Atualmente, pesquisas como a de Filgueiras e Hippert (2007), mostram o adoecimento no trabalho, em que o estresse ocupacional ou profissional, em organizações formais, é cada vez maior, ocasionando diversos riscos à saúde. As situações de estresse no trabalho não estão apenas ligadas com preocupações sociais, mas, também, com interesses econômicos e mercadológicos (JACQUES; CODO, 2007). Quando um trabalhador é saudável psiquicamente, poderá desempenhar cada vez melhor seu papel, se tornando cada vez, mais produtivo e, consequentemente, menor será o índice de afastamentos relacionados ao estresse. Dessa forma, pode-se afirmar que o estresse também está relacionado ao trabalho.

Cabe ressaltar que algumas profissões correm um risco maior de desencadear estresse no trabalhador, por conta das atividades que desenvolvem. A psiquiatra Alexandrina Meleiros afirma que o estresse está mais presente em profissões que lidam com o ser humano, como médicos, professores, jornalistas, policiais, pessoas que trabalham em bolsa de valores, bancos, entre outras profissões, uma vez que são pessoas que não podem falhar (VARELLA, 2012).

Por outro lado, nos dias atuais é cada vez mais necessário investir na qualificação profissional, pois, o mercado de trabalho exige dos trabalhadores conhecimentos e competências que, a partir da qualificação profissional, poderão se concretizar. De acordo com Stryhalski, Gesser e Fischer (2016), com a globalização é necessário, do ponto de vista

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mercadológico, que exista esse novo trabalhador, que acompanhe e atenda a essas rápidas e crescentes mudanças que estão acontecendo na ciência e tecnologia, no setor empresarial.

Por essa razão, é importante que se busque uma formação, sendo que o ensino Superior tem sido um requisito bastante valorizado pelo mercado e procurado pelos indivíduos. Entretanto, para graduar-se no ensino superior, um número maior de exigências e responsabilidades serão impostas ao sujeito no processo de formação. De acordo com Rodiva et al. (2015), o ingresso na vida acadêmica traz diversas mudanças no estilo de vida dos estudantes, desde fatores pessoais, como estar longe de familiares; como morar com outras pessoas que podem não ser de sua família; sua relação com pessoas novas não somente na universidade, mas também no trabalho; compromissos com a vida universitária, sendo estes alguns dos fatores que causam o estresse. Para Filgueiras e Hippert (2007), atualmente, muitos são os acadêmicos que se encontram despreparados para lidar com situações de estresse. Apesar de o estresse ser comum nos dias atuais, até mesmo possuindo uma conotação baseada no senso comum, este ainda é um dos males que mais afetam as pessoas. Além disso, muitos estudantes, para custear o Ensino Superior, trabalham nos mais diversos empregos, tendo assim, uma dupla jornada de atividades, contribuindo com a possibilidade de desenvolver o estresse.

A respeito da disponibilidade de estudos sobre o estresse, na base de dados BVS Psicologia Brasil, com a palavra-chave “estresse em universitários”, obteve-se como resultado (no IndexPsi Periódicos Técnico-Científicos) 02 artigos científicos relacionados com o tema. As pesquisas de Assis et al. (2013),têm como tema os “sintomas de estresse em concluintes do curso de psicologia de uma faculdade privada do norte do país”, em que os resultados apontam uma porcentagem maior de acadêmicos com sintomas de estresse do que os que não apresentaram nenhum sintoma de estresse, trazendo o gênero feminino com maiores níveis de estresse, e a faixa etária entre 36 e 42 anos as mais prejudicadas. Baptista e Campos (2000) têm como tema a “avaliação longitudinal de sintomas de depressão e estresse em estudantes de psicologia”, em que os resultados apontam à tendência a variação nos índices de depressão, pois os sintomas observados caracterizavam estados passageiros, e 46,06% da amostra, se encontravam em alguma das fases de resistência e exaustão.

Das outras pesquisas encontradas, a que mais se aproxima da proposta deste trabalho é a pesquisa de Silva et al. (2016). Esta não foi identificada com a mesma temática, pois, traz a influência do trabalho no nível de estresse em estudantes de psicologia, comparando graduandos que somente estudam e graduandos que também trabalham. Entretanto, a ênfase foi em avaliar somente o nível de estresse, sem investigar a vivência do

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estresse nas diferentes fases do curso ou períodos do semestre e/ou ano, assim, o objeto do qual esta pesquisa se ocupa é descrever a vivência que ocorre com estes acadêmicos, por isso a importância desta pesquisa para ampliar os estudos e trazer dados mais atuais.

A pesquisa de Silva et al. (2016), traz como resultados que o ambiente acadêmico, atrelado ao trabalho, leva ao aumento do estresse já que exige maiores responsabilidades, diversas mudanças e prejuízos que acarretam em diversos sintomas. Estes resultados reforçam a importância da presente pesquisa, pois, a mesma vai ampliar os dados a serem analisados, investigando a vivência de estresse em universitários que cursam Psicologia. Assim, diante do exposto, busca-se, neste trabalho, responder a seguinte questão: Qual a vivência de estresse na vida acadêmica de estudantes trabalhadores e não trabalhadores do curso de psicologia? As vivências, neste trabalho, ganham o sentido das experiências de estresse vividas pelos acadêmicos de psicologia no decorrer do curso sendo estas pessoas que trabalham e que não trabalham.

Neste sentido, outras contribuições possíveis a partir desse trabalho incluem informações que ajudem na reflexão das situações de estresse, podendo fazer com que o indivíduo adote medidas preventivas para enfrentar as situações que causem estresse. Para a Universidade, os resultados podem trazer benefícios, por estimular a adoção de medidas para rever a estruturação da vida acadêmica, contribuindo para amenizar o estresse nos estudantes. Já para a psicologia como ciência e como profissão, também é relevante, pois amplia o conhecimento sobre o tema estresse na formação profissional de psicólogos. Em nível pessoal, a realização deste trabalho tem como resultado a melhoria na qualificação e formação profissional como pesquisadora de psicologia, na área de estresse. Para tanto, propõe-se como objetivo geral descrever a vivência de estresse na vida acadêmica de estudantes de psicologia trabalhadores e não trabalhadores, das diferentes fases do curso. De forma mais especifica, objetiva-se investigar a concepção de estresse para os estudantes de um curso de psicologia; identificar o período do ano em que os estudantes percebem maior presença de sintomas de estresse; verificar o nível de estresse percebido de estudantes trabalhadores e não trabalhadores das diferentes fases do curso de psicologia, utilizando a Escala de Estresse Percebido (PSS) (GPAQ, 2018); Comparar o nível de estresse verificado nos estudantes.

1.1 CONTEXTUALIZANDO O ESTRESSE

Historicamente, o primeiro pesquisador que se referiu ao tema estresse foi o médico Hans Selye, em 1936. Selye foi um médico canadense que procurou definir o termo

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em um sentido mais biológico, como um elemento que se mostra inerente a toda doença, assim, produzindo modificações na estrutura e na composição química do corpo, podendo ser mensuradas e observadas. Dessa forma, propôs a definição de Síndrome Geral de Adaptação (SGA), que é onde o estado de estresse se manifesta, por não ser diretamente observável (FILGUEIRAS; HIPPERT, 2007).

A Síndrome Geral de Adaptação pode ocorrer em três fases, sendo elas a fase de alarme ou alerta, a de resistência, e a de exaustão.

A primeira delas é a fase de alarme ou alerta, caracterizada por manifestações agudas, com a liberação de adrenalina e corticoides. Nesta fase, o organismo apresenta uma reação de luta ou fuga, ou reação de emergência, em que todas as energias são mobilizadas diante de um perigo externo. Esta reação foi descrita por Cannon na primeira metade deste século, com base na noção de homeostase, segundo a qual o organismo funciona de forma a manter o meio interno num equilíbrio constante. A segunda fase da síndrome é a resistência, em que o organismo usa suas forças para manter sua resposta. Nesta fase, as reações são opostas a da fase anterior e muito dos sintomas iniciais desaparecem, podendo ocorrer uma sensação de desgaste. Quando esta situação persiste, ou seja, quando o estressor é continuo, temos a terceira fase, a fase de exaustão, quando o organismo não tem mais como reagir e pode chegar à morte (FILGUEIRAS; HIPPERT, 2007, p.113).

Pensava-se que o estresse se desenvolvia em apenas três fases, os estudos de Lipp (1994 apud SAMPAIO; BENETTI; OLIVEIRA, 2015, p.42) identificaram uma fase denominada como “quase-exaustão”, localizada entre as fases de resistência e exaustão, causa um enfraquecimento nas pessoas que não conseguem se adaptar ou resistir ao um estimulo estressor e, com isso, as doenças começam a aparecer, mesmo assim, a pessoa ainda consegue trabalhar diferente da fase de exaustão. A pesquisadora desenvolveu o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL), para que fosse possível mensurar essas fases.

A partir disso, o termo estresse tem sido muito utilizado na área da saúde, principalmente relacionado ao adoecimento ou regressão do bem-estar do indivíduo. Dessa forma, seu uso está sendo utilizado baseado em uma conotação do senso comum, que se refere aos sentimentos de ansiedade, cansaço, frustração, irritabilidade, entre outros (SOUZA; JUNIOR, 2015).

Pelo fato do termo estresse ser utilizado pelos mais diversos profissionais como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outros, esses, nem sempre, acabam recomendando uma psicoterapia especializada, aconselhando normalmente apenas um tratamento medicamentoso. Com isso, acabam por tratar o episódio presente do estresse, sem procurar

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descobrir suas causas, para que se possam ser adotadas estratégias de enfrentamento, prevenindo futuras ameaças de estresse (LIPP, 2003).

De acordo com Lipp (2003, p. 11), “quem teve uma forte crise de estresse possui uma grande probabilidade de reincidência, a não ser que aprenda a: (1) entender o que o estressou,(2) conhecer sintomas,(3) identificar seus limites de resistências e (4) lidar com suas causas”. Por outro lado, conforme França e Rodrigues (2005), o estresse não é ruim nem bom, sendo um recurso para que a própria pessoa tenha atitudes frente às situações que enfrenta em seu dia a dia. Dessa forma, o estresse acaba sendo ativado pelo próprio organismo, a fim de fazer com que as pessoas enfrentem as situações que acreditem ser difíceis ou que tragam um grande esforço para as mesmas. No mesmo sentido, para Zanelli (2010), o estresse é entendido como uma necessidade de adaptação ou ajustamento frente às pressões que o próprio ambiente impõe.

De forma mais detalhada, Lipp (2003) descreve o estresse patológico como um estado de tensão que ocasiona uma ruptura no equilíbrio do organismo. Todo nosso corpo funciona em certa sintonia, que é chamada de homeostase, assim, quando ocorre o estresse, este equilíbrio é quebrado, não ocorrendo mais o entrosamento dos diversos órgãos do corpo. Cada indivíduo trabalha de formas diferentes para que o problema seja resolvido, pois, alguns órgãos precisam trabalhar mais e outros menos, chamando essa fase de estresse inicial.

É natural que o indivíduo busque restabelecer essa homeostase interior, mas, para que isso ocorra, um grande desgaste e a utilização de energias, tanto físicas como mentais, terá que acontecer. Quando se passa a utilizar estratégias para que esse equilíbrio aconteça, o estresse é eliminado e se volta ao equilíbrio interior. Essa volta ao equilíbrio pode ocorrer quando acontece o término do que ocasiona o estresse, ou quando aprendemos a lidar com as situações que estão causando o estresse (LIPP, 2003).

Assim, “o estresse pode ocorrer como um processo, que seria a tensão diante de uma situação de desafio por ameaça ou conquista” (FRANÇA; RODRIGUES, 2005, p. 33). Mas, pode ocorrer como um estado, que seriam os resultados positivos (chamados de eustress) e os resultados negativos (que seriam distress). Para os mesmos autores (2005), as situações que podem desencadear o estresse são denominadas de estímulos estressores, e a resposta do indivíduo frente a este estímulo, podem ser tanto respostas negativas (como as doenças que seriam um exemplo de distress) ou positivas (como planejar uma festa, que seria um exemplo de eustress). Essas respostas, sejam positivas ou negativas, estão ligadas a interpretação que cada indivíduo faz da situação e, devido a essas interpretações e julgamentos, as emoções são afetadas (ALCINO, 2003).

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Segundo Straub (2014), o estresse já faz parte da nossa rotina, e se não existisse nossas vidas seriam entediantes. Porém, quando sobrecarrega o indivíduo de forma que não consiga enfrentá-lo, pode trazer prejuízos à saúde.

O termo estresse é usado às vezes, para descrever uma situação ou um estimulo ameaçador e, em outras ocasiões, para definir uma resposta a uma situação. Os psicólogos da saúde determinaram que os estressores são eventos ou situações difíceis que desencadeiam adaptações de enfrentamento na pessoa, e o estresse é o processo pelo qual a pessoa percebe e responde a eventos que considera desafiadores ou ameaçadores (STRAUB, 2014, p. 77).

No que se refere ao estresse, cada indivíduo responderá de diferentes formas, um estressor significativo para uma pessoa, pode não ser nada demais para outra (STRAUB, 2014). Para o autor (2014, p. 77), “os processos biológicos que ocorrem quando sentimos estresse podem diferir um pouco conforme a fisiologia singular e os níveis de reatividade fisiológicas singular de cada indivíduo, mas os mesmos processos básicos afetam todos nós”. Afirma, ainda que, “as influências psicológicas afetam a maneira como avaliamos situações desafiadoras seja como controláveis (não estressantes) ou incontroláveis (estressantes), com base em nossas personalidades e experiências de vida” (STRAUB, 2014. p. 77). As influências socioculturais interferem na forma como se avalia o estresse proveniente de diferentes fontes, tais como acontecimentos importantes da vida, catástrofes e acontecimentos do dia a dia envolvendo o ambiente, o trabalho e a família (STRAUB, 2014).

Para Sampaio e Galasso (2005) os indivíduos no processo de suas vidas se organizam para construir e estruturar formas, tanto em termos de corpo como de mente, de responder aos diversos estímulos que podem ser submetidos, sempre procurando manter a homeostase. A presença do estresse é marcada por alguns indicadores, podendo ser físicos psicológicos e sociais. Segundo Cooper e Arlose (1988 apud SAMPAIO; GALASSO, 2005, p.91):

Indicadores de stress: Psicológicos: instabilidade emocional, ansiedade, depressão, agressividade, irritabilidade. Danos físicos: úlceras, alergias, asma, enxaquecas, alcoolismo, disfunções, coronarianas e circulatórias. Sociais: queda do desempenho, profissional, ausências, acidentes, conflitos domésticos, apatia.

Com relação às causas, o estresse pode ser disparado por diversos fatores como: escola, família, amigos, trabalho, morte de algum familiar, aposentadoria, entre outros. A maioria dos estressores chamados “universais” são aqueles eventos que, no geral, são os mesmos para maioria das pessoas, como: morte de familiares, separações, doenças crônicas,

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desemprego e congestionamento de trânsito. Os eventos estressores são definidos como reais, a partir da reação do organismo a este fato, ou seja, o modo como este indivíduo reage à situação (GUIMARÃES, 2003).

Alguns fatores como as regras, quando são seguidas pelos indivíduos e esses não gostariam de estar seguindo, podem levar a consequências danosas, e contribuir para que os mesmos passem a não buscar seguir regras que levariam à consequências benéficas ou desejáveis (GUIMARÃES, 2003).

“[...] muito do stress que experimentamos é resultado do seguimento de regras por preocupação ou medo, ou pela necessidade de agradar pessoas que podem ter certas expectativas em relação a nosso comportamento” (GUIMARÃES, 2003, p. 67).

Outro fator que contribui para que ocorra o estresse são as formas como os indivíduos se comportam ao longo de suas vidas, baseados em valores e princípios que podem já não serem os mesmos valores, interesses ou objetivos atuais. E acabam por perceber que estão insatisfeitos com estes comportamentos, que são considerados como corretos, mas acreditam que não podem escolher agir de forma diferente (GUIMARÃES, 2003). Por outro lado, no que se refere ao enfrentamento do estresse, existem várias formas.

As várias formas de enfrentar um estressor incluem sua remoção, negação, reavaliação e fuga. Alguns estressores não podem ser removidos porque são externos. Independem da vontade ou ação da pessoa atingida e requerem outra técnica de manejo. Mas quando o controle do estressor está ao alcance da pessoa, como no caso dos estressores associados a valores e princípios, ele pode ser atacado de frente, reavaliado e removido (GUIMARÃES, 2003, p.68).

Dentre as estratégias que podem contribuir para o enfrentamento do estresse está o “coping”, termo compreendido como “enfrentar”, “seguir em frente”. Este é uns dos modelos de Lazarus e Folkman (1984), definido como o esforço cognitivo e comportamental, utilizados pelos indivíduos em situações ou demandas específicas sejam internas ou externas, que provêm de eventos causadores de estresse, sendo avaliadas como sobrecargas ou excessos aos recursos pessoais(CANO; MORÉ, 2016).

O modelo de Lazarus e Folkman é divido em duas categorias funcionais, chamadas de coping focado nas emoções e coping focado nos problemas. (GADANHO, 2014). O coping focalizado nas emoções se define pelos esforços que o indivíduo faz para regular seu estado emocional, visando a alterá-lo. O coping focalizado no problema é o esforço que o indivíduo faz para alterar a situação geradora de estresse, buscando modificá-la (CANO; MORÉ, 2016).

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Outras estratégias para o enfrentamento do estresse são os recursos que a psicologia traz, a exemplo da terapia cognitivo comportamental, que possui técnicas que promovem a amenização dos sintomas e tratamento, evitando, assim, que o estresse se agrave (ROCCO; MORGADO, 2014).

Considerando essas questões, a partir do momento que o estresse se instala no indivíduo e não acontece o tratamento, os sintomas podem se agravar, por isso, a necessidade de buscar estratégias de enfrentamento adequadas (ROCCO; MORGADO, 2014).

1.2 RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E TRABALHO

A idéia de trabalho, para muitos dos indivíduos, pode se basear em conotações aversivas, que trazem sentimentos que lembram tortura ou sofrimento, como a própria etiologia da palavra sugere (ZANELLI, 2010).

Grande parte da vida do ser humano ele passa trabalhando. No mundo capitalista, a força do seu trabalho é como uma mercadoria que irá depender da qualidade e da quantidade, suprindo as necessidades que os indivíduos possuem, mas, também, podendo acarretar em prejuízos à integridade física, psíquica e social desses trabalhadores (SOUZA; JUNIOR, 2015).

Os hábitos de vida constituem um dos maiores fatores responsáveis pelo nível de qualidade de vida do ser humano. Distresse, depressão, ansiedade, dentre outras doenças de fundo claramente emocional, e hipertensão arterial, obesidade e diabetes, nas quais os aspectos emocionais muitas vezes estão presentes, de modo até imperceptível, todas têm em sua gênese e manutenção um fator em comum, que é, sem dúvida, o conjunto de hábitos de vida típica da pessoa (ZANELLI, 2010, p. 31).

Nas organizações, o estresse pode ser manifestado de diversas formas, tanto pelos gestores como pelos demais trabalhadores. Esse desgaste, traz consigo consequências não apenas para o indivíduo e sua família, mas no modo como indivíduos se relacionam com as pessoas da organização em que trabalham.

As políticas de uma organização e o modo como a gestão de pessoas é conduzida, pode facilitar ou dificultar a saúde e a qualidade de vida dos empregados. O modo como as organizações são conduzidas podem trazer, ou não, a participação dos próprios trabalhadores, reforçar ações participativas, e a busca de autonomia, em contextos em que esta abertura seja permitida, por meio do diálogo, que proporciona relações transparentes. O estresse no ambiente de trabalho é facilmente identificado, e não somente o estresse deve ser controlado,

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mas outros fatores que tragam algum prejuízo para a saúde, e integridade física do trabalhador (ZANELLI, 2010).

[..] ausência ou redução de autonomia, ambiente físico precário, sobrecarga de trabalho ou exigências aquém das qualificações, tarefas repetitivas ou sem sentido, papéis indefinidos ou ambíguos, conflitos interpessoais, desajustes entre trabalhador e a administração, trabalhos constantemente transferidos para o ambiente do lar, insatisfações, inseguranças, e falta de perspectivas de carreira estão entre os aspectos do ambiente de trabalho que podem prejudicar a saúde do trabalhador (ZANELLI, 2010, p.48).

Para este, o mesmo autor (2010), dentre os fatores que podem ocasionar o estresse, estão presente as injustiças percebidas pelos próprios indivíduos da organização, e podem contribuir para o desencadeamento do estresse emocional no trabalhador, fazendo com que tenham dúvidas em relação à sua própria capacidade de enfrentar as situações que lhe são impostas e, consequentemente, contribuindo para uma percepção de luta perdida.

Além disso, outros fatores como as incertezas contribuem no processo de estresse, sendo este um dos sentimentos mais comuns na sociedade nos dias de hoje, e que está profundamente ligado ao trabalho. Incertezas sobre continuar no emprego, sobre salário, são uma angústia que ameaça o que só se conseguiu com muito esforço e sofrimento (FRANÇA; RODRIGUES, 2005).

Assim, quando o estresse está presente na vida dos indivíduos, provoca a diminuição na qualidade de vida, e seus comportamentos acabam sendo afetados, sobretudo no âmbito profissional. De todas as atividades exercidas pelos seres humanos, o trabalho acaba tendo um papel de destaque por ser uma atividade da espécie humana, estando presente a consciência e a intencionalidade (CARDOSO et al., 2014). Para combater o estresse não somente o indivíduo deve mudar, as organização de trabalho também precisam rever seus processos, pois como as organizações têm seus valores, o indivíduo traz consigo, os seus valores e quando não entram em acordo podem gerar conflitos (ZANELLI, 2010). Os estressores ocupacionais precisam ser reconhecidos e minimizados, pois afetam a saúde e bem-estar dos indivíduos, minimizando tanto seu comprometimento no trabalho, como sua satisfação em exercer suas atividades, impactando na qualidade de vida do trabalhador (CARDOSO et al., 2014).

No que diz respeito à promoção da qualidade de vida no trabalho, traz diversos benefícios para os indivíduos, como uma maior resistência ao estresse, uma maior estabilidade emocional, um melhor rendimento no trabalho, uma melhor imagem de si próprio e melhoras em seus relacionamentos. Segundo Souza e Júnior (2015), traz benefícios também

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para a empresa, faz com que os indivíduos tenham uma força de trabalho mais saudável, diminuindo a rotatividade e acidentes.

1.3 QUESTÕES ACERCA DO TRABALHO NA ATUALIDADE E O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

O trabalho humano, ao longo do tempo, passou por diversas transformações. Atualmente, percebe-se algumas características marcantes em sua configuração, tais como a divisão entre trabalho e emprego, trabalho formal e informal, competitividade, globalização, crises políticas, entre outros. Todas essas características têm um impacto direto na qualidade de vida do trabalhador e, por consequência, na sua saúde física e mental (PIGNATA; CARVALHO, 2015).

O avanço tecnológico vem trazendo constantes mudanças no mundo do trabalho, entre elas, e talvez a mais evidente, está a globalização, por estar cada vez mais presente na vida das pessoas, afetando diretamente o mercado de trabalho.

A globalização é um fenômeno político, econômico, tecnológico e cultural que desencadeou a ruptura das barreiras territoriais, a internacionalização e a difusão do conhecimento e da informação em nível global, pelo avanço e desenvolvimento dos meios de comunicação, cujas consequências positivas são importantes conquistas, mas que as negativas pressupõem análise e medidas inibitórias e de combate (SOUZA; OLIVEIRA, 2016, p.156).

Neste mundo globalizado, o consumo é cada vez mais valorizado, pois, se tem a ideia de quanto mais se têm, mais fácil será a inclusão social. Muitas são as pessoas que passam a consumir de forma exagerada até como forma de alivio de tensões enfrentadas ao longo de sua vida. As pessoas se sentem mais satisfeitas se acompanharem este mundo de consumo, onde as publicidades e as propagandas incentivam ao consumismo (SOUZA; OLIVEIRA, 2016).

O fenômeno da globalização atingiu as relações sociais e econômicas, transformou os métodos de produção, promoveu a integração dos mercados, a internacionalização (ou transnacionalização) das empresas e dos mercados financeiros e fomentou uma verdadeira revolução tecnológica; vivemos em uma sociedade globalizada, estruturada em bases tecnológicas de informação e comunicação, cujas engrenagens são os consumidores que movimentam a máquina: capitalismo (SOUZA; OLIVEIRA, 2016, p.160).

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Novas formas de gestão por partes das empresas devem ser instaladas para que consigam, não apenas a sobrevivência no mercado de trabalho, mas sejam estimuladas a buscar sempre algo novo e, consequentemente, se sentirem menos ameaçadas no mercado. Esse processo afeta diretamente o trabalhador, que passa a ser exigido ao máximo e, com isso, a qualificação profissional se torna essencialmente sua responsabilidade e, ao mesmo tempo, requisito de trabalho.

De acordo com Carvalho (2017), a qualificação profissional é uma possibilidade de colocação que os indivíduos têm no mercado de trabalho, que faz com que se fortaleçam e se potencializem como trabalhadores. Dessa forma, os que procuram a qualificação profissional, se afirmam de modo mais preciso nas sociedades capitalistas atuais, tendo menos chances de serem descartáveis.

Uma das principais fontes de qualificação profissional é a formação de ensino superior. Quando os indivíduos passam a buscar qualificação profissional, por meio das universidades, esperam que a formação superior lhes assegure uma melhor colocação profissional, pois as mesmas visam a preparar os estudantes para o mundo atual. De acordo com Soares (2002), a formação superior é vista como uma forma de ascensão social para os jovens de famílias pobres. Consequentemente um dos dilemas muitas vezes é justamente fazer uma escolha profissional, pois a mesma envolve a construção de uma identidade profissional, bem como o retorno financeiro (BRASIL et al., 2012). Assim, criam-se expectativas de que a formação superior terá como consequência uma melhor remuneração.

No entanto, a questão da formação no Ensino Superior também é visível em famílias com uma situação financeira favorecida. Com o passar dos anos, escolher ou não cursar o ensino superior em determinadas classes sociais e famílias, é uma possibilidade praticamente inexistente, os jovens são basicamente obrigados a prestar vestibular (SOARES, 2002).

Historicamente, no Brasil foram fundadas as primeiras escolas de ensino superior com a chegada da família real portuguesa ao país, no ano de 1808. No mesmo ano, foram criadas as escolas de Cirurgia e Anatomia, em Salvador, onde hoje é a Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, e a de Anatomia e Cirurgia, no Rio de Janeiro que é a atual Faculdade de Medicina da UFRJ, e a Academia da Guarda Marinha, também localizada no Rio de Janeiro (MARTINS, 2002).

Ao longo do tempo, o ensino superior brasileiro foi se diversificando e se ampliando. O acesso às universidades era restrito às camadas econômicas mais privilegiadas, até o final do século XX. Já nas duas últimas décadas, a educação superior brasileira teve

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aumento sob todos os aspectos, cresceu o número de instituições, os cursos, as vagas, os ingressantes, as matrículas e seus concluintes (RISTOFF, 2014).

A educação superior nas últimas décadas no Brasil, passa a ser vista como um sistema de educação superior de massas, que possui um público predominantemente jovem. De acordo com Ristoff (2014, p. 726), “[...] dados recentes do Censo da Educação Superior mostram que cerca da metade dos 7 milhões de estudantes têm mais de 20 anos de idade e que, destes, cerca de 600 mil têm mais de 40 anos de idade”.

Quanto à forma, em nosso país o ensino superior é oferecido por diversas instituições de ensino, tais como universidades, centros universitários, faculdades, institutos superiores e centros de educação tecnológica. Quanto à formação oferecida, tem-se o bacharelado, licenciatura e formação tecnológica (os chamados tecnólogos). No que se refere aos cursos de pós-graduação, tem-se opções como especializações, mestrados, doutorado. As modalidades de ensino superior são o ensino presencial (predominante) e o ensino à distância (BRASIL, 2007).

Com relação às possibilidades de acesso ao ensino superior, podem ocorrer de diversas formas como: Vestibular, Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), Avaliação Seriada no Ensino Médio. Já outras faculdades e universidades optam por processos que utilizam entrevistas ou informações pessoais e profissionais dos próprios candidatos (BRASIL, 2007).

Com relação às exigências que caracterizam o Ensino Superior, vão muito além das atividades em sala e aula e avaliações tradicionais como as provas. De acordo com o parecer CNE/CES nº 8/2007, os estágios e atividades complementares dos cursos de graduação dos bacharelados na modalidade presencial, não poderão exceder a vinte por cento (20%) da carga horária total do curso, a não ser em casos de determinações legais em contrário. As instituições de Educação Superior deverão fixar tempos mínimos e máximos de duração dos cursos, tendo como base algumas orientações como: a de que a carga horária dos cursos ofertados devem ser atendidos nos tempos fixados da Lei nº 9.394/96, com no mínimo 200 (duzentos) dias de trabalho acadêmico efetivo, a duração dos cursos deve ser estabelecida por carga horária total curricular, sendo contabilizada em horas e devendo constar no Projeto Pedagógico do curso. Já os limites de integralização dos cursos devem ser fixados com base na carga horária total computada nos respectivos Projetos Pedagógicos do curso, de acordo com os limites estabelecidos nos exercícios e cenários do parecer CSE/CES nº 8/2007. Neste documento é determinado que a carga horária mínima de integralização seja de 2.400 horas para cursos de 3 (três) ou 4 (quatro) anos, e a carga horária mínima de integralização seja de

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2.700 para cursos de 3,5 (três e meio) e 4 (quatro) anos. Para os cursos de quatro anos, a carga horária mínima de integralização fica entre 3.000 e 3.200 horas, enquanto que a carga horária mínima de integralização, entre 3.600 a 4.000 horas, fica estabelecida para cursos de 5 (cincos) anos. Por fim, para os cursos de seis anos, a carga horária mínima de integralização é de 7.200 horas (BRASIL, 2009). A carga horária não é a única preocupação na elaboração e desenvolvimento dos cursos superiores. A qualidade da formação também passa por outras questões.

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trata da educação superior no capítulo IV, nos artigos 43º a 57º. Estabelece, por finalidade do ensino superior, estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica; promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos; suscitar o desejo de aperfeiçoamento cultural e profissional; estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular, os nacionais e regionais; promover a extensão, dentre outros (NEVES, [2003?], p.8).

Assim, dentro das condições estabelecidas nacionalmente, ainda sem considerar os estágios, avaliações e outras atividades, percebe-se que as exigências para os cursos superiores e, por consequência, para os estudantes, podem levar à condições de funcionamento que tendem a favorecer a sobrecarga, especialmente, para os estudantes que são simultaneamente trabalhadores.

Por isso, a realização de uma escolha consciente em relação à profissão é fundamental, pois, pode levar a maiores conhecimentos sobre a forma de sua atuação, estabelecendo uma relação mais próxima com as próprias universidades, podendo desta forma reivindicar mudanças, alterações curriculares e estruturais da própria universidade (SOARES, 2002).

1.3.1 A graduação em Psicologia

No que se refere ao objeto de estudo desta pesquisa, isto é, a graduação em psicologia, compreende-se que esta é considerada uma ciência que se ocupa em estudar o comportamento humano, levando em conta os aspectos biológicos, afetivos, cognitivos e sociais dos indivíduos. O profissional psicólogo é responsável por diagnosticar, prevenir e tratar os mais diversos transtornos mentais, distúrbios emocionais e de personalidade. Os profissionais formados atuam em clínicas, consultórios particulares, escolas, empresas,

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instituições públicas e privadas, hospitais, postos de saúde, esporte, entre outros (UNISUL, [201-]).

A carga horária mínima legal do curso é de 4000 horas. Entretanto, o curso que será objeto de estudo da presente pesquisa tem a carga horária total de 4020 horas, com duração de cinco anos (UNISUL, [2016?]).

Neste curso, a prática acontece por meios das diversas atividades e estágios previstos no projeto pedagógico e supervisionados pelos professores. Algumas delas são desenvolvidas no Serviço de Psicologia, que é a clínica escola do curso (UNISUL, [201-]). Atendendo às recomendações da Resolução CNE/CES nº 5 (BRASIL, 2011), o formado no curso de Psicologia da Unisul deve apresentar algumas competências para sua formação profissional.

Intervir em todos os grupos sociais, incluindo-se os grupos e instituições que constituem as classes socioeconomicamente excluídas; Intervir criticamente, considerando as características histórico-sociais com as quais se defronta, garantindo compromisso ético e social; Promover o bem-estar físico, social e emocional das pessoas, dos grupos e das organizações, bem como para o desenvolvimento social, econômico e cultural das comunidades; Aprender de forma autônoma, contínua e crítica de forma a desenvolver permanentemente sua formação profissional; Intervir e pesquisar sobre fenômenos e processo psicológico; Apreender e compreender a realidade social na qual se insere; Promover intervenções baseadas em perspectiva de trabalho interdisciplinar e multidisciplinar; Respeitar os princípios éticos e científicos de sua categoria profissional; Avaliar e implementar estratégias de intervenção adequadas à melhoria das condições de vida das pessoas (UNISUL, [2016?], p. 7).

Sendo assim, percebe-se que as diretrizes que regem o curso de Psicologia estão adequadas ao que é estabelecido nos documentos de referência nacional do Ministério da Educação.

2 MÉTODO

Esse estudo compreende uma pesquisa descritiva, de campo e com caráter quantitativo e qualitativo. De acordo com Gil (2008, p. 28), a pesquisa descritiva “têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, nível de renda, estado de saúde física e mental etc.”. A pesquisa é classificada como uma pesquisa de campo, e de acordo com Rauen (2015), é aquela que proporciona uma observação dos fenômenos e dos fatos, de uma forma mais direta,

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possibilitando uma coleta de dados em que se compreenda e explique o fenômeno pesquisado. No aspecto quantitativo, conforme Fonseca (2002, p. 20), “a pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros”. Neste estudo, foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados que contemplam tais características: um questionário misto de perguntas abertas e fechadas e a Escala de Estresse Percebido (PSS) (GPAQ, 2018). O questionário, bem como PSS, tem um caráter quantitativo em sua constituição. Entretanto, no caso da presente pesquisa, a análise dos resultados que o questionário trouxe foi qualitativa, uma vez que os resultados alcançados foram analisados sob o ponto de vista de seus significados e relações com o referencial teórico utilizado. De acordo com Richardson (2011, p.79-80), a pesquisa qualitativa refere-se “a busca por uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais dos fenômenos”.

Com relação aos participantes, a pesquisa foi realizada com estudantes do curso de psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina. O curso de psicologia possui 309 alunos, desses alunos, incluem-se os que trabalham e que não trabalham como participantes da pesquisa. Excluem-se como participantes aqueles que não estiverem cursando psicologia, aqueles com idade abaixo de 18 anos e sujeitos que estejam fazendo estágio não obrigatório. No entanto, foram excluídas as turmas do último ano do curso, por se considerar que as mesmas vivenciam situações muito semelhantes à da pesquisadora, podendo interferir nos resultados.

Os participantes da pesquisa foram escolhidos em uma amostra definida por acessibilidade, na qual a pesquisadora solicitou a participação de voluntários, estabelecendo um número de 02 estudantes que trabalham e 02 estudantes que não trabalham, em cada turma compondo o grupo de 32 alunos do primeiro ao oitavo semestre do curso de psicologia, totalizando 10,3% do total de estudantes.

Assim, trata-se de uma amostra não probabilística por acessibilidade, pois esta é considerada a que possui menos rigor estatístico, buscando elementos a que se tem acesso, sendo aplicado em estudos exploratórios ou qualitativos (GIL, 2008). Os participantes foram da própria Universidade do Sul de Santa Catarina, em que a pesquisadora estuda e faz o mesmo curso, possibilitando o contato mais direto com os pesquisados.

No que se refere aos instrumentos e procedimentos, os dados foram coletados através de um questionário misto com perguntas abertas e fechadas e a Escala de Estresse Percebido (PSS) (GPAQ, 2018). O questionário que foi aplicado visa obter informações sobre

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a percepção dos sujeitos sobre o estresse, assim como as fases do curso em que vivenciam um maior estresse. Para Gil (2002), o questionário é constituído por questões que são respondidas de forma descritiva pelos participantes; a formulação do questionário visa a traduzir os objetivos da pesquisa em itens bem redigidos.

Quanto à escala utilizada, esta foi proposta por Cohen et al. (1983 apud LUFT et al., 2007) denominada Perceived Stress Scale (PSS – Escala de Estresse Percebido), mede o grau no qual os indivíduos percebem as situações como estressantes. Inicialmente, foi apresentada com 14 itens (PSS 14), porém, também foi validada com dez (PSS 10) e quatro questões (PSS 4). Esta última é usada para pesquisas por telefone. A versão utilizada neste estudo é a composta por 10 questões, escolhida por estar presente em estudos de validação de uma versão brasileira, disponível na pesquisa de Reis e Petroski (2004), utilizada como referência na análise dos resultados da escala.

Para Luft et al. (2007, p. 608), que conduziram outro estudo de validação da escala para a língua portuguesa, “a PSS é uma escala geral, que pode ser usada em diversos grupos etários, desde adolescentes até idosos, pois não contém questões específicas do contexto.” Além disso, a escala permite “verificar o quanto imprevisível, incontrolável e sobrecarregada os respondentes avaliam suas vidas. Estes três fatores têm sido considerados como componentes centrais na experiência de estresse” (LUFT et al., 2007, p. 608)

Quanto à coleta de dados, esta foi realizada no mês de abril do ano de 2018, após contato e autorização da coordenação do curso de psicologia. Foram definidas as datas, e a pesquisadora passou nas salas de aula do curso, convidando a participar da pesquisa, quatro voluntários por turma, sendo dois estudantes trabalhadores e dois não-trabalhadores.

A pesquisa teve como princípios éticos as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, dispostas na Resolução CNS 466/12, do Conselho Nacional da Saúde (CNS), e os estabelecidos pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, à qual foram encaminhadas cópias desta investigação científica, com vistas ao conhecimento, à aprovação e à liberação do projeto para a concretização do mesmo nos trabalhos de campo, tendo sido aprovada no mês de abril de 2018, como etapa anterior à coleta de dados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados da presente pesquisa foram analisados a partir dos objetivos específicos da mesma, tendo sido feitos quadros para apresentação dos dados. O primeiro quadro é

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referente ao primeiro objetivo específico, apresenta a concepção de estresse para os estudantes de um curso de psicologia.

Quadro 1 - concepção de estresse para os estudantes de um Curso de Psicologia do sul de SC.

Categoria

Trabalham trabalham Não

Frequência Frequência Sentimentos negativos de difícil controle causado por alguma

situação preocupante.

0 5

Fase de mudança na rotina devido ao acumulo de tarefas a serem realizadas acompanhadas de um sentimento de incapacidade, causando esgotamento emocional, físico e mental que dificultam a vida diária.

11 5

Situações desconfortáveis que resultam na mudança de humor, comportamento e padrão de sono (agressividade, impaciência, irritabilidade, ansiedade).

7 4

Fonte: Pesquisa realizada pela autora, 2018.

Observando-se o Quadro 01 percebe-se que estes dados estão semelhantes ao que os autores afirmam, levando-se em conta a primeira categoria que trata o estresse como uma “ sentimento de difícil controle causado por alguma situação preocupante”, Straub (2014) afirma que os fatores psicológicos estão diretamente ligadas a como avaliamos as situações seja elas controláveis (não estressantes) ou incontroláveis (estressantes), e que o estresse é ativado pelo nosso próprio organismo para que seja possível enfrentar situações difíceis ou que tragam grande esforço.

Já para Lipp (2003), todo nosso corpo funciona em sintonia que é chamado de homeostase interior, sendo natural que o indivíduo ao estabelecer sua homeostase, tenha um grande desgaste e utilize energias, tanto físicas como mentais, para que isso possa ocorrer. O que pode ser relacionado à categoria de “fase de mudança na rotina devido ao acúmulo de tarefas”, pois, devido à demanda de tarefas que a faculdade traz, é preciso que a organização de uma rotina diária aconteça, para que seja possível se dar conta das atividades, assim como demonstra o quadro em que onze dos que responderam trabalham, mobilizando, desta forma, maiores energias para que isto seja possível. A autora também diz que o estresse é uma tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do corpo, sendo definida como reação física e emocional ocasionadas por pressões que são impostas a um organismo, por meio de condições difíceis chamadas de estressoras, confirmando o dado acima, em que o estresse é um esgotamento físico, mental e emocional.

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No que diz respeito à última categoria Souza e Junior (2015) afirmam que o estresse tem tido um uso baseado em uma conotação do senso comum, se referindo aos sentimentos de ansiedade, irritabilidade, cansaço, frustração, entre outros. Quando é trazida a ideia de que o estresse “resulta na mudança de humor, comportamento e padrão de sono”, se remete ao que Cooper e Arlose (1988 apud SAMPAIO; GALASSO, 2005, p.91) afirmam, em que a presença do estresse é marcada por alguns indicadores, podendo ser físicos, psicológicos e sociais. Nos psicológicos, encontram-se a ansiedade, agressividade, irritabilidade, depressão entre outros. Tais sintomas, às vezes são confundidos com reações comuns diante de algum fato estressor, mas não caracterizam o estresse patológico.

Por outro lado, quando questionados sobre já terem vivenciado sintomas de estresse durante a faculdade, a maioria dos estudantes responderam afirmativamente: dos 32 pesquisados, 29 disseram que sim e 03 disseram que não.

Os sintomas que mais foram citados pelos estudantes correspondem aos sintomas emocionais como: irritabilidade, incapacidade, impaciência, entre outros. De acordo com Alcino (2003), as respostas que cada indivíduo apresenta, em alguma situação, sejam positivas ou negativas, estão ligadas à sua maneira de interpretação, sendo assim cada indivíduo responderá de formas diferentes para a mesma situação, e devidos a essas interpretações e julgamentos as emoções são afetadas.

Na sequência, o quadro apresentado está de acordo com o segundo objetivo específico da pesquisa, sobre o período do ano em que os estudantes de um curso de psicologia percebem maior presença de sintomas de estresse.

Quadro 2 – Período do ano que os estudantes percebem maior presença de sintomas de estresse

Trabalhadores Não trabalhadores

Meio de semestre Final de semestre Semana de provas/ trabalhos Meio de semestre Final de semestre Semana de provas/ trabalhos 04 10 02 02 09 05

Fonte: Pesquisa realizada pela autora, 2018.

O Quadro 2 demonstra que a vivência de estresse em relação ao período do ano está coerente com que os pesquisados afirmaram no Quadro 1, uma vez que a categoria mais citada nesse quadro, pelos estudantes não trabalhadores, relata o estresse como “Um sentimento negativo de difícil controle resultante de situações preocupantes”, enquanto que a maioria dos estudantes trabalhadores, define estresse como “Fase de mudança na rotina

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devido ao acúmulo de tarefas a serem realizadas acompanhadas de um sentimento de incapacidade, causando esgotamento emocional, físico e mental que dificultam a vida diária”. Nesse sentido, no Quadro 02, a categoria “Final de semestre” foi a mais frequente para os estudantes no geral (trabalhadores e não trabalhadores). Considerando a carga-horária e o calendário acadêmico, acredita-se que, no final do semestre há uma quantidade maior de atividades a serem realizadas, caracterizando, assim, tanto uma mudança na rotina quanto uma situação preocupante.

Também no Quadro 02, 06 estudantes compreendem que a partir do meio do semestre, começa a percepção de estresse aumentada. Acredita-se que a partir desse período do semestre, iniciam-se as atividades avaliativas e, com isso, surgem às mudanças na rotina e a preocupação referida na primeira categoria do Quadro 01 (que posteriormente se intensificam no final do semestre). Possivelmente, os estudantes se sentem inseguros quanto a não conseguir se organizar para entregar as atividades propostas.Os 06 estudantes que apontam o meio do semestre como período de maior estresse, 04 são trabalhadores. Acredita-se que a frequência maior, nesAcredita-se caso, é pelo fato de possivelmente terem um tempo menor no dia a dia para se dedicar aos estudos em sua rotina. Por outro lado, ainda no Quadro 2, há 02 estudantes não trabalhadores que têm a percepção de estresse maior a partir do meio do semestre. Também foi referido pelos estudantes não trabalhadores, com maior frequência, do que pelos estudantes trabalhadores, que a Semana de provas e trabalhos traz uma percepção maior de estresse. Sendo assim, o fato de não trabalhar não isenta os estudantes da percepção de estresse.

Sobre isso, Straub (2014) afirma que com relação ao desenvolvimento do estresse, cada indivíduo responde de forma diferente a uma mesma situação, o que pode ser extremamente estressor para uma pessoa, pode não ter significado estressor nenhum para outra. O autor ainda afirma que é necessário que ocorra o estresse, pois é através do mesmo que somos impulsionados a resolver situações (STRAUB, 2014).

Neste caso, é visível o quanto, não somente o fato de trabalhar, aumenta a preocupação quanto à entrega das atividades acadêmicas, pois as duas categorias de maior frequência para os trabalhadores e não trabalhadores são as mesmas, bem como o valor da frequência não se diferencia muito entre os pesquisados. Assim, o trabalho parece não ser um fator de diferenciação na vivência de sintomas de estresse, nestas fases do ano letivo (meio e final do semestre), mas, sim, as exigências da vida acadêmica em si.

Acredita-se que o fator diferenciador nesse caso é a pressão sentida pelos estudantes na avaliação das suas tarefas, isto é, o fato de estar sendo avaliado por meio delas e

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precisar atingir uma nota mínima como desempenho. Neste sentido, os fatores estressores que são os mesmos para a maioria das pessoas, são chamados de “universais”. O que leva o indivíduo a considerar estes fatores como reais e a maneira como irá reagir a esta situação, terá com base suas experiências vividas ao longo de suas vidas. O fato de trabalhar ou não trabalhar acaba não sendo, muitas vezes, um fator de diferenciação, mas a maneira como estes indivíduos se comportam frente às situações de exigência da vida acadêmica (GUIMARÃES, 2003).

Para complementar a análise, na sequência, apresenta-se o resultado obtido a partir da utilização da Escala de Estresse percebido pelos Estudantes. Vale ressaltar que a aplicação desse instrumento ocorreu no mês de abril de 2018, que corresponde, aproximadamente, ao meio do primeiro semestre letivo do ano, no qual as atividades de avaliação e provas já tiveram início.

Quadro 3 – Nível de estresse percebido dos estudantes trabalhadores e não trabalhadores das diferentes fases de um Curso de Psicologia do sul de SC utilizando a Escala de Estresse Percebido (PSS) (GPAQ, 2018).

Sujeitos Pontuação Média na escala de estresse percebido

Trabalhadores 26,4

Não trabalhadores 23,1

Fonte: Pesquisa realizada pela autora, 2018.

Conforme Soares (2002), o mundo do trabalho contemporâneo está exigindo cada vez mais trabalhadores qualificados e capacitados no mercado de trabalho, e esta realidade coloca o trabalhador em um estado de alerta quanto a buscar um ensino superior. Desta forma, tanto o estudo quanto o trabalho, ao longo do tempo, se tornaram elementos de caráter fundamental para que seja possível obter uma estabilidade financeira e um futuro melhor. O quadro 03 demonstra que os estudantes trabalhadores têm uma vivência de estresse maior, comparado aos estudantes que não trabalham e somente estudam. Entretanto, embora haja uma diferença, as duas médias são próximas, pois, a diferença entre elas é de 3,3 pontos. Assim, pode-se afirmar que os estudantes trabalhadores têm uma percepção maior de sintomas de estresse, mas que essa diferença não é tão distante da média dos não trabalhadores, confirmando as discussões dos quadros anteriores.

Porém, para que se possa avaliar a percepção de estresse dos estudantes pesquisados em relação a outros resultados, foi utilizada a pesquisa de Reis e Petroski (2004),

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como referência, uma vez que os autores realizaram um estudo de validação da escala no Brasil. Seus resultados com indicador de idade para adultos trabalhadores estão apresentados no Quadro 4, a seguir.

Quadro 04: Média brasileira da pontuação na escala de estresse percebido em relação à idade Idade Pontuação média na escala de estresse percebido

18 a 29 anos 21,3

30 a 44 anos 17,8

45 a 54 anos 17,2

55 a 64 anos 14,5

65 anos e acima 15,7

Fonte: adaptação realizada pela autora a partir de Reis e Petroski (2004).

De acordo com Soares (2002), o ingresso no Ensino Superior se dá mais comumente a partir de uma escolha profissional, que é realizada no final da adolescência. Assim, a maioria dos estudantes inicia o curso superior na faixa etária de 18 anos, e com término, normalmente, até a faixa dos 25 anos. A faixa etária dos estudantes que responderam a presente pesquisa corresponde a essa idade, o que reforça os dados apresentados no quadro 03, em que a vivência de estresse entre os 18 e 29 anos é maior do que as demais faixas etárias. A isso atribui-se o fato de ser uma fase em que se concilia os estudos com o trabalho; em que se consolida a preparação profissional e a formalização da idade adulta (SOARES, 2002). Nos resultados encontrados na Escala de Estresse Percebido na presente pesquisa, a percepção de estresse em estudantes trabalhadores é em média de 26,4 pontos, e a de estudantes não trabalhadores é de 23,1 pontos. A pesquisa de Reis e Petroski (2004) foi realizada com sujeitos trabalhadores, por isso, a média de pontuação que apresenta a somatória maior 21,3 representa um nível de estresse mais alto que a média para esta faixa etária de 18 a 29 anos. A partir da validação da escala é possível entender que quanto maior a faixa etária, mais baixa é a pontuação média para a percepção de estresse. Infere-se que pelo fato de as pessoas a partir dos 30 anos terem uma vida concentrada mais para o trabalho e menos para os estudos, uma vez que já passaram da fase de formação profissional inicial, e suas responsabilidades se concentram em uma carreira já iniciada. Sobre isso, França e Rodrigues (2005) afirmam que o estresse pode se caracterizar como um processo, uma reação de tensão diante de desafios, ameaças ou conquistas. Tais características, parecem estar culturalmente mais associadas à faixa etária que compõe comumente os anos universitários.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo apresentado objetivou descrever a vivência de estresse na vida acadêmica de estudantes de psicologia trabalhadores e não trabalhadores, das diferentes fases do curso. Para responder a esta questão, foram utilizados um questionário e uma Escala de Estresse Percebido (PSS), com 16 estudantes trabalhadores e 16 estudantes não trabalhadores, totalizando 32 estudantes.

A pesquisa desenvolveu-se a partir de quatro objetivos específicos, os quais foram alcançados com êxito. O primeiro objetivo específico buscou identificar a concepção de estresse para os estudantes de um curso de psicologia. Através dos dados obtidos, é possível considerar que o estresse para os estudantes pesquisados é um sentimento negativo, de difícil controle, que traz consigo um sentimento de incapacidade ao pensar que se pode, não se dar conta das atividades propostas durante o percurso acadêmico. O estresse leva os acadêmicos à mudanças em suas rotinas diárias para que seja possível cumprir os prazos, evitando o acúmulos de tarefas, mas estas mudanças acarretam em um esgotamento emocional, físico e mental.

No segundo objetivo específico, buscou-se identificar o período do ano em que os estudantes percebem maior presença de sintomas de estresse. Diante dos dados, observou-se o final de semestre é o período que ocasiona maior intensidade de estresse, pois, acredita-se que é neste período que ocorre o maior acúmulo de tarefas que, consequentemente, leva a uma maior mudança na rotina. Além disso, a relação entre as respostas de estudantes trabalhadores e de estudantes não trabalhadores mostra maior percepção de estresse. Porém, não isenta a percepção dos não trabalhadores em relação aos sintomas de estresse neste mesmo período do ano letivo.

No terceiro objetivo específico buscou-se verificar o nível de estresse percebido de estudantes trabalhadores e não trabalhadores das diferentes fases do curso de psicologia, utilizando a Escala de Estresse Percebido (PSS). Observou-se que os estudantes trabalhadores têm um maior nível de estresse percebido, comparados aos estudantes que somente estudam, mas as médias apresentadas são próximas, evidenciando uma alta percepção de estresse para ambos os grupos de estudantes.

No quarto e último objetivo específico buscou-se comparar o nível de estresse percebido pelos estudantes dos dois grupos. A vivência de estresse em estudantes trabalhadores, embora tenha apresentado um maior nível de percepção comparado aos estudantes não trabalhadores, se diferencia por apenas 3,3 pontos. Assim, infere-se que o

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fator trabalho não é o único a interferir em um nível alto de percepção de estresse. Acredita-se que são vários os fatores que podem gerar o estresse e influenciar no desempenho acadêmico, assim, o fator trabalho não se demonstrando um fator significativo por si só. Ressalta-se que cada indivíduo, isoladamente, interpreta os fatores estressores com base em suas experiências adquiridas ao longo da vida, desta forma, aquilo que cada estudante percebe como indutor de estresse também varia, uma vez que o que pode ser altamente indutor de estresse para um, poderá não ter qualquer significado para o outro.

Por outro lado, as médias de percepção de estresse dos dois grupos de acadêmicos, quando comparadas a outros grupos (neste caso, trabalhadores brasileiros na mesma faixa etária), se mostraram acima da média na mesma faixa etária. Observou-se uma diferença de 2,2 pontos em relação à média dos estudantes não trabalham, e de 5,1 pontos em relação aos que trabalham nessa comparação. Esse dado indica que a vida acadêmica, em si, traz uma alta percepção de estresse para estudantes trabalhadores e não trabalhadores, sendo necessário investigar outros fatores além do trabalho concomitante à graduação.

Considera-se que esta pesquisa foi relevante por permitir entender a percepção dos estudantes sobre o tema e a sua vivência de estresse, proporcionando, aos mesmos e às instituições de ensino superior, dados para uma reflexão sobre a questão. Diante dos resultados, pode-se pensar na adoção de medidas preventivas para enfrentar as situações que causem estresse e dificultem tanto a qualidade de vida quanto o desempenho dos acadêmicos, independentemente de serem ou não trabalhadores, pois, apesar de a percepção do estresse em estudantes trabalhadores ter se mostrado mais alta, os que somente estudam também apresentam uma percepção de estresse acima da média para a faixa etária. Além disso, ambos os grupos evidenciam a sobrecarga nos mesmos períodos do semestre, causando sentimentos negativos que geram sofrimento.

Por fim, conclui-se que novas pesquisas deverão ser realizadas, para que seja possível ampliar referências e conhecimento sobre este tema, uma vez que o presente trabalho não teve a intenção de esgotar as discussões, mas, sim, iniciá-las.

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Referências

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