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Violência contra a mulher

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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: MAIS DO QUE O CORPO, MACHUCA A ALMA

Palhoça 2009

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JANAINA ALCIONE CARDOSO

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: MAIS DO QUE O CORPO, MACHUCA A ALMA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.a M.Sc. Janice Merigo.

Palhoça 2009

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JANAINA ALCIONE CARDOSO

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: MAIS DO QUE O CORPO, MACHUCA A ALMA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 23 de junho de 2009.

Prof.a M.Sc. e orientadora Janice Merigo

Prof.a Dr.a Regina Panceri

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Dedico este trabalho à minha família, alicerce da minha vida, e em especial ao meu pai, Matinho Cardoso (in memoriam).

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela minha fé, pelos momentos em que O busquei e me senti confortada.

À minha família, mãe, pai (in memoriam), irmão e cunhada, avós, tios e primos, pelo carinho, incentivo e força, e aqueles que, mesmo distantes, estiveram sempre presentes torcendo pela realização deste sonho.

Ao meu namorado, Carlos, pela sua paciência, compreensão, dedicação, apoio, incentivo e, principalmente, pelo seu amor, por acreditar no meu potencial e por estar sempre ao meu lado nesta caminhada. Te amo mucho, cariño mio, gracias por todo!

Aos meus amigos, pela amizade, carinho e companheirismo, e pelas vezes em que busquei neles uma palavra de conforto em momentos de angústia.

A todos os meus professores do ensino fundamental e médio, da Escola de Educação Básica Frederico Santos (Paulo Lopes, Santa Catarina), em especial aos professores Pedro Baesso e Osório Ricardo, meus grandes incentivadores, por terem me apoiado e acreditado no meu potencial e pela amizade.

À minha orientadora, Janice Merigo, pela competência, orientação, paciência e atenção dispensadas nesta fase de construção deste trabalho, pelo seu apoio e amizade. Obrigada por tudo!

Agradeço às demais professoras do curso de Serviço Social da Unisul, Regina, Vera, Darlene, Andréia e Maria de Lourdes, Jucília (in memoriam), obrigada pelo aprendizado, pela dedicação e por dividir suas experiências.

Agradeço aos meus colegas de turma da Unisul, com quem estive durante os quatro anos de faculdade, com quem participei de momentos que vou levar sempre comigo, mas que, por motivos particulares, não pude concluir o curso e estar com eles na formatura.

E também aos meus colegas de turma da Unisul, que me acolheram nesta etapa de conclusão de curso.

À equipe do Escritório Modelo de Advocacia, pela oportunidade das experiências vivenciadas.

Às minhas colegas de estágio no Escritório Modelo de Advocacia, Gabriela, Dayana, em especial à amiga Cláudia, por todo apoio, escuta e incentivo.

Às minhas supervisoras de campo do Escritório Modelo de Advocacia, pelo aprendizado e oportunidade de compartilhar saberes.

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A todos que de uma maneira ou de outra contribuíram para o meu engrandecimento pessoal e profissional.

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Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria, mistura a dor e a alegria. Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida (Milton Nascimento e Fernando Brant).

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CARDOSO, Janaina Alcione. Violência contra a mulher: mais do que o corpo, machuca a alma. 2009. 106 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2009.

RESUMO

O Serviço Social no espaço jurídico vem se consolidando nos últimos anos, e o Assistente Social contribui nessa área a partir de seu conhecimento teórico-metodológico para a construção de novas alternativas de atuação na área jurídica, tendo como objetivo a garantia de direitos de seus usuários. O Serviço Social, no Escritório Modelo de Advocacia (EMA), tem como finalidade prestar atendimento social aos usuários, bem como integrar as áreas profissionais de Direito e Serviço Social, desenvolvendo um trabalho interdisciplinar em que cada profissional busca contribuir com os conhecimentos específicos de sua disciplina, qualificando seu instrumental técnico-operativo e sendo comprometido com o seu projeto ético-político profissional de garantia de direitos. O projeto de intervenção “Violência contra a mulher: mas do que o corpo, machuca a alma”, que teve como objetivo geral “Informar grupos de mulheres sobre a Lei Maria da Penha no município de Florianópolis, Santa Catarina”, caracteriza-se como a possibilidade de proporcionar espaços de discussão e informação para as mulheres sobre os seus direitos. Diante disso, este trabalho apresenta uma nova proposta de atuação do Serviço Social no EMA, que é de levar informação aos usuários, sendo a orientação e a informação uma das competências do Assistente Social. Enfatiza ainda a violência intrafamiliar e doméstica contra a mulher e sua presença constante na sociedade, e destaca a Lei Maria da Penha, evidenciando-a como um mecanismo de defesa da violência contra a mulher e a importância de sua divulgação. Por fim, apresenta-se o relato da experiência construída no processo de estágio e da execução do projeto de intervenção.

Palavras-chave: Serviço Social. Escritório Modelo de Advocacia. Campo sociojurídico. Violência contra a mulher. Lei Maria da Penha. Informação.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Maria da Penha Maia Fernandes ... 57 

Figura 2 – Momento das apresentações pessoais com o Grupo Mulheres Vitoriosas Seara dos Pobres, Florianópolis, em 2008 ... 65 

Figura 3 – Momentos finais do encontro com o Grupo Mulheres Vitoriosas Seara dos Pobres, Florianópolis, em 2008 ... 68 

Figura 4 – Momentos iniciais do encontro com os pais na IDES/PROMENOR, Florianópolis, em 2008 ... 70 

Figura 5 – Momentos da dinâmica de grupo no encontro com os pais na IDES/PROMENOR, Florianópolis, em 2008 ... 73 

Figura 6 – Momentos da dinâmica de grupo no encontro com os pais na IDES/PROMENOR, Florianópolis, em 2008 ... 74 

Figura 7 – Momentos finais do encontro com os pais na IDES/PROMENOR, Florianópolis, em 2008 ... 75 

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Filhos ... 76 

Gráfico 2 – Quantos filhos ... 76 

Gráfico 3 – Quanto ao tema abordado, você considera ... 77 

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11 

2 RECONHECIMENTO INSTITUCIONAL ... 13 

2.1 Breve histórico do Serviço Social ... 13 

2.2 Serviço Social judiciário e sociojurídico ... 17 

2.3 EMA: um espaço para o Serviço Social ... 27 

3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: SOB O OLHAR DO SERVIÇO SOCIAL ... 41 

3.1 Violência intrafamiliar e doméstica contra a mulher: presença constante em nossa sociedade ... 41 

3.2 Lei Maria da Penha: um marco na violência contra a mulher ... 52 

3.3 A informação por meio da Lei Maria da Penha: relato de experiência ... 61 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 79 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 81 

APÊNDICES ... 87 

APÊNDICE A – Agenda Encontro Seara dos Pobres ... 88 

APÊNDICE B – Agenda Encontro IDES/PROMENOR ... 89 

APÊNDICE C – Ficha de Avaliação ... 90 

APÊNDICE D – Informativo sobre os locais e telefones de denúncia ... 91 

APÊNDICE E – Fôlder sobre a Lei Maria da Penha (parte externa) ... 92 

APÊNDICE F – Fôlder sobre a Lei Maria da Penha (parte interna) ... 93 

ANEXOS ... 94 

ANEXO A – Lei nº 11.340/2006: Lei Maria da Penha ... 95 

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1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, elaborado pela experiência vivenciada no Escritório Modelo de Advocacia (EMA), tem como intuito discutir a violência contra a mulher, considerando-a ser como uma das expressões da questão social na contemporaneidade.

O Escritório Modelo de Advocacia é vinculado à Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), localizado na Unidade da Trajano e Grande Florianópolis, Santa Catarina. O Serviço Social, no Escritório Modelo de Advocacia, presta atendimento social aos usuários, integrando os profissionais de Direito e Serviço Social e desenvolvendo, dessa forma, um trabalho interdisciplinar, em que cada profissional busca contribuir com os conhecimentos específicos de sua disciplina, qualificando seu instrumental técnico-operativo e sendo comprometido com o seu projeto ético-político profissional de garantia de direitos.

O EMA apresenta função acadêmico-social e teórico-prática, de importância tanto para o meio acadêmico, comunidade científica, como também para a sociedade em geral. Trata-se de lugar de exercício prático indispensável à formação integral do aluno.

Ressalta-se que a inserção do Serviço Social no EMA da Grande Florianópolis é recente, aconteceu mais precisamente em 23 de agosto de 2007, com a parceria entre o curso de Direito e o de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina. Diante disso, destaca-se que uma das competências do Assistente Social, segundo a Lei n. 8.662/93, que regulamenta a profissão, é de “orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos” (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993b).

Considerando que o Serviço Social intervém na realidade social por meio de uma abordagem educativa que, como afirma Merigo (2007), vai além dos limites da visão assistencialista e paliativa das situações apresentadas, busca garantir sempre os direitos de dignidade e equidade social do cidadão. Atende a questões que envolvem divórcio, adoção, inventário, guarda e responsabilidade, execução de alimentos, reconhecimento de paternidade, violência contra a mulher e outros temas, em que os estagiários, com a orientação do professor supervisor de campo, vão intervir nas demandas observadas durante as triagens, fazendo os devidos encaminhamentos e, se for preciso, o acompanhamento das famílias atendidas.

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A partir da intervenção realizada, que teve como objetivo geral “Informar as mulheres sobre a Lei Maria da Penha, no município de Florianópolis, Santa Catarina”, é que se configurou o presente Trabalho de Conclusão de Curso. Este trabalho traz como temática a violência contra a mulher, por ser um problema antigo, mas que vem se agravando na sociedade em geral, atingindo as mulheres, independentemente de idade, cor, etnia, religião, opção sexual ou classe social.

O Trabalho de Conclusão de Curso está dividido em quatro capítulos, contando com este de introdução. No segundo capítulo, apresenta-se a instituição, primeiramente se faz um breve histórico do Serviço Social e, em seguida, aborda-se a questão da inserção do Serviço Social no espaço jurídico e sociojurídico, destacando que o Assistente Social contribui nessa área a partir de seu conhecimento teórico-metodológico para a construção de novas alternativas de atuação na área jurídica, tendo como objetivo a garantia de direitos de seus usuários. E ainda, apresenta-se a Universidade do Sul de Santa Catarina como unidade de ensino, pesquisa e extensão. Para concluir este capítulo, aborda-se a inserção do Serviço Social no EMA, onde atua de forma interdisciplinar com o Direito.

No terceiro capítulo, trata-se da violência contra a mulher, enfatizando a violência intrafamiliar e doméstica contra a mulher e sua presença constante na sociedade, destacando-se a Lei Maria da Penha como um mecanismo de defesa da violência contra a mulher e a importância de sua divulgação. Por fim, apresenta-se o relato da experiência construído no processo de estágio e da execução do projeto de intervenção, considerando ser o Serviço Social uma profissão que intervém na realidade social.

No quarto capítulo, são apresentadas as considerações finais a partir do processo construído, as quais servirão para repensar a atuação do Serviço Social no espaço do EMA.

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2 RECONHECIMENTO INSTITUCIONAL

O objetivo deste capítulo é apresentar o espaço institucional, primeiramente trazendo um breve histórico do Serviço Social e, em seguida, abordando a questão da inserção do Serviço Social no espaço jurídico e sociojurídico.

E, por fim, apresenta a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) como unidade de ensino, pesquisa e extensão. Para concluí-lo, aborda-se a inserção do Serviço Social no Escritório Modelo de Advocacia (EMA), onde atua de forma interdisciplinar com o Direito.

2.1 Breve histórico do Serviço Social

Para que seja discutido o Serviço Social jurídico e sociojurídico, é fundamental apresentar brevemente a formação e o desenvolvimento do Serviço Social, a partir da reconstrução de sua trajetória histórica, tendo como parâmetro central a discussão das relações que se estabelecem entre a profissão e a burguesia e as formas de intervenção social no centro do sistema capitalista emergente.

Diante disso, é essencial confirmar que as relações constituídas entre burguesia e profissão durante a sua formação são a questão operária e as refrações da chamada questão social, ou seja, expressões que se apresentam no período em que o capitalismo se tornava mais forte, trazendo grandes prejuízos e descontentamento para a população, que exigia intervenção mais efetiva dos governantes (KOSMANN, 2006).

Entretanto, para compreender a formação da profissão do Serviço Social, é primeiramente preciso delinear os contornos do sistema capitalista e suas maneiras de disposição, ou seja, suas táticas de sustentação para manter sua superioridade. Ao tratar do capitalismo, Martinelli (2001, p. 53 apud KOSMANN, 2006, p. 46) destaca que é um: “[...] modo de produção, profundamente antagônico e pleno de contradições, desde o início de sua fase industrial instituiu-se como um divisor de águas na história da sociedade e das relações entre os homens”.

Ressalta-se que, com a elevação da burguesia, o trabalho livre ganhou novo status e passou a ser uma forma de sobrevivência. Esse é o marco da sociedade burguesa, que se

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organizou “a partir do trabalho, dos meios de produção, das relações trabalhistas e de propriedade ocasionando intensas desigualdades e exclusão de natureza política, social e econômica” (KOSMANN, 2006, p. 46). O ponto de partida, portanto, é entender que o sentido histórico que marca o surgimento da profissão e que fundamenta sua atuação são as relações que permeiam o capital e o trabalho. Contudo, a autora afirma que:

Em tal conjuntura se tem novos modelos de organização da sociedade, decorrentes do avanço tecnológico que marca o século XVIII, como o aparecimento de um mercado em escala mundial, ascensão e dominação da burguesia, êxodo rural com conseqüente inchaço dos centros urbanos, em virtude da inserção de mão-de-obra no meio fabril/industrial, que afetaram drasticamente as condições de vida de uma classe social que desponta, o proletariado (KOSMANN, 2006, p. 46).

Kosmann (2006) ainda destaca que o avanço tecnológico acelerou o processo de industrialização, ocasionando, dessa forma, a massificação nos centros urbanos, os quais não ofereciam estrutura suficiente para acolher o aumento populacional, tendo como consequência uma série de dificuldade de cunho social, tais como habitação precária, falta de escolas, ausência de rede de saneamento básico, péssimas condições de salubridade etc. Como a oferta de mão de obra era significativa e os trabalhadores ainda não estavam totalmente organizados, os salários eram baixos e as condições de trabalho, precárias.

Assim, Martinelli (2000, p. 57) afirma que:

Nessas condições de oferta elástica de mão-de-obra e de uma força de trabalho ainda desorganizada e heterogênea, o domínio do capital sobre o trabalho marcava não só as negociações como a própria vida dos trabalhadores. Durante praticamente toda a primeira metade do século XIX, a burguesia se utilizou de seu poder de classe para manipular livremente salários e condições de trabalho. Apoiando-se em um antigo dispositivo legal, cujas origens remontavam a longínquas épocas da história da humanidade – Estatuto dos Trabalhadores, de 1349, que proibia reclamações de salário e de organização do processo de trabalho – excluía o trabalhador das decisões sobre sua própria vida trabalhista. [...] As alternativas do trabalhador empobrecido, em face das condições de trabalho que os donos de capital estabeleciam, eram sombrias: ou se rendia à lei geral da acumulação capitalista, vendendo sua força de trabalho a preços de concorrência cada vez mais vis, ou capitulava diante da draconiana legislação urbana, tornando-se dependente do Estado e, no mesmo instante, declarado “não cidadão”, ou seja, indivíduo destituído da cidadania econômica, da liberdade civil. A realidade trazida pelo capitalista estava posta e imposta: ou o trabalhador se mercantilizava, assumindo a condição de mercadoria útil ao capital, ou se coisificava, assumindo o estado de “coisa pública” – res publica a que correspondia a perda da cidadania, a “não-cidadania”.

No final do século XIX, a expansão capitalista estava ganhando espaço mundial e os trabalhadores começavam a se organizar coletivamente, obtendo algumas conquistas como: a regulamentação da jornada de trabalho infantil na Inglaterra, em 1850; a jornada de 12 horas

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na França, em 1848; a criação dos Tribunais de Ofício na França e na Inglaterra, em 1850; e o ensino básico assumido pelo Estado como conquista do movimento operário na Inglaterra, em 1870. E ainda outras conquistas, decorrentes do próprio movimento societário, como a Revolução Francesa e os ideais rousseaunianos de comunidade. A burguesia, então, mergulha nos resultados contraditórios de sua forma organizativa, momento em que ela começa a se aproximar da filantropia com o intuito de sustentar a ordem social que vigorava, sendo uma nova forma de controle da classe proletária que aparentava ser menos cruel (MARTINELLI, 2001 apud KOSMANN, 2006).

De acordo com Martinelli (2000, p. 66, grifos no original), o projeto da burguesia resume-se da seguinte forma:

Burguesia, Igreja e Estado, uniram-se em um completo e reacionário bloco político, tentando coibir as manifestações dos trabalhadores eurocidentais, impedir suas práticas de classe e abafar sua expressão política e social. Na Inglaterra, o resultado material e concreto dessa união foi o surgimento da Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869, congregando os reformistas sociais que passavam agora a assumir formalmente, diante da sociedade burguesa constituída, a responsabilidade pela racionalização e pela normatização da prática da assistência. Surgiam, assim, no cenário histórico os primeiros assistentes sociais, como agentes

executores da prática da assistência social, atividade que se profissionalizou sob a

denominação de “Serviço Social”, acentuando-se seu caráter de prática de prestação de serviços.

O Serviço Social surge vinculado aos interesses do sistema capitalista como estratégia de controle social em um cenário histórico com uma identidade atribuída que expressava um resumo dos métodos sociais pré-capitalistas e dos mecanismos e das táticas produzidas pela classe dominante para garantir a marcha expansionista e a decisiva consolidação do sistema capitalista. Nesse contexto de surgimento da profissão, é importante afirmar que tal estratégia da classe dominante deu-se também pela situação socioecônomica a que estava submetida a maioria da população, pois, com o aumento da pobreza na Europa, a Igreja já não dava conta de atender a toda a população empobrecida. A partir disso, o Estado é chamado a intervir, utilizando práticas de assistências como táticas de controle social e mantendo a ordem por meio de uma profissão nascente, ou seja, o Serviço Social (MARTINELLI, 2001 apud KOSMANN, 2006).

Sendo assim, pode-se observar que o Serviço Social, historicamente, passou a ter uma base metodológica e uma especificidade que se constituíram de forma legítima como profissão, inicialmente voltado de forma prioritária para ações junto ao segmento de trabalhadores, com evidência no espaço doméstico, ou seja, intervenções voltadas à vida cotidiana das classes populares (KOSMANN, 2006).

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A autora ressalta ainda que a relevante aproximação com o Estado, antes repelido, como parceiro para a execução de medidas sociais, deu-se quando a profissão passou a abarcar novos espaços institucionais. Após percorrer o início da trajetória histórica da profissão, é necessário compreender como o Serviço Social se consolida no Brasil. O caso brasileiro não foi muito diferente do europeu e do norte-americano no que se refere ao cenário social de nascimento da profissão.

O avanço do processo industrial e a emergente constituição da classe operária organizada, vivendo as conseqüências de uma sociedade capitalista desigual e excludente, fizeram com que o Estado brasileiro passasse a mobilizar a categoria profissional que acaba de surgir para auxiliar no enfrentamento do conjunto de manifestações decorrentes do sistema capitalista (KOSMANN, 2006, p. 53).

No Brasil, o Serviço Social surge como profissão na década de 1930, por meio de uma grande desordem na estrutura política, econômica e social do país, que está sendo afetado em decorrência do avanço e do fortalecimento do capitalismo. Fávero (2005 apud FERRAZ, 2006) afirma que a profissão surge nesse cenário com a finalidade de intervir nas sequências da questão social, tal como se apresentam naquele contexto histórico. Surge pela iniciativa de movimentos leigos de classes dominantes, com vínculos da Igreja Católica, sendo baseada no modelo europeu.

Os anos de 1930 são marcados pela franca expansão industrial e solidificação do modelo urbano-industrial e, consequentemente, tem-se o avanço do movimento operário, que passa a constituir uma latente ameaça aos burgueses e ao Estado. Foi nesse contexto contraditório que se criaram as bases para a institucionalização da profissão.

Portanto, Silva (2002 apud KOSMANN, 2006, p. 53) ressalta que:

A compreensão dessa contradição pode ser buscada no próprio processo de institucionalização e legitimação da profissão do Serviço Social, que, no Brasil, vincula-se à criação e ao desenvolvimento de grandes instituições assistenciais, estatais, paraestatais e autárquicas, a partir da década de 40. A criação dessas instituições ocorre no bojo do aprofundamento do modelo corporativista do Estado e do desenvolvimento de uma política econômica favorecedora da industrialização, adotada a partir de 30. Dá-se, nesse contexto, a supremacia da burguesia industrial, no poder do Estado, aliada aos grandes proprietários rurais, ocorrendo, também, o crescimento do proletariado urbano, em face do desenvolvimento do modelo urbano-industrial e da capitalização da agricultura, com conseqüente liberação de fluxos populacionais.

Segundo Fávero (2005 apud FERRAZ, 2006), o Serviço Social se desenvolveu em bases conservadoras como um tipo de especialização de trabalho coletivo, tendo como finalidade atender às necessidades sociais destinadas à formação de profissionais voltados

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para a prática social. Surge, então, em São Paulo, denominado Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), sendo no ano de 1936 transformado na primeira Escola de Serviço Social.

Os traços que marcaram a profissão emergente no Brasil são de um profissional técnico e intelectual, que, contudo, é um reprodutor da ideologia capitalista, pois suas ações objetivavam o disciplinamento e o controle. Para Iamamoto (2001 apud FERRAZ, 2006), o profissional de Serviço Social trabalhou para legitimar os interesses do capital e da classe dominante hegemônica por meio de diversas formas de controle social, que não se reduz ao controle governamental e institucional, mas é exercido, também, pelas relações diretas, expressando o poder de influência de determinados agentes sociais sobre o cotidiano da vida dos indivíduos e reforçando a internalização de normas e os comportamentos legitimados socialmente. Entre esses agentes institucionais encontra-se o profissional de Serviço Social.

Ressalta-se que, desde seu surgimento, o Serviço Social vem se renovando de uma maneira crítica que faz com que a ação profissional seja compromissada e voltada para os interesses dos usuários, oferecendo um trabalho de qualidade preocupado com os direitos e os deveres dos indivíduos na perspectiva da liberdade, da equidade e da justiça social.

Em suma, o Serviço Social deve voltar-se para a defesa intransigente dos direitos humanos e para a luta pela ampliação da cidadania, sempre pautado no projeto ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo, inerentes à ação profissional.

2.2 Serviço Social judiciário e sociojurídico

O Serviço Social como profissão atua em diversas organizações públicas e privadas, com as mais variadas expressões da questão social, posicionando-se a partir da equidade e da justiça social, na perspectiva da viabilização dos direitos sociais e do acesso universal aos bens e aos serviços referentes a programas e políticas públicas sociais.

Como afirma Chuairi (2001), a assistência jurídica, que é garantida constitucionalmente, exerce papel fundamental na proteção e na efetivação dos direitos humanos e do exercício da cidadania dos indivíduos na sociedade, pois, embora o ordenamento jurídico confira uma série de direitos à população, nem todos têm direito às mesmas oportunidades.

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Portanto, Chuairi (2001, p. 130) coloca:

A assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos está prevista no artigo 5º, incisos LXXIV, da Constituição Federal de 1988. Ela é premissa de caráter inerente ao Estado Democrático de Direito Social, à medida que este é um instrumento que viabiliza a cidadania. A isonomia, o acesso amplo à justiça e ao devido processo legal são os princípios norteadores dessa assistência.

Diante disso, o Assistente Social é um profissional importantíssimo no campo judiciário e sociojurídico, pois sua atuação está diretamente vinculada à questão da viabilização e da garantia de direitos (civis, políticos e sociais). E para tratar do Serviço Social judiciário e sociojurídico, faz-se necessário entender como se deu esse processo, isto é, como o profissional se inseriu nessas áreas, suas atribuições e como busca garantir esses direitos plenamente proclamados, porém não realmente efetivados.

A atualidade traz novos desafios, principalmente com as mudanças na sociedade ocasionadas pela globalização, pelo neoliberalismo, que vêm ocasionando o aumento das desigualdades econômicas e sociais e a exclusão social, deixando mais em evidência o agravamento das expressões da questão social. No entanto, esse cenário exige do Judiciário uma transformação urgente para poder atender às necessidades dos usuários que procuram pelos serviços dessas organizações.

Contudo, é importante salientar, como aponta Fávero (2004, p. 80), que:

ao longo da história as práticas judiciárias vêm, por meio de especialistas de diferentes áreas construindo formas de conhecimento da “verdade”, entre aspas, a respeito das situações com as quais lida, com vistas a alcançar maior objetividade nesse conhecimento a partir de um conhecimento científico. O perito, então, foi o personagem chamado a dar respaldo, ou seja, chamou-se um profissional especialista em determinada área do conhecimento para o estudo, a investigação, o exame, ou a vistoria de uma situação processual, com o objetivo de oferecer subsídios técnico-científicos que possibilitassem ao magistrado a aplicação da lei com maior segurança, reduzindo-se a possibilidade de praticar erros ou injustiças.

Com isso, é relevante pontuar que as variadas expressões da questão social, que se manifestam pela não obtenção de acesso aos direitos e às garantias, passaram a agravar-se no mundo moderno e serviram de espaço institucional para a inserção do Assistente Social também no espaço judiciário. Todavia, o profissional, para poder compreender a complexidade da demanda que lhe chega, necessita conhecer a própria sociedade capitalista em que está inserido, que produz diferenciações econômicas e sociais, seja nas condições de trabalho, seja no consumo e na proteção social.

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Para firmar o exposto, Iamamoto (2004) destaca que a questão social expressa, desse modo, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por diferença nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos, numa luta aberta e surda pela cidadania no choque pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos.

A atuação do Serviço Social no âmbito jurídico e sociojurídico baseia-se no projeto ético-político da profissão, sempre voltado ao compromisso de atender aos interesses dos usuários, em que diversas expressões da questão social estão presentes, na busca por seus direitos e pela qualidade de suas inter-relações. Entre essas expressões encontram-se as várias formas de violência, a dependência química, o desemprego, entre outras.

Ainda sobre a questão social, Fávero (2004, p. 87) aponta que:

O Serviço Social tem na questão social o elemento central do projeto de profissão. Uma questão social que vai se particularizar no dia-a-dia da intervenção de variadas formas. O trabalho especializado que o assistente social desenvolve é composto por um projeto constituinte e constituído pela realidade social, que aparece, via de regra (sobretudo nas ações que envolvem crianças, adolescentes e famílias) por meio do que chamo de violência social – ou violência da pobreza; por meio da violência interpessoal, infrafamiliar, pela negligência, ausência de trabalho ou trabalho precário, pela ausência ou insuficiência de políticas sociais universalizantes e redistributivas, situações muitas vezes permeadas por conflitos e rompimentos de vínculos na esfera familiar.

A atuação do profissional de Serviço Social deve pautar-se sempre tendo como objetivo o atendimento integral e de qualidade social, trabalhando no enfoque da garantia do direito de cidadania e priorizando ações que visem atingir os objetivos, as metas e as diretrizes preconizadas pelo planejamento institucional.

Para que os profissionais do Serviço Social intervenham na sua prática cotidiana e institucional, tendo como referência os princípios ético-políticos da profissão, de acordo com Chuairi (2001, p. 137), “o Serviço Social inserido no contexto jurídico configura-se como uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da questão social, em sua interseção com o Direito e a justiça social”. E destaca ainda que o Serviço Social possui uma interface histórica com o Direito à medida que sua ação profissional, ao abordar as manifestações e o enfrentamento da questão social, põe a cidadania, a defesa, a preservação e a conquista de direitos, bem como sua concretização e viabilização social como foco de seu trabalho (CHUAIRI, 2001).

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A autora ainda ressalta que o trabalho social pode contribuir com diferentes áreas do Direito, como o direito da família, o direito do trabalho, os direitos da criança e do adolescente, o direito penal, o direito previdenciário e ambiental, entre outros, auxiliando as decisões e os procedimentos jurídicos em situações nas quais o conhecimento da área seja necessário (CHUAIRI, 2001).

Nesse sentido, de um modo ético e crítico, o Assistente Social deve buscar viabilizar respostas que incluam o usuário dos serviços sociais judiciários na esfera dos direitos e no pleno exercício de sua cidadania. Para desempenhar com qualidade e competência seu trabalho, pautado na justiça, igualdade, democracia, cidadania, posição ética em defesa das possibilidades de escolha e equidade, o profissional de Serviço Social necessita de competências ético-políticas e teórico-metodológicas.

Para conhecer um pouco mais da inserção do Serviço Social no Judiciário, Dal Pizzol e Silva (2001 apud PAMPLONA; BORGA, 2008, p. 12) dizem que:

a origem do cargo de Assistente Social no Judiciário deu-se pela necessidade de assessoramento aos juízes nas questões relacionadas às crianças e aos adolescentes; esse papel de “assessor” tinha a função de aplicação de estudos e pareceres em dada situação de forma a apresentar subsídios que contribuíssem para a melhor decisão. O trabalho dos Assistentes Sociais foi mais bem reconhecido no trato com questões complexas como direito de família, da infância e da juventude e nas questões de execução penal.

A inserção do Serviço Social no Judiciário se deu na década de 1940, inicialmente introduzido no Juizado de Menores de São Paulo. De acordo com Chuairi (2001), o Serviço Social no Judiciário surgiu pelo aumento de pessoas que demandam as instituições jurídicas em busca de soluções para seus problemas não resolvidos em outras instâncias sociais. Ferraz (2006) afirma que, como essas demandas apresentam um saber específico sobre as relações sociais e familiares, o Assistente Social passou a subsidiar as decisões judiciais.

Segundo Chuairi (2001, p. 132):

o agravamento das desigualdades sociais e da pobreza na sociedade brasileira, o desrespeito aos direitos dos homens levam cada vez mais à procura do serviço de assistência judiciária um contingente de pessoas em número muito superior a sua capacidade de atendimento. A solução para este problema está estreitamente vinculada à medida de enfrentamento da pobreza e de reformas estruturais na sociedade.

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Dessa forma, torna-se permanente o desafio de fazer com que esse campo de poderes se mantenha direcionado para a garantia de direitos humanos e sociais, para a efetiva prestação a crianças, adolescentes e famílias, e não para o disciplinamento e o controle social.

Como aponta Fávero (2004), sabe-se que imersão com o cotidiano tenso complexo e, geralmente, autoritário torna permanente o desafio dos Assistentes Sociais no que se refere ao exercício da liberdade e da criatividade. Isso tudo demonstra que é necessário buscar-se um novo perfil profissional, mais articulado às novas demandas da realidade. Dessa maneira, Iamamoto (1998) destaca que o novo perfil que se procura construir é de um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas, quanto em suas manifestações cotidianas; um profissional criativo e inventivo capaz de entender o tempo presente, os homens presentes, a vida presente, e nela atuar, colaborando, também, para moldar os rumos de sua história.

Iamamoto (1998) destaca ainda que o Assistente Social deve ser um profissional criativo, no sentido de desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar direitos, a partir das demandas que surgem no dia a dia, sendo propositivo e evitando permanecer somente como executor de tarefas e determinações, este é, o desafio permanentemente desses profissionais.

O Assistente Social deve compreender a sua dimensão intelectual, que exige criatividade e inovação, a fim de melhorar as próprias práticas institucionais, sendo isso possível somente por meio da construção de uma identidade profissional. Deve estar preocupado com o conjunto de competências ético-políticas e teórico-metodológicas de que necessita para desempenhar com qualidade seu trabalho.

No que se refere à utilização de procedimentos profissionais, pode-se afirmar que o Código de Ética, com seus dez princípios fundamentais, a lei que regulamenta a profissão e a legislação estabelecem as diretrizes para a ação profissional. Dessa forma, Fávero (2004, p. 86) destaca que o:

[...] código de Ética, nos seus princípios fundamentais, destaca que cabe aos Assistentes Sociais a defesa intransigente dos direitos humanos, a ampliação e consolidação da cidadania, o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, a opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária – sem dominação ou exploração de classe, etnia e gênero, o compromisso com a qualidade dos serviços prestados. Portanto, estes e os demais princípios estabelecidos pelo nosso Código de Ética norteiam a nossa ação – aquelas de abrangência coletiva, bem como as que atingem mais particularidades, indivíduos ou famílias neste âmbito micro do trabalho quotidiano, especificamente no Judiciário.

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Diante dessa realidade, consequentemente, abriu-se para o Serviço Social um vasto campo para a consolidação e a ampliação de sua ação profissional. Destaca-se, ainda, que, segundo Mercacini (1993 apud CHUAIRI, 2001), a assistência jurídica engloba a assistência judiciária, sendo ainda mais extensa que esta, por envolver serviços jurídicos não relacionados ao processo, tais como orientações individuais ou coletivas, esclarecimentos de dúvidas e mesmo um programa de informação a toda a comunidade.

Dessa forma, o Assistente Social exerce papel fundamental por oferecer um atendimento diferenciado, procurando identificar as necessidades dos usuários que procuram por esses serviços, orientando e encaminhando esses usuários quando necessário. Esse profissional deve contribuir para o entrosamento do Judiciário com instituições que desenvolvam programas na área social, ou seja, deve ter um bom relacionamento com a rede socioassistencial.

Segundo Dal Pizzol e Silva (2001), o Serviço Social no estado de Santa Catarina teve sua inserção no Judiciário no ano de 1972, com a criação de dois cargos de Assistente Social na Comarca da Capital. Percebeu-se no profissional a aptidão para intervir nos conflitos por meio de mediações, conciliações, orientações e encaminhamentos, e sua capacidade de aproximar a generalidade do direito legal e a especificidade de cada situação em particular.

Dal Pizzol e Silva (2001) ainda destacam nas atribuições do Assistente Social a habilidade de orientar e acompanhar a família a quem tenha sido entregue judicialmente a criança e/ou o adolescente, gerenciar e executar programas de prestação de serviços à comunidade e participar do Conselho da Comunidade (previsto na Lei de Execução Penal) em que houver Assistente Social específico para área criminal. Os autores afirmam também a atribuição nessa área de gerenciar o setor de Serviço Social, elaborando e executando programas com a utilização do instrumental adequado ao contexto sociojurídico. E finalmente esses profissionais devem atender a determinações judiciais relativas à prática do Serviço Social, sempre em conformidade com a Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissão, e a Resolução n. 273/93, de 13 de março de 1993, do Conselho Federal de Serviço Social (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993a, 1993b).

Segundo Fávero (2004), existem várias possibilidades de ação no que se refere ao trabalho do Assistente Social nessas áreas da assistência sociojurídica que podem somar-se a iniciativas de outros segmentos da sociedade organizada para alcançar ações transformadoras da e na realidade social. É importante que o Assistente Social saiba discernir situações

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diferenciadas, organizar dados, comunicar-se com outros colegas da equipe de trabalho e agir pautado na ética.

Sobre o Serviço Social jurídico e sociojurídico, Pamplona e Borga (2008, p. 14) ressaltam que:

No Serviço Social fala-se em Serviço Social judiciário e Serviço Social no campo/área/espaço/sistema sociojurídico. Denomina-se Serviço Social judiciário aos Assistentes Sociais que atuam no Poder Judiciário e no Serviço Social sociojurídico, nos presídios, nas penitenciárias, nos abrigos, nas medidas socioeducativas, na defensoria pública, entre outros. O Serviço Social atua no Judiciário (Poder Judiciário) e nos espaços sociojurídicos (presídio, medidas socioeducativas etc.). O próprio Serviço Social judiciário é também um espaço sociojurídico, articula a intervenção do Serviço Social, do Direito e da Psicologia.

A atuação dos profissionais de Serviço Social na área sociojurídica no Brasil se dá há mais de 50 anos, porém esse campo começa a se constituir objeto de discussão a partir do X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu, em 2001, no Rio de Janeiro. Nesse evento, os profissionais apresentaram trabalhos produzidos com base em suas práticas profissionais nas instituições, as quais passaram a ser compreendidas como integrantes da área sociojurídica (PEREIRA, 2001 apud PAMPLONA; BORGA, 2008).

Ressaltam-se, ainda, outras iniciativas referentes à área de atuação sociojurídica, dentre elas alguns acontecimentos importantes, tais como a) a constituição, no ano de 2002, da comissão temática denominada sociojurídica pelo CRESS 7ª Região (RJ); b) a deliberação no Encontro Nacional CFESS/CRESS, realizado, em 2003, em Salvador de proposta encaminhada inicialmente pelo CRESS/RJ; c) a promoção do Encontro Nacional do Serviço Social no campo sociojurídico, que aconteceu em setembro de 2004, em Curitiba; d) a apresentação da oficina temática também denominada “Serviço Social sociojurídico” no 2° Congresso Paranaense de Assistentes Sociais, em novembro de 2003; e e) a incorporação de uma disciplina sobre o campo sociojurídico na grade curricular do curso de graduação da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DAL PIZZOL; SILVA, 2001).

É relevante complementar ainda que o I Encontro Nacional Sociojurídico, ocorrido em Curitiba, Paraná, cujo tema “O Serviço Social e a garantia de direitos nos sistemas de justiça e penitenciário”, contou com a presença de mais de 200 profissionais de todo o país, sendo esses divididos por campos de atuação, como Poder Judiciário, sistema penitenciário, Ministério Público, programas de medidas socioeducativas e defensorias públicas (COLMÁN, 2004 apud PAMPLONA; BORGA, 2008).

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Segundo Tose e Parise (2008), o campo sociojurídico constitui-se em espaços vinculados ao sistema de aplicação e execução da justiça, nos quais atuam os profissionais da área do Serviço Social, além de outras áreas como Psicologia e Direito.

Entre as atribuições e os requisitos que demandam atualmente o trabalho do Assistente Social no mundo jurídico, cita-se, segundo Chuairi (2001), os de: a) assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, aos serviços de assistência jurídica e aos demais profissionais desse campo em questões específicas de sua profissão; b) realizar perícias e estudos sociais, bem como informações e pareceres da área de sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão; c) planejar e executar programas destinados à prevenção e à integração social de pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais; d) planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise social, dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico; e) participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária dos serviços jurídicos; e f) treinar, supervisionar e formar profissionais e estagiários nessa área.

No Judiciário, o Assistente Social atua nos mais variados espaços, desenvolvendo o seu processo de trabalho na maioria das vezes em casos como destituição de poder familiar, guarda, tutela. Nesse espaço o Assistente Social também trabalha com as demandas sociais na garantia do acesso aos direitos e à resolução de conflitos inerentes ao cotidiano do cidadão. Sendo assim, Chuairi (2001, p. 137) afirma que:

O assistente social judiciário ou forense, como costuma ser denominado, atua nos diferentes órgãos e setores do Poder Judiciário, intervindo prioritariamente nas Varas da Infância e nas Varas da Família e Sucessões dos Tribunais de Justiça em processo cujas decisões judiciais envolvem as vidas de crianças, adolescentes e

família.

O Assistente Social no espaço do Judiciário lança mão de vários procedimentos para efetivar sua ação, sendo o chamado estudo social um dos principais instrumentos de trabalho. A prática profissional manifesta-se por meio de seus procedimentos no que se refere à elaboração dos estudos sociais, laudos e pareceres técnicos; na participação em sala de audiências, quando solicitado para prestar esclarecimentos acerca do estudo social ou de outro instrumental; na interação com outros órgãos, tais como Ministério Público, Conselho Tutelar, Conselho da Comunidade, Abrigos etc.

Sabe-se que o profissional de Serviço Social intervém em instituições para a prestação de serviços sociais, administrando e controlando o acesso e a utilização desses

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serviços por parte da demanda usuária. No caso da atuação do Assistente Social no Judiciário, dá-se desde o início da institucionalização do Serviço Social.

É importante ressaltar que, como aponta Dal Pizzol e Silva (2001), o Serviço Social judiciário adquire espaço e reconhecimento ao se estabilizar como trabalho especializado, e não pela tentativa de abarcar uma infinidade de atividades imediatistas ou de suprir as deficiências de outros setores.

É relevante destacar que o exercício do Assistente Social no espaço judiciário, “geralmente, é subordinado administrativamente a um juiz de direito que, neste meio, pode ser denominado como um ator privilegiado, uma vez que sua ação concretiza imediatamente a ação institucional” (FÁVERO, 2004, p. 85).

Iamamoto (1998 apud FÁVERO, 2004) aponta que as competências técnica e política, permeadas pela ética, com vistas ao enfrentamento das situações decorrentes das particularidades enfrentadas no dia a dia e da perversidade de uma intervenção que tende a ser desviada para a direção do controle e do disciplinamento social, supõem também o trabalho interdisciplinar, a articulação com a rede social existente e a pressão para a sua ampliação – numa dimensão de trabalho coletivo, alienado e norteado pelo investimento no aprimoramento teórico, metodológico e técnico.

De acordo com Rodrigues (2004), o acesso à justiça visa oportunizar ao cidadão a reivindicação de seus direitos e a busca de soluções justas para suas necessidades sociais ou individuais, e ainda a garantia desse direito a todos, sem distinção de origem, raça, sexo, cor, idade: fim último do Estado Democrático de Direito, que tem como base a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais e do trabalho e o pluralismo político (BRASIL, 1988).

O Serviço Social na área sociojurídica busca conhecimento também na área do Direito, trabalhando de forma interdisciplinar e garantindo a intervenção realizada. E as respostas dadas vão além de uma mera decisão judicial. Entende-se que o Estado tem o dever constitucional de prover o livre e gratuito acesso à justiça, seja por meio da assistência judiciária, seja mediante a concessão dos benefícios da justiça gratuita.

Chuairi (2001) aborda duas finalidades básicas do acesso à justiça: a) que os sujeitos podem reivindicar seus direitos e buscar a solução de seus problemas sob o patrocínio e a proteção do Estado e, portanto, o sistema jurídico deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos; e b) corresponde ao fim último do sistema jurídico no Estado Democrático de Direito, que é o de garantir o acesso à justiça igualmente a todos. O direito de

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acesso à justiça é parte integrante da cidadania, em que o indivíduo assegura seus direitos e deveres.

É importante ressaltar que, quando se fala de Serviço Social judiciário, está se referindo somente ao Poder Judiciário e que os espaços jurídicos das universidades são também sociojurídicos. Como exemplo, destaca-se o EMA.

A partir dessa concepção de acesso à justiça, o EMA busca garantir tal direito, e a entrada para esse acesso é o estudo socioeconômico realizado pelo Serviço Social. Crove (1999 apud PAMPLONA; BORGA, 2008) afirma que o cidadão é um sujeito que possui consciência crítica a respeito da vida em sociedade. Para que esses direitos (civis, políticos e sociais) sejam concretizados, é preciso que estejam conectados. A combinação dos três permite que o exercício de um possibilite a conquista do outro, constituindo em elemento importante para que se solidifiquem o pensamento democrático e uma maior efetivação da cidadania no mundo.

A inserção do Serviço Social no Escritório Modelo de Advocacia vem para permitir e possibilitar conhecimentos individuais e contribuir com o rompimento das barreiras ao acesso à justiça, viabilizando a integração entre universidade e comunidade na busca de uma forma ágil e justa para o atendimento às pessoas de baixos rendimentos econômicos ou que, por razões pessoais ou familiares, não possuam condições de arcar com os custos processuais, sem prejudicar seu sustento próprio. Esse espaço vem para possibilitar aos acadêmicos de Direito a realização do estágio curricular obrigatório e um primeiro contato com o exercício da profissão. Porém, ressalta-se que o Serviço Social vem se inserindo e ganhando visibilidade em seu campo de atuação. A exemplo disso, cita-se o Escritório Modelo de Advocacia da Unisul, que fica localizado na Grande Florianópolis, com unidades na Trajano e na Ponte do Imaruim, onde foi possível construir, juntamente com os professores e os acadêmicos de Direito, um trabalho multidisciplinar, buscando um aprimoramento dos conhecimentos acadêmicos e o rompimento das barreiras ao acesso à justiça, viabilizando a junção entre ensino, pesquisa e extensão. Um dos desafios postos ao Serviço Social no EMA é transformar o trabalho em interdisciplinar (PAMPLONA; BORGA, 2008).

Segundo Chuairi (2001), a consecução de um trabalho interdisciplinar com ações ajustadas com a realidade social e com os níveis de desenvolvimento científico-tecnológico do mundo moderno permite maior eficácia à ordem jurídica, superando, assim, a mera identificação da ciência do Direito com a aplicação da lei.

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Em contrapartida, Sá (1995, p. 68) afirma que:

A ação que passa nesta perspectiva interdisciplinar é proporcionar a cada profissional, enquanto pessoa, questionar, opinar, discutir, atuar com relação a determinada ação. Assim o profissional não buscará limitar seu espaço de ação fragmentando a questão, numa atitude de exclusividade, mas o ampliará numa perspectiva conjunta, visualizando a totalidade da questão e, principalmente, chegando à economia de ação.

Complementando a atuação do Serviço Social, Tose e Parise (2008) descrevem que o Serviço Social tem no EMA um espaço para atuar nas diversas expressões da questão social, assim como o Direito tem a oportunidade de reunir um saber mais estruturado e tornar a instituição mais fortalecida, ou seja, a reunião de várias disciplinas é uma forma de desvelar as possibilidades de ação contidas na realidade do usuário.

No EMA, o Serviço Social ainda é recente, porém, significativo para o curso e para a profissão, que adquire cada vez mais espaço de atuação profissional na área sociojurídica. E também é uma conquista importantíssima para o curso de Serviço Social da Unisul, para os acadêmicos e para sociedade em geral.

2.3 EMA: um espaço para o Serviço Social

Para evidenciar o EMA como um espaço para o Serviço Social, primeiramente é necessário apresentarmos a Universidade do Sul de Santa Catarina como entidade concedente de ensino, pesquisa e extensão na qual se insere o EMA. A Unisul foi criada em 1964 em Tubarão como Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (FESSC), transformando-se em Universidade em 1989.

Destaca-se que a Unisul possui quatro Campi, instalados nos municípios de Tubarão, Araranguá, Palhoça e Florianópolis. A instalação da Unisul no município de Palhoça, Santa Catarina, foi realizada de forma provisória em 1996, no colégio Maria Vargas. Resultou do cumprimento de uma diretriz estratégica de seu planejamento que definiu a expansão rumo à Grande Florianópolis. Na ocasião, assumiu como diretor da Grande Florianópolis o professor Cezar Torrez Albernaz. Em agosto de 1998, a Universidade inaugurou a primeira etapa do Campus situado na Cidade Universitária Pedra Branca. Em

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2002, o cargo de diretor foi passado para o professor Valter Alves Schmitz Neto (PAMPLONA; BORGA, 2008).

De acordo com Zanotelli (2006, p. 3), a Unisul tem como Missão:

A educação e gestão inovadoras e criativas no processo do ensino, da pesquisa e da extensão, para formar integralmente, ao longo da vida, cidadãos capazes de contribuir na construção de uma sociedade humanizada, em permanente sintonia com os avanços da ciência e da tecnologia.

Zanotelli (2006) ainda destaca que a Unisul assume como seus Valores que o aluno constitui seu valor essencial e, sendo assim, tem o direito de participar de seu próprio processo educativo, constituindo-se, em decorrência, no foco da dedicação de professores, funcionários e dirigentes; que o professor é o promotor, guia, orientador e facilitador por excelência desse processo, capacitando-se para assumir e praticar essa atitude no dia a dia de sua atividade; que o processo educativo prepare o aluno para o mercado e para a vida, abarcando o conjunto de funções que irá desempenhar na sociedade complexa, global e mutante; que os relacionamentos acadêmicos e de gestão primem pela humanização e pela transparência; que a prática da humanização e da transparência envolva o exercício permanente da participação, da solidariedade, da cooperação, da integração, do compartilhamento e da responsabilidade; que o respeito à dignidade humana se expresse pelo direito ao crescimento contínuo e integral das pessoas e da coletividade em suas múltiplas potencialidades, respeitando o pensamento holístico, a pluralidade de ideias e a diversidade cultural.

Dessa forma, é relevante apresentarmos sua Visão: que até 2013 a Unisul seja reconhecida pela qualidade e pela excelência de suas ações e serviços, conforme segue.

Em relação ao Ensino que consolide a posição de liderança em graduação entre as

universidades catarinenses e também a posição de liderança em educação à distância e educação continuada, em nível nacional, alcançando a sua inserção plena no mundo virtual e globalizado, como provedora de ciência e tecnologia. Alcance posição de liderança entre as melhores universidades catarinenses no segmento de pós-graduação. Em relação à Pesquisa que consolide a pesquisa científica como essencial à Universidade e parte integrante e indissociável do processo de ensino e aprendizagem e promova áreas de pesquisa avançada reconhecida pela comunidade científica nacional. Em relação à Extensão que consolide a extensão como mecanismo integrado e indissociável do processo de ensino e aprendizagem e transforme a extensão em instrumento gerador de iniciativas comunitárias auto-sustentáveis e da educação continuada. Em relação à Gestão a intenção é internalizar práticas e processos modernos de gestão, adequados à dimensão da Universidade, e coerentes com sua Missão, seus Valores e sua Visão (UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA, 2008 apud PAMPLONA; BORGA, 2008, p. 20).

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A Unisul constitui-se em uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, sendo uma universidade comunitária onde são desenvolvidos projetos extensionistas e laboratórios de ensino. Nos projetos de extensão se instituiu o Escritório Modelo de Advocacia, atendendo inicialmente a uma necessidade do curso de Direito.

O EMA foi criado para atender ao estágio obrigatório de Direito da Unisul, concretizado inicialmente em 1990, tendo como sede a Unisul de Tubarão. As atividades na Grande Florianópolis iniciaram-se em 1999 na Unidade da Ponte de Imaruim, em Palhoça, e em 2007 na Unidade da Trajano, no Centro de Florianópolis.

Segundo Zanotelli (2006), em 20 de dezembro de 1993, foi criada, por convênio entre o Tribunal de Justiça de Santa Catarina e a Unisul, a Unidade Jurisdicional de Exceção, concebida com o escopo exclusivo de dar vazão aos processos deflagrados pelo EMA, e posteriormente houve a criação da Casa da Cidadania de Tubarão – por meio de processo diferenciado.

Com a desocupação do prédio, Zanotelli (2006) discute que, onde funcionava o fórum local, pessoas engajadas em um forte trabalho social, como os professores doutores Lédio Rosa de Andrade e Fabian Martins de Castro, dentre outras, conceberam a destinação para o prédio como um local para o exercício da cidadania. Foi firmado o convênio entre o Município (proprietário do prédio), a Unisul, o Tribunal de Justiça e a OAB/SC, que regulava a destinação e a forma de ocupação do prédio. Com a vigência do convênio, diversos órgãos deslocaram-se para o prédio, dentre eles o Juizado Especial Cível e Criminal, o Procon, a Associação das Donas de Casa, dos Consumidores e da Cidadania de Tubarão (ADOCON), a Junta Militar, o Conselho Tutelar, a OAB/SC e o EMA da Unisul. Nascia em 29 de março de 1999 a Casa da Cidadania de Tubarão. Em relação ao seu conceito e objetivos, o EMA apresenta função acadêmico-social e teórico-prática de importância tanto para o meio acadêmico, comunidade científica, como também para a sociedade em geral. Trata-se de lugar de exercício prático indispensável à formação integral do aluno.

Wensing (2004 apud ZANOTELLI, 2006, p. 11) afirma que:

[...] é o lugar em que as fragilidades de um curso jurídico são mais patentes. As fissuras se tornam flagrantes e são identificadas as lacunas de formação, que ainda podem ser tratadas e conduzidas, corrigidas e encaminhadas, antes de o profissional do Direito ser lançado no mercado jurídico, no qual enfrentará as problemáticas que são inerentes à condução dos valores sociais de seu trabalho. O aluno vocacionado ao Direito encontra na estrutura do EMA possibilidade de desenvolver suas habilidades teórico-práticas, bem como de exercer efetivamente a cidadania, na solução de conflitos sociais que acabam se avolumando na soleira das portas do Poder Judiciário e cuja providência a sociedade, sequiosa de mudanças e de justiça

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O EMA tem como Missão, de acordo com Wensing (2004 apud ZANOTELLI, 2006, p. 11):

[...] aliar a reflexão jurídica à prática, transplantando o conhecimento teórico e acadêmico, ou, ainda, hipotético-normativo adquirido no decorrer do Curso de Direito à realidade operacional, através de participação social e técnica de resolução de conflitos, envolvendo integrantes do estrato social carente.

Conforme Zanotelli (2006, p. 11), fazem parte dos objetivos do EMA, Art. 1ºdo Regulamento:

I – Proporcionar oportunidade de estágio jurídico obrigatório para os acadêmicos do Curso de Direito; II – Prestar serviços de natureza jurídica à comunidade comprovadamente carente, da circunscrição onde funciona o Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito, conforme disposições constantes dos convênios firmados entre órgãos vinculados à administração da Justiça (Poder Judiciário, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil, Defensoria Pública etc.) e a UNISUL. § 1° Em cada Campus haverá, em princípio, um Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito, de acordo com a disponibilidade de recursos materiais e humanos, visando a atender ao número de acadêmicos do respectivo Campus. 2° Em razão da proximidade de dois ou mais Campi, poderá haver Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito que seja instalado para atender à demanda dos acadêmicos de dois ou mais Campi, simultaneamente ou em horários específicos para cada Campus, separadamente. 3° A circunscrição do Escritório Modelo de Advocacia do Curso de Direito poderá compreender a circunscrição judiciária de uma ou mais comarcas, de conformidade com as disposições constantes dos respectivos convênios.

É relevante destacar, como aponta Zanotelli (2006), que os requisitos acima visam manter o EMA em seu eixo pedagógico, de forma a não priorizar, em excesso, atendimentos à comunidade, em flagrante prejuízo da qualidade dos serviços prestados. Há também a preocupação com a reserva de mercado. Em diversas ocasiões, a triagem detectou pessoas com vasto patrimônio, com renda incompatível e residentes fora da comarca atendida, as quais procuraram os serviços de advocacia por sua gratuidade. Aqui, nesse particular, além de ilegal, o atendimento retiraria do profissional formado a possibilidade de auferir um ganho – o que definitivamente não é objetivo do EMA.

Discorrendo sobre o assunto, é importante ressaltar, como relata Zanotelli (2006, p. 13), que o EMA atuará preferencialmente nas causas que tratarem sobre:

Direito de família, sucessões na modalidade consensual, de um único bem imóvel, obrigações, ações possessórias, execuções dos julgados judiciais e títulos executivos extrajudiciais, além das previstas no inc. II do artigo 275 do CPC e ação de despejo para uso próprio, sem exclusão de outras delimitadas nos convênios específicos.

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Algumas causas, como afirma Zanotelli (2006), ficam expressamente excluídas da competência do Escritório Modelo de Advocacia, como as ações que envolvam danos morais, atos da Fazenda Pública, direito administrativo, questões trabalhistas, crimes de competência da vara criminal, inventários litigiosos, ações de cobrança e execuções de títulos cambiários.

Atualmente, o EMA de Tubarão reúne várias formas de prestação de serviços à comunidade e ao meio acadêmico no atendimento aos direitos do cidadão e serve de campo de estágio para os acadêmicos dos cursos de Direito, Serviço Social e Psicologia.

Na Grande Florianópolis, até 2006, havia somente o curso de Direito. Em 2007, o Serviço Social foi implantado na Unidade da Ponte do Imaruim e na Unidade da Trajano. É importante salientar que o EMA da Unidade da Trajano foi implantado também em 2007 no mês de fevereiro. A necessidade de sua implantação foi por facilitar a locomoção, tanto dos estagiários da Unidade do Norte da Ilha e da própria Trajano, quanto dos usuários que muitas vezes não têm condições de se locomover até a Palhoça. Importante informar que a forma de atendimento em todas as unidades é a mesma.

O EMA busca atender no seu espaço sociojurídico às demandas apresentadas pela comunidade local de forma a não priorizar, em excesso, os atendimentos à comunidade e gerar um prejuízo da qualidade dos serviços prestados. Existem alguns requisitos para a realização do atendimento jurídico prestado pelo EMA. Não se trata de regras absolutas e inflexíveis, mas de norte para evitar uma invasão do mercado e o benefício de pessoas que apenas querem conservar seu patrimônio poupando despesas com advogado.

A inserção do Serviço Social no EMA, segundo Merigo (2007), aconteceu precisamente em 23 de agosto de 2007. A partir de contatos previamente realizados com a coordenadora de Serviço Social, Professora Dr.a Regina Panceri, realizou-se a parceria entre o curso de Direito e o de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina para a efetivação do campo de estágio aos acadêmicos de Serviço Social no Escritório Modelo de Advocacia, tanto na Unidade da Trajano em Florianópolis, quanto na Ponte do Imaruim, em Palhoça.

No município de Florianópolis, o Escritório Modelo de Advocacia funciona na Unidade da Trajano e conta com grupos de estagiários do curso de Direito e de Serviço Social da Grande Florianópolis. Cada grupo de estudantes de Direito é formado por três estagiários, que atendem à população, sob a orientação de um professor; e o setor de Serviço Social, atualmente, conta com três estagiárias, acompanhadas pela professora Regina Panceri, hoje coordenadora do Serviço Social no EMA do Centro de Florianópolis. A carga horária

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disponível para coordenação e trabalho junto ao EMA é de 8 horas, sendo 4 horas na Unidade da Trajano e 4 horas na Unidade da Ponte do Imaruim; e a coordenação geral do EMA é de Suzana dos Reis Machado Pretto, docente do curso de Direito.

É relevante destacar, conforme Merigo (2007, p. 1), que:

o objetivo geral do trabalho é de prestar atendimento na área do Serviço Social aos usuários do Escritório Modelo de Advocacia – EMA da UNISUL no município de Palhoça e Florianópolis/SC e integrar as áreas profissionais de Direito e Serviço Social. Considerando que o Serviço Social intervém na realidade social através de uma abordagem educativa, que vai além dos limites da visão assistencialista e paliativa das situações apresentadas, buscando garantir sempre os direitos, de dignidade e eqüidade social do cidadão.

A população atendida pelo EMA é compreendida de famílias em situação de vulnerabilidade social, cuja renda familiar não deve ser superior a três salários mínimos. O Assistente Social e sua intervenção trazem consequências e interferem consistentemente na vida do usuário do Serviço Social, pois a ação profissional desenvolvida vai além da garantia dos direitos sociais no seu sentido material/concreto, abrangendo uma atividade essencialmente educativa.

Merigo (2007) ressalta que o EMA constitui-se em um espaço onde é possível articular ensino, pesquisa e extensão, por meio do trabalho interdisciplinar com as áreas do Serviço Social e do Direito, sendo esse um desafio do profissional no EMA. Percebeu-se, durante os estudos socioeconômicos, por meio da triagem um elevado número de pretensões/demanda de divórcio, separação conjugal, pensão alimentícia, guarda, inventário, execução de alimentos e violência – com mais frequencia a violência contra a mulher.

Não são aceitas causas com previsão de retorno financeiro, como indenizações, causas trabalhistas, previdenciária, contra o Governo nas esferas municipal, estadual e federal, causas criminais e agressão física.

O Assistente Social deve desenvolver ações socioeducativas para fazer com que a população conheça os seus direitos e como exercê-los. O primeiro contato do Serviço Social com o usuário no EMA se dá pela triagem, que é uma seletividade responsável por realizar o estudo socioeconômico do usuário, momento em que se busca identificar as necessidades sociais trazidas como jurídicas, pois se pode identificar que os problemas apresentados às vezes podem ser resolvidos sem a intervenção jurídica, passando somente pelo atendimento social, em que são realizados encaminhamentos para a rede socioassistencial do município de Florianópolis e região.

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As ações do Assistente Social baseiam-se no projeto ético-político do Serviço Social; ética aqui corresponde a escolhas de valor dirigidas à liberdade, à política e à criação de condições objetivas para a defesa dos direitos humanos (BARROCO, 2004 apud PAMPLONA; BORGA, 2008).

Segundo Pamplona e Borga (2008, p. 24),

as dimensões técnicas e política devem estar intrinsecamente relacionadas e são complementares entre si. Não basta somente uma competência técnico-operativa, pois o profissional permanece apenas com um cumpridor de tarefas, burocrático na sua ação. Porém, são necessárias competência teórico-metodológica – que determina que a direção é dada para a ação, como serão utilizados os instrumentos técnicos do profissional – e competência ético-política – que delimitam intencionalidade, o objetivo que se quer alcançar com a ação profissional.

Nesse sentido, de um modo ético e crítico, o Assistente Social no EMA deve buscar viabilizar respostas que garantam ao usuário o acesso aos direitos e o pleno exercício de sua cidadania.

É no cotidiano profissional que os Assistentes Sociais devem efetuar as suas atribuições de modo criativo, tendo como compromisso da categoria os princípios do Código de Ética Profissional e, assim, utilizando da melhor maneira possível as instrumentalidades inerentes à atuação profissional.

Tanto no âmbito judiciário quanto nos espaços sociojurídicos, o Assistente Social possui um variado conjunto de instrumentais técnico-operativos, servindo como suporte para a efetivação das atividades que lhe são apresentadas. A prática profissional do Assistente Social deve ser pensada como trabalho, e o exercício profissional deve ser visto como processo de trabalho (a questão social), como meios de trabalho (o conhecimento e as habilidades adquiridas pelo Assistente Social) e como produto (a prestação de serviços e o atendimento social na viabilização do acesso à cidadania, com seus direitos e deveres).

Segundo Martinelli (1994 apud KOSMANN, 2006), o instrumental é concebido como o conjunto articulado de instrumentos e técnicas que possibilitam a operacionalização da ação profissional. Assim, quando se fala de instrumental refere-se aos instrumentos utilizados e à forma como serão utilizados. Dessa maneira, o conhecimento do Serviço Social serve para apreender a realidade, explicá-la e daí escolher ou indicar possíveis alternativas de ação.

No que se refere à utilização de procedimentos profissionais, pode-se afirmar que o Código de Ética, a lei que regulamenta a profissão e a legislação estabelecem as diretrizes para a ação profissional. Portanto, primeiramente é relevante evidenciar a questão da

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