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Violência intrafamiliar e doméstica contra a mulher: presença constante em nossa

No documento Violência contra a mulher (páginas 42-53)

O fenômeno da violência já faz parte da história da humanidade; a busca da igualdade e o enfrentamento das desigualdades de gênero fazem parte da história construída pelas mulheres em diferentes épocas, espaços e maneiras de agir, em todos os níveis socioeconômicos e culturais

Segundo o Ministério da Saúde (apud FERREIRA; PIMENTEL, 2008, p. 1), a palavra “violência” é de “origem latina, o vocábulo vem da palavra vis, que quer dizer força e se refere às noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro”.

Nessa direção, Fraga (2002, p. 44) destaca que “num sentido amplo e genérico a violência acompanha o homem desde os primórdios da história” e que “a natureza, assim como a sociedade, constitui uma totalidade de inter-relações”. Em síntese, a autora destaca que a violência está no interior da organização da história da sociedade.

De acordo com entrevista ao Diário Catarinense, Santos (2008)1 ressalta que a violência contra as mulheres remonta ao período de transição entre a pré-história e a história, acerca de cinco mil anos a.C. Afirma, ainda, que, nessa época, houve uma transformação

1 Sidney Francisco Reis dos Santos é doutor em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Santa Cataria

importante na humanidade, que deixou de ser nômade para se fixar e cultivar a terra. E foi observando os animais domésticos que esses homens descobriram a sua importância no papel de fecundação da mulher. Isso provocou a primeira atitude possessiva em relação à mulher, e o homem passou a agregar a mulher como parte integrante da sua propriedade privada. Em vez de relações afetivas, ele estabelece relações socioeconômicas. Santos (2008), ainda, afirma que a violência iniciou quando os patriarcas poligâmicos se sentiram ameaçados sobre o reconhecimento da paternidade de seus filhos e temeram perder suas terras para seus rivais, nesses casos as mulheres eram até mortas em atos públicos.

Contudo, Fraga (2002, p. 45) afirma que “existe um outro tipo de violência, que é a que nos interessa aqui: a violência tal como a conhecemos hoje, nas suas formas cada vez mais sutis e destrutivas”. Uma das formas sutis de violência contra a mulher que percebemos em nossa sociedade é limitá-la da possibilidade de sair de casa para trabalhar, de retomar os estudos, entre outros.

Segundo Minayo e Souza (2003 apud FERREIRA; PIMENTEL, 2008), as discussões, os estudos e as pesquisas sobre qual seria a causa da violência imperam até os dias atuais, uns tendem a compreender a violência no plano biológico, outros no plano psicológico e ainda no plano social. Acredita-se que a violência precisa ser entendida nos três planos – biológico, psicológico e social – porque ela se constitui historicamente, sendo reproduzida muitas vezes por expressões da questão social, presentes nas famílias.

Cardoso (2001) explica que existe violência quando, numa situação de interação, um ou vários autores atuam de forma direta ou indireta, maciça ou difundida, que prejudiquem uma ou várias pessoas, seja em sua integridade física ou em sua integridade moral, em suas posses ou em suas participações simbólicas e culturais.

Nesse sentido, essa percepção procura explicar que se trata da violência sobre o aspecto dos indivíduos e suas relações sociais, ou seja, não se restringindo apenas à situação do dano físico, expandindo então essa noção (CARDOSO, 2001).

Portanto, diante de todo o exposto, destaca-se a complexidade da temática violência, que está permeada de preconceitos e discriminações, ainda presentes no bojo da sociedade. E nesse contexto a violência contra a mulher está em evidência e em debate, por sua gravidade e consequências alarmantes para o convívio e a inclusão da mulher na sociedade, resultando na fragilidade de suas relações sociais e, consequentemente, afetando o convívio e a organização familiar.

Dessa forma, Mc Leod e Shin (1990 apud GROSSI; AGUINSKY, 2001) afirmam que a questão da violência contra as mulheres incidente nas relações conjugais deve ter sua

compreensão conectada não apenas à violência contra mulheres, em particular, mas também à violência na sociedade, por meio da pobreza, do racismo e de práticas discriminatórias que afetam não apenas as mulheres, mas todos os grupos oprimidos.

Segundo Ferreira e Pimentel (2008, p. 1), a temática em questão remete-se a “uma situação, um fato e um fenômeno muito antigo”, mas ao mesmo tempo atual. E a violência e seus desdobramentos, mais especificamente contra a mulher, enfocam uma questão de gênero.

De acordo com Scott (1989 apud BRASIL, 2007, p. 12),

o gênero, como elemento constitutivo das relações sociais entre homens e mulheres, é uma construção social e histórica. É construído e alimentado com base em símbolos, normas e instituições que definem modelos de masculinidade e feminilidade e padrões de comportamento aceitáveis ou não para homens e mulheres. O gênero delimita campos de atuação para cada sexo, dá suporte à elaboração de leis e suas formas de aplicação. Também está incluída no gênero a subjetividade de cada sujeito, sendo única sua forma de reagir ao que lhe é oferecido em sociedade. O gênero é uma construção social sobreposta a um corpo sexuado. É uma forma primeira de significação de poder.

Destaca que “o gênero se refere ao conjunto de relações, atributos, papéis, crenças e atitudes que definem o que significa ser homem ou ser mulher”. E as relações de gênero são desiguais na maioria das sociedades, ocasionando, dessa forma, um desequilíbrio “nas leis, políticas e práticas sociais, assim como nas identidades, atitudes e comportamentos das pessoas” (BRASIL, 2007, p. 12).

O conceito de violência de gênero, de acordo com Cavalcanti, “deve ser entendido como uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher”. Isso demonstra que os papéis atribuídos às mulheres e aos homens, firmados ao longo da história e reforçados pelo “patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos e indica que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza”, mas provém do processo de socialização das pessoas (CAVALCANTI, 2005, p. 10).

Conforme Macedo e Kublikowski (2006), quando se usa a categoria gênero para falar das relações homem/mulher, refere-se à ampla gama relacional que implica questões culturais de ordem social, econômica, política, religiosa, responsabilidades no trabalho e na família, não existindo, dessa forma, somente uma causa, e sim uma inter-relação de fatores que contribuem para a expressão da violência conjugal.

Para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, “o fenômeno da violência de gênero, acontece no mundo inteiro e atinge as mulheres em todas as idades, graus de instrução, classes sociais, raças, etnias e orientação sexual” (BRASIL, 2003, p. 9). E em seus aspectos de violência física, sexual e psicológica, a violência de gênero é um problema

que está ligado ao poder, em que de um lado prevalece o domínio dos homens sobre as mulheres, e de outro, uma ideologia dominante que lhe dá sustentação, ou seja, qualquer que seja o tipo de violência praticada contra a mulher, a base comum são as desigualdades que predominam na sociedade.

Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, existem também outras formas de violência contra a mulher, como “desigualdades salariais; assédio sexual; uso do corpo como objeto; agressões sexuais; assédio moral, tráfico nacional e internacional de mulheres e meninas” (BRASIL, 2004, p. 73).

Contudo, Minayo (2006 apud FERREIRA; PIMENTEL, 2008, p. 2) considera:

a tipologia da violência baseada no Relatório Mundial da OMS (2002) o qual pontua os seguintes tipos de acordo com as manifestações ocorridas: há violências auto- infligidas, que se referem a comportamentos suicidas e os auto-abusos. Existem também as violências interpessoais, que são classificadas em dois âmbitos: o intrafamiliar e o comunitário, o primeiro ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da família e o segundo acontece no ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos. Por fim, há as violências coletivas, que são atos violentos que acontecem nos âmbitos macros sociais, políticos e econômicos.

É relevante ressaltar que a maior incidência de violência contra a mulher acontece no ambiente doméstico e intrafamiliar. Diante disso, faz-se necessário conhecer brevemente os conceitos de família e sua forma de organização na sociedade. A família que deveria ser o lugar de proteção, em alguns momentos, torna-se um lugar de opressão e violência.

O termo “família” é proveniente do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Esse termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que apareceu entre as tribos latinas ao serem introduzidas a agricultura e a escravidão legalizada. A família vem se modificando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e socioculturais no contexto em que se encontram inseridas (RIBEIRO, 1999).

De acordo com Szymanski (2002, p. 10), as mudanças no arranjo familiar, sua visibilidade e o aceite da sociedade determinam “que se leve em conta o reflexo daquelas na sociedade mais ampla, nas formas de se viver em família e nas relações interpessoais”. A autora ainda destaca que, para compreender essas mudanças e desenvolver projetos de atenção à família,

o ponto de partida é o olhar para esse agrupamento humano como um núcleo em torno do qual as pessoas se unem, primordialmente, por razões afetivas, dentro de um projeto de vida em comum, em que compartilham um quotidiano, e, no decorrer das trocas intersubjetivas, transmitem tradições, planejam seu futuro, acolham-se, atendendo os idosos, formam crianças e adolescentes (SZYMANSKI, 2002, p. 10).

Contudo, Pamplona e Borga (2008, p. 28) apontam que “a família na contemporaneidade vem sofrendo mudanças em sua organização e composição, caracterizando-se pela rapidez das mudanças nas suas relações internas”. Sendo assim, Wagner (2002 apud PAMPLONA; BORGA, 2008) afirma que a família nuclear, composta de pai, mãe e filhos, está passando por grandes transformações, alterando tanto a sua configuração quanto o seu funcionamento, mudando, dessa forma, não somente o arranjo familiar, como também os papéis exercidos por seus membros no seio da família.

Ressalta-se, segundo Szymanski (2002, p. 17), que, para refletir a família atualmente, deve-se analisar as transformações que acontecem na sociedade, como estão se construindo “as novas relações humanas e de que forma as pessoas estão cuidando de suas vidas familiares. As trocas intersubjetivas na família não podem ser vistas isoladamente”. Isso significa que as mudanças que acontecem no mundo afetam a dinâmica familiar, de forma particular, cada família de acordo com sua composição, história e pertencimento social.

É importante identificar o contexto em que as famílias estão inseridas para poder compreender as relações que elas constituem, ou seja, compreender as diferenças nos mais variados conceitos, entender a família como relação humana que está em constante processo de reorganização, procurando entendê-la no contexto em que está inserida. Para isso se faz necessário definir de que família se está falando, em que época, sociedade e segmento social (RIBEIRO, 1999).

Atualmente, é possível observar em toda a sociedade múltiplos modelos de família que vêm se configurando ao longo do tempo. E nesse contexto, além da família nuclear (tradicional) composta de pai, mãe e filhos, outras configurações estão em evidência – a monoparental, a homoparental (homoafetiva), a recomposta e a ampliada –, as quais Pamplona e Borga (2008, p. 30) conceituam da seguinte forma:

A família monoparental é uma variação da organização nuclear tradicional devido a fenômenos sociais, como divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adoção de crianças por uma só pessoa. Essas famílias são chefiadas por um dos genitores e seus filhos. Nas famílias homoparentais existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do mesmo sexo, em que podem incluir crianças adotadas ou filhos biológicos de um ou de ambos os parceiros. A forma de organização da família reconstituída ou recomposta se dá pela constituição de casais divorciados e separados que constituem nova família e unem os filhos de casamentos anteriores. A família ampliada ou extensa é outra organização em que existe uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos, incluindo três ou quatro gerações.

As autoras destacam que compreender e conceituar as famílias e suas novas configurações não é uma tarefa simples, pois existem várias organizações e, ao definir algum

parâmetro, corre-se o risco de excluir outras configurações. Nesse contexto, a família visa dar conta da reprodução social e da transmissão dos valores culturais básicos. No entanto, é imprescindível não se naturalizar a família como um ambiente em que “a solidariedade está dada; é preciso entender que as famílias são também ‘instituições frágeis’ pelo fato de não serem nulas de violência, confinamentos, desencontros e rupturas” (PAMPLONA; BORGA, 2008, p. 31).

As novas configurações familiares devem ser compreendidas pelo Serviço Social, pois no cotidiano de trabalho essas diversas configurações estão presentes e, se tivermos uma visão ainda conservadora de família, a intervenção poderá ser comprometida. Casais homosexuais têm sim possibilidade de adoção, não é a configuração familiar que vai definir, e sim as condições sociais, econômicas e emocionais do casal.

Cavaltanti (2005, p. 14) destaca que é no grupo familiar que o indivíduo começa a compreender a si mesmo e o mundo que o cerca; e, sendo a família o primeiro grupo social do indivíduo, “homem ou mulher tem o dever de oferecer a ele condições dignas para o seu pleno desenvolvimento físico e psíquico, garantindo-lhe segurança e proteção”.

A autora ressalta a importância da família na formação do ser humano, pois a relação com os familiares é a primeira relação da pessoa com o mundo. É o local em que aprende as regras de convivência que orientam a vida em sociedade e, assim, vai construindo seus conceitos sobre o respeito mútuo, os limites e os direitos e os deveres de cidadãos; família, nas suas mais diversas configurações.

Como aponta Rocha (2001, p. 114), apesar das conquistas do movimento feminista no combate à violência de gênero:

Vivemos numa sociedade estruturada por relações de classe, de gênero e de raça/etnia, caracterizadas pela dominação e pela desigualdade, em que a instituição familiar constitui um dos instrumentos utilizados para a reprodução e manutenção da ordem social vigente. O modelo de família compatível com tal ordenamento social baseia-se em relações de poder que instituem dominantes e dominados. Na luta pela manutenção, a violência é um dos mecanismos empregados. Contudo, ideologicamente, a família é apresentada apenas como espaço de relações baseadas no amor, na proteção e na segurança.

Desse modo, a falta de cuidado e igualdade nas relações de gênero, no âmbito doméstico e intrafamiliar, passou a ser reconhecida como um atropelo aos direitos humanos, causando repercussões psicossociais, econômicas e políticas no nível individual e familiar e também na esfera social da mulher e de toda a família, favorecendo o ambiente de

instabilidade no humor, acentuando os comportamentos agressivos nos indivíduos e comprometendo o seu desenvolvimento e o pleno exercício da cidadania.

Conforme Cavalcanti (2005), a violência doméstica é um tipo de violência que ocorre dentro de casa, nas relações entre as pessoas da família, entre homens e mulheres, pais, mães e filhos, entre jovens e idosos. E a violência intrafamiliar pode ocorrer fora do espaço doméstico como resultado de relações violentas entre os membros da própria família.

De acordo o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça (BRASIL, 2001, p. 16), destaca-se que:

A violência intrafamiliar é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Pode ser cometido dentro ou fora da casa, por qualquer integrante da família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida. Inclui também as pessoas que estão exercendo a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de sangue.

Ainda, de acordo o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça (BRASIL, 2001, p. 16), “embora todas as pessoas possam agredir ou serem agredidas, as maiores vítimas da violência intrafamiliar são as mulheres, crianças, jovens, pessoas idosas, homossexuais e portadores de deficiência física e/ou mental”. E os tipos de violência mais frequentes de violência intrafamiliar contra a mulher são aqueles que ocorrem na relação conjugal (entre homem e mulher) e na relação parental (entre pai e filha), ou seja, independentemente da faixa etária, as mulheres, crianças, adultas ou idosas, são os principais alvos. Ressalta-se, ainda, que a violência infrafamiliar acontece em todas as classes sociais, entre indivíduos de diferentes culturas, graus de escolaridade, religião, profissão ou posição política. Porém, cada família tem seu jeito próprio de viver e se organizar na sociedade, por isso a violência intrafamiliar pode manifestar-se de formas distintas, sendo as mais conhecidas: física, psicológica, negligência e sexual.

A violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento que possa causar lesões internas. Já a violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. E a negligência é a omissão de responsabilidade de um ou mais membros da família em relação a outro, sobretudo com aqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou alguma condição específica, permanente ou temporária. Por fim, a violência sexual faz parte da vivência intrafamiliar, mas também pode ocorrer em

outros espaços e em diferentes tipos de relacionamentos, como no ambiente de trabalho ou na rua (BRASIL, 2007).

Segundo Cavalcanti (2005, p. 13), “a vítima de violência doméstica, geralmente, tem pouca auto-estima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material”. O agressor geralmente acusa a vítima de ser culpada pela agressão e ela acaba sofrendo os efeitos da discriminação, culpa e vergonha. A autora ainda aponta que “a vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento e termina não cumprindo a promessa”. O Assistente Social deve desenvolver conhecimentos e habilidades para identificar as características da violência e para intervir em tais situações.

Aldrighi (2006, p. 214) apresenta o estudo realizado por Walker em 1979, o qual propõe o ciclo da violência, dividido em três fases:

1 Fase da construção e evolução da tensão: a tensão entre os parceiros cresce por várias razões como pressões familiares, estresse no trabalho e o comportamento do agressor torna-se mais agressivo numa crescente tensão através de intimidações físicas e verbais; [...] 2 Fase do incidente da agressão: quando o agressor num ato repentino de explosão dirige sua agressão ao parceiro convicto dos motivos de sua ira, intensificando-se no decorrer do tempo; [...] 3 Período de reconciliação: seguindo o episódio agressivo, há um pedido de desculpas, com promessas de que a violência não acontecerá mais. É a fase da “lua-de-mel”.

A fase da “lua de mel” acontece nos relacionamentos mais recentes. E nos relacionamentos mais crônicos, a agressão pelo parceiro torna-se mais assídua ou severa ao longo do tempo, enquanto as expressões de afeto diminuem (ALDRIGHI, 2006).

Soares (2005) afirma que essas situações tanto podem ocorrer da forma como foram descritas aqui, como podem nunca acontecer. Esse é apenas um padrão geral que, em cada caso, vai se manifestar de modo individual. Porém, é importante conhecer o ciclo da violência para poder orientar as mulheres para identificá-lo, quando for o caso, e para evitar que ele se produza.

Contudo, Cavalcanti (2005) ressalta que não se pode deixar de identificar outras matrizes geradoras da violência no interior da própria sociedade, as quais afetam também a família e a qualidade de suas inter-relações, pois a questão da violência doméstica só pode ser compreendida no bojo do contexto social, visto que as configurações familiares não estão isoladas da organização da sociedade, ou seja, uma está contida na outra, influenciando as relações entre os indivíduos.

Segundo Soares (2005), às vezes a violência doméstica pode vir acompanhada de outros problemas como a pobreza, o alcoolismo, o uso e abuso de drogas, os problemas mentais, entre outros, mas é preciso ter muito cuidado para não generalizar suas causas, porque normalmente esses são problemas adicionais, e não diretamente a causa da violência na família. Não se deve excluir os agravantes que podem causar as relações conjugais e que estão presentes em grande parte dos casos de violência doméstica.

Atualmente, percebe-se como, aponta Rocha (2001), que a tendência é desenvolverem-se práticas que se naturalizem, que banalizem a questão da violência contra a mulher, em particular quando se refere à violência doméstica, a qual acontece no interior das

No documento Violência contra a mulher (páginas 42-53)

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