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Lei Maria da Penha: um marco na violência contra a mulher 52

No documento Violência contra a mulher (páginas 53-62)

Sabe-se que, ao longo da história, os movimentos feministas estiveram lutando pelos direitos das mulheres e que essa jornada de lutas foi e ainda é tortuosa, cheia de obstáculos e discriminações. Porém, destaca-se que também foi uma trajetória de vitórias, mesmo que ainda tenha muito a ser feito, muito a ser conquistado.

Dentre as conquistas das mulheres atualmente, encontra-se em evidência a Lei Maria da Penha, que é um marco na violência contra a mulher. Porém, antes de abordar essa lei, é importante conhecer brevemente algumas conquistas das mulheres até alcançarem essa vitória tão desejada e esperada em sua trajetória de lutas e reivindicações por seus direitos de cidadãs.

Nazareth (2005) afirma que, a partir da Revolução Francesa (1789), o papel da mulher na sociedade começou a mudar, pois foi quando as mulheres passaram atuar de forma expressiva na sociedade, visto que a exploração e a limitação de direitos marcaram essa participação feminina e daí em diante começaram a surgir os movimentos pelo fim da prostituição e de todos os tipos de violência contra a mulher, e a conquista da melhoria das condições de vida e trabalho, da participação política, do acesso à instrução e da igualdade de direitos entre homens e mulheres.

A autora destaca ainda que, com a Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII, a absorção do trabalho feminino pelas indústrias, por causa da mão de obra barata, inseriu definitivamente a mulher na produção, com jornadas de trabalho de até 17 horas, “em condições insalubres e submetidas a espancamentos e humilhações, além de receber salários até 60% menores que os dos homens” (NAZARETH, 2005, p. 2).

Diante disso, de acordo com Nazareth (2005, p. 1), começaram a surgir as manifestações das mulheres inicialmente na Europa e nos Estados Unidos, reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas por dia. Em 1819, logo após um enfrentamento no qual a polícia atirou contra as operárias, a Inglaterra aprovou a lei que reduzia para 12 horas o trabalho das mulheres e das crianças e dos adolescentes entre 9 e 16 anos. Em 1824, “a Inglaterra foi o primeiro país a reconhecer, legalmente, o direito de organização dos

trabalhadores, com a aprovação, do direito de livre associação e os sindicatos se organizaram em todo o país”.

Com a persistência das mulheres nessas causas, vieram muitas conquistas; e com o tempo as mulheres foram conquistando mais espaço, evidenciando sua capacidade e força de trabalho, mas também deixaram marcas, como explica Nazareth (2005, p. 2):

A manifestação das operárias chamou a atenção na época por ser a primeira greve organizada exclusivamente por mulheres e pela tragédia do desfecho. Violentamente reprimidas pela polícia, as tecelãs refugiaram-se dentro da fábrica e no dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando as 129 operárias carbonizadas. A sensibilização da sociedade sobre o episódio e pelas causas femininas foi aumentando e foi em 1910 que surgiu a idéia de criar uma data para marcar as questões femininas e lembrar a morte das operárias. Durante a segunda Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, a famosa ativista dos direitos femininos, Clara Zetkin, propôs que o 8 de março fosse declarado como o Dia Internacional da Mulher. Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa e a data passou a ser comemorada no mundo inteiro.

Destaca-se que, mesmo com todas as barreiras e sofrimentos passados, as mulheres ficaram cada vez mais independentes e continuaram lutando junto a causas sociais e políticas e se fazendo escutar em meio a uma sociedade tão desigual e preconceituosa. E, assim, as conquistas continuaram...

Lustósa (2001, p. 157) diz que “relação mulher x política sempre foi tabu na sociedade brasileira. Na década de 20 o movimento feminista deu os seus primeiros passos, iniciando a reivindicação dos seus direitos”. O direito de voto para a mulher só veio na Era Vargas, em 1932, e foi polo aglutinado das lutas feministas. Com a conquista do direito ao voto, aconteceram outras conquistas femininas. Atualmente, por exemplo, as mulheres são frequentemente eleitas para cargos públicos, inclusive estão à frente da administração de grandes metrópoles.

A autora ainda afirma que, a partir dos anos 1960, o movimento feminista começou a se destacar no mundo, no meio de transformações e mudanças de comportamento. As discussões sobre a revolução sexual no Brasil não foram bem vistas pelo lado conservador da sociedade e pela Igreja, pois a liberdade da mulher, amparada pela pílula anticoncepcional, fez-se acompanhar de várias revisões comportamentais. “Casamento, divórcio, homossexualidade foram temas que surgiram em revistas e televisão. A moda foi parâmetro da liberdade: minissaia e biquíni” (LUSTÓSA, 2001, p. 157).

Chaves (2006) salienta que, na década de 1950, o movimento feminista e os métodos anticoncepcionais ocasionaram modificações irreversíveis na sociedade,

principalmente na dinâmica das relações e organizações familiares, na divisão dos papéis sexuais tanto no ambiente privado quanto no público. O autor ainda destaca que foi na década de 1970 que a mulher começou a se “libertar”, pensando mais em seu bem-estar, aparência, corpo, saúde, vida sexual, equilíbrio psíquico, mobilizando-se com mais vigor e coragem pelas causas sociais e por seus direito de cidadã.

Cavalcanti (2005) ressalta que dos anos 1970 até meados dos anos 1980, nos casos de violência contra a mulher, as ações de combate e denúncia da violência vinham da sociedade civil, sobretudo de grupos feministas.

A década de 1980 foi marcada por conquistas importantes para as mulheres, pois foi nessa década que a denúncia da violência doméstica praticada contra as mulheres ganhou mais força. E em 6 de agosto de 1985, foi criada a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (DDM), pelo Decreto n. 23.769, com a finalidade de investigar e apurar os crimes contra as mulheres, sem limitações de idade, relativos a lesões corporais, crimes contra a liberdade pessoal, entre outros. As delegacias têm como objetivo criar um ambiente institucional de acolhida, denúncia e coibição à violência contra a mulher, oferecendo um atendimento diferenciado para essas mulheres e estimulando-as a denunciarem seus agressores (CAVALCANTI, 2005).

As delegacias são um espaço institucional de atendimento, combate e prevenção da violência contra a mulher, com profissionais mulheres (policiais, delegadas, escrivãs, investigadoras) juntamente com uma equipe de Assistentes Sociais e de Psicólogas, por mais que em muitos municípios ainda encontremos homens fazendo o atendimento inicial às mulheres vítimas de violência. Para Cavalcanti (2005), as delegacias deveriam ser espaços em que as mulheres pudessem trazer a notícia dos crimes sem constrangimento, em que fossem ouvidas, sua representação encaminhada e todos os procedimentos legais adotados.

No entanto, Camargo e Aquino (2003, p. 41) ressaltam que:

A implantação das Delegacias teve impacto na visibilização da violência contra a mulher, no aumento da denúncia, mas também seus limites. Se operava de forma isolada e sem os elementos necessários à qualificação do atendimento dispensado à mulher, leva à chamada rota crítica: exposição da vítima a novas agressões, por debilidades dos sistemas protetivos; isolamento social e constantes desdobramentos visando à fuga da perseguição iniciada pelo agressor. A DEAM, além de trazer os números a público, trouxe uma discussão política sobre a violência contra a mulher. Os números alarmantes fizeram com que a violência entrasse na pauta das discussões políticas.

Contudo, os autores destacam que houve um conflito entre a expectativa da sociedade e dos movimentos sociais organizados, porque a falta de aparelhamento e a

insuficiência de legislação colocaram as Delegacias da Mulher diante de importantes impasses. Implantaram-se as delegacias sem outros serviços para o atendimento às demandas complexas nas situações de violência doméstica, muitos foram os papéis a elas atribuídos que nem sempre se adequavam aos objetivos para os quais foram preconizadas e estavam equipadas(CAMARGO; AQUINO, 2003).

A falta da rede socioassistencial para atendimento à mulher é uma realidade e dificulta o atendimento qualificado e eficaz nos casos de violência; as próprias delegacias ainda não foram implantadas na sua totalidade.

E também, de acordo com Camargo e Aquino (2003), a ausência de formação para o atendimento profissional em esfera pública das situações de violência, somada à convicção de que a denúncia desencadeava automaticamente a resolução da situação que as mulheres apresentavam, colocou as delegacias no alvo de críticas dos movimentos feministas, sem que estivessem dadas as possibilidades para um melhor funcionamento do serviço. Portanto, uma solução viável a esse limite, segundo Camargo e Aquino (2003, p. 42), seria a “constituição de uma rede de serviços e parcerias que, integradamente, aporte os recursos necessários ao enfrentamento da violência doméstica e de gênero”.

Em seguida surgiram também as casas-abrigo, que se constituem “em uma das ações de um programa de políticas públicas de prevenção, assistência e combate à violência doméstica e de gênero” (BRASIL, 2003, p. 55). São locais seguros que oferecem moradia e atendimento completo às mulheres em situação de risco de vida em razão de violência doméstica. Esse é um serviço temporário e sigiloso em que usuárias poderão ficar por um tempo determinado, até terem condições seguras de retomar o andamento de suas vidas.

No entanto, Cavalcanti (2005) destaca que as conquistas das mulheres da década de 1980 coincidiram com a abertura democrática na sociedade brasileira, por meio da Constituição de 1988, momento de ampliação dos espaços sociais em que as mulheres articularam-se aos vários grupos feministas, ocasionando o aumento das denúncias de violência contra a mulher. A partir da Constituição de 1988, artigo 245, o Estado brasileiro teve que dar “uma atenção especial às pessoas vítimas de crimes e seus herdeiros e dependentes” (CAVALCANTI, 2005, p. 21).

Em 1994, aconteceu a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (conhecida como Convenção de Belém do Pará). Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (BRASIL, 2005), a Convenção de Belém do Pará é resultado da VI Assembleia Extraordinária de Delegadas da Comissão Interamericana de Mulheres (CIM) da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994, convocada

designadamente para tratar da violência contra a mulher nas Américas e assinada por 29 países. O Brasil aderiu à Convenção em 1994 e a aprovou por meio de decreto legislativo em 27 de novembro de 1995. Deste então, seus princípios e recomendações nela contidos têm força de lei em nosso país, sendo o documento o único instrumento internacional destinado exclusivamente à violência contra mulher.

Conforme Cavalcanti (2005), destaca-se que o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, resolveu promover, nos estados, a criação de centros de assistência e apoio às vítimas de crimes. E no ano de 1999, por meio da Lei n. 9.807, de 13 de julho, constituem-se normas de organização e manutenção de programas especiais de proteção às vítimas e testemunhas ameaçadas. A partir disso, o Ministério da Justiça apoiou a implantação, nos estados de Santa Catarina, com sede em Florianópolis, o Programa Catarinense de Atendimento à Vítima de Crime (Pró-CEVIC), atualmente chamado de Centro de Atendimento a Vítimas de Violência (CEAV), e em Paraíba, com sede em João Pessoa, o também chamado Centro de Atendimento a Vítimas de Violência (CEAV). E no ano seguinte, em 2000, outros núcleos foram criados em parceria com as Secretarias de Estado dos Direitos Humanos: em Minas Gerais, o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes Violentos; em São Paulo, o Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI); e em Alagoas, o Centro de Apoio a Vítimas de Crime (CAVCRIME).

Cavalcanti (2005, p. 21) ressalta que:

o objetivo desses centros de assistência e apoio a vítimas de crimes é basicamente o de conceder amparo jurídico, social e psicológico às pessoas vitimizadas. A atuação interdisciplinar das áreas jurídica, social e psicológica busca primordialmente a reestruturação moral, psíquica e social da vítima. O acesso à justiça significa para essas pessoas o restabelecimento da ordem social individual e familiar, o que implica, em última instância, o controle da violência, o exercício da cidadania e o resgate dos direitos humanos.

Os Centros de Atendimento a Vítimas de Violência são espaços profissionais significativos para a atuação do Serviço Social, que, entre suas atribuições, realiza a escuta qualificada e atua em grupos e acompanhamento com as famílias.

Todas as mudanças ocorridas com as mulheres, já citadas e outras mais, fizeram com que crescesse a participação da mulher no espaço político, público, social e de direitos. Em resposta a todo esse caminho e anos de luta e investimento para se criar uma lei que protegesse e amparasse legalmente a mulher em situação de violência, já que não existia no Código Penal brasileiro um artigo especial para esse tipo de violência, foi sancionada a Lei n. 11.340/2006 ou Lei Maria da Penha, que foi promulgada em 7 de agosto de 2006. Essa é uma

lei específica para ser aplicada nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher que contribui para prevenir que os atos e os autores da violência permaneçam a tratar a mulher de maneira indigna e para garantir mecanismos especiais às mulheres vítimas de agressão pelo marido ou parceiro.

O motivo que levou a lei a ser “batizada” com esse nome remonta ao ano de 1983. No dia 29 de maio desse ano, na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes foi atingida enquanto dormia por um tiro de espingarda desferido por seu então marido, o economista Marco Antônio Heredia Viveiros, colombiano de origem e naturalizado brasileiro, professor universitário de Economia e pai de suas três filhas. Em razão desse tiro, que atingiu a vítima na coluna destruindo a terceira e quarta vértebras, suportou lesões que a deixaram paraplégica. Na segunda tentativa, o marido a empurrou da cadeira de rodas e tentou eletrocutá-la embaixo do chuveiro (CUNHA; PINTO, 2007; DIAS, 2007).

Figura 1 – Maria da Penha Maia Fernandes Fonte: MANIA DE HISTÓRIA, 2009.

Em homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que fez da sua tragédia pessoal uma bandeira de luta pelos direitos da mulher e batalhou durante 20 anos para que fosse feito justiça, a Lei n. 11.340/06 ficou conhecida como Lei Maria da Penha. Após as tentativas de homicídio, Maria da Penha começou a atuar em movimentos sociais contra violência e impunidade, e hoje é coordenadora de estudos, pesquisas e publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV) no Ceará. Atualmente

ela atua junto à Coordenação de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de Fortaleza e é considerada símbolo contra a violência doméstica (CUNHA; PINTO, 2007; DIAS, 2007).

Destaca-se que, conforme a Lei Maria da Penha:

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (BRASIL, 2006).

De acordo com a Lei Maria da Penha, o conceito de violência doméstica e familiar é:

Toda a espécie de agressão (ação ou omissão) dirigida contra a mulher (vítima certa) num determinado ambiente (doméstico, familiar ou de intimidade) baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006).

Os conceitos e as formas de violência doméstica e familiar praticada contra a mulher em razão de vínculo de natureza familiar ou afetiva, atendidos pela Lei Maria da Penha, são:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006).

Dias (2007, p. 40) afirma que “a violência passa a ser doméstica quando praticada: a) no âmbito da unidade doméstica; b) no âmbito da família; ou c) em qualquer relação íntima de afeto, independente de orientação sexual”.

Ferreira e Pimentel (2008, p. 3) apontam que a Lei Maria da Penha vem ocasionando uma maior visibilidade às ações de erradicação da violência contra a mulher, atuando de forma concreta em relação ao agressor, como exemplo têm-se “a sua prisão, segurança e proteção à mulher agredida em espaços como Casas Abrigo e a viabilidade de acessar meios governamentais e jurídicos para questões legais serem resolvidas sem tanta morosidade e com mais resolutividade”.

A Lei evita o encaminhamento do processo ao Juizado Especial, em que os casos acabam com o agressor pagando apenas cestas básicas, e aumenta a pena para o agressor, que antes era de 6 meses a um ano, passando a ser de três meses a três anos. Dentre os direitos especiais da Lei, destaca-se a exigência da abertura de processo em caráter urgente, a inclusão da mulher em serviços de proteção e a garantia de acompanhamento por um policial caso a vítima precise ir à sua casa buscar seus pertences.

Além disso, a Lei permite ao juiz impor ao agressor restrições imediatas, como perda do porte de arma e proibição de se aproximar da vítima ou dos filhos do casal, se for necessário, no caso de a vítima e seus filhos correrem algum risco de vida.

Segundo Dias (2007), a Lei Maria da Penha foi recebida com algumas críticas e é rotulada de indevida e inconstitucional. Porém, apesar de alguns homens também serem agredidos, dificilmente eles enfrentarão o mesmo ciclo sofrido pela mulher, sem contar que os casos de violência contra a mulher são mais comuns e mais frequentes. Dificilmente se ouve falar de um homem que viva assustado, com medo dos ataques da mulher; tenha se isolado dos familiares e amigos por pressão ou vergonha da condição em que está vivendo; viva assustado por não poder proteger os filhos; tenha medo de deixá-la; e que acabe sendo morto por falta de proteção.

Nesse sentido, Aldrighi (2006, p. 212) diz que:

A violência contra a mulher é claramente um problema de importância e relevância social, mas até agora, muito raramente ouvimos falar sobre homens agredidos. Enquanto abrigos, legislação e uma série de registros sobre a violência do homem contra a mulher, o inverso é um fenômeno social quase que desconhecido.

Todavia, essa é a rotina de inúmeras mulheres agredidas todos os dias. Percebe-se nesse contexto que a dominação e a exploração do homem em relação à mulher são evidentes e a Lei Maria da Penha veio para atender a essa demanda, atuando nessas desigualdades, por isso a necessidade e a importância de uma legislação própria para tratar das questões relativas

à violência contra a mulher; a realidade dessa violência que aflige e assusta mulheres torna-se cada vez mais alarmante.

Como aponta Camargo e Aquino (2003), as políticas de proteção e segurança são indispensáveis para se enfrentar a violência. No entanto, é necessário progredir tanto em políticas de prevenção, quanto também na ampliação de políticas que atuem na reversão da dependência financeira e no aumento da autoestima das mulheres, fortalecendo, assim, a capacidade de representação e participação na sociedade e criando condições apropriadas para a sua autonomia pessoal e coletiva. E como a questão da saúde também é totalmente afetada pelas situações de violência doméstica, é preciso que elas sejam assumidas, acolhidas e incluídas em programas de assistência a vítimas de agressões.

Como esse fenômeno é relacionado à questão de gênero, envolvendo o homem e a mulher, é preciso criar táticas de enfrentamento para ambos, oferecendo serviços na área da psicologia, social e jurídico com o objetivo de estudar suas atitudes e maneiras de relacionarem-se e, diante disso, procurar que cada um aprenda a conviver com respeito às suas individualidades e diferenças (FERREIRA; PIMENTEL, 2008).

Camargo e Aquino (2003, p. 48) reforçam que:

A violência doméstica e de gênero é um problema complexo, que possui profundas raízes na organização social, nas estruturas econômicas e de poder na sociedade. Enfrentá-las exige o desenvolvimento de políticas públicas em diferentes áreas e a mobilização e conscientização da sociedade. O engajamento dos governos e dos mais amplos setores sociais é fundamental para que se ergam bases para a

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