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Homossexualidade e adoção: Discutindo o direito de exercer a parentalidade homoafetiva na sociedade contemporanêa

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE DE RIO DAS OSTRAS DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

HOMOSSEXUALIDADE E ADOÇÃO:

Discutindo o direito de exercer a parentalidade homoafetiva na sociedade contemporanêa

JOANA DA SILVA MOREIRA

Rio das Ostras Dezembro de 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE DE RIO DAS OSTRAS DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

HOMOSSEXUALIDADE E ADOÇÃO:

Discutindo o direito de exercer a parentalidade homoafetiva na sociedade contemporanêa

JOANA DA SILVA MOREIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade Federal Fluminense - campus Rio das Ostras como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª Msª Pollyana Luz Mello Macedo

Rio das Ostras Dezembro de 2014

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HOMOSSEXUALIDADE E ADOÇÃO:

Discutindo o direito de exercer a parentalidade homoafetiva na sociedade contemporanêa

JOANA DA SILVA MOREIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade Federal Fluminense - campus Rio das Ostras como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________ Profª. Msª. Pollyana Luz Mello Macedo (Orientadora)

UFF – Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________________ Prof. Ms. Diego da Silva Tabosa

UFF – Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________________ Prof. Ms. Rafael Reis da Luz

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio das Ostras Dezembro de 2014

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Dedico esse trabalho aos meus pais, amores que transbordam.

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AGRADECIMENTOS

Nesse momento especial em minha vida, gostaria de agradecer a todos que sempre estiveram ao me lado me apoiando.

Primeiramente, agradeço aos deuses, anjos, santos protetores e toda essa energia positiva que conspirou para que eu chegasse até aqui.

À minha mãe, que mesmo pela distância física, sempre se fez presente em meus pensamentos e momentos de momentos de conversa.

Ao meu pai, Chico, pelo seu vasto conhecimento e apoio incondicional.

Ao meu cunhado, Marco Aurélio, que insistiu muito para que eu fizesse a prova da UFF, acreditando mais em mim do que eu mesma. Valeu! Eu consegui!

À minha tia Chirley ( minha tia prefirida) por sempre torcer e orar por mim.

Às minhas irmãs, Ana Paula, Ana Lúcia e Luciana, que me incentivaram a continuar estudando, dando conselhos e puxões de orelha. Obrigada!

Aos meus sobrinhos lindos, que sem eles, a vida não teria nenhuma graça.

À profª Ms. Pollyana, minha orientadora, meu carinho e admiração pela sua participação mais do que especial na construção desse trabalho.

Ao prof° Ms. Diego, obrigada por tudo, pelas conversas, dicas de concurso, pelas caronas e principalmente, por ter aceitado o meu convite de compor a minha banca examinadora.

Ao Ms. Rafael, por ter sido uma das minhas fontes de inspiração nesse trabalho, obrigada por aceitar prontamente o meu convite, e por contribuir na minha formação acadêmica.

Meu muito obrigado á essas mulheres guerreiras, de garra, inspiradoras que são: a profª Drª Ray, com quem tenho aprendido bastante durante esse tempo no Projeto de Extensão, e por ter encantado á todos em sua disciplina sobre “questão racial”. E profª Kátia Marro, pela sua garra e determinação, sua incessante luta frente aos movimentos sociais, é lindo de ver e construir com vocês.Obrigada, moças!

Ao trio ternura: Edson Teixeira, Felipe Brito e Bruno Ferreira Teixeira por mostrarem que o conhecimento ultrapassa os muros da universidade e como vocês mesmo dizem: “Ninguém tá de bobeira!”

À todos os docentes da UFF que de uma forma ou outra contribuíram em minha formação acadêmica.

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Agradeço a minha turma 2009.2 que se permaneceu unida durante muito tempo e onde fiz amizades que pretendo levar para vida toda. Aprendi muito com vocês!

Às meninas da minha república (Joany, Hellen, Hitamara), por terem sido minha segunda família e por terem feito parte dos melhores momentos da minha vida. Joany Talon , a menina-escritora-dramática, uma das pessoas mais sensíveis que já conheci na vida. Hellen Tavares, meu “bebê gigante”! Já passamos por poucas e boas! E por último, e não menos importante, Hitamara, meu “malvado favorito”. Obrigada pela amizade, parceria de viagens e conselhos de sempre!

À Heloá Júlio, carinhosamente conhecida como “Lolô”, por ter sido guru, mestre, mãe, conselheira e acima de tudo amiga. Obrigada por me acolher em sua casa e me receber tão bem e por ter me dado um dos maiores presentes que foi a sua querida vó Nadir, que se fez minha também. Meu carinho de sempre, por vocês!

À Juliana Nascimento, essa faculdade não seria a mesma sem você. Obrigada por me tirar as melhores risadas, mesmo nos momentos mais improváveis.

À Greiane Rangel, minha eterna “Nane”, pela inocência que você tem, é a coisa mais bela. Meu orgulho, em estudar anos com uma pessoa tão simples, amiga e dedicada com todos ao redor.

À Maria Gaby, mineirinha uai! O que falar de você, pessoa especial e parte dessa caminhada.

À Michele Maraboti, menina linda, inteligente e determinada. Menina de ouro, obrigada por ter sido sempre amiga e uma fonte de inspiração em minha vida.

À Thamy Cunha, obrigada pela sua parceria e momentos de estudo. Seu sarcasmo se faz presente sempre.

À Paloma Soares, meu braço, fechamento, amiga-irmã, que mesmo não ter concluído essa etapa comigo, sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. Gratidão!

Ao longo dessa jornada, conheci pessoas mais que especiais joias raras, que pretendo levar pra vida toda. Dayse, Eloá e Angie. Obrigada Dayse Oliveira, por ser essa pessoa linda por dentro e por fora. Por me acolher em sua casa, pelas horas de conversa e risadas e principalmente, por você ser quem você é! Eloá Resende, minha minhoquinha da terra, uma flor em pessoa e ciumenta toda vida. Te considero pra caramba, minha eterna “band” (internas da UFF). Obrigada pela amizade, compreensão e dedicação! Angie Mariane, sua amizade, apoio e mimos de sempre foram parte fundamental para que eu estivesse em paz. Amoras, eu não teria chegado até aqui sem vocês.

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Algumas pessoas entram, em nossa vida por acaso e permanecem por algum motivo... Dentre muitas citadas, cabe fazer um destaque especial para Jéssica Monteiro, pelos eternos ensinamentos, pelas conversas e principalmente por ouvir minhas súplicas. Nesse momento tão especial, sua humildade e dedicação estiveram presentes até aqui. Saiba que jamais me esquecerei de tudo isso! Espero te encontrar nessas caminhadas da vida e saiba que estou sempre na torcida pela sua vitória! Obrigada por tudo! Você vale ouro!

Meu muito obrigada ao querido Elson, por estar sempre presente, seja nas conversas na universidade ou nos seminários, essa luta é nossa!

À minha gaúcha do coração, grande Carmel, que entrou de fininho em minha vida, e ganhou um lugar mais do que especial no meu coração.

E a eterna Ara Nogueira, querida-louca-amiga, pessoa com um coração gigante, alma de criança e sorriso no olhar. Obrigada, por ter feito valer a pena!

Aos amigos de longas datas, que mesmo esquecendo qual era o meu curso, nunca deixaram de me apoiar. Estamos juntos!

A UFF não é feita somente de alunos e professores. Tempos também pessoas que estão sempre ali pertinho e que merecem toda atenção.

As “tias da limpeza” por manterem sempre um sorriso nos lábios e um papo descontraído nos corredores da universidade, vocês fazem parte de toda jornada comigo! Máximo respeito!

Amigos, colegas e professores, essa etapa da minha vida se conclui, mais não significa que tenha chegada ao fim. Muito pelo contrário, é só o começo! Encerra-se um ciclo, para dar espaço a outro. É a vida! Meu respeito e admiração a todos vocês que estiveram comigo, me apoiando para que eu trilhasse até aqui.

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RESUMO

O presente trabalho propõe analisar a adoção homoafetiva partindo do conceito de família, em diferentes momentos históricos, passando por transformações ate resultar nas configurações familiares existentes. Vimos que a família não é algo natural, e sim, construído socialmente, revelando a adoção como parte desse processo. A adoção e a homossexualidade são termos que ainda são reprimidos em nossa sociedade, e para falarmos em adoção, abordaremos seu processo evolutivo na sociedade contemporânea, analisando também seus dilemas enfrentados, sobretudo no que tange a adoção homoafetiva. Nosso objetivo com esse estudo é desmistificar a impossibilidade dos pares homoafetivos realizarem a adoção, com base na bibliografia, nas legislações, alem da analise dos dados obtidos através da pesquisa de campo, dando subsídios para construção desse trabalho. Contudo, observamos que a adoção homoparental não se configura apenas como desejo, mas também como um direito dos pares homoafetivos de constituir uma família e viverem em sociedade.

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ABSTRACT

This work proposes to analyze the homoafetiva adoption starting with the concept of family, in different historical moments, through transformations even result in the existing family configurations. we saw that the family is not something natural, but, socially constructed, revealing the adoption as part of this process. The adoption and homosexuality, are terms that are still repressed in our society. and to speak in adoption, we will cover your evolutionary process in contemporary society, considering also their enfrentadod dilemmas, especially regarding the homoafetiva adoption. Our goal with this study is to demystify the inability of homosexual couples to adopt conduct, based on the literature, the laws, besides the analysis of data obtained through field research, giving subsidies for construction of this work. However, we observed that the adoption homoparental not represented purely as desire, but also as a right of homosexual couples to establish a family and live in society.

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Nada é impossível de mudar Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceitais o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta,

de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer

impossível de mudar .

As tormentas Bertold Brecht

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LISTA DE ABREVIATURAS

CFP – Conselho Federal de Psicologia CNA – Cadastro Nacional da Adoção CNJ – Cadastro Nacional da Justiça CT – Conselho Tutelar

DF – Distrito Federal

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente GAA – Grupos de Apoio a Adoção

GAASE – Grupo de Apoio a Adoção de Sergipe LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais

LGBTTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Transgêneros SDH – Secretaria dos Direitos Humanos

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TRT – Tribunal Regional do Trabalho

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Quadro comparativo de momentos da legislação brasileira de adoção TABELA 2 – Tipos de adoção segundo o Grupo de Apoio a Adoção de Sergipe TABELA 3 – Perfil dos Adotantes/Idade

TABELA 4 - Perfil dos Adotantes/Profissão

TABELA 5 – Perfil dos Adotados/Idade TABELA 6 - Perfil dos Adotados / Gênero TABELA 7 – Perfil dos Adotados / Raça /Cor

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1 – FAMÍLIA PATRIARCAL E HOMOSSEXUALIDADE ... 17

1.1 - Breve resgate histórico da família patriarcal na sociedade brasileira e seu legado conservador ... 17

1.2 - Notas introdutórias a respeito das principais (re)configurações familiares ... 25

1.3 - O processo histórico e evolutivo da adoção ... 27

1.4 - Adoções no Brasil: avanços, dilemas e enfrentamentos ... 31

1.5 - Adoção homoafetiva: algumas questões para além do desejo de adotar... 37

CAPÍTULO 2 – HOMOSSEXUALIDADE E ADOÇÃO ... 40

2.1 - Breve histórico da homossexualidade ... 41

2.1.1 - “Homem com homem, dá lobisomem. Mulher com mulher, vira jacaré”: uma perspectiva critica de analise das determinações sociais que influenciam no processo de desenvolvimento humano ... 49

2.2 – Homossexualidades e algumas considerações no que tange a homoparentalidade ... 50

CAPÍTULO 3 – PESQUISA DE CAMPO: PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DE “MITOS” EM TORNO DA ADOÇÃO HOMOPARENTAL A PARTIR DA ANÁLISE DE DADOS ... 54

3.1 – Pressupostos metodológicos de pesquisa de análise dos dados ... 55

3.2 - Desconstruindo “mitos e tabus”: a perspectiva da construção familiar através da adoção homoparental. ... 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 79

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14 INTRODUÇÃO

A homossexualidade sempre esteve presente na história da humanidade, mas partir do momento em que os homossexuais desejaram buscar o reconhecimento de seus direitos, bem como união civil e a adoção, a sociedade os transformou em alvo de repúdio e preconceito, devido a diversos fatores morais, sociais e culturais que reconhece a família como unidade procriadora, excluindo a parentalidade homoafetiva.

Segundo Fonseca (2008), “a homoparentalidade, em muitos aspectos não é diferente de outras formas de organização familiar. [...] Ao afastar a discussão da ‘tradicional família nuclear’, isto é, da procriação sexuada e da filiação biogenética, essas 'novas' formas familiares sacodem as bases de nossas crenças no que é ‘natural’” (p.769). E é nesse sentido amplo de discutir a família, reconhecendo as diferentes configurações familiares é que sintetizaremos o nosso trabalho.

A proposta de discutir a temática sobre adoção homoafetiva teve motivação pessoal (pelo fato de eu ser adotada), profissional, por reafirmar o Código de Ética, priorizando um de seus princípios no que tange o respeito à diversidade e também após a minha inserção e experiência de realizar o estagio curricular obrigatório no Conselho Tutelar de Rio das Ostras, onde por alguns momentos estive presente no Abrigo Municipal, mantendo contato com as crianças e adolescentes que ali viviam. Pensando na realidade em que se encontravam aquelas crianças e adolescentes bem como unir essa temática sobre a homossexualidade, que para mim, tem um valor significativo, estudar sobre esse grupo que é marginalizado e criminalizado na sociedade contemporânea, é que surgiu o desejo de estudar a adoção homoafetiva e conhecer essa reconfiguração familiar.

Para elaboração desse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a temática da adoção, homossexualidade, e consequentemente suas legislações pertinentes, consultando livros, artigos e revistas, buscando compreender sobre a família na sociedade brasileira, as reconfigurações familiares que envolvem também a adoção homoafetiva.

A internet foi um mecanismo de suma importância nesse trabalho, disponibilizando artigos, vídeos e livros sobre a temática apresentada.

Foi realizada uma pesquisa de campo, onde tive a oportunidade de realizar uma entrevista somente com uma das famílias, sendo que as outras quatro famílias restantes realizaram questionário via correio eletrônico, que ao longo do trabalho denomino por

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15 entrevista/ questionário, onde foram realizadas as mesmas perguntas para todas as famílias – o questionário encontra-se anexado ao final desse trabalho. Cabe ressaltar, que embora a entrevista pessoal não tenha sido realizada com todas as famílias, devido a diversos contratempos bem como a falta de tempo hábil, disponibilidade dos entrevistados, condições financeiras para deslocamento, o conhecimento adquirido em suas respostas no questionário possuem valor significativo na construção desse trabalho.

Diante do exposto, constatamos que não podemos falar de adoção, sem antes falarmos de família, por estarem diretamente relacionados. Logo no Capítulo 1, faremos uma leitura na história da família, sendo este o núcleo essencial na construção da identidade desses sujeitos aqui apresentados. Partindo desta premissa, iniciaremos pela análise dos grupos das tribos primitivas, perpassando aos valores e costumes atuais, construídos historicamente, chegando ao modo de como nos organizamos hoje na sociedade capitalista. Em suas nuances faremos um resgate a família patriarcal brasileira, sobretudo sobre o seu legado conservador.

Na segunda parte desse capítulo falaremos sobre as principais reconfigurações familiares. Pois, se tratando de família constatamos a partir de leituras em Bruschini (2000), que aborda diferentes modelos de família até chegarmos às composições que temos hoje. Falaremos também sobre o conceito de famílias, cunhado por Mioto (1997) que adotado não só por autores da vertente marxista, mas também por autores da psicologia, sociologia, e afins.

Ao final do primeiro capítulo, abordaremos sobre a adoção, seu processo histórico, sobretudo estudaremos sobre os embates e dilemas enfrentados por ela. Para tanto, se faz necessário recorremos às legislações que envolvem essa temática, além do vasto material que a envolve. Por se tratar de um “tabu” na sociedade brasileira, iremos adensar o nosso estudo, desmitificando os mitos que envolvem a instituição da adoção, bem como o receio que muitas pessoas ainda possuem em adotar uma criança e/ou adolescente nos dias atuais.

Adiante, no segundo capítulo abordaremos sobre a homossexualidade, para além de seu conceito, compreendendo sua essência como parte de nossa história. Para tanto, analisaremos a homossexualidade a partir de conceitos impostos no processo de construção social. Cabe citar, que ao logo do referido capítulo, discursaremos sobre a parentalidade homoafetiva.

No terceiro capítulo, destacaremos o método de pesquisa utilizado em nosso trabalho, tendo por base o materialismo histórico dialético de Marx. Sendo que o presente capítulo está

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16 dividido em duas partes: na primeira parte abordaremos sobre a metodologia de pesquisa, que inclui a pesquisa qualitativa e quantitativa, a perspectiva teórica e nosso objetivo, onde mencionares os dilemas enfrentados pelas famílias entrevistadas que compõem nosso estudo. Na segunda parte, faremos a analise dos dados coletados e a partir de uma entrevista/questionário aplicadas com as essas famílias, que foram nosso objeto de estudo durante esse trabalho, desmistificando os mitos em torno da parentalidade homoafetiva, a partir das próprias experiências e relatos obtidos pelas mesmas.

Nas considerações finais procuramos analisar os limites e possibilidades da adoção homoparental, pois embora tenhamos avançado socialmente em alguns pontos, a sociedade capitalista possui forte influência do patriarcado, bem como o machismo e o preconceito, que muitas vezes é velado. Visamos romper com as reproduções preconceituosas baseadas no senso comum acerca da parentalidade, a fim de que possamos contribuir para a garantia de direitos e não para a reprodução de preconceitos. Avaliamos que embora tenhamos encontrado bastante bibliografia sobre a temática, ainda há necessidade de mais produção acadêmica para que venha contribuir na construção de uma formação profissional, pautando-se numa analipautando-se sócio-crítica.

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17 CAPÍTULO 1 – FAMÍLIA PATRIARCAL E HOMOSSEXUALIDADE

Iniciaremos esse capítulo fazendo um breve resgate histórico à família patriarcal, sobretudo fazendo uma análise sobre o seu legado conservador presente na contemporaneidade.

Num próximo momento, discursaremos a respeito de algumas importantes reconfigurações familiares. Nesse sentido, apresentaremos os diferentes arranjos familiares presentes na atualidade, ampliando o nosso debate.

Finalizaremos abordando sobre a adoção e todo seu processo histórico e evolutivo na nossa sociedade, citando algumas legislações que estão relacionadas à temática e suas possíveis influências no reconhecimento da adoção enquanto direito aos pares homoafetivos.

1.1 – Breve resgate histórico da família patriarcal na sociedade brasileira e seu legado conservador

“Família, um sonho ter uma família Família, um sonho de todo dia Família é quem você escolhe pra viver Família é quem você escolhe pra você Não precisa ter conta sanguínea É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia.”

O Rappa

A partir de um breve resgate histórico, adotaremos uma visão mais ampla do conceito da família nos mais variados momentos históricos, desde a antiguidade até os dias de hoje. Dessa forma, consideramos o conservadorismo presente na sociedade capitalista como ponto de partida de nossas análises, levando em conta as relações sociais e a dinâmica existentes em cada sociedade.

Sabemos que a família é uma instituição constituída historicamente que está sempre em transformação, e que, ao longo da trajetória de cada sociedade, havia um tipo de família. Durante todo o processo histórico da humanidade, a família e a sociedade estavam em

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18 construção, por isso concordamos com BRUSCHINI (2000, p.50) “[...] antes de estudar a respeito da família deveríamos dissolver sua aparência de naturalidade, percebendo-a como criação humana mutável”.

Nesse sentido, podemos nos distanciar da visão equivocada do senso comum, a qual nos leva a pensar que a família é algo natural, que não pode ser modificada. Caso contrário, estaríamos “pregando” um falso discurso da realidade, pois ela (a realidade) por si só nos mostra os diferentes arranjos familiares presentes na sociedade capitalista, fruto de uma construção que é social.

Visto que, a família não é algo natural, imutável, mas, construída historicamente e assumindo diversas configurações de acordo com o tempo histórico, vamos mencionar a visão de autores que acreditam que a história da família pode ser dividida em estágios:

Num primeiro momento, pertencia ao período colonial onde homens, mulheres e crianças trabalhavam juntos, designavam diversas tarefas para obterem seu sustento. Já o segundo momento, veio com a ruptura da Revolução Industrial e a venda da força de trabalho, fins do século XIX. Nesse período, houve a separação da propriedade privada e do trabalho e uma forte concentração de riqueza, resultando nas novas relações sociais como resquício do processo de produção capitalista. O terceiro momento começa a partir do século XX, quando a função da família passou a ser a unidade de consumo, a vida se tornou mais privatizada, os papéis sexuais no casamento se tornaram menos segregados. (YOUNG E WILLMOT, apud BRUSCHINI, 2000, p. 51)

Vale ressaltar que, a visão de Young e Willmot não é única, Bruschini (2000) nos aponta outras visões a respeito da família. Em seu texto, ela menciona autores como Mark Poster, o qual sinaliza que “a família é descontínua, não-linear e não homogênea, consistindo em padrões familiares distintos, cada um com sua própria história” (POSTER, 1979 apud BRUSCHINI, 2000, p. 52).

Como a autora mesmo citou a respeito de outros padrões familiares existentes, ela está ao mesmo tempo afirmando a família nuclear burguesa não sendo única, havendo então, outras estruturas familiares. E é nesse contexto que caracterizamos a família aristocrática, a família camponesa, a família proletária e a família burguesa, cada uma com sua particularidade de acordo com seu período histórico.

Quando falamos em família aristocrática, estamos nos referindo à aristocracia europeia, entre os séculos XVI XVII, que se caracterizava pela preservação da linhagem. As

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19 uniões matrimonias eram de responsabilidade da família (popularmente chamados de “casamentos arranjados”), os pais se incumbiam dessa função. A família aristocrata, era uma pequena parcela da elite francesa, estamos falando da nobreza, onde os homens trabalhavam servindo na guerra e as esposas, se encaixavam na função de procriar e cuidar da vida social (consideradas damas da sociedade), porém não se ocupavam com a criação dos filhos. Nesse contexto, se faz presente alguns pontos que as famílias aristocratas não valorizavam, bem como, a privacidade, as relações conjugais e o elo materno.

Quanto à família camponesa, esta vivia em aldeias, diferente da classe dominante, o que já diferia em sua estrutura e no seu valor econômico, demonstrando então uma forte desigualdade econômica e relações de posses de bens e riquezas. A sociabilidade da família camponesa era para além da vida conjugal, pois o camponês não se importava apenas com a sua família e sim com toda aldeia. Nesse sentido, os aldeões impunham regras para todos na aldeia, pois tudo o que acontecia (incluindo casamentos, relações intra-familiar) era de conhecimento do aldeão e consequentemente, de toda aldeia.

As camponesas desempenhavam varias funções como, trabalhar por horas, cuidar dos filhos, do lar, além das atividades coletivas com toda aldeia. Podemos observar que a família camponesa se assemelhava da família aristocrata no sentido de não valorizar a privacidade e o que difere uma da outra, é o fato de valorizar a família conjugal e os laços maternos, porém eram tidos de maneira ampla, não de forma particular, esses laços eram estendidos para toda aldeia.

Posterior à família camponesa (século XIX) surge a classe trabalhadora, ainda com traços da família camponesa, se diferenciando pelo fator principal: não pertencer mais a área rural e sim a área urbana das cidades, nesse sentido a classe trabalhadora, se assemelha com a família burguesa. Essa classe pertencia ao período inicial da industrialização, demarcada por más condições de vida, onde homens, mulheres e crianças trabalhavam para ajudar no sustento da família, enfatizando a jornada dupla assumida pela mulher nesse período.

Lembrando que na segunda metade do século XIX, houve uma distinção dos papéis sexuais e a mulher passou a ficar mais em casa, zelando pelos filhos e cuidando do lar, enquanto o marido passava mais tempo na fábrica. No que se refere ao cuidado dos filhos, enquanto a família camponesa estendia os cuidados a toda aldeia, os filhos do proletariado eram criados pelas ruas.

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20 Quanto à família burguesa, o que podemos dizer é que esta era composta pela classe dominante, em que os valores sociais se diferiam dos outros modelos citados. Pois era uma estrutura mais reservada e havia uma separação entre a família e o trabalho, o público e o privado, muito diferente dos modelos citados anteriormente. À mulher cabia à função de cuidar da casa e educar os filhos. Por exemplo: era de responsabilidade cuidar desde sua gestação até o crescimento dos filhos. Já ao homem, cabia o papel de provedor, autoritário, logo era quem dominava. Tanto a esposa quanto os filhos deviam “obediência” ao chefe da família.

A família burguesa é a que mais se difere das outras estruturas familiares no que se refere aos valores tanto sociais quanto morais, a preservação da sua privacidade, a diferença sexual dos papéis sociais e o autoritarismo presente. É na família burguesa que o patriarcado se torna mais vigente.

Dentre todas as estruturas familiares citadas, de um modo geral mencionamos que apesar das condições (físicas e sociais) e compreendendo a particularidade de cada tempo histórico, a família é o lugar de interação social.

Assim,

a noção de família pode estar profundamente ligada a afetos e sentimentos, de diferentes tipos. As experiências que temos das relações familiares são singulares, íntimas e fundamentais para percepção de quem somos, isto é, para as nossas identidades. Mas falar em família é falar de uma realidade social e institucional, profundamente política tanto nos fatores que a condicionam quanto em seus desdobramentos. (BIROLI, 2014, p. 7)

Ademais, podemos dizer que a família, é uma instituição heterogênea construída historicamente sempre em mutação de acordo com a sociedade. Uma vez que a sociedade interfere diretamente na base da família, não há como dissociar sua influência na constituição dessa instituição. Assim como a sociedade, a família também é dialética, está sempre em constante movimento, sempre altera, não é estática. Vejamos:

Assim como a família não é uma instituição natural, podendo assumir configurações diversificadas em sociedades ou em grupos sociais heterogêneos, o modelo nuclear de família, que nos parece tão natural, só se consolidou por volta do século XVIII, segundo nos informam os estudos históricos. A mutabilidade seria, portanto, outra característica do grupo familiar (BRUSCHINI, 2000, p. 51).

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21 Em “A origem da família, da propriedade privada e do Estado” Engels (2005), apoiado da obra de Morgan, nos mostra diferentes configurações familiares existentes no século XIX, onde o autor faz análises das tribos indígenas na América, Austrália e na civilização oriental, que ocorreram nos primórdios da civilização humana. Com isso, podemos perceber que nem a consanguinidade e nem os laços familiares atribuídos a “mãe” e “pai” como temos hoje, estavam presentes naquela época.

Quando falamos de família e de sua constante mutabilidade, podemos ampliar nosso debate acerca do sistema de consanguinidade tratado por Morgan (apud Engels, 2005), pois ele nos traz para além dos laços consanguíneos, nomenclaturas como: “pai”, “mãe”, “filho”, “filha”, pois havia uma concepção de gênero que os separavam ou aproximavam.

Os povos da tribo da tribo iroquesa, de onde ele viveu por muitos anos, dissociavam os parentescos de acordo com seu gênero, os iroqueses tinham por filhos os seus próprios com suas esposas e os filhos de seus irmãos e os filhos de suas irmãs eram considerados seus sobrinhos. Já as iroquesas tinham a relação inversa, pois tinham por filhos, além dos seus, os de suas irmãs e por sobrinhos, os filhos de seus irmãos.

Essa influência do gênero com o grau de parentesco se deu a partir da consanguinidade nos primórdios, nos levando à reflexão que uma criança poderia ter mais de um pai, ou mais de uma mãe, dependendo da sua tribo pertencente, até chegar ao grau de parentesco que consideramos hoje. Podemos compreender que um ponto importante a ser destacado é a forte influência do gênero que passa por cada tempo histórico, fazendo até parte do patriarcado, que iremos aprofundar mais adiante.

Pesquisar acerca das famílias, nos conduz à análise e reflexão de todo um processo histórico muito extenso, para chegarmos até a sociedade capitalista. O termo “famílias”, minutado por Mioto (1997), a qual compreende as diversas configurações familiares presentes na sociedade capitalista, assim não falaremos de família, por não considerarmos a existência de uma única configuração familiar, e sim, de famílias, contemplando todas as configurações familiares existentes na sociedade.

Começamos a falar de família no período colonial, onde havia uma concepção de família que muito difere das configurações familiares presentes na atualidade, sendo amplamente analisado.

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22 No início do século XX, ainda estávamos em transição de valores, tanto sociais quanto culturais que se intensificaram no período pós Segunda Guerra Mundial e que nos trouxeram alguns avanços como a própria emancipação sexual e social da mulher.

Com a industrialização, a família passou a se enquadrar no enredo da sociedade vigente nesse período histórico, pois não só o marido, mas também a esposa passou a trabalhar fora para contribuir com as despesas da casa e no sustento da família.

A família contemporânea passou por muitas transformações tanto culturais, quanto sociais. O modelo patriarcal que antes pertencia em sua maioria à área rural, teve que migrar para a área urbana em busca de trabalho e melhores condições de vida; é nesse contexto que também surgem as diferentes profissões. A estrutura do modelo tradicional de família também mudou, foram formados diferentes arranjos familiares após a Lei do Divórcio1.

Com a Lei do Divórcio, a Igreja2 perdeu um pouco sua força em manter o casamento tradicional e nesse contexto, diferentes arranjos familiares foram se formando, filhos de diferentes uniões se tornaram comuns, assim como as chamadas produções independentes, em alguns países as uniões homoafetivas foram aceitas, e os cônjuges passaram a ter os mesmos direitos que um casal heterossexual, o aborto foi legalizado (em alguns casos), dentre muitas alterações.

Temos muitos fatores que contribuíram para essas mudanças, dentre eles podemos citar, a influência do movimento feminista e o próprio modelo de família patriarcal vigente. Quando mencionamos o modelo patriarcal, entendemos que esse tem por referencia os tempos primórdios, onde tínhamos o senhorio e seus súditos. Tal modelo tem por característica a sua estrutura extensa, bem como temos até os dias atuais a qual nomeamos por família extensa3, pois agrega para além do núcleo familiar, (isso inclui o pai, a mãe, os filhos, parentes, criados e todos que moram no mesmo lar) amparados e sob o poder do chefe de família.

Vale ressaltar que o modelo patriarcal, tinha por característica o poder absoluto adquirido pelo “chefe de família” para com todos da casa, assumindo uma função de chefe, o qual tinha o poder autoritário sob sua esposa, seus genitores, parentes, agregados e a todos que dependiam dele. O chefe de família /o patriarca que por muitas vezes designava a função

1 Lei Nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977: regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil _03/leis/l6515.htm>. Acesso em 08/06/ 2014.

2

Quando mencionamos Igreja, estamos nos referindo à igreja católica.

3 Família extensa é aquela composta por avós, tios, primos, irmãos, cunhados, etc. Disponível em: <www2.mp.br.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_38_11_3.php>. Acesso em 22/11/2014.

(23)

23 de dono de engenho, impunha uma função de respeito principalmente pelo fato de ser quem ocupa o papel de provedor do sustento, assumindo o núcleo econômico daquele lar, nesse sentido obtendo poder, pois todos da casa que dependiam dele, eram subordinados à sua autoridade.Nesse contexto,Gueiros (2002) denomina por família patriarcal:

A família na qual os papéis do homem e da mulher e as fronteiras entre o público e o privado são rigidamente definidos; o amor e o sexo são vividos em instancias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do homem e a atribuição de chefe da família é tida exclusivamente do homem. (p. 107)

Nesse sentido, podemos observar que o gênero é um ponto forte a ser discutido e está intrínseco na nossa sociedade capitalista, resquício de um legado patriarcal, homens e mulheres só foram “tratados iguais” (no âmbito dos direitos e deveres) após a Constituição de 1988. E mais, para complementar esse debate, não podemos deixar de lado a forma em que o nosso país foi colonizado e os valores (morais, éticos, políticos, religiosos) impostos durante esse período acrescentados ao modelo patriarcal, só vem a colocar em evidência os aspectos conservadores presentes em nossa sociedade.

Gilberto Freyre sinaliza que a

formação patriarcal do Brasil, explica-se tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de “raça” e de “religião” do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização de família, que foi aqui a unidade colonizadora. (FREYRE, 1933, p.14)

Algumas influências do “modelo” patriarcal, que são expressos nas famílias atuais, assim como a não aceitação de outras configurações familiares, aversão as diferenças, o machismo, advém daí, desse viés conservador do patriarcado.

Quando Saffioti (2004) fala a respeito do patriarcado, a autora tem por base os estudos de Robert Stoller4 e de Gayle Rubin5, qualificando sua pesquisa de gênero. A autora cita que “o patriarcado abrange os dois significados. Diferentemente, o sistema de sexo/ gênero aponta

4 Segundo Saffioti (2004), Robert Stoller foi o primeiro estudioso a conceituar gênero. 5

(24)

24 para a não inevitabilidade da opressão e para a construção social das relações que criam este ordenamento.” (SAFFIOTI, 2004, p. 108).

Mais adiante, a autora critica o conceito de patriarcado, baseando-se na própria diferença dos sexos existentes, alertando para não cair num epifenômeno6,ou seja, adquire um valor sem significado, pois se une ao fenômeno, sem alterá-lo.

Pois bem, quando falamos de patriarcado anteriormente, não podemos esquecer que há um movimento que contribuiu para o legado conservador presente na atualidade, que foi o Movimento Higienista, que teve sua emergência no século XIX. A concepção de “higiene” (como o nome sugere), traduzia o sentido de querer “limpar” tudo o que fosse considerado anormal. Com isso, o sexo era visto para reprodução/procriação. Por sua vez, o homossexualismo (agora denominado homossexualidade), era considerado uma doença para os psicólogos e psiquiatras da época.

Diversas pessoas foram internadas em manicômios nesse processo de “higiene” a qual a sociedade estava passando. A família deveria ser preservada, e havendo um homossexual na família, esse “distúrbio” (como era considerado na época) deveria ser tratado a qualquer custo. E foi somente na década de 90 que o homossexualismo (agora homossexualidade) deixou de ser visto como doença7.

Se pararmos para pensar, algumas disparidades vivenciadas hoje são frutos do nosso processo histórico, não escondendo o conservadorismo presente. Como parte de uma cultura desde antes da colonização do Brasil, podemos exemplificar muitos fatos ainda presentes na atualidade, como da mulher ser submissa a seu marido (resquício do patriarcado), a (in)visibilidade do negro em nossa sociedade, a adversidade ao que nos difere seja pela etnia, religião ou orientação sexual.

1.2 – Notas introdutórias a respeito das principais (re)configurações familiares

Como citamos anteriormente, no início do século XX ainda estávamos em transição de valores, tanto sociais quanto culturais que se intensificaram no período do pós Segunda

6 Termo minutado por Saffioti (2004, p. 112) 7

(25)

25 Guerra Mundial e que nos trouxeram alguns avanços como a própria emancipação sexual e social da mulher.

Podemos ilustrar esse fato, com a forte influência do feminismo na emancipação da mulher. Como exemplo disso tem a existência das pílulas anticoncepcionais como o suprassumo dessa evolução, pois a partir desse momento, as mulheres passaram a decidir quando e quantos filhos desejam ter. A transformação da família nesse caso se deu a partir da redução do número de filhos.

Um dos aspectos relevantes a respeito da emancipação social da mulher se deu na sua busca por independência e sua inserção no mercado de trabalho, fazendo com que muitas mulheres assumissem várias jornadas, além de cuidar da casa, dos filhos e do marido, passaram a vender sua força de trabalho, atendendo as demandas do capital.

Assim, o casamento também sofreu diversas mudanças. Uma delas se deu após a instituição do chamado “Estatuto da Mulher Casada”8 que dava capacidade plena a mulher, exercendo sua função colaborativa na vida conjugal. Dessa forma, a mulher não necessitava mais pedir permissão ao marido para trabalhar, como era feito antes. Outro fato que marcante dessa fase foi a instauração do divórcio, que se deu a partir da Lei do Divórcio, pois foi com a quebra do contrato matrimonial que os núcleos familiares seguiram rumos distintos, formando outros arranjos familiares existentes na sociedade capitalista. Nesse sentido, houve uma alteração na chamada família nuclear, aumentando o número das famílias monoparentais9.

Com o rompimento dos laços matrimoniais, as responsabilidades para com aquela criança e/ou adolescente, que antes eram em conjunto se tornaram distintas. Dessa maneira, tornou-se viável uma legislação que assegurasse que os filhos de pais separados sejam assistidos por ambos os pais, como conceitua Barreto (apud Siqueira, 1934). A partir da guarda compartilhada, a legislação brasileira se incumbiu desse processo de guarda baseados na Lei nº 11.698, de 13 de Junho de 2008.

Posteriormente ao divórcio, surgiram outros arranjos familiares formados a partir de uma segunda união de um ou ambos os núcleos familiares, é a chamada família recomposta

8 Lei N° 4.121 de Agosto de 1962, que dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/1962/4121.htm > Acesso em 27/11/2014.

9

Família monoparental é considerada uma entidade reconhecida e protegida pelo Estado que pode ser composta por apenas por uma pessoa adulta, responsável pelos cuidados e formação de outra pessoa. Winnicott, (1983;

1996). Disponpivel em:

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26 ou reconstituída, formada por uma pessoa que já possuiu uma família e leva sua prole para conviver nessa nova relação, passando a fazer parte desse contexto familiar da criança e/ou do adolescente, trazendo mudanças consideráveis no cotidiano familiar de todos os envolvidos (pai, mãe, filhos, enteados).

Além do divórcio, são diversos os fatores que contribuem para a composição da família monoparental. Dentre eles, podemos citar a maternidade na adolescência sem o apoio dos seus parceiros, o falecimento de um dos cônjuges, além da produção independente.

É necessário mencionar a contribuição dos avós na criação dos netos, seja financeiramente, afetuosamente, ou como em alguns casos, assumindo a guarda e se tornando responsáveis legais pelo neto. Em alguns casos, os idosos moram na mesma residência que os netos, compondo então, três ou mais gerações num mesmo lar, (a chamada família extensa). Na maioria dos casos, os idosos tomam conta dos netos para que seus filhos (as), genros e/ou noras possam trabalhar fora.

Um fato que tem estado em evidência é a chamada família homoparental10 e sua institucionalização no Brasil. O reconhecimento legal da união civil homoafetiva11, se destaca como uma das mais recentes (re) configurações familiares e que tem trazido considerações importantes. Tendencialmente, esse arranjo familiar vai para além da união estável, os pares homoafetivos, exprimem sua vontade de formar uma família, seja por a partir da reprodução assistida, seja pelo processo de adoção. A parentalidade homoafetiva, se destaca como alteração da família tradicional não só do Brasil, mas do mundo inteiro, se tornando um tema cada vez mais presente na contemporaneidade.

Falar sobre homoparentalidade em pleno século XXI, não deveria incomodar tanto. Afirmar a incapacidade de um casal homoafetivo de adotar uma criança ou adolescente é assumir uma postura errônea, preconceituosa e discriminatória. Ao mesmo tempo, em que o senso comum toma como partido o bem estar dessa criança e adolescente, nega-lhes o direito de viver num lar, (no caso dos casais homoafetivos) sem pensar na possibilidade dessa criança e/ou adolescente sair dos abrigos e/ou ruas, tendo a oportunidade de conviver num lar, onde o mínimo de seus direitos sejam garantidos. O que defendemos ao longo desse trabalho, é o direito de se constituir em família independente da sua composição.

10

Família Homoparental, definida por Zambrano (2006) nomeia a situação na qual pelo menos um adulto que se autodesigna homossexual é (ou pretende ser) pai ou mãe de, no mínimo, uma criança.

11 União Civil Homoafetiva ou união estável é aquela feita por casais do meso sexo, reconhecendo essa união como entidade familiar. Foi legalizada em 05 de maio de 2011 pelo Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931>. Acesso em 27/11/2014.

(27)

27 1.3 – O processo histórico e evolutivo da adoção

Para falar de adoção na contemporaneidade, devemos levar em consideração o breve histórico da família patriarcal, citado anteriormente. Não se sabe ao certo quando e como começou a adoção no Brasil, porém no âmbito jurídico, foi só em 1916 que o Código Civil Brasileiro começou a falar de Adoção. Vale frisar que a partir do Código Civil só podiam adotar casais que ainda não tinham filhos, dentre outras restrições.

Ainda que a adoção mesmo que não fosse conhecida juridicamente, já foi citada na história da Bíblia:

Sarai mulher de Abraão, não lhe tinha dado filhos; mas, possuindo uma escrava egípcia chamada Agar, disse a Abraão: Eis que o senhor me fez estéril, rogo- te que tomes a minha escrava, para ver se ao menos por ela, eu posso ter filhos. Abraão aceitou a proposta de Sarai. (Gn 16, 1-2)12.

Sendo a Bíblia, um dos livros mais antigos da história da humanidade, tendo sido concretizado tal ação, podemos observar a importância da procriação para a espécie, no sentido da necessidade de ter um filho, mesmo com outra pessoa, para que possa vir a ser o sucessor do pai, (acreditamos nessa perspectiva). O que nos leva considerar, que nesse caso especifico citado acima, poderia ser um primeiro “ensaio à adoção” da história, uma vez que Sarai esposa de Abraão, estaria criando um filho que ela não gerou.

Nessa circunstância, entendemos que como a procriação era importante para a perpetuação da espécie e o quão significante era um filho na vida de uma família, e que a adoção, por assim dizer, envolvia não apenas razões culturais, mas também religiosas, políticas e econômicas, obedecendo somente os desejos dos adotantes que por algum motivo não conseguiram conceber filhos ou não quiseram.

Para Paiva (2004), a instituição adoção durante a Idade Média passou por um período de escassez, devido ao fato de contrariar os interesses dos senhores feudais e, possivelmente, por influência da Igreja. Pois o patrimônio da família sem herdeiros passou a ser administrado pela Igreja ou pelo senhor feudal. Para a Igreja, a adoção representava uma constituição

12

(28)

28 familiar negada, por haver possibilidade de o filho adotivo ser fruto de um adultério ou incesto, o que não era permitido.

Podemos citar o Código de Hamurabi (aproximadamente 1780 a.C.), como um documento importante, que reunia um conjunto de leis. Dentre muitas cláusulas, encontramos casos de adoção, talvez um dos mais antigos mencionados. Então, destacamos algumas delas:

[...] 185. Se um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho crescido não poderá ser reclamado por outrém.186. Se um homem adotar uma criança e esta criança ferir seu pai ou mãe adotivos, então esta criança adotada deverá ser devolvida à casa de seu pai. [...]190. Se um homem não sustentar a criança que adotou como filho e criá-lo com outras crianças, então o filho adotivo pode retornar à casa de seu pai. 191. Se um homem, que tenha adotado e criado um filho, fundado um lar e tido filhos, desejar desistir de seu filho adotivo, este filho não deve simplesmente desistir de seus direitos. Seu pai adotivo deve dar-lhe parte da legítima, e só então o filho adotivo poderá partir, se quiser. Ele não deve dar, porém, campo, jardim ou casa a este filho.[...]

(SIQUEIRA, 1934, pg. 31)

A fim de que possamos abranger nosso entendimento acerca da adoção, recorremos à livros históricos como a bíblia e documentos anteriores a esse período, como o Código de Hamurabi, para que possamos perceber que a adoção fez parte do nosso processo histórico em outro contexto.

Na sociedade Babilônica, onde surgiu o Código de Hamurabi, há pelo menos 1500 anos depois, na sociedade Indu, o Código de Manu, que dentre muitas determinações também citava a adoção em seus escritos: “as Leis de Manu (Livro IX, n° 169) determinavam que a adoção somente seria possível entre um homem e um rapaz da mesma classe, exigindo-se que este fosse dotadas as qualidades de filho” (SIQUEIRA, 1934, p.32). Em outras palavras, tanto no Código de Manu, quanto no Código Hamurabi a adoção utilizava da procriação da espécie com um único significado: ter um herdeiro, um sucessor. Um filho tinha um significado social, no sentido de que alguém que poderia tomar conta dos negócios da família, muito diferente da adoção de hoje, da importância de um lar, da convivência familiar e dos direitos da criança e do adolescente, que foram pensados mais adiante.

Ressaltamos a influência do cristianismo no significado da adoção, minimizando sua importância, pois sob influência do próprio cristianismo, presente na Itália, no século XVII,

(29)

29 que foi instalada a primeira Roda dos Expostos, conceituada assim como um dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam abandonar.

Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro interior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha, com uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonada e o expositor furtivamente se retirava do local sem ser identificado” (MARCÍLIO, 1997, p.5)

Faleiros (2007) faz um resgate das diferentes formas de agressão (física e psicológica) contra crianças e adolescentes. No tocante, o autor ainda nos faz lembrar que a violência contra crianças e adolescentes, sempre estiveram presentes na história da humanidade. Na visão do autor, a “Roda dos Espostos” além de ser uma forma de violência, era uma maneira de esconder a ilegitimidade, que funcionava da seguinte forma:

Para atender à internação de crianças ilegítimas foi implantada a Roda, um cilindro giratório na parede da Santa Casa que permitia que a criança fosse colocada de fora sem que fosse vista de dentro, e, assim, recolhida pela Instituição que criou um local denominado “Casa de Expostos”. O objetivo desse instrumento era esconder a origem ilegítima da criança e salvar a honra das famílias. A grande maioria dessas crianças enjeitadas ou expostas era branca ou parda, filhos de brancos ou de brancos e negros. A primeira roda, na Bahia, foi criada em 1726, e a última só foi extinta nos anos cinquenta do século XX (Ibidem, p.20)

À título de compreendermos acerca das características que norteiam a adoção, façamos uma breve descrição do significado dessa palavra, que pelo Dicionário Aurélio (2010), “adotar” significa “optar ou decidir-se por; escolher”; “Atribuir a (filho de outrem) os direitos e o tratamento afetivo de filho próprio, perfilhar”.

Haja vista que o ato de adotar é uma escolha livre, uma opção tanto para quem não pode conceber filhos de forma natural, quanto para quem possui o dom de zelar pela vida de outrem em seu contexto familiar, por ínfimos motivos.

Como estamos tratando de adoção, devemos mencionar o Código Civil de 1916, onde era quase inconcebível o processo de adoção. Pois dentre muitas exigências, se fazia

(30)

30 necessário que o adotante tivesse pelo menos 50 anos de idade, além do fato de haver privilégio a casais que não tinham filhos.

Cabe salientar, que logo após o Código Civil de 1916, o legislativo incitou o Código de Menores13 como uma forma de proteção e assistência aos menores14 durante aquele período.

Faz-se necessário fazer menção ao termo “menor” citado acima, para compreendermos sua origem. Pois como sabemos, esse termo foi inicialmente utilizado para as crianças abandonadas, as quais eram “amparadas” pelo Estado, que por sua interpretação, estas crianças, eram pobres e pertencentes a um tipo de família menos favorecidas. Nesse sentido, eram “menores” e segundo a interpretação do próprio Estado, poderiam se tornar meros marginais, representando um risco à sociedade.

Foi somente com a Constituição Federal de 1988, que o termo menor foi definitivamente eliminado, passando a incluir todas as crianças como sujeitos passíveis de direitos, e compreendendo que era necessária uma política pública de proteção integral.

Assim, a Constituição Federal de 1988, assegurando os direitos da criança, incluiu em um de seus artigos a respeito da adoção, deixando de lado alguns valores, que antes eram seguidos à risca, bem como os filhos concebidos fora dos casamentos. Como exemplo disso citamos o capítulo VII do Art. 227º, § 6º da Constituição de 1988: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”.

O fato de já haver uma legislação específica para abarcar os direitos das crianças e adolescentes, incluindo todas as crianças numa única legislação e fazendo menção á adoção, onde havia menos restrições que o antigo Código Civil, já representava um avanço na nossa sociedade.

1.4 – Adoções no Brasil: avanços, dilemas e enfrentamentos

13 Código de Menores: legislação que se incumbia de assegurar os direitos dos menores, que entrou em vigor em 1927 pelo Decreto Nº 17.943-A de 12 de outubro do ano referido.

14

(31)

31 Como citamos no item anterior a respeito das adoções e todo o seu processo histórico no âmbito jurídico, tivemos alguns avanços consideráveis. Nesse item, faremos uma análise mais profunda acerca dos processos de adoções no Brasil e como se situa atualmente.

Compreendemos que um dos avanços significativos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi a exclusão do termo “menor” de todas as legislações, pois como já vimos anteriormente, entendia-se por menos crianças abandonas. Nesse contexto, o referido estatuto distinguiu por faixa etária crianças e adolescentes, conforme o Art. 2° do ECA, entende- se por criança de 0 a 12 anos incompletos e de 12 a 18 anos, adolescentes.

Anteriormente, mencionamos algumas legislações que abarcam os direitos das crianças e adolescentes, perpassando pela adoção. Nos torna viável, falar que o Cadastro Nacional da Justiça (CNJ) em consonância com a Constituição Federal de 1988 e com o ECA prioriza convivência familiar como direito fundamental da criança e do adolescente. Atentando-se ao fato de o Cadastro Nacional da Adoção (CNA) expandir as possibilidades de adoção, fazem parte de seu cadastro os aptos a adoção e as crianças e adolescentes de instituições.

A partir de um quadro comparativo, iremos agora apontar algumas melhorias no sistema de adoção num período anterior e posterior à Nova Lei da Adoção:

Tabela 1 – Quadro comparativo de momentos da legislação brasileira de adoção Antes da lei 12.010/2009 Após a lei 12.010/2009

Não havia um tempo pré- determinado, quanto ao prazo de permanência das crianças e adolescentes nos abrigos.

Não havia um tempo pré- determinado, quanto ao prazo de permanência das crianças e adolescentes nos abrigos. A idade mínima para adotar era de 21

anos.

A idade mínima para adotar é de 18 anos.

A adoção por casais homoafetivos é proibida.

É concedido o direito a adoção por pares homoafetivos.

São registradas no CNA (Cadastro Nacional de Adoção) crianças e

Além dos registrados no CNA, também tornaram-se aptos a adoção crianças e

(32)

32 adolescentes aptos a serem adotados. adolescentes de instituições.

Entregar o filho á adoção era considerado abandono de incapaz.

Há possibilidade da mãe optar, desde a gestação, em entregar o seu filho para a adoção. Nesse caso, ela é assistida pelo Juizado da Infância e Juventude.

A adoção atendia prioritariamente as necessidades do adotante

O foco deixou de ser o adotante e sim o adotado.

Não necessariamente os irmãos eram adotados em conjunto.

Torna-se obrigatório, irmãos serem adotados pela mesma família.

Fonte: Extraída do sítio <http://www.promenino.org.br>. Acesso em 02 de outubro de 2014. Adaptações nossas.

Nesse sentido, podemos observar alguns avanços a ser considerada posterior a Nova Lei da Adoção, incluindo a adoção homoparental, como mais uma opção de incluir a criança e/ou adolescente numa família, consequentemente esvaziando os abrigos. Com a nova lei da adoção, a convivência familiar e comunitária passou a ser priorizada, destacando a importância da família. À luz da Constituição Federal de 198815, afirmamos a importância da criança e do adolescente para o Estado, priorizando seus direitos garantindo seu bem estar

Quando posterior a CF/1988 e ao ECA, o CNA surgiu num sentido de auxiliar o judiciário nos processos de adoção, além da inclusão de novos aptos a adoção. Vale lembrar que antes de ir para o CNA, possuem três etapas muito importantes: na primeira etapa, havendo a destituição familiar, a criança e/ ou adolescente é inscrita no cadastro local de adoção, não havendo adotantes na região, é inscrito no cadastro nacional. Esgotando essas vias, ainda há possibilidade da adoção internacional (sendo esta a última opção).

Porém, apesar da nova lei da adoção, poder representar um amplo leque de oportunidades a todos que desejam realizar a adoção, não compreendemos o fato de os abrigos estarem ainda lotados de crianças e adolescentes, aguardando para serem adotados. Por que isso ainda acontece?

15 Cf. Constituição Federal de 1988 em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm. Acesso em 28/11/2014 .

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33 Conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)16, em outubro de 2013, das 5,4 mil crianças e jovens aptos a adoção, 80% possuem mais de 9 anos, no DF, crianças abaixo de 12 anos representam a minoria e mesmo assim, no ano passado a Justiça do DF autorizou 167 adoções, em 2010 foram 195.

Em outubro de 2014, esse o número de crianças e adolescentes passou para 5.639, a maioria possui entre 9 e 17 anos, negros e pardos e do sexo masculino. Essas características são inversas ao que buscam os pretendentes cadastrados no CNA, podendo interferir no futuro dessas crianças e adolescentes que vivem nos abrigos.

Rizzini (2007) aponta que a institucionalização de crianças e adolescentes atendidas pelo sistema de abrigamento no Brasil vem sendo foco de preocupação e debate nos últimos anos. Segundo a autora, tem sido preocupante a forma que se dão as práticas de internação, consideradas inadequadas. “[...] Ainda se torna presente, a representação social da criança dicotomizada, originária daquela época, ou seja, a criança que deve ser protegida e aquela a qual a sociedade deve se proteger.” (Ibidem, p. 90 )

Para falar dos dilemas enfrentados pela adoção, foi necessário fazer uma ressalva sobre a institucionalização dessas crianças, entendendo esse processo, não como parte isolada, e sim como pertencente na sua história de vida desses indivíduos, que porventura tiveram seus direitos violados.

Cabe ressaltar que essa relação estigmatizada, mencionada pela autora anteriormente, se torna presente, principalmente no cotidiano das crianças e adolescentes pertencentes às camadas mais baixas da sociedade, em sua maioria negras e pardas. Consequentemente, são as crianças menos procuradas para adoção, sendo acolhidas até completar maioridade. Aqui já não estamos falando da adoção, e sim, da não adoção, o que também é preocupante.

Para onde vão essas crianças e adolescentes após completar a maioridade? Que oportunidades são oferecidas para que possam conviver em sociedade? Esses jovens, após completarem maioridade, deixam de ser “responsabilidade” do Estado e passam a ser responsabilidade de quem?

Esses questionamentos são expressos por (Pereira 2003, apud Martinez e Silva 2008, p. 117): “constitui-se uma categoria de crianças e adolescentes ‘institucionalizados e

16 Dados obtidos através do sítio: <http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/infancia-e-juventude/cadastro-nacional-de-adocao-cna>. Acesso em 09/06/2014.

(34)

34 esquecidos’, que crescem nos abrigos privados das duas possibilidades oferecidas por lei: o retorno à família biológica ou a adoção”.

Retomando a discussão dos dilemas enfrentados pela adoção, destacam-se dois pontos: o apadrinhamento afetivo e a família acolhedora. O ato de apadrinhar uma criança ou adolescente consiste em permitir que ela passe um tempo com você. Já a família acolhedora, é a possibilidade de “continuidade” da convivência familiar, por um período de seis meses.

A proposta de apadrinhamento é interessante, pois permite aquela criança manter um convívio com outra pessoa, que possa lhe conferir amor e carinho, longe da instituição. Já a família acolhedora, embora possua significações relevantes, tem o seu lado negativo. Pois essas crianças e adolescentes que passam a maior parte de suas vidas nos abrigos, muitos sem o contato com a família biológica, estar numa família acolhedora durante esse período, significa dar falsas expectativas a esses sujeitos, que vão criar vínculo com uma família por um tempo e depois retonará ao abrigo á espera de reintegração familiar, colocação em família substituta ou adoção.

Um fator positivo que tem contribuído no processo de conhecimento da instituição da adoção, desenvolvendo um papel fundamental na vida dos adotantes são os chamados Grupos de Apoio a Adoção (GAA), que são

formados, na maioria das vezes por iniciativas de pais adotivos que trabalham, voluntariamente, para a divulgação da Nova Cultura da Adoção, prevenir o abandono, preparar adotantes e acompanhar pais adotivos no pós-adoção, auxiliar na reintegração familiar, conscientizar a sociedade sobre a legitimidade da família adotiva e, principalmente, auxiliar na busca ativa de famílias para a adoção de crianças fora do perfil comumente desejado pelos adotantes (criança de mais idade, com necessidades especiais ou inter- raciais). (Grupos de Apoio a Adoção)17

Sobre a adoçao, o Grupo de Apoio a Adoção de Sergipe (GAASE) conceitua dois diferentes tipos, que são: adoção direta (ou adoção casada) e Adoção pelo Cadastro de Adoção, demonstradas na tabela abaixo:

17 Extraído da página do Grupo de Apoio a Adoção (GAA). Disponível em:<http://www.angaad.org.br/>. Acesso em: 15 de novembro de 2014.

(35)

35 Tabela 2 – Tipos de adoção segundo o Grupo de Apoio a Adoção de Sergipe

Tipos de Adoção

Adoção casada ou direta

Acordo entre os pais biológicos e os pretendentes à adoção, com a formalização junto aos juizados. É legal, porém sujeita ao arrependimento dos pais biológicos durante ou após a oficialização do processo. O conhecimento entre as partes dificulta ou impossibilita o corte total dos vínculos levando ao risco de contatos freqüentes, chantagens, etc. Trata-se de uma situação de risco para o adotante;

Pelo Cadastro de Adoção

Através do cadastramento dos pretendentes, cujo processo exige uma série de medidas preparatórias, dentre elas a destituição do poder familiar dos pais biológicos. Trata-se do método usado pela Justiça brasileira onde, após a emissão da nova certidão de nascimento, não há possibilidade de devolução da criança por conta de arrependimento dos pais biológicos. É garantida a igualdade de direitos e deveres, salvo os impedimentos matrimoniais e é garantida a plenitude dos direitos sucessórios. Fonte: Tabela elaborada pela autora com base em dados retirados da página do GAASE. Disponível em: < http://www.gaase.net/>. Acesso 15 de novembro de 2014.

Em termos legais, esses dois conceitos de adoção são utilizados atualmente. Porém, culturalmente, conhecemos outros modelos que são ilegais, como a “adoção à brasileira” e o ato de “pegar pra criar”:

Adoção à brasileira, consiste no registro em cartório do filho adotivo como filho biológico, com ajuda de terceiros. E “pegar pra criar” ocorre geralmente entre parentes e vizinhos, não chegando à oficialização, com o

(36)

36 eterno risco de retorno na criança aos pais biológicos que mantém o poder familiar. (Grupo de Adoção de Sergipe - GAASE)18

Além dos dilemas citados anteriormente pela instituição da adoção, podemos destacar o preconceito à adoção. Muitas pessoas ainda possuem o receio de adotar crianças ou adolescentes, muitos ainda cultuam o mito de que filho adotivo gera muitos problemas. Sobre isso, uma autora nos aponta que

A questão de encontrar dificuldades com a educação dos filhos parece ser universal, entretanto, é nas filiações por adoção que, muitas vezes, é atribuída uma significância extrapolada a determinados aspectos do processo evolutivo infantil. Frequentemente, crises pertinentes ao desenvolvimento normal de qualquer criança são confundidas e erroneamente atribuídas como sendo “problemas da adoção”. O mito popular de que o filho adotivo sempre dá problema está impregnado no imaginário social. (SCHETTINI, 2007, p. 9)

Por fim, nossas reflexões até aqui apresentadas nos propõe a pensar no real significado da adoção, na sua história e seus enfrentamentos. Citamos anteriormente sobre os abrigos, sendo esse o local onde as crianças e adolescentes aqui mencionadas passam a maior parte do tempo, podendo ou não ser adotadas. Discutimos também sobre o perfil das crianças que são procuradas pelas pessoas, que em sua maioria possuem três características: bebês, meninas e da cor branca. Por isso, deixamos então para a reflexão questões sobre o futuro dos não adotados, considerados esquecidos pela sociedade. São em sua maioria são crianças maiores, negros, grupos de irmãos, portadores de necessidades e especiais ou possuem uma doença crônica. Direcionando nosso debate para outro fator: o que acontece com aqueles que estão por completar maioridade e estão em processo de desligamento das instituições? Devemos pensar nas propostas de enfrentamento no trato do desligamento desses jovens, porém consiste num estudo mais amplo e que não será abordado nesse trabalho. Faz-se necessário pensarmos nas medidas protetivas do Estado para assegurar os direitos desses adolescentes,

18 Extraído da página do GAASE. Disponível em: <http://www.gaase.net/>. Acesso em: 15 de novembro de 2014.

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