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ACI é parceira da ABRH-RS no CONGREGARH 2019

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Sexta-feira, 26 de Abril de 2019

Segmento: PUCRS

26/04/2019 | ACI NH | acinh.com.br | Geral

ACI é parceira da ABRH-RS no CONGREGARH 2019

http://www.acinh.com.br/noticia/aci-e-parceira-da-abrh-rs-no-congregarh-2019

Evento debaterá o tema "Liderança Ágil no Mundo Complexo"

Novo Hamburgo/RS - A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha é parceria da ABRH-RS (Associação Brasileira de Recursos Humanos) no CONGREGARH 2019. Associados da entidade terão 10% desconto, com o código HJ464US. O evento debaterá o tema "Liderança Ágil no Mundo Complexo" e acontecerá no Centro de Eventos da PUCRS, de 15 a 17 de maio. As inscrições estão abertas pelo site www.abrhrs.org.br .

Miguel Falabella confirma presença - O ator, diretor e escritor, Miguel Falabella, é uma das figuras artísticas mais conhecidas do Brasil. Bastante ativo no teatro e na televisão, entre outros muitos trabalhos, ficou marcado por interpretar Caco Antibes no sitcom Sai de Baixo e por apresentar o Vídeo Show por mais de 15 anos. Em 2011, o livro que faz parte do tema da sua palestra, Vivendo Em Voz Alta, que será a atração do encerramento do CONGREGARH 2019. O objetivo da apresentação é provocar reflexões comportamentais sobre a relação entre os sonhos e a vida, no âmbito social e profissional.

Com humor e motivação, o ator usa sua experiência de mais de 30 anos como "plano de fundo" para avaliar questões que vão desde relações interpessoais até a postura do ser humano em relação ao seu trabalho, sua posição, carreira, vida, fé e arte. Para ele, memórias nos ajudam a viver com mais sabedoria e se acompanhada de emoção, ajudam a tornar a vida mais pulsante.

O ator conta sua trajetória e os caminhos que percorreu para alcançar o sucesso. "Eu dizia para o meu pai que precisava de aula particular de matemática e com o dinheiro estudava na escola de teatro Tablado. Foi assim que comecei", lembra. E complementa: "sempre li muito. Escrevia e armazenava meus pensamentos e ideias em pastas coloridas. Muitas delas viraram personagens. Desde cedo sempre soube que queria ser ator e fiquei firme no meu propósito. Aprendi que em nenhum momento da vida podemos nos definir pelo olhar de outra pessoa", relata.

De Zotti - Assessoria de Imprensa, com informações da ABRH-RS Em 26/04/2019

26/04/2019 | Baguete | baguete.com.br | Geral

Dito Efeito debate protagonismo feminino

https://www.baguete.com.br/noticias/26/04/2019/dito-efeito-debate-protagonismo-feminino Evento acontece na Umov.me Arena, sede aberta da Umov.me em Porto Alegre.

A participação das mulheres no mundo dos negócios será tema de um evento no uMov.me Arena, em Porto Alegre, como parte de uma série de eventos idealizados pela Umov.me dentro de um conceito batizado de "Dito Efeito".

O evento é gratuito e acontece na segunda-feira, 29, das 18h às 21h. Participam Susana Kakuta, CEO do Tecnosinos e ex-presidente do Badesul e a coach Dulce Ribeiro, professora da ESPM e Fadergs.

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Um dos temas em debate será a chamada "síndrome de impostora", como é definida a falta de autoestima de muitas profissionais desempenhando funções em espaços tradicionalmente masculinos.

O Dito Efeito é parte da mobilização em torno do Pacto Alegre, um movimento liderado por Unisinos, PUC-RS e UFRGS para destravar o ecossistema inovador na cidade.

A iniciativa prevê cerca de 80 eventos ao longo ano, divididos em 11 trilhas temáticas: Liderança 4.0, X-Tech, Protagonismo Feminino, Futuro do Trabalho, Inteligência Artificial, Design/Marketing, Histórias de Vida, Sucesso e Fracasso, Transformações Globais, Educação, Economia Criativa e Cultura e Artes.

Cada trilha tem um curador, que funciona como mediador dos debates. Além de Patrícia Knebel, alguns dos curadores são Rafael Prikladnicki, diretor do Tecnopuc; Cesar Paz, fundador da AG2 e atualmente investidor em startups e o empresário Jonatas Abbott, diretor da Dinamize, entre outros.

Todas as edições do Dito Efeito têm entrada franca, com doação e contarão com transmissão ao vivo em locais como Tecnopuc, UFRGS, Unisinos, Tecnovates, Feevale Techpark, Unijuí, FURG e Fábrica do futuro, dentre outros. Além disso, serão disponibilizadas na web.

A iniciativa tem como embaixadores o pró-reitor de Inovação da Unisinos, Alsones Balestrin, o superintendente de inovação e desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy, e o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS, Luís Lamb.

A Umov.me é dona de uma plataforma de desenvolvimento de aplicativos, que em setembro do ano passado inaugurou a Umov.me Arena, sua nova sede na capital gaúcha.

Um espaço de 400 metros quadrados na zona norte da capital gaúcha antes usado como showroom de uma importadora, o local está aberto para atividades do ecossistema de TI da cidade.

Em quatro meses de funcionamento, a Arena recebeu 50 iniciativas promovidas por parceiros empresas, entidades setoriais e universidades, com a participação de 2 mil pessoas.

Ser o centro de um hub no mundo de tecnologia é uma boa pedida para a Umov.me, cujo modelo de negócio é viabilizar o desenvolvimento de produtos de outras empresas.

Hoje, a plataforma da companhia é usada por 300 parceiros, atendendo 150 mil usuários ativos na ponta, em empresas como Bimbo, Lojas Colombo, Magazine Luíza e Porto Seguro, entre outras.

Mais de 10 mil apps foram desenvolvidos com a plataforma, abrangendo tarefas como vendas, entregas, vistorias, auditorias, registros de pontos, entre outros.

Em 2016, a empresa recebeu um aporte de R$ 5 milhões do fundo CVentures Primus, gerido pela CVentures em conjunto com a CRP Companhia de Participações.

26/04/2019 | Brasil 247 | brasil247.com | Geral

Juristas explicam como fica a situação jurídica de Lula após decisão

do STJ

http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/391556/Juristas-explicam-como-fica-a-situação-jurídica-de-Lula-após-decisão-do-STJ.htm

Os juristas Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa afirmam que a Justiça deveria conceder a liberdade imediata do ex-presidente Lula para que cumpra sua pena no regime semiaberto, mas acreditam que a situação jurídica somente se modifica efetivamente s

247 - Em artigo publicado no Conjur, os juristas Aury Lopes Jr., doutor em Direito Processual Penal e professor da PUC-RS. e Alexandre Morais da Rosa, juiz em Santa Catarina e professor de Processo Penal na Universidade Federal de Santa Catarina

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(UFSC), avaliam as perspectivas jurídicas do processo do ex-presidente Lula, após a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que reduziu a pena de 12 anos e 1 mês de prisão para 8 anos e 10 meses.

Segundo o artigo, os juristas argumentam que a concessão imediata do regime semiaberto seria a medida a ser aplicada. No entanto, a julgar pelos padrões atuais estabelecido pelo Judiciário no que se refere ao ex-presidente, a medida "está longe de representar "Lula Livre".

Na análise dos juristas, pode até haver concessão de prisão domiciliar. Mas tal medida seria uma excepcionalidade distante no caso do ex-presidente.

Para eles, a liberdade do ex-presidente Lula é precária, pois se confirmada no Tribunal Regional Federal a condenação no caso do sítio de Atibaia, cujo o processo já está em andamento, Lula volta para o fechado, seja por conta da execução antecipada ou pela unificação das penas.

"A situação somente se modifica se o Supremo Tribunal Federal revisar seu entendimento sobre a execução antecipada", destaca os jurista, se referindo a prisão em segunda instância.

Confira a íntegra do artigo publicado no Conjur:

"A decisão do Superior Tribunal de Justiça no caso da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, se fizermos uma análise desapaixonada, está longe de representar "Lula livre" como falam alguns alarmistas. Significa manter a condenação e readequar a pena. Então, qual o efeito?

A redução da pena está justificada e faz parte da discricionariedade que nosso sistema cria na dosimetria. Basta ver que a pena da corrupção passiva é de 2 a 12 anos, com os parâmetros do artigo 59 do Código Penal para majoração, desde que devidamente justificada.

A situação é um pouco complexa porque, com a decisão de que está cumprindo pena definitiva desde a sua prisão, em 7 de abril de 2018, a redução havida implica em recalcular os marcos para fins de progressão e prescrição, dada a idade do agente.

De qualquer sorte, com a pena de 8 anos e 10 meses, em tese Lula pode pedir a progressão para o semiaberto em setembro. Ele já cumpriu 12 meses de um total de 17 meses exigidos para progressão. Poderia ainda pedir remissão pela leitura, se não o fez ainda. Pode haver concessão de prisão domiciliar? Até pode, uma excepcionalidade criada diante do caos do sistema carcerário e ausência de vagas. Mas é excepcional. A regra é cumprir em albergue, trabalhando de dia e se recolhendo à noite.

Caso se adote a posição do ministro Barroso no ARExt 1.129.642: "Todas as vênias ao eminente Ministro Marco Aurélio. Entendo que a pena privativa de liberdade pode ser executada preventivamente, e não, necessariamente, provisoriamente...", a liberdade aqui seria preventiva e, portanto, deve-se aplicar a regra do 387, parágrafo 2º, do CPP. Com a aplicação do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP, abatendo-se o tempo de pena já cumprida, deve-se conceder o regime semiaberto imediatamente, pois a pena ficaria abaixo de 8 anos. Ainda existe resistência a essa solução diante de uma — equivocada — leitura restritiva do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP. A inserção do parágrafo 2º, do artigo 387, do CPP merece ser analisada em cada caso, porque pode gerar efeitos deletérios ao agente. Se a detração na sentença implicar na modificação do regime inicial, será favorável, caso contrário, não.

André Luiz Nicolitt e Cipriana Nicolitt[1] bem explicam: "Pensemos agora em dois acusados, A e B, condenados a nove anos de reclusão. 'A' ficou preso preventivamente durante 1 (um) ano, enquanto 'B' respondeu o processo em liberdade. Dessa forma, feita a detração, a pena de 'A' seria de oito anos e já poderia ter fixado o regime semiaberto. No entanto, 'B', condenado a nove anos, teria fixado o regime fechado, não tendo nada a ser detraído, só ingressaria no regime semiaberto após o cumprimento de 1/6 da pena. Em outros termos, 'A' ficou um ano em regime fechado e passou ao semiaberto, enquanto 'B', pelo mesmo crime, só passaria ao regime semiaberto após 1 (um) ano e 6 (seis) meses".

Por isso o magistrado pode prejudicar ou melhorar a condição de cumprimento da pena, razão pela qual se depende das cenas dos próximos capítulos. Deveria prevalecer sempre a melhor leitura em favor do agente, seja quem for.

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Em qualquer caso, é preciso compreender que essa "liberdade" é precária. Se confirmada no Tribuna Regional Federal a condenação no caso do sítio de Atibaia, ele volta para o fechado, seja por conta da execução antecipada ou pela unificação. E ainda existem mais cinco processos tramitando em Brasília, se não nos equivocamos, que podem alterar a situação no futuro, se existirem novas condenações. Enfim, ainda pode haver mudanças significativas nesse cenário a médio e longo prazo.

A situação somente se modifica se o Supremo Tribunal Federal revisar seu entendimento sobre a execução antecipada.

De qualquer forma, pelos padrões atuais, aplicada a melhor interpretação ao agente, é o caso de conceder regime semiaberto imediatamente ao acusado/condenado diante da aplicação do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP."

26/04/2019 | Câmara de Vereadores de Porto Alegre | camarapoa.rs.gov.br | Geral

Projeto homenageia advogado com nome de rua na Restinga

http://www.camarapoa.rs.gov.br/noticias/projeto-homenageia-advogado-com-nome-de-rua-na-restinga

Tramita na Câmara Municipal de Porto Alegre, projeto de lei de autoria do vereador João Carlos Nedel (PP) que denomina Rua Doutor Aldo Leão Ferreira o logradouro público cadastrado conhecido como Rua Sete Mil e Um, localizado no Bairro Restinga. Caso vire lei, o projeto prevê que as placas denominativas conterão, abaixo do nome do logradouro, os seguintes dizeres: Advogado e procurador do estado.

O homenageado nasceu em Porto Alegre, no dia 7 de março de 1928, e morreu no dia 17 de dezembro de 2014, aos 86 anos de idade. Sua formação foi na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Participou da comissão de elaboração que criou e estruturou a Divisão de Defesa Judiciária e exerceu a direção de equipe da Unidade de Assistência Jurídica.

Foi um dos fundadores da Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul (APERGS), sendo que durante o seu exercício como presidente, entre 1960 e 1970. De 1976 a 1982, foi diretor jurídico da Viação Aérea Rio-Grandense (Varig). Também foi professor na Faculdade de Direito da PUCRS entre os anos de 1986 a 1999. Nesse mesmo período, lecionou direito civil e direito internacional privado na Faculdade de Direito Ritter dos Reis. Foi presidente do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (IARGS), por dois mandatos, de 2004 a 2008.

Escreveu os seguintes livros jurídicos: Direito Internacional Privado, pela Editora Vendramim, 1988; Mercosul, Comentários sobre o Tratado de Assunção e o Protocolo de Brasília, pela Editora Livraria do Advogado, 1994; e Estatutos das Empresas Binacionais Brasileiro-Argentinas, pela Editora Livraria do Advogado, de 1995. Aldo era filiado ao Partido Progressista (PP), tendo sido membro do Diretório Metropolitano.

Texto: Matheus Lourenço (estagiário de Jornalismo) Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062)

26/04/2019 | Coletiva | coletiva.net | Geral

Beatriz Lopes: Uma trajetória e tanto

https://www.coletiva.net/perfil/beatriz-lopes-uma-trajetoria-e-tanto,298091.jhtml

Com vasta experiência em redação, ela destaca os 17 anos dedicados à Zero Hora e o tempo que destinou à comunicação pública como assessora

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Beatriz Lopes se denomina uma operária do Jornalismo e sustenta que é uma profissional 'mediana'. Pode soar estranho, mas ela logo explica: "Mediana não é medíocre". Com voz calma e jeito tranquilo, conta, divertida, sobre sua vasta trajetória no Jornalismo, desde o início, quando, em 1974, deixou uma vaga de emprego para ser estagiária na redação de Zero Hora. "Era o que eu mais queria", declara.

Foram 17 anos dedicados ao jornal do Grupo RBS, tempo suficiente para vivenciar transformações tecnológicas e transitar por diversas editorias, sem comentar que começou a carreira em plena ditadura militar. "Entrei na efervescência dos anos 1970. Tinha censura e autocensura, além de jogo de corpo para saber o que dava para vender nas entrelinhas. Ah, claro, e muita resistência das redações, que eram bem fortes naquela época", explica.

Formou-se em 74, na última turma com diploma polivalente - Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas - da Famecos. E quando teve que escolher o curso para prestar vestibular, confessa que, inicialmente, optou pela graduação por achar que queria seguir na Publicidade. "Pensava que não levava jeito para o Jornalismo, porque era muito tímida." Porém, mudou de ideia no segundo ano de curso, pois percebeu que sua praia era mesmo o Jornalismo.

Cheia de experiências

Aos 71 anos de idade, está aposentada, e acha que, dessa vez, vai realmente dar um tempo para a comunicação, pois pretende descansar e viver a vida mais tranquilamente. "Cheguei a uma idade em que preciso pensar em que tempo tenho e para fazer o quê", define. Algumas foram as tentativas de parar de vez, porém, logo que se aposentou, recebeu um convite um tanto quanto irrecusável, para fazer parte de um projeto inovador no mercado gaúcho. Assim, tornou-se a primeira editora do portal de notícias Coletiva.net, que surgia no setor sob o comando de José Antonio Vieira da Cunha, José Luis Fuscaldo e Luiz Fernando Moraes. "Para mim, era uma grande novidade, principalmente por ser no ambiente online", lembra.

A experiência, que durou cerca de dois anos, marcou a vida da jornalista, que recorda com carinho de alguns episódios, como em uma noite de sexta-feira, dia de baixar a edição semanal do então Guia da Imprensa - precursor do portal de notícias. "Apertei uma tecla errada e deletei o conteúdo de toda aquela semana. Tive que refazer tudo. Eu suava de desespero, os dedos caíam do teclado. Finalizei perto das 23h e o Marcelo ficou lá, me acalmando e ajudando", relata, mencionando o colega Marcelo Oliveira, que era o responsável pela web na época.

A passagem pelo portal de notícias sucedeu sua trajetória na comunicação pública, quando atuou como chefe de redação em três gestões seguidas do governo do Rio Grande do Sul - Pedro Simon, Alceu Collares e Antônio Britto. A prática, além de agregar no que tange ao profissional, foi um grande aprendizado também para o lado pessoal. "Sempre fui mais fechada e individualista, e, lá, tive que coordenar uma equipe de umas 60 pessoas, o que exigia mais de mim. Isso mostra que a gente vive aprendendo", analisa. Mais tarde, trabalhou, ainda, no governo Yeda, quando, mais uma vez, quis parar. O motivo foi a descoberta de um câncer de mama. Mesmo não sendo grave, pois teve o diagnóstico precoce, e, consequentemente, conseguiu tratar, resolveu olhar para si e se cuidar. "É impossível não ter um câncer e repensar a vida", sentencia. No entanto, alguns anos depois, recebeu outra oferta, também irrecusável, de uma amiga por quem tem muito apreço. Eliane Brum a chamou para ajudar na produção de sua carreira, com agendamento de viagens, palestras, livros, etc. "Fiz de tudo um pouco", comenta, explicando que a amizade começou ainda nos tempos de ZH, quando ela era veterana e, Eliane, foca.

Muitas experiências

As quase duas décadas que dedicou à Zero Hora são lembrados com estima e precisão. Lá, ao longo deste período, foi repórter e redatora, começando pela Geral, passando pelo que era Variedades, e que virou o Segundo Caderno, e pela Pesquisa. "Foi onde eu realmente fui redatora e tive a oportunidade de escrever", afirma. Ainda, trabalhou na antiga Central do Interior, contribuindo, também, para o extinto jornal vespertino Hoje.

Um brilho no olhar surge quando lembra os tempos em que ficou na Pesquisa. Foi quando engravidou do segundo filho, Vinícius, hoje com 38 anos. "Eles [a empresa] achavam que estavam me escanteando, mas eu adorava e tive a oportunidade de criar meus filhos com muito mais facilidade do que se estivesse na reportagem", declara, lembrando que dividia o setor com João Aveline, a quem chama carinhosamente, de Velho Aveline. "Ele dizia que a gente estava lá para não incomodar, pois eu estava barriguda e ele

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era comunista. Aprendi muito com ele, que tinha lições de jornalismo e de vida incríveis", diverte-se ao recordar dos saudosos seis anos dedicados ao serviço.

Voltou para a reportagem em uma editoria que lhe deu muito prazer em trabalhar, a de Ensino. Foi, de certa forma, um retorno às origens, visto que sua formação inicial foi no Magistério. "Tenho muito apreço por essa área e conheci muita gente, principalmente a academia." Mais adiante, também pôde atuar mais de perto com isso, quando, no governo Rigotto, trabalhou na Comunicação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), por pouco mais de dois anos.

Outra boa lembrança é do ex-marido, que conheceu quando estava no jornal. Renato Pinto da Silva também era jornalista e, como relembra, um excelente repórter, tendo ocupado cargo de correspondente em diversas sucursais no Rio Grande do Sul. Embora fosse apenas quatro anos mais velho que ela, confessa que foi a experiência que a atraiu. "Eu era foca e ele já era reconhecido no mercado, estava na Folha da Manhã", revela. O casamento aconteceu quando o caçula do casal já estava com nove anos e, conforme conta, foi sem cerimônia, apenas a assinatura da certidão no cartório. Mais tarde, separaram-se, mas nunca o fizeram oficialmente, por isso brinca que não sabe se é viúva, pois ele faleceu em 2015.

Mesmo com tantas recordações, revela que, até hoje, arrepia-se ao passar em frente ao prédio da RBS, na avenida Ipiranga, aos domingos. "Churrasco de família eu só conseguia comer o salsichão. Quando chegava a carne, já tinha saído para a redação", conta, aos risos, sobre a época de repórter.

Um sonho ambicioso

Feminista assumida, orgulha-se do que que considera um sonho ambicioso. Quando estava grávida da primeira filha, Mariana, atualmente com 40 anos, uniu-se a um grupo de jornalistas mulheres, todas com o mesmo objetivo: ter um lugar para deixar as crianças enquanto trabalhavam. Assim, surgiu a Associação dos Amigos da Pé de Pilão, uma creche que teve a entidade como mantenedora por alguns anos. Na primeira assembleia, foi eleita presidente, tendo como vice Eliete Cheuiche Vieira da Cunha, além de outros nomes na diretoria, como Rosvita Saueressig, Julieta Nunes, Nelcira Nascimento e Rita Daudt, entre outras.

Alegra-se ao falar que a associação se manteve por um tempo e, inclusive, angariou fundos para comprar um prédio próprio para instalar a creche. "Olha o sonho maluco que a gente teve", espanta-se ao perceber a ideia. A proposta era ter um espaço para receber filhos de jornalistas com horário elástico de atendimento. Depois, acrescenta que os maridos das jornalistas se uniram à causa que até advogado tinha para cuidar das questões legais e estatutos.

Preenchendo a vida

Estar aposentada para Bia não é sinônimo de estar parada. Animada, diz que preenche a vida com diversas atividades, como pilates, cinema e encontro com amigos. Independente, autônoma e muito ativa, a porto-alegrense vive à base de café e não dispensa um bom papo e uma ótima leitura. A sala de casa, aliás, é uma minibiblioteca, repleta de obras. "Estou, também, aproveitando esse momento para organizar isso, pois quero doar alguns livros", revela.

A prateleira, no entanto, não abriga um objeto tradicional nas salas de estar das casas: a televisão. O aparelho está no quarto de Bia, que confessa, porém, não assistir à TV aberta, dando preferência a filmes e séries. Além disso, apenas três canais fechados detêm sua atenção, Arte 1, Canal Brasil e Telecine Cult, pois se diz fiel aos programas culturais. Para se informar, tem a internet, por meio da qual lê sites de jornais internacionais e é categórica: "Sem essa de ver notícia no Facebook".

É ateia declarada, embora tenha sido batizada na Igreja Católica e toda sua família seja religiosa. O que a fez mudar foi que, "ao longo da vida, fui vendo que é muito difícil acreditar em Deus nesse mundo". Chegou a buscar respostas no Espiritismo e frequentou centros espíritas, mas não seguiu a doutrina. "Na medida em que fui me alertando politicamente, foi ficando cada vez mais complicado pensar em religião", elucida.

Dos filhos, fala com um orgulho que quase não cabe no peito. Mariana seguiu os passos da mãe e é docente na Uergs. Não de Jornalismo, e sim, de Artes Visuais. "É uma professora de mão cheia. Nasceu para isso", derrete-se. Já Vinicius, passou no vestibular para Comunicação na PUC, mas optou pela Educação Física na Ufrgs. Hoje, é preparador físico de um time de futebol na China.

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Bia conta que a paixão do filho pelo esporte não veio da família, pois o pai, mesmo gremista, não frequentava jogos, e ela pouco entende. "Nunca tive um time. Torço em Copa do Mundo, mas só sei a diferença de equipe porque tem camiseta de cor distinta", confessa. Com a carreira de Vinicius, que foi influenciado por um ex-vizinho colorado que o levava ao Beira-Rio, até lê notícias esportivas no jornal, apenas para buscar informações sobre ele, caso seja fonte em alguma matéria.

Todos estes anos de Jornalismo e de reconhecimento na área não fizeram de Bia Lopes uma pessoa vaidosa e iludida com a profissão. Pelo contrário, entende que é uma carreira difícil e competitiva, porem, diz-se muito grata a tudo que viveu, mesmo com todos os conselhos que lhe deram para não seguir na área. "Fui muito feliz na escolha, pois tive uma profissão que me deu satisfação. Não é da boca para fora. Não sou uma celebridade, mas me realizei. Lutei bastante. Não fiquei rica, mas não tenho problema para dormir."

26/04/2019 | ConJur | conjur.com.br | Geral

Como ficou a situação jurídica do ex-presidente Lula?

http://www.conjur.com.br/2019-abr-26/limite-penal-ficou-situacao-juridica-ex-presidente-lula

Limite Penal Por Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa A decisão do Superior Tribunal de Justiça no caso da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, se fizermos uma análise desapaixonada, está longe de representar "Lula livre" como falam alguns alarmistas. Significa manter a condenação e readequar a pena. Então, qual o efeito? A redução da pena está justificada e faz parte da discricionariedade que nosso sistema cria na dosimetria. Basta ver que a pena da corrupção passiva é de 2 a 12 anos, com os parâmetros do artigo 59 do Código Penal para majoração, desde que devidamente justificada. A situação é um pouco complexa porque, com a decisão de que está cumprindo pena definitiva desde a sua prisão, em 7 de abril de 2018, a redução havida implica em recalcular os marcos para fins de progressão e prescrição, dada a idade do agente. De qualquer sorte, com a pena de 8 anos e 10 meses, em tese Lula pode pedir a progressão para o semiaberto em setembro. Ele já cumpriu 12 meses de um total de 17 meses exigidos para progressão. Poderia ainda pedir remissão pela leitura, se não o fez ainda. Pode haver concessão de prisão domiciliar? Até pode, uma excepcionalidade criada diante do caos do sistema carcerário e ausência de vagas. Mas é excepcional. A regra é cumprir em albergue, trabalhando de dia e se recolhendo à noite. Caso se adote a posição do ministro Barroso no ARExt 1.129.642: "Todas as vênias ao eminente Ministro Marco Aurélio. Entendo que a pena privativa de liberdade pode ser executada preventivamente, e não, necessariamente, provisoriamente...", a liberdade aqui seria preventiva e, portanto, deve-se aplicar a regra do 387, parágrafo 2º, do CPP. Com a aplicação do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP, abatendo-se o tempo de pena já cumprida, deve-se conceder o regime semiaberto imediatamente, pois a pena ficaria abaixo de 8 anos. Ainda existe resistência a essa solução diante de uma - equivocada - leitura restritiva do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP. A inserção do parágrafo 2º, do artigo 387, do CPP merece ser analisada em cada caso, porque pode gerar efeitos deletérios ao agente. Se a detração na sentença implicar na modificação do regime inicial, será favorável, caso contrário, não. André Luiz Nicolitt e Cipriana Nicolitt[1] bem explicam: "Pensemos agora em dois acusados, A e B, condenados a nove anos de reclusão. 'A' ficou preso preventivamente durante 1 (um) ano, enquanto 'B' respondeu o processo em liberdade. Dessa forma, feita a detração, a pena de 'A' seria de oito anos e já poderia ter fixado o regime semiaberto. No entanto, 'B', condenado a nove anos, teria fixado o regime fechado, não tendo nada a ser detraído, só ingressaria no regime semiaberto após o cumprimento de 1/6 da pena. Em outros termos, 'A' ficou um ano em regime fechado e passou ao semiaberto, enquanto 'B', pelo mesmo crime, só passaria ao regime semiaberto após 1 (um) ano e 6 (seis) meses". Por isso o magistrado pode prejudicar ou melhorar a condição de cumprimento da pena, razão pela qual se depende das cenas dos próximos capítulos. Deveria prevalecer sempre a melhor leitura em favor do agente, seja quem for. Em qualquer caso, é preciso compreender que essa "liberdade" é precária. Se confirmada no Tribuna Regional Federal a condenação no caso do sítio de Atibaia, ele volta para o fechado, seja por conta da execução antecipada ou pela unificação. E ainda existem mais cinco processos tramitando em Brasília, se não nos equivocamos, que podem alterar a situação no futuro, se existirem novas condenações. Enfim, ainda pode haver mudanças significativas nesse cenário a médio e longo prazo. A situação somente se modifica se o Supremo Tribunal Federal revisar seu entendimento sobre a execução antecipada. De qualquer forma, pelos padrões atuais, aplicada a melhor interpretação ao agente, é o caso de conceder regime semiaberto imediatamente ao acusado/condenado diante da aplicação do artigo 387, parágrafo 2º, do CPP. [1] NICOLITT, André Luiz; NICOLITT, Cipriana. A Lei 12.736/2012: Progressão cautelar de regime e uso incorreto da detração penal. Boletim IBCCRIM, n. 268, Março 2015, p. 15-17. Topo da página Aury Lopes Jr. é advogado, doutor em Direito Processual Penal e professor titular da PUCRS. Alexandre Morais da Rosa é juiz em Santa Catarina, doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professor de Processo Penal na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Revista Consultor Jurídico, 26 de abril de 2019, 8h00 0 comentários Ver todos

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comentáriosComentar Entenda a semana do Supremo e sua investigação de ofício Do projeto de reforma do CPP ao projeto de lei "anticrime" Trânsito em julgado não esgota jurisdição de segundo grau O caso Michel Temer e a distorção da prisão preventiva Michel Temer: quem sabe faz a hora, prende para a delação acontecer Neocons penal: quem não for limpinho, honesto e bonito está fora Facebook Twitter Linkedin RSS Feed Facebook Twitter Linkedin RSS

26/04/2019 | ConJur | conjur.com.br | Geral

O STF e a tensão entre a liberdade religiosa e o dever de proteção

dos animais

http://www.conjur.com.br/2019-abr-26/direitos-fundamentais-stf-liberdade-religiosa-dever-protecao-animais Por Ingo Wolfgang Sarlet

Em 28 de março, o STF finalmente — depois de mais de 12 anos de tramitação — concluiu o julgamento do RE 494.601-RS (relator originário ministro Marco Aurélio e redator para o acórdão ministro Luiz Edson Fachin), no qual se discutia a constitucionalidade da Lei estadual 12.131/2004, que acrescentou o parágrafo único ao artigo 2º da Lei 11.915/2003 do Rio Grande do Sul (Código Estadual de Proteção aos Animais). De acordo com a corte, tanto no que diz com a alegação de inconstitucionalidade formal (vício de iniciativa) quanto de incompatibilidade material com a CF, o recurso é improcedente.

Na perspectiva formal, a corte entendeu inexistir qualquer ofensa ao esquema de distribuição de competências constitucional, visto que a legislação estadual impugnada não versa sobre matéria penal, não descrevendo tipos penais e respectivas sanções, mas apenas inseriu regra de natureza administrativa, ao excluir precisamente a responsabilidade administrativa do agente em virtude do abate de animais durante e para cultos e rituais religiosos.

De acordo com a síntese publicada no boletim informativo do STF, de acordo com os julgadores, “igualmente não se pode considerar ofensa à competência da União para editar normas gerais de proteção do meio ambiente, sobretudo ante o silêncio da legislação federal acerca do sacrifício de animais com finalidade religiosa. Os dispositivos apontados pelo recorrente (arts. 29 e 37 (2) da Lei 9.605/1988) cuidam tão somente do abate de animais silvestres, sem abranger os domésticos, utilizados nos rituais”. Ainda reproduzindo trechos do citado BI, “a par disso, as regras federais foram editadas em contexto alheio aos cultos religiosos, voltando-se à tutela da fauna silvestre, especialmente em atividades de caça. O quadro impõe o reconhecimento de que a União não legislou sobre a imolação de animais. A omissão na edição de normas gerais sobre meio ambiente outorga ao estado liberdade para estabelecer regras a respeito, observado o § 3º (3) do art. 24 da CF”.

Já no que diz respeito à perspectiva substancial, o STF igualmente sustentou a constitucionalidade da nova versão do Código de Proteção dos Animais do Rio Grande do Sul, que teve por objetivo permitir, de modo a salvaguardar a liberdade religiosa, de culto e de ritual, o sacrifício de animas em cultos de matriz africana e seus desenvolvimentos no Brasil.

Para melhor compreender os argumentos principais colacionados quando do julgamento — registrando-se que ainda não foi disponibilizado o inteiro teor do acórdão, mas apenas alguns votos —, calha transcrever o teor do dispositivo da lei objeto da irresignação veiculada pela Procuradoria-Geral de Justiça do Rio Grande do Sul mediante o RE ora comentado, em relação à decisão do TJ-RS que havia, por maioria dos votos dos integrantes do seu Órgão Especial, reconhecido a constitucionalidade da legislação. Assim, a teor do artigo 2º da Lei 11.915/2003 do estado do RS:

“É vedado: I – ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência; II – manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade; III – obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força; IV – não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo; V – exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados por responsável legal; VI – enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrorizem; VII – sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela Organização Mundial da Saúde – OMS –, nos programas de profilaxia da raiva.

Parágrafo único (objeto precípuo da controvérsia judicializada). Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana” (grifo nosso).

Como bem pontuado no julgamento, trata-se de mais uma hipótese (como se verificou, guardadas as relevantes diferenças) de uma situação de conflito entre o dever estatal de proteção do ambiente, em particular — para o caso — da proteção dos animais e correlata proibição de crueldade para com os mesmos (artigo 225, parágrafo 1º, VII, CF), desta feita não apenas com os deveres (e direitos) gerais relativos à proteção — e promoção — do pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, ademais do dever de apoio, incentivo e difusão das manifestações culturais (artigo 215, caput, CF), mas, de modo especial, com o

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dever do Estado no sentido de — parágrafo 1º, CF — proteger “as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”.

Além disso, diferentemente do que se deu nos julgamentos emblemáticos da farra do boi, da rinha de galo e da vaquejada, nos quais o STF reconheceu a ilegitimidade constitucional das respectivas práticas e manifestações de “natureza cultural e desportiva” (?), no presente caso o que estava em causa é — e por isso o particular destaque a ser dado ao julgamento — a proteção/garantia da liberdade religiosa plenamente assegurada pela CF, no seu artigo 5º, VI, a teor do qual “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” (grifo nosso).

Note-se, ainda, que a decisão ora comentada, como já adiantado, apresenta outro diferencial de relevo em relação aos referidos precedentes, qual seja, o elemento étnico-racial (e a correspondente proibição constitucional de toda e qualquer forma de discriminação — artigo 5º, caput) e, nessa mesma toada, a proteção e promoção de particular manifestação e prática religiosa-cultural de matriz africana, ainda que não exercida apenas por integrantes da comunidade afro-brasileira.

Em linhas centrais e aqui sumariamente apresentadas, importa sublinhar que o STF estruturou seu entendimento em prol da constitucionalidade material da exceção inserida pela lei gaúcha em torno de alguns eixos argumentativos, sem que aqui se possa reproduzir todos nem adentrar em diversas das peculiaridades envolvendo os votos de todos os ministros, a maior parte (exceção de três) ainda não liberada para o público.

Numa primeira aproximação, é de se destacar o peso atribuído pelo STF ao princípio e dever de laicidade implicitamente (porquanto não expressamente previsto) estabelecido pela CF e à posição da liberdade religiosa, incluindo a de culto e de ritos, na arquitetura constitucional brasileira. Vinculando, outrossim, o dever de laicidade com o princípio geral da igualdade e o dever de neutralidade em matéria religiosa, consubstanciado principalmente — entre outros aspectos — pelo dever de abstenção e independência estatal nessa seara e de tratamento paritário e sem privilégios de toda e qualquer manifestação religiosa (artigo 19, I, CF) a corte considerou também não existir inconstitucionalidade com base nesse fundamento.

Nesse contexto, os julgadores pontuaram que a proteção legal (acrescente-se, o dever constitucional de proteção) assegurada às manifestações religiosas de matriz africana não representa uma modalidade de privilégio, mas, sim, encontra suporte, não apenas na liberdade religiosa como tal, mas em especial no parágrafo 1º do artigo 225 da CF acima referido (proteção das culturas populares das populações indígenas e afro-brasileiras). Ainda nessa senda, foi sublinhado pelos ministros o alto nível de preconceito e estigmatização que atinge a população afro-brasileira, o que deve ser computado no conjunto de argumentos a indicarem que se trata de cultos e rituais a merecerem particular atenção e proteção.

Outrossim, possivelmente a parte mais delicada e de difícil equacionamento diz respeito ao juízo de ponderação levado a efeito pelo STF ao colocar na balança — em relação à proteção da liberdade religiosa — o dever constitucional de proteção da fauna e a proibição de crueldade com os animais.

Para a corte, novamente em apertada síntese, a negação da constitucionalidade da lei estadual rio-grandense, permitindo sacrifício de animais em rituais religiosos, implicaria uma afetação desproporcional da liberdade religiosa quando se trata de um rito central de uma cultura e tradição religiosa, ainda mais quando o abate de animais para fins de consumo da carne é, em regra, atendidos parâmetros legais, permitida.

Note-se, além disso, embora acompanhando no substancial a posição majoritária da corte, os ministros Marco Aurélio (relator), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes votaram no sentido da constitucionalidade da lei, mas para o efeito de lhe dar interpretação conforme à Constituição, de modo a incluir na exceção legal e excludente questionada no RE, cultos e rituais de qualquer manifestação religiosa envolvendo o abate de animais, desde que não incorrendo em maus-tratos e tortura. Para o ministro Marco Aurélio, além disso, o abate só poderia ser admitido caso a carne fosse destinada ao consumo.

À vista da sumária apresentação do caso, da decisão e dos argumentos esgrimidos pelos julgadores, várias são as inquietudes e considerações que poderiam ser manifestadas e tecidas, seja sobre o resultado, seja sobre as razões que embasaram o julgamento, entre outras.

Tendo em conta a natureza da presente coluna, limitar-nos-emos a realçar alguns aspectos.

Numa primeira aproximação e tendo em mente os precedentes do STF nos casos envolvendo a assim chamada farra do boi, da rinha de galo e da vaquejada, nos quais a corte — também não de modo incontroverso — decidiu pela ilegitimidade constitucional de tais práticas, fazendo prevalecer, no contexto de uma ponderação, o dever constitucional de proteção dos animais em face de manifestações culturais e desportivas de determinados segmentos da população, a decisão ora comentada poderia, a depender do ponto de vista, soar como contraditória e mesmo de caráter retrocessivo.

Todavia, basta um olhar mais detido para que se perceba que no mínimo um juízo de valor mais conclusivo não pode deixar de considerar as relevantes diferenças entre o caso do sacrifício ritual de animais e os precedentes referidos, onde eventual conflito de direitos e/ou bens jurídicos de estatura constitucional, não envolvia a liberdade religiosa, tão íntima da própria noção de dignidade humana e da própria liberdade de consciência.

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Além disso, o que também foi objeto de referência na decisão, outro ingrediente de alto impacto e que imprime contornos diferenciados ao problema e ao seu equacionamento, é o da discriminação de natureza étnico racial, associado aos níveis sabidamente muito mais elevados de estigmatização das manifestações religiosas de matriz africana em relação a outras orientações religiosas.

Pior do que isso, de acordo com dados publicados pela revista IstoÉ de 17/10/2018, entre 2011 e 2016 houve um crescimento de 4.960% no que diz com registros de casos de intolerância religiosa no Brasil, dos quais 63% envolvendo religiões afro-brasileiras[1], sinalizando que a questão se transformou em agenda atual e urgente a ser equacionada.

A decisão do STF — assim como a do TJ-RS, atacada mediante o RE ora comentado — não pode, portanto, ser, salvo melhor juízo, de incoerente em relação aos precedentes acima referidos, porquanto substancialmente diverso o quadro fático, mas também distinto (pelo menos em parte) a natureza do conflito na sua dimensão jurídica.

Tendo sido pontuado pela corte que a decisão pela constitucionalidade da lei gaúcha inclui a necessidade de respeito à proibição constitucional de crueldade com os animais e de salvaguardar a saúde pública, o tribunal não abriu mão de sua posição consolidada na matéria, promovendo uma sustentável — na perspectiva dos critérios da proporcionalidade — concordância prática entre os direitos e bens jurídicos em causa.

Ademais disso, questões tão profundamente enraizadas em manifestações e práticas culturais e, no caso, religiosas centenárias e mesmo milenares, exigem uma particular posição prudencial e equilibrada pelo Estado e mesmo pela sociedade civil quanto à sua regulamentação e equacionamento de eventuais tensões e mesmo conflitos com outras manifestações de natureza similar, ou mesmo outros interesses, direitos e bens jurídicos.

Que isso não afasta, por si só, importantes e mesmo fortes críticas da parte dos que consideram a decisão equivocada quanto ao desenlace e/ou fundamentação, resulta evidente, além do que o embate entre a liberdade religiosa e o dever de proteção dos animais tem sido objeto de constantes embates e frequentemente acaba desaguando nos tribunais nacionais e supranacionais.

Por isso, o que aqui se pretendeu foi apenas destacar alguns pontos relativos a um problema tão complexo e atrair, quem sabe, mais alguns interessados em refletir sobre a temática.

[1] Cf. VARGAS, André; LAVIERI, Fernando. Violência em Nome de Deus, revista IstoÉ, 17.10.2018, p. 54-56.

26/04/2019 | G1 Rio Grande do Sul | g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul | Geral

Artigo sobre coleta de fósseis de preguiça gigante no RS é publicado

em periódico britânico

https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2019/04/26/artigo-sobre-coleta-de-fosseis-de-preguica-gigante-no-rs-e-publicado-em-periodico-britani co.ghtml

Material foi encontrado em 2012 em Caçapava do Sul, e foi tema de pesquisa de mestrado. Lestodon armatus é um mamífero extinto do gênero Milodonte. Professor estima que o material seja de cerca de 18 mil anos atrás.

A coleta de fósseis de um preguiça gigante na Região Central do Rio Grande do Sul foi assunto de um artigo publicado neste mês no periódico britânico Historical Biology, especializado em paleobiologia. O Lestodon armatus é um mamífero extinto do gênero Milodonte. Viveu na América do Sul no período Pleistoceno - de 2,588 milhões a 11,7 mil anos atrás. Media aproximadamente 4,6 metros de comprimento e 2,59 toneladas. Há evidências de que o Lestodon tenha sido caçado por humanos há cerca de 30 mil anos. O material foi encontrado em 2012 em Caçapava do Sul, e foi tema de pesquisa de mestrado de Dilson Vargas Peixoto, Cícero Schneider Colusso e Leonardo Kerber, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foram coletados fragmentos do crânio, dentes, pós-crânio, costelas, vértebras, entre outros. O material foi preparado pelo mestrando Dilson Peixoto em sua dissertação. O professor Átila Augusto Stock da Rosa, que orientou o trabalho, estima que o fóssil tenha aproximadamente 18 mil anos. "O fato mostra que a diversidade dessa preguiça é muito maior do que se esperava", afirma. O professor exalta a publicação do estudo no periódico britânico. "Já foram coletados outros fósseis em Caçapava do Sul pelo pessoal da PUCRS, mas até onde eu saiba é a primeira publicação internacional. Só tivemos publicações em português. O fato de estar publicado em inglês permite um reconhecimento maior da paleontologia brasileira", disse.

26/04/2019 | GZH | gauchazh.clicrbs.com.br | Geral

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Literário, que completa 150 anos, ganha reprodução online

https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2019/04/uma-revolucao-pelas-palavras-historica-revista-do-partenon-literario-que-completa-150 -anos-ganha-reproducao-online-cjuy3tw7c01al01ro8w9kkngy.html

Projeto resgata e discute o grupo que transformou Porto Alegre, no século 19, a partir da literatura, da história e da filosofia Livraria Americana, na Rua da Praia com a Rua da Ladeira, era ponto de encontro dos associados no fim do século 19Reprodução / ReproduçãoPor Maria Eunice Moreira e Mauro Nicola Póvoas

Professora de Literatura da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); professor de Literatura da Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Em 2018, completaram-se 150 anos desde a fundação da Sociedade Partenon Literário, instituição nos dias atuais pouco lembrada em Porto Alegre, cidade que a abrigou, embora nomeie um dos seus bairros, exatamente aquele onde havia planos de se construir sua sede definitiva. O Partenon, cuja denominação homenageava o pensamento grego, foi criado em 18 de junho de 1868, movimentando literariamente a pequena e provinciana capital dos gaúchos, subsistindo até pelo menos 1886, ano em que encerra as suas atividades.

Em boa hora, para lembrar e comemorar o sesquicentenário da entidade, a editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EDIPUCRS) lançou um livro eletrônico gratuito imprescindível para a compreensão da vida literária sul-rio-grandense. Organizado pacientemente durante 15 anos pela professora da PUCRS Alice Campos Moreira, hoje aposentada, o e-book, além de artigos sobre o Partenon Literário, reproduz todos os fascículos da Revista Mensal (que circulou de 1869 a 1879), o empreendimento mais substancial da associação, pois resguarda sua memória e sua produção. A edição em fac-símile, com ótima qualidade de resolução (clique aqui para conferir), facilita a consulta a um acervo bibliográfico que, depositado em algumas poucas bibliotecas do Estado, era quase inacessível.

Mas, afinal, o que era e o que fez a Sociedade Partenon Literário?

Desde sua instalação, o grupo orientou-se pela proposição de mecanismos eficazes para divulgar os assuntos eleitos como de maior interesse da sociedade, quais sejam, a literatura, a história e a filosofia, como está expresso no programa publicado no número 1 da Revista Mensal (março de 1869). O objetivo dos partenonistas, além de divulgar autores, obras e ideias, era o de formar um público e congregar as pessoas interessadas em artes e ciências humanas. O grupo, reunido em torno de concepções republicanas e abolicionistas, provocou, na província, uma revolução sustentada pela palavra.

Com esse propósito, foi coordenada uma série de estratégias de fomento educacional e intelectual, como aulas noturnas para os alunos que não podiam frequentar a escola durante o dia; uma biblioteca, que reunia mais de 6 mil volumes; e um museu de ciências naturais, que incluía peças de mineralogia, arqueologia, numismática e zoologia. Do ponto de vista político, o Partenon envolveu-se na campanha em prol da libertação dos escravos, com a realização de espetáculos no Theatro São Pedro, quando negros cativos eram alforriados, anos antes da assinatura da Lei Áurea. A questão da escravidão está presente em textos literários, como o poema O Escravo Brasileiro (julho de 1869), de Caldre e Fião, ou o contundente conto Pai Felipe (janeiro e fevereiro de 1874), de Vítor Valpírio, pseudônimo de Alberto Coelho da Cunha, narrativa ambientada nas charqueadas, envolvendo o escravo do título.

As questões de ordem literária, cultural e política eram amplamente discutidas e difundidas, sobretudo em reuniões, algumas registradas em atas, e em saraus literários, em que aconteciam números musicais, leitura de poemas e realização de palestras sobre temas candentes, como a pena de morte, o casamento entre religiosos, a baixa remuneração dos professores e o papel da mulher. Esse último é um dos itens mais relevantes, pois, assim como no âmbito da escravidão, o Partenon abordou, à frente de seu tempo, o espaço feminino na sociedade, especialmente por meio de Luciana de Abreu, professora que se tornou célebre por suas palestras proferidas nas sessões em comemoração ao aniversário da entidade, como a preleção Educação das Mães de Família, publicada na edição de dezembro de 1873. Além de Luciana, outras mulheres faziam parte do grupo, como Amália dos Passos Figueiroa, Revocata Heloísa de Melo e Luísa de Azambuja.

Uma das capas da Revista MensalReprodução / ReproduçãoPorém, certamente, a iniciativa que alcançou maior repercussão entre todas as demais foi a criação da Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário, que começou a circular a partir de março de 1869, nove meses após a instalação oficial da associação. Durante 10 anos, com interrupções e eventuais mudanças no título, o periódico

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atingiu o total de 71 números, distribuídos em quatro séries, sendo o último volume conhecido o de setembro de 1879.

Quanto à circulação, instituiu-se a categoria de sócios-correspondentes, nas principais cidades do Rio Grande do Sul e do Brasil. Essa modalidade possibilitou a distribuição eficaz dos volumes por várias localidades e, ao mesmo tempo, garantiu a formação de leitores que, aglutinados pelos temas publicados, identificaram-se com o modelo ali exposto. Por esse ponto de vista, o mensário organizou a vida cultural sul-rio-grandense, dando início efetivo ao nosso sistema literário, já que, somente a partir do Partenon, é criado, na então província, um grupo coeso de escritores, o qual produz um número significativo de obras que, por sua vez, serão lidas por um público instrumentalizado para tal.

A produção literária da revista transitou entre os gêneros romance, novela, conto, poesia, teatro, crônica, ensaio e biografia, os quais, conforme o tamanho, eram publicados em forma seriada, ao longo de vários meses. O periódico, ao seguir os pressupostos do Romantismo, quando o movimento começava a ser suplantado no centro do país, e do Regionalismo, tendência que se impunha na literatura brasileira, colaborou na definição e na mitificação do gaúcho, tipo escolhido pelos autores para dar homogeneidade ao material literário.

Por exemplo, alguns textos que escrutinam a vida campeira são o romance O Vaqueano (julho a dezembro de 1872), de Iriema, pseudônimo de Apolinário Porto Alegre, escritor e professor que foi o idealizador da Sociedade e da Revista Mensal, e que traz a história do tropeiro José de Avençal e a sua busca por vingar a morte da família; e as novelas A Mãe do Ouro (janeiro a agosto de 1873), do já citado Vítor Valpírio, que recria a famosa lenda do título, e Serões de um Tropeiro: Coleção de Contos Serranos (agosto de 1874 a março de 1876), de Daimã, pseudônimo de José Bernardino dos Santos, sobre as aventuras do Tenente Nico, misto de oficial da guarda nacional, subdelegado e tropeiro, na região dos Campos de Cima de Serra.

Por outro lado, há muitos poemas ao gosto romântico, em que a voz lírica externa saudades e cismas, como no trecho de Melancolia (novembro de 1872), de Amália Figueiroa:

Oh meus dias sedutores Da florida primavera Que bela a vida me era Nessa quadra dos amores!

Assim, pode-se dizer que a Sociedade Partenon Literário assume, com suas atividades, um caráter mítico, já que seus agremiados, por meio da Revista Mensal, fundaram a literatura sulina, definindo, a partir daí, os elementos que orientaram escritores e leitores. Mais do que isso, o Partenon, que nasceu num momento histórico particular, em que se observa a consolidação política do Rio Grande do Sul, contribuiu para fundar o próprio Estado sulino. Nesse sentido, a Sociedade assumiu uma função especial, pois seus colaboradores engajaram-se ao pensamento da elite política local e, ao mesmo tempo, produziram e divulgaram um material literário capaz de representar e conformar os anseios da comunidade onde estavam inseridos.

O grupo fundou, a partir dos preceitos românticos, uma tradição de cunho regional, aproveitando as lendas locais, a linguagem campesina e a figura do gaúcho, utilizando o campo (Campanha, Serra, Missões) como espaço primordial da ação narrativa, configurando uma articulação literária sólida, ou seja, estética. Por outro lado, entretanto, a Sociedade foi também política, discutindo temas de vanguarda da época, como a instauração da República, o fim da escravidão e a emancipação feminina, sem contar a discussão de aspectos vinculados aos costumes, como o casamento e o adultério, assumindo uma postura que pode ser resumida como social, ou seja, ética.

Dessa maneira, o Partenon enquadra-se, ao mesmo tempo, como estético e ético, dupla face que garante a sua durabilidade na história da literatura do Rio Grande do Sul. Em tempos de liquefação pós-moderna, em que ideais são construídos e desconstruídos com rapidez incontrolável, com o agravante das tentativas cada vez mais frequentes de censura da voz ativista e minoritária, isso não é pouco.

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26/04/2019 | GZH | gauchazh.clicrbs.com.br | Geral

Contradição brasileira: o conservadorismo nos costumes

compromete o liberalismo do governo Bolsonaro?

https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2019/04/contradicao-brasileira-o-conservadorismo-nos-costumes-compromete-o-liberalismo-do-govern o-bolsonaro-cjux1xsxh012j01p70n97zyoe.html

Especialistas discutem a questão a partir das bandeiras do presidente da República e à luz da ideologia que prega liberdade acima de tudo

Bolsonaro: à sombra do liberalismoEvaristo Sa / AFPTradicional reduto de discussão da direita brasileira, o Fórum da Liberdade expôs, nos últimos dias 8 e 9, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), um racha na visão de empresários e intelectuais sobre o governo federal. A maioria dos painelistas elogiou, para uma plateia de 5 mil pessoas, a agenda econômica capitaneada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, calcada em redução da burocracia, privatizações e uma nova Previdência. Mas alguns palestrantes suscitaram silêncio e até vaias ao defender uma ideia: o governo de Jair Bolsonaro não é liberal e, por vezes, é o oposto disso.

Na palestra mais enfática nesse sentido, o sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli afirmou que o presidente brasileiro é autoritário, tendo em vista as críticas a direitos humanos, os ataques à imprensa e os elogios à ditadura militar. Para Magnoli, Bolsonaro mina a credibilidade da mídia para incentivar que a população se informe nas redes sociais, um ambiente no qual as notícias falsas não são confrontadas "para o benefício de líderes autoritários". E criticou a nova direita brasileira.

- Essa aliança maléfica, profana e diabólica entre autointitulados liberais e a extrema-direita conservadora é a pior coisa que poderia acontecer, não só para a democracia, mas também para o liberalismo. Não existe, no pensamento liberal, liberdade econômica sem liberdade política. Se o pacto for levado adiante, o liberalismo será marcado a ferro e fogo como o pensamento dos xenófobos e dos racistas - criticou o painelista, vaiado pela maioria do público e aplaudido por uma minoria.

Analistas consultados por GaúchaZH após o evento, para repercutir as questões nele debatidas, apontam que Bolsonaro, ainda que tenha declarado conversão ao liberalismo após conhecer Guedes, é liberal só até a página dois. Ataques a pilares do liberalismo político e social fazem parte de sua trajetória parlamentar, em especial contra direitos humanos (já afirmou que o regime militar deveria ter matado mais pessoas), atuação da imprensa (há um ataque a cada três dias no Twitter desde a posse, conforme levantamento do jornal O Estado de S. Paulo) e liberdade sexual (disse, há alguns anos, que preferia um filho morto a um filho gay). Bolsonaro recebeu as bênçãos do mercado quando afirmou ter se convertido ao liberalismo e que daria plenos poderes ao ultraliberal (defende o Estado mínimo e a privatização da educação e da saúde) Paulo Guedes. A expectativa foi alta: haveria um presidente para tocar a agenda do movimento no Planalto. Mas a realidade indica que o próprio chefe do Executivo discorda de seu ministro da Economia.

Não existe, no pensamento liberal, liberdade econômica sem liberdade política. Se o pacto for levado adiante, o liberalismo será marcado a ferro e fogo como o pensamento dos xenófobos e dos racistas.DEMÉTRIO MAGNOLISociólogo

A certa altura, Bolsonaro defende a reforma da Previdência. Em outra, diz que não gostaria de aplicá-la. Em dado momento, intervém na Petrobras para conter a alta no preço do diesel, à semelhança da gestão Dilma Rousseff - o que levou a uma perda de R$ 32 bilhões em valor de mercado na petrolífera. Na semana seguinte, diz ter simpatia em vender a Petrobras. O secretário de Privatizações do governo, Salim Mattar, chegou a declarar à revista Veja que "está frustrado" porque há resistências dentro do Planalto ao programa de venda de estatais. Guedes e a chamada "ala militar" tentam apagar os incêndios, minimizando as falas do chefe. Enquanto isso, o mercado demonstra impaciência, com alta no dólar e menor entrada de investimento estrangeiro no Brasil em janeiro e fevereiro, meses tradicionalmente de maior movimentação.

- O governo tem pessoas liberais, mas Bolsonaro não é uma delas. Se você é liberal, você defende as liberdades. Então, é liberal em tudo, não só em algumas coisas. Mais do que reacionário, esse governo é retrógrado e revisionista, sem compromisso com os fatos. Só Paulo Guedes e Sergio Moro são liberais; os outros ministros seguem uma cartilha populista-nacionalista, enquanto o próprio

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Bolsonaro tem um histórico antiliberal, antirreforma e autoritário. Guedes terá dificuldades por causa do próprio presidente -acredita a economista Monica de Bolle, diretora de Estudos Latino-Americanos da Universidade Johns Hopkins (EUA).

A cientista política guatemalteca Gloria Álvarez exalta a liberdade como remédio contra regimes autoritários. Ela é ultraliberal - o que inclui a pauta de costumes.

Conservar a liberdade de mercado, sim, até daqueles que não gostamos, como o mercado das drogas, da prostituição e do aborto. Conservar a família? Com certeza. Mas a família não é só pai e mãe e filhos.GLORIA ÁLVAREZCientista política

- Conservar a liberdade também significa conservar a liberdade sexual: que cada um faça o que melhor lhe convenha, desde que não afete a liberdade de outra pessoa. Conservar a liberdade de mercado, sim, até daqueles que não gostamos, como o mercado das drogas, da prostituição e do aborto. Conservar a família? Com certeza. Mas a família não é só pai e mãe e filhos. Se vamos conservar a família, conservemos em todas as suas variedades, não só na variedade em que um setor da sociedade acredita - afirma Gloria. A incompatibilidade entre Bolsonaro e o liberalismo pode se explicar pela própria origem dessa ideologia: o movimento nasceu no século 17 como uma luta por autonomia em uma época na qual a sociedade obedecia ao rei e à Igreja. No livro O Liberalismo -Antigo e Moderno, o sociólogo José Guilherme Merquior aponta quatro demandas básicas não atingidas até então: direitos universais para não ser oprimido pelo Estado, liberdade de acreditar no que quiser, de escolher os representantes e de viver a vida que bem entender.

Conquistadas essas demandas, o liberalismo hoje é entendido como uma doutrina que prega o livre mercado e a autonomia dos indivíduos. Há um sentimento difuso de "faça o que você quiser de sua vida, desde que não prejudique ninguém". Com base nisso, liberais no sentido mais clássico defendem a redução do Estado na economia e no comportamento. Por isso, é comum a defesa da legalização do aborto e das drogas, de direitos LGBT+, da liberação da posse de armas - e até do sal na mesa de bar.

Bolsonaro prometeu consertar a economia, combater a corrupção e defender a agenda conservadora de costumes. Seu governo, nesses primeiros meses, está sendo coerente com o projeto de campanha.

MATEUS BANDEIRA

Candidato do partido Novo ao governo do RS em 2018

A corrente comporta variações: para dar alguns exemplos, vai do liberalismo clássico, que defende Estado mínimo, chega ao liberalismo social, que defende um Estado garantindo acesso da população à educação e à saúde, passa pelo ultraliberalismo, que defende a privatização da saúde e da educação, e vai até o anarco-capitalismo, que defende o fim do Estado para que o mercado se autorregule, inclusive na segurança e na Justiça.

Quando a Inglaterra aprovou o casamento LGBT+, em 2013, o primeiroministro britânico, David Cameron, foi a favor da medida -e -el-e é do Partido Cons-ervador. Ao justificar sua posição, Cam-eron afirmou qu-e a mudança fortal-ec-eria a soci-edad-e -e qu-e -el-e -era um "liberal-conservador", ou seja, queria "conservar" a instituição do casamento na sociedade.

Os Estados Unidos já tiveram vários tons de liberalismo: da abertura na economia e nos costumes de Barack Obama até o conservadorismo de Donald Trump - ainda que o foco seja no nacionalismo e menos na interferência das escolhas individuais, algo sagrado para norte-americanos. O Canadá tem considerável liberdade na economia e nos costumes - o primeiro-ministro Justin Trudeau, mesmo heterossexual, participou da parada LGBT+ de Toronto.

É possível conciliar liberalismo na economia com conservadorismo nos costumes? Houve tentativas. O Chile adotou uma economia liberal durante a ditadura do general Augusto Pinochet, mas a repressão oficial matou 3,2 mil pessoas e torturou outras 38 mil (o liberalismo, vale lembrar, não tolera autoritarismo). A China cada vez mais defende o Estado mínimo na economia, mas o Partido Comunista é o único no poder desde 1949, a população não pode usar Facebook e o governo foi denunciado por colocar chineses muçulmanos em campos de trabalhos forçados, obrigá-los a abdicar da fé e jurar lealdade ao partido. O Brasil é outro exemplo: durante o regime militar, abriu o mercado para investimento estrangeiro, mas aplicou censura, tortura e perseguições contra quem pensava diferente do estabelecido pelo governo.

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poder três governadores, quatro senadores e 52 deputados federais na Câmara - a segunda maior bancada da Casa, atrás apenas do PT (que tem 56). Os votos foram puxados pelo desejo de mudança, pela perda de paciência frente à corrupção e pelo antipetismo -este, um combustível essencial para o surgimento de uma "nova direita brasileira", liberal na economia e conservadora nos costumes, afirma a cientista política Camila Rocha em sua tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP).

CONFIRA AINDA"Deus escolheu o mais improvável dos 513 deputados", diz Onyx sobre eleição de BolsonaroO passo a passo do conflito entre Carlos Bolsonaro e Hamilton Mourão Governo afirma que não haverá nova intervenção nos preços dos combustíveisA pesquisadora acredita que houve um período de maturação de discussões desse espectro político, entre 2006 e 2010, em grupos de militância online, primeiro no Orkut e, depois, em outras redes sociais. Esse grupo, aponta Camila, combina "ultraliberalismo e a ideia de que há uma hegemonia cultural da esquerda".

- Essa nova direita não é, na origem, bolsonarista: embarcou em Bolsonaro por uma decisão pragmática. O bolsonarismo é um movimento político de extrema-direita, mas essas pessoas (da nova direita brasileira) não são exatamente extremistas, não apoiam a ditadura militar, por exemplo. São pessoas que viram uma abertura por ele ser de direita e por acreditar que, uma vez alçado ao governo, poderia ter um corpo técnico liberal na economia. Foi o que aconteceu. Como foi uma aliança pragmática, há descompassos entre a Presidência e o corpo técnico do governo. Paulo Guedes é liberal. Jair Bolsonaro, não - analisa a pesquisadora. Mais uma vez, portanto, a direita brasileira é associada ao conservadorismo nos costumes. Em círculos de intelectuais entusiastas do liberalismo, é recorrente a crítica de que falta ao Brasil um governo liberal em tudo, e não apenas na economia - posição expressada por Demétrio Magnoli na PUCRS. O partido Novo, visto inicialmente com bons olhos por liberais que aguardavam uma legenda progressista nos costumes, aos poucos passou a indicar o contrário. Salim Mattar, então grande doador da legenda e hoje secretário de Privatizações do Ministério da Economia, afirmou durante a campanha que o candidato à Presidência da sigla, João Amôedo, e Bolsonaro tinham muito em comum, por "ambos serem conservadores nos valores da família e liberais na economia".

No governo Bolsonaro, os conservadores operam em uma lógica da exclusão: bons contra maus, nós contra eles, nova política contra velha política. Isso ofusca a pauta liberal, que funciona em outra lógica: a da negociação, do diálogo.

DENIS ROSENFIELD Filósofo

A declaração reflete o posicionamento de muitos brasileiros: 54% da população é altamente conservadora em questões como legalização do aborto, casamento LGBT+, pena de morte e redução da maioridade penal, segundo pesquisa Ibope de 2016. Mateus Bandeira, que foi candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo Novo, não vê contradição no liberalismo bolsonarista.

- O presidente prometeu consertar a economia, combater a corrupção e defender essa agenda de costumes. Seu governo, nesses primeiros meses, está sendo coerente com o projeto de campanha - diz Bandeira.

Há, claro, exemplos de liberais na economia e nos costumes na história brasileira. Um deles é o economista Ricardo Paes de Barros, criador do Bolsa Família. Ele apresentou o programa primeiro ao então candidato à Presidência da República José Serra (PSDB), que teria considerado a medida muito "à direita". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário de Serra na campanha, acabou embarcando na ideia.

Outro exemplo é Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que implementou uma ampla agenda de privatizações no país nos anos 1990, mas também criou programas destinados aos mais pobres, como o auxílio-gás e o Saúde da Família, conhecido por estruturar a visita de médicos a comunidades carentes. Falando a ZH por e-mail, FHC critica falta de equilíbrio no debate político atual no país, que leva pessoas, ainda que liberais, a serem tachadas de esquerdistas, ou mesmo "comunistas" - basta que não sejam conservadoras nos costumes:

O bolsonarismo é um movimento político de extrema-direita, mas a nova direita não é exatamente extremista: embarcou em Bolsonaro por uma decisão pragmática.

CAMILA ROCHACientista política, autora da tese

de doutorado "Menos Marx, Mais Mises: Uma Gênese da Nova Direita Brasileira (2006-2018)", defendida na USP neste ano. - Ver "comunismo" por todos os lados, mesmo que nem sempre fosse assim, era expressão da luta ideológica na época da Guerra

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Fria. Naquele período, havia o poderio da União Soviética, e, em nossa região, havia Cuba. Hoje, a URSS é a... Rússia, a China prega o "socialismo harmonioso" e Cuba não exporta mais revolução alguma, principalmente agora com o desastre venezuelano. Trata-se de um anacronismo, de atraso mental e não de luta propriamente política.

O ex-presidente também critica o desejo de aniquilação dos adversários políticos no país hoje. FHC vê distinção entre o discurso dos seguidores de Bolsonaro e a prática.

- Os bolsonaristas são vocalmente extremistas, mas o governo segue as regras - analisa. - Os que lhe são contrários, como eu, não devem calar sempre que o governo quiser ultrapassar os limites da Constituição. Mas é preciso distinguir na ação o que é realmente contra a democracia e o que é uma visão para fazer com que as coisas funcionem melhor no Brasil.

O filósofo político Eduardo Wolf, pesquisador na PUC-SP e autor do livro Guerra Cultural - Ideólogos, Conspiradores e Novos Cruzados (a ser lançado em breve), se recusa a chamar Bolsonaro de liberal: diz que o presidente é reacionário "porque elogia a ditadura militar e idealiza de maneira fantasiosa um passado irreal e mítico, enquanto o liberalismo conservador, na tradição inglesa, preza em manter o que já existe, mas não é refratário a mudanças e sempre defende a liberdade de expressão".

- A expectativa de viver no governo Bolsonaro um liberalismo político e econômico, com Estado enxuto garantindo direitos individuais, separação entre religião e Estado e reconhecimento do pluralismo de valores, será frustrada. O núcleo de comando político não sabe ser republicano, é inteiramente antiliberal. Em toda a sua trajetória, essas pessoas foram inimigas declaradas das convicções do liberalismo - avalia. - A onda liberal no Brasil é resumida em ser contra o PT e privatizar. Os mais entusiasmados com Bolsonaro não estão se importando nem com o fato de que o governo quer implantar uma nova verdade sobre a história do Brasil. Isso é flagrantemente antiliberal e antidemocrático.

A onda liberal no Brasil é resumida em ser contra o PT e privatizar.EDUARDO WOLFFilósofo político

A direita brasileira também sofre influências da direita norte-americana - basta ver a admiração de Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por Donald Trump. O chanceler, em especial, já louvou o atual presidente norte-americano por "resgatar a identidade do Ocidente no mundo moderno". Se, por aqui, liberais na economia e conservadores nos costumes se aliaram contra o PT, nos EUA a organização foi menos automática: foram necessários 30 anos para que ultraliberais e conservadores, ligados sobretudo a evangélicos, discutissem para chegar a um acordo. As discussões ocorreram graças a think-thanks financiadas por empresários e, em especial, à revista National Review, que aproximou as duas alas. O grupo, que deu base ao governo de Ronald Reagan, ganhou o apelido de neocons (neoconservadores).

O filósofo Denis Rosenfield, que tem trânsito com militares do Planalto, defende que a pauta dos costumes prejudica o andamento das reformas econômicas. Ele afirma, ainda, que o governo Bolsonaro vive uma inversão de papéis: militares agem como civis e dialogam com a oposição, em uma lógica democrática, enquanto civis adotam uma "lógica de guerra, querendo eliminar a oposição como se fosse inimiga, quando na verdade negociar faz parte da política democrática".

- No governo Bolsonaro, os conservadores operam em uma lógica da exclusão: bons contra maus, nós contra eles, nova política contra velha política. Isso ofusca a pauta liberal, que funciona em outra lógica: a da negociação política, do diálogo com o outro. O conservadorismo está impedindo o liberalismo de agir - diz Rosenfield. - Ressalvo, no entanto, que ainda que as declarações do presidente sejam autoritárias, sua prática não é. Não há uma lei criada contra a imprensa, por exemplo.

A deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) concorda com a análise do filósofo, mas diz que essa postura é "a única reação possível":

- Estamos em uma guerra mesmo. Há inimigos do povo e do Brasil, é assim que a gente tem que ver.

Conforme filósofos e especialistas, teorias políticas só existem quando aplicadas a um contexto, e, portanto, não há como pensar em um "liberalismo ideal" ou um "socialismo ideal". Não há uma definição fechada das correntes, cada país interpreta a teoria a sua maneira. O liberalismo à brasileira, dia após dia, se desenvolve - vale assistir aos próximos passos.

Referências

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