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MATÉRIA E FORMA: EXPERIMENTAÇÕES COM FÔRMAS FLEXÍVEIS NO CONCRETO. POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO NO ESPAÇO HABITADO.

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Academic year: 2021

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MATÉRIA E FORMA: EXPERIMENTAÇÕES COM FÔRMAS

FLEXÍVEIS NO CONCRETO. POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO NO

ESPAÇO HABITADO.

Alunas: Mariana Pires Curti e Milena Seraphim Orientador: Fernando Mauricio Espósito Galarce

Introdução

Durante o processo da pesquisa buscou-se explorar a relação do arquiteto com o concreto (material), particularmente o concreto, e suas potencialidades a partir de seu invólucro – sua fôrma. Nota-se que na história da arquitetura e da edificação em geral, o processo de modernização e industrialização, tanto no campo tecnológico, quanto na academia, a relação da teoria e da prática de arquitetura foi se segmentando, sobretudo entre as disciplinas de engenharia e arquitetura. E ao longo desse processo o próprio material foi ganhando mais importância pelas suas características técnicas e estruturais, deixando cada vez mais de lado suas qualidades artesanais e artísticas. Além disso, a forma em si do material tornou-se um reflexo de uma indústria racional e cartesiana, ignorando sua natureza fluida e intrinsecamente voluptuosa do material concreto.

Na arquitetura, o trabalho com concreto e concreto armado é bastante conhecido, é o material do nosso tempo, da nossa modernidade. Entende-se sua diversidade de usos e aplicações desde os processos mais simples, modestos e artesanais, até as mais complexas e sofisticadas obras de engenharia. No entanto, muitas vezes a relação com o concreto está determinada mais por aspectos técnicos e estruturais do que por possibilidades formais ou “estéticas”. Isto é, muitas vezes a relação com o material fica restrita ao campo da técnica e menos da “arte”. Esta divisão é conhecida no campo da construção. Exemplo disso é a relação engenharia-arquitetura que desde o final do século XIX foi foco de importantes críticas de pensadores, tais como Gideon e Le Corbusier. Isso se explica através das mudanças e avanços provocados pela revolução industrial no campo da arquitetura e da engenharia. Novos materiais e técnicas trouxeram novas possibilidades e necessidades, e assim, a arquitetura dos princípios do século XX (arquitetura moderna) se viu influenciada por novos sistemas estruturais possibilitados pelo novo material: o concreto armado. É importante ressaltar que a pesquisa não pretende entrar num estudo histórico do papel do concreto armado na história da arquitetura, contudo, o uso de referências, tanto teóricas como projetuais, são pertinentes para o embasamento do estudo. Portanto, e agora mais especificamente, a pesquisa pretende aprofundar-se no campo das formas surgidas a partir do uso do concreto. Considerando que a forma do material concreto está diretamente determinada pelas fôrmas planares (moldes) em que é esvaziado ou vertido, a arquitetura, consequentemente, é dominada em geral por formas também planares e de arestas, uma característica clara das formas da arquitetura moderna, até hoje.

A pesquisa propõe trabalhar as particularidades plásticas do concreto. Experimentando, então, com fôrmas flexíveis de tecido, e explorando novas potencialidades formais e técnicas do material. A proposta nasce primeiramente do interesse por retomar algumas experiências anteriores desenvolvidas na escola de Arquitetura e Design da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso. Atualmente, na mesma instituição, existe uma pesquisa em andamento liderada pelo professor David Jolly, com quem nosso orientador tem contato permanente. O tema surgiu, originalmente, no laboratório CAST (Centre for Architectural Structures and Technology), fundado pelo arquiteto Mark West, na Universidade de Manitoba, Canadá. Foi ele quem apresentou esta pesquisa no Chile a um grupo de professores dos quais o orientador

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Fernando fazia parte.

É importante ressaltar que, do ponto de vista técnico, as pesquisas têm alcançado interessantes resultados na utilização de fôrmas flexíveis na modelagem do concreto, principalmente no Canadá. Entretanto, esta pesquisa propôs trabalhar com esses conhecimentos e avançar para uma conexão mais autêntica onde a correlação com o contexto possa gerar novos desdobramentos e descobertas. Neste caso, a cidade do Rio de Janeiro, com suas características geográficas, culturais, sociais, urbanas e arquitetônicas, evidenciou-se como um interessante campo de estudo para a utilização dessa técnica. Especialmente em áreas de interesse social, que demandam estratégias e métodos inclusivos, versáteis e eficientes e, principalmente, de uma relação mais direta e coerente com o entorno. Buscou-se também, com essa pesquisa, contribuir com experiências inovadoras ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Essa pesquisa nos permitiu explorar diversos materiais, processos e técnicas através de novos olhares, como também pudemos desenvolver novas estratégias de ensino voltadas ao “aprender na prática” e vivenciando o “fazer”.

Objetivos

O objetivo principal foi experimentar novas técnicas para dar forma ao concreto, mais especificamente, trabalhando com tecidos (geotêxtil principalmente) e explorar novas possibilidades formais e técnicas. Desta relação entre fôrma-têxtil e concreto, nasceram formas caracterizadas pela curva e a voluptuosidade, aspecto pouco explorado na arquitetura. Embora existam arquitetos e engenheiros como Robert Maillart, Pier Luigi Nervi e Oscar Niemeyer, que ao longo da história desenvolveram experiências no uso do concreto e concreto armado, gerando formas dominadas por formas curvas, como domos e geodésicas; cascas e abóbadas, na maioria dos casos, as formas obtidas respondem mais a uma tentativa técnica do que arquitetônica, fazendo uso de sistemas mais ou menos tradicionais para a elaboração das fôrmas (rígidas).

Outro objetivo foi contribuir no estudo de um material normalmente associado a um alto custo e baixa sustentabilidade dos processos. No caso das peças construídas com fôrmas flexíveis de tecido, as principais características, além das formais, são a obtenção de uma maior resistência estrutural e, ao mesmo tempo, a redução dos custos. Aumentando a eficiência e contribuindo na sustentabilidade do processo - muito criticado na construção com concreto- os tecidos, por serem reutilizáveis, diminuem consideravelmente o custo. Por outra parte, o tecido, ao liberar o excesso de água durante a fase de vibração através das fibras, permite uma maior resistência da peça final (já curada) em relação ao mesmo tipo de concreto quando utilizado fôrmas tradicionais de painéis e placas, as quais não permitem a liberação da água residual.

Como um objetivo geral, também houve a intenção de contribuir no Curso de Arquitetura e Urbanismo com experiências que estimulem o contato dos estudantes com materiais habituais do mundo da arquitetura e construção e também com os métodos e processos relacionados a ele. Neste sentido, a pesquisa pode gerar experiências que possam futuramente possibilitar atividades como workshops, onde uma maior quantidade de alunos possa participar e contribuir com o estudo.

Portanto, objetivou-se resgatar a natureza e potencial formal do material concreto através da experimentação, associando-se sempre à exploração de conceitos formais e teóricos. Procurou-se, também, explorar as características sustentáveis e acessíveis da técnica de fôrma de tecido para que possa ser aplicada em áreas de interesse social, que demandam estratégias e métodos inclusivos, versáteis, eficientes e, principalmente, de uma relação mais direta e coerente com o entorno.

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Metodologia dos experimentos

A metodologia foi dividida em 3 fases, e em cada uma delas foram desenvolvidas atividades de experimentações, empíricas e teóricas, que foram registradas, analisadas e catalogadas pelas bolsistas. A pesquisa propôs desenvolver uma série de modelos e testes que foram estudados. Desta forma, o papel das bolsistas foi centrado na organização de material gerado pelo processo de experimental e empírico. É esse registro o que permitiu aprimorar os consequentes estudos em cada etapa.

Etapa 1: Estudo e compreensão do material, seus métodos e processos construtivos. Inicialmente, desenvolvemos peças baseadas em geometrias fundamentais, tais como volumes regulares, prismas etc., e elementos lineares. A importância da primeira fase foi compreender o comportamento do material, estudar suas características e propriedades físicas e os fenômenos envolvidos em sua utilização. Estas experiências foram desenvolvidas, primeiramente, por meio de modelos em gesso e, posteriormente, em concreto. Paralelamente, a pesquisa explorou uma bibliografia relacionada à técnica e teoria do material concreto, junto a consultas com especialistas (engenharia e construção), para alcançar uma aproximação mais precisa dos aspectos envolvidos nos métodos e processos.

Etapa 2. Introdução no uso das fôrmas flexíveis. Fase introdutória e de encontro com o material e seu potencial formal, para, assim, vivenciar a ductilidade do concreto em relação à fôrma têxtil. A partir de experimentações em escala, como modelos de gesso, para posteriormente experimentar com modelos de concreto, utilizando as fôrmas flexíveis de tecido. Nesta etapa foram desenvolvidas variadas experimentações com diferentes tipos de tecidos e tipos de concreto.

Etapa 3. Estudo de caso. Com o objetivo de relacionar o campo de arquitetura com os processos envolvidos na execução deste tipo de peças, a partir de fôrmas flexíveis, foi proposto um caso de estudo em que se aplicará (em escala) o desenho de elementos arquitetônicos (espaço-forma). Embora o caso deva surgir dos estudos e descobertas que a pesquisa ofereça, uma possibilidade foi desenvolver algum tipo de mobiliário urbano/arquitetônico. Neste ponto, propôs-se estabelecer uma relação com outra pesquisa (PIBIC) que estuda os espaços residuais provocados pelas intervenções urbanas dos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Dita pesquisa, chamada “Observando os espaços residuais provocados pelo teleférico do Complexo do Alemão”, pode oferecer as variáveis concretas. Assim, permitindo formalizar uma proposta que responda a alguma solicitação (bancos, coberturas, outros). Propondo, então, um “tipo” de operação que possa ser replicada com facilidade pela comunidade, reutilizando as fôrmas e propondo variações, tendo em vista a particularidade de cada caso. Etapa 1: Introdução no uso das fôrmas flexíveis

A fase inicial da pesquisa foi voltada à nossa aproximação com o material (concreto) em si, e, nesse sentido, desenvolvendo peças que proporcionassem mais controle sobre o processo e baseadas em geometrias fundamentais, tais como volumes regulares, prismas e elementos lineares. A importância da primeira fase se deu pela compreensão do comportamento do material, estudando suas características e propriedades físicas, bem como os fenômenos envolvidos em sua utilização. Utilizamos, inicialmente, fôrmas planares de madeira com alguns recortes e peças que possibilitassem o entendimento de positivo e negativo e para que pudéssemos ter uma noção de metodologia e das características básicas do material, como traço, fluidez, peso, textura, armação, entre outras. Os primeiros experimentos foram cubos prismáticos que apresentam uma possibilidade maior de controle sobre o processo. O propósito inicial foi somente gerar um cubo perfeito. Atingido a finalidade inicial, buscou-se alcançar obstáculos mais difíceis, como por exemplo criar vazios e protuberâncias nas peças.

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A. Exercícios Introdutórios Prismáticos

O objetivo desses primeiros exercícios foi a experimentação inicial com a relação da fôrma x matéria. Portanto, pensar na manutenção e manipulação da forma do objeto e como controla-la através do seu exterior. Compreendermos a fôrma como seu invólucro, criando, através da mesma, negativos no objeto que também fez parte deste primeiro experimento.

A escolha do gesso, a princípio, se dá por suas características similares ao concreto, porém mais simples para manuseio. Produzimos três fôrmas diferentes, duas de madeira e uma de isopor. Suas características principais eram:

● Cúbicas ● Texturas lisas ● Rígidas ● Desmontáveis ● Estanque ● Resistente ao fluido

Figura 1. Imagem dos cubos prismáticos de gesso

O próximo exercício dessa série foi a experimentação com um modelo maior, de dimensões de 25 x 25 cm e com o concreto em si. O objetivo desse exercício foi a experimentação inicial com o concreto. Entende-se como uma evolução do primeiro exercício feito com o gesso, tendo em vista o aumento da escala do cubo - agora com 25cmx25cm e o primeiro contato com o material concreto.

Figura 2. Processo de montagem da fôrma (esquerda a direita: modelo do Rhinoceros, volume interno impresso na router, fôrma inteira montada e pronta para receber concretagem)

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Figura 3. Imagens do processo da primeira concretagem: peneragem da areia e cimento, dosagem e mistura, introdução na fôrma

Resultados e Discussões

Esse foi o primeiro confronto com a manipulação de materiais fluidos e seu invólucro, a fôrma, e, portanto, foi uma ótima introdução para as técnicas e metodologias básicas de trabalho. Foi importante para compreender a necessidade de cada instrumento e como a organização e planejamento de cada etapa é imprescindível para o sucesso do experimento. Além disso foi possível observar o efeito da fôrma sobre o produto e a ornamentação espontânea resultante do processo.

Este exercício foi interessante pois ele foi previamente estudado no Rhinoceros 3D, um programa de computador de visualização tridimensional. Com isso, podíamos prever de antemão o que seria o resultado final. Foi possível observar e entender melhor o processo envolvendo o negativo e positivo resultante da fôrma em confronto com a matéria.

B. Exercícios Introdutórios com Tecido

Esse foi o primeiro momento durante a pesquisa aonde trabalhou-se com uma fôrma têxtil. Este exercício consiste na evolução dos experimentos com o concreto. Assim foi produzido um assento feito com uma sacola de obra. O objetivo foi trabalhar com a maleabilidade do saco plástico de obra e como, após a inserção do concreto neste material costurado, ele pode ser ainda mais modificado quando aplicado o peso do corpo humano sobre ele.

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O processo consistiu em costurar a sacola com um fio mais grosso a fim de conseguir estruturar e manter o concreto dentro da área costurada. A fôrma é o recipiente que recebe essa matéria o concreto então deve ser resistente já que o material gera um esforço que pode arrebentar uma costura fraca ou muito fina. Por isso, ela deve ser feita com pequenos intervalos entre as linhas tornando os limites mais controlados e com um fio mais grosso. Primeiro nós desenhamos o contorno com caneta permanente e depois seguimos esse caminho com a costura. Elaborou-se, por meio da costura, um desenho baseado no formato dos nossos próprios corpos de forma a manter a massa dentro desse perímetro costurado.

Depois de costurado encheu-se com a massa de concreto e sentamos em cima para imprimir o formato dos nossos corpos na própria peça. A forma projetada no assento é o negativo das pesquisadoras que sentaram sobre o concreto inserido no plástico. Dessa forma nós levamos a ideia de ergonomia para seu limite mais lúdico e literal.

Figura 4. Imagem do processo de produção do assento: desenho, costura, concretagem e impressão com o corpo.

Resultados e Discussões

Esse exercício inicial foi uma ótima forma de descobrir e se confrontar com essa plasticidade do material. Depois de desmoldado, o assento capturou a impressão dos nossos corpos naquele breve período de tempo em que sentamos em cima dele, e conservou essa forma para sempre. Foi possível observar as curvas e vincos formados pela impressão dos nossos corpos, a textura da malha da sacola impressa na superfície do objeto, a presença dos marcos da costura no perímetro da peça, também como a impressão clara de nossos corpos formando uma depressão no assento. Isso cria uma aparência que desafia a rigidez pressuposta do material concreto, e é substituída por uma sensação de amabilidade, conforto, maciez,

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aconchego, entre outras. São sensações que não são tradicionalmente associadas ao material, e por isso geram uma surpresa ao se confrontar com o real peso e dureza do objeto.

Também podemos observar uma densidade escalonar muito comum nesse tipo de experimentação. Isso traz uma ornamentação espontânea, que ao mudar de escala de

observação (ao aproximar o olhar) é possível notar. Ou seja, vê-se mais detalhes que de longe não seria possível ver. Isso não é muito comum na arquitetura moderna e cartesiana que ainda vemos hoje em dia.

Além disso, por ter manipulado esses dois materiais, o tecido e o concreto, esse experimento inicial também foi um ótimo jeito de introduzir os próximos experimentos utilizando fôrmas têxteis.

Figura 5. Imagem do produto Final

Figura 5. Imagem do resultado final dos assentos

C. Exercícios Introdutórios com uso de texturas

Este exercício combina dois tipos de experimentos: o primeiro, o cubo de concreto moldado no cubo de madeira 25x25cm. Contudo, as faces dessas madeiras estão envelopadas pelo piso vinílico. Trazendo um resultado controlado, porém um pouco imprevisível.

A ideia foi grampear o piso vinílico nas bordas das peças de madeira que compunham os lados do cubo. Ao grampear a superfície plástica nessas placas, fomos dobrando de forma que criasse esses vincos e ondas propositais. Essas placas serviram de lado dos cubos, e assim imprimiu sai textura plástica e suas “ondas” sobre o cubo de concreto.Com isso, obtivemos um produto bruto em seu peso, por ser um cubo maciço, contudo aparentemente ornamentado e delicado em seu exterior.

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Resultados e Discussões

Foram observados alguns erros técnicos, como por exemplo as bolhas que ficaram presas na parte superior da peça devido a textura da mistura. Também foi possível observar que as curvas com uma dimensão muito pequena acabaram ficando presas na peça devido a pressão do concreto. Fora isso, o concreto curou muito bem e ficou com um resultado impressionante.

A sensação final foi de novo uma impressão das energias envolvidas no elemento

invólucro (nesse caso o piso vinílico) sobre o objeto final. Nesse caso a impermeabilidade do material vinílico foi impressa na superfície do concreto de forma a reproduzir essa textura lisa, brilhante e plástica. “É notável, de um ponto de vista escultural, que as energias envolvidas em um molde flexível possam ser “lidas” tão precisamente em sua forma final. Altos níveis de estresse são moldados (solidificam) como um campo energizado de impressões tensas. Áreas de baixo estresse aparecem quase como um relaxamento palpável. Não se precisa de um conhecimento formal de estruturas para conseguir sentir essas diferenças energéticas criadas e capturadas no molde flexível. Esse conhecimento parece ser inato à nossa existência corporal e aos nossos esforços gravitacionais - nós reconhecemos essas formas nos nossos corpos, na nossa pele, nas nossas roupas, e nas peles de outros seres vivos, tanto animais e vegetais. O grau no qual essas energias podem ser inatamente compreendidas a partir de suas formas finais solidificadas é impressionante. Parece que nós a conhecemos intrinsecamente. Essa energia, quando solidificada, detém e transmite um entendimento tácito entre nós e a matéria, estabelecendo uma certa empatia com o mundo como ele é. Essas compreensões não são apenas representadas pela forma final, como são encarnadas como o próprio “fato” do “ato de fazer”. [1]

Figura 6. Imagens do processo de produção do cubo vinílico

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Etapa 2: Experimentos com tecido

Depois de adquirir mais conhecimento sobre o funcionamento do material iniciou-se a exploração do invólucro do material, ou seja, a fôrma. Foi um momento de encontro com o material e seu potencial formal, e, assim, vivenciando a ductilidade do concreto em relação à fôrma têxtil. Todos esses experimentos foram realizados em escala (aproximadamente 1:5), com o uso do concreto sem brita para proporcionar a plasticidade adequada. Tentou-se o uso do gesso, em determinados momentos, todavia preferiu-se sempre voltar a utilizar o concreto por limitações dos materiais disponíveis, além da preferência do resultado formal do mesmo. A introdução do tecido na fôrma foi um marco na pesquisa e representou o momento em que se revelou essa plasticidade do material.

A. Peças horizontais

Essas outras experimentações com fôrmas têxteis, apesar de serem curvas foram mais estruturadas e baseadas em desenhos geométricos. Utilizamos a principio um tecido comum de algodão, com uma elasticidade limitada, e uma alta porosidade que para a escala do modelo 1:5 é bastante adequada. Foi montada uma espécie de “mesa” para apoiar o tecido e assim criar as peças. O tecido é pendurado na fenda central da mesa de forma que ela permita o recebimento da massa. As laterais da mesa possuem um desenho curvo e simétrico dos dois lados, ao longo do qual o tecido é grampeado, e assim criando a curva e voluptuosidade da peça final. Ao despejar a massa dentro da peça nós observou-se sua acomodação no tecido, criando alguns detalhes ornamentais com vincos e dobras características do tecido. O resultado final é uma captura daquele momento no tempo, transmitindo visualmente todas as sensações do momento da concretagem, como tensão e relaxamento, dobradura e estiramento, rugas e texturas que provocam uma afinidade humana e sensorial com o produto.

Figura 8. Imagem das peças horizontais

O objetivo do exercício foi produzir e aperfeiçoar a técnica para peças horizontais e longitudinais de concreto. Essas peças tem uma característica que lembra uma viga estrutural, e possivelmente pode ser usado para tal finalidade (ainda precisamos fazer um estudo de distribuição de distribuição de forças para poder concluir isso). Fizemos dois tipos de peças: côncava e convexa. Foi usada a mesma fôrma geométrica para ambas e por isso possuem a mesma curva, porém opostas. Elas se complementam e criam um movimento tanto em sua forma voluptuosa quanto em espaço negativo criado pela sua ausência.

Operações

A fôrma para abrigar essa peça deve ser montada de forma que ela suspenda o pano para conter o concreto e deixá-lo tomar a forma da “caída”. Ele tem dois lados onde são fixadas as laterais do pano e o final deve ter uma tampa que impeça a saída do concreto pelos lados. Ela deve ter estrutura suficiente para se manter em pé enquanto tiver concreto dentro. A parte do meio não pode ter nada que fique “no caminho” do caimento do pano e do concreto.

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Figura 9. Croquis de proposta do exercício

Figura 10. Croquis da fôrma de madeira

O tecido que usamos é um pano de algodão branco comum um pouco poroso e com um pouco de elasticidade. Quando colocado na forma e preenchido com concreto ele estica um pouco, deformando-se em relação ao tamanho previsto. Por essa característica, o tecido também corrige vincos ao ser preenchido com o fluido.

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Figura 12. Croquis do desenho na estrutura de madeira que representa o grampeado do tecido

Figura 13. Imagens das etapas da realização do experimento: fôrma pronta, tecido pós desmolde, concretagem

Resultados e Discussões As peças em conjunto:

Ao colocar as peças faceando uma com a outra podemos observar um movimento tanto de seus corpos quanto da ausência dos mesmos. Essa curva fica presente em cada peça individual e quando confrontada com sua curva inversa, presente na outra peça, cria um caminho ascendente e curvilíneo. Individualmente elas ganham força pela sua massa e corporeidade, porém coletivamente elas ganham potência a partir das suas ausências. Durante a pesquisa nós nos deparamos sempre com esse tema da massa em relação a seus espaços negativos.

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Figura 14. Imagem das peças horizontais em conjunto PRESENÇA E AUSÊNCIA POSITIVO E NEGATIVO FORMA E FÔRMA MATERIALIDADE E IMATERIALIDADE CORPOREIDADE As peças individualmente:

Convexo: Essa forma mais volumosa deu uma ideia de mais robustez e solidez. Ele reúne suas forças em direção ao centro da peça, onde sua massa é maior e por isso possivelmente resiste melhor à compressão (ainda faltam estudos mais aprofundados em relação à sua resistência).

Côncavo: A forma mais esbelta transmite uma ideia de maior elegância e “beleza” da peça. Ela não é necessariamente mais “bela”, porém mexe com nossos preconceitos de magreza relacionados a elegância. Mesmo que sua massa no centro é menor comparada à peça convexa, ela possivelmente possui características estruturais de arco, onde as forças são melhor distribuídas para as laterais com menos uso de material. Ao inverter a peça (face reta para baixo) podemos definir um banco onde as pessoas possam se reclinar e deitar de forma ergonômica.

Figura 15 e 16. Croquis do perfil da peça convexa e côncava

Além disso, no geral, foi possível observar outras características formais relevantes das peças. Elas possuem um contraste importante entre sua retidão e curvatura gerada pelo fato de ela ter sido concretada com a fôrma têxtil mas ter uma das faces abertas e a acomodação da gravidade gerando a retidão. A textura, como nas outras peças, também é um aspecto que se repete nesses experimentos, e traduz a maciez e o desenho da fibra do tecido de algodão.

Na Figura 17 e 18, a estética final da peça foi colocada em confronto com a paisagem do Rio de Janeiro, dando um sentido de pertencimento ao contexto e também de relação e identificação com as formas curvas presentes e recorrentes na arquitetura modernista brasileira.

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Figura 17. Fotomontagem da peça em relação à paisagem carioca

Figura 18. Croquis representando a relação entre paisagem e objeto

B. Banco com fundação

O objetivo do exercício foi combinar a aprendizagem do exercício anterior (as peças horizontais) com as técnicas de fundação para produzir um protótipo de banco. O desafio principal seria dar uma significação para a peça feita anteriormente e transformá-la em banco. Para possibilitar isso seria necessário que essa estrutura pousasse no chão com estabilidade. Por isso surgiu a introdução da fundação e o desafio da conexão entre os elementos.

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Figura 20. Croquis do processo de desenvolvimento da peça

A figura 20 representa croquis feitos durante a fase de desenvolvimento para pensar sobre o método de execução do banco. O processo foi muito parecido com o experimento anterior já que os mesmos materiais e métodos em gerais seriam adotados. A grande diferença seria a presença da fundação. Primeiro foi feita a fundação com um molde cúbico bastante convencional e com a armação saindo pela parte superior da peça. Depois concretamos essa fundação e a deixamos curar completamente até desmoldar. Após pronta, a fundação foi encaixada na parte inferior da estrutura da fôrma de madeira. Dessa maneira foi possível encaixar a fôrma têxtil, a qual cortamos um buraco no meio e grampeamos uma estrutura de madeira para ser possível essa junção. Assim, na hora da concretagem o fluido entraria em contato e a armação da fundação entraria dentro da peça horizonta do banco.

Figura 21. Imagens do processo de montagem da fôrma do banco: fundação com armação, tecido com recorte no meio, tecido grampeado na mesa conectado com a fundação

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Figura 22. Fotomontagem do banco com fundação em um local da PUC-Rio Resultados e Discussões

A fotomontagem acima (Figura 22) foi feita com uma imagem da PUC-Rio em um espaço integrado com a natureza do local. É possível ver tanto o banco com a fundação abaixo da terra, quanto as peças verticais atrás do mobiliário e integradas com a floresta. Elas possuem características biomiméticas quando diz respeito á sua forma voluptuosa e curvilínea, e também à sua estruturação no chão, como se as fundações representassem raízes presas no chão e estabilizando as estruturas da natureza (Figura 23). A relação com a natureza não se prende ao nível da forma visível, mas também remete a outras sensações e sentidos, como a textura ao toque, o som que o concreto faz ao toca-lo, entre outras percepções subjetivas.

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C. Peças Verticais

O objetivo do exercício foi produzir e aperfeiçoar a técnica para peças verticais e longitudinais de concreto. Essas peças tem uma característica que lembra um pilar estrutural, e possivelmente pode ser usado para tal finalidade (ainda precisamos fazer um estudo de distribuição de distribuição de forças para poder concluir isso). Fizemos diversos tipos de peças com características de voluptuosidade e uma volumetria curva e com uma materialidade corporal. Criamos uma forma de madeira completamente “descolada” da peça que serve como apoio para a forma de tecido que efetivamente define a forma final.

Figura 24 e 25. Croquis do desenvolvimento e resultado final da peça

Aqui as peças são preenchidas pela extremidade de cima, fazendo com que sua superfície longitudinal seja curva por inteira, diferente da face plana da peça horizontal. O fluido preenche uma “meia” vertical feita de tecido e costurada ao longo das “beiradas” para criar as curvas da peça. A costura não define a forma da peça em apenas um plano, e sim como se fosse uma curva rotacionada ao longo do eixo e criando voluptuosidade na superfície inteira da peça.

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A primeira proposta foi feita com 40 cm de altura e 5 cm de diâmetro e foi pensada como se fosse em escala de ⅙. Ficou muito claro nesse experimento o vazamento de água pelos poros do tecido, o que auxilia no aumento da resistência estrutural da peça.

Figura 27. Fotos do processo de montagem da fôrma e concretagem Resultados e Discussões

O resultado formal foi bastante satisfatório e trouxe surpresas agradáveis em termo de textura e ornamentação. Os vincos gerados pelas curvas costuradas no desenho foram geradas pelo peso do concreto sobre a curvatura. Isso traz novamente as características de densidade escalonar e de percepções surpreendentes em relação ao objeto.

Foi essa peça que inspirou a participação no concurso do Memorial da Boate Kiss. As peças seriam usadas como se fossem esculturas remetentes ao corpo dançante humano, presentificado pela estrutura, representando a tragédia que aconteceu no local. Ela também representa a biomímese discutida na Figura 22, aonde o objeto se assemelha a uma estrutura natural de tronco de árvore.

Na figura 28 abaixo é possível observar novamente a percepção do objeto inserido na paisagem, nesse caso um deserto. As dunas curvilíneas e secas se relacionam com a voluptuosidade e dureza das esculturas de concreto.

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A Figura 29 abaixo representa o que já foi discutido em relação à biomímese, e à relação com o corpo e a natureza. A corporeidade do objeto cria uma presença energética de forma que ao se confrontar com esse corpo, o observador sente uma amabilidade maior pelo objeto inanimado, como se fosse um animal, uma árvore, um cobertor, uma outra pessoa.

Figura 29. Croquis representando a presença e o movimento corporal das peças

D. Peça Curva

O objetivo principal nesse experimento era atentar a uma distorção em outro plano, aonde além da curva seccional da peça, seria produzida uma outra curva ao longo do eixo horizontal, que modificasse o desenho em planta do objeto. O desenho que cortamos na mesa foi um semicírculo, pela maior objetividade dessa geometria. Ela teria também uma estrutura tri-apoiada, de forma a ser capaz de se sustentar sem a necessidade de uma fundação subterrânea como no outro protótipo.

Figura 30. Imagem da peça curva

Na figura 29 é possível ver como esse sistema de apoio possibilitaria uma estruturação do mobiliário de forma que ele fique de pé sozinho. Esse desenho é muito comum em qualquer tipo de estrutura, desde tripés de câmeras, bancos de sentar até grandes obras arquitetônicas. Parecia ser uma solução simples e uma alternativa ideal comparado com o protótipo com fundação, porém enfrentamos alguns problemas em relação à geometria de do objeto.

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Figura 32. Fotos do processo de produção da peça curva

O processo consistiu em produzir a estrutura da mesa a partir de um corte na base de madeira, seguido pelo ajuste do tecido na mesa para formar o molde da peça. Usamos um pedaço de tecido retangular que se distorceria com o ajuste na curva da mesa. Não só o tecido seguiria uma curva ao longo do plano horizontal da mesa, mas também ao longo do plano vertical, de forma a ficar com uma curva que tocaria 3 vezes no chão. Nós vimos na hora de fazer que tinham mais distorções acontecendo que não foram previstas, e por isso usamos o tecido preenchido com areia para que gerasse uma previsão do preenchimento com concreto. Dessa maneira foi possível ajustar bem o tecido e grampeá-lo para que ficasse com a forma desejada. Depois disso foi feita a concretagem e o resultado final esta representado nas Figuras 30 e 33.

Figura 33. Fotomontagem com a peça curva Resultados e Discussões

Apesar de todas as dificuldades de execução, o resultado formal foi bastante satisfatório e trouxe surpresas agradáveis pela sua forma final e a ornamentação gerada. O produto final não ficou exatamente fiel às nossas intenções iniciais, mas tivemos um resultado que proporcionou uma experiência essencial para um próximo planejamento.

A Figura 33 e 34 representam a multiplicidade de aplicações desse tipo de estrutura e os aspectos arquitetônicos que ela pode gerar como coberturas, apoios, áreas protegidas e de passagem, entre diversas outras características formais. Também na escala do mobiliário ela tem sucesso como um banco tri-apoiado que pode trazer os indivíduos que sentam para olhar uns para os outros, e ao mesmo tempo pode proporcionar o inverso, aonde cada um senta olhando para fora e sem interação.

Novamente observa-se a capacidade de se confrontar com a paisagem, tanto na escala arquitetônica, quanto na escala de mobiliário, ou até de objeto.

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Figura 34. Croquis expressando as possibilidades arquitetônicas proporcionadas pela forma da peça curva

Etapa 3: Possibilidades de aplicação no espaço habitado

Ao terminar a produção das peças de concreto, foi importante pausar os experimentos e entender o resultado formal e nas aplicabilidades do produto. Não apenas as aplicabilidades funcionais, e sim os resultados sensoriais que subvertem o sentido funcional e assumido do material concreto. Formas mais plásticas do concreto, que surgem de uma relação mais ativa da matéria, evoca formas mais sinuosas, sensuais e de dobra. Segundo Gilles Deleuze “O espaço dobrado seria uma alternativa ao espaço cartesiano normativo da grelha”.

As técnicas cartesianas e sentido da visão dominam a arquitetura, buscamos enfrentar outros discursos possíveis, outras técnicas que exploram os outros sentidos afetivos do som, do tato, a sensibilidade da luz.

A fluidez do material acolhe as formas, os movimentos que o tocam, aquele instante se solidifica, e seu resultado pode ser apropriado de várias formas em ambientes diversos. Tem potencial de ressignificar um ambiente, compor e trazer qualidade espacial.

Para possibilitar isso nós criamos algumas fotomontagens e colagens que simulam essas peças no espaço. Utilizamos diversas escalas para explorar essa densidade escalonar que esse tipo de peça proporciona. Desde a escala arquitetônica e infra-estrutural, até uma escala de assento e de mobiliário que se aproxima mais á nossa escala humana de corpo. Assim percebeu-se esse material de outra forma e isso talvez mude a maneira de trata-lo na prática arquitetônica. A escala afeta a interação e a perspectiva do sujeito com o objeto.

A. PUC-Rio

A PUC-Rio foi o primeiro lugar de intervenção com as fotomontagens, sobretudo devido à intimidade e frequência constante ao local. O objetivo principal foi a simulação desses objetos em espaços subutilizados do campus da universidade com a finalidade de demonstrar a capacidade que o mobiliário tem de trazer movimento ao lugar, tanto de pessoas quanto de formas.

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Como fica claro pela imagem da esquerda contida na Figura 35, A PUC possui muitos espaços de estacionamento e abrigo de carros, e que em muitos momentos se encontra sem movimento de carro ou de pessoa. A aridez desses locais se contrasta com o resto do campus que é repleto de natureza e pessoas se movimentando e permanecendo. Por essa razão fez sentido simular uma intervenção desses corpos de concreto nesses lugares.

Figura 36. Fotomontagem com a peça curva em estacionamento da PUC-Rio

Além de fornecer vitalidade a esses espaços, a forma dos mobiliários pode possibilitar diversas intervenções por parte dos estudantes, professores ou funcionários da PUC, como ilustrado pelo grafite na Figura 36. Essa apropriação pode ser observada também pelos detalhes que possibilitam plantar algo, ou usar como apoio de cerveja, entre outros usos (Figura 37).

Figura 37. Croquis de detalhes de possíveis intervenções na peça

Figura 38. Fotomontagem com a peça curva em nova praça na PUC-Rio

A imagem acima (Figura 38) expressa a importância da forma no planejamento dos espaços e como a nossa proposta de mobiliário comunicaria com a linguagem da paisagem do entorno, e nesse caso específico, com o desenho dessa praça na PUC-Rio.

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B. Complexo do Alemão

Portanto, objetivou-se resgatar a natureza e potencial formal do material concreto através da experimentação, associando-se sempre à exploração de conceitos formais e teóricos. Procurou-se, também, explorar as características sustentáveis e acessíveis da técnica de fôrma de tecido para que possa ser aplicada em áreas de interesse social, que demandam estratégias e métodos inclusivos, versáteis, eficientes e, principalmente, de uma relação mais direta e coerente com o entorno.

Nesse caso, propôs-se estabelecer uma relação com outra pesquisa (PIBIC) que estuda os espaços residuais provocados pelas intervenções urbanas dos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC) no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Dita pesquisa, chamada “Observando os espaços residuais provocados pelo teleférico do Complexo do Alemão”, pode oferecer as variáveis concretas. Assim, permitindo formalizar uma proposta que responda a alguma solicitação (bancos, coberturas, outros). Propondo, então, um “tipo” de operação que possa ser replicada com facilidade pela comunidade, reutilizando as fôrmas e propondo variações, tendo em vista a particularidade de cada caso.

Um dos principais objetivos da pesquisa foi contribuir no estudo de um material normalmente associado a um alto custo e baixa sustentabilidade dos processos. No caso das peças construídas com fôrmas flexíveis de tecido, as principais características, além das formais, são a obtenção de uma maior resistência estrutural e, ao mesmo tempo, a redução dos custos. Aumentando a eficiência e contribuindo na sustentabilidade do processo - muito criticado na construção com concreto- os tecidos, por serem reutilizáveis, diminuem consideravelmente o custo. Por outra parte, o tecido, ao liberar o excesso de água durante a fase de vibração através das fibras, permite uma maior resistência da peça final (já curada) em relação ao mesmo tipo de concreto quando utilizado fôrmas tradicionais de painéis e placas, as quais não permitem a liberação da água residual.

Nesse sentido, é coerente a associação das duas pesquisas e a introdução desse método de baixo custo e resíduo em um local com carências econômicas e infra-estruturais que poderia desfrutar dessa metodologia mais acessível, porém inovadora.

Figura 39. Fotomontagem com a peça vertical em praça no Complexo do Alemão Muitos dos locais escolhidos foram identificados como pontos de encontro importantes no bairro, mas que ao mesmo tempo carecem de infraestrutura adequada. Portanto, uma estrutura que permitisse essa permanência e desse mais conforto aos moradores seria ideal para esses locais. Combinando isso com a relativa facilidade de executar um mobiliário desses torna esse método bastante adequado para a situação.

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Figura 40. Fotomontagem com a peça curva em teleférico no Complexo do Alemão A implementação da infraestrutura do teleférico do Alemão gerou espaços residuais que acabam sendo negligenciados pela população, mas que possuem um grande potencial de intervenção e revitalização, como ilustrado na Figura 40.

Figura 41. Fotomontagem com a peça curva em praça queimada no Complexo do Alemão

Esse caso mostrado na Figura 41é de uma praça aonde tinham sido introduzidos novas estruturas básicas de praça, mas que por conflitos internos foram queimados e deixados de lado. Foi introduzido aqui a peça curva com a presença de intervenções que trazem esse movimento e sensibilidade característica do objeto.

Conclusões

Essa experiência nos proporcionou ao mesmo tempo uma visão mais técnica sobre os materiais e suas características, bem como uma percepção mais sensorial e tolerante em relação às inovações na materialidade construtiva. Durante os períodos de projeto na arquitetura, a visão do aluno fica muito restrita a um método construtivo cartesiano e ortogonal, sobretudo em relação à forma estrutural, muito conservadora, e que as vezes não parece ter alternativa. No entanto percebe-se através dessa pesquisa o horizonte de possibilidades de inovação técnica e formal.

Ao olhar a Figura 42 entende-se que o objeto possui uma capacidade de mutabilidade entre escalas, desde o objeto escultórico e o mobiliário, até uma escala arquitetônica e infra-estrutural. Não só isso, mas a presença da densidade escalonar do objeto, que ao aproximar-se dele ele revela detalhes diferentes.

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Figura 42. Croquis ilustrando mutabilidade de escala do objeto

Uma outra relação recorrente em todos os experimentos foi a relação com a paisagem, tanto pela semelhança com a voluptuosidade e curvas da natureza, como pelo contraste da dureza do concreto com os mesmos elementos. Essa oscilação entre similaridade e contraste cria uma curiosidade sensorial sobre essa forma incomum na nossa cidade. A percepção visual engana ao sugerir algo macio, leve, enquanto o material em si se revela como duro e pesado.

Figura 43. Croquis ilustrando surpresa da percepção sensorial

A experimentação formal e a exploração de novas possibilidades do material nos permitiram uma maior compreensão do comportamento do concreto e de sua fluidez intrínseca. Por ser um fluido que endurece, o concreto conserva aquele momento no tempo quando o material era liquido, e, portanto, comunica inclusive uma questão temporal (ou atemporal) do material, que vai além do campo técnico e tecnológico, e nos faz pensar em sua presença corporal no espaço-tempo.

Referências

1. WEST, Mark. The Fabric Formwork Book: Methods for Building New Architectural and Structural Forms in Concrete. London New York: Routledge, 2017. 318 p.

Referências

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