• Nenhum resultado encontrado

Capítulo. UNEP, Tom Nebbia, Ecuador, Topham PicturePoint

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Capítulo. UNEP, Tom Nebbia, Ecuador, Topham PicturePoint"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)

1

Integração entre o

meio ambiente e o

desenvolvimento:

1972–2002

(2)

E

mbora o meio ambiente sempre tenha sido essencial para a vida, a preocupação com o equilíbrio entre a vida humana e o meio ambi-ente só assumiu dimensões internacionais durante a década de 1950. Nos anos seguintes, peças supos-tamente desconexas de um quebra-cabeças global começaram a se encaixar de forma a revelar um mundo com um futuro incerto.

Livros e artigos inovadores, como “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson (Silent Spring, Carson, 1962) e The Tragedy of the Commons (“A Tragédia dos Bens Comuns”), de Garrett Hardin (Hardin, 1968), quebraram paradigmas, motivando vários países e a comunidade internacional em geral a agir. Uma série de catástrofes jogou mais lenha na fogueira ambiental: descobriu-se que a droga talidomida causa má-forma-ção congênita em recém-nascidos, o navio Torrey

Canyon derramou petróleo ao longo da pitoresca costa

norte da França e cientistas suecos afirmaram que a morte de peixes e outros organismos em milhares de lagos da Suécia era resultado do longo alcance de poluição atmosférica vinda da Europa Ocidental.

No final da década de 1960, as questões ambientais eram uma preocupação quase que exclusi-vamente do mundo ocidental. Em países comunistas, a destruição implacável do meio ambiente em nome da industrialização continuava de forma incessante. Em países em desenvolvimento, a preocupação com o meio ambiente era vista como um luxo do Ocidente. “A po-breza é a pior forma de poluição”, afirmou a primeira-ministra da Índia, Indira Ghandi, que desempenhou um papel essencial no direcionamento da agenda da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambi-ente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, às questões dos países em desenvolvimento (Strong, 1999). “Pensamos que, de todas as coisas do mundo,

as pessoas são o que há de mais precioso”, afirmou Tang Ke, chefe da delegação chinesa na Conferência de Estocolmo (Clarke e Timberlake, 1982).

No início da década de 1970, a atenção se con-centrou no meio ambiente biofísico, em questões como as relacionadas ao manejo da fauna e da flora silves-tres, a conservação do solo, poluição da água, degra-dação da terra e desertificação – e o homem era consi-derado a causa principal desses problemas. No Oci-dente, havia (e de certa forma ainda há) duas grandes escolas de pensamento sobre as causas da degrada-ção ambiental: uma culpava a ganância e a busca im-placável pelo crescimento econômico; a outra respon-sabilizava o crescimento populacional. Como obser-vou um comentarista, “a poluição contínua e a falta de estabilidade da população são as ameaças reais à nos-sa maneira de viver e à própria vida” (Stanley Foundation, 1971).

Essa visão foi resumida no estudo mais famo-so da época, o modelo computadorizado famo-sobre o futu-ro global, realizado pelo Clube de Roma, que atraiu a atenção do mundo. O Clube de Roma era um grupo de

Símbolos evento internacional nova direção nova instituição ação legal descoberta publicação acidente convenção encontro 1 9 7 2

Conferência das Nações Unidas sobre oMeio Ambiente Humano, Estocolmo, SuéciaInstituição do Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente (PNUMA)Publicação do livro

Limites de Crescimento

pelo Clube de Roma Lançamento do satélite LandsatConvenção da UNESCO sobre a Proteçãodo Patrimônio Mundial Cultural e Natural

1 9 7 3 Convenção sobre o Comércio Internacional dasEspéciesda Fauna e Flora Selvagens em Perigo

de Extinção (CITES) Seca na região do Sahel mata milhões depessoas Primeira crise do petróleo

A tragédia dos bens comuns

“A tragédia dos bens comuns como fonte de alimentos pode ser evitada pela propriedade privada, ou algo que se assemelhe formalmente a isso. Mas o ar e as águas a nossa volta não podem ser cercados de forma fácil, e assim, a tragédia do uso dos bens comuns como fossa sanitária deve ser evitada por outros meios, por leis coercitivas ou impostos que façam com que seja menos dispendioso para o poluidor tratar seus agentes poluentes do que despejá-los sem tratamento no meio ambiente.”

(3)

cerca de 50 homens (e mulheres) autodenominados “sá-bios” que se reunia regularmente na tentativa de endirei-tar o mundo, como fazia o grupo de cientistas do movi-mento Pugwash em relação à Guerra Fria. Publicado com o título de “Limites do Crescimento” (The Limits to

Growth, Meadows e Meadows, 1972), o modelo do

Clu-be de Roma analisava cinco variáveis: tecnologia, popu-lação, nutrição, recursos naturais e meio ambiente. A prin-cipal conclusão do estudo foi a de que, se as tendências da época continuassem, o sistema global se sobrecarre-garia e entraria em colapso até o ano 2000. Para que isso não ocorresse, tanto o crescimento populacional quanto o crescimento econômico teriam de parar (Meadows e Meadows, 1972). Embora o estudo “Limites do Cresci-mento” tenha sido muito criticado, ele tornou pública pela primeira vez a noção de limites externos – a idéia de que o desenvolvimento poderia ser limitado pelo tama-nho finito dos recursos terrestres.

A década de 1970: a base do

ambientalismo moderno

Em 1972, o mundo era bem diferente do que é hoje. A Guerra Fria ainda dividia a maior parte das nações mais industrializadas, o período de colonização ainda não havia chegado ao fim e, embora o e-mail acabasse de ser inventado (Campbell, 1998), mais de duas décadas se passariam antes que seu uso se tornasse comum. O computador de uso pessoal ainda não existia, e o aque-cimento global acabara de ser mencionado pela pri-meira vez (SCEP, 1970). Considerava-se que a princi-pal ameaça à camada de ozônio seria proveniente de uma vasta frota de aviões supersônicos, o que nunca viria a se materializar. Embora empresas transnacionais existissem e estivessem se tornando cada vez mais poderosas, o conceito de globalização surgiria somente

1 9 7 4

Simpósio que levou à Declaração de Cocoyoc

1 9 7 5

O primeiro microcomputador é comercializadoFundação do Parque Marinho daGrande Barreira de Corais, na Austrália

Princípios da Declaração de Estocolmo

1. Os direitos humanos devem ser defendidos; o e o

colonialismo devem ser condenados

2. Os recursos naturais devem ser preservados

3. A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis deve ser mantida

4. A fauna e a flora silvestres devem ser preservadas

5. Os recursos não-renováveis devem ser compartilhados, não esgotados

6. A poluição não deve exceder a capacidade do meio ambiente de neutralizá-la

7. A poluição danosa aos oceanos deve ser evitada

8. O desenvolvimento é necessário à melhoria do meio ambiente 9. Os países em desenvolvimento requerem ajuda

10. Os países em desenvolvimento necessitam de preços justos para as suas exportações, para que realizem a gestão do meio ambiente 11. As políticas ambientais não devem comprometer o desenvolvimento

12. Os países em desenvolvimento necessitam de recursos para desenvolver medidas de proteção ambiental

13. É necessário estabelecer um planejamento integrado para o desenvolvimento

14. Um planejamento racional deve resolver conflitos entre meio ambiente e desenvolvimento

15. Assentamentos humanos devem ser planejados de forma a eliminar problemas ambientais

16. Os governos devem planejar suas próprias políticas populacionais de maneira adequada

17. As instituições nacionais devem planejar o desenvolvimento dos recursos naturais dos Estados

18. A ciência e a tecnologia devem ser usadas para melhorar o meio ambiente

19. A educação ambiental é essencial

20. Deve-se promover pesquisas ambientais, principalmente em países em desenvolvimento

21. Os Estados podem explorar seus recursos como quiserem, desde que não causem danos a outros

22. Os Estados que sofrerem danos dessa forma devem ser indenizados

23. Cada país deve estabelecer suas próprias normas 24. Deve haver cooperação em questões internacionais

25. Organizações internacionais devem ajudar a melhorar o meio ambiente

26. Armas de destruição em massa devem ser eliminadas

apartheid

(4)

“Uma das nossas principais responsabilidades nesta Conferência é produzir uma declaração internacional sobre o meio ambiente humano; um documento sem uma obrigação legal, mas – esperamos – com autoridade moral, que inspire nos homens o desejo de viver em harmonia uns com os outros e com o seu meio ambiente.” — Professor Mostafa K. Tolba, chefe da Delegação do

Egito na Conferência de Estocolmo, diretor- executivo do PNUMA 1975-93

vinte anos depois. Na África do Sul, o apartheid ain-da vigorava e, na Europa, o Muro de Berlim ainain-da estava de pé.

O mundo do início da década de 1970 era, por-tanto, extremamente polarizado, e de várias maneiras. Com esse pano de fundo, é surpreendente que a idéia

de uma conferência internacional sobre o meio ambi-ente tenha sido até mesmo cogitada (pela Suécia, em 1968) e, mais ainda, que ela efetivamente tenha sido realizada (em Estocolmo, em 1972). E é impressionante que tal conferência tenha dado origem ao que posteri-ormente ficaria conhecido como o “espírito de com-promisso de Estocolmo”, em que representantes de países desenvolvidos e em desenvolvimento busca-ram maneiras de conciliar os pontos de vista extrema-mente divergentes de cada um. A Conferência foi rea-lizada na Suécia, que havia sofrido sérios danos em milhares de seus lagos, em conseqüência de chuvas ácidas resultantes da forte poluição atmosférica na Europa Ocidental.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am-biente Humano, realizada em junho de 1972, foi o even-to que transformou o meio ambiente em uma questão de relevância internacional. A Conferência reuniu tan-to países desenvolvidos quantan-to em desenvolvimen-to, mas a antiga União Soviética e a maioria de seus aliados não compareceram.

A Conferência de Estocolmo produziu uma De-claração de 26 princípios e um Plano de Ação com 109 recomendações. Algumas metas específicas foram estabelecidas: uma moratória de dez anos sobre a caça comercial a baleias, a prevenção a derramamentos de-liberados de petróleo no mar até 1975 e um relatório sobre o uso da energia até 1975. A Declaração de Es-tocolmo sobre o Meio Ambiente Humano e seus prin-cípios constituíram o primeiro conjunto de “soft law“ (leis internacionais sem aplicação prática, apenas in-tencionais) para questões ambientais internacionais (Long, 2000). Os princípios encontram-se para-fraseados de forma livre no box da página 3.

A Conferência das Nações Unidas sobre

o Meio Ambiente Humano

1 9 7 6 Liberação de dioxina causada por um desastreindustrial em uma fábrica de agrotóxicos em

Seveso, na Itália O terremoto de Tangshan, no leste da China,causa um grande número de mortosMais de um milhão de pessoas desabrigadas porum terremoto na Guatemala Produtos químicos vazam para o porão de casaspróximas a Love Canal, nos Estados UnidosConferência Internacional das Nações Unidaspara o Combate à Desertificação, emNairóbi, Quênia Fundação do movimento Cinturão Verde(Green Belt ) no Quênia

1 9 7 7

A origem do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente

A Conferência de Estocolmo recomendou a criação de um pequeno secretariado dentro da Organização das Nações Unidas como núcleo para ação e coordenação de questões ambientais dentro do sistema das Nações Unidas. Esse órgão foi criado ainda no ano de 1972, com o nome de Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), comandado por um diretor-executivo cujas responsabilidades incluíam:

A missão do PNUMA hoje é “desempenhar o papel de líder e incentivar parcerias na proteção do meio ambiente, inspirando, informando e capacitando os países e as pessoas a melhorarem sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras”.

dar apoio ao Conselho Administrativo do PNUMA;

coordenar programas ambientais dentro do sistema da Organização das Nações Unidas;

prestar assessoria na formulação e implementação de programas ambientais;

garantir a cooperação da comunidade científica, assim como de outras comunidades profissionais de todas as regiões do mundo; prestar assessoria sobre cooperação internacional na área de meio ambiente; e

apresentar propostas relativas ao planejamento a médio e longo prazos para programas das Nações Unidas na área de meio ambiente.

(5)

A Conferência também instituiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA – ver box à esquerda) como “a consciência ambiental do sistema da Organização das Nações Unidas”.

Pode-se dizer que vários dos marcos ambientais da década de 1970 foram conseqüência direta de Esto-colmo. É importante lembrar, no entanto, que a Confe-rência de Estocolmo foi por si só um reflexo do espíri-to da época, ou ao menos da visão de muiespíri-tos no Oci-dente. Isso posto, é instrutivo listar algumas das prin-cipais mudanças que se seguiram a Estocolmo:

A Conferência expressou o direito das pessoas de viverem “em um ambiente de qualidade que permita uma vida com dignidade e bem-estar”. A partir de então, várias organizações, incluindo a Organização da Unidade Africana (OUA) e cerca de 50 governos ao redor do mundo, adotaram ins-trumentos ou dispositivos constitucionais reco-nhecendo o meio ambiente como um direito hu-mano fundamental (Chenje, Mohamed-Katerere e Ncube, 1996).

Muitas legislações nacionais sobre o meio ambi-ente seguiram-se a Estocolmo. Entre 1971 e 1975, 31 importantes leis ambientais em âmbito nacio-nal foram aprovadas em países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econô-mico (OCDE), em comparação com somente 4 no período entre 1956 e 1960, 10 de 1960 a 1965 e 18 entre 1966 e 1970 (Long, 2000).

O meio ambiente passou a existir ou entrou na lista de prioridades de várias agendas nacionais e regionais. Por exemplo, antes da Conferência de Estocolmo, havia apenas 10 ministérios do meio ambiente no mundo; em 1982, cerca de 110 países possuíam ministérios ou departamentos respon-sáveis por essa pasta (Clarke e Timberlake, 1982).

A conservação da fauna e da flora silvestres foi uma área em que governos e outros grupos de interesse obtiveram sucessos notáveis durante a década de 1970. Isso foi o resultado de uma combinação de ações legais em âmbito mundial que foram (e ainda são) aplicadas em âmbito nacional com uma eficácia variável. A base para alguns desses sucessos foi fun-damentada em acordos ambientais multilaterais como os seguintes:

1971: Convenção sobre Zonas Úmidas de Impor-tância Internacional especialmente como Habitat de Aves Aquáticas (Ramsar);

1972: Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural (Patrimônio Mundial); 1973: Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Peri-go de Extinção (CITES); e

1979: Convenção sobre a Conservação das Espé-cies Migratórias de Animais Silvestres (CMS).

A Convenção de Ramsar é anterior à Conferência de Estocolmo, já que foi aberta a assinaturas em 1971. A Convenção, que entrou em vigor dois anos após a Con-venção em Estocolmo, contava com 130 partes em de-zembro de 2001. Ela foi desenvolvida principalmente a partir de atividades realizadas por ONGs na década de 1960 preocupadas com a proteção dos pássaros e de seu habitat. Embora o foco inicial da Convenção fosse a conservação de aves aquáticas e de seus habitats, hoje ela trata da qualidade da água, da produção de alimentos, da biodiversidade geral e de todas as zonas úmidas, incluindo zonas costeiras de água salgada.

Acordos ambientais multilaterais

1 9 7 8 Enchentes no estado de Bengal, na Índia,causa a morte de 1.300 pessoas por

afogamento e destrói 1,3 milhões de casas

1 9 7 9 Grave acidente na usina nuclear de

Three Mile

Island

, nos Estados Unidos

Primeira Conferência Mundial sobre o Clima,Genebra, Suíça Uma mancha de óleo de 640 km no Golfo doMéxico se forma após a explosão de um poço depetróleo da Ixtoc Convenção sobre a Conservação das EspéciesMigratórias de Animais Silvestres (CMS)

A Convenção de Ramsar

(6)

As partes são obrigadas a listar ao menos uma zona úmida de importância, estabelecer reservas na-turais, ter bom senso na utilização dessas áreas, in-centivar o aumento de populações de aves aquáticas em zonas úmidas apropriadas e fornecer informações sobre a implementação de políticas relacionadas a es-sas zonas. Há hoje mais de 1.100 áreas, cobrindo 87,7 milhões de hectares, designadas como sítios Ramsar, melhorando a conservação da fauna silvestre em dife-rentes regiões (Ramsar Convention Bureau, 2001).

A Convenção do Patrimônio Mundial, negociada em 1972, é administrada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A Convenção contava com 161 Partes em meados de 2001. Desde 1972, quando as Ilhas Galápagos foram colocadas sob a égide da Unesco como uma “universidade natural de espécies únicas”, até dezembro de 2001, um total de 144 sítios em dife-rentes regiões haviam sido designados sítios de patrimônio natural. Outros 23 sítios foram considera-dos como sendo de importância natural e cultural (Unesco, 2001). O impacto da Convenção trouxe mai-or consciência sobre a impmai-ortância desses sítios tan-to para as atuais como para as futuras gerações. No entanto, o derramamento de petróleo perto das Ilhas “Todos os povos têm direito a um meio ambiente geral satisfatório, propício ao seu desenvolvimento.” — Carta Africana dos Direitos Humanos e dos

Povos, 27 de junho de 1981

Galápagos no início de 2001, colocando várias espéci-es e seus habitats em perigo, mostra que os sistemas de gestão ambiental talvez nunca cheguem a ser infalíveis.

Durante a Conferência de Estocolmo, foi relatado que mais de 150 espécies de aves e animais já haviam sido exterminadas e que cerca de outras mil espécies se encontravam ameaçadas de extinção (Comissão para Estudar a Organização da Paz, 1972). Uma Comissão da Organização das Nações Unidas recomendou a imediata identificação de espécies ameaçadas de extinção, a conclusão de acordos adequados, a cria-ção de instituições que cuidassem da conservacria-ção da fauna e da flora silvestres e a regulamentação do co-mércio internacional de espécies em perigo de extinção. A recomendação da Comissão basicamente endossava uma resolução, de 1963, de membros da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o que delineou a redação da Convenção CI-TES. A Convenção, que foi adotada em 1973 e entrou em vigor dois anos depois, controla e/ou proíbe o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção, o que inclui cerca de 5 mil espécies animais e 25 mil espécies de plantas (CITES Secretariat, 2001). Controvérsias em relação a espécies de maior desta-que, como o elefante africano e as baleias, com fre-qüência desviam a atenção do que foi feito em prol de outras espécies.

Em termos de ações tangíveis, a Conferência de Esto-colmo parece ter conseguido muito. Embora muitas das suas 109 recomendações ainda não tenham sido aplicadas, elas servem – hoje em dia tanto quanto an-“As pessoas não se satisfazem mais apenas com declarações. Elas exigem

ações firmes e resultados concretos. Esperam que, ao identificar um problema, as nações do mundo tenham vitalidade para agir.” —

Primeiro-ministro sueco Olof Palme, cujo país sediou a Conferência de Estocolmo, 1972

1 9 8 1 Publicação do relatório

Global 2000 , nos

Estados Unidos Estabelecimento do Programa Mundial do Clima(WCP) Lançamento da

Estratégia de Conservação

Mundial

pela UICN, pelo PNUMA e pela WWF

Início da Década Internacional de Água Potávele Saneamento A Comissão Brandt publica o relatório intituladoNorte-Sul: um programa para a sobrevivência

1 9 8 0

A Convenção do Patrimônio Mundial

A CITES

(7)

Imagens Landsat do Rio Saloum, no Senegal, em 5 de novembro de 1972 (superior) e em 31 de outubro de 1992 mostram quanto da floresta de mangue (áreas em vermelho escuro) desapareceu em vinte anos, mesmo em uma área protegida.

tes – como metas importantes. De igual importância, no entanto, foi o sucesso da Conferência na redução da diferença entre os pontos de vista dos países desen-volvidos e dos em desenvolvimento. Uma primeira ten-tativa com tal objetivo havia sido feita em uma confe-rência em Founex, na Suíça, em 1969, e o Relatório de Founex de junho de 1971 identificou o desenvolvimen-to e o meio ambiente como “dois lados da mesma moe-da” (UNEP, 1981). O Comitê de Redação e Planejamento para a Conferência de Estocolmo observou, em seu re-latório de abril de 1972, que a “proteção ambiental não pode ser usada como pretexto para que se desacelere o progresso econômico de países emergentes”.

Outros avanços ocorreram em 1974, quando foi realizado um simpósio de especialistas presidido por Barbara Ward em Cocoyoc, no México. Organiza-do pelo PNUMA e pela Conferência das Nações Uni-das sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o Simpósio identificou os fatores sociais e econômi-cos que levam à deterioração ambiental (UNEP/ UNCTAD, 1974). A Declaração de Cocoyoc, o relató-rio formal publicado pelo Simpósio, influiu na mudan-ça de atitude dos principais pensadores ambientais. O que foi dito em Cocoyoc serviu como o primeiro pará-grafo da “Estratégia de Conservação Mundial”, publicada em 1980 (ver página 10) e foi reafirmado no

GEO-2000, de 1999: “Os impactos destrutivos

combi-nados de uma maioria carente lutando para sobrevi-ver e uma minoria rica consumindo a maior parte dos recursos terrestres têm comprometido os próprios meios que permitem a todas as pessoas sobreviver e prosperar.” (UNEP/UNCTAD, 1974).

Outras afirmações feitas na Declaração de Cocoyoc demonstram uma consciência sobre a difi-culdade de se atender às necessidades humanas de forma sustentável em um meio ambiente sob pressão:

O problema básico de hoje em dia não é o de uma escassez material absoluta, mas sim de má distribui-ção e uso, do ponto de vista econômico e social. A tarefa dos estadistas é orientar os países em direção a um novo sistema mais capaz de satisfa-zer os limites internos das necessidades humanas básicas para todas as pessoas do mundo, e

fazê-1 9 8 2

Convenção das Nações Unidas sobre oDireito do Mar (CNUDM) A Assembléia Geral das Nações Unidas adota aCarta Mundial da Natureza Tempestades de monção na Tailândia matam 10mil pessoas

1 9 8 3 Fonte: Landsat, 2001

(8)

lo sem violar os limites externos dos recursos e do meio ambiente do planeta.

Os seres humanos têm necessidades básicas: ali-mentação, abrigo, vestimentas, saúde, educação. Qualquer processo de crescimento que não leve à sua realização – ou pior, que a impeça – é uma paródia da idéia de desenvolvimento.

Precisamos todos redefinir nossos objetivos, ou novas estratégias de desenvolvimento, ou novos modos de vida, incluindo um padrão mais modes-to de consumo entre os ricos.

A Declaração de Cocoyoc termina assim: “O caminho à frente não se encontra no desespero pelo fim dos tempos nem em um otimismo fácil resultante de sucessivas so-luções tecnológicas. Ele se encontra na avaliação cuidadosa e imparcial dos ‘limi-tes externos’, na busca conjunta por mei-os de alcançar mei-os ‘limites internmei-os’ dmei-os di-reitos humanos fundamentais, na constru-ção de estruturas sociais que expressem esses direitos e no trabalho paciente de elaborar técnicas e estilos de desenvolvi-mento que aprimorem e preservem o nos-so patrimônio terrestre.”

Essa visão do caminho a seguir refletiu-se nas novas imagens detalhadas do planeta que sur-giram na década de 1970 como resultado do lança-mento do satélite Landsat em julho de 1972 pelos Estados Unidos. Tais imagens foram sem dúvida determinantes para a mudança de atitude das pes-soas em relação ao estado do meio ambiente

mun-dial. Infelizmente, as imagens fornecidas pelo Landsat nos últimos trinta anos também mostram que a atitude geral ainda não mudou o suficiente (ver fotos da página 7).

Em termos de mudanças climáticas, a preo-cupação cada vez maior com o aquecimento global (em 1896, o cientista sueco Svante Arrhenius ha-via alertado o mundo sobre o “efeito estufa”) le-vou à realização da primeira Conferência Mundial sobre o Clima, em Genebra, em fevereiro de 1979 (Centre for Science and Environment, 1999). Du-rante a Conferência, chegou-se à conclusão de que emissões antropogênicas de dióxido de carbono podem causar efeitos a longo prazo sobre o clima. O Programa Mundial do Clima (WCP) foi estabele-cido no ano seguinte, proporcionando uma estru-tura para cooperação internacional em pesquisas e a base para a identificação de questões climáti-cas importantes ocorridas nas décadas de 1980 e 1990, como a destruição da camada de ozônio e o aquecimento global.

A década de 1980: definindo o

desenvolvimento sustentável

Os principais eventos políticos da década de 1980 fo-ram o colapso do Bloco Oriental e o fim de um mundo bipolarizado, construído sobre o equilíbrio de pode-res entre o Ocidente, de um lado, e os países comunis-tas e seus respectivos aliados em países em desen-volvimento, de outro. As mudanças resultantes de reformas e da Perestroika no Bloco Soviético segui-ram-se a anos de um crescimento econômico aparen-temente forte e enormes investimentos militares.

1 9 8 4 1 9 8 5

Uma seca excepcionalmente grave e longacausa fome na Etiópia Acidente químico em Bhopal, na Índia, matamilhares de pessoas e fere muitas outrasConferência Mundial da Indústria sobreGestão Ambiental O tufão Ike mata 1.300 pessoas nas Filipinas edeixa 1,12 milhões de desabrigados Convenção de Viena para a Proteção da Camadade Ozônio Tamanho do buraco na camada de ozôniomedido pela primeira vezConferência Internacional da Avaliação dasFunções do Dióxido de Carbono e outros Gasesdo Efeito Estufa, em Villach, na Áustria

(9)

A situação era sensivelmente diferente em regiões em desenvolvimento como a África, a Ásia Ociden-tal e a América Latina e o Caribe, onde a maioria dos países registrou um aumento pequeno na renda (UNCHS, 1996). A região subsaariana retrocedeu ain-da mais, com a renain-da per capita caindo 1,2% ao ano durante a década de 1980 (UN, 2000), devido a uma combinação de fatores, incluindo fortes secas e ter-mos comerciais desfavoráveis. Para vários países em desenvolvimento, a década de 1980 ficou conhecida

A década perdida

como a década perdida. A começar pela crise da dívi-da que atingiu a América Latina em 1982, a situação ficou especialmente difícil em países onde milhões de pessoas se deslocaram por conta de guerras. O número de refugiados passou de cerca de 9 milhões de pessoas em 1980 para mais de 18 milhões no início da década de 1990 (UNHCR, 2000).

Lidar com o ciclo da pobreza tornou-se um de-safio em particular, uma vez que o crescimento populacional nos países em desenvolvimento não só continuou, como um número cada vez maior de

pes-1 9 8 6 1 9 8 7

Pior desastre nuclear do mundo acontece emChernobyl, na União Soviética, espalhando uma nuvem radioativa sobre muitas regiões da EuropaA Comissão Baleeira Internacional

impõe uma

moratória sobre a caça comercial à baleia

Um incêndio na Basiléia, na Suíça, liberaprodutos químicos tóxicos no Reno e causa a

morte de peixes até nos Países Baixos Adoção do Protocolo de Montreal sobreSubstâncias que Destroem a Camada de Ozônio Nosso Futuro Comum

(Relatório Brundtland)

torna pública a idéia de desenvolvimentosustentável O Conselho Administrativo do PNUMA convoca umgrupo de trabalho para formular uma convençãosobre biodiversidade

Em 1990, ao menos 900 milhões de pessoas em áreas urbanas da África, Ásia e América Latina viviam na pobreza.

Fonte: UNEP, To-pham Picturepoint

(10)

soas carentes passou a residir em centros urbanos. Com o aumento da população urbana, a infra-estrutu-ra física das cidades começou a ficar sobrecarregada e sem condições de atender à demanda.

Medições relativas ao tamanho do buraco na camada de ozônio realizadas por pesquisadores britânicos e publicadas pela primeira vez em 1985 (Farnham, Gardiner e Shanklin, 1985) causaram surpresa tanto no mundo científico quanto na esfera política. O rela-tório Global 2000 reconheceu pela primeira vez que a extinção das espécies ameaçava a biodiversidade como componente essencial dos ecossistemas terrestres (US Government, 1980). Como a interdependência entre o meio ambiente e o desenvolvimento se tornava cada vez mais óbvia, a Assembléia Geral das Nações

Uni-das adotou a Carta Mundial da Natureza (World

Charter for Nature), chamando a atenção para o valor

intrínseco das espécies e dos ecossistemas (UN, 1982). Além das novas descobertas, a década de 1980 também presenciou uma série de eventos catastrófi-cos que marcou de forma permanente tanto o meio ambiente quanto a compreensão da sua ligação com a condição humana. Em 1984, um vazamento de gases letais da fábrica Union Carbide deixou um saldo de 3 mil mortos e 20 mil feridos em Bhopal, na Índia (Diamond, 1985). No mesmo ano, mais de um milhão de pessoas morreram de fome na Etiópia. Em 1986, o mundo presenciou o seu pior desastre nuclear quan-do um reator da usina nuclear de Chernobyl explodiu na Ucrânia, república da União Soviética. O derrama-mento de 50 milhões de litros de petróleo no Canal Príncipe William, no Alasca, causado pelo petroleiro

Exxon Valdez em março de 1989, mostrou que

nenhu-ma área, por nenhu-mais remota e “intacta” que seja, está a salvo do impacto causado pelas atividades humanas.

Os eventos mencionados acima confirmaram que as questões ambientais são sistêmicas e que lidar com elas requer estratégias a longo prazo, ações integra-das e a participação de todos os países e todos os membros da sociedade. Essa noção se refletiu na Es-tratégia de Conservação Mundial (World

Conser-vation Strategy – WCS), um dos documentos mais

importantes que ajudaram a redefinir o ambientalismo após a Conferência de Estocolmo. Lançada em 1980 pela União Internacional para a Conservação da Na-tureza (UICN), a Estratégia reconhece que a aborda-gem de problemas ambientais requer um esforço a lon-go prazo e a integração entre objetivos ambientais e relacionados ao desenvolvimento.

Novas questões e novos desastres

A Estratégia de Conservação Mundial

1 9 8 8 1 9 8 9

Uma resolução da ONU reconhece as mudançasclimáticas como “uma preocupação comum da humanidade”

O furacão Gilbert mata 350 pessoas, deixa750 mil desabrigados e causa um prejuízo de

US$ 10 bilhões no Caribe, no Méxicoe nos Estados Unidos Queda do Muro de BerlimO petroleiro Exxon Valdez

derrama 50 milhões

de litros de petróleo bruto no Canal PríncipeWilliam Convenção da Basiléia para o Controle deMovimentos Transfronteiriços de ResíduosPerigosos e sua EliminaçãoInstituição do Painel Intergovernamental deMudanças Climáticas

Carta Mundial da Natureza: princípios gerais A viabilidade genética da Terra não deve ser comprometida; os níveis populacionais de todas as formas de vida, silvestres e domesticadas, devem ser ao menos suficientes para a sua sobrevivência e, com essa finalidade, os habitats necessários devem ser protegidos.

Todas as áreas do planeta, tanto terrestres quanto marítimas, devem estar sujeitas a esses princípios de conservação; uma proteção especial deve ser dada a áreas singulares, a amostras representativas de todos os diferentes tipos de ecossistema e ao habitat de espécies raras e ameaçadas de extinção.

Os ecossistemas e organismos, assim como os recursos terrestres, marinhos e atmosféricos usados pelo homem, devem ser manejados de forma a alcançar e manter uma produtividade sustentável e em condições favoráveis, desde que não comprometam a integridade dos outros ecossistemas ou espécies com os quais coexistem.

A natureza deve ser protegida da degradação causada por guerras e outras atividades hostis.

(11)

A Estratégia sugeriu que os governos das di-ferentes partes do mundo criassem suas próprias es-tratégias nacionais de conservação, de acordo com um dos objetivos da Conferência de Estocolmo, o de incorporar o meio ambiente ao planejamento do de-senvolvimento. Desde 1980, mais de 75 países inicia-ram estratégias multissetoriais nos níveis nacional, estadual e local (Lopez Ornat, 1996). Essas estratégias são destinadas a tratar de problemas ambientais como a degradação da terra, a conversão e a perda de habitat, o desmatamento, a poluição da água e a pobreza.

No entanto, passar a mensagem de que o meio am-biente e o desenvolvimento são interdependentes requeria um processo que tivesse autoridade e cre-dibilidade em ambos os hemisférios, em governos e no setor empresarial, em organizações internacio-nais e na sociedade civil. Em 1983, a Comissão Mun-dial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), também conhecida como a Comissão Brundtland, foi criada para realizar audiências ao redor do mundo e produzir um relatório formal com suas conclusões.

O relatório foi publicado após três anos de audiências com líderes de governo e o público em geral no mundo todo sobre questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Reuniões pú-blicas foram realizadas tanto em regiões desenvolvi-das quanto nas em desenvolvimento, e o processo possibilitou que diferentes grupos expressassem seus pontos de vista em questões como agricultura, silvi-cultura, água, energia, transferência de tecnologias e desenvolvimento sustentável em geral. O relatório fi-nal da Comissão, intitulado “Nosso Futuro Comum”

(Our Common Future), definiu o desenvolvimento sustentável como sendo “o desenvolvimento que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade de gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, tornando-se par-te do léxico ambiental (CMMAD, 1987).

A Comissão enfatizou problemas ambientais como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, conceitos novos para a época, e expressou preocupação em relação ao fato da velocidade das mu-danças estar excedendo a capacidade das disciplinas científicas e de nossas habilidades atuais de avaliar e aconselhar. A Comissão concluiu que os arranjos institucionais e as estruturas de tomada de decisões existentes, tanto em âmbito nacional quanto no inter-nacional, simplesmente não comportavam as deman-das do desenvolvimento sustentável (WCED, 1987).

“A década atual (1980) tem sido marcada por um retrocesso das preocupações sociais. Ci-entistas chamam a nossa atenção em relação a problemas urgentes e complexos que di-zem respeito à nossa sobrevivência: o aque-cimento global, ameaças à camada de ozônio da Terra, desertos avançando sobre terras cultiváveis. preparadas para lidar com eles. Respondemos exigindo mais detalhes e pas-sando os problemas a instituições mal pre-paradas para lidar com eles” (WCED, 1987).

“Esse é o tipo de desenvolvimento que proporciona melhorias reais na qualidade da vida humana e ao mesmo tempo conserva a vitalidade e a diversidade da terra. O objetivo é um desenvolvimento que seja sustentável. Hoje isso pode parecer visionário, mas é um objetivo alcançável. Para um número cada vez maior de pessoas, essa também parece ser a única opção sensata.” — Estratégia de Conservação Mundial – IUCN, UNEP e WWF, 1980

Comissão Mundial sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)

1 9 9 0 1 9 9 1

Criação do Sistema Global de Observação doClima (GCOS) Segunda Conferência Mundial sobre o Clima, em

Genebra, Suíça Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC alertasobre o aquecimento global iminente

A noção de ecoeficiência é estabelecida comometa para a indústria Milhões de litros de petróleo bruto derramadose incendiados durante a Guerra do GolfoO Fundo Mundial para o Meio Ambiente é criadopara financiar convençõesPublica-se

Cuidando do Planeta Terra: uma

(12)

Assim foi semeado um maior envolvimento com questões relacionadas ao meio ambiente e ao desen-volvimento. Como sinal do fortalecimento do setor não-governamental, várias organizações novas foram formadas. Na Europa, partidos verdes ingressaram na arena política, e a associação a organizações ambientais de base cresceu rapidamente.

Seguindo-se aos acidentes industriais da década de 1980, a pressão sobre grandes empresas aumentou. Em 1984, o PNUMA participou da organização da Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do Meio Ambiente (WICEM), e no mesmo ano o setor químico do Canadá criou o programa Atuação Res-ponsável (Responsible Care), uma das primeiras ten-tativas de se proporcionar um código de conduta para uma gestão ambiental saudável no setor empresarial. Ao final da década, o conceito de ecoeficiência esta-va sendo introduzido na indústria como uma forma de, simultaneamente, reduzir o impacto ambiental e aumentar a rentabilidade. Embora esses interesses em geral não fossem compartilhados por empresas que tinham base em países em desenvolvimento, já se de-batiam as implicações da migração de indústrias para “paraísos de poluição” no Hemisfério Sul.

Ficou claro que um número cada vez maior de atores teria de lidar com as dimensões ambientais de atividades que anteriormente não eram vistas como ten-do implicações ambientais, e houve um crescente inte-resse acadêmico sobre o assunto. O meio ambiente e o desenvolvimento tornaram-se matérias legítimas de es-tudo em disciplinas sociais e naturais já estabelecidas, e novas disciplinas foram criadas para lidar com ques-tões multidisciplinares. Economia ambiental, engenha-ria ambiental e outras matéengenha-rias anteriormente

periféri-cas passaram a ser campos de estudo legítimos e reco-nhecidos, desenvolvendo suas próprias teorias, mas também provando sua validade em contextos reais.

O meio ambiente e a sustentabilidade ainda não figuravam muito nos princípios e especialmente na prática de assistência bilateral. Um dos primeiros si-nais de mudança foi a instituição de um Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento em 1987 pela OCDE, res-ponsável por estabelecer critérios para a integração do meio ambiente e do desenvolvimento em progra-mas de assistência ao desenvolvimento.

A conclusão do Protocolo de Montreal em 1987 foi considerada como um modelo promissor de coo-peração entre os hemisférios norte e sul, os governos e o setor empresarial, no tratamento de questões ambientais globais. Lidar com a destruição da camada de ozônio, no entanto, mostrou ser menos complica-do complica-do que lidar com outras questões ambientais que se apresentariam na década de 1980, mais especifica-mente as mudanças climáticas.

Em 1989, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) foi criado com três gru-pos de trabalho concentrados na avaliação científica das mudanças climáticas, nos impactos ambientais e socioeconômicos e em estratégias de resposta, ante-cipando os vários desafios a serem enfrentados pela humanidade no início da última década do milênio. O IPCC, criado pelo PNUMA e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), ajudou a se chegar a um consenso sobre a ciência, os impactos sociais e as melhores respostas ao aquecimento global resultante da ação humana. O IPCC contribuiu muito para a com-preensão pública dos perigos do aquecimento global,

Envolvendo outros atores

Painel Intergovernamental de Mudanças

Climáticas

1 9 9 2 1 9 9 3

Conferência das Nações Unidas para o MeioAmbiente e Desenvolvimento (Rio-92),

(13)

em especial nos países industrializados. Em vários países em desenvolvimento, onde os estudos sobre o clima são raros e praticamente não há especialistas no tema, as mudanças climáticas não são vistas da mesma forma. Essa situação levou algumas organizações des-sas regiões a protestarem contra “uma enorme disparidade entre a participação dos hemisférios norte e sul. ... Países do hemisfério sul não possuem progra-mas nacionais coordenados sobre o clima, contam com poucos climatologistas, e praticamente não detêm ne-nhum dado para elaborar projeções climáticas a longo prazo” (Centre for Science and Environment, 1999).

Alguns dos Acordos Ambientais Multilaterais

(Mul-tilateral Environmental Agreements – MEAs) mais

importantes da década de 1980 são os seguintes: a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), de 1982;

o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, de 1987 (implementando a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, de 1985); e a Convenção da Basiléia para o Controle de Mo-vimentos Transfronteiriços de Resíduos Peri-gosos e sua Eliminação (Convenção da Basi-léia), de 1989.

Embora tenha sido assinada em 1982, a CNUDM só veio a entrar em vigor doze anos depois, o que talvez seja um indício da complexidade de se negociar um MEA. A Convenção, que conta com 136 Partes, é uma

“Os povos indígenas são a base do que poderia ser chamado de sistema de segurança ambiental. Para muitos de nós, no entanto, os últimos séculos significaram uma grande perda de controle sobre nossas terras e águas. Ainda somos os primeiros a sentir as mudanças no meio ambiente, mas agora somos os últimos a ser questionados ou consultados sobre o assunto.”

— Louis Bruyère, presidente do Native Council do Canadá, audição pública da CMMAD, Ottawa, Canadá, Maio de 1986

Acordos ambientais multilaterais

iniciativa legal que compreende várias questões marí-timas, incluindo a proteção ambiental. As suas cláu-sulas ambientais incluem:

a extensão do direito de soberania sobre recursos marinhos, como peixes, a uma zona econômica exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas;

a obrigação de adotar medidas para gerir e con-servar os recursos naturais;

o dever de cooperar regional e globalmente em aspectos como a proteção ambiental e pesquisas relativas a essa proteção;

o dever de reduzir ao mínimo a poluição marinha, incluindo aquela gerada em terra; e

restrições a despejo de dejetos no mar por navios.

O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Des-troem a Camada de Ozônio implementa a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio. O Protocolo, que entrou em vigor em 1989 e em dezem-bro de 2001 já contava com 182 Partes, é um dos exem-plos mais bem-sucedidos de cooperação internacio-nal sobre o meio ambiente. O sucesso do Protocolo é em parte resultado do Fundo Multilateral criado como um incentivo à participação de países em desenvolvi-mento (UNEP, 2001a).

1 9 9 4 1 9 9 5

Primeiro encontro do Factor 10 Club, emCarnoules, na FrançaConvenção das Nações Unidas de Combate àDesertificação Conferência Internacional sobre População eDesenvolvimento, Cairo, EgitoConferência Mundial sobre o DesenvolvimentoSustentável dos Pequenos Estados Insulares emDesenvolvimento, Bridgetown, BarbadosRompimento de tubulação derrama centenas detoneladas de petróleo bruto na tundra naPenínsula de Kori, Rússia Ano da Tartaruga MarinhaCúpula Mundial para o Desenvolvimento Social,Copenhague, DinamarcaQuarta Conferência Mundial sobre a Mulher,Beijing, China O Segundo Relatório de Avaliação do IPCCfunciona como um grande incentivo para oProtocolo de Quioto Criação do Conselho Empresarial Mundial para oDesenvolvimento Sustentável

Direito do Mar

O Protocolo de Montreal

(14)

As partes do Protocolo de Montreal devem fornecer para o Secretariado, na forma de relató-rios nacionais, dados estatísticos anuais sobre a produção, importação e exportação das substân-cias que destroem a camada de ozônio (SDO) con-troladas pelo Protocolo. Mais de 85% das partes entregam relatórios com seus dados. A imple-mentação do Protocolo foi reforçada e ampliada de forma significativa através dos anos, por meio das Emendas de Londres (1990), de Copenhague (1992), de Montreal (1997) e de Beijing (1999) (UNEP, 2000).

A Convenção da Basiléia, que entrou em vigor em 1992 e contava com 149 Partes em dezembro de 2001, tem três objetivos principais:

reduzir os movimentos transfronteiriços de re-síduos perigosos;

minimizar a criação de tais resíduos; e proibir seu envio a países que não possuam a capacidade de eliminar os resíduos perigosos de forma ecologicamente racional.

A Convenção resultou das preocupações em relação ao envio de despejos de países indus-trializados para regiões em desenvolvimento. Pre-ocupados com tais envios para a África, Estados Membros da Organização da Unidade Africana (OUA) responderam com a Convenção Africana sobre o Banimento da Importação e Controle do Movimento e Gerenciamento de Resíduos Perigo-sos Transfronteiriços (Bamako), que entrou em vigor em abril de 1998.

A década de 1990: implementando o

desenvolvimento sustentável

A década de 1990 caracterizou-se pela busca por uma melhor compreensão sobre o conceito e o significado do desenvolvimento sustentável, paralelamente às tendências crescentes em direção à globalização, es-pecialmente no que diz respeito ao comércio e à tecnologia. A convicção de que havia um número cada vez maior de problemas ambientais no mundo que exi-giam soluções internacionais se tornou mais forte. As questões ambientais também adquiriam uma dimen-são maior no hemisfério sul à medida que as organiza-ções começaram a exigir diagnósticos e soluorganiza-ções para países em desenvolvimento. O Centro Regional para o Meio Ambiente foi criado na Hungria em 1990 para tratar de questões ambientais na Europa Central pós-soviética. Houve uma ação significativa por parte da indústria privada no sentido de se “compatibilizar” com as questões ambientais. Também houve um cres-cimento explosivo em relação ao uso da Internet e da comunicação eletrônica.

A década começou mal para o meio ambiente, com a perda de milhares de vidas na Guerra do Golfo, em 1991, e um blecaute parcial em algumas áreas da região quando milhões de barris de petróleo foram propositadamente incendiados (Bennett, 1995). Para a Ásia Ocidental, isso representou uma catástrofe ambiental de grandes proporções. Avalia-se que a maré negra causada pelo derramamento de entre 0,5 milhão e 11 milhões de barris de petróleo bruto matou entre 15 mil e 30 mil aves aquáticas. Além disso, cerca de 20% dos manguezais do Golfo Pérsico foram contami-nados, e 50% dos recifes de corais foram afetados (Island Press, 1999). A atmosfera também não foi

pou-1 9 9 6 1 9 9 7

Tratado de Proibição Completa de TestesNucleares Conferência Mundial das Nações Unidas sobre osAssentamentos Humanos - HABITAT II,

Istambul, Turquia Cúpula Mundial da Alimentação, Roma, ItáliaCriação do ISO 14.000 para sistemas de gestãoambiental na indústria Adoção do Protocolo de Quioto A Cúpula Rio + 5 avalia a implementação daAgenda 21

(15)

pada: cerca de 67 milhões de toneladas de petróleo foram queimadas, produzindo cerca de 2,1 milhões de toneladas de fuligem e 2 milhões de toneladas de dióxido de enxofre (Bennett, 1995).

Em outras regiões, embora o progresso tecnológico transformasse a sociedade industrializada, poucos países em desenvolvimento estavam se beneficiando com isso. O número de mortes causadas por doenças infecciosas (como Aids, malária, doenças respiratórias e diarréia) foi 160 vezes maior do que o número de pessoas mortas em conseqüência de desastres naturais em 1999, incluindo terremotos na Turquia, enchentes na Venezuela e ciclones

na Índia (IFRC, 2000). Segundo informações da Federação Internacional da Cruz Vermelha e Sociedades do Crescen-te Vermelho, pesquisa realizada em 1995 em 53 países reve-lou uma redução de 15% nas despesas com saúde por pessoa, após ajustes econômicos estruturais.

Em 1997, já no final do século XX, cerca de 800 milhões de pessoas (quase 14% da população mundi-al) não só passavam fome como não sabiam ler ou escrever, habilidades essenciais para o desenvolvi-mento sustentável (Unesco, 1997).

Em termos de gestão governamental, os even-tos do final da década de 1980 continuavam a

influen-1 9 9 8 1 9 9 9

Aprovada a Convenção de Roterdãsobre o Procedimento de Consentimento Prévio Informado para o Comércio Internacionalde Certas Substâncias Químicas e Agrotóxicos Grandes incêndios florestais na Amazônia e naIndonésia

Ano mais quente do milênio Lançamento do Pacto Global sobre padrões detrabalho, direitos humanos e proteção ambientalA população mundial chega a 6 bilhões

Bombeiros tentando apagar um poço de petróleo em chamas no Kuwait em 1991.

Fonte: UNEP, Abdel Saurad-Mali, Kuwait, Topham PicturePoint

(16)

“A solução não pode implicar a interdição ao desenvolvimento daqueles que mais precisam dela; o fato é que tudo o que contribui para o subdesenvolvimento e a pobreza é uma violação patente à ecologia.” — Presidente cubano Fidel Castro, Rio-92, 1992

ciar o desenvolvimento político em todo o mundo. Nenhuma região ficou imune: as ditaduras e os regi-mes militares foram derrubados na África e na Améri-ca Latina, e, em alguns países da Europa, governos de partido único foram relegados à oposição por um elei-torado ávido por mudanças. As pessoas haviam co-meçado a exercer seu direito de eleger seus líderes e exigir prestação de contas. Embora radicais, essas mudanças em relação aos regimes governamentais ti-veram pouco impacto imediato sobre o meio ambiente na maioria dos países. Nos países da antiga União Soviética, no entanto, a recessão econômica ajudou a diminuir as emissões poluentes e o consumo de ener-gia. Resta saber se tais efeitos serão permanentes.

No âmbito institucional, as idéias que tomaram forma no final da década de 1980, como a participação de múltiplos grupos de interesse e uma maior responsabilização em relação a questões ambientais e sociais, ganharam maior dimensão com uma série de eventos internacionais. O primeiro desses eventos foi uma conferência ministerial sobre o meio ambiente re-alizada em Bergen, na Noruega, em maio de 1990, onde tais idéias foram formalmente apoiadas pela primeira vez. Essa conferência foi convocada como uma pre-paração para a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), tam-bém conhecida como Cúpula da Terra, ou Rio-92), re-alizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, Brasil.

Um número sem precedentes de representantes de Estado, da sociedade civil e do setor econômico

com-pareceu à Rio-92 – 176 governos (UN, 1993), mais de 100 chefes de Estado, contra apenas dois que compa-receram à Conferência de Estocolmo (Haas, Levy e Parson, 1992), cerca de 10 mil delegados, 1.400 organi-zações não-governamentais (ONGs) e aproximadamen-te 9 mil jornalistas (Demkine, 2000). A Rio-92 ainda é a maior reunião do gênero já realizada. Antes da Cúpula propriamente dita, as preparações em âmbito nacio-nal, sub-regionacio-nal, regional e global também envolve-ram a participação de centenas de milhares de pesso-as em todo o mundo, garantindo que supesso-as vozes fos-sem ouvidas. Organizações regionais e sub-regionais, como a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a Organização da Unidade Africana, a União Européia e várias outras, desempenharam um papel importante tanto antes quanto durante a Rio-92 e con-tinuam a fazê-lo na implementação da Agenda 21, o plano de ação que resultou da Conferência.

A Rio-92 produziu ao menos sete grandes resultados:

a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e De-senvolvimento (contendo 27 princípios); a Agenda 21 – um plano de ação para o meio am-biente e o desenvolvimento no século XXI; duas grandes convenções internacionais – a Con-venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-dança do Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB);

a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS);

um acordo para negociar uma convenção mundial sobre a desertificação; e

a declaração de Princípios para o Manejo Susten-tável de Florestas.

Os Princípios do Rio reafirmaram as questões que haviam sido formuladas em Estocolmo, vinte anos

A Cúpula da Terra, ou RIO-92

Buraco na camada de ozônio assume suamaior dimensão, afetando a ponta da América do Sul

Adoção do Protocolo de Cartagena sobreBiossegurança Cúpula do Milênio (Millennium Summit),Nova York, Estados UnidosA internet conta com 50 milhões de páginasFórum Mundial da Água, Haia Publicação do Terceiro Relatório deAvaliação do IPCC, anunciando o aumentodas estimativas de aquecimento globalConvenção de Estocolmo sobre PoluentesOrgânicos Persistentes (POPs)Terroristas usam aviões comerciais paradestruir o World Trade Center

, em Nova

York, e causar danos ao Pentágono, emWashington

(17)

“Independente das resoluções que se tomem ou se deixem de tomar em uma conferência como essa, nenhuma melhoria ambiental genuína e duradoura pode acontecer sem um envolvimento local em escala global.” — Presidente

da Islândia, Vigdís Finnbogadóttir, Rio-92, 1992

antes, colocando os seres humanos no centro das preocupações relacionadas ao desenvolvimento sus-tentável, ao declarar que os seres humanos “têm o direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”.

A Rio-92 proporcionou um fórum para abor-dar questões relacionadas tanto ao meio ambiente quanto ao desenvolvimento e para enfatizar os dife-rentes pontos de vista dos hemisférios norte e sul. Após a Conferência, o desenvolvimento sustentá-vel ganhou vida própria, impondo-se nas delibera-ções de organismos, desde conselhos municipais a organizações internacionais. Mais de 150 países cri-aram instituições nacionais para desenvolver uma abordagem integrada ao desenvolvimento sustentá-vel – embora em alguns países os conselhos nacio-nais de desenvolvimento sustentável tivessem uma natureza mais política do que substancial (Myers e Brown, 1997). Uma grande variedade de setores da sociedade civil tem hoje envolvimento com a criação de agendas e estratégias. Mais de 90% deles foram criados em decorrência da Rio-92, a maioria em paí-ses em desenvolvimento.

A ênfase dada ao desenvolvimento sustentá-vel também teve um impacto considerásustentá-vel tanto em instrumentos legais quanto nas instituições respon-sáveis por eles. A CITES, por exemplo, que já se afas-tava do enfoque clássico de conservação, direcionou seu enfoque a uma abordagem que equilibra a conser-vação e o uso sustentável. A aplicação prática do uso sustentável na CITES provocou um debate substan-cial e acalorado durante toda a década.

A Agenda 21 é um plano de ação parcialmente basea-do em uma série de contribuições especializadas de governos e organismos internacionais, incluindo a

pu-Agenda 21

blicação “Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia para o futuro da vida” (Caring for the Earth: a Stratey

for Sustainable Living, IUCN, UNEP e WWF, 1991). A

Agenda 21 é hoje um dos instrumentos sem validade legal mais importantes e influentes no campo do meio ambiente, servindo como base de referência para o manejo ambiental na maior parte das regiões do mun-do (ver box acima).

Cúpula Mundial sobre DesenvolvimentoSustentável, Johanesburgo

2 0 0 2

Agenda 21

A Agenda 21 estabelece uma base sólida para a promoção do desenvolvimento em termos de progresso social, econômico e ambiental. A Agenda 21 tem quarenta capítulos, e suas recomendações estão divididas em quatro áreas principais:

Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza, mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana. Conservação e manejo dos recursos visando o desenvolvimento, como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de resíduos perigosos.

Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres, crianças e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs, iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, traba-lhadores e seus sindicatos, comércio e indústria, a comunidade científica e tecnológica e agricultores.

Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e recursos financeiros, transferência de tecnologias ambien-talmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pú-blica e capacitação, arranjos de instituições internacionais, mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações para o processo de tomada de decisões.

(18)

O custo de implementação da Agenda 21 em países em desenvolvimento foi estimado pelo Secre-tariado da Cúpula da Terra como sendo de aproxima-damente US$ 625 bilhões ao ano, com os países em desenvolvimento cobrindo 80% do custo, ou seja, US$ 500 bilhões. Esperava-se que os países desenvolvi-dos cobrissem os 20% restantes, ou cerca de US$ 125 bilhões por ano, cumprindo com a sua meta antiga de consagrar 0,7% do seu produto nacional bruto (PNB) à assistência oficial para o desenvolvimento (ODA).

Embora a Rio-92 se preocupasse com uma abor-dagem global, um resultado importante da Conferên-cia foi a adoção de vários programas nacionais e regi-onais da Agenda 21 para o desenvolvimento susten-tável. Na região da Comunidade para o Desenvolvi-mento da África Austral (SADC), por exemplo, os Es-tados Membros adotaram a Política e Estratégia para Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da SADC em 1996. A União Européia adotou o Quinto Plano de Ação Ambiental “Em Direção à Sustenta-bilidade” (Towards Sustainability, EU, 1993).

O Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) foi criado em 1991 como uma parceria experimental entre o PNUMA, o PNUD e o Banco Mundial para gerar dividendos ecológicos a partir do desenvolvimento local e regional, fornecendo subvenções e emprésti-mos a juros baixos para países em desenvolvimento e economias em transição. Após a Rio-92, intencionava-se que funcionasintencionava-se como o mecanismo de financia-mento da Agenda 21 e que mobilizasse os recursos necessários. O Fundo ajuda a financiar projetos de desenvolvimento em âmbito regional, nacional e glo-bal que beneficiem o meio ambiente mundial em qua-tro áreas básicas – mudanças climáticas, biodiversi-dade, camada de ozônio e águas internacionais – e também economias e sociedades locais.

Depois do êxito da sua reestruturação em março de 1994, o número de membros do GEF passou de 34 a mais de 155 países, cujos representantes se reúnem na Assembléia de Estados Participantes do GEF, o órgão de supervisão geral do Fundo, a cada três anos.

O presidente e executivo principal do GEF, Mohamed T. El-Ashry, reconhece que ainda é cedo para avaliar o impacto dos mais de 220 projetos finan-ciados pelo Fundo em termos de desenvolvimento sustentável. A diferença entre as promessas feitas pelos doadores e suas contribuições efetivas ao GEF causou uma certa preocupação, especialmente em países em desenvolvimento. Embora o compromisso

dos países desenvolvidos fosse o de contribuir com 0,7% do seu PNB para a ODA anualmente, esta só recebeu 0,29% em 1995, o nível mais baixo alcançado desde 1973 (GEF, 1997).

No entanto, fundações, indivíduos, grandes empresas e heranças consagradas ao desenvolvimen-to sustentável deram um novo sentido à palavra “ca-ridade”, contribuindo com um total de US$ 129 bi-lhões em 1994 (Myers e Brown, 1997). Estima-se que essa quantia aumentou em 9% em 1995, alcançando US$ 143,85 bilhões.

A capacidade do Painel Intergovernamental de Mu-danças Climáticas (IPCC) de fornecer evidências de que as mudanças climáticas significavam uma ameaça real incentivou governos, durante a Rio-92, a assinar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-dança do Clima (UNFCCC). A Convenção tornou-se a peça principal da Rio-92 e entrou em vigor em 1994; em dezembro de 2001, já contava com 186 Partes. A origem da Convenção remonta à Segunda Conferên-cia Mundial sobre o Clima (1990), em que a declaração ministerial foi a forma de se levar adiante a elaboração de políticas e o estabelecimento de um Sistema Global de Observação do Clima (GCOS).

O objetivo principal da UNFCCC é estabilizar as emissões de gases de efeito estufa em um nível que evite uma interferência antrópica perigosa no clima global. O princípio de “responsabilidades dife-renciadas, embora comuns” da Convenção orientou a adoção de uma estrutura regulatória. Esse princí-pio reflete a realidade, ou seja, o fato de que os paí-ses industrializados são os maiores emissores de gases de efeito estufa.

O Protocolo de Quioto, que estabeleceu metas reais para a redução das emissões, foi aberto a assina-turas em 1997. Em dezembro de 2001, 84 Partes haviam assinado e 46 haviam ratificado ou aderido ao Proto-colo (UNFCCC, 2001). Uma exceção notável foi a posi-ção dos Estados Unidos, que anunciou a sua decisão de não ratificar o Protocolo no início de 2001.

A CDB entrou em vigor em 1993. Foi o primeiro acordo mundial para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e serve como base para ações

nacio-O Fundo Mundial para o Meio Ambiente

Acordos ambientais multilaterais

A Convenção-Quadro das Nações Unidas

sobre Mudança do Clima

Convenção sobre Diversidade Biológica

(CDB)

(19)

nais. A Convenção estabelece três objetivos princi-pais: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável dos seus componentes e a divisão justa e eqüitativa dos benefícios provenientes do uso dos recursos genéticos. Várias questões relativas à biodiversidade são abordadas, como a preservação de habitats, os direitos de propriedade intelectual, a biossegurança e os direitos dos povos indígenas.

A Convenção é um marco importante no direi-to internacional, respeitada por sua abordagem abrangente, com base na noção de ecossistemas para a proteção da biodiversidade. O Tratado foi ampla e rapidamente aceito – em dezembro de 2001, um total de 182 governos já havia ratificado o acordo. Um acor-do suplementar à Convenção, o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, foi adotado em ja-neiro de 2000 para tratar dos riscos em potencial cau-sados pelo comércio transfronteiriço e pela liberação acidental de organismos geneticamente modificados. A adoção do Protocolo de Biossegurança é um suces-so para os países em desenvolvimento que o requisi-taram. O Protocolo já havia sido assinado por 103 Par-tes e ratificado por 9 em dezembro de 2001. A CDB também influenciou a decretação de uma lei que bus-ca regulamentar os recursos genéticos nas nações participantes do Pacto Andino – Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. A lei entrou em vigor em

julho de 1996 (Centre for Science and Environment, 1999). Apesar do sucesso da Convenção, as negocia-ções que precederam a sua adoção foram em geral um tanto quanto amargas (ver box).

Embora as negociações só tivessem se completado em 1994, o processo de elaboração da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (CCD) teve início na Rio-92. No entanto, sua história remonta à década de 1970. A Convenção entrou em vigor em 1996 e contava com 177 partes em dezembro de 2001. A CCD foi descrita como uma “enteada da Rio-92” (Centre for Science and Environment, 1999), porque não recebeu a mesma atenção que a UNFCCC e a CDB. As nações industrializadas se opuseram à CCD porque não se dispunham a aceitar nenhuma responsabilidade financeira pela interrupção do pro-cesso de desertificação, que não é visto como um problema mundial (Centre for Science and Environment, 1999). Projeções indicaram que um es-forço mundial de vinte anos para combater a desertificação custaria de US$ 10 bilhões a US$ 22 bilhões por ano, mas os países financiadores contri-buíram com uma quantia mísera de US$ 1 bilhão em 1991 para o controle da desertificação no mundo (Centre for Science and Environment, 1999).

Embora a CCD receba um apoio financeiro modesto em comparação à UNFCCC e à CDB, a con-venção se distingue por dois motivos:

Endossa e utiliza uma abordagem “de baixo para cima” (bottom-up) em relação à cooperação mun-dial para o meio ambiente. Pelos termos da CCD, as atividades relacionadas ao controle e à mitigação da desertificação e de seus efeitos de-vem estar sintonizadas com as necessidades e a participação de usuários locais das terras e de organizações não-governamentais.

A Convenção possui anexos regionais detalha-dos, por vezes mais que o próprio corpo da Con-venção. Esses anexos abordam as particularida-des do problema da particularida-desertificação em regiões es-pecíficas como a África, a América Latina e o Caribe e o Norte do Mediterrâneo (Raustiala, 2001). O compromisso mais importante e central da CCD é a obrigação de desenvolver “programas de ação nacional” em conjunto com grupos de interesse lo-cais. Esses programas delineiam as tarefas que as

par-A Convenção das Nações Unidas de

Combate à Desertificação

O papel de países em desenvolvimento nas negociações da CDB

Descontente com a versão inicial do CDB em novembro de 1991, o Centro Sul, com sede em Genebra, incitou os países em desenvolvimento a rejeitar essa versão e insistiu que qualquer negociação sobre a biodiversidade deve ser associada a uma negociação sobre biotecnologia e, de forma mais geral, aos direitos de propriedade intelectual. Essa tendência de privatização do conhecimento e dos recursos genéticos representa uma séria ameaça ao desenvolvimento do Hemisfério Sul e deve ser combatida.

Durante as negociações, o Sul:

enfatizou a soberania nacional sobre os recursos naturais;

pediu que a transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento fosse feita de forma preferencial;

exerceu pressão para que a CDB tivesse supremacia sobre outras instituições, como a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT); e

pediu o desenvolvimento de um protocolo sobre biossegurança.

Referências

Documentos relacionados

A LIGAÇÃO dos panos de blocos à estrutura de betão armado ou qualquer outro elemento de encosto de características mecânicas distintas, deverá ser feita de

As posições comuns adoptadas pelo Conselho sobre os cinco textos que constituem o terceiro pacote contêm todos os elementos essenciais da proposta da Comissão necessários para

Si les couleurs se correspondent, relever le résultat du compartiment de gauche en mg/l nitrite- azote (N) et le résultat du compartiment de droite en mg/l nitrite (NO 2 ).... le

Mais recentemente, verificou-se que o uso de temperatura mais elevada em LC conduz a uma série de vantagens quando comparado às separações efetuadas à temperatura ambiente,

Em termos da presente avaliação técnica pericial, o valor de mercado atual do Imóvel constituído pelo apartamento número 46-B, localizado no 4º andar (ou 5º pavimento)

Apesar de serem marginalizadas e invisibilizadas, as trabalhadoras domésticas se organizam desde os anos 1930 para exigir igualdade de direitos e serem reconhecidas como

Houve um aumento considerável no número de matrículas na educação técnica em geral (seja em escolas federais, estaduais e privadas). Apesar dos instrumentos legais

Foram analisados os processos clínicos de pacientes so- frendo de mielopatia cervical espondilótica submetidos a descompressão e artrodese anterior, entre Janeiro de 1990