ACÓRDÃO
DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
30
de
Abril
de
1974
*No
processo181/73,
que tem por objecto um pedido
dirigido
aoTribunal
de
Justiça,
nos termosdo
artigo 177.°do Tratado
CEE,
pelo tribunalde
premièreinstance de
Bruxelles,
destinado a
obter,
no processo pendente nesteórgão
jurisdicional
entreSociété de Personnes ã Responsabilité Limitée R. & V.
Haegeman,
Bruxelas,
e
Estado
belga,
representado pelo ministroda
Economia, Bruxelas,
uma
decisão
a títuloprejudicial relativaà interpretação
de
determinadas disposições
do
-acordo que cria uma associação entre aComunidade
Económica
Europeia
e aGrécia»,
assinado emAtenas,
em9
de Julho de
1961,
edo
protocolo 14 visado pela actafinal deste acordo,
com o objectivode
esclarecer se odireito de
compensação previsto pelo artigo9
o, n.°
3,
do Regulamento
n.°816/70 do
Conselho,
de
28 de
Abril
de
1970,
é
aplicável aos vinhos gregosimportados
para o territóriobelgo-luxemburguês,
O TRIBUNAL DE JUSTIÇA
composto por:
R.
Lecourt,
presidente, A. M.
Donner
eM.
Sørensen,
presidentesde
secção,
R.
Monaco,
J.
Mertens
de
Wilmars,
P.
Pescatore,
A.
Kutscher,
C. O'Dálaigh
eA. J.
Mackenzie
Stuart, juízes,
advogado-geral:
J.-P. Warner
secretário:A.
Van
Houtte
profere o presente
*
Língua do processo: francês.
ACÓRDÃO
/73
Acórdão
(A
parte relativaà
matériade
facto
nãoé
reproduzida)Fundamentos
da decisão
1
Por
decisão de
17
de
Outubro
de
1973,
entrada noTribunal
em7
de
Novembro
de
1973,
o tribunalde
premièreinstance de
Bruxelles
apresentou,
nos termosdo
artigo177.°
do Tratado
CEE,
algumas questões a títuloprejudicial,
relativasà
interpretação
do
artigo9
°,
n.°3,
do
Regulamento
n.°816/70
do
Conselho,
de
28
de
Abril
de
1970
(JO
1970,
L
99),
bem
comode determinadas disposições do
«acordoque cria uma associação entre a
Comunidade
Económica
Europeia e aGrécia»,
celebrado porforça
da
decisão (63/106
/CEE)
do Conselho
de
25
de
Setembro
de
1961
e publicado noJornal
Oficial de
18
de
Fevereiro
de
1963
(p.
293),
que passaremos a
designar
por «acordode Atenas».
2
Nos
termosdo
artigo177.°,
alíneas a) eb),
do Tratado
CEE,
«OTribunal de Justiça
é
competente paradecidir,
a título prejudicial... sobre ainterpretação...
dos
actos adoptados pelasinstituições
da
Comunidade».
3
O
acordode Atenas
foi
celebrado peloConselho,
em conformidade com os artigos228.°
e 238.°
do
Tratado,
como resulta aliásdos
termosda decisão de
25
de
Setembro
de
196l.
4
Este
acordo constituiassim,
no quediz
respeitoà
Comunidade,
um acto adoptado por umadas
instituições
da
Comunidade,
na acepçãodo
artigo177.°,
alíneab).
5
As
disposições
do
acordoconstituem,
a partirda
sua entrada emvigor,
parte integrante
da
ordemjurídica
comunitária.6
O Tribunal é
assim competente, noâmbito da
referida ordemjurídica,
paradecidir,
a títuloprejudicial,
sobre ainterpretação
de
tal acordo.7
Na
primeiraquestão,
pretende-se saber o conteúdo preciso e o alcanceda
èxpres são «regime»do
n.°
8
Resulta
do
processo que se trata essencialmente
de
saber se o «regime» visado por este protocolo consiste unicamente emdireitos
aduaneiros econtingentes,
oudiz
respeito ao regime geralde importação
dos
vinhos gregos para os paísesdo Benelux.
9
O
n.°2
do
protocolo14
estabelece que:«O
Reino da
Bélgica,
oGrão-Ducado do Luxemburgo
e oReino dos Países Baixos
aplicamàs importações
provenientesda Grécia
o regime ao qual estão submetidas asimportações
provenientesda
Alemanha,
França
eItália».
10
Esta disposição
deve
ser analisada em relação ao sistemado
acordode Atenas,
de
queé
parteintegrante,
bem
como ao conjuntodas disposições
compreendidas no próprio protocolo.11
Nos
termosdo
artigo 6°do
referidoacordo,
a associação estabelecida entre aComunidade
e aGrécia
«baseia-se numa união aduaneiraque,
salvo as excepções previstas peloacordo,
abrange o conjuntodas
trocasde
mercadorias e compreende aproibição,
entre osEstados-membros da Comunidade
e aGrécia,
de
aplicar encargos aduaneirosà importação
eà
exportação e quaisquer encargosde
efeito equivalente,
bem
como a adopção pelaGrécia
da
pauta aduaneira comumda Comunidade
nas suas relações com países terceiros».12
No
quediz
respeito em particular aos produtosagrícolas,
ofuncionamento
e odesenvolvimento
da
associaçãodevem,
nos termosdo
artigo33.
°do
acordo,
ser acompanhadosda
harmonização
progressivadas
políticas agrícolasda Comunidade
eda Grécia.
13
Tal
harmonização
estásubordinada,
por umlado,
aos progressos queforem
realizados pela
Comunidade
nainstauração da
suaprópriapolítica agrícola comum e, por outrolado,
à implementação do
mecanismo visado nos artigos34° e
35.°
do
acordo.14
Antes
aindada
referidaharmonização,
os produtos agrícolas estão submetidos ao regimedefinido
pelo artigo 37°do
acordo,
o qualcompreende,
relativamente aos produtos referidos
nalista do
anexoIII,
a eliminação progressivados
direitos
aduaneiros ede
contingentes
à
importação,
bem
comode
encargos e medidasde
efeito equivalente.15
Para
os produtos que nãofiguram
na referidalista,
este regime traduz-se na consolidação
das
medidas nacionaisde
natureza pautal e relativas aos contingentesACÓRDÃO DE PROCESSO 181/73
aplicadas pelas partes contratantes
à
data da
entrada em vigordo
acordo,
e ainda pela extensãoàs
suas relações comerciais mútuasdas
concessões pautais e relativas a contingentes concedidas aos países terceiros.16
No
quediz
respeito aos produtosagrícolas,
o protocolo12
anexo ao referido acordo estabelece ainda a possibilidadeda
sua sujeição ao sistemade direitos
niveladores previsto noâmbito da
política agrícola comum.17
Resulta desta
regulamentação que o objectodo
acordode
Atenas
é
a realizaçãoda
uniãoaduaneira,
com a tripla reservados
prazos prevista pelo acordo para esseefeito,
das
vantagens especiais asseguradasàs
exportações gregasde determinados
produtos em matéria pautal ede
contingentes e aindada faculdade
concedidaà
Comunidade
pelo protocolo12
de
adoptar as medidas necessáriasà
realizaçãoda
política agrícola comum.18
O
protocolo14
insere-se
nestaregulamentação,
ao prever a extensãoàs
exportações
helénicas
de
vinhosdas
concessões presentes efuturas,
feitas
pelosEstados-membros,
nas suas relações comerciais recíprocas.19
Em
resultadodas
precedentes considerações podededuzir-se
que a matéria regulada
pelo n.°2
deste
protocolodiz
unicamente respeito aosdireitos
aduaneiros e aos contingentes aplicáveisàs
exportaçõeshelénicas
de
vinhos.20
Acrescente-se
ainda que estadisposição
se encontrainserida
num textoque,
em relaçãoàs
exportaçõesde
vinhos gregos para aAlemanha,
França
eItália,
regula exclusivamente questõesde
ordem pautal ede
contingentes.21
Deve
assim concluir-se que a expressão «regime»do
n.°
2
do
protocolo14
anexo ao acordo que cria uma associação entre aComunidade Económica Europeia
e aGrécia
deve
serinterpretada
no sentidode
quediz
exclusivamente respeitoàs
matériasde
direitos
aduaneiros ede
restrições quantitativas.22
Na
segundaquestão,
pretende saber-se se odireito de
compensaçãoimposto
pelaComissão das Comunidades Europeias
aos vinhos gregosimportados
para aBélgica
e oGrão-Ducado
do
Luxemburgo
constitui umdireito
ou um encargode
efeitoequivalente,
nos termosdo
artigo37°,
n.°2,
do
referido acordode
associação.23
Nos
termosdo
artigo9.
°,
n.°3,
primeira alínea,do Regulamento
n.°
«Sempre que se verificar que o preço
de
ofertafranco
fronteira de
um vinho, majoradodos direitos
aduaneiros,
é inferior
ao preçode
referênciadesse vinho, é
fixado
umdireito de
compensaçãoigual
à
diferença
entre o preçode
referência e o preçode
ofertafranco
fronteira,
majoradodos direitos
aduaneiros,
às
importações
desse
vinho e
dos
vinhos equiparados».24
Nos
termosdo
quarto considerandodeste
regulamento,
odireito de
compensação visa essencialmente evitar no mercadoda Comunidade
perturbaçõesdevidas
a ofertas efectuadas a preços anormais no mercado mundial.
25
Consequentemente,
resultadesta
regulamentação que odireito
emcausa,
definido
por referência a um nívelde
preçofixado
em razãodos
objectivosdo
mercadocomum,
tem um valorflexível
susceptívelde
variar emfunção
das
flutuações
conjunturais,
preenchendo assim um papel reguladordo
mercado comunitáriodo
vinho.26
Tal
direito
constitui umdireito
niveladorligado
ao estabelecimentode
uma orga nização comumdos
mercados no sector vitivinícola.27
Se,
no quediz
respeitoàs importações
de
vinhos gregos para os paísesde
Benelux,
odireito
em causa não atinge o seu objectivoprotector,
por serem nulos os direitos aduaneiros
aplicáveis,
tal circunstância não prejudica a sua naturezajurídica,
sendo unicamentedevida
ao carácter privilegiadodo
regimede
troca garantido a essasimportações.
28
O
referidodireito
niveladordecorre
das
medidas adoptadas noâmbito da
política agrícola comum e nomeadamentedas disposições
complementares estabelecidas peloRegulamento
n.°816/70
em matériade
organização comumdo
mercado vitivinícola.29
Com
efeito,
o n.°1
do
protocolo12
anexo ao acordode Atenas
ressalva a liberdade
de
acçãoda
Comunidade,
estabelecendo que«O sistema
de
direitos
niveladores previsto noâmbito da
política agrícola comum constitui uma medida específicadesta política,
aqual,
no casoda
sua aplicação por qual querdas
partes, não pode ser considerada como encargode
efeito equivalente aosdireitos
aduaneiros na acepçãodos
artigos 12.° e 37.°do
acordoda
associação».30
Consequentemente,
deve
responder-seà
segunda questão no sentidode
que odireito
de
compensaçãoimposto
aosvinhos gregosimportados
para aBélgica
eGrão-Ducado
181/73
do
Luxemburgo,
porforça
do
artigo9.
°,
n°3,
do Regulamento
n.°816/70,
constitui umdireito
niveladornos termosdo
protocolo12
anexo ao acordode
associação entre a Co munidadeEconómica Europeia
e aGrécia
e nãopode,
em conformidade com este protocolo, ser considerado nem como um
direito
aduaneiro nem como um encargode
efeitoequivalente,
na acepçãodo
artigo37.°,
n.°2,
do
referido acordo.31
Na
terceira questão, pretende-se saberse,
noâmbito do
artigo 43°do
acordode
Atenas,
aComissão
das
Comunidades
Europeias
é
considerada competente paradecidir autonomamente, isto
é,
com exclusãodo
conselhode
associação, sobre o montante e as regrasde
percepçãodo
direito de
compensação aplicadoà
impor taçãode
vinhos gregos no territóriode
CEE.
32
Na
quartaquestão,
pretende-seigualmente
saber,
supondo que estão reunidas as condiçõesde
aplicaçãodo
artigo 41.°do
acordode associação,
se aComissão das
Comunidades
Europeias
temlegitimidade
para exercer a protecção aíprevista,
re correndo a um sistemadiferente
dos
preços mínimose,
mais particularmente,mediante um sistema
de
direitos
de
compensação cobrados pelaComunidade.
33
Os
artigos 41.° e43.
°
do
acordodizem
respeito a casosparticulares,
caracterizados quer pela existênciade
uma perturbação susceptívelde
comprometer os objectivos estabelecidos pelo artigo39.
°do
Tratado
CEE,
quer pela existênciade
um prejuízo causado ao mercadode
um ou váriosEstados-membros
ouda
Comunidade,
por umlado,
ouda
Grécia,
por outrolado.
34
Resulta
destas
disposições
que as medidas por elas previstas têm unicamente por objecto enfrentar asdificuldades
devidas
a situações anormaisdo
mercado.35
Em contrapartida,
odireito de
compensação controvertido constitui uma medidade
estabilizaçãoda
importação,
inerente à
organização comumde
mercados no sector vitivinícola.36
Por
talmotivo,
os artigos 41.° e 43.°do
acordo não têm qualquerincidência
sobre a aplicaçãodo
referidodireito
e as questões relativasà
suainterpretação
são, no presenteprocesso,
irrelevantes.
Quanto às
despesas
37
As
despesas
efectuadas peloEstado belga
e pelaComissão
da
CEE,
que apresenàs
partes na causa principal, a naturezade
incidente
suscitado perante oórgão
jurisdicional
nacional, compete a estedecidir
quantoàs
despesas.
Pelos
fundamentos
expostos,
O TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
pronunciando-se sobre as questões submetidas pelo tribunal
de
premièreinstance
de
Bruxelles,
pordecisão de
17
de Outubro de
1973,
declara:
1)
A
expressão «regime»do
n.°2
do
protocolo14
anexo ao acordo que cria uma associação entre aComunidade Económica Europeia
e aGrécia deve
serinterpretada
no sentidode
quediz
exclusivamente respeitoàs
matérias
de direitos
aduaneiros ede
restrições quantitativas.2)
O
direito
de
compensaçãoimposto
aos vinhos gregosimportados
para aBélgica
eGrão-Ducado
do
Luxemburgo,
porforça do
artigo9.°,
n.°3,
do
Regulamento
n.°816/70,
constitui umdireito
nivelador nos termosdo
protocolo
12
anexo ao acordode
associação entre aComunidade Económica
Europeia
e aGrécia
e não pode, emconformidade comeste protocolo,ser considerado nem como umdireito
aduaneiro nem como um encargode
efeitoequivalente,
na acepçãodo
artigo37.°,
n.°2,
do
referido acordo.3)
Os
artigos 41.° e 43.°do
acordo que criaumaassociação entrea Comunidade Económica Europeia
e aGrécia
não têmincidência
sobre aaplicaçãodo direito de
compensação estabelecido pelo artigo9.°,
n.°3, do
Regula mento n.°816/70.
Lecourt
Donner
Sørensen
Monaco
Mertens
de
Wilmars
Pescatore
Kutscher
0'Dálaigh
Mackenzie
StuartProferido
em audiência pública noLuxemburgo,
em30
de
Abrilde
1974.O secretário
A.
Van
Houtte
O presidente