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O Mercado Municipal de Aracaju e seus tempos : princípio, perda e reinvenção (1926-2000)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS:

PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000)

Andrea Rocha Santos Filgueiras

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

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ANDREA ROCHA SANTOS FILGUEIRAS

O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS:

PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção de título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade. Linha de pesquisa: Cultura, Memória e Identidade.

Orientador: Prof. Dr. Eder Donizeti da Silva

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

F481m

Filgueiras, Andrea Rocha Santos

O Mercado Municipal de Aracaju e seus tempos: princípio, perda e reinvenção (1926-2000) / Andrea Rocha Santos Filgueiras; orientador Eder Donizeti da Silva.– São Cristóvão, SE, 2019. 166 f.: il.

Dissertação (mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, 2019.

1. História - Sergipe. 2. Mercado Municipal (Aracaju, SE). 3. Identidade social. 4. Patrimônio cultural - Sergipe. I. Silva, Eder Donizeti, orient. II. Título.

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ANDREA ROCHA SANTOS FILGUEIRAS

O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS:

PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe, como requisito obrigatório para obtenção de título de Mestre em História, na Área de Concentração Cultura e Sociedade. Linha de pesquisa: Cultura, Memória e Identidade. Orientador: Prof. Dr. Eder Donizeti da Silva

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Dedico esta dissertação aos meus pais Maria Petrina Santos da Fonseca (in memoriam)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me iluminado durante todo o percurso e me mantido firme na etapa final, dando-me forças para prosseguir, mesmo sentindo a falta física de minha amada mãe.

Aos professores, funcionários e colegas do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe.

Ao meu orientador, o professor Dr. Eder Donizeti, por toda a confiança, dando-me liberdade para a realização das escolhas e que, com seu profissionalismo, soube os momentos certos de realizar as intervenções necessárias.

Aos professores que participaram da minha Banca de Qualificação e Defesa, a Prof.ª Dra. Terezinha Oliva e o Prof. Dr. Carlos Malaquias, que fizeram uma análise criteriosa da pesquisa realizada, com contribuições que permitiram o seu aprofundamento, trazendo novos olhares e questionamentos que provocaram várias reflexões.

A todos que fazem parte do Mercado Municipal de Aracaju, pelo acolhimento e disponibilidade para socializar suas memórias, assim como os depoentes que compartilharam suas vivências.

Aos que fazem parte do Arquivo Público da cidade de Aracaju, Arquivo Público do Estado de Sergipe, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Sergipe, ao Setor de Documentação Sergipana da Universidade Federal de Sergipe, pela disponibilidade das fontes para a pesquisa.

Às amizades construídas com maior ou menor intensidade, todas são significativas e contribuem para a nossa história. Em especial, à amiga Raianne, pelas nossas trocas, realizadas impreterivelmente todos os dias, com raras exceções.

Ao meu esposo e grande amigo Hermano, presente em todos os momentos, viabilizando os caminhos para que eu pudesse me dedicar exclusivamente a essa jornada.

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RESUMO

O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS: PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000)

O Mercado Municipal de Aracaju é composto por três edificações: o Antônio Franco (1926), o Thales Ferraz (1949) e o Albano Franco (1998), atualmente chamado de Gina Franco. Pensando em compreender como foi a apropriação deste espaço ao longo do tempo, idealizamos a presente pesquisa: O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS: PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000), que tem por objetivo revisitar a história do mercado e as mudanças que ali se operaram ao longo dos anos, compreendendo o seu surgimento, principais acontecimentos e reinvenção. Foi realizado um estudo semântico, apresentando as identidades do Mercado. Desta forma, descrevemos fragmentos da sua história, tendo o desafio de tentar registrar alguns olhares dos que vivenciaram esse cotidiano em cada época. Para reconstruirmos essa trajetória, recorremos à historiografia sergipana; a publicações em jornais, revistas e em documentos oficiais; ao uso de imagens e à metodologia da história oral.

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ABSTRACT

THE MUNICIPAL MARKET OF ARACAJU AND ITS TIMES: PRINCIPLE, LOSS AND REINVENTION (1926-2000)

The Municipal Market of Aracaju consists of three buildings Antônio Franco (1926), Thales Ferraz (1949) and Albano Franco (1998), currently called Gina Franco. Thinking about understanding how it was the appropriation of this space over time, we idealize the present research: THE MUNICIPAL MARKET OF ARACAJU AND ITS TIMES: PRINCIPLE, LOSS AND REINVENTION (1926 – 2000), which aims to revisit the history of the market and changes that have operated over the years, comprising its emergence, main events and reinvention. A semantic study was carried out, presenting the identities of the Market. Thus, we describe fragments of its history having the challenge of trying to record some looks of those who experienced this daily life in each epoch. In order to rebuild this trajectory, we refer to the sergipana historiography; publications in newspapers, magazines and official documents; the use of images and the methodology of oral history.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Planta Urbana de Aracaju, 1855 029

Figura 02: Associação Comercial 1931 034

Figura 03: A inauguração do Mercado Novo 037

Figura 04: Mercado em vias de conclusão, 1925 039

Figura 05: Mercado Municipal de Aracaju na década de 1930 050 Figura 06: Mercado na década de 1940, utilização da parte externa 052

Figura 07: Mercado Auxiliar Thales Ferraz 1949 055

Figura 08: Mercado Thales Ferraz 1949, ao fundo Estação Ferroviária. 056 Figura 09: Detalhe da maquete do centro da cidade dos anos 40 057

Figura 10: Parte interna do Mercado Antônio Franco 059

Figura 11: A lama e a feira 067

Figura 12: Alimentos na lama 069

Figura 13: Limpeza do Mercado parte interna em 1968 071

Figura 14: Limpeza do Mercado parte externa em 1968 072

Figura 15: Mutirão de limpeza em 1968 072

Figura 16: Barracas de Artesanato em 1968 074

Figura 17: Trapiche da Firma Cruz & Irmãos – Mercado das Verduras 079

Figura 18: Mercado das Verduras após a tragédia 082

Figura 19: Visão aérea do Mercado Municipal 088

Figura 20: Mercado Municipal – labirinto de barracas 089

Figura 21: Prefeito Almeida Lima apresenta a maquete 104

Figura 22: Detalhes do Mercado Municipal 1996 111

Figura 23: Imagem externa do Mercado Municipal Albano Franco em 1998 113

Figura 24: Transferência de feirantes causa tumulto 116

Figura 25: Charge - Manifestação de feirantes no centro da cidade 118 Figura 26: Barracos derrubados em frente ao Mercado Antônio Franco em 1999 119 Figura 27: Mapa do setor antes da execução da obra dos mercados centrais - 1999 121

Figura 28: Os quatro mercados 122

Figura 29: Setor de ferragens ainda está no antigo mercado 125

Figura 30: Ruinas do Mercado Antônio Franco 126

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Figura 32: Desaba marquise do Novo Mercado 130

Figura 33: Vendedor de Beiju 135

Figura 34: Almoço na Peixaria 135

Figura 35: Ruas internas do Mercado Antônio Franco 136

Figura 36: Parte central do Mercado Antônio Franco 137

Figura 37: Lateral do Mercado Thales Ferraz 137

Figura 38: Parte central do Mercado Thales Ferraz 138

Figura 39: Mapa do setor depois da execução da obra dos mercados centrais. 139

Figura 40: Mercado Leite Neto transformado em praça 141

Figura 41: Fachada externa Mercados Antônio Franco - 2000 142 Figura 42: Mercados Antônio Franco internamente - 2000 143 Figura 43: Final da Obra – Passarela das Flores - 2000 145 Figura 44: Largo Central do Mercado Thales Ferraz - 2000 145

Figura 45: Agitação na entrada principal 148

Figura 46: Obra concluída – Mercados Municipal de Aracaju 149

Figura 47: Coquetel de Inauguração 149

Figura 48: Inauguração dos Novos Mercados 150

Figura 49: Descerramento da Placa de Inauguração. 151

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LISTA DE SIGLAS

ACESE - Associação Comercial de Sergipe APES – Arquivo Público do Estado de Sergipe

ASAFOTO – Associação Sergipana de Amigos da Fotografia BC – Batalhão de Caçadores

BNB – Banco do Nordeste do Brasil

CEASA – Central Estadual de Abastecimento

CEHOP - Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda

DIPE - Departamento de Imprensa e Propaganda Estadual EMSURB - Empresa Municipal de Serviços Urbanos FSMPB – Festival Sergipano de Música Popular Brasileira FUNARTE – Fundação Nacional de Artes

IHGSE – Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MP – Ministério Público

MPB – Música Popular Brasileira OAB - Ordem dos Advogados do Brasil PM – Polícia Militar

PMA - Prefeitura Municipal de Aracaju

PRODETUR/NE - Programa do Desenvolvimento do Turismo no Nordeste SIBIUFS – Sistema de Biblioteca da Universidade Federal de Sergipe SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFS – Universidade Federal de Sergipe UTI – Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 012

CAPÍTULO 1 – MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU: O PRINCÍPIO.

(DÉCADAS DE 20 A 40). 021

1.1 Modernidade e cidades. 021

1.2 Construção e inauguração do “Mercado Modelo”. 031

1.3 O dia a dia do “Novo Mercado”. 041

1.4 O Mercado Auxiliar Thales Ferraz. 051

CAPÍTULO 2 – O (DES) CAMINHO DO MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU.

(DÉCADAS DE 50 A 80). 058

2.1 O Mercado Municipal na década de 1950. 058

2.2 O caos do Mercado se intensifica na década de 1960. 062 2.3 A década de 1970 e a Tragédia do Mercado que abalou a cidade. 076 2.4 O Primeiro Festival Sergipano de MPB e o Mercado na década de 1980. 087

CAPÍTULO 3 - A REINVENÇÃO DO MERCADO (DÉCADA DE 90). 100

3.1 Intervenções necessárias e o projeto de revitalização. 100

3.2 Primeira fase do projeto de revitalização. 110

3.3 Segunda fase do projeto de revitalização. 121

3.4 Mercado Municipal: Reinvenção, Inauguração e os seus “Valores”. 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS 156

FONTES 159

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INTRODUÇÃO

A letra da música de Diogo Nogueira, cantor, compositor e apresentador, filho de João Nogueira, exemplifica o que é um Mercado Popular na sua gênese.

Muitos mercados se originaram das feiras, que terminaram perpetuando-se, materializando-se em construções, porque a reprodução da vida da cidade necessita de suprimentos [...] nas cidades, os mercados eram os locais importantes para o abastecimento de toda a sorte de produtos, já que concentravam espacialmente a atividade, além do que significavam momentos de trocas não materiais que ‘abasteciam’ outras esferas da vida em sociedade. (PINTAUDI, 2006, p. 84).

Podemos descrever os mercados como lugares onde negociantes expõem e vendem gêneros alimentícios e artigos de uso frequente; como uma reunião de comerciantes em um mesmo local; como um conjunto de consumidores que absorvem produtos e serviços disponíveis em um espaço urbano organizado coletivamente. Mas é também o local de contatos sociais, amizades são construídas, experiências são trocadas, aprendizagens acontecem. O melhor local para conhecer uma cidade são os mercados públicos. Neles podemos encontrar “joias” da cultura.

Mercado Popular Diogo Nogueira

Feira na beira do rio, doutor. Olha que tem tudo lá.

Feijão de corda, tem farinha e graviola. E até moda de viola, pode acreditar. Feira na beira do rio, doutor.

É mercado popular tem tambaqui, tucunaré, siri-patola

E todo tipo de tempero para temperar. Tem umbu, meu sinhô

Seriguela, iaiá Milho verde, doutor Manga madura

Quebra-queixo, sinhô Goiabada, iaiá Mel, cocada e cuscuz Tem rapadura

Leva pimenta, tomate, taioba, canela e dendê. Tem carne seca, buchada de bode pra

fortalecer.

Fumo de rolo, cachaça da roça pra comemorar.

Leva essa flor no cabelo, morena, pra te perfumar.

Leva tudo, leva um pouco. Leva o ralador de coco. Meu sinhô, não tenho troco. Leva um coco pra ralar.

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Pintaudi (2006) faz um questionamento. Como podemos explicar a permanência de mercados públicos, atuando com sua função original, já que outras formas de abastecimentos surgiram para vender os gêneros alimentícios, realizando desta forma o abastecimento das cidades?

A partir de meados do século XX, com novos aperfeiçoamentos tecnológicos, envolvendo a conservação de produtos alimentícios, aumento da produção, sua diversificação e controle de qualidade, bem como o aumento da velocidade de deslocamento mecânico, promoveu-se uma aceleração constante na circulação de mercadorias , o que tornou a forma mercado obsoleta pela sua inadequação aos novos parâmetros de qualidade oferecidos para os consumidores por equipamentos mais novos, como os supermercados e hipermercados, concebidos para atender aos novos tempos do capital com o conforto, rapidez e sem a mediação dos vendedores. (PINTAUDI, 2006, p. 96).

Com o passar do tempo, as novas formas de abastecimento ocupam as cidades, supermercados, hipermercados, distribuidoras para os comerciantes. Os mercados públicos, para existirem ao longo tempo, precisam ter a capacidade de resistirem. Os mercados são pontos de encontro no centro da cidade, pertencem a um outro tempo social, de uma época em que para se comprar o que precisava era necessário irem neste centro de comercialização da cidade. Era costume ir fazer compras no mercado, afinal diferentes sociedades ao longo da história tinham de se abastecer nesses espaços. Mas, quando esse costume se rompe, devido a outras formas de abastecimento, surge a possibilidade de transformá-los em locais considerados tradicionais, nos quais a sociedade simula comportamentos antigos, indo fazer compras por um sentimento de pertencimento, por se identificarem com o lugar. Mas há outros que procuram os mercados por necessidades básicas.

Existem fregueses antigos que permaneceram e são assíduos; existem aqueles, também antigos, que vão por produtos especiais que só ali podem encontrar e com excelente qualidade e preço; e existem os fregueses novos, aqueles que são seduzidos a conhecer o local, os turistas fazem parte desse grupo. Esse é um movimento que pode ser chamado da volta dos fregueses, consumidores que se sentem parte desse espaço.

Esse sentimento de pertencimento é explorado e, em muitas cidades, os mercados foram reinventados, principalmente como ponto turístico, tornando-se um espaço de divulgação cultural, atendendo às necessidades de cada época. “[...] produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos”. (CHOAY, 2006, p. 211).

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No centro de Aracaju, capital sergipana, foi construído o Mercado Municipal em 1926. Na sua origem, era um centro de abastecimento, considerado símbolo da modernidade, mas problemas foram acontecendo (falta de higiene e estrutura, o espaço tornando-o insuficiente, comerciantes passaram a ocupar as ruas, falta de investimento...) levando o mercado ao abandono e distante do projeto para o qual foi planejado. Mas, no final do século XX ocorreu sua reinvenção e o espaço foi revitalizado. Apesar de ser composto por três edifícios, é utilizada a nomenclatura de Mercado Municipal (no singular) corriqueiramente. As pessoas circulam de um para o outro, mas continuam dizendo “vou ao mercado”.

Pensando em compreender como foi a apropriação deste espaço em cada época, idealizamos a presente pesquisa: O MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU E SEUS TEMPOS: PRINCÍPIO, PERDA E REINVENÇÃO (1926-2000), que tem por objetivo revisitar a história do mercado e as mudanças que ali se operaram ao longo dos anos, compreendendo o seu surgimento, principais acontecimentos e reinvenção. Sendo assim, estaremos descrevendo fragmentos da sua história, tendo o desafio de tentar registrar alguns olhares dos que vivenciaram esse cotidiano.

Nesta pesquisa, o regime de historicidade trabalhado foi o presentismo. A reconstituição da história dos mercados foi realizada sobre o ponto de vista do presente. “Assim o historiador não tem escolha, a não ser edificar um (seu) ponto de vista tão explicitamente quanto possível” (HARTOG, 2013, p. 32). Desta forma, destacamos que a reconstituição da história do mercado é de fragmentos. Não há condições de contar a história na íntegra, escolhas foram feitas, acontecimentos escolhidos, fontes selecionadas, parte de uma história está sendo contada, seguindo um fio condutor de pensamento, outras versões podem ser reconstruídas.

De acordo com o historiador francês François Hartog (2013), o conceito de regime de historicidade define-se como o modo de articulação das três categorias do tempo (passado, presente e futuro) em uma dada sociedade e contexto histórico. A mais importante interferência

Viajando pelo Brasil Mercados não vão faltar Ver-o-Peso em Belém Central em BH Modelo em Salvador E tantos outros para falar

Ricos em diversidade E em cultura popular Que vão se reinventando Resistindo ao tempo Para com o tempo Não acabar E nesse momento De Aracaju Vamos destacar A margem Do rio Sergipe Há um mercado popular

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de Hartog no debate contemporâneo sobre temporalidade é que para o autor o presente passou a sobrepujar-se em relação ao passado e também ao futuro, configurando o presentismo.

A formação da ordem presentista ocorreu ao longo do século XX, quando o ideal do progresso e a certeza de um futuro melhor foram abertamente questionados, provocando uma ênfase no presente e seu progressivo crescimento desproporcional em relação às outras categorias do tempo (passado e futuro). O presente fechou-se sobre si mesmo, tornou-se o seu próprio horizonte, num afastamento cada vez maior entre espaço de experiência e horizonte de expectativa. “Sem futuro e sem passado, ele produz diariamente o passado e o futuro de que sempre precisa, um dia após o outro, e valoriza o imediato”. (HARTOG 2013, p. 148).

Surge então uma preocupação com o patrimônio. “Como se quisesse preservar na verdade, reconstituir um passado já extinto ou preste a desaparecer para sempre. Já inquieto, o presente descobre-se igualmente em busca de raízes de identidade preocupado com memória e genealogias”. (HARTOG 2013, p. 151).

Mas não é possível preservarmos tudo, portanto busca-se preservar o que for patrimônio cultural. Entre os elementos que constituem a cultura de um lugar, alguns podem ser considerados patrimônio cultural. Mas para isso, é necessário ter importância coletiva, interligar as pessoas e muitas pessoas de um mesmo grupo se identificarem com esses elementos.

O patrimônio cultural são monumentos, ou seja, as obras arquitetônicas, de escultura ou de pinturas monumentais, assim como os elementos estruturais de caráter arqueológico que tenham valor universal do ponto de vista da História. Não se restringe à produção material humana, mas abrange também a produção emocional e intelectual. (SILVA, 2012).

É por meio do patrimônio cultural que o grupo se vê e quer ser reconhecido pelos outros. Como nos afirma Choay (2006, p. 240) “...o patrimônio parece fazer hoje o papel de um vasto espelho no qual nós, membros das sociedades humanas do fim do século XX, contemplaríamos a nossa própria imagem”.

O patrimônio cultural faz parte da vida das pessoas e elas sequer conseguem dizer o quanto ele é importante e por quê. Mas, caso elas o perdessem, sentiriam sua falta. Quando estamos pesquisando, não existe apenas uma versão sobre os fatos. Quanto mais informações e versões forem obtidas, mais profundo será o conhecimento adquirido, significados e importância. Por isso, o foco da pesquisa buscou compreender o Mercado em cada época, mas a partir do olhar do presente, entendendo sua identidade.

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A noção de identidade tornou-se um dos conceitos mais importantes de nossa época. A construção das identidades culturais no novo milênio é a temática central dos Estudos Culturais. Culturalistas acreditam que a globalização aproximou culturas e costumes e, logo, identidades diferentes. Assim, a convivência com o diferente faz com que as identidades aflorem. A noção de identidade é complexa, sendo muito importante para a construção da cidadania.

Uma das formas pelas quais as identidades estabelecem suas reivindicações é por meio do apelo a antecedentes históricos. [...] tentam reafirmar suas identidades, supostamente perdidas, buscando-as no passado, embora, ao fazê-lo, eles possam estar realmente produzindo novas identidades. (SILVA, 2014, p. 11).

Para Tomaz Tadeu Silva (2014), a compreensão da identidade deve levar em consideração sua relação intrínseca com a diferença, é uma construção relacional, ou seja, para existir ela depende de algo fora dela, que é outra identidade. Sendo uma construção histórica, ela não existe sozinha, nem de forma absoluta, é sempre construída em comparação, pois sempre nos identificamos como o que somos para nos distinguir dos outros.

Quando falamos sobre as diferentes etapas vividas no Mercado Municipal de Aracaju, estamos retratando a identidade assumida em cada época, como era a apropriação do espaço, o que ele representava para a população, seus usos e valores. Ao reconstruirmos sua história, apresentamos uma trajetória, inevitavelmente, fazemos uma comparação de uma época com a outra. Portando, estamos analisando suas identidades.

Podemos definir a identidade como sendo uma escolha dentro do conjunto de relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que estabelecem a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade.

A realização de uma pesquisa sempre está apoiada em outras já realizadas, fruto de horas de estudo, e estas são listadas nas referências, mas há tantas outras que vamos nos apropriando do seu conteúdo e transformamos em conhecimento, que é impossível citar, já que nós mesmos não temos dimensão dessas apropriações que dizemos ser palavras nossas. Destacaremos apenas alguns nomes da historiografia sergipana que contribuíram para contextualizar os fragmentos da história do mercado: Fernando Figueiredo Porto (1991), Sebrão Sobrinho (1955), Ibarê Dantas (2004), Katia Afonso Silva Loureiro (1983), Murilo Melins (2007), entre outros.

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Para entender como as relações sociais foram se transformando no mercado, exploramos as publicações em jornais1. Destacamos o jornal a Gazeta de Sergipe, pois devido ao nosso corte temporal (1926-2000), é o jornal com o maior número de edições disponíveis digitalizadas, facilitando as buscas durante as madrugadas de estudo; mas outros foram utilizados: A Cruzada, Cinform, Correio de Aracaju, Diário de Aracaju, Gazeta do Povo, Gazeta Socialista, Jornal da Cidade e Sergipe-Jornal, citados aqui por ordem alfabética, pois todos contribuíram para a reconstrução da história dos mercados. Utilizamos o Diário Oficial de Sergipe, Leis Municipais, Mensagens dirigidas à Assembleia Legislativa de Sergipe, o Relatório de identificação dos Mercados Centrais de Aracaju do IPHAN Sergipe que, infelizmente, não está datado e nem assinado, documentários e algumas revistas. Nossa intenção foi utilizar a maior quantidade possível de notícias vinculadas à imprensa, pois poderão servir de guia para futuras pesquisas que pretendam confrontar com outros documentos2 oficiais.

A leitura dos discursos expressos nos jornais permite acompanhar o movimento das ideias que circulam na época [...] Os jornais oferecem vasto material para o estudo da vida cotidiana. Os costumes e práticas sociais, o folclore, enfim, todos os aspectos do dia-a-dia estão registrados em suas páginas. (CAPELATO, 1988, p. 34).

Na atualidade, o uso dos jornais como fonte histórica é frequente em muitas pesquisas. Até a primeira metade do século XX, os historiadores brasileiros se posicionavam de duas formas quanto ao uso do jornal como fonte histórica: com desprezo, consideravam as informações suspeitas, sem validade, ou com glorificação, donos da verdade, relatos fidedignos dos acontecimentos registrados. Mas, na segunda metade do século, essas concepções começam a ser criticadas, pois nenhum documento é espelho da realidade, da verdade e da objetividade. As análises são realizadas a partir das interpretações dadas, que podem ser apoiadas por alguns e desaprovadas por outros. São as várias versões que podem existir a depender do ponto de vista que está sendo apresentado. O estudo da fonte jornalística permitiu ampliar os horizontes para novas reflexões e problemáticas no conhecimento sobre as sociedades do passado.

A imprensa oferece amplas possibilidades para isso. A vida cotidiana nela registrada em seus múltiplos aspectos, permite compreender como viveram nossos antepassados – não só os “ilustres”, mas também os sujeitos anônimos. O Jornal, como afirma Wilhelm Bauer, é uma

1 As publicações foram pesquisadas na biblioteca Epifânio Dórea, no APES, no IHGSE e os jornais digitalizados disponibilizados SIBIUFS.

2 No Arquivo Público da Cidade de Aracaju há um acervo documental sobre os governos municipais, estes estão separados por gestão. Devido ao longo marco temporal da presente pesquisa, optamos em não fazer essas buscar, pois o limite de tempo para a produção da dissertação do mestrado não permitiria uma análise criteriosa sobre as possíveis fontes que seriam encontradas.

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verdadeira mina de conhecimento: fonte de sua própria história e das situações mais diversas; meio de expressão de ideias e depósito de cultura. Nele encontramos dados sobre a sociedade, seus usos e costumes, informes sobre questões econômicas e políticas. (CAPELATO, 1988, p. 21).

Ao analisarmos os jornais, reconhecemos os limites e o relativismo que é necessário durante o processo da pesquisa, entre a história vivida e a história construída. “Onde se buscava a verdade, encontramos hoje muitas verdades, e no lugar do observador imparcial, objetivo e neutro, um sujeito participante da história que procura compreender” (CAPELATO, 1988, p. 25). E é justamente desta forma, que nos empenhamos em reconstruir os enredos que formam a história do Mercado Municipal de Aracaju. E, para contribuir com essa construção, utilizamos imagens.

As mais novas gerações de historiadores brasileiros vêm usando como fonte privilegiada a iconografia e têm feito isso com muita destreza. Enfim, já não a tomamos como simples “ilustrações”, “figuras”, “gravuras” e “desenhos”, que servem para deixar o texto mais colorido, menos pesado e mais chamativo para o pequeno leitor ou mesmo para o adulto. A iconografia é tomada agora como registro histórico realizado por meio de ícones, de imagens pintadas, desenhadas, impressas ou imaginadas e, ainda, esculpidas, modeladas, talhadas, gravadas em material fotográfico e cinematográfico. (PAIVA, 2006, p. 17).

Vale ressaltar que a História e os diversos registros históricos são sempre resultados de escolhas, seleções e olhares de seus produtores e dos demais agentes que influenciaram essa produção, assim as fontes, sejam elas escritas ou imagéticas, passaram por um momento de construção.

[...] o documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. [...] O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. (Le Goff Apud PARANHOS, 2010, p. 17).

Nesta pesquisa, 50 imagens foram selecionadas, seguindo o critério de relevância, com o intuito de contribuir com a reconstituição da história que decidimos investigar. Ao usar imagens como fontes, buscando manter um diálogo entre as imagens e o texto, na tentativa de não serem meras ilustrações. “Qualquer objeto de estudo, qualquer temporalidade, qualquer problemática e qualquer período são passíveis de abordagens por meio de imagem [...]”. (PARANHOS, 2010, p. 55).

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A história oral também foi utilizada, a qual “[...] é um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo”. (ALBERTI, 2013, p. 21).

A história oral, tornou-se, no século XXI, a metodologia fundamental nas pesquisas realizadas no Brasil, sobretudo, nas relacionadas a temáticas contemporâneas. “[...] empregadas em pesquisas sobre temas recentes, que a memória dos entrevistados alcance [...] ” (ALBERTI, 2013, p.25), confirmando, desta forma, sua contribuição na reconstrução da história do mercado.

[...] a história oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena procedimentos de trabalho, tais como os diversos tipos de entrevista e as implicações de cada um deles para a pesquisa, as várias possibilidades de transcrição de depoimentos, suas vantagens e desvantagens, as diferentes maneiras de o historiador relacionar-se com seus entrevistados e as influências disso sobre o seu trabalho, funcionando como ponte entre teoria e prática. (FERREIRA, 2012, p. 170).

O documento vai sendo reconstruído a partir do diálogo entre entrevistador e entrevistado. São pontos de vista individuais, expressos nas conversas, que são legitimadas como fontes. O objeto de pesquisa do historiador é recuperado e recriado por intermédio da memória dos informantes. A forma de construção e organização do discurso são valorizadas pelo historiador. “ [...] fontes orais do historiador são narrativas individuais, informais, dialógicas, criadas entre historiador e narrador. ” (PORTELLI, 2016, p. 9). O trabalho realizado pelo historiador é valorizado, já que “ [...] as fontes orais não são encontradas, mas cocriadas pelo historiador. Elas não existiriam sob a forma em que existem sem a presença, o estímulo e o papel ativo do historiador na entrevista feita a campo, literalmente, uma troca de olhares”. (PORTELLI, 2016, p. 10).

Não é fácil definir critérios para selecionar os entrevistados. Devemos “ [...] admitir e considerar a pluralidade e a diversidade de versões e experiências no decorrer da análise científica resulta em um conhecimento acurado [...] ” (ALBERTI, 2013, p.29). Ao todo selecionamos oito depoentes. Destes, seis são comerciantes que atuam no mercado desde as décadas de 50, 60 e 70. Os outros dois nos presentearam com a história do mercado através dos seus dons artísticos: a Música de Alcides Melo e a Fotografia de Sergival Silva.

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O primeiro capítulo, MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU: O PRINCÍPIO (DÉCADAS DE 20 A 40), apresenta uma reflexão sobre o impacto da modernidade na urbanização das cidades no início do século XX, buscando compreender a relação entre modernidade e o surgimento dos mercados públicos. Para tanto, foi necessário fazer um recuo para o século XIX e tratar da transferência da capital sergipana, contando um pouco da sua história e dando ênfase à construção do Mercado Municipal no centro de Aracaju/Sergipe. Descrevemos o mercado, sua inauguração, estrutura, cotidiano e os problemas enfrentados pelos comerciantes e consumidores. Finalizamos explanando sobre uma contradição, a construção de um mercado auxiliar em um período de declínio econômico.

No capítulo seguinte, O (DES) CAMINHO DO MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU (DÉCADAS DE 50 A 80), relatamos a apropriação dos mercados pela população. Com o aumento demográfico na capital sergipana, recursos foram aplicados em outras áreas da cidade, mas nenhum investimento foi realizado na área central, intensificando-se o processo de desestruturação dos mercados. A calamidade e o abandono eram totais, sendo destaque na imprensa sergipana. Concluímos apontando a necessidade de rever a situação caótica dos mercados.

O último capítulo, A REINVENÇÃO DO MERCADO (DÉCADA DE 90), analisamos a situação desordenada da área do Mercado Municipal, o surgimento de um projeto de revitalização, assim como de um outro projeto para construir um novo mercado em outra área. Expomos o embate político entre os projetos e as dificuldades enfrentadas para desmanchar a desordem em que se encontrava a área do mercado, para reinventar um novo espaço, limpo, organizado e culturalmente atrativo para transformá-lo em ponto turístico. Encerramos destacando o valor histórico e o valor de uso dos mercados.

Desta forma, foi possível acompanhar a trajetória dos Mercados Municipais de Aracaju, compreendendo as metamorfoses pelas quais passou para resistir ao tempo.

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CAPÍTULO 1

MERCADO MUNICIPAL DE ARACAJU: O PRINCÍPIO (DÉCADAS DE 20 A 40)

“ O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma aproximação. ”

Paulo Mendes da Rocha

A presença dos mercados sempre foi de fundamental importância na vida das cidades, pois foram criados como centros de abastecimento. Nas cidades de colonização hispânica e portuguesa, a implantação dos mercados seguiu, normalmente, os mesmos padrões das cidades europeias. Inicialmente um espaço aberto, onde múltiplas atividades se desenvolviam, quando desde meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, os mercados cobertos sucedem as praças de mercados ao ar livre, as feiras. (GUÀRDIA BASSOLS, M. OYÓN BAÑALES, 2007)

No Brasil a origem dos mercados está nos espaços abertos das cidades coloniais, no mesmo padrão das cidades portuguesas. Nas freguesias, as atividades se desenvolviam a partir da igreja, que dominava o espaço urbano e determinava as atividades cotidianas da população, fossem estas sociais, econômicas ou religiosas. Neste sentido, em torno do edifício religioso, se desenvolviam as atividades econômicas, as trocas e as feiras, barracas alinhadas a céu aberto, geralmente atividades destinadas aos negros. (MARX, 1991).

Nas cidades se edificam as instituições, instala-se o poder público, mercados são criados, e redes de relacionamento dão vida a uma sociedade plural. A história de cada mercado traz suas peculiaridades, mostrando suas transformações em cada época.

1.1 Modernidade e cidades

Afinal, o que é Modernidade? Conceituaremos o termo a partir das informações obtidas no Dicionário de Conceitos Históricos (SILVA, 2012, p. 310-313), que nos apresenta as ideias de Le Goff, Baudelaire e Andrew Edgar.

A ideia de modernidade surge, quando há um sentimento de ruptura com o passado. (Jacques Le Goff).

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[...] modernidade como mudanças que iam se operando em seu presente, utilizando a palavra sobre tudo para a observação dos costumes, da arte e da moda (Charles Baudelaire).

[...] modernidade como um termo derivado do latim modernus - significando recentemente – que desde o século V, com os escritos de Santo Agostinho, passou a ter vários significados. (Andrew Edgar). Na sua origem modernidade opunha-se ao passado pagão; a partir do século XVI ser moderno era se opor ao medieval; no século XVIII surge modernidade com o iluminismo, tendo seu ápice nos séculos XIX e XX.

Podemos definir modernidade como um conjunto amplo de modificações nas estruturas sociais do Ocidente, a partir de um processo longo de racionalização da vida. Le Goff afirma que o conceito de modernidade é estritamente vinculado ao pensamento ocidental, que atinge as esferas da economia, da política e da cultura.

Marshall Berman (1986, p. 15), em seu livro Tudo que é sólido desmancha no ar, define como moderno se encontrar em “ [...] um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo que sabemos, tudo que somos”. Que existe um tipo de experiência compartilhada por homens e mulheres. E modernidade é esse conjunto de experiências.

Para Berman a modernidade está dividida em três fases: A primeira fase entre os séculos XVI ao XVIII, em que as pessoas começam a experimentar a vida moderna. O autor cita Rousseau como a grande voz do período.

A segunda fase começa com a onda Revolucionária de 1790, em que um grande e moderno público toma vida, que, no entanto, não vive uma modernidade completa, vivendo numa constante dicotomia entre o antigo e o novo. Identifica Nietzsche e Marx como as duas vozes que são símbolos do século XIX. O fato básico da vida moderna, de acordo com Marx, é que essa vida é radicalmente contraditória. Para Nietzsche, as correntes da história moderna eram irônicas e dialéticas.

A terceira fase, no século XX, cuja modernidade abarca virtualmente o mundo todo, mas que, à medida que se expande, se multiplica em fragmentos. O modernismo do século XIX prosperou além de suas próprias esperanças, mas foi no século XX que talvez tenha sido o mais brilhante e criativo da humanidade. Contudo, é nele que perdemos ou rompemos a conexão entre nossa cultura e nossas vidas. Nosso pensamento acerca da modernidade parece ter estagnado e regredido. Desta forma, o autor defende que os “pensadores” do século XIX eram

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simultaneamente entusiastas e inimigos da vida moderna. Seus sucessores do século XX resvalaram para longe, na direção de rígidas polarizações e totalizações achatadas. A modernidade é vista com um entusiasmo cego e acrítico. Condenada segundo uma atitude de distanciamento e indiferença. Concebida como uma pedra fechada que não pode ser moldada ou transformada.

No Brasil, experimentamos no final do século XIX e início do XX, o surgimento de ideais modernizadoras no país. Intelectuais e políticos da época, em detrimento a um modelo autoritário de governo, a monarquia de Pedro II, se colocam a pregar a instauração de um regime republicano, racional, pautado em ideais positivistas, muito presentes nos discursos modernizadores. Eles propõem a construir o novo e destruir o antigo.

De acordo Nicolau Sevcenko (1989), estávamos na “Belle Époque”, expressão de origem francesa que significa “Bela Época”. Esta expressão foi criada para designar um período da história na Europa, marcado pela paz, aproximadamente entre 1871, quando teve fim a Guerra Franco-Prussiana e julho de 1914 quando começou a Primeira Grande Guerra. É o período que ficou caracterizado pela expansão e progresso tecnológico, científico e cultural.

No Velho Mundo, onde se experimentou o desenvolvimento urbano juntamente ao desenvolvimento econômico, as cidades cresceram e foram se moldando às novas realidades. Já em outras partes, onde não se deram as mesmas condições, tentou-se alcançar o desenvolvimento econômico através da construção de cidades planejadas, que são construídas de acordo um projeto pré-definido, idealizados a partir de alguma teoria norteadora.

Neste período, no Brasil, vive-se um momento em que se busca minimizar as lembranças do Império e da colonização Portuguesa. Acontece o Movimento Modernista e a realização da Semana de Arte Moderna, além da fundação das cidades planejadas e as reformas urbanísticas.

Como nos afirma Fernando Diniz Moreira (1992, p. 186), “[...] inicia-se uma enorme concentração de investimentos em obras públicas e no reaparelhamento das condições infra estruturais, visando a satisfação de certos requisitos para a racionalização e o aumento da produção geral”.

As elites dominantes brasileiras lutavam pela modernização da nação. Essa modernização enquadrava-se na expansão do capitalismo, visando as melhorias urbanas, o progresso e a higienização social. Tratava-se da construção do progresso da nação sob a égide do regime republicano e a hegemonia das elites. O historiador Nicolau Sevcenko nomeou a inserção compulsória do Brasil na modernidade de Belle Époque, e nos explica: “ O que se notava na atuação dos primeiros presidentes civis e paulistas, bem como de seu círculo

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político-administrativo, era o evidente esforço para forjar um Estado-nação moderno no Brasil, eficaz diante das novas vicissitudes históricas com os seus modelos europeus. ” (1989, p. 47). Para Sevcenko, a nação brasileira, em sua inserção compulsória na Belle Époque, passava por amplos processos de transformações multidimensionais, que desestabilizam os parâmetros da sociedade e da cultura tradicionais até então vigentes.

De acordo com Fernando Figueiredo Porto (1991, p. 10), Aracaju não surgiu espontaneamente, foi uma cidade criada: “Aqui chegou um único homem, Inácio Joaquim Barbosa com um único desejo: fundar uma nova cidade, impulsionado por um motivo econômico e por um motivo político: um porto e uma capital. ”

Inácio Joaquim Barbosa, que iniciou o seu governo com os mais claros desejos de animar a prosperidade da Província que lhe fora confiada, sabia que esta prosperidade dependia profundamente das facilidades de escoamento da produção. [...] Por falta de portos convenientemente localizados as mercadorias oneravam-se, pesadamente, com custos de uma série de cargas e descargas, realizadas em condições tão precárias que aumentavam muito os riscos destas operações. (PORTO,1991, p. 15).

Aracaju, tendo um porto, passaria a ter contato com outros portos e haveria um crescimento das importações e exportações, gerando consequentemente riquezas, que levariam ao aumento e melhoramento das construções. Politicamente, a capital poderia aglutinar todos os órgãos da máquina administrativa da Província, favorecendo a dinâmica do trabalho do governo e o seu desenvolvimento.

No livro “Para conhecer a História de Sergipe” (1998) das historiadoras Lenalda Andrade Santos e Terezinha Alves de Oliva, mesmo em livros didáticos podemos compreender a relação do surgimento da nova capital e a necessidade de se ter um novo porto.

A necessidade de fazer comércio direto, com outras Províncias brasileiras e com a Europa sem passar pela Bahia, fez com que senhores de engenho e comerciantes desejassem um melhor porto e até uma nova capital, uma cidade diferente, que demonstrasse esse desejo de ser moderno, de comunicar-se mais com outros lugares. Por isso nasceu Aracaju, que se tornou capital de Sergipe a partir de 17 de março de 1855. Foi preciso ter recursos, coragem e decisão para conseguir isto, porque a construção da cidade foi feita aterrando mangues e sob protesto dos habitantes de São Cristóvão, a primeira capital, e das cidades vizinhas. O começo foi muito difícil, porque faltava casas, água potável, transporte e uma epidemia de cólera dificultou os trabalhos. (SANTOS; OLIVA, 1998, p. 62-63).

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Para entendermos de forma sucinta os primeiros anos da cidade de Aracaju, vejamos as 4 fases que a obra de Porto (1991) trata da evolução da capital, desde sua fundação até o ano de 1945:

1ª fase - Começa com sua fundação e dura cerca de dez anos. Período de conquista, favorecidos e estimulados pela ação do governo provincial.

2ª fase - Da década de 1860 até os primeiros anos da proclamação da república, é um período obscuro na vida física da cidade. Houve um abandono por parte da província e a cidade foi crescendo por si mesma. No final deste período, surgem os primeiros estabelecimentos industriais.

3ª fase – Do primeiro quartel do século XX até os últimos anos da chamada República Velha, entre as revoluções de 1924 e 1930. Ocorre os investimentos por parte do governo estadual: serviços de água, esgoto, luz e bondes. Novas ruas se abrem, outras são melhoradas. O contato com o interior é intensificado, primeiro pelas estradas de ferro e depois pelas estradas de rodagem. A cidade ocupa toda a planície entre o rio Sergipe e as dunas e começa sua expansão para o noroeste. Assim, de forma espontânea, começa o zoneamento da cidade, os bairros de comércio, os de residência abastadas, de habitações operárias e das indústrias. É nesta terceira fase que surge o Mercado Modelo.

4ª fase – É caracterizado pela entrega à Municipalidade da execução de todos os serviços de interesse local. No início dessa fase, é perceptível essa característica na administração de Teófilo Dantas, com as obras de urbanização do Bairro Santo Antônio e que continuou com Godofredo Diniz, com a passagem para o município dos serviços de Bombeiros e Prontos Socorros e a criação do ensino primário.

Aracaju, a capital sergipana, foi criada em 1855, num povoado de pescadores denominado Santo Antônio do Aracaju, quando sob o governo provincial de Inácio Joaquim Barbosa ocorre a transferência da capital. Todo o processo de transferência da capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413 de 17 de março de 1855, que elevava essa região inóspita à condição de capital da Província de Sergipe del Rey.

[...] Aracaju foi uma cidade planejada, quer dizer, foi feita a planta da cidade, traçando suas ruas retas e largas, para depois começar a construção. Era tudo diferente de São Cristóvão, Laranjeiras ou Estância, as outras cidades importantes daquela época. Por isso mesmo, a nova capital é um símbolo da modernização e do progresso que os senhores da Cotinguiba e os comerciantes queriam. (SANTOS; OLIVA, 1998, p. 63-64).

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Contudo, a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju não ocorreu tão simples quanto pode parecer.

Ao saber da perda da condição de capital de Sergipe, a Câmara Municipal de São Cristóvão enviou protesto ao Imperador D. Pedro II contra a mudança. Uma figura popular da velha capital, João Neponuceno Borges, conhecido como João Bebe-Água organizou um grupo de cerca de 400 homens armados para combater a mudança. Mas o padre da cidade convenceu os sancristovenses a não tomarem essa medida violenta. (CORRÊA, 2005, p. 39).

De acordo com Corrêa (2005), a tradição diz que João Bebe-Água era o maior inimigo da mudança da capital, tinha tanta certeza que São Cristóvão voltaria ao seu antigo posto, que guardava em sua casa uma dúzia de foguetes para soltar quando isso acontecesse. Conforme tradição, conta-se que ele morreu sem pôr os pés em Aracaju e jurando que, pelo menos por um dia, São Cristóvão voltaria a ser a capital, ao som de toques de sinos.3

O desejo de João Bebe Água e de grande parcela da sociedade sancristovense não se concretizou devido a uma forte aliança existente entre os grandes produtores de açúcar do Vale do Cotinguiba (atualmente Maruim, Laranjeiras e Santo Amaro). Essa região, em meados do século XIX, passava por um auge em sua produção açucareira, razão pela qual seus produtores sentiram a necessidade de transferir a sede política-administrativa para uma região mais próxima ao mar, favorecendo também o escoamento da produção. Dessa forma, o açúcar seria transportado em embarcações através do rio Cotinguiba, passando pelo rio do Sal, rio Sergipe, onde haveria um porto para a entrega do produto aos navios estrangeiros.

Foi mesmo uma verdadeira subversão política, econômica e social: deslocou para o norte o centro da gravidade da política local; alterou o intercambio das mercadorias e fez declinar núcleos até então florescentes; criou a primeira “cidade livre” de Sergipe. De fato, a civilização que se desenvolveu em Aracaju não tinha, como as demais, compromissos com a terra e seus senhores. Do desenvolvimento da nova cidade surgiu o prestigio de um novo elemento: o comerciante. (PORTO, 1991, p. 16).

Conforme Porto (1991), o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro elaborou o projeto urbano de Aracaju. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro que recebeu a elevada tarefa

3 No ano de 1972, na abertura do I Festival de Arte de São Cristóvão – FASC, o governador Paulo Barreto de Meneses decretou a transferência da capital do estado para São Cristóvão por 24 horas. Quando a comitiva governamental entrou na cidade, doze foguetes pipocaram no ar e todos os sinos de suas velhas igrejas tocaram festivamente. Estava cumprida a profecia de João Bebe-Água. A rodovia que liga Aracaju a São Cristóvão leva hoje seu nome. (CORRÊA, 2005, p. 40).

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de planejar uma cidade. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX. Portanto, o projeto foi elaborado sob as influências dos traçados urbanos da época, previa uma cidade com linhas retas; foi dentro dos limites deste plano, conhecido como “tabuleiro de xadrez” ou quadrado de Pirro, que o Centro de Aracaju se configurou para ser o cartão postal da nova capital, local de residência, trabalho e lazer da elite que se instalava. “ Ele se resumia num simples plano de alinhamentos. Dentro de um quadrado de 540 braças de lado, separados por ruas de 60 palmos de largura”. (PORTO, 1991, p. 30).

O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com 110 m por 110 m. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro de Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos.

Mas, bem antes da mudança da capital, o historiador Sebrão Sobrinho (1955), em seu livro “Laudas da História do Aracaju”, sinaliza a existência da feira, quando cita o Decreto Provincial de 13.02.1837 em seu artigo segundo:

Ninguém poderá matar rez alguma sem que antes seja examinado pelo respectivo Fiscal, e não ser nos Açougues Públicos, onde devem expor-se à venda, ficando para esexpor-se fim desde já abandonados açougues nos lugares de S. Bento, Povoado do Aracaju, e o Engenho de S. Pedro, além do que existia nesta Villa: o contraventor pagará dez mil reis, e o duplo na reincidência e na falta oito dias de prisão. (SOBRINHO, 1955, p. 398).

Sebrão Sobrinho explica que em 1855, nos primeiros dias da mudança da capital a feira veio para junto da rua D’Aurora no trecho entre a Praça do Palácio a da Alfandega, ou seja, a feira era na avenida Rio Branco, conhecida como rua da Frente, no trecho onde hoje é a Praça Fausto Cardoso até a Praça General Valadão. O autor ressalta que no local já havia edificações e que em 12 de julho de 1858, a Resolução 537 em seu 7º artigo marcou o prazo de seis meses para que os proprietários dessas casas substituíssem a fachada das casas por platibandas. Assim, foi oficialmente criada a feira, pois ela já existia.

A nova Póstuma de Aracaju, decretada pela Resol. núm. 537, dizia que “além da praça de mercado diário, que a Câmara desta Capital para o futuro houver de marcar, fica desde já designado para um mercado especial com a denominação de – Feira – o local que existe entre o sobrado do Negociante Pinho, e a casa do Tenente Coronel Manuel Antônio de Faro, extendendo-se a mesma Feira por tôda a rua, que vai em direção á Capella de São Salvador”. (SOBRINHO, 1955, p. 398).

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Nesta mesma póstuma, é informado que a feira ocorrerá todas as segundas-feiras, das 7h às 15h e que poderão ser vendidas quaisquer mercadorias, especialmente farinha, feijão, milho, arroz, legumes, frutas, açúcar, café, azeite, aves, ovos e peixe. Foi permitido a venda diária de todos os gêneros, desde que fosse no lugar designado para a reunião da feira, proibindo acontecer pelo meio das ruas indistintamente. Sebrão Sobrinho nos apresenta as informações relativas à feira através do Relatório de 04 de março de 1872, no qual o Dr. Luís Alvares d’Azevedo Macedo dizia que:

Centenas de pessoas de ambos os sexos, a pé, a cavalos e em canoas, - chegavam a esta cidade logo pela manhã e invadindo a rua do commercio pelo cais, pelo centro da rua e pelas calçadas, faziam o seu commercio no meio de gritos descompassados, às vezes resultando sérios conflitos das discussões que se azedavam, outras vezes produzido os seus terríveis efeitos o álcool, que se vendia em pequenos barris, reinando a confusão no meio de tão crescido número de povo, onde muitas vezes presenciava cenas repugnante a alguém que porventura n’essa ocasião passasse. Os animais que conduziam os gêneros, que eram trazidos à feira, ficavam soltos pelas ruas e praças da Capital, e além do perigo iminente dos transeuntes, cenas indecentes se viam a cada momento no meio desses animais aglomerados. (SOBRINHO, 1955, p. 400).

Na citação acima, verificamos a total desordem como acontecia a feira, espalhando-se pela cidade. Na época, foi demonstrada a urgente necessidade de modificar tal situação:

Pretendia-se acabar a feira, tão somente pelo modo porque era feira, não se permitindo o commercio pelas ruas; eram convidados os pequenos productores a levarem os seus gêneros para um lugar apropriado, arrumando-se com ordem, e concorrendo os compradores a esse lugar, para se proverem do que necessitassem. (SOBRINHO, 1955, p. 401) O texto de Sebrão Sobrinho (1955) comenta sobre o Chefe de Polícia da Província, o Dr. Joaquim Barbosa Lima, que conseguiu acabar com aquele mal que era a feira, conseguindo recolher os gêneros a vender na casa de mercado e os animais foram levados para um pasto perto da cidade. Assim, todos os dias os gêneros passaram a ir para o mercado improvisado. Sobrinho cita também que o presidente da Província Alvares d’Azevedo, em seu relatório de 16.06.1872 trata da mudança da feira para o mercado improvisado e os melhoramentos contra os abusos que ocorriam anteriormente. Mas que estes deveriam ser vigiados, pois o menor descuido voltaria a aparecer.

Como foi possível constatar, já existia um mercado público improvisado, que de acordo com o relatório do IPHAN/Sergipe, foi inaugurado em 1870, em uma casa de propriedade da Associação Sergipana de Beneficência, situado na Rua da Aurora (atual Av. Rio Branco)

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esquina com a Rua de Laranjeiras, mas a existência de um mercado novo sempre foi idealizada, como veremos a seguir.

Segundo Kátia Afonso Silva Loureiro (1983), o que havia de planejado no desenho urbano é que o centro da cidade deveria coincidir com o centro do poder político-administrativo: a praça do Palácio, atual Fausto Cardoso, foi concebida como ponto a partir do qual Aracaju cresceria 1.188 metros (540 braças) para norte, oeste e sul.

Na Planta Urbana da Cidade de Aracaju de 1855 (FIGURA1), a legenda está dividida com três temas: praças, igrejas e edifícios públicos.

FIGURA 1: Planta Urbana de Aracaju, 1855 (marcação nossa)

Fonte: João Sêco Carmona. O traçado urbano das cidades coloniais. 2015.

Na parte das Praças, temos as letras A B C. A letra “A” corresponde ao Mercado. A seta azul, sinaliza a letra “A” na legenda, que corresponde a praça do Mercado. A seta vermelha indica o local onde seria construído o Mercado. E é justamente neste local, onde hoje situa-se a Praça Fausto Cardoso. A construção no referido espaço nunca ocorreu. E durante muitos anos o mercado continuou funcionando no local improvisado. Como nos afirma Sidney Matos Lima (2002, p. 188):

[...] a construção de um local apropriado para a feira em Aracaju tardaria muito a acontecer, de modo que, até o final do século, a realização da mesma ainda se dava no antigo e improvisado mercado localizado à av. do Rio Branco com a rua Laranjeiras, de propriedade da Associação Sergipana de Beneficência, que continuava a funcionar em condições extremamente precárias.

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Com a Proclamação da República, colocam-se em prática as reformas do que era compreendido como o antigo em busca do novo, da ordem e progresso. Assim, busca-se alcançar a modernidade reformulando o lugar onde moram os cidadãos, isto é, a cidade. Aracaju inicia, de maneira efetiva, o seu processo de desenvolvimento como cidade moderna.

[...] nas primeiras décadas do século XX, Aracaju começou a ser dotada de água encanada, luz elétrica, esgotos, ruas calçadas e construções luxuosas, os chamados “palacetes”. As primeiras casas de cinema, o bonde puxado por animais, a circulação de automóveis em suas ruas, o aparecimento dos primeiros bairros, revelam o desenvolvimento alcançado pela cidade, sua modernização. (SANTOS; OLIVA, 1998, p. 82).

Devemos destacar que os Códigos de Postura existentes em Aracaju, o primeiro de 1903 e o segundo de 1912, já mencionava a necessidade de solucionar o problema da realização das feiras semanais, pois não existia um mercado apropriado para a comercialização dos produtos de primeira necessidade.

[...] existiam feiras em locais variados nas ruas, avenidas e praças, sendo o crescimento progressivo da população motivo de preocupação do governo para a criação de um mercado central – Resolução nº 798 de 16/06/1864 que determina a demarcação de uma área urbana com destino ao comercio e venda de gêneros de primeira necessidade, aglutinando as pequenas feiras numa área compreendida entre a rua de Japaratuba (atual João Pessoa) e o trapiche do Loyd Brasileiro. (REVISTA ARACAJU MAGAZINE, nº 38, 1999).

A demarcação da área aconteceu em 1864, mas a construção do mercado tardaria a acontecer, a área precisava ainda ser aterrada e isso só aconteceu em 1917.

Veremos a seguir em Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe 4 (1917, p. 42):

Tem continuado sem interrupção as obras de aterro da Capital na parte sul, achando-se muitos dos antigos charcos existentes em quase todas as ruas já aterradas. [...] a Directoria de Obras começou a fazer o aterro da grande área pertencente ao Estado em frente a estação da estrada de ferro e do edifficio em construcção para Recebedoria e Deposito Estadual. [...] O aterro deverá ficar concluído até o fim do ano corrente, não ficando antes para não sobrecarregar muito as despesas mensaes. É um dos mais urgentes melhoramentos de que carece a cidade, não só para seu embelezamento como também, e principalmente, para o seu

4 Relatório anual descrevendo os acontecimentos em âmbito estadual. O respectivo relatório era enviado pelo governo estadual como Mensagem dirigida a Assembleia Legislativa de Sergipe, datados do dia 7 de setembro de cada ano.

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saneamento. Uma parte da área aterrada será reservada para a construcção de um mercado, podendo o Governo vender a parte não necessária a esse fim; e, como estarão, então, esses terrenos muito valorizados, o seu preço indemnizará em parte o custo desse melhoramento.

A área reservada ao mercado já estava aterrada, mas as obras não se iniciavam. De acordo com Lima (2002), o jornal Correio de Aracaju de 06 de julho de 1919, p. 03, criticava o governo pela não utilização de uma quantia de 200 contos de réis que havia sido destinada à construção de um mercado, amplo e confortável, capaz de pôr término ao espetáculo “primitivo”, em que os produtos ficavam estendidos pelas principais ruas da cidade. Verifica-se, portanto, que a construção do Mercado Municipal se tratava, acima de tudo, de um empreendimento higienizador da cidade. No Correio de Aracaju de 10 de julho de 1919, p. 01, o intendente municipal Batista Bittencout reconhece as péssimas condições da feira aracajuana, enfatizando se constituir numa “exigência imprescindível o levantamento de um Mercado, que vai modificar as condições deploráveis em que se acha ainda nossa feira, condições que já não condizem com o progresso e andamento que distingue a capital do nosso Estado”.

A despeito dos discursos políticos enfatizarem o problema das condições “deploráveis” da feira aracajuana e do início da década existirem leis voltadas para a solução da questão, inclusive estando reservado um recurso especial nas leis orçamentárias de nº 249, 259, 267 e 274 para os anos de 1920, 1921, 1922 e 1923, respectivamente, a construção do mercado tardava a acontecer. (LIMA, 2002, p. 189). Faltava higiene na feira, era necessário se ter um local limpo e organizado para a comercialização dos gêneros alimentícios. Acreditava-se que com a construção de um Mercado Novo, todos os problemas seriam sanados, tornando-se o local “perfeito”, símbolo de uma cidade moderna.

1.2 Construção e inauguração do “Mercado Modelo”

Em 1920, de acordo Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe, demonstra que o Sr. José Joaquim Pereira Lobo, administrador estadual, está cumprindo o seu dever em parceria com a administração municipal de Aracaju, o Sr. Antônio Baptista Bittencourt, que está exercendo as funções com total capacidade, mantendo suas finanças e executando obras. Na sequência, o documento apresenta o empréstimo do Estado para o município para a realização de parte dos calçamentos tão necessários à capital. E demonstra a satisfação do

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Estado pela execução da obra por parte do município. “Já se tendo assentado até a presente data, 820 metros de calçamento, comprehendendo toda a rua de Japaratuba a partir da Estação da Estrada de Ferro à Praça de Palácio, e o primeiro trecho da rua de Laranjeiras, local onde a vida comercial é mais intensa. ” (1920, p. 93). Em seguida, aparece a realização de várias obras, que iremos apenas citar, pois no documento há uma descrição detalhada sobre a execução de cada uma delas:

 Remodelação dos jardins públicos;

 Reforma de alguns prédios municipais como matadouros e depósito de inflamáveis;  Pintura e rejuntamento do telhado do edifício em que funcionava o Governo Municipal;  Construção de dois pavilhões, um para a assistência médica e outro para ser o posto

fiscal;

 Melhoramento da iluminação pública;

 Construção de depósito Municipal e demolição do local que vendia peixe.

Enquanto o governo municipal fazia sua parte, o governo estadual estava realizando outras obras, como informa o historiador Ibarê Dantas (2004, p. 38):

[...] o governo estadual ia fazendo novos aterros, drenagens e ampliando serviços de água, esgotos, luz, calçamentos, melhorando sobretudo a feição de Aracaju. Novos grupos escolares foram construídos na capital e no interior, outros prédios públicos foram reformados e a Biblioteca do Estado ganhava casa própria. Mas, ao lado desses melhoramentos, novas demandas iam aparecendo. [...] O fato é que aos poucos a aparato público ia se modificando e a feição das cidades se transformando. Desde 1919, havia a preocupação com a construção do mercado, ter um local limpo para a venda de gêneros alimentícios era uma questão de higiene, sendo este um elemento modernizador da cidade. Na Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe (1921, p. 69), o mercado aparece como obra que deve ser realizada pela gestão municipal. Apesar da obra fazer parte do orçamento do município, o mercado continuava sendo um projeto não realizado.

A despesa total do município para o exercício de 1921 foi fixada em 687:186$600. A receita total do município foi orçada em 688:670$000. Nesta importância está computada a quantia de 400:000$000 para occorrer ás despesas especiaes previstas pela lei orçamentaria, na construcção do Mercado Municipal e no calçamento a parallelipido da cidade, conforme decreto do Governo do Estado, de 27 de Setembro de 1919.

(34)

A partir de 24 de outubro de 1922, o governador era o advogado Maurício Graccho Cardoso5, sendo considerada a administração mais modernizadora do século XX em Sergipe. “O illustre estadista começou logo sua administração aumentando as rendas do Estado, fazendo resgate de apólices, de forma que todas as fontes de riqueza despertassem e entrassem em franca actividade” (REVISTA FON FON nº35, 1925, p. 48). Cardoso reconstruiu a rede de abastecimento de água, criou o Instituto Parreiras Horta, construiu o Hospital Cirurgia, construiu vários grupos escolares, entre outras obras:

Em convênio com empresário progressista, promoveu a construção de obras importantes como a imponente Penitenciária, o amplo Mercado e o Matadouro, todos qualificadas como modelos. Ademais, criou o Banco Estado de Sergipe, substituiu os bondes a tração animal por carros elétricos e instituiu o regulamento para inspetoria de veículos. (DANTAS, 2004, p. 40).

Na Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe (1923, p. 5), o governo Graccho Cardoso retrata a situação da capital:

Prosegue, sob os mesmos auspícios, a evolução acusada pelos assumptos municipaes neste quinquennio. [...] No propósito de incentivar o embellezamento que, de alguns annos a esta parte, se vem esperando nesta capital, o governo resolveu doar á intendência o espaço preciso para a edificação do novo palácio que pelo município está sendo levantado á praça Benjamin Constant, inspirando-o o mesmo gesto em relação á Associação Commercial e á direcção do Collegio Nossa Senhora de Lourdes, quanto ás áreas reclamadas para as construcções que iniciaram, á rua de Japaratuba, em 14 de Julho e 8 de Junho, respectivamente.

Foi ressaltado na citação acima que as novas construções iriam contribuir para o embelezamento da cidade, obras que tinham se iniciado naquele ano de 1923: o novo Palácio, a Associação Comercial e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Na sequência, o documento tratou do problema da não existência de um Mercado novo, destacando a falta de higiene na venda dos gêneros alimentícios e que a administração municipal estava pedindo um complemento orçamentário para poder realizar algumas providências referentes à higiene.

5 Mauricio Graccho Cardoso (1922/1926), filho do conceituado professor Brício Cardoso, o novo governante, depois de viver alguns anos no Ceará, como jornalista, professor e político vinculado aos Accioly, diante da derrocada política deste grupo, em momento de dificuldade foi para o Rio de Janeiro, aproximou-se de figuras influentes, integrou-se no esquema de Valadão-Lobo e, em 1922, foi eleito presidente do Estado de Sergipe. Pragmático, adotado pela oligarquia local, manifestou-se sempre reverente ao governo federal, mas isso não impediu de realizar a administração mais modernizadora do século XX em Sergipe. (DANTAS, 2004, p.39).

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O novo intendente, o engenheiro, Dr. Adolfho Espinheira Freire de Carvalho, diante da inviabilidade da construção do Mercado com os 200 contos de réis previstos, mediante a lei 292 de 18 de dezembro, promulga uma nova autorização de empréstimo, ao recém-criado Banco do Estado de Sergipe, no valor de 400 contos de reis.

Em 5 de fevereiro de 1924 foi lançada a pedra fundamental, do mercado público, na Praça da Estação, entre a rua de Japaratuba (atual José do Prado Franco) e o trapiche, defronte à construção do edifício da Associação Comercial (FIGURA 2), uma das primeiras edificações no local, a imagem apresentada é de 1931, em 1924 a Associação Comercial estava em construção, assim como, o Colégio N. Sra. de Lourdes, como já citamos anteriormente.

FIGURA 2: Associação Comercial 1931

Fonte: Álbum Photographico de Aracaju. Casa Amador. 1931, p.13.

A escolha da localização para a construção do Mercado foi determinada pela proximidade do porto e da estação ferroviária, descartando a ideia do projeto inicial que seria na Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). A planta original do mercado foi feita pelo próprio intendente Freire de Carvalho que projetou uma disposição arquitetônica quadrangular, com um pátio interno bem típico das construções de mercados do final do século XIX.

De acordo com Lima (2002, p. 190) na solenidade de lançamento da pedra fundamental do novo Mercado “[...] se fizeram presentes o presidente [...], o Dr. Graccho Cardoso acompanhado de outras autoridades, bem como de grande número de funcionários públicos”. O governo não mediria esforços para que a tão esperada obra fosse realizada, como iremos observar através da Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe (1925, p. 11-12):

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