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GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO: SUA FINALIDADE NA PERSPECTIVA DA INTEGRAÇÃO SABERES DISCIPLINARES

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Academic year: 2021

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GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO: SUA FINALIDADE NA PERSPECTIVA DA INTEGRAÇÃO SABERES DISCIPLINARES

Arthur Breno Stürmer1

Resumo: O presente relato inscreve-se no Eixo Temático n. 3 – Políticas e lutas educacionais;

subtema n. 3b – Políticas educacionais, currículo e mecanismo de avaliação. Nele se pretende descrever e discutir os principais pontos da atual pauta relativa à finalidade do ensino de geografia nos cursos técnicos de nível médio integrado, destacando a experiência docente no Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Primeiro se vai situar a Geografia entre as ciências, tal como concebida no IFAL; depois, o relato demonstra como a Geografia, enquanto elemento de Formação Geral se afina com o senso comum a respeito desta ciência. Então se passa a discutir a Geografia vista de outra forma: o desejo de se ter uma Geografia (possível) no contexto dos Institutos Federais segunda a perspectiva da integração curricular, buscando superar a dicotomia formação específica ou técnica x formação geral. Aponta-se, ainda, como alternativa para tanto, apoiar-se não apenas no ensino, mas também na pesquisa e extensão.

Palavras-chave: Ensino de Geografia. Institutos Federais. Ciências Humanas. Formação

Geral. Interdisciplinaridade.

Geografia: Ciência Humana

No Instituto Federal de Alagoas (IFAL), os cursos técnicos de nível médio têm a Geografia como um dos componentes curriculares enquadrados ora entre as Ciências Humanas e ora dentro das Ciências Humanas, Códigos de Linguagens (CHCL). Essa classificação varia conforme o grau de especialização alcançado em cada campus e conforme a matriz curricular dos cursos oferecidos. Assim, a Geografia conta com docentes atuando sob uma Coordenação de Ciências Humanas, uma Coordenadoria de Ciências Humanas, Códigos e Linguagens (CHCL) ou a uma Coordenação de Ensino. O pertencimento a uma ou outra forma de organização confere maior ou menor destaque à disciplina, embora predomine a tendência ao entendimento da Geografia como Ciência Humana. Isso tem diversos desdobramentos, como o reconhecimento da Geografia enquanto ciência, o fortalecimento e definição de seu papel entre os demais componentes curriculares.

Geografia para a Formação Geral

O Instituto Federal de Alagoas oferta a maior parte de suas vagas a alunos de cursos técnicos de nível médio, em especial os de matrícula unificada, também chamados de cursos

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências (PPGGEO) da UFSM. Docente do Instituto Federal de Alagoas (IFAL).

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técnicos integrados – que possuem em sua matriz curricular a Formação específica, técnica ou profissionalizante, com disciplinas do Núcleo integrador, e a Formação Geral, comum ou básica.

A Geografia situa-se como componente da Formação Geral (do educando), estando presente em todos os cursos técnicos integrados, sejam eles cursos de Informática, Eletrotécnica, Agropecuária, Meio Ambiente ou outro. Sua importância torna-se evidentemente teórica, constando como disciplina do currículo. Na prática, a Geografia ainda não conta com suporte – técnico ou tecnológico – para o desenvolvimento, por exemplo, da produção cartográfica, georreferenciamentos, sistemas de informação geográfica ou atividades mais complexas em campo.

O resultado é dado pelas condições em que a Geografia se encontra enquanto disciplina de um currículo formal voltado para a Formação Geral, de nível médio, da educação básica.

Geografia para o ensino, a pesquisa e a extensão

Conquanto a Geografia figure, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), como uma disciplina escolar com conteúdos próprios da Formação Geral – uma Geografia para a Formação Geral – e, informalmente, apenas como um conjunto de saberes auxiliares às disciplinas da Formação Específica, os Institutos Federais guardam particularidades em relação a outras instituições, como as escolas da rede estadual que oferecem o ensino médio. Além da sala de aula – o ensino –, a Geografia se faz presente na pesquisa e extensão, o que contraria a visão disseminada pelo senso comum a propósito da finalidade da Geografia e do papel do geógrafo.

Situar a Geografia (e a História) na categoria “atualidades” – o que é muito comum – nega a especificidade de cada ciência em particular e, ainda, contribui para sedimentar a ideia de que a Geografia se presta unicamente ao ensino e o geógrafo deva restringir seu trabalho à sala de aula.

A Geografia para a Formação Geral perde sua razão de ser e as concepções em que se apoia caem por terra ao se constatar que ela também é uma Geografia para a produção científica e para a divulgação científica na comunidade, cumprindo sua finalidade não somente através do ensino, mas pela pesquisa e extensão.

A Geografia para além do senso comum

O senso comum prega que a Geografia é uma disciplina que se ocupa das localizações, portanto com um papel bastante limitado quanto à possibilidade de intervenção válida no processo de transformação social.

É verdade que, na linguagem comum e no entendimento de outros especialistas, assim como de políticos e administradores, a geografia é frequentemente considerada como a disciplina que se preocupa com localizações. (...) mostra-se

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todavia limitante do rol de relações que se dão entre o homem e o meio e, por essa razão, revela-se insuficiente. (SANTOS, 2000, p. 103-104).

Há um tipo de geografia que enfatiza a descrição dos fenômenos de um espaço geográfico pouco dinâmico, logo distante da realidade concreta; uma geografia que facilita a memorização e desestimula a reflexão crítica; geografia cujo ensino se faz simplificando e não problematizando.

No ensino, essa geografia é responsável por despejar o conteúdo de forma bancária, desconhecendo o aluno e ignorando seu contexto histórico, social e geográfico; por ela o educando não é sujeito ativo; para ensiná-lo bastam aulas expositivas e o espaço da sala de aula; quem sabe dias de campo, trabalhos de campo, visitas técnicas para observações, descrições, registros; um simples laboratório de cartografia iria bem. Uma geografia dessas não vê problemas em se apoiar unicamente nas prescrições dos livros didáticos; afina-se com a mera transmissão de conteúdos, aceitando passivamente a monotonia dos textos, mapas, figuras e, assim, exige pouca qualificação do profissional da geografia – às vezes o dispensa.

Na pesquisa e extensão, essa geografia omite as contradições presentes no espaço geográfico em favor da neutralidade da ciência; consegue separar (ou manter separada) geografia física de geografia humana; advoga o uso da tecnologia e métodos estatísticos a fim de conferir mais cientificidade à produção e divulgação científicas; e, ante a busca pelo seu lugar entre as demais ciências, ou se isola ou procura se aproximar das ciências duras.

Essa geografia do senso comum não tem compromisso com a transformação social. Não segue, e até se distancia muito, das Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ciências Humanas e suas Tecnologias, emanadas da Secretaria de Educação Básica. Por ela, a Geografia do ensino fundamental e médio

Deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista a sua transformação. (BRASIL, p. 43).

O ensino de Geografia que pretende ir além do senso comum precisa propor “situações problematizadoras da realidade, a partir de temáticas capazes de mobilizar os estudantes para desencadear os processos de aprendizagem significativa e relevante.” (IBIDEM, p. 48-49).

Neste quesito, a Geografia apresenta-se, ainda, como um componente curricular, uma disciplina escolar e uma ciência humana, mas será capaz de problematizar uma gama muito grande de temas relacionados à natureza e à sociedade. O que lhe auxiliará na tarefa é a integração entre os saberes de outras ciências.

A Geografia (desejada) no Ensino Médio Técnico (integrado)

A experiência do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) é a de ter um Ensino Médio Técnico com matrícula (na modalidade) integrada. Não há uma integração disciplinar ou interdisciplinaridade, mas a integração formal, como um caminho para a prática da integração. Tal caminho aponta para a integração da Geografia às outras disciplinas, isso implicando em valorizá-la, ultrapassando o senso comum sobre ela criado, a começar pela

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seleção de conteúdos e saberes que sejam afins à formação específica (técnica, profissional) e à formação geral propostas pelos Institutos.

Uma opção, por exemplo, seria a seleção mais apurada de conteúdos de Geografia Urbana e Geografia Econômica pelos professores de Geografia para cursos técnicos em edificações e tecnológicos em construção civil, ou de Geografia Agrária e Geografia Econômica para cursos técnicos em agropecuária e agroecologia, tomando como referência seus planos de curso e as ementas das disciplinas.

Melhor ainda seria o planejamento coletivo entre professores de geografia e de disciplinas “técnicas” para buscar encaixes e interseções possíveis tanto entre conteúdos curriculares como entre e pelos objetivos de formação do aluno, considerando o perfil de formação almejado. Poder-se-ia, inclusive, criar campos multidisciplinares em função das características gerais de cada curso: projetos, programas ou disciplinas integradoras como espaços de discussão.

Na busca pela integração, caberia a realização de atividades conjuntas, seja no âmbito do ensino (aulas “integradas”, visitas técnicas “integradoras”, laboratórios multidisciplinares), seja na pesquisa (produção teórica interdisciplinar) e na extensão (cursos, eventos e divulgação científica com temáticas abrangendo diferentes áreas do saber, nas suas interseções).

Considerações finais

Mais que (des)integrada, a Geografia do senso comum ou para a Formação Geral levanta um ponto de discussão fundamental: o termo integração utilizado para denominar uma das modalidades de cursos técnicos de nível médio está servindo para se referir à matrícula única em um curso. Embora se pretenda formar um profissional técnico e um cidadão ao mesmo tempo, pode-se intentar formá-lo a partir da superação da dualidade representada pela Formação Específica e a Formação Geral.

Atualmente, a Geografia está situada, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), como uma disciplina escolar com conteúdos próprios da Formação Geral, que auxilia as disciplinas da Formação Específica. Não há um movimento bilateral de integração. Conquanto haja barreiras a separar a Formação Específica e a Formação Geral, a condição de disciplina auxiliar, de suporte, é um aspecto revelador da incipiente integração que se deseja no Ensino Médio Técnico. Nem a diversidade de atividades de ensino, pesquisa e extensão têm sido vistas como oportunidades de integração entre os saberes disciplinares ou entre as disciplinas do currículo dos cursos médios integrados.

Se a finalidade do ensino de geografia no Ensino Médio Técnico é formar o profissional e o cidadão, porque não resolver logo o quebra-cabeças criado dentro dos cursos para não reproduzir, na formação do aluno, a separação entre saber técnico e saber não-técnico, saber geral, ainda que o saber geográfico se constitua também como saber técnico?

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BRASIL. Ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Básica; Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2006. (Orientações curriculares para o ensino médio; v. 3)

IFAL. Plano de Desenvolvimento Institucional – 2014-2018. Maceió: Editora do IFAL, 2015.

MEC. Resolução CNE/CEB 2/2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, 31 de janeiro de 2012, Seção 1, p. 20.

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