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Tribunal do Júri: Possibilidade de execução provisória da pena antes de o tribunal julgar a apelação interposta pela defesa

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA THALYTA SILVEIRA DE SOUZA

TRIBUNAL DO JÚRI: POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA ANTES DE O TRIBUNAL JULGAR A APELAÇÃO INTERPOSTA PELA DEFESA

Tubarão 2019

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THALYTA SILVEIRA DE SOUZA

TRIBUNAL DO JÚRI: POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA ANTES DE O TRIBUNAL JULGAR A APELAÇÃO INTERPOSTA PELA DEFESA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Mateus Medeiros Nunes, Esp.

Tubarão 2019

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Dedico este trabalho aos meus pais, Marinaldo e Miriam, que sempre me ampararam nos momentos que precisei, e em especial à minha mãe, que me incentivou a ter o hábito da leitura.

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AGRADECIMENTOS

Ao estar vivenciando a presente etapa de conclusão do curso de bacharelado em Direito, não poderia de deixar o clichê de lado e me eximir de agradecer à Deus, pois tenho plena convicção que sem sua força superior, nada disso seria possível.

De igual forma, também agradeço imensamente aos meus pais, Marinaldo Mendes de Souza e Miriam Silveira de Souza, que da sua forma nunca deixaram de me apoiar e incentivar nos estudos, bem como por serem meu suporte de vida, e nunca medirem esforços para a minha felicidade.

À minha irmã, Miriane da Silveira Souza, por ser luz na minha vida, e ser incontestavelmente alguém com que sempre posso contar, e, ainda, à minha sobrinha Júlia Souza do Nascimento, por toda alegria e amor que traz dia após dia à nossa família.

À todos os operadores do direito com que tive contato e contribuíram para minha formação de conhecimento jurídico. Em especial cito a Dra. Jaqueline Fátima Rover, por oportunizar a realização do meu primeiro estágio junto ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O Dr. Anderson Adilson de Souza, pelos aprendizados durante o breve período de estágio que realizei no Ministério Público de Santa Catarina. E, finalmente, o Dr. Renato Müller Bratti, pela oportunidade de estágio junto à Vara Criminal, onde nasceu meu interesse pelo direito material e processual penal, em especial pelo Tribunal do Júri. Agradeço à todos pela atenção e sapiência transmitidas.

Às minhas colegas Amanda Gonçalves e Olívia Bitencourt, por tornarem minha jornada acadêmica menos árdua e por compartilharem as emoções e aprendizados desta importante etapa.

Ao meu namorado, Tiago Corrêa Biaggioni, pelo apoio e dedicação para comigo nesses momentos finais do curso, bem assim me permitir compartilhar a vida ao seu lado, momento em que estendo à toda sua família, meus agradecimentos por me acolherem carinhosamente.

Ao ser que esteve literalmente ao meu lado durante toda essa etapa de realização da presente monografia, Fred, por todo o amor e companheirismo transmitidos.

Um agradecimento especial ao meu orientador, Mateus Medeiros Nunes – que além de ser um excelente professor é dono de grande conhecimento jurídico – pela atenção e assistência perfeitamente dispensadas comigo.

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Por fim, agradeço de uma forma geral à todos que sabem que de alguma forma me auxiliaram, direta ou indiretamente, na realização deste trabalho de conclusão de curso, bem como durante toda a minha jornada na graduação em Direito.

Não foi fácil chegar até aqui, porém desistir nunca me foi uma opção. Obrigada a todos que contribuíram para isso.

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“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.” Sun, Tzu, A arte da guerra.

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RESUMO

O objetivo principal deste trabalho foi analisar a possibilidade de execução provisória da pena em caso de condenação pelo Tribunal do Júri antes mesmo de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa. Quanto ao delineamento metodológico, empregou-se quanto ao nível de profundidade, pesquisa exploratória, enquanto a coleta de dados deu-se através dos métodos bibliográfico e documental. Já a abordagem utilizada foi a qualitativa. Os resultados obtidos a partir das análises jurisprudenciais e doutrinárias feitas acerca do tema apontam que é possível a executar a pena provisoriamente quando o réu de processo oriundo do Tribunal do Júri é condenado e interpõe recurso de apelação pendente de julgamento pelo órgão de segundo grau. Os argumentos utilizados pelos defensores do tema e que inauguram um novo posicionamento, são superficiais e confusos, e baseiam-se unicamente em passagens pontuais de Guilherme de Souza Nucci e do professor José Afonso da Silva acerca do princípio da soberania dos veredictos. Dessa forma, da análise dos julgados, não houve elucidação dos motivos que levaram a suprema corte – em especial o Ministro Luís Roberto Barroso, que proferiu o voto de divergência do HC nº 118770 – a inferir que o princípio da soberania dos veredictos deveria se sobreluzir ao princípio da presunção de inocência. Assim, pôde-se concluir que a discussão que envolve o assunto está cada vez mais em evidência, e recentemente o plenário virtual do Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral do tema, assim, o caso será analisado em plenário e a decisão valerá para todos os casos semelhantes nas demais instâncias. Desta forma, cabe aguardar o posicionamento do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, para que, dessa forma, a matéria seja pacificada, dando fim à insegurança jurídica.

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ABSTRACT

The main objective of monography paper is to analyze the possibility was provisional execution of the sentence in case of conviction by the Jury Court before the Court judges an appeal lodged by the defense. As for the methodological design, we used the level of depth, exploratory research, while data collection was done through bibliographic and documentary methods. A qualitative approach has already been applied. The results obtained from the jurisprudential analyzes and therapeutic practices on the mentioned subject, that it is possible to execute a provisional penalty when the process proceeding from the Court of Justice is condemned and lodges an appeal pending judgment by the second instance test. The arguments used by the defenders of the theme and the inauguration of a new position are superficial and confusing, and are based solely on specific passages by Guilherme de Souza Nucci and Professor José Afonso da Silva on the principle of verdict sovereignty. Thus, from the analysis of the judges, there was no elucidation of the reasons that led to a supreme court - in particular Minister Luis Roberto Barroso, who a vote of dissent from the HC nº 118770 - deducing that the principle of verdict sovereignty should become the principle of presumption. of innocence. Therefore, conclude that a discussion on the subject is always more in evidence, and recently the virtual plenary of Supreme Court has had general repercussion on the subject, otherwise it will be discussed in plenary and decided if it will apply in all cases in the other instances. Thus, it is necessary to wait or position the Supreme Court on the subject, so that the matter is pacified, ending the legal guarantee.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 9

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 12

1.3 HIPÓTESE ... 12

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 12

1.5 JUSTIFICATIVA ... 13

1.6 OBJETIVOS ... 15

1.6.1 Geral ... 15

1.6.2 Específicos ... 15

1.7 CARACTERIZAÇÃO BÁSICA ... 15

1.8 ESTRUTURA BÁSICA DO RELATÓRIO FINAL ... 16

2 O TRIBUNAL DO JÚRI ... 18

2.1 ORIGEM HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI ... 19

2.2 Breve contextualização histórica do Júri no Brasil ... 20

2.3 Fundamento e competência do Tribunal do Júri ... 21

2.4 Princípios constitucionais do Júri ... 23

2.4.1 Plenitude de defesa ... 24

2.4.2 Sigilo das votações ... 25

2.4.3 Soberania dos veredictos ... 26

3 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS E O RECURSO DE APELAÇÃO NO JÚRI ... 28

3.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS ... 28

3.1.1 Presunção de inocência ... 29

3.1.2 Duplo grau de jurisdição ... 31

3.1.3 Vedação ao reformatio in pejus ... 32

3.1.4 Reformatio in mellius ... 34

3.2 APELAÇÃO NO RITO DO JÚRI ... 35

3.2.1 Conceito e características ... 35

3.2.2 Hipóteses de cabimento no júri ... 36

3.2.3 Aspectos procedimentais... 36

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3.2.3.2 Prazo ... 38 3.2.3.3 Competência para julgamento ... 40 3.2.3.4 Efeitos ... 40

4 TRIBUNAL DO JÚRI: POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA

PENA ANTES DE O TRIBUNAL JULGAR A APELAÇÃO INTERPOSTA PELA DEFESA ... 42

4.1 O ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A MUDANÇA DE POSICIONAMENTO ACERCA DA EXECUÇÃO DA PENA SEM TRÂNSITO EM JULGADO ... 43 4.2 EXECUÇÃO IMEDIATA DO VEREDICTO DOS JURADOS: PROBLEMÁTICAS . 46

5 CONCLUSÃO ... 52 REFERÊNCIAS ... 54

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade aferir a possibilidade de execução provisória da pena em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa, sob o viés do princípio da presunção de inocência e o princípio da soberania dos veredictos.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

Este estudo será analisado sob a ótica do Direito Penal, Processual Penal e Constitucional, e possui como finalidade demonstrar, no âmbito do ordenamento jurídico pátrio, a possibilidade de execução provisória da pena antes mesmo de o tribunal julgar a apelação interposta pela defesa, de forma a analisar e compreender o tema sob o enfoque do conflito existente entre os princípios da soberania dos veredictos e da presunção de inocência, os quais são elencados pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

O Habeas Corpus n. 126292 do Supremo Tribunal Federal (ainda que atualmente a Suprema Corte tenha mudado de entendimento), autorizou a execução provisória da pena após esgotarem os recursos que permitem discutir matéria de fato, que em regra ocorre no julgamento de segundo grau. Esse julgado relativizou o princípio da presunção de inocência.

Sabe-se que no rito do júri, a decisão que aprecia o recurso de apelação não permite o Tribunal alterar seu mérito, ou seja, o Tribunal “não poderá reapreciar os fatos e provas, na medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada soberanamente pelo Tribunal Popular” (CAVALCANTE, 2018, p. 11), contudo, pode submeter o réu a segundo julgamento.

De forma geral, existem duas correntes jurisprudenciais que analisam o tema. A que entende de forma positiva diz que é possível a execução da condenação pelo Juiz Presidente do Tribunal do Júri, independentemente do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso, em face do princípio da soberania dos veredictos.

Já a corrente que entende de forma contrária, diz que não é possível a execução provisória da pena em face de decisão do júri sem que haja o exaurimento em grau recursal das instâncias ordinárias, sob pena de macular o princípio constitucional da presunção de inocência. Assim, este trabalho abordará o Tribunal do Júri, que nas palavras de Carvalho (2013, p. 91): “[...] as discussões sobre o Tribunal do Júri são invariavelmente instigantes e

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muito ricas, o que permite que este espaço de jurisdição constitua-se em um constante, renovado e fértil campo de pesquisa”.

Diante de tais argumentos, é evidente ressaltar que para sua completa compreensão, será necessária a abordagem de temas correlatos, de forma a instruir a monografia acerca das bases para tal divergência, elucidando, portanto, as diversas interpretações referentes ao tópico em estudo.

Buscando tal finalidade, abordar-se-á posições doutrinárias e jurisprudenciais a respeito da problemática, em especial, os posicionamentos dos ministros da Suprema Corte Brasileira, a fim de discutir se a possibilidade de execução provisória da sentença penal condenatória, em determinados casos, viola ou não o princípio constitucional da presunção de inocência.

Sobre o tema, menciona Savernini (2018, p. 2-3):

A Constituição da República de 1988, abarca diversos direitos fundamentais e, dentre eles, a presunção de inocência. Pela sua interpretação literal, significa dizer que o acusado só é considerado culpado quando não há mais recurso cabível para impugnar a decisão que lhe condenou. Entretanto, a instabilidade política e econômica, bem como as 3 severas críticas feitas ao nosso sistema, tido como ultrapassado, ineficaz e extremamente moroso, fizeram com que a jurisprudência se movimentasse para tentar quebrar o paradigma da impunidade do sistema criminal brasileiro. Ocorre que, o legislador não pôde prever todas as situações existentes na prática jurídica e, por este motivo, a estrutura jurídica brasileira vem admitindo a aplicação da lei de acordo com a interpretação dada pelos Tribunais Superiores, em especial o Supremo Tribunal Federal.

Dessa forma, esta monografia será pautada em princípios constitucionais, quais sejam: a soberania dos veredictos e a presunção de inocência, de maneira a analisar a possibilidade de executar provisoriamente a pena do condenado pelo tribunal do júri que interpõe apelação ao Tribunal pendente de julgamento.

Acerca dos referidos princípios da soberania dos veredictos e a presunção de inocência, verifica-se que estes se encontram de forma explícita na constituição federal, respectivamente em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “c” e inciso LVII, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a

lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações;

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c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; [...]

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença

penal condenatória; (BRASIL, 1988) (Grifei).

Com o fim de compreender de maneira ampla a soberania dos veredictos, será realizada uma explanação no que diz respeito ao ponto de entendimento da Suprema Corte Brasileira, acerca da possibilidade de execução imediata da pena privativa de liberdade.

Sobre o princípio da soberania dos veredictos, diz Nucci (2016, p. 51):

Conforme disposto no art. 5.º, XXXVIII, c, da Constituição Federal, proferida a decisão final pelo Tribunal do Júri, não há possibilidade de ser alterada pelo tribunal togado, quanto ao mérito. No máximo, compatibilizando-se os princípios regentes do processo penal, admite-se o duplo grau de jurisdição. Ainda assim, havendo apelação, se provida, o tribunal determina novo julgamento, porém, o órgão julgador, quanto ao mérito da imputação, será, novamente, o Tribunal Popular.

Ainda sobre o tema, frisa Moraes (2017, p. 76) que “entende o Supremo Tribunal Federal, que declarou que a garantia constitucional da soberania do veredicto do júri não exclui a recorribilidade de suas decisões. Assegura-se tal soberania com o retorno dos autos ao Tribunal do Júri para novo julgamento”.

Relativo ao princípio da presunção de inocência, significa dizer que além de buscar considerar que todo acusado é presumido inocente, até que seja declarado culpado por sentença condenatória, com trânsito em julgado, também deve ser lido de encontro com os princípios do

indubio pro reo e da intervenção mínima do Estado.

O princípio da presunção de inocência está adstrito ao princípio da prevalência do interesse do réu, haja vista que quando existir dúvida, deve haver sempre uma ponderação de valores, sendo que o estado de inocência deve ter maior enfoque (NUCCI, 2016, p.34).

Além disso, Nucci (2016, p. 34) ensina que “[...] o princípio penal da intervenção mínima do Estado na vida do cidadão, [...] deve dar-se apenas quando absolutamente indispensável. Criminalizar todo e qualquer ilícito, transformando-se em infração penal, não condiz com a visão democrática do Direito Penal.”

De mais a mais, observando a atualidade e a grande relevância do tema, e ainda, sua repercussão na vida pessoal dos condenados por crimes dolosos contra a vida, torna-se básico a compreensão das razões e fundamentos do presente conflito, depreendendo de que maneira ele é entendido pelos Tribunais Superiores pátrios e, determinando quais as possíveis problemáticas comportadas por tal solução.

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Com isso busca-se “[…] conseguir um ponto de equilíbrio entre a efetividade do processo penal e a presunção de inocência também nas decisões do procedimento especial do júri.” (SAVERNINI, 2018, p. 3).

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Em caso de condenação do réu pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa?

1.3 HIPÓTESE

É possível a execução provisória da pena após o julgamento em primeiro grau no rito do júri, tendo em vista que eventual recurso de apelação, não permite que o Tribunal reforme a decisão dos jurados.

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Na abordagem do presente tema, foram utilizados os seguintes conceitos operacionais:

Apelação

Nas palavras de Nucci (2016, p. 834):

Cuida-se de recurso contra decisões definitivas, que julgam extinto o processo, apreciando ou não o mérito, devolvendo ao tribunal amplo conhecimento da matéria. Esta seria, a nosso ver, a melhor maneira de conceituar a apelação, embora o Código de Processo Penal tenha preferido considera-la como o recurso contra as sentenças definitivas, de condenação ou absolvição, e contra as decisões definitivas ou com força de definitivas, não abrangidas pelo recurso em sentido estrito.

Execução provisória da pena

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Atualmente, permite-se a denominada execução provisória da pena. Pode o condenado à pena privativa de liberdade, desde que esteja preso cautelarmente, executá-la provisoriamente, em especial quando pretende a progressão de regime, pleiteando a passagem do regime fechado para o semiaberto.

A viabilidade, segundo entendemos, somente está presente quando a decisão, no tocante à pena transitou em julgado para o Ministério Público, pois, dessa forma, há um teto máximo para a sanção penal.

Princípio da presunção de inocência

Segundo Lima (2016, p. 18), o referido princípio:

Consiste [...] no direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença transitada em julgado, ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório).

Princípio da soberania dos veredictos

Sua conceituação de acordo com Cury e Cury (2018, p. 182) aduz que

[...] quando o Tribunal ad quem avalia recurso interposto contra a decisão do Tribunal do Júri, deve anular a decisão para que haja realização de novo júri e, assim, seja proferido outro veredicto, pois não pode substituir aquela decisão recorrida por sua própria decisão.”

Tribunal do Júri

Para Cury e Cury (2018, p.180):

São de competência para o julgamento perante o Tribunal do Júri os crimes dolosos (dolo direto ou indireto) contra a vida e os crimes a eles conexos, nos termos do art. 5o, XXXVIII, da CF e art. 74 do CPP. O rito previsto para o procedimento especial para o julgamento dos crimes de competência do Tribunal do Júri é escalonado ou bifásico, ou seja, possui duas fases. A primeira fase é denominada de sumário da culpa ou judicium accusationis. Essa fase se inicia com o recebimento da denúncia e se encerra com a preclusão da decisão da pronúncia e tem por finalidade a formação do juízo de admissibilidade da acusação (juízo de prelibação). Tal fase vem prevista nos arts. 406 a 421 do CPP. A segunda fase do procedimento especial do júri é chamada de juízo da causa ou judicium causae, a qual se inicia após o trânsito em julgado da decisão de pronúncia, com o requerimento formulado pela acusação e defesa, no prazo de cinco dias, e finaliza com o trânsito em julgado da sentença proferida em plenário após a resposta dos quesitos pelos jurados. Nessa fase, há o julgamento do mérito da causa. A previsão legal da segunda fase do júri está nos arts. 422 a 497 do CPP. Ademais, a competência do júri está prevista no art. 5o, XXXVIII, da CF e art. 74, § 1o, do CPP.

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Inicialmente quando pensei em um tema para abordar na minha monografia, gostaria que fosse algo no ramo do direito penal e relacionado ao Tribunal do Júri, haja vista possuir afinidade e interesse pelo assunto.

Diante disso, iniciei uma pequena busca na internet sobre temas atuais que possivelmente poderiam ser objeto de estudo em um trabalho de conclusão de curso de direito, e também solicitei auxílio do meu professor orientador, que prontamente me forneceu algumas ideias.

Até que me deparei com alguns temas interessantes, no entanto, nenhum deles me despertou curiosidade em descobrir sua real aplicação.

Sempre tive a consciência de que a leitura de informativos do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça é de extrema importância para os operadores e estudantes de direito, assim como a população em geral, de maneira a se inteirar dos posicionamentos adotados pela corte superior brasileira.

Dessa forma, na busca do tema que me despertasse curiosidade e que poderia contribuir para a aplicação do direto na prática, resolvi fazer uma leitura dos últimos informativos do Supremo Tribunal Federal, quando um em especial me chamou atenção por tratar do Tribunal do Júri, o informativo nº 922 do Supremo Tribunal Federal.

Quando iniciei a leitura me encantei de imediato pelo tema, pois trazia, embora que de maneira minoritária ainda, uma nova forma de aplicação da lei processual penal sob um aspecto relevante, haja vista sua repercussão íntima na vida dos condenados por crimes dolosos contra a vida.

Ademais, em uma pesquisa feita através das bases de dados disponíveis à Unisul, tanto as de acesso livre como as assinadas e/ou conveniadas, como BDjur, RIUNI, BDTD, SciElo, e etc., pude verificar que o tema possui pouca ou nenhuma pesquisa semelhante.

Em muitas bases de dados, somente existem pesquisas que abordam a possibilidade de execução provisória da pena de maneira geral, e não com enfoque nas decisões condenatórias proferidas em processos que tramitam sob o rito do Tribunal do Júri.

O entendimento de que atualmente, no Direito Brasileiro, o trânsito em julgado seria pressuposto para execução da pena é considerado obsoleto, e é defendido por Kumode (2016), Savernini (2018) e Silva (2017). Evidenciando-se, assim, a possibilidade de execução provisória da pena, e oportunizando a pesquisa em relação a casos de condenação pelo Tribunal do Júri.

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Assim, depreende-se a importância de efetivar o presente estudo, de maneira a trazer ao direito uma nova ótica quanto à aplicação de princípios e entendimentos que podem influenciar decididamente no caso concreto de condenações de acusados de praticar crimes dolosos contra a vida.

Por fim, cabe frisar que a matéria ainda não está pacificada dentro da própria Corte do Supremo Tribunal Federal, de modo que impõe-se um tema extremamente atual que carece de estudos mais aprofundados, para que o posicionamento jurisprudencial acompanhe a realidade social do país.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Geral

Analisar a possibilidade de execução provisória da pena em caso de condenação pelo tribunal do júri antes mesmo de o tribunal julgar a apelação interposta pela defesa.

1.6.2 Específicos

Sintetizar a instituição do Tribunal do Júri.

Verificar os princípios constitucionais do rito do júri. Descrever os princípios processuais penais.

Estudar o recurso de apelação no rito do júri.

Descrever o conceito dos princípios da presunção de inocência e da soberania dos veredictos.

Discutir a possibilidade de execução provisória da pena.

Analisar o posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema.

1.7 CARACTERIZAÇÃO BÁSICA

O presente tema, conforme já explanado anteriormente, busca analisar a possibilidade de execução provisória da pena em caso de condenação pelo tribunal do júri antes mesmo de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa.

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As pesquisas podem ser classificadas quanto ao nível ou objetivos em três espécies: exploratória, descritiva e explicativa.

Esta tese pode ser caracterizada como pesquisa exploratória, haja vista que diante da seleção de posicionamentos dos tribunais superiores, mais especificamente de um informativo do Supremo Tribunal Federal, busca-se compreender a possibilidade, ou seja, uma variável, de execução provisória da pena em caso de condenação pelo tribunal do júri antes mesmo de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa, sob o viés dos princípios constitucionais da soberania dos veredictos e da presunção de inocência.

Quanto à abordagem, o presente estudo se enquadra na categoria qualitativa, considerando que analisará argumentações, controvérsias e entendimento jurisprudencial, ou seja, busca uma análise subjetiva.

Por fim, quanto ao procedimento de coleta de dados, trata-se de pesquisa bibliográfica e documental. Primeiro porque utiliza de fontes secundárias de forma a analisar conceitos, e segundo considerando que possui como objeto correntes jurisprudenciais (julgados), bem como argumentos a favor e contrários aos mesmos.

Em resumo, o trabalho abordará a recente discussão jurisprudencial a respeito da possibilidade do condenado pelo tribunal do júri por sentença ainda não transitada em julgado, ser custodiado para iniciar o cumprimento provisório da pena estabelecida.

O objetivo do trabalho é então, identificar o amparo normativo e principiológico que tenta sustentar essa possibilidade nos Tribunais.

1.8 ESTRUTURA BÁSICA DO RELATÓRIO FINAL

Esta monografia foi dividida em cinco capítulos. O primeiro capítulo tratará da introdução.

O segundo capítulo abordará o Tribunal do Júri, sua origem histórica, fundamento e competência bem como seus princípios constitucionais.

O terceiro capítulo far-se-á o estudo dos princípios processuais e o recurso de apelação no Júri.

O quarto capítulo discorrerá acerca da possibilidade de execução provisória da pena em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, antes mesmo de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa, momento em que se analisará o entendimento jurisprudencial da suprema

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corte brasileira sobre o tema e quais as problemáticas da execução imediata do veredicto dos jurados.

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2 O TRIBUNAL DO JÚRI

A instituição do Júri Popular pode ser conceituada como uma forma de a sociedade exercer a democracia, situação essa que, através do julgamento em plenário, o povo demonstra seu ideal de justiça, revestindo-se daquilo que a comunidade entende como justo.

De acordo com Campos (2008, p. 29):

O Júri é um órgão especial do Poder Judiciário de 1ª Instância, pertencente à Justiça comum, colegiado e heterogêneo – formado por um juiz togado, que é seu presidente, e por vinte e cinco cidadãos – que tem competência mínima para julgar os crimes dolosos praticados contra a vida, temporário (porque constituído para sessões periódicas, sendo depois dissolvido), dotado de soberania quanto às suas decisões, tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima convicção, sem fundamentação, de seus integrantes leigos.

Silva (2017) entende que o Júri seria uma tradução direta do significado do Estado Democrático de Direito, sob o argumento de que todo poder emana do povo, referindo-se, assim, ao princípio da soberania popular, que seria um princípio fundamental do Estado Democrático de Direito.

Ainda, para Silva (2017, p. 9):

[...] Enxerga-se o Júri como um instrumento de controle do poder estatal ao mesmo tempo em que se estabelece como uma ferramenta democrática, é compreensível a sua posição constitucional como uma garantia fundamental a todo cidadão, tendo sido assegurada pelo legislador constituinte de 1988. Nesse ínterim, pode-se afirmar que, mais do que uma singela forma procedimental, o Tribunal Popular se fortaleceu, ao longo do tempo, como um direito.

O Tribunal Popular é previsto na Marga Carta, no entanto, ao contrário do lógico, ao invés de estar inserido no capítulo do Poder Judiciário, encontra-se no dos Direitos e Garantias Individuais e Coletivos (art. 5º, inc. XXXVIII), o que evidencia sua origem histórica, como sendo uma “defesa do cidadão contra as arbitrariedades dos representantes do poder, ao permitir a ele ser julgado por seus pares”. (CAMPOS, 2008, p. 29).

Com suas peculiaridades adquiridas ao longo do tempo, a instituição do Júri é soberana e possui extrema relevância para o cenário do Ordenamento Jurídico Brasileiro de modo a “ampliar o direito de defesa dos réus, funcionando como uma garantia individual dos acusados pela prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que, em lugar do juiz togado, preso a regras jurídicas, sejam julgados pelos seus pares.” (CAPEZ, 2012, p. 648).

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2.1 ORIGEM HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Existem grandes debates acerca da origem histórica do Tribunal do Júri. “A controvérsia é tamanha que Carlos MAXIMILLIANO, após muita pesquisa, chegou a afirmar que ‘as origens do instituto, são tão vagas e indefinidas, que se perdem na noite dos tempos’.” (GOMES, 2017).

De entendimento majoritário, a origem mais antiga do Júri encontra-se na Magna Carta da Inglaterra de 1215. No entanto, antes mesmo de sua constituição pela Inglaterra, sabe-se que na Grécia e em Roma já havia conhecimento desta instituição. (NUCCI, 2016).

Nas palavras de Nucci (2016, p. 621) “a propagação do Tribunal Popular pelo mundo ocidental teve início, perdurando até hoje, em 1215, com o seguinte preceito: ‘Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de

julgamento de seus pares, segundo as leis do país’ (grifo nosso).”

Assim, com seu surgimento a partir da cultura inglesa trazido pelo Concílio de Latrão, em sua Carta Magna, o Júri ganhou espaço em outros ordenamentos jurídicos europeus (GOMES, 2017), tendo surgido na França, após a Revolução Francesa, com o ideal de liberdade e democracia, e objetivando o combate das ideias e métodos dos Juízes atuantes no regime monárquico. (NUCCI, 2016, p. 621).

Demonstrando dessa forma, que diversos outros países daquele continente adotaram esse rito, o que pontua seu prestígio. (GOMES, 2017).

Para corroborar, ensina James Tubenchlak (1991, p. 3 e 4):

[...] tendo por berço a Inglaterra, depois que o Concílio de Latrão aboliu as ordálias e os juízos de Deus, em 1215, espargiu-se o Júri, pelas mãos da Revolução Francesa, por numerosos países, notadamente da Europa, simbolizando vigorosa forma de reação ao absolutismo monárquico, vale dizer, um mecanismo político por excelência, malgrado com supedâneos místicos e religiosos, ainda presentes na fórmula do juramento do Júri inglês, onde há a expressa invocação de Deus.

Ao fim e ao cabo, percebe-se que com o decorrer do tempo, o Tribunal do Júri passou por diversas transformações, e em cada contexto histórico se fundou em determinados objetivos. No entanto, sempre se fundamentou na participação democrática, considerando que colocava nas mãos do povo, enquanto sociedade, a competência para julgar seus pares pelos delitos que praticavam.

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Dessa forma, conservada sua essência, atualmente pode-se afirmar que o Júri se consolidou como garantia constitucional do cidadão, por meio do qual a coletividade exerce seu poder de justiça obedecendo três princípios fundamentais, quais sejam: a soberania dos veredictos, o sigilo das votações e a plenitude da defesa. (SILVA, 2017).

2.2 Breve contextualização histórica do Júri no Brasil

A instituição do Tribunal Popular teve início no Brasil através da Lei de 18 de julho de 1822, e possuía como competência julgar os crimes de imprensa. Entende-se que a sua criação teria relação com uma carta injuriosa divulgada através do Diário Fluminense, remetida a Francisco Alberto Ferreira de Aragão, que tinha o posto de Intendente-Geral de Polícia da Corte na época. (WHITAKER, F. apud: LOPES FILHO, Mario Rocha, 2008, p. 13 apud SILVA, 2017, p. 12).

Assim, seguindo o fenômeno da propagação do Tribunal Popular vinda da Europa, por meio de um decreto do Príncipe Regente, o Júri instalou-se no país. “Era inicialmente um tribunal composto por 24 cidadãos ‘bons, honrados, inteligentes e patriotas’, prontos a julgar os delitos de abuso da liberdade de imprensa, sendo suas decisões passíveis de revisão pelo Regente.” (NUCCI, 2016, p. 692).

Após, “com a Constituição Imperial, de 25 de março de 1824, o Júri passou a integrar o Poder Judiciário como um de seus órgãos, tendo sua competência ampliada para julgar causas cíveis e criminais.” (CAPEZ, 2012, p. 648).

Em 29 de novembro de 1842, foi disciplinado pelo Código de Processo Criminal, momento em que adquiriu competência plena, que só foi restringida com a entrada em vigor da Lei n. 261. (CAPEZ, 2012).

Ainda, aduz Capez (2012, p. 648) que:

A Constituição de 1891 manteve o Júri como instituição soberana. A Constituição de 1937 silenciou a respeito do instituto, o que permitiu ao Decreto n. 167, de 5 de janeiro de 1938, suprimir esta soberania, permitindo aos tribunais de apelação a reforma de seus julgamentos pelo mérito. A Constituição democrática de 1946 restabeleceu a soberania do Júri, prevendo-o entre os direitos e garantias constitucionais. A Constituição de 24 de janeiro de 1967 também manteve o Júri no capítulo dos direitos e garantias individuais, e a Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, manteve a instituição no mesmo capítulo, mas restrita ao julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

(24)

No ano de 1988, o Júri previu-se no capítulo dos direitos e garantias individuais. E atualmente observa os princípios da Constituição de 1946, quais sejam: soberania dos veredictos, sigilo das votações e plenitude de defesa. Além disso, sua competência se limita a julgar os crimes dolosos contra a vida e os conexos. (NUCCI, 2016).

2.3 Fundamento e competência do Tribunal do Júri

Mesmo com toda sua trajetória transformativa, pode-se afirmar que o Tribunal do Júri conserva até hoje sua essência.

Verifica-se que em seu processo de transformação, ora foi considerado como órgão do Poder Judiciário, e outras vezes como sendo garantia individual, até que chegou-se aos dias atuais, em que está reconhecido pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, localizado no Título II: Dos Direitos e Garantias Individuais, que assim dispõe:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; (BRASIL, 1988).

Existe uma controvérsia doutrinária acerca da posição constitucional do Tribunal do Júri. A corrente majoritária é defendida por Rui Barbosa, Marcelo Caetano, Pontes de Miranda, José Afonso da Silva, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Hamilton Moraes e Barros, João Mendes Júnior, Julio Fabbrini Mirabete, Rogério Lauria Tucci, José Duarte, James Tubenchlak, Hélio Tornaghi, Pinto Ferreira, Aristides Milton, Rui Stoco, Hélio Costa, Nádia Araújo e Ricardo de Almeida, que defendem o júri como uma garantia, pois consideram que a garantia individual possui a finalidade de assegurar que o direito seja, com eficácia, fruído. (NUCCI, 2016, p. 693).

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Já a corrente minoritária é eludida pelos magistérios de Celso Bastos e Adriano Marrey, que consideram o Júri como um direito individual, ou seja, que declara situação inerente à pessoa humana. (NUCCI, 2016).

Nucci entende que o Tribunal do Júri pode ser considerado como uma garantia individual e critica o posicionamento de alguns doutrinadores que sustentam, ser uma garantia ao direito de liberdade. Sobre o tema, se posiciona o autor retro referido (2016, p. 693):

[...] Fosse assim, teríamos que admitir ser o júri um escudo protetor do criminoso, que atenta contra a vida humana, o que não pode ser admissível. Além disso, é preciso destacar ser o direito à vida igualmente protegido na Constituição – tanto quanto o direito à liberdade – de forma que o júri não poderia proteger um, em prejuízo do outro. A vida da vítima foi eliminada pelo réu e o Tribunal Popular não tem por fim proteger ou garantir fique o acusado em liberdade.

Diante disso, Nucci, aduz que o Júri não seria uma garantia constitucional ao direito de liberdade, mas uma garantia constitucional ao devido processo legal, pois, se houver condenação pelo crime doloso contra a vida, restou cumprido o devido processo legal. (NUCCI, 2016).

De mais a mais, embora não esteja no rol do artigo 92 da Constituição Federal, o júri é considerado majoritariamente como órgão do Poder Judiciário, conforme fundamenta Nucci (2016, p. 694/695):

[...]

a) o Tribunal do Júri é composto de um Juiz Presidente (togado) e de vinte e cinco jurados, dos quais sete tomam assento no Conselho de Sentença. O magistrado togado não poderia tomar parte em um órgão meramente político, sem qualquer vínculo com o Judiciário, o que é vedado não somente pela Constituição, mas também pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional;

b) o art. 78, I, do CPP determina que “no concurso entre a competência do júri e a de

outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri (grifamos), vindo

a demonstrar que se trata de órgão do Judiciário;

c) o art. 593, III, do CPP, prevê a possibilidade de recurso contra as decisões proferidas pelo júri ao Tribunal de Justiça, não tendo qualquer cabimento considerar que um “órgão político” pudesse ter suas decisões revistas, em grau de apelação, por um órgão do judiciário;

d) a inserção do júri no capítulo dos direitos e garantias individuais atende muito mais à vontade política do constituinte de considera-lo cláusula pétrea do que a finalidade de excluí-lo do Poder Judiciário;

e) a Constituição Estadual de São Paulo, como a de outros Estados da Federação, prevê, taxativamente, ser ele órgão do Judiciário (art. 54, III).

Em razão de sua competência, por razões de matéria, da pessoa ou do local dos fatos que geraram o crime, o Júri, reconhecido pela Constituição Federal como uno, pode ser

(26)

acolhido pela Justiça Comum da União, que seria o Júri Federal, ou à Justiça Comum dos Estados da Federação, que é o Júri Estadual. (CAMPOS, 2008).

Assim, sabe-se que o Tribunal do Júri possui competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, que estão previstos na parte especial do Código Penal, no Título dos Crimes contra a Pessoa, Capítulo I, Dos Crimes contra a vida, que são: homicídio (artigo 121), induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (artigo 122), infanticídio (artigo 123) e aborto (artigos 123 e 126), além das formas tentadas e dos crimes conexos.

Ainda, é importante ressaltar que esse rol não é taxativo, pois pode ser ampliado através de lei ordinária. E também não é possível suprimir o mesmo, considerando que esses delitos são o mínimo que a Constituição Federal exige para julgamento através do Tribunal Popular. (CAMPOS, 2008).

“Na perspectiva do legislador constituinte de 1988, nada seria mais imperioso do que delegar a competência do julgamento dos crimes mais graves aos quais a sociedade está sujeita para ela própria.” (SILVA, 2017, p. 19/20).

Assim, diante da possibilidade de ampliação da competência do Júri, a instituição não corre o risco de desaparecer por esse motivo, o que acabou acontecendo com outros países ao não cuidarem desse aspecto em suas respectivas Constituições, como por exemplo a Portugal e Espanha. (NUCCI, 2016).

“A cláusula pétrea no direito brasileiro, impossível de ser mudada pelo Poder Constituinte Reformador, não sofre nenhum abalo, caso a competência do júri seja ampliada, pois sua missão é impedir justamente o seu esvaziamento.” (NUCCI, 2016, p. 695).

Dessa forma, mesmo com algumas controvérsias no que diz respeito à amplitude da expressão delitos dolosos contra a vida, o que prevalece é que são de competência do Tribunal Popular os crimes previstos no Capítulo I, do Título I, da Parte Especial do Código Penal, ou seja, os artigos 121 a 127 do CPP. E também, as formas tentadas, além dos delitos conexos, por força da atração exercida pelo júri. (NUCCI, 2016).

2.4 Princípios constitucionais do Júri

Nas palavras de Nucci (2015, p. 23), princípio pode ser definido como “um momento em que algo tem origem; é a causa primária ou o elemento predominante da constituição de um todo orgânico.”

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Assim, considerando que a Constituição Federal é a base de todas as legislações, os princípios constitucionais devem ser entendidos como a base do sistema legislativo como um todo, ao menos com relação às das normas infraconstitucionais. (NUCCI, 2015).

São princípios do tribunal do júri previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 como cláusulas pétreas, os dispostos no artigo 5º, inciso XXXVIII, quais sejam: a) plenitude de defesa; b) sigilo das votações; c) soberania dos veredictos e d) competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (o qual já foi apresentado anteriormente).

2.4.1 Plenitude de defesa

De acordo com Nucci (2015) inexiste um autêntico devido processo legal, e devem ser observados e assegurados aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, que são princípios do processo penal que tratam de um dos bens mais valiosos no sistema jurídico, a liberdade individual.

O princípio da plenitude de defesa, está inserido no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “a” da Constituição Federal, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa; (BRASIL, 1988).

Nucci (2015, p. 25/26) aduz que no artigo 5º da Constituição existem duas garantias fundamentais que comumente se confundem, a ampla defesa e a plenitude de defesa, no entanto, a plenitude de defesa deve ser entendida como uma defesa perfeita e a ampla defesa como uma defesa vasta, que possui um significado extenso, considerando que:

O réu, no processo-crime comum, tem, como suporte, a defesa técnica, sem dúvida. Porém, se ela não atuar convenientemente, nem sempre precisará o juiz declarar o réu indefeso, nomeando-lhe outro advogado. Exemplificando: em alegações finais, o defensor levanta teses incompatíveis com a prova existente nos autos. Por uma questão de economia processual, buscando a celeridade do processo, vislumbrando o magistrado poder absolver o réu, sem se valer das teses ofertadas pela defesa, assim deve agir. Não havia sentido algum em se nomear outro defensor para corrigir o erro que o juiz pode fazer de ofício, bastando sentenciar.

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Dessa forma, verifica-se que a plenitude de defesa possui uma conceituação mais completa no que diz respeito à observância da defesa técnica, proporcionando mais do que a ampla defesa oferece em sua extensão.

Para corroborar, Alves (2018, p. 43) trata a plenitude de defesa como “um plus, um reforço à ampla defesa, que é atribuída apenas para os acusados em geral, permitindo-se que o réu, no Tribunal do Júri, se utilize de todos os meios lícitos de defesa, ainda que não previstos expressamente no ordenamento jurídico.”

Ainda, é importante destacar que o princípio em questão aborda a desnecessidade de fundamentação do jurado acerca de sua decisão, bastando apenas sua íntima convicção. (ALVES, 2018).

Em decorrência disso, Alves (2018) numera três consequências do princípio da plenitude de defesa: 1) a atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu é ainda maior; 2) é possível a defesa apresentar nova tese na réplica; e 3) ampliação do tempo da defesa nos debates sem que igual direito seja conferido ao Ministério Público.

Assim, pode-se afirmar que o princípio em tela demonstra a intenção do legislador constitucional de tratar o tribunal do povo como garantia individual considerando que se preocupa, excepcionalmente, com a qualidade do trabalho do defensor do acusado. (CAMPOS, 2008).

De forma final, ainda no âmbito do Tribunal do Júri, é interessante ressaltar que a plenitude de defesa é exercida possibilitando a utilização de todos os meios de defesa possíveis para convencer os jurados, até mesmo argumentos não jurídicos, tais como: sociológicos, políticos, religiosos, morais etc. Ideia essa que é corroborada por Campos (2018, p. 6) quando diz que “no Júri, não basta a ampla defesa, cabível em todos os processos, inclusive os administrativos. É necessário, [...], que ela seja plena, ou seja, que o trabalho do defensor se situe acima da média, seja o mais perfeito possível, sem retoques.”

2.4.2 Sigilo das votações

Segundo Campos (2018, p. 7) “visa tal princípio resguardar a tranquilidade e segurança dos membros do Conselho de Sentença para decidir o destino do acusado, sem medo de represálias, de quem quer que seja.”

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Ainda, é importante dizer, que para garantir o cumprimento desse princípio, bem assim a tranquilidade e segurança dos membros do Conselho de Sentença, o artigo 485, caput do Código de Processo Penal assegura aos jurados a deliberação em sala especial, ou sala secreta, momento em que não haverá publicidade de suas votações. (CAMPOS, 2018).

Com relação ao tema Nucci (2015, p. 29) aduz que:

Há uma discussão, atualmente superada pela ampla maioria tanto da doutrina, quanto da jurisprudência, a respeito da constitucionalidade da sala especial para votação. Alguns poucos sustentam que ela feriria o princípio constitucional da publicidade, previsto tanto no art. 5º, LV, quanto no art. 93, IX. Ocorre que o próprio texto constitucional – em ambos os dispositivos – menciona ser possível limitar a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social ou público assim exigem.

Corroborando, Pacelli (2018, p. 731) entende que o referido princípio “impõe o dever de silêncio (a regra da incomunicabilidade) entre os jurados, de modo a impedir que qualquer um deles possa influir no ânimo e no espírito dos demais, para fins da formação do convencimento acerca das questões de fato e de direito em julgamento.”

Assim, em suma, verifica-se que o princípio do sigilo das votações, objetiva de forma clara que as decisões a serem tomadas pelos jurados se deem de modo consciente e não sejam contaminadas por elementos alheios ao processo. (SILVA, 2017).

2.4.3 Soberania dos veredictos

Soberania significa dizer “poder supremo”, acima do qual não há outro. (NUCCI, 2015).

O princípio constitucional da soberania dos veredictos está ligado ao significado que de a decisão dos jurados é soberana, ou seja, em tese, não poderia ser contestada, com relação ao mérito, por qualquer Tribunal togado. (NUCCI, 2015).

Considerando que, de acordo com o artigo 472 do Código de Processo Penal, os jurados decidem de acordo com sua consciência e não segundo a lei, “não é possível que, sob qualquer pretexto, cortes togadas invadam o mérito do veredito, substituindo-o.” (NUCCI, 2015, p. 31).

Nesse sentido, é de grande discussão na doutrina, o fato de que com a revisão criminal, é possível adentrar-se o mérito, “desprezar-se a decisão soberana do povo, absolvendo o réu”. Esse fator é amplamente criticado por Nucci, que diz: “não existe, em nosso sentir, uma

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única justificativa plausível para que a vontade soberana do povo não deva prevalecer.” (NUCCI, p. 32).

Assim, o veredicto dos jurados não pode ser mudado em seu mérito por um tribunal togado, mas sim por outro Conselho de Sentença, no caso de interposição de recurso de apelação das decisões do júri proferidas ao “arrepio da prova”, que são as hipóteses do artigo 593, inciso III, alínea “c” do Código de Processo Penal, bem como para desconstituir sentença condenatória transitada em julgado proferida pelo Júri, por meio de revisão criminal (artigos 621 a 631 do Código de Processo Penal). (CAMPOS, 2008, p. 36).

Por esse ângulo, Campos ensina que (2008, p. 36/37 apud MARREY Adriano; SILVA FRANCO Alberto; STOCCO Rui, 2000, p. 102):

Se o Júri, em crime doloso contra a vida, decide contra a prova dos autos de modo manifesto, absolvendo o réu, o direito à vida, um dos direitos fundamentais da pessoa humana, não estará sendo assegurado, mas, ao contrário rudemente atingido, com o perigo evidente de tornar a proteção à vida um puro mito ou autêntica ficção, (...) quem vai examinar se a sentença do Júri está manifestamente contra a prova dos autos é órgão do Poder Judiciário, a quem a própria Constituição conferiu a guarda e a tutela suprema dos direitos individuais (...). Muito natural, portanto, que esse órgão examine se o direito individual ao julgamento pelo Júri, por ter sido abusivamente exercido, não atenta contra a segurança do direito à vida, que a Constituição também garante (...).

Ante o exposto, é de se concluir que, o princípio da soberania dos veredictos não afasta a possibilidade de recorribilidade das decisões ofertadas no âmbito do Júri, de modo que apenas um novo julgamento em plenário, nos mesmos moldes do primeiro já ocorrido, será eficaz para alterar o mérito do processo.

(31)

3 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS E O RECURSO DE APELAÇÃO NO JÚRI

O presente capítulo abordará os princípios processuais, que “de um modo geral, estão presentes em todo o sistema jurídico-normativo como elementos fundamentais da cultura jurídica humana.” (NUCCI, 2016, p. 12). Bem como o recurso de apelação no júri, que está tipificado no Código de Processo Penal, em seu artigo 593, inciso III.

3.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS

Segundo Nucci (2016, p. 31) “princípio jurídico quer dizer um postulado que se irradia por todo o sistema de normas, fornecendo um padrão de interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito positivo, estabelecendo uma meta maior a seguir.”

Cada ramo do direito possui princípios próprios, que por vezes se encontram de forma implícita ou explícita no ordenamento jurídico, a par disso temos o processo penal, que se ergue através de princípios que, “por vezes, suplantam a própria literalidade da lei.” (NUCCI, 2016, p. 31).

Convém ressaltar que, é de entendimento que existem princípios que são desdobramentos de outros, bem como também constituem autênticas garantias humanas fundamentais. Nucci (2016, p.32) exemplifica da seguinte forma:

Sabe-se ter o acusado o direito à ampla defesa, embora seja esta uma garantia do devido processo legal; por sua vez, para que a defesa seja realmente efetiva, demanda a garantia do contraditório, que não deixa de ser um direito da parte na relação processual. Fala-se, pois, em princípio da ampla defesa, sem esquecer que se trata de um direito e, simultaneamente, uma garantia.

Ademais disso, também existem princípios que decorrem de outros, estando dessa forma interligados, como é o exemplo do princípio da presunção de inocência e do in dubio pro

reo, onde existe a garantia do interesse do réu, em que seu estado natural é o de inocência,

portanto, diante de dúvida, deve-se decidir em favor do acusado. (NUCCI, p. 32).

Assim, a exemplo do exposto, como princípio constitucional explícito do processo penal, verifica-se o princípio da presunção de inocência, e como princípio constitucional implícito, temos o duplo grau de jurisdição, que são princípios aplicáveis no rito do júri e serão abordados a seguir.

(32)

3.1.1 Presunção de inocência

O referido princípio também é conhecido como estado de inocência (ou da não culpabilidade) e é encontrado na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVII, nos seguintes termos: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. (BRASIL, 1988), ou seja, toda pessoa processada criminalmente é considerada inocente até que se prove o contrário, através do trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

É importante dizer que o princípio da presunção de inocência não deve ser lido de forma absoluta e comporta exceções, exemplo disso é abordado por Pacelli (2018, p. 50) quando diz que:

No julgamento do HC 126292 (posteriormente referendado pelo Plenário nas ADC nos 43 e 44, em 5.10.2016), porém, o Supremo Tribunal Federal modificou

radicalmente a sua posição sobre o princípio da não culpabilidade, permitindo a

execução provisória da condenação já após a decisão do Tribunal de segundo grau. A decisão, como se vê, desconsidera a exigência do trânsito em julgado, dando-lhe significado diverso daquele constante da legislação brasileira em vigor, que trata da questão como a decisão da qual não caiba mais recurso.

De outro norte, verifica-se que o princípio em questão, de forma geral, traz importantes consequências para o Processo Penal, quais sejam: que o ônus da prova cabe, em regra, à acusação; a excepcionalidade das prisões cautelares, e, por fim, a excepcionalidade das medidas constritivas de direitos individuais. (ALVES, 2018).

Dizer que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa significa que “as pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável ao Estado-acusação evidenciar, com provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu.” (NUCCI, 2016, p. 34).

A par disso, evidencia-se a ocorrência de exceções, conforme ensina Alves (2018, p. 36/37):

[...] registre-se que esta consequência comporta importante exceção, tendo em vista que o ônus da prova das causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade compete ao acusado, embora a Lei nº 11.690/08 tenha autorizado o juiz absolver o réu mesmo se apenas houver fundada dúvida sobre a existência destas causas, conforme previsão contida no art. 386, inciso VI, do CPP. Ademais, também é ônus da defesa a prova de causas de extinção da punibilidade (art. 107 do CP) e de circunstâncias que mitiguem a pena.

(33)

Assim, verifica-se que a alegação de que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa não é absoluto – muito embora seja aplicado com maior veemência – pois conforme visto, comporta exceções acerca do ônus da prova da defesa, demonstrando-se ocasiões em que a defesa deve exercer seu ônus de prova.

De outro norte, a consequência da excepcionalidade e a necessidade das prisões cautelares, é evidenciada no fato de que “indivíduos inocentes somente podem ser levados ao cárcere quando realmente for útil à instrução e à ordem pública.” (NUCCI, 2016, p. 34).

Dessa forma, verifica-se que a decretação da prisão provisória deve ser medida de

ultima ratio, e somente pode ser aplicada quando não for cabível sua substituição por outra

medida cautelar, considerando que fere o princípio da presunção de inocência.

Assim, com relação à prisão preventiva, ausentes os motivos cautelares que podem ensejar sua decretação (que são exigidos pelo artigo 312 do Código de Processo Penal) a regra é a de que o indivíduo responda o processo em liberdade, devendo ser contemplado com liberdade provisória, com ou sem fiança, sempre que a lei autorizar (artigo 5º, inciso LXVI da Constituição Federal). (ALVES, 2018).

Por fim, com relação às medidas constritivas de direitos individuais, estas podem ser entendidas como àquelas indicadas no artigo 319 do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

(34)

Além das citadas, também são consideradas exemplos de medidas constritivas de direitos individuais a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico, bem assim a violação de domicílio em virtude de mandado de busca.

Acerca da excepcionalidade das medidas retro referidas, entende-se que “o raciocínio desenvolvido para as prisões cautelares deve ser estendido para toda e qualquer medida constritiva de direitos individuais, daí porque ela somente poderá ser realizada se for absolutamente indispensável à persecução criminal.” (ALVES, 2018, p. 38).

Dessa forma, “o estado de inocência somente merece ser alterado para o de culpado quando se tratar de delitos realmente importantes – e não singelas insignificâncias ou bagatelas.” (NUCCI, 2016, p. 34).

3.1.2 Duplo grau de jurisdição

Estabelece o presente princípio a garantia à parte ao direito de reexame da causa em instância superior, através de recurso, ou seja, o duplo grau de jurisdição é a possibilidade do reexame da matéria de fato e de direito, por outro órgão jurisdicional de hierarquia superior. “Além de garantir a revisão da decisão de primeiro grau, também compreende a proibição de que o tribunal ad quem conheça além daquilo que foi discutido em primeiro grau, ou seja, é um impedimento à supressão de instância.” (LOPES JR., Auri, 2018, p. 971).

A priori, é importante dizer que o referido princípio não se encontra de forma

expressa nos textos legais, decorrendo, portanto, “da própria estrutura do Poder Judiciário traçada na Constituição Federal, consistente na divisão do mesmo em instâncias diversas, começando pelos magistrados singulares, passando pelos respectivos tribunais a que eles estão vinculados, pelo STJ e finalmente chegando ao órgão de cúpula, o STF.” (ALVES, 2018, p. 55).

No entanto, o duplo grau de jurisdição está consagrado expressamente no Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário. In verbis:

Artigo 8º - Garantias judiciais [...]

2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

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h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior. (Grifou-se).

(SARAIVA, 2019). (Grifei).

O Pacto São José da Costa Rica possui no Brasil status de norma supralegal, haja vista o entendimento do Supremo Tribunal Federal proferido nos julgamentos do RE nº 466.343/SP e HC nº 87.585/TO (informativo nº 531). (ALVES, 2018).

O que é corroborado com o fato de que, “após a edição da Emenda 45/2004, prevê-se o prevê-seguinte: ‘os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais’ (art. 5º, §3º, CF).” (NUCCI, 2016, p. 52).

Destarte, o duplo grau de jurisdição é defendido por Nucci (2016) como princípio básico no processo penal, pois possibilita que a parte busque o reexame da causa por órgão jurisdicional superior.

Dessa forma, enseja o controle dos atos estatais, bem como traz a segurança de que, “ao menos em tese, o juiz de primeiro grau ficaria psicologicamente mais pressionado a acertar na decisão, para evitar revisão por parte do Tribunal, enquanto que este, por sua vez, é constituído por magistrados mais experientes, que melhor poderiam julgar a causa.” (ALVES, 2018, p. 55).

Em razão do exposto é que se estabelece o princípio em apreciação, cujo objetivo é garantir à parte o direito de reexame da causa por instância superior.

3.1.3 Vedação ao reformatio in pejus

A vedação ao reformatio in pejus pode ser entendida como o impedimento da instância superior de modificar o julgado piorando a situação da parte recorrente, quando a acusação não ofereceu recurso na mesma oportunidade, mesmo que haja erro evidente na sentença, como, por exemplo, pena fixada abaixo do mínimo legal.

“Se apenas o réu recorre, deve o juízo ad quem, no julgamento, ater-se ao que lhe foi pedido. Caso contrário, estaria proferindo uma decisão ultra ou extra petitum, ultrajando, assim, o sistema acusatório.” (TOURINHO FILHO, 2013, p. 498).

(36)

Dessa forma, entende-se que quando apenas a defesa interpõe recurso, esta não irá pedir o agravamento da pena, portanto, o Órgão Jurisdicional não poderá exercer sua atividade sem ser provocado, ou seja, de ofício. (TOURINHO FILHO, 2013).

“Portanto, diante de um exclusivo recurso da defesa, o tribunal pode dar provimento no todo ou em parte, ou manter intacta a decisão de primeiro grau.” (LOPES, JR., AURI, 2018, p. 985).

A vedação ao reformatio in pejus, está tipificada no artigo 617 do Código de Processo Penal – embora seja relativo ao recurso de apelação, também é aplicável à todas as modalidades de recursos – que diz: “o tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a

pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.” (BRASIL, 1941), ou seja, “a

instância recursal, poderá em caso de recurso exclusivo da defesa, atribuir ao fato descrito na denúncia definição jurídica diversa e, ainda, reconhecer agravantes e circunstâncias judiciais desfavoráveis ao réu, sempre observando, no entanto, a impossibilidade de agravar a pena aplicada em primeiro grau.” (GONÇALVES; REIS, 2017, p. 677). (Grifei).

Sobre este instituto, Pacelli (2018, p. 962) entende que:

[...] A garantia do duplo grau, como conteúdo da ampla defesa, deve abranger também a garantia da vedação da reformatio in pejus. O risco inerente a todas as decisões judiciais poderia ter efeitos extremamente graves em relação ao acusado, no ponto em que atuaria como fator de inibição do exercício do direito ao questionamento dos julgados.

Logo, a existência do princípio em tela proporciona uma garantia à parte recorrente de que, mesmo com a interposição de recurso, sua situação processual não poderá sofrer piora, evitando, portanto, que a parte se conforme com a sentença condenatória, até mesmo quando inocente. (PACELLI, 2018).

O pensamento retro apresentado é corroborado por Nucci (2015, p. 848/849) quando diz que “admitir o princípio da reforma em prejuízo da parte retiraria a voluntariedade dos recursos, provocando no espírito do recorrente enorme dúvida, quanto à possibilidade de apresentar recurso ou não, visto que não teria garantia de que a situação não ficaria ainda pior.” Também está vedada a reformatio in pejus indireta, que é muito bem exemplificada por Auri Lopes Júnior (2018, p. 986):

[...] o juiz condena o réu a uma pena de 4 anos de reclusão por determinado delito. Em grau recursal, o tribunal, acolhendo a apelação da defesa, anula a sentença por ter‐

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se baseado em prova ilícita, determinando o desentranhamento e a repetição do ato. Na nova sentença, o réu é condenado a uma pena de 5 anos de reclusão.

Assim, a configuração da reformatio in pejus indireta pode ensejar nova nulidade da sentença. É considerada indireta pois a piora na situação do réu é efeito do acolhimento do recurso da defesa, ou seja, não foi causada diretamente pelo tribunal. (LOPES JR., AURI, 2018).

Com relação à aplicabilidade do reformatio in pejus indireta no rito do júri, verifica-se a ocorrência de regra especial, haja vista que, verifica-sendo anulado o primeiro julgamento, o segundo a ser realizado com um novo conselho de sentença não poderá ter a atuação dos jurados limitada, somente quanto as matérias de competência do juiz.

Na sentença do júri, os jurados decidem as matérias aduzidas no artigo 483 do Código de Processo Penal, e o juiz as matérias do artigo 492 do Código de Processo Penal.

Gonçalves e Reis (2017, p. 679) trazem o seguinte exemplo sobre o tema:

[...] o réu foi acusado por homicídio qualificado e os jurados desclassificaram para homicídio simples. O acusado apela e o tribunal anula o julgamento. No novo plenário, os outros jurados poderão reconhecer o homicídio qualificado, em razão do princípio constitucional da soberania dos veredictos. Salienta‐se, porém, que, se no primeiro julgamento o juiz tinha fixado pena mínima para o homicídio simples, no segundo deverá também aplicar a pena mínima para o qualificado.

Dessa forma, verifica-se que esse impedimento de limitar a atuação dos jurados está relacionado com o princípio da soberania dos veredictos, haja vista que a vedação da reformatio

in pejus não inibe os jurados da liberdade de julgar a pretensão punitiva, de acordo com a

formulação da sentença de pronúncia.

Em suma, não pode haver limitação da competência dos jurados quanto à decisão, entretanto, o juiz está limitado à aplicação da dosimetria da pena acerca do que foi decidido na primeira sentença anulada.

3.1.4 Reformatio in mellius

Se por um lado diante de recurso exclusivo da defesa é vedada a reforma para pior da situação jurídica do réu, por outro, sempre será possível a reforma da decisão para melhorar sua situação, inclusive quando ele não recorre, configurando-se, assim, a reformatio in mellius. (LOPES JR., 2018).

Referências

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