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3.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS

3.1.1 Presunção de inocência

O referido princípio também é conhecido como estado de inocência (ou da não culpabilidade) e é encontrado na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVII, nos seguintes termos: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. (BRASIL, 1988), ou seja, toda pessoa processada criminalmente é considerada inocente até que se prove o contrário, através do trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

É importante dizer que o princípio da presunção de inocência não deve ser lido de forma absoluta e comporta exceções, exemplo disso é abordado por Pacelli (2018, p. 50) quando diz que:

No julgamento do HC 126292 (posteriormente referendado pelo Plenário nas ADC nos 43 e 44, em 5.10.2016), porém, o Supremo Tribunal Federal modificou

radicalmente a sua posição sobre o princípio da não culpabilidade, permitindo a

execução provisória da condenação já após a decisão do Tribunal de segundo grau. A decisão, como se vê, desconsidera a exigência do trânsito em julgado, dando-lhe significado diverso daquele constante da legislação brasileira em vigor, que trata da questão como a decisão da qual não caiba mais recurso.

De outro norte, verifica-se que o princípio em questão, de forma geral, traz importantes consequências para o Processo Penal, quais sejam: que o ônus da prova cabe, em regra, à acusação; a excepcionalidade das prisões cautelares, e, por fim, a excepcionalidade das medidas constritivas de direitos individuais. (ALVES, 2018).

Dizer que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa significa que “as pessoas nascem inocentes, sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna- se indispensável ao Estado-acusação evidenciar, com provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu.” (NUCCI, 2016, p. 34).

A par disso, evidencia-se a ocorrência de exceções, conforme ensina Alves (2018, p. 36/37):

[...] registre-se que esta consequência comporta importante exceção, tendo em vista que o ônus da prova das causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade compete ao acusado, embora a Lei nº 11.690/08 tenha autorizado o juiz absolver o réu mesmo se apenas houver fundada dúvida sobre a existência destas causas, conforme previsão contida no art. 386, inciso VI, do CPP. Ademais, também é ônus da defesa a prova de causas de extinção da punibilidade (art. 107 do CP) e de circunstâncias que mitiguem a pena.

Assim, verifica-se que a alegação de que o ônus da prova cabe à acusação e não à defesa não é absoluto – muito embora seja aplicado com maior veemência – pois conforme visto, comporta exceções acerca do ônus da prova da defesa, demonstrando-se ocasiões em que a defesa deve exercer seu ônus de prova.

De outro norte, a consequência da excepcionalidade e a necessidade das prisões cautelares, é evidenciada no fato de que “indivíduos inocentes somente podem ser levados ao cárcere quando realmente for útil à instrução e à ordem pública.” (NUCCI, 2016, p. 34).

Dessa forma, verifica-se que a decretação da prisão provisória deve ser medida de

ultima ratio, e somente pode ser aplicada quando não for cabível sua substituição por outra

medida cautelar, considerando que fere o princípio da presunção de inocência.

Assim, com relação à prisão preventiva, ausentes os motivos cautelares que podem ensejar sua decretação (que são exigidos pelo artigo 312 do Código de Processo Penal) a regra é a de que o indivíduo responda o processo em liberdade, devendo ser contemplado com liberdade provisória, com ou sem fiança, sempre que a lei autorizar (artigo 5º, inciso LXVI da Constituição Federal). (ALVES, 2018).

Por fim, com relação às medidas constritivas de direitos individuais, estas podem ser entendidas como àquelas indicadas no artigo 319 do Código de Processo Penal, in verbis:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi- imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

Além das citadas, também são consideradas exemplos de medidas constritivas de direitos individuais a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico, bem assim a violação de domicílio em virtude de mandado de busca.

Acerca da excepcionalidade das medidas retro referidas, entende-se que “o raciocínio desenvolvido para as prisões cautelares deve ser estendido para toda e qualquer medida constritiva de direitos individuais, daí porque ela somente poderá ser realizada se for absolutamente indispensável à persecução criminal.” (ALVES, 2018, p. 38).

Dessa forma, “o estado de inocência somente merece ser alterado para o de culpado quando se tratar de delitos realmente importantes – e não singelas insignificâncias ou bagatelas.” (NUCCI, 2016, p. 34).

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