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Salini Cultura

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Academic year: 2021

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(2) Guia de Boas Práticas de Salinicultura Editor: Animação Local para o Desenvolvimento e Criação de Emprego na Ria Formosa Autor: Necton SA Coordenação João Navalho | Necton SA Equipa de redacção: João Navalho | Sarah Prévot Fotografias: Jean Pierre Prévot | Necton SA | Rui Cunha Ilustrações: Alexandra Matos Design Gráfico e Paginação: Bloco d. design e comunicação, Lda. | Faro Tiragem: 500 exemplares Olhão, 2006. .

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(5) 7. 1. Introdução 1.1. Importância do ecossistema para a Salinicultura 1.2. Parque Natural da Ria Formosa. 9 10. 2. Conceitos Gerais 2.1. A História 2.2.1. A importância do sal na história do Homem 2.1.2. Salinicultura, uma tradição secular em Portugal 2.2. Os salgados do país 2.2.1. Evolução da Salinicultura de modo Tradicional no Algarve 2.3. O mercado 2.3.1. Breve análise do mercado mundial 2.4. A Fisico-Química 2.4.1. Os oceanos, porque o mar é salgado 2.4.2. Salinidade e densidade 2.4.3. Evaporação da água e cristalização dos sais 2.4.4. Granulometria 2.5. O clima 2.5.1. Noções gerais 2.5.2. Condições climatéricas do salgado do Algarve 2.6. O solo. 15 16 18 19 19 20 20 25 25 25 28 28 29 29 30 30. 3. A actividade – Salinicultura 3.1. Apresentação de uma salina Tradicional 3.2. O processo de evaporação 3.3. Produtos de uma salina tradicional 3.3.1. O Sal Marinho Tradicional 3.3.2. A Flor de Sal 3.3.3. Outros produtos 3.4. Material, equipamento e utensílios ou alfaias 3.4.1. Mecanismos de passagem da solução salina entre os reservatórios 3.4.2. Canais de passagem de água 3.4.3. Material e utensílios ou alfaias 3.5. O Ciclo de Produção 3.5.1. Tomada de água 3.5.2. Limpeza 3.5.3. Preparação das “Águas mãe” 3.5.4. Alimentação dos Cristalizadores e época produtiva 3.5.5. A Alagação 3.6. Colheita e processamento primário 3.6.1. Recolha da Flor de sal 3.6.2. Recolha do Sal marinho Tradicional 3.6.3. Secagem 3.7. Transporte da Flor de sal e do Sal Marinho Tradicional 3.8. Armazenamento e embalamento 3.8.1. Modo armazenamento. 33 37 39 39 40 40 40 40 41 41 43 43 44 47 48 48 49 49 51 53 54 55 55. 4. Requisitos básicos para desenvolvimento da actividade 4.1. Enquadramento Jurídico da actividade e principais procedimentos para o licenciamento. 4.1.1. Enquadramento legal Jurídico da actividade de Salinicultura 4.1.2. Licenças 4.1.3. Principais procedimentos a efectuar para o licenciamento 4.2. Certificação 4.2.1. Porquê certificar o Sal Marinho Tradicional e a Flor de Sal? 4.2.2. Quem certifica estes produtos? 4.3. Pessoal 4.3.1. Higiene 4.3.2. Formação 4.3.3. Embalagem. 59 60 61 62 63 64 64 65 65 66 66. Bibliografia. 68. 59. Glossário. 70. Alguns Ditos Populares. 87. Anexos. 90. . ÍNDICE. Resumo.

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(7) RESUMO A costa algarvia possui uma larga tradição na produção de sal marinho tradicional que data desde o séc. XIV (Ferreira da Silva, 1946). Em 1790 a sua produção ultrapassava os 50% da produção nacional da década de oitenta, tornandose o principal centro produtor do País. Durante cerca de 150 anos esta foi a única região em que se verificou um incremento na actividade, contudo a partir de 1970 a produção nacional decresce devido a vários factores, tais como, a industrialização da actividade e à contínua desvalorização do sal (Quaresma, A., 2000). Hoje em dia a actividade tradicional está a renascer, o trabalho conjunto de vários produtores tem valorizado a Salinicultura de modo Tradicional. A Ria Formosa é uma zona protegida incluída no Parque Natural da Ria Formosa (PNRF) criado pelo Dec. Lei n.º 373/87 de 9 de Dezembro, posteriormente regulamentado pelo Decreto Regulamentar n.º 2/91, de 24 de Janeiro, (POPNRF, 2004). Esta vasta região lagunar que se estende ao longo de 57,5 km da costa sul do sotavento algarvio, desde o Ancão à Manta Rota, ocupa cerca de 18 000 ha, distribuídos pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo por duas penínsulas e 5 ilhas: Península do Ancão, Ilha da Barreta (ou Deserta), Ilha da Culatra, Ilha da Armona, Ilha de Tavira, Ilha de Cabanas e Península de Cacela (POPNRF, 2004). . RESUMO. António. A sul, a Ria é delimitada por um sistema de ilhas-barreira constituído.

(8) Actualmente a área ocupada por salinas tradicionais no Parque Natural da Ria Formosa é de aproximadamente 140 ha, em que a maioria se encontra abandonada (Quaresma A., 2000). Com o presente Guia pretende-se enquadrar a Salinicultura na área do Parque Natural da Ria Formosa e valorizá-la, descrevendo-a como a actividade sustentável e “ecológica” que é. A formação e a organização para o cultivo da terra e aproveitamento dos recursos naturais, criando riqueza nas famílias, é a razão de ser das parcerias de desenvolvimento. Lançando raízes no próprio local, valorizando os recursos existentes e investindo aí a riqueza criada, para um desenvolvimento económico e social que seja duradouro. Foi nesta óptica que nasceu o Projecto “Animação Local para o Desenvolvimento e Criação de Emprego na Ria Formosa” que se enquadra no Programa da Iniciativa Comunitária EQUAL que é um dos principais instrumentos com que a União Europeia, através do Fundo Social Europeu, realiza a Estratégia Europeia para o Emprego. A iniciativa EQUAL é dirigida àquelas pessoas cuja situação de discriminação e desigualdade as impede da incorporação em processos de integração no mercado de trabalho e do acesso às políticas de emprego. O presente projecto contempla o esforço de seis parceiros nacionais, sendo eles o Município de Olhão; o Instituto de Conservação da Natureza (ICN)/Parque Natural da Ria Formosa; a Necton - Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas, SA; a Formosa – Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa, CRL; a Fundação da Juventude e a Associação Nossa Senhora dos Navegantes da Ilha da Culatra (A.N.S.N.I.C.), no sentido de promover a integração de públicos desfavorecidos no mercado de trabalho directamente dependente das suas actividades produtivas sustentadas num sistema lagunar protegido. O projecto teve como principais objectivos fomentar o espírito empreendedor e empresarial em públicos desfavorecidos pela via da formação e revitalização do tecido económico da Ria; valorizar os recursos da Ria Formosa numa óptica de diversificação das produções, definir critérios de qualidade e qualificação comercial; desenvolvimento sustentável da salinicultura, da moluscicultura, da pesca e do turismo natureza neste sistema lagunar; promover uma nova cultura de relacionamento entre as populações locais e as entidades com competências na área do projecto e aprofundar a parceria de desenvolvimento para o concelho de Olhão/núcleo piscatório da Ilha da Culatra, assente numa metodologia de gestão participada e numa lógica de desenvolvimento local integrado que se auto-sustente para além do âmbito e do tempo do projecto. Sendo este projecto abraçado pelo município de Olhão, empresas, cooperativas, associações e afins do sector da aquacultura sediados na cidade de Olhão, à que referir a importância do sector salícola neste concelho que possui excelentes condições naturais para o desenvolvimento desta actividade e alguma experiência empresarial neste tipo de produção, encontrando-se actualmente este sector num processo de franca consolidação. Como resultados previstos deste projecto salientam-se a empregabilidade, a Marca Parque Natural da Ria Formosa e 3 guias de boas práticas em Turismo da Natureza, Salinicultura e Moluscicultura. Neste sentido foi adquirida formação, em contexto de trabalho, quer pelas técnicas do projecto quer pelos formandos, potenciais marnotos/salinicultores, sendo efectuados em paralelo inquéritos junto da população alvo e marnotos, no sentido de apurar opiniões e práticas desta actividade de modo a poder não só compilar informação como rectificar metodologias. É dentro deste prisma que nasce este guia que pretende ser antes de mais uma ferramenta actualizada e completa que à luz do contexto da Salinicultura de modo Tradicional, tece algumas linhas orientadoras no sentido de esclarecer sobre as diversas vertentes desta. RESUMO. actividade, que vão desde o enquadramento legal, passando pela metodologia adequada a ser aplicada na produção de Sal Marinho Tradicional e Flor de Sal, conciliando ao modo de saber fazer passado de geração em geração com os modernos processos de controlo de qualidade, cada vez mais imprescindíveis para valorização do produto junto ao consumidor. .

(9) 1. Introdução 1.1 Importância do ecossistema para a Salinicultura. A Salinicultura de modo tradicional concilia uma actividade económica sustentável com a preservação do meio ambiente na qual se integra. Este modo de produção apresenta características que proporcionam a biodiversidade do ecossistema, pois a manutenção da flora associada às salinas não só confere uma mais valia para a actividade em si (protecção dos muros), como oferece condições para o desenvolvimento de várias espécies que dela dependem. A ausência do uso de maquinaria pesada nesta actividade faz com que não haja produção de poluentes, fazendo com que o homem e o produto natural, o sal marinho, estejam em perfeita harmonia com a flora, a fauna e os microrganismos que formam este ecossistema integrado na Ria Formosa. A recuperação das não entra em conflito com a vida selvagem. As salinas constituem biótopos artificiais, geralmente localizados nas zonas de sapal médio a alto. A sua flora característica corresponde à flora encontrada neste tipo de sapal. A sua distribuição varia consoante a salinidade e a sua . 1. Introdução. salinas tradicionais preserva este ambiente precioso e natural e a sua actividade.

(10) submersão ou não por água. A presença desta vegetação halófita, nos muros das salinas é de extrema importância, pois proporcionam as condições ideais para a nidificação, protecção e alimentação de um grande número de aves aquáticas. A manutenção da vegetação e a protecção dos locais de nidificação aumentam a riqueza ambiental deste ecossistema. A existência e abundância de macro invertebrados (ex: Artemia sp., Hydrobia, Chironomideos) consistem num importante recurso alimentar a diversas espécies de aves (POPNRF, 2004; Sadoul N. et al, 1998). Existem também várias espécies de répteis e mamíferos que utilizam a salina como habitat, assim como. Fig. 1 – Fotografia aérea do Parque Natural da Ria Formosa.. peixes que entram para o “tejo” aquando da tomada de água para a salina.. 1.2 Parque Natural da Ria Formosa O Parque Natural da Ria Formosa foi criado pelo Decreto-Lei nº 373/87, de 9 de Dezembro, posteriormente regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº 2/91, de 24 de Janeiro. Estende-se ao longo de 60 km da costa sotavento do Algarve, entre o Ancão e a Manta Rota e ocupa cerca de 18.400 ha, distribuídos pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. A maior parte desta área corresponde ao sistema lagunar da Ria Formosa, um cordão de ilhas e penínsulas arenosas que se estende mais ou menos paralelamente à costa, protegendo uma laguna onde se desenvolve um labirinto de sapais, canais, zonas de vasa e ilhotes. O uso ordenado do território e dos seus recursos naturais, valorizando os segundos em consciência. 1. Introdução. da qualidade e equilíbrio das actividades sobre eles realizadas, traduz a orientação permanente daqueles que desejam um espaço natural mais valioso, entendendo-se por esta valia a promoção do valor intrínseco da natureza em si e o apoio ao desenvolvimento criterioso e ambientalmente. Fig. 2 – Localização do Parque Natural da Ria Formosa. 10.

(11) compatível das actividades empresariais – umas ancestrais outras mais contemporâneas – que impulsionam uma área natural dinâmica, viva e multidisciplinarmente atractiva. Uma rápida visita pelos canais e ilhas barreira da Ria Formosa, permite de imediato destacar neste espaço vivo um conjunto de actividades económicas dominantes, as quais retêm na riqueza das águas da Ria Formosa e no clima os seus principais factores de produção. De entre as várias actividades destaca-se a salinicultura de modo tradicional, arte centenária há muito quase abandonada mas recentemente recuperada por vários produtores no Algarve. As salinas estão situadas nos sapais, ecossistemas que surgem em zonas estuarias, lagos, baías, normalmente situados em faixas costeiras e protegidas do embate das ondas do mar aberto por uma barreira de ilhas ou pontas arenosas, ao nível das entremarés. É neles que se instala uma densa cobertura de vegetação muito peculiar, que fica submersa nas marés-altas e ao descoberto nas marés baixas. Caracterizam–se essencialmente por possuírem uma vegetação especializada, que cresce em solos saturados de água salgada, que fica submersa na maré alta e ao descoberto na maré baixa. O sapal encontra-se entre os ecossistemas mais produtivos do planeta. Ao contrário de muitos terrenos agrícolas os nutrientes chegam a ele naturalmente, levados pelo constante movimento do fluxo e refluxo das marés, pelos sedimentos provenientes da zona costeira e pela decomposição dos seres vivos que ali se fixam, quando morrem. Além de ricas em nutrientes a sua pequena profundidade mantém uma temperatura favorável para o crescimento de vários organismos marinhos e permite uma boa penetração. 11. 1. Introdução. Fig. 3 – Panorâmica do Sapal na Ria Formosa. de luz permitindo uma actividade fotossintética intensa e contínua..

(12) Estas características conjuntamente com a de ser uma zona calma, faz com que constituam um bom local de abrigo e permanência para várias espécies de animais, nomeadamente marinhas. O sapal funciona como viveiro ou maternidade para estas espécies, as quais desovam e passam os estados larvares e juvenis até a altura de migrarem para o mar a fim de completar o seu ciclo Biológico (POPNRF, 2004). A riqueza do sapal condiciona a estadia e nidificação para milhares de aves aquáticas; o número de aves migradoras que dele precisam como ponto de paragem, repouso e alimentação, antes de retomarem a sua viagem e por último o número de invertebrados, pequenos vertebrados e espécies vegetais. As salinas são utilizadas por um grande número de aves limícolas. A tabela seguinte apresenta as espécies. Fig. 4 – Alfaiate (Recurvirostra avosetta). de aves mais abundantes nas salinas tradicionais.. Tabela 1 – Algumas espécies de aves que podem ser encontradas nas salinas tradicionais da Ria Formosa.. Avifauna de uma Salina Tradicional • Alfaiate (Recurvirostra avosetta) • Perna–longa (Himantopus himantopus) • Borrelho–de–coleira–interrompida (Charadrius alexandrinus) • Borrelho-pequeno-de-coleira (Charadrius dubius) • Gaivina–anã (Sterna albifrons). 1. Introdução. • Flamingo-comum (Phoenicopterus ruber) • Perna-vermelha (Tringa totanus) • Pilirito-comum (Calidris alpina) • Pirilito-pequeno (Calidris minuta) • Garça-branca-pequena (Egretta garzetta). 12.

(13) Degradar o sapal, seria condenar várias espécies à extinção, nomeadamente as aves, que dificilmente encontrariam habitats semelhantes ou rotas alternativas, devido à elevada degradação destes habitats hoje em dia. A vegetação apresenta um papel importante e fundamental neste habitat. Além de favorecer o processo relativo à sedimentação, pois fornece detritos vegetais abundantes transportados pelas correntes das marés, retém estes detritos, formando um denso enfeltrado com capacidade de retardar o movimento das águas retendo os sedimentos em suspensão. A vegetação desempenha ainda um papel de alto relevo na maturação dos sedimentos e no desenvolvimento da complicada rede de pequenos canais que dividem o sapal. Estes são cavados pelas águas da maré na aluvião, depois desta ter atingido uma determinada altura e adquirem uma cobertura vegetal bastante densa que levam as águas vazantes a tomar determinadas direcções, originando a formação de pequenas ravinas que ao longo do tempo formam canais de maior dimensão. Para além, a vegetação dos sapais tem uma forte acção depuradora graças à sua grande capacidade de absorção e fixação de metais pesados, muitos dos quais são tóxicos para outros seres vivos. Vários microrganismos metabolizam e convertem em nutrientes materiais que, de outro modo, seriam poluentes para as águas (POPNRF, 2004). Os Sapais podem ser divididos em três zonas em função da duração do período de imersão pelas marés: sapal baixo, médio e alto. A duração do período de imersão em água salgada, determina o tipo de vegetação que se encontra no sapal, assim se no sapal baixo encontramos os campos verdes de Spartina e podemos colher a comestível salicornia no sapal alto admiramos as flores roxas do Limoniastrum. A cota das salinas tradicionais, recorta o sapal, podendo-se assim encontrar nestas, grande quantidade e variedade da flora dos sapais. Os sapais encontram-se incluídos nas zonas costeiras cuja gestão está definida pela Comissão Europeia do Litoral e a sua protecção e conservação são recomendadas pelo Comité de Ministros do Conselho Europeu (POPNRF, 2004). Na Ria Formosa existem cerca de 4800 hectares da área total ocupada por sapais e aluviões salinos, cuja produtividade e interesses económicos referidos também se lhe aplicam. A Ria Formosa foi considerada, pela Wetlands Directory da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) como zona húmida de interesse mundial e encontra-se abrangido pelas disposições das Convenções de Ramsar e Bona, em que Portugal assumiu o compromisso internacional de assegurar a sua preservação (POPNRF, 2004). O aproveitamento dos recursos naturais consolidados com a preservação deste espaço natural é de um desenvolvimento sustentável associado à conservação do meio ambiente e valorização dos seus recursos. Entre várias actividades sustentáveis destacam-se a Salinicultura, Moluscicultura, Pesca. Fig. 5 – Arbusto de Limoniastrum monopetalum nos muros envolventes dos cristalizadores.. em Esteiro e Turismo da Natureza. 13. 1. Introdução. grande interesse económico e proporcionam.

(14) 14.

(15) 2. Conceitos Gerais 2.1 A História 2.1.1 A importância do sal na história do Homem. O sal foi provavelmente, desde o princípio dos tempos, o primeiro mineral utilizado conscientemente pelo homem como suplemento alimentar. Desde muito cedo o homem observou a formação de pequenos depósitos de cristais brancos nas margens de alguns lagos e nas rochas à beira mar. Na Era do Neolítico o homem começou a ser omnívoro, os cereais e as carnes eram cozidos e deviam ser salgados, para compensar as perdas dos sais minerais do organismo. As primeiras recipientes de argila e à sua secagem ao sol ou ao lume. Este sistema empírico, mas eficaz é, hoje em dia, ainda utilizado por várias tribos primitivas (Le Foll, 1997). A crescente necessidade e preocupação do homem para manter os alimentos em bom estado levou-o a perceber que o uso de sal, era um dos métodos que permitiam conservar os alimentos e evitar a sua degradação.. 15. 2. Conceitos Gerais. experiências para obtenção de sal resumiam-se à recolha de água salgada em.

(16) A constante referência do sal na literatura, como a Bíblia, histórias, fábulas, contos e lendas populares revela a sua importância na história do ser humano. Cerca de 2700 A.C. foi publicado na China o Peng-Tzao-Kan-Um, o mais antigo tratado sobre farmacologia onde refere mais de 40 tipos de sal e descreve dois métodos para a sua extracção e transformação que são espantosamente semelhantes aos utilizados hoje em dia. Há registos de produção de sal nas artes Egípcias que datam de 1450 a.C.. O sal era utilizado nas técnicas de preservação das múmias. Nos locais onde o sal era escasso este era trocado por ouro, noivas ou escravos. Na Grécia antiga trocavam escravos por sal, de onde surgiu a frase “não vale o seu sal”. A maior avenida de Roma, Via Salaria, era utilizada para o transporte de sal desde as salinas de Ostia no Rio Tibre. Rações de sal eram dadas aos soldados e eram conhecidas por “salarium argentum” de onde surgiu a palavra salário (Le Foll, 1997; Ferreira da Silva, 1966). O sal começou a ter uma importância vital desde muito cedo, contribuindo para o enriquecimento e o progresso das nações que o comercializavam. Contudo o ouro branco, como lhe chamavam antigamente, era raro e caro e levou também a guerras e conflitos. A França sempre foi um grande produtor de sal, antigamente tudo o que se referia a produção ou comercialização de sal dependia da “gabelle”, a taxa do sal, que foi uma das causas significantes que desencadearam a Revolução Francesa. Gandhi liderou milhares de seus conterrâneos indianos a provar que o sal marinho pertencia a todos e não era apenas uma mercadoria britânica, fundamentando o princípio da acção não violenta, considerada por ele como a maior força a ser empregada na defesa dos direitos das pessoas (Le foll, 1997).. 2.1.2 Salinicultura, uma tradição secular em Portugal O documento mais antigo que se refere ao sal português data do ano 959 e trata da doação de terras e. 2. Conceitos Gerais. Fig. 6 – Mosaico encontrado nas ruínas de Milreu datados do séc. III d.c.. marinhas de sal de Aveiro, feita pela Condessa de Mumadona ao Mosteiro de S. Salvador que fundou em. 16.

(17) Guimarães. Contudo, há evidências de que a exploração salineira no nosso território é bem mais antiga. A costa Atlântica da Península Ibérica tem desde há muito uma excelente reputação pela sua produção de sal. O prato mais famoso na época do Império Romano, o Garum Ibérico, era aqui confeccionado e consistia numa pasta de peixe em azeite com ervas aromáticas e salgado com sal marinho retirado das. Fig. 7 – Ilustração de um marnoto a trabalhar a sua salina de forma tradicional em Castro Marim.. salinas da região (Le foll, 1997).. A existência de “salgadeiros” (tanques de argamassa rija com 3 metros de comprimento e 1,5 m de largura altura) bem talhados e ainda operacionais, parece demonstrar o adiantamento da exploração do sal na Lusitânia durante a ocupação Romana (Século III) (Ferreira da Silva). Em 1178, no reinado de D. Afonso Henrique, já se explorava o sal nas margens do Mondego. Noutras regiões do Norte também, outrora, se produzia sal. Em Vila do Conde e Matosinhos no Século XI, no Porto no séc. III, em Caminha no séc. XVIII. Nenhuma destas salinas está activa neste momento. No Algarve, perto de Portimão ainda existem salgadeiros do tempo dos romanos, o que indica que nessa altura já havia a produção de sal nessa região. No reinado de D. João I a quantidade produzida era tal que o governo facilitava a exportação para o estrangeiro, como medida de grande conveniência económica. Em completamente arruinadas. Na idade média o sal era um artigo privilegiado, isento de qualquer imposto e de portagens. Não admira que tal aconteça pois o sal Português sempre foi considerado até no estrangeiro, de qualidade superior. Portugal foi um país exportador, no reinado de D. Afonso Henriques, Aveiro fornecia sal para todo o continente como também exportava grandes quantidades. Mais tarde, no reinado de D. João I, foi permitida a exportação de sal do Algarve e de Lisboa. 17. 2. Conceitos Gerais. 1532, D. João III mandou fazer vinte e oito salinas na região de Tavira, estas em 1790 já se encontravam.

(18) O Sal Português era então vendido a preços superiores ao produzido nas minas da Europa Central. A sua importância era tanta que graças ao sal das salinas de Setúbal, Portugal pagou à Holanda, de acordo com o tratado de 1669, 4.000.000 de cruzados pondo termo ao conflito entre os dois países e libertando o Brasil da ocupação holandesa (Rau V., 1958). Entre os países que mais sal português consumiram destacam-se a França, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega, o Reino Unido e a Suécia.. 2.2 Os salgados do país Ao conjunto de salinas, e seu meio, que se encontram em determinada região dá-se o nome de salgado. As salinas pertencentes ao continente Português encontram-se repartidas por cinco salgados ao longo do país, os salgados de Aveiro, de Figueira da Foz, do “tejo”, de Setúbal, de Alcácer do Sal e do Algarve. Cada salgado tem as suas características específicas, quer na sua estrutura, no seu modo de funcionar, na forma de exploração do sal, nos usos e costumes, na nomenclatura e também na qualidade e, antigamente, nos destinos do sal. O salgado de Aveiro apresenta uma área de 1.300 ha, em que as salinas se encontram localizadas em ilhotas no meio do sapal. Esta característica fez com que se associassem à produção do sal a utilização de barcos únicos e tradicionais, o mercantel, para transportar o sal para terra. O salgado de Figueira da Foz é mais pequeno que o anterior, cerca de 798,5 ha, no qual uma boa parte das salinas também se encontra em ilhas no meio do sapal. Os cristalizadores destas salina são muito pouco profundos, o que faz com que não seja possível a recolha de flor de sal. Uma característica destes salgados é os grandes armazéns todos de madeira, que apresentam uma construção única e tradicional (Dias Lopes, 1955). O salgado do “tejo” é constituído pelas salinas localizadas em ambas as margens do longo estuário do Rio “tejo” e estende-se numa faixa de cerca de 256 km. Uma das características peculiares de algumas das salinas deste salgado é o casco, também denominado de feltro que consiste no revestimento do fundo do cristalizador por uma camada de algas que formam como um tapete (Ferreira da Silva, 1958). O salgado do Sado é constituído pelas salinas de Alcácer do Sal, Palmela e Setúbal que se estendem ao longo do Rio Sado e é o mais antigo do país. Inicia-se quase junto ao agrupamento das salinas da margem esquerda do “tejo” e estende-se numa faixa de cerca de 40 Km (Ferreira da Silva, 1966). As diferenças existentes entre os salgados, tais como, a sua localização, a acção do clima nessa região, o tipo de água utilizada e mesmo o solo de que a salina é feita influenciam muito no tipo de sal produzido. 2. Conceitos Gerais. e suas características. Também o traçado das salinas, dimensão dos cristalizadores, as próprias metodologias de produção e o vocabulário apresentam diferenças significativas entre os salgados do país. A fauna e flora dos Salgados é muito semelhante, visto pertencerem todos ao mesmo tipo de ecossistema, o sapal médio a alto, contudo, devido às diferenças climatéricas a ocorrência de certas espécies, pode variar.. 18.

(19) O salgado do Algarve:. O salgado do Algarve estende-se do barlavento ao sotavento desta região. As salinas dispersam-se por Portimão, Faro, Olhão, Tavira e Castro Marim (Ferreira da Silva, 1958). É neste salgado que estão reunidas as melhores condições naturais para a prática da salinicultura do País. O aspecto climático do Algarve e a composição dos solos, em particular do Sotavento Algarvio, apresentam condições óptimas para a produção de sal, actividade esta que é secular na região, e um dos únicos ramos que pesou de forma significativa na estrutura da economia regional, antes de entrar em declínio há cerca. Fig. 8 – Dois marnotos a recolherem o sal numa salina tradicional.. de vinte anos atrás (PQNRF, Rau V.).. 2.2.1 Evolução da Salinicultura de modo Tradicional no Algarve A evolução da actividade de Salinicultura Tradicional passou por vários períodos ao longo dos tempos, os autores Neves & Rufino (1995) compararam as diferentes estatísticas relativas a explorações salineiras em actividade nos anos de 1790, 1936, 1966 e décadas de 70 e 80, verificando que a actividade passou por vários períodos, desde a sua expansão até a sua quase extinção. Verifica-se que a produção nacional. Os níveis de produção de sal no Algarve aumentaram continuamente desde 1970, chegando a ultrapassar os 50 % da produção nacional, tornando-se um dos principais produtores do país. Alguns autores referem que este aumento se deveu ao crescimento do número de marinhas e consequente produção, sendo esta região a única com um incremento ao longo dos últimos 150 anos (Quaresma A., 2000) A partir dos anos setenta a produção nacional apresenta um declínio que conduziu ao abandono e destruição de algumas marinhas (Neves e Rufino, 1995). Isto explica-se através da conjugação de vários 19. 2. Conceitos Gerais. também variou em diferentes zonas do País..

(20) factores, tais como: o aumento dos custos de produção; as transformações de processos tecnológicos em unidades de indústrias químicas e da pesca; aos mecanismos económicos internacionais; as alterações estruturais na sociedade portuguesa; a crescente desvalorização do sal.. A atribuição de subsídios para o estabelecimento de aquiculturas, através dos fundos comunitários, no final da década de 80, conduziu a uma verdadeira onda especulativa sobre o valor das salinas. Este factor, juntamente com a progressiva falta de rentabilidade económica da exploração salineira e à descapitalização do sector, resultou ao abandono desta actividade, principalmente para a conversão em estabelecimentos de aquicultura (Neves e Rufino, 1995 in Quaresma A., 2000). Os mesmos autores concluíram que a salinicultura em Portugal corre o risco de desaparecer, com a excepção de algumas salinas no Algarve, onde as condições climatéricas permitem uma exploração vantajosa. Através de um estudo sobre os sapais da Ria Formosa efectuado por Teixeira e Alvim (1978) verificou-se que a área ocupada por salinas era de 900 ha, uma vez que a produção e extracção mecanizada se tinha revelado um investimento rentável. Em 1999, Semat verificou que a área ocupada por salinas era de 945 ha. Actualmente a área ocupada por salinas tradicionais no Parque Natural da Ria Formosa é de aproximadamente 140 ha, em que a maioria se encontra abandonada. Grande parte das salinas tradicionais foram transformadas em salinas industriais e pisciculturas (Quaresma A., 2000).. 2.3 O mercado 2.3.1. Breve análise do mercado mundial A produção mundial de sal era em 2004 estimada pelo Salt Institute nos E.U.A.em cerca de 208 milhões de toneladas, Sendo os E.U.A o maior produtor com 46,5 milhões de toneladas, seguido pela China com 37,1 milhões de toneladas. A grande maioria do sal produzido mundialmente, provém de minas de sal gema, estes gigantescos depósitos subterrâneos de sal apresentam vantagens para a sua utilização na industria química, dado que nestes o teor em cloreto de sódio aproxima-se da totalidade. Estima-se que somente 10% do sal produzido provenha de evaporação solar, sendo o restante proveniente de minas. A possibilidade de utilização de maquinaria pesada e o facto de as minas de sal, não necessitarem de grande estrutura de 2. Conceitos Gerais. suporte pela estabilidade geológica do mineral, faz com que os custos de produção deste tipo de sal, seja substancialmente inferior ao sal solar. O maior consumidor de sal no mundo é a indústria química. Não é o sal que é utilizado directamente mas sim o cloro e o hidróxido de sódio, provenientes da sua electrólise; ambos são compostos utilizados massivamente na fabricação de centenas de produtos, desde a industria de pvc que comanda a procura, como a de pasta de papel.. 20.

(21) Os outros grandes utilizadores de sal são, o condicionamento de água, ou a sua descalcificação e o condicionamento das estradas; anualmente milhões de toneladas de sal, são descarregadas nas estradas durante o período do Inverno, de modo a diminuir a temperatura de congelação da água e assim evitar a formação de gelo e a descongelar a neve acumulada, assim, uma das grandes utilizações de sal é feita na manutenção da acessibilidade e prevenção rodoviária. A utilização de sal na descalcificação de água, é feita na reactivação das resinas que retiram da água “dura” os iões de cálcio e magnésio; esta utilização massiva é efectuada no tratamento de água para distribuição municipal e nas indústrias de curtumes, têxtil, lacticínios, mas também nas lavandarias industriais, piscinas e mesmo em restaurantes ou casas particulares. O consumo de sal para nutrição animal e humana é similar, de notar no entanto que na nutrição humana está incluído o consumo da industria alimentar, como a fabricação de conservas, panificação, molhos e pastas, comida pré embalada, “fast food” e mesmo na batata frita ou amendoim e outros “snacks”. Daí que o sal que chega às prateleiras dos supermercados, é um ínfima percentagem do volume total produzido. Se analisado o consumo de sal em valor, nota-se ainda a influência do volume utilizado na industria quimica, tornando este o maior negócio da fileira sal, no entanto o sal utilizado na nutrição humana, atinge um papel de destaque pelo valor acrescentado, pois 6% do volume corresponde a 22% do negócio. Se analisado o valor ponderado pelo volume de sal consumido, constata-se que para 1 unidade de sal vendido no mercado da nutrição humana, para gerar o mesmo negócio, é necessário vender 6 unidades nos mercados da industria química, 4 no da nutrição animal e quase duas no da descalcificação. Esta diferença será substancialmente superior se feita a análise para o mercado do retalho. Assim, dos mercados de sal disponíveis, é o 2. Conceitos Gerais. mercado da nutrição humana e especificamente o de consumo directo, que apresenta maiores potencialidades para a introdução de um produto de qualidade e diferenciado. Outros mercados de nicho, como o da aquarofilia e cosmética serão também certamente de considerar.. 21.

(22) 2.3.2. A moda do Sal O sal, o primeiro produto comercializado pelo homem e uma das matérias-primas mais utilizadas na indústria, é hoje um ingrediente de moda nos palcos das melhores cozinhas do mundo. Ávido de novidade, o mercado actual tende a inventar, descobrir e redesenhar ingredientes de modo a manter altas as expectativas dos consumidores, incentivando o seu consumo. Foi assim com os vinhos, as massas, os queijos e mais recentemente com o azeite, que de gordura desconhecida há alguns anos, atinge nos dias de hoje consumos enormes e com um potencial de crescimento gigantesco. É natural, nos melhores supermercados ou lojas de mercearia fina, encontrar não os vulgares pacotes de sal grosso e sal fino, mas uma oferta enorme de diferentes sais de variadas origens. Este processo de diferenciação do sal, foi iniciado pelo “Sel Gris de Guérande”; num trabalho notável de marketing iniciado nos anos 70, os franceses, aproveitando a sua cultura e história, conseguiram colocar os seus produtos de sal em praticamente todos os mercados mundiais de elite, vendendo o seu produto “sel gris” por € 0,8 o quilograma e o seu produto “Fleur de Sel” por € 7,0 o quilograma, preços a grosso para produto certificado. Outro exemplo interessante a referenciar, é o da empresa inglesa “Maldon Crystal Salt”. Utilizando técnicas ancestrais, num processo de produção dispendioso, foi feita uma aposta constante na qualidade e diferenciação do produto que é hoje utilizado pelos cozinheiros mais famosos do mundo. Há hoje disponíveis dezenas qualidades distintas de sal para consumo, os negro e vermelho do Havai, o rosa claro do Peru, rosa seco dos Himalaia o cinzento de França, em flocos, fino, grosso, muito grosso, húmido, seco... a estas variedades juntam-se ainda as misturas com ervas aromáticas, frutos secos e especiarias e mais recentemente os sais fumados. Estes “fancy salts” são comercializados essencialmente no segmento da mercearia fina, movimentando por isso volumes reduzidos. O crescimento do mercado dos produtos naturais veio também abrir uma nova oportunidade para a comercialização de sal “natural”. Não podendo ser empregue no sal a denominação orgânico, visto tratarse de um mineral e dado que numa última análise, a grande maioria do sal é natural, uma vez que a sua ocorrência não é sintética, torna-se difícil a diferenciação do produto. É evidente no mercado a utilização abusiva do termos orgânico, natural e integral.. 2.3.3. Uma estratégia para o Sal Tradicional da Ria Formosa A obtenção de certificações de origem, metodologia e qualidade, parece ser a estratégia a seguir para a obtenção de uma presença sustentada no mercado. Cremos que a moda do sal passará, deixando contudo. 2. Conceitos Gerais. neste, aqueles produtos que melhor se diferenciarem e conquistarem a credibilidade do consumidor. A criação de uma marca Parque Natural Ria Formosa conferiria ao produto credibilidade, aumentando a confiança do consumidor quanto à origem, ajudando na sua diferenciação. Terá de haver uma estratégia de comunicação cuidada do produto, da sua diferença na metodologia e composição química, da qualidade ambiental da região, sua cultura e história. Cada vez mais se vende uma história à qual está um produto associado. Deverá ser aproveitada a vocação do Algarve como destino turístico na comunicação do produto. 22.

(23) O espírito associativo deverá ser fortalecido; os produtores deverão ter estratégias conjuntas de divulgação do produto do Algarve no exterior e deverão enaltecer todo o sal da região de modo a obterem massa crítica.. 2.3.4. Análise SWAT do produto Sal Tradicional da Ria Formosa. Pontos Fortes. Pontos Fracos. • Beleza da paisagem da Ria Formosa.. • Últimos profissionais do sector muito idosos.. • Condições naturais excelentes.. • Maioria das salinas ao abandono e degradadas.. • Actividade de longa tradição.. • Reduzida capacidade de investimento dos marenotos.. • Centenas de hectares de produção disponíveis. • Maioria dos marenotos em actividade são • Águas pouco poluídas; inexistência de indústria. iletrados.. pesada na região. • Estrutura associativa fraca, sem capacidade organizacional.. • Actividade turística da região como potenciadora de marketing.. • Falta de mão-de-obra qualificada. • Produto de elevada qualidade. • A actividade é considerada indústria, • Possibilidade de obtenção de certificação para. impossibilitando certificação biológica e. sal marinho não refinado.. Denominação de Origem Protegida.. • Prémio internacional do movimento Slow Food à. • A actividade não é contemplada nos regimes de. empresa Necton.. apoio ao investimento.. • Presença dos produtos da referida empresa nos. • A actividade é mal vista no que se refere à. mercados; Espanha, França, Suiça, Dinamarca,. remuneração do trabalho.. Suécia, Finlandia e EUA. • Actividade sanzonal, com pico de trabalho no Verão.. • A actividade é “amiga do ambiente” e dinamizadora de desenvolvimento sustentado.. actividade.. única, o bacalhau. • A documentação existente está dispersa após extinção da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmaceuticos.. 23. 2. Conceitos Gerais. • Não existe no Estado interlocutor directo para a • A longa história de Portugal,sua gastronomia.

(24) Oportunidades. Ameaças. • Mercado dos produtos naturais em plena. •. expansão.. habilitados.. Desaparecimento. dos. últimos. profissionais. • Mercado dos produtos tradicionais em plena. • A entrada no mercado de sal vulgar com marketing. expansão.. “tradicional”. • Após a “moda” do azeite, está a surgir a “moda”. • Acidente ecológico grave na Ria Formosa.. do sal, com o desenvolvimento de produtos de valor acrescentado associados.. • Excessos de burocracia, vasto número de entidades intervenientes.. • Possibilidade de criar produtos turísticos associados à actividade.. • Degradação ambiental da Ria. • Possibilidade de explorar a cultura de espargo do. • Zona com elevada densidade populacional e com. mar nos meses de Inverno.. elevadas taxas de urbanização.. • Possibilidade de o sal tradicional ser utilizado em. • Enorme pressão turística e imobiliária na zona do. aquarofilia marinha e cosmética.. PNRF. • Forte receptividade dos turistas de natureza ao. • Sem enquadramento legislativo.. turismo cultural. • Outras regiões produtoras (Aveiro e Figueira da • Interesse da população por práticas desportivas. Foz) estão certificar o seu sal tradicional.. 2. Conceitos Gerais. de natureza.. 2.4 A Fisico-Química 2.4.1 Os oceanos, porque o mar é salgado 24.

(25) 2.4 A FISICO-QUIMICA 2.4.1 OS OCEANOS, PORQUE O MAR É SALGADO Toda a água, doce ou salgada, contém uma determinada quantidade de sais dissolvidos. A água do mar contém, em peso, 96,5 % de água e 3,5 % de sais dissolvidos, gases, matéria orgânica e insolúveis Os iões mais comuns que se encontram na água do mar são, o ião Na+ (sódio) e o ião Cl- (Cloro). Contudo encontramos na água do mar todos os sais minerais presentes na terra. Isto deve-se ás interacções entre água, terra e ar. São vários os factores que fazem com que a água do mar contenha os sais que nela encontramos, dos quais se destacam três:. 1). Erosão. Sais provenientes de rochas por erosão na costa e fundos oceânicos, trazidos pelos leitos dos rios por erosão das suas margens e provenientes da crosta terrestre e arrastados para o mar e rios pelas chuvas.. 2). Erupções vulcânicas. A libertação de elevadas quantidades de sólidos e gases através de fendas ou vulcões subaquáticos, estes são uma importante fonte de sulfatos e cloretos. Os materiais gasosos e sólidos levados pela acção do vento durante a erupção vulcânica.. 3). Reacção química entre a água do mar quente e as rochas recém formadas durante as erupções.. A reacção que ocorre durante uma erupção vulcânica, entre a água e a crosta recentemente formada leva à remoção de alguma quantidade de magnésio e sulfato da água, enquanto que outros elementos lhe são acrescentados.. 2.4.2 Salinidade e densidade A salinidade é definida como a quantidade total de sais minerais dissolvidos na água, geralmente expressa em p.p.m. (partes por mil), no entanto de modo a facilitar o nosso entendimento do fenómeno, vamos falar da salinidade expressa em g/kg (gramas de sais por quilograma de água). A salinidade da água do mar pode variar de 30 a 37 g/kg, sendo o seu valor de referência 35 g/kg. Esta variação tem a ver com a pressão e temperatura a que a água do Oceano está sujeita e principalmente, grandes rios e é maior junto ao equador e em mares fechados como o Mediterrâneo. É comum a pergunta “o que pesa mais, um quilo de chumbo ou um quilo de palha?” esta brincadeira ajuda a explicar o conceito de densidade; o facto de um quilo de palha ocupar muito mais volume do que um quilo de chumbo leva a que o ouvinte menos atento responda que é o chumbo, quando de facto o peso será o mesmo e igual a um quilograma. Acontece que o chumbo é bastante mais denso do que a palha, o. 25. 2. Conceitos Gerais. da localização da massa de água; a salinidade da água do mar é menor junto aos pólos e junto à foz dos.

(26) que faz com que a mesma massa de chumbo, ocupe um volume muito menor do que a palha. A densidade de um corpo é definida pela razão entre a sua massa e o volume que ocupa e é expressa pelas duas unidades da razão, por exemplo g/l ou gramas por litro. Quando se diz que um corpo (A) é mais denso que outro corpo (B), significa que certo volume do corpo A é mais pesado que o mesmo volume do corpo B. O termo densidade é aplicado a corpos sólidos, ocos ou maciços. Para os líquidos referimo-nos à massa específica ou densidade relativa, que é a relação entre a massa da substância e a massa de igual volume de água. Assim sendo, a densidade dos líquidos é referida por comparação à densidade da água destilada quando à temperatura de 4 ºC; a essa temperatura a densidade da água destilada é de 1 kg/l. Quando se diz que a densidade relativa de um líquido é de 1,2 queremos dizer que um litro desse líquido é 200 gramas mais pesado do que um líquido de água destilada a 4ºC. O conhecimento da densidade relativa da água das salinas (solução salina) é de grande interesse, pois desta maneira podemos determinar a concentração de sais nela contidos, de modo a podermos gerir com mais eficácia a nossa salina. Podíamos então saber a densidade relativa das águas da salina, pesando um determinado volume da mesma comparando o seu peso com igual volume de água destilada a 4ºC. No entanto este é um processo muito moroso; utilizando um aparelho chamado pesa-sais ou densímetro poderemos também saber qual é a densidade relativa da água na nossa salina. O funcionamento do pesa-sais baseia-se num princípio muito antigo, pela primeira vez observado e explicado por um sábio grego chamado Arquimedes e que viveu entre 282 e 212 antes de Cristo e que. 2. Conceitos Gerais. Fig. 9 – Densímetro e recipiente de cana onde é efectuada a medição. reparou, enquanto tomava banho, que o seu corpo quando mergulhado, sofria por parte da água uma. 26.

(27) força que tendia a fazê-lo flutuar; reparou ainda que essa força era proporcional ao volume de água que o seu corpo deslocava. Diz-se que quando constatou este facto, Arquimedes gritou “Eureka!”, o que em grego antigo significa “achei”, tornando essa expressão famosa até aos dias de hoje. Esta observação, alguma experimentação e um pensamento crítico, ajudaram-no a enunciar um princípio básico da física ao qual se deu o nome de Princípio de Arquimedes e que diz: todo o corpo submergido num fluido experimenta um impulso de baixo para cima igual ao peso do fluído que desloca. Pelo princípio de Arquimedes podemos concluir que, o mesmo corpo quando mergulhado num líquido “pesado” (com uma densidade relativa alta), vai afundar menos do que se mergulhado num líquido “leve”, tal como nós sentimos ser mais fácil flutuar na água do mar do que numa piscina. É esse facto que na ajuda a compreender o funcionamento do pesa-sais. O pesa-sais é um instrumento de volume e peso calibrado de modo a que quando mergulhado em água pura, mergulha a uma determinada profundidade que se estabelece como zero numa escala de graus de densidade, chamada escala de Baumé, criada pelo químico francês Antoine Baumé (1728-1804); quanto maior é a densidade do líquido menos o pesa-sais mergulha e o inverso para densidades menores. Assim quando se pretende determinar a densidade da solução salina, deve-se introduzir a mesma num recipiente cilíndrico com base, que pode ser de vidro, de plástico, uma proveta, ou mesmo um pedaço de cana (Ferreira da Silva, 1958). Os Fig. 10 a) e b) – Pesa sais colocado numa proveta; curva feita pela solução na superfície do pesa-sais.. marnotos tradicionais recorrem ao pedaço de cana. De seguida introduz-se o pesasais no recipiente que ao mergulhar, indica. automaticamente. a. densidade. dessa solução, por leitura na escala. Visto a leitura ser feita ao nível da água, este convém estar o mais correcto possível. A superfície da água não é plana, mas sim curva, como se poderá observar ao fazer a leitura. O valor da escala correcto é aquele que se encontra no ponto mais alto da curva.. A relação entre a densidade relativa (d) e os graus Baumé (ºBé) determinada por Antoine Baumé, para soluções mais pesadas que a água, é expressa pela seguinte equação:. 145 d. Para uma maior facilidade, está apresentada de seguida uma tabela com a relação ºBé / salinidade em g/l. 27. 2. Conceitos Gerais. ºBé = 145 -.

(28) Tabela 2 – relação entre os graus Baumé e a salinidade a ela relacionada (Necton SA, 2002).. ºBé. Salinidade (g/l). ºBé. Salinidade. ºBé. (g/l). Salinidade (g/l). 1. 12,09. 9. 99,78. 17. 205,13. 2. 22,37. 10. 111,98. 18. 219,30. 3. 32,50. 11. 123,69. 19. 234,22. 4. 43,21. 12. 136,91. 20. 250,04. 5. 53,91. 13. 149,20. 21. 265,16. 6. 64,56. 14. 163,62. 22. 280,20. 7. 76,14. 15. 179,90. 23. 297,10. 8. 88,04. 16. 190,75. 2.4.3 Evaporação da água e cristalização dos sais A evaporação é a passagem de estado de uma substância que se encontrava na forma líquida à forma gasosa através do fornecimento de energia. Apesar de ser um processo físico, não altera as características químicas da água, a evaporação é feita a nível molecular e requer um fornecimento de energia contínuo, uma vez que esta é constantemente consumida no processo. Nas salinas, a energia é fornecida pelos ventos e essencialmente pelo sol. Assim, quando expomos a água retirada ao mar, numa grande superfície à acção destes elementos, há uma passagem de estado líquido a gasoso, das moléculas de água que se encontram à superfície, diminuindo-se a concentração de água e por consequência aumentando a quantidade relativa de sais nela existentes. Sendo continuado o fornecimento de energia, o processo evaporativo continua, contudo cada vez que uma molécula de água é retirada da solução salina, mais energia é necessário fornecer para retirar a seguinte, a velocidade de evaporação da água diminui à medida que esta corre pela salina. Quanto mais água é evaporada, mais concentrados ficam os sais na solução salina, até que, esta não consegue conter todos os minerais e estes começam a cristalizar e a depositar no fundo das salinas. Contudo, esta. 2. Conceitos Gerais. cristalização não acontece simultaneamente para todos os minerais mas é fraccionada como adiante veremos.. 2.4.4 Granulometria O sal é um corpo sólido constituído por cristais cúbicos. O sal classifica-se, conforme as suas dimensões, em fino, traçado e grosso. A sua classificação, embora feita facilmente a olho nu pelos marnotos que já têm experiência, é feita com o auxílio de peneiras. Cada peneiro apresenta um diâmetro determinado de poro ou de malha. Segundo Ferreira da Silva (1958), quando 90 % do sal testado (a sua quantidade tem que ser significativa, cerca de 5 kg) passa através de um. 28.

(29) peneiro de malha de 4 mm podemos dizer que o sal é fino, quando 90 % passa através de uma malha de 8 mm o sal é traçado e quando passam menos de 90 % do sal através da malha de 8 mm o sal é dito grosso. Outro tipo de sal característico é a flor de sal. A principal diferença entre a flor sal e o sal marinho grosso está na sua granulometria, sendo esta formada à superfície da água dos cristalizadores e apresenta uma estrutura bastante diferente da do sal grosso. Como referido anteriormente os cristais de sal são cristais cúbicos e compactos, cujo teor em água no espaço intersticiais é muito pouca, o que faz com que não se partam facilmente entre os dedos (ver fig. 11 a)). A flor de sal é formada por pequenos cristais em palhetas, com bastante espaço entre eles, sendo menos compactos, mais frágil e fácil de se desfazer entre os dedos (ver fig. 11 b)). O tamanho do cristal de sal depende do processo de exploração da salina, do tamanho dos cristalizadores, da velocidade de evaporação e das condições do meio envolvente. Numa mesma salina pode haver diferenças. a. b. Fig. 11 a) cristais em palhetas de flor de sal. b) – cristais cúbicos de sal marinho.. na granulometria do sal, consoante a orientação do talho em relação ao Sul e aos ventos dominantes.. 2.5. O clima. 2.5.1. Noções gerais. É do nosso conhecimento que o clima varia de região para região. Por vezes na mesma região a sua influência varia. Os elementos do clima mais importantes a serem analisados são a temperatura do ar, pressão do ar, vento, humidade do ar, nebulosidade, a exposição solar e a chuva.. Temperatura: A temperatura do ar varia consoante a acção calorífica do Sol sobre a atmosfera. A temperatura pode ser medida com o uso de termómetros, que podem variar dos mais simples aos mais complexos, os de mercúrio, os atmosféricos, os digitais e os de infravermelhos. A temperatura é A variação da temperatura num determinado local é influenciada pela natureza do terreno, o seu relevo, a presença ou ausência de nebulosidade e a existência de arvoredos (Ferreira da Silva, 1958).. Circulação do ar: A acção dos ventos na produção de sal é tão importante como a temperatura, é graças a estes que a água 29. 2. Conceitos Gerais. geralmente medida em graus Celsius (ºC)..

(30) evaporada é afastada da superfície, evitando a saturação do ar próximo a esta e permitindo uma maior evaporação. As salinas são, então, construídas de modo a aproveitarem a acção dos ventos. Estes também têm influência na precipitação dos sais, pois quanto maior a sua acção, mais agitadas serão as águas provocando uma maior precipitação. Uma salina muito exposta ao vento terá uma produção menor de flor de sal, a agitação das águas irá fazer com que esta se afunde.. Pressão atmosférica: A pressão atmosférica consiste na pressão que o ar exerce sobre todos os corpos e varia consoante a altitude (ou seja, é maior num vale do que no pico de uma montanha). A pressão atmosférica pode ser medida através do uso de um barómetro, é geralmente medida em milímetros de mercúrio (mmHg) ou em atmosferas (atm) e é considerada normal quando apresenta o valor de 760 mmHg (Perry et al., 1984). Esta característica por si só não tem uma influência muito importante na velocidade de evaporação da água na salina, visto que, a maioria das salinas estão situados a um nível pouco diferente do nível médio da água do mar.. Teor de humidade: A quantidade de água presente na atmosfera influência a produção do sal. Quanto maior for o teor de humidade no ar menor será a evaporação da água na salina, pois este estará mais próximo do ponto de saturação.. 2.5.2 Condições climatéricas do salgado do Algarve A região do Algarve está dividida em três sub-regiões consoante aos seus elementos e índices climáticos, embora com alguma confusão nos limites, que correspondem ao Barlavento, Centro e Sotavento (Carminda Cavaco, 1976). O Barlavento algarvio consiste na zona ocidental até Portimão, a zona central será entre Portimão e Faro, e o Sotavento Algarvio corresponde na zona entre Faro e Vila Real de Santo António. É no centro e no sotavento que encontramos as melhores condições para a salinicultura. É no sotavento que há menor pluviosidade e maiores temperaturas (é nesta zona que há o maior número de dias com temperatura superior a 30 ºC).. 2.6 O solo O solo dos cristalizadores é geralmente constituído pela própria terra onde se encontra a salina. Geralmente os solos dos salgados são formados por camadas de pequenas partículas de lodo (areias lodosas) ou argila e matéria orgânica. Podemos também observar restos de plantas marinhas e conchas. A importância da constituição do solo nas salinas reside não só na sua capacidade de se manterem compactas 2. Conceitos Gerais. e de não conspurcar o sal, mas também nas suas características térmicas (Ferreira da Silva, 1958). Estas características térmicas variam consoante vários factores, tais como a localização do solo (em planície aquece mais que num vale, devido à diminuição de temperatura geralmente verificada durante a noite), a orientação (quando exposto a Norte aquece menos do que exposto a sul; quando virado para Poente aquece mais depressa devido à maior retenção da húmidade nocturna), o seu revestimento vegetal (este cobre os solos, impedindo a passagem dos raios solares, fazendo com que não aqueçam facilmente) e a sua constituição (as terras arenosas são mais soltas, o que faz com que os grãos fiquem muito unidos e a 30.

(31) camada de ar entre eles seja pouca, proporcionando um aquecimento rápido à superfície e uma propagação muito lenta para o interior, acontecendo o mesmo quando arrefece) (Ferreira da Silva, 1958). A importância do solo no processo de evaporação da salina: O solo, consoante as características atrás referidas, influencia a evaporação da água nas marinhas. Consoante a permeabilidade do solo da marinha o volume da água a ser evaporada varia, pois quanto maior for a permeabilidade maior será a quantidade de água que se infiltra. A velocidade de evaporação varia consoante as condições térmicas do solo. O solo tem um calor específico menor que a água, ou seja, a quantidade de calor necessária para o aumento da sua temperatura de 1 ºC é menor do que para a água, ou seja, o solo aquece mais depressa que a água. Contudo, quando o solo é inundado o seu calor específico diminui e a sua temperatura baixa. Neste caso o corpo mais quente será a água e o mais frio o solo, fazendo com que haja transferência de calor desta para o solo, reduzindo a velocidade de evaporação (Ferreira da Silva, 1958). Os dois factores anteriores, a permeabilidade do solo e a velocidade de evaporação estão interligadas. Ao infiltrar-se, a água aumenta a condutividade do solo, fazendo com que o calor fornecido por esta seja propagado para as camadas mais interiores do solo (Ferreira da Silva, 1958). Concluímos que o solo deve ser impermeável, mas, contudo, não o pode ser totalmente. Em resumo, um solo propício para a construção de uma salina requer as seguintes condições:. - Fundos impermeáveis – a impermeabilidade do solo deve ser a adequada para que a água não se infiltre em camadas muito inferiores, mas que se infiltre o suficiente para ajudar a retenção do calor. Características térmicas do solo – o solo deve ser adequado para não diminuir a velocidade de evaporação. Compactação dos fundos – o solo tem que ser firme de modo a não conspurcar o sal. Ausência de contaminantes – o terreno tem que estar ausente de corpos ou substâncias que possam alterar ou contaminar o sal, como por exemplo, restos de plantas ou algas que apodreceram, fezes de aves ou mesmo substâncias químicas. Lençóis de água – quando se escolher o local para construir uma salina há que se ter em conta a localização dos lençóis de água subterrâneos e a sua profundidade(Ferreira da Silva, 1958). Esta informação é vital, de modo a evitar a infiltração de água doce para a salina que, além de diluir a água, fazendo com que o processo seja mais moroso, pode provocar danos físicos à própria salina.. Solo IDEAL – Solo argiloso! Com base em todos os factos anteriores, conjuntamente com a breve descrição dos solos anterior verificamos que:. 2 – o solo arenoso é o mais quente, mas completamente permeável... O ideal seria um solo com as características de ambos estes solos, ou seja, impermeável como a argila e quente como a areia. Contudo, as salinas são construídas de modo a contornar estes problemas, porque além da safra decorrer em alturas do ano em que as temperaturas são elevadas, a altura da água ao longo de dos vários reservatórios vai diminuindo, sendo muito baixa nos tanques cristalizadores. Esta característica permite que a água aqueça bem mais facilmente, permitindo o uso de um solo argiloso. 31. 2. Conceitos Gerais. 1 - o solo argiloso é o mais impermeável, mas o mais frio....

(32) 32.

(33) 3. A actividade - Salinicultura 3.1. Apresentação de uma salina Tradicional. Uma salina é geralmente constituída por um conjunto de reservatórios dispostos geometricamente, de modo a receberem a água proveniente do mar e a permitirem a extracção do sal, conjuntamente com a acção de vários agentes climatéricos. A área da salina é dividida por três: a área de reserva, constituída por um evaporação, constituída por um conjunto de evaporadores ou viveiros de águas quentes; a área de cristalização, constituída por cristalizadores ou peças. As Salinas Tradicionais são de pequenas dimensões. Os seus cristalizadores apresentam geralmente uma área pequena que não excede os 50 m2 (5mx10m) o que permite a fácil recolha manual. O Sal Marinho é recolhido com a ajuda de rodos em madeira e a Flor de Sal é recolhida com a ajuda de rodos coadores. Os muros mais elevados das salinas tradicionais permitem que a agitação da água seja menor, permitindo a formação de Flor do Sal à superfície dos seus cristalizadores. A sua flora característica é mantida, pois além de lhes proporcionar uma protecção, é também a predilecta para a nidificação de várias 33. 3. A actividade - Salinicultura. reservatório de grandes dimensões, o “tejo” ou viveiro de águas frias; a área de.

(34) espécies de aves, contribuindo assim, para a preservação de biodiversidade do ecossistema. A área de evaporação de uma salina é bastante superior à área de cristalização, visto se tratar de uma superfície de preparação para que a solução salina chegue aos cristalizadores na concentração adequada. Esta diferença entre áreas está mais especificada adiante. A diferença na relação entre a área de evaporação e a área de cristalização em ambos os tipos de salina, é preponderante na qualidade do produto final. Salinas industriais cristalizam essencialmente Cloreto de Sódio, as salinas tradicionais permitem a deposição da maioria dos minerais presentes na água do mar, resultando num sal mais rico do ponto de vista dietético e com um “sabor” menos agressivo. SALINA BELAMANDIL. Reservatório, tejo ou viveiro Área de evaporação, contra-tejo e evaporadores Área de Cristalização, cristalizadores, talhos ou peças. Planta da salina Belamandil com indicação das diferentes áreas e movimento da água. Área de reserva:. 1. Reservatório, “tejo” ou viveiro – é um reservatório de grandes dimensões, no qual entra, através da. 3. A actividade - Salinicultura. comporta, a água do mar. Encontra-se geralmente próximo de um esteiro ou canal através do qual a água entra directamente aquando das marés vivas. Esta é armazenada e renovada sempre que seja necessário. Além da armazenagem da água para alimentar a salina o “tejo” apresenta outras funções igualmente importantes: A decantação do material em suspensão, ou seja, é aqui que se depositam as algas e outros materiais que possam estar na água; A de depuração das substâncias dissolvidas, tais como, compostos de azoto e fósforo utilizados pelas algas do “tejo” no seu crescimento. Este reservatório geralmente fica cheio o ano todo. Quando se justifica o seu vazamento (ex: para limpeza) ele deve ser enchido de novo cerca de 6 meses antes do inicio da safra. 34.

(35) Resumo: o “tejo” serve de armazenagem da água para a salina, como decantador e depurador retendo. Fig. 12 – Tejo de uma salina tradicional. os materiais em suspensão e purificando a água.. Área de evaporação:. 2 Contra-”tejo” – é o reservatório que se encontra a seguir ao “tejo”, ou seja, é o primeiro evaporador. Este diferencia-se dos evaporadores seguintes pelo facto de ser mais fundo e de servir, tal como o “tejo”, para armazenagem da água e decantação dos materiais suspensos. Algumas salinas não apresentam contra-”tejo”, os evaporadores seguem-se a seguir ao “tejo”. Ambos o “tejo” e o contra-”tejo” são denominados de viveiros de águas frias, porque contêm uma baixa concentração de sais, ou seja, a água não aquece o suficiente para que ocorra uma evaporação rápida.. 3. Evaporadores. –. estes. reservatórios. são. de dimensões inferiores ao “tejo” e a sua profundidade diminui à medida que se aproximam dos cristalizadores. A função dos evaporadores é de, como o nome indica, evaporar a água de modo solução salina. Como referido anteriormente a evaporação da água dá-se graças à acção conjunta de vários elementos do clima, tais como, a temperatura, o. Fig. 13 – Evaporador de uma Salina Tradicional. vento e o teor de húmidade no ar. A concentração dos sais na solução salina aumenta à medida que esta circula pelos evaporadores, o que faz com que a energia necessária para a evaporação seja maior. A diminuição da profundidade dos evaporadores à medida que nos aproximamos dos cristalizadores permite aumentar a quantidade de energia fornecida sobre a solução salina. 35. 3. A actividade - Salinicultura. a aumentar a concentração dos sais contidos na.

(36) Área de cristalização. 4. Cristalizadores - reservatório de pequenas dimensões (aproximadamente 50 m2)e com pouca. profundidade (4 a 25 cm), proporcionando uma rápida evaporação e facilidade de recolha manual. Quando a água chega aos cristalizadores ela apresenta uma concentração em sais muito elevada. É nestes reservatórios que os sais começam a formar-se, a precipitar-se e a depositar no fundo, de onde. Esquema geral dos cristalizadores de uma Salina Tradicional. são posteriormente recolhidos.. Legenda:. Muro da salina. Travadouro. Travinca. Barracha ou pranchil. Contra. Olhal. Esquema geral de um conjunto de cristalizadores, no qual se observa a entrada da solução salina proveniente dos evaporadores (em baixo à direita) para o travadouro e em seguida para cada cristalizador. 3. A actividade - Salinicultura. Fig 14 – Cristalizadores de uma Salina Tradicional.. através dos olhais (movimento indicado pelas seta).. 36.

Referências

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